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O estudo de praticamente e sua função anguladora

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

TAINARA PINHEIRO DE CASTRO

O ESTUDO DE PRATICAMENTE E SUA FUNÇÃO ANGULADORA

Niterói – RJ 2019

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2 TAINARA PINHEIRO DE CASTRO

O ESTUDO DE PRATICAMENTE E SUA FUNÇÃO ANGULADORA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense, como quesito parcial para a obtenção do título de mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Jussara Abraçado de Almeida

Niterói – RJ 2019

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Ficha catalográfica automática - SDC/BCG Gerada com informações fornecidas pelo autor

Bibliotecária responsável: Thiago Santos de Assis - CRB7/6164

C355e Castro, Tainara Pinheiro de

O estudo de praticamente e sua função anguladora / Tainara Pinheiro de Castro ; Maria Jussara Abraçado de Almeida, orientador. Niterói, 2019.

123 f. : il.

Dissertação (mestrado)-Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.

DOI: http://dx.doi.org/10.22409/POSLING.2019.m.09939692757 1. Linguística Cognitiva. 2. A Teoria dos Espaços Mentais. 3. Mesclagem Conceptual. 4. Anguladores. 5. Produção

intelectual. I. Almeida, Maria Jussara Abraçado de,

orientador. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Letras. III. Título.

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-3 TAINARA PINHEIRO DE CASTRO

O ESTUDO DE PRATICAMENTE E SUA FUNÇÃO ANGULADORA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense, como quesito parcial para a obtenção do título de mestre.

Aprovada em: _______/________/_________.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Jussara Abraçado de Almeida (Orientadora)

Faculdade de Letras – UFF

____________________________________________________ Profª. Drª. Vanda Cardozo de Menezes

Faculdade de Letras - UFF

____________________________________________________ Profª. Drª. Sandra Bernardo

Instituto de Letras – UERJ

____________________________________________________ Profa. Dra. Nilza Barrozo Dias (suplente)

Faculdade de Letras – UFF

____________________________________________________ Profa. Dra. Maria Célia Lima-Hernandes (suplente)

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4 AGRADECIMENTOS

Tamanho desafio será esmiuçar, em tão poucas linhas, a gratidão que sinto por todos que me ajudaram a trilhar o caminho até aqui.

Primeiramente, agradeço a Deus pela proteção, por cada teste de fé que tens colocado em meu caminho, que me fizeram perceber que a resiliência é inevitável ao sucesso. Sem sombra de dúvidas, este trabalho é fruto da gestação de dois sonhos, que de igual sorte, nascerão juntos: meu título de mestre e minha filha, Bárbara.

Aos meus familiares:

Ao meu esposo Wellington, pelo incentivo, pela paciência, pela compreensão e pelo amor que transborda;

Ao meu pai Evaldelito, por me ensinar que o primeiro degrau é tão valioso quanto o último;

A minha mãe Sinere, pela devoção e pela presença em cada momento de minha jornada até aqui.

Aos meus irmãos Leonardo e Rafaela, pela divisão de tarefas que prolongaram as horas de meu dia.

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5 À professora Maria Jussara Abraçado de Almeida, pelos ensinamentos, pelo incentivo que extrapolaram a sala de aula, pela paciência, pela amizade e pela confiança no meu trabalho. Indubitavelmente, será espelho para meu labor.

Aos membros da Banca Examinadora: Profª. Drª. Vanda Cardozo de Menezes e Profª. Drª. Sandra Bernardo, pela gentileza e boa vontade em aceitar o convite para participarem da minha qualificação e defesa e pelas dicas que contribuíram positivamente para a concretização desta pesquisa.

Ao Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem e à Universidade Federal Fluminense, por viabilizarem esta pesquisa.

Aos amigos que a Universidade Federal Fluminense me agraciou.

Por fim, agradeço àqueles que não explicitados, mas que somaram esforços e terão sempre minha gratidão e amizade nas entrelinhas da história da vida.

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6 EPÍGRAFE

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos”.

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7 RESUMO

Na presente pesquisa, analisamos o uso de praticamente e a sua função anguladora, sob a ótica da Linguística Cognitiva e, sobretudo, à luz da Teoria dos espaços mentais. Além da perspectiva cognitivista, também consideramos contribuições da Pragmática, fundamentais à situação comunicativa. Com base em análise de 60 ocorrências de uso de praticamente como angulador, observamos a existência de três grupos de ocorrências de praticamente, de acordo com uma escala que tem, em seus extremos opostos, respectivamente, o emprego de praticamente como advérbio de modo e como angulador. O Grupo 1 reúne 30% dos casos e ocupa o segundo lugar, em termos de produtividade. Nesse grupo, praticamente ocorre acompanhado de verbos e faz referência a eventos do mundo objetivo. O Grupo 2, que agrega 46,6% dos casos, é o mais produtivo, indicando que, atualmente, esse é o uso mais frequente do angulador praticamente. Nesse grupo, praticamente aparece acompanhado de adjetivos, locuções adjetivas e construções com o valor adjetivo; desempenha a função de aproximar e graduar atributos que caracterizam o que está sendo referenciado. O Grupo 3 reúne 23% dos casos e é, portanto, o menos produtivo. Nesse grupo, praticamente é empregado como angulador pleno, sinalizando imprecisão numérica, fazendo referência à quantidade ou promovendo comparação/aproximação entre duas entidades. As ocorrências de praticamente como angulador pleno são as menos frequentes. Considerando-se a trajetória natural de mudança a que se submetem os anguladores e a distribuição dos usos de praticamente nos três grupos mencionados, entendemos haver indicadores suficientes de que estamos diante de um processo de mudança em curso.

Palavras-chave: anguladores – praticamente – espaços mentais – mesclagem conceptual – Linguística Cognitiva.

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8 ABSTRACT

In the present research, we analyze the use of practically and its angular function, from the perspective of Cognitive Linguistics and, especially, in the light of the Theory of mental spaces. In addition to the cognitive perspective, we also consider contributions of Pragmatics, fundamental to the communicative situation. Based on an analysis of 60 occurrences of practically used as an angulator, we observed the existence of three groups of occurrences of practically, according to a scale that has, at their opposite ends, respectively, the use of practically as adverb of way and as angulator . Group 1 accounts for 30% of cases and ranks second in terms of productivity. In this group, it practically occurs accompanied by verbs and refers to events in the objective world. Group 2, which accounts for 46.6% of the cases, is the most productive, indicating that, currently, this is the most frequent use of the angulator practically. In this group, it practically appears accompanied by adjectives, adjective locutions and constructions with the adjective value; performs the function of approaching and graduating attributes that characterize what is being referenced. Group 3 accounts for 23% of cases and is therefore the least productive. In this group, it is practically used as a full angulator, signaling numerical imprecision, referring to the quantity or promoting comparison / approximation between two entities. The occurrences of practically full angulator are the least frequent. Considering the natural trajectory of change to which the angulators are subjected and the distribution of the uses of practically in the three mentioned groups, we understand that there are enough indicators that we are facing a process of change in course.

Key words: angulators - practically - mental spaces - conceptual merge - Cognitive Linguistics.

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9 LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação do processo de mesclagem conceptual. Fonte: Fauconnier e Turner (2002). ... 41 Figura 2 - Representação da mesclagem conceptual em “Ana é praticamente um bicho-preguiça”. ... 50 Figura 3 - Representação da mesclagem conceptual em “Pois ele é praticamente isso tudo”. ... 62 Figura 4 - Representação da mesclagem conceptual em “Vou ser praticamente uma segunda mãe dele”. ... 64 Figura 5 – Representação da mesclagem conceptual em “Isto permite que todas as empresas tenham praticamente o mesmo “arsenal” tecnológico”. ... 65 Figura 6 - Representação da mesclagem conceptual em “... o local estava

praticamente abandonado...”... 68 Figura 7 - Representação da mesclagem conceptual em “Os detidos estão

praticamente sem higiene pessoal”. ... 69 Figura 8 - Representação da mesclagem conceptual em “...passa grande parte do seu tempo dormindo e é praticamente cego”. ... 72 Figura 9 - Representação da mesclagem conceptual em “...mas tem acometido praticamente em 30% das gestantes atuais”... 74 Figura 10 - Representação da mesclagem conceptual em “Praticamente todos os peelings que são feitos no rosto podem ser feitos nas mãos”. ... 76

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10 Figura 11 - Representação da mesclagem conceptual em “O preço da Minizinha é um dos principais diferenciais do aparelho, já que o valor cheio da máquina é

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11 LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipologia para os anguladores do PB. Fonte: Almeida (1998). ... 27 Quadro 2 - Praticamente: de advérbio de modo a angulador. ... 57

TABELA

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12 SUMÁRIO Lista de Figuras ... 9 Lista de Quadros ... 11 Tabela ... 11 INTRODUÇÃO ... 14 Questões e objetivos ... 18 Organização do trabalho ... 20 1- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 22 1.1 – Trabalhos iniciais ... 22

1.2 – Contribuições de pesquisas brasileiras ... 26

2 – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS ... 32

2.1 – Linguística Cognitiva ... 32

2.1.1 –Categorização ... 33

2.1.2 – Frames ... 34

2.1.3 – Modelos Cognitivos Idealizados ... 36

2.1.4– A noção de perspectiva ... 37

2.1.5 – A Teoria dos Espaços Mentais...38

(14)

13

3 – O OBJETO DE ESTUDO ... 43

3.1 – Anguladores ... 43

3.2 – Praticamente ... 46

4 –METODOLOGIA ... 52

5-ANÁLISE DOS DADOS ... 57

5.1 – Grupo 1 – Praticamente (- - +) ... 61 5.2 – Grupo 2 – Praticamente ( - + +) ... 66 5.3 – Grupo 3 – Praticamente (+ + +) ... 72 6-CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 79 REFERÊNCIAS ... 84 ANEXOS ... 89 Ocorrências - grupo 1(- - +) ... 89 Ocorrências - grupo 2(- + +) ... 100 Ocorrências - grupo 3(+ + +) ... 115

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14 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca realizar um estudo a respeito do uso de praticamente, em especial, em sua função anguladora, seguindo os conceitos

trabalhados na Linguística Cognitiva (doravante LC), que oferece o suporte necessário para a realização desta pesquisa.

A LC defende que há uma relação sistemática entre linguagem, pensamento e experiência. O conceito de linguagem à luz da cognição é definido por Silva como

a linguagem é parte integrante da cognição (e não um módulo separado) e se fundamenta em processos cognitivos, sociointeracionais e culturais e deve ser estudada no seu uso e no contexto da conceptualização, do processamento mental, da interação e da experiência social e cultural. (SILVA, 2004, p.2).

A LC busca uma integração entre o conhecimento linguístico e não linguístico, a partir de uma adequação das estruturas linguísticas aos contextos reais de uso. A construção do significado é feita de forma dinâmica, uma vez que o uso interfere no processo cognitivo. Muitos autores estudam essa abordagem linguística. Destacamos George Lakoff, Ronald Langacker, Charles Fillmore e Gilles Fauconnier.

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15 Na LC são estudados conceitos relacionados à construção do significado a partir da língua em uso e, nesse viés, este trabalho se dedica ao estudo do angulador praticamente. Vejamos alguns exemplos desse angulador, retirados de nosso corpus:

1. Origem da Arte Contemporânea brasileira

Praticamente podemos chamar de Arte Contemporânea as manifestações artísticas que acontecem atualmente, no presente momento. Entretanto, o marco inaugural da arte contemporânea no Brasil é comumente associado ao neoconcretismo que teve sua origem com a publicação do Manifesto Neoconcreto em março de 1959. O manifesto foi assinado por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, os quais

apresentaram uma nova vanguarda na arte brasileira ao romperem com o movimento concreto que já tinha ganhado terreno no país desde o início da década de 1950. Algumas características deste grupo são a superação da tela como suporte, o rompimento do espaço tradicional da obra de arte e o estabelecimento

da interação entre o trabalho artístico e o espectador por meio de uma relação ativa entre ambos. Um exemplo "concreto" disto pode ser observado em Bichos de Lygia Clark, que são placas de metal polido articuladas por dobradiças e podem ser manipuladas pelo público, conferindo novas formas ao trabalho e induzindo ao espectador participante o papel de completar o sentido da obra por meio desta interação. https://profes.com.br/Laudano.Artes/blog/origem-da-arte-contemporanea-brasileira (site da internet)- ( ver em anexo – Grupo 1).

(17)

16 2.Dançantes – rancho e dança contemporânea no CCC

No final de tarde de domingo, 13 de maio, o grande auditório do CCC ficou praticamente cheio para ver o espectáculo “Dançantes”, que reuniu em palco 90 pessoas dos ranchos “Os Oleiros”, do Bairro dos Arneiros, “Os Azeitoneiros”, de Alvorninha, e “As Ceifeiras” da Fanadia, com uma companhia de dança

contemporânea (Vortice Dance). O resultado […].

https://gazetacaldas.com/sociedade/dancantes-rancho-danca-contemporanea-no-cc/ (site da internet) – (ver em anexo- Grupo 2 ).

3.Programa Água Limpa

O Governo do Estado de São Paulo, através do Departamento de Águas e Energia Elétrica, órgão gestor dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos do Estado, Autarquia ligada à Secretariade Saneamento e Recursos Hídricos, há praticamente 60 anos, sempre esteve atento às questões relativas ao aproveitamento múltiplo, ao uso racional e à preservação e conservação dos recursos hídricos, e de forma pioneira, sempre deu importantes passos que hoje servem de exemplo aos demais Estados da Federação e à própria União, para a consolidação de um efetivo Sistema de Gestão Integrada. http://aguasdobrasil.org/edicao-02/programa-agua-limpa.html (Corpus do Português) – (ver em anexo- Grupo 3).

(18)

17 George Lakoff, pesquisador norte-americano, foi o primeiro a estudar os anguladores, investigando os diferentes graus de verdade em línguas naturais. Lakoff constatou que os anguladores revelavam graus de incerteza nas palavras ou orações por eles escopadas, modificando as categorias semântico-cognitivas, tornando as sentenças verdadeiras ou falsas em relação a algum ponto de vista ou a determinados aspectos, como observamos no exemplo a seguir:

a) Ana é praticamente um bicho-preguiça.

Segundo as pesquisas de Lakoff, essa afirmação é possível porque “Ana” e “bicho-preguiça” compartilham algumas propriedades, como o fato de se locomoverem lentamente, dormir por muitas horas, apesar de pertencerem a categorias diferentes.

O angulador praticamente tem a função de flexibilizar as categorias semântico-cognitivas, aproximando “Ana” e “bicho-preguiça”. Assim, a função do angulador é tornar algo mais ou menos impreciso.

Com o apoio de pesquisas e estudos anteriores, compreendemos que essa imprecisão que os anguladores causam está ligada aos processos cognitivos que envolvem o indivíduo e à forma como interpreta e interage com o mundo.

Sendo assim, decidimos abordar esse tema sob a ótica da Linguística Cognitiva, em especial no âmbito da Teoria dos Espaços Mentais, que explica os fenômenos de significação semelhantes em línguas naturais.

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18 Questões e objetivos

Como se sabe, existem estudos sobre muitos anguladores, mas ainda não há pesquisas específicas sobre o angulador praticamente. E o uso de praticamente como angulador tem se mostrado muito frequente em diferentes situações de uso, o que torna importante seu estudo e motivou esta pesquisa.

E assim sendo, primeiramente, buscamos conhecer a origem da palavra praticamente a partir de obras de referência para então compreendermos como o

sentido e o uso dessa palavra sofreu alterações, como ilustramos nos exemplos a seguir:

a) Ensinamos praticamente e você aprende a cozinhar.

b) Essa menina é praticamente uma modelo.

Em (a), praticamente exerce a função de advérbio, explicando o modo como aprendemos, ou seja, de forma prática. Temos, portanto, um uso menos abstrato.

Em (b), praticamente exerce a função de angulador, uma vez que aproxima características da categoria “menina” com as características da categoria “modelo”, num campo mais abstrato, em relação ao exemplo (a).

(20)

19 Tomando como base essas ocorrências e em outras que serão apresentadas mais adiante, buscamos as respostas para as seguintes questões:

(i) Quais são os contextos de ocorrência de praticamente como um angulador? (ii) Por que tais contextos favorecem a ocorrência do angulador praticamente? (iii) Quais as semelhanças e particularidades do angulador praticamente em relação a outros anguladores de sua natureza, ou seja, aproximantes?

Para encontrarmos as respostas para essas questões, buscamos e analisamos as ocorrências de praticamente em diversos sites da internet e também no Corpus do português, conforme procedimentos explicitados no capítulo 4 (metodologia) desta pesquisa.

Assim, a presente dissertação tem por objetivos:

a) Desenvolver um estudo, até então não realizado, sobre praticamente e sua função anguladora, sob a ótica da Linguística Cognitiva.

b) Levantar e analisar os contextos de ocorrências de praticamente como angulador;

c) Desvelar o porquê de tais contextos favorecerem as ocorrências do angulador praticamente;

d) Identificar a singularidade de emprego desse angulador, em relação a outros de natureza aproximante.

(21)

20 Organização do trabalho

O presente trabalho está dividido da seguinte forma: O capítulo 1 apresenta pesquisas importantes realizadas sobre os anguladores, em que destacamos os estudos que contribuem para a compreensão acerca do tema e que colaboram para a construção de nossa dissertação.

O capítulo 2 aborda a fundamentação teórica de nossa pesquisa. Sob o viés da Linguística Cognitiva, realizamos um estudo que envolve Categorização, Frames, Modelos Cognitivos Idealizados, a noção de perspectiva e, em especial, a Teoria dos Espaços Mentais, destacando-se a importância dos estudos sobre Espaços Mentais e Mesclagem Conceptual na compreensão do que está sendo apresentado e na análise dos dados coletados.

No terceiro capítulo, discorremos sobre nosso objeto de estudo. Primeiramente, analisamos a categoria dos anguladores, destacando a natureza de praticamente e, em seguida, estudamos o nosso angulador, desde a sua origem até

os seus possíveis usos atuais, de acordo com o que o enunciador pretende e verificando os processos cognitivos que justificam o seu uso.

No capítulo 4, apresentamos a metodologia que fundamenta nossa pesquisa. Descrevemos o nosso corpus, como selecionamos os dados e quais os procedimentos usados para a análise das amostras escolhidas.

(22)

21 O capítulo 5 apresenta a análise dos dados e os resultados obtidos com base nas ocorrências de diferentes tipos analisadas e nos pressupostos teóricos adotados.

Por último, no capítulo 6, apresentamos nossas conclusões sobre a pesquisa realizada, a partir da análise dos dados, e deixamos possíveis sugestões para estudos futuros, que dariam continuidade ao nosso trabalho.

(23)

22 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1. Trabalhos iniciais

O termo hedges foi utilizado pela primeira vez por Lakoff (1973), que os define como “os termos cuja função é fazer com que os enunciados fiquem mais ou menos imprecisos”. No Brasil, no entanto, são chamados de anguladores, termo criado por Almeida (1999), que descobre que tais termos são “recursos para o falante exprimir sua opinião sobre o que está proferindo”. Os estudos sobre esse tema iniciaram-se por Lakoff, na década de 70. O autor acreditava que essas palavras modificavam o pertencimento de um predicado ou sintagma nominal a uma categoria e que apresentavam a capacidade de tornar os significados mais ou menos imprecisos. Vejamos o exemplo a seguir:

a) Bolt é um guepardo.

b) Bolt é praticamente um guepardo.

Na afirmação “a”, temos uma frase metafórica, pois Bolt é como um guepardo. Não poderíamos, portanto, afirmar que um ser humano é um guepardo. Assim, a frase é aceitável graças à compreensão do conceito de metáfora.

(24)

23 Em “b”, a informação é aceitável graças ao uso do angulador praticamente, uma vez que a função do angulador é aproximar entidades pertencentes a categorias diferentes. Dessa forma, entendemos que o atleta Bolt corre muito, assim como um guepardo. É importante ressaltar que o uso do angulador indica que a partir de um determinado ponto de vista, tais entidades se aproximam. Graças à imprecisão que causa, protege a face dos envolvidos na situação comunicativa, uma vez que não há preocupação com o estatuto de verdade da construção.

A LC considera o conhecimento de mundo e as experiências dos indivíduos. Assim, para que a mescla aconteça e o significado seja construído, o leitor/ouvinte precisa conhecer o atleta “Bolt” e o animal “guepardo”, bem como suas características.

O uso de anguladores está associado a processos cognitivos e interativos, com grande valor comunicativo. Fornecem ricas contribuições nos planos discursivos e nos processos de construção de significados. Para Lakoff (1972), os anguladores podem “interagir com condições de felicidade para enunciações e com regras de conversação”.

Rosch (1978) afirma que os anguladores são mecanismos linguísticos para “codificar” gradações de pertencimento categorial. Sob essa perspectiva, a formulação de conceitos na comunicação diária requer o emprego de anguladores porque conceitos evocam imagens prototípicas em nossas mentes, de sorte que é necessário marcar seus representantes menos prototípicos, ou seja, quando um angulador é usado não é o modelo clássico que é marcado, mas um representante

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24 menos prototípico. No exemplo muito comum em estudos sobre anguladores: “A baleia é um tipo de peixe”, o angulador destacado faz referência ao termo “baleia”, exemplo menos prototípico da categoria “peixe”.

Brown e Levinson (1987), em uma abordagem pragmática, sugerem que os hedges podem ser “uma partícula, uma palavra, ou um sintagma que modifica o grau de associação de um predicado ou um sintagma nominal em um conjunto; essa associação é parcial, ou verdadeira até certo ponto, ou mais verdadeira e completa do que poderia ser previsto”.

Fauconnier (1997, p.2) afirma que é da faculdade cognitiva humana transferir e processar significados que ocorrem através de mapeamento entre domínios e, que o “objetivo maior da linguística é especificar a construção de significado, suas operações, seus domínios, e como eles estão refletidos na linguagem”.

Para Salomão,

um ponto interessante quanto aos anguladores é que o enquadre que eles introduzem é epistemológico: seja distinguindo entre as propriedades definidoras centrais ou periféricas de uma categoria, seja barganhando, interativamente, licença para falar segundo um certo ponto de vista (tecnicamente amplamente, jocosamente,

poeticamente, etc). (grifo da autora) (SALOMÃO, 1999, P. 60).

Os anguladores são construções que permitem a flexibilização dos limites categoriais de palavras ou sentenças a que se referem, permitindo uma nova

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25 significação ou transferência de domínios, funcionando no sentido de suspenderem julgamentos de verdade. Dentre um conjunto de anguladores, destacam-se palavras e expressões como: “um tipo de”, “praticamente”, “amplamente falando”. Os anguladores são construções formadas por diferentes classes lexicais.

No entanto, para Hyland (1998), em seus estudos, os advérbios ganham destaque devido a sua mobilidade na estrutura frasal. O autor afirma, por exemplo, que o uso do advérbio em posição inicial pode acentuar o valor de hedge ao informar o leitor que o que será dito deve ser interpretado como hipotético ou subjetivo.

Os anguladores são, portanto, mecanismos que permitem, dentre outras, a transferência de domínios e a modificação do grau de pertencimento categorial de palavras e sentenças, marcando os representantes menos prototípicos.

Vejamos o uso do angulador praticamente no seguinte exemplo retirado de nosso corpus:

4. Pedágio deixa transporte aéreo mais barato que carro em algumas regiões

No trajeto de São Paulo a São José do rio Preto, os gastos praticamente se igualam. De avião fica em R$ 119 e de automóvel R$ 120,59. Mais da metade dos gastos são de pedágio, R$ 61,50. A diferença mesmo é o tempo despendido. Cerca de uma hora e 17 minutos no transporte aéreo, contra 5 horas e 30 minutos quando

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26 se vai de carro. http://aureliojornalismo.blogspot.com.br/2011/05/pedagio-deixa- transporte-aereo-mais.html (ver em anexo – Grupo 3)

Nesta ocorrência, percebemos que o uso do angulador praticamente permite uma aproximação entre valores, deixando transparecer que se evita falar em valores exatos. Sob o ponto de vista dos gastos com o trajeto, os meios de transporte apresentam proximidade.

1.2. Contribuições de pesquisas brasileiras

Almeida (1998,1999,2004,2005) contribui fundamentalmente para os estudos sobre anguladores, sob a ótica da Linguística Cognitiva. Segundo a autora, os anguladores são construções gramaticais que formam uma categoria funcional híbrida, realizada por elementos provenientes de diferentes classes lexicais (adjetivos, advérbios, locuções prepositivas e adverbiais, verbos, orações reduzidas e desenvolvidas, expressões idiomatizadas em função adverbial), exercendo papel modalizador e intensificador.

São exemplos de anguladores do português: uma forma de, um tipo de, praticamente, de um modo geral, estritamente falando, de certa maneira, em certos

aspectos, etc. Para Almeida (1999), os anguladores apresentam as seguintes

(28)

27 1- Sinalizam, no discurso, o tipo de propriedades de um determinado referente

que deve ser levado em conta naquela mensagem; 2- São construtores de novos espaços mentais;

3- São responsáveis pela perspectiva do discurso, e, em decorrência,

4- São introdutores de imprecisão da linguagem, pois indicam o enquadre em que dado referente deve ser tomado no discurso realizado.

Almeida criou a seguinte tipologia para os anguladores, considerando a relação entre esses itens e outras palavras ou expressões a eles associados:

Quadro 1 - Tipologia para os anguladores do PB. Fonte: Almeida (1998).

Os anguladores são muito importantes, pois permitem a abertura de espaços mentais, possibilitando a construção de novos sentidos, através da projeção de um

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28 domínio sobre o outro. Introduzem uma flexibilização de significado, de acordo com o contexto e com a intenção discursiva. Ao investigar o funcionamento dos anguladores em português, Almeida (1999:135) descobre que um aspecto comum a todos os anguladores é o fato de “serem sempre recurso para o falante exprimir sua opinião sobre o que está proferindo”.

Os anguladores apresentam efeitos aos itens por eles escopados. Assim, Almeida (1997 apud Almeida1999) criou a seguinte tipologia em relação aos efeitos que promovem:

 Anguladores decomposicionais: de certa forma, a maior parte de, ...  Anguladores de propriedades essenciais: fundamentalmente,...  Anguladores analógicos: outras, mesmas,...

 Anguladores de propriedades periféricas: teoricamente, especificamente,...  Anguladores de propriedades quantitativas: quase, muito, até,...

É importante ressaltar que um item ou uma expressão linguística quando exerce a função de um angulador pode apresentar sentido diferente de sua forma original, apresentando sentido mais abstrato. Almeida (1999) explica que isso ocorre porque a categoria de anguladores é resultado do processo de gramaticalização e que eles apresentam, também, função pragmática, permitindo flexibilização de sentidos, como observamos nos exemplos apresentados anteriormente e aqui retomados:

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29 a) Ensinamos praticamente e você aprende a cozinhar.

b) Essa menina é praticamente uma modelo.

Em (a), o advérbio praticamente foi aplicado em seu sentido original, ou seja, de um advérbio de modo, “de modo prático”; na afirmativa (b), praticamente é usado com o sentido de “aproximação”, ou seja, exercendo a função de angulador, o que indica um sentido mais abstrato.

Resumidamente, podemos dizer que os anguladores criam novas possibilidades em relação a conceitos já estabelecidos culturalmente, através do ponto de vista do enunciador. Para Almeida (1999), há dois tipos de anguladores:

1- Os anguladores proposicionais, que são os que flexibilizam os limites expressivos das proposições;

2- Os anguladores pragmáticos, que são os que alteram a força ilocucionária de dada asserção.

Moraes de Castilho (1991), em sua dissertação de mestrado intitulada Os delimitadores no português falado no Brasil, estudou o emprego dos seguintes

advérbios modalizadores delimitadores: historicamente, teoricamente, literalmente, uma espécie de, quase e praticamente, descrevendo os seus aspectos semânticos e

sintáticos. Tais advérbios modalizam a sentença inteira ou apenas um termo, apresentando interpretações semânticas a partir de dois princípios: a especificação e a aproximação.

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30 Os estudos realizados por Castilho trouxeram contribuições importantes para os estudos sobre anguladores. Castilho relacionou advérbios que especificam as condições sob as quais devem ser interpretadas suas classes-escopo por entender que, se havia uma delimitação por especificação, certamente haveria também uma delimitação mais frouxa, que produzisse o efeito oposto. Assim, estudou os delimitadores. Dedicou um capítulo aos Delimitadores Especificadores (DE), que criam um enquadramento para a sentença ou para seus constituintes a partir de perspectivas ou pontos de vista bem definidos, de tal forma que o conteúdo dessas unidades só é válido no domínio dado pelo DE e não em outro qualquer. Podem aparecer sob a forma de advérbios em -mente ou de locuções prepositivas ou adverbiais seguidas de adjetivo.

Vito Manzolillo (2002), Pós-doutor em Língua Portuguesa, em seu artigo de doutorado intitulado Presença de anguladores em textos de jornal seguramente, uma espécie de pesquisa verdadeiramente relevante, verificou a presença de

anguladores em jornais e, a fim de facilitar a exposição e compreensão, separou-os em grupos, levando em consideração características comportamentais semântico-pragmáticas comuns. Dentre os grupos estudados, destacamos o que se encontra o angulador praticamente. Através de amostras, como a retirada do Jornal JB, Esportes: “A diretoria do Flamengo deixou ontem praticamente acertada a contratação das medalhas de ouro Leila e Virna (...)” (JB, Esportes – “Fla anuncia

contratação de Leila e Virna”, 10/08/99, p. 24), Vito explica que o uso de anguladores como praticamente se dá quando surgem dúvidas quanto à veracidade ou à ocorrência de tal situação, mas que o falante julga necessário citá-la.

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31 Anguladores desse grupo promovem a filiação de elementos a categorias com reservas, isto é, há probabilidade de algo acontecer, mas há também a possibilidade de não ocorrer. Não há uma certeza em relação ao que é dito.

Manzolillo afirma que os anguladores são facilmente encontrados em diversos gêneros textuais e que ocorrem com maior frequência em textos argumentativos (editoriais e artigos de opinião), fazendo referência a um nome ou a uma oração.

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32 2.PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Neste capítulo, são apresentados os principais conceitos estudados pela Linguística Cognitiva e, especialmente, os processos cognitivos que explicam o uso de anguladores e que norteiam a construção do presente trabalho.

2.1. Linguística Cognitiva

A Linguística Cognitiva (LC) realiza seus estudos acerca das relações entre linguagem, pensamento e experiência.

A estrutura da língua é maleável, buscando atender às reais necessidades dos falantes. Sendo assim, o significado linguístico é produto de formas linguísticas e extralinguísticas, isto é, entre construções mentais e experiências humanas.

O significado é analisado como a forma de se interpretar o mundo, através da percepção. É dinâmico e flexível, podendo, assim, sofrer mudanças, uma vez que a língua está sempre em evolução, adequando-se aos propósitos comunicativos. Não é um módulo separado e independente da mente, pois é construído através da linguagem e envolve diferentes áreas de conhecimento, representando, assim, vivências humanas.

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33 Diferente do Gerativismo, a LC defende que o ser humano tem, além da identidade biológica, características históricas e sociais e a língua retrata esses fatores. É uma abordagem linguística voltada para o estudo do uso, da linguagem e da cognição. Esses aspectos interferem e determinam o funcionamento da gramática da língua.

Alguns conceitos são fundamentais para a compreensão sobre a relação entre linguagem e cognição e para a análise dos significados que as construções linguísticas apresentam. São temas de especial interesse da Linguística Cognitiva os seguintes: as características estruturais da categorização linguística, os princípios funcionais da organização linguística, a interface conceptual entre sintaxe e semântica, a base pragmática e ligada à experiência da linguagem no uso e a relação entre linguagem e pensamento.

A seguir, são apresentados, brevemente, alguns conceitos importantes para o estudo dos anguladores e, que, portanto, deverão alicerçar as explicações concernentes ao angulador praticamente.

2.1.1. Categorização

O processo de categorização permite que o ser humano consiga juntar elementos parecidos, em determinadas classes. Para pertencer a uma mesma categoria, as entidades precisam ter traços semelhantes. Um exemplo é a palavra “PEIXE”. Quais são as características necessárias para que um animal seja considerado pertencente a essa categoria? Como resposta, o animal deve

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34 apresentar características básicas como nadar, viver em ambiente aquático, locomover-se por nadadeiras, dentre tantas outras.

O ser humano tem uma capacidade de memória que permite conseguir agrupar diferentes elementos em diferentes categorias. Para toda categoria há protótipos, ou seja, elementos que mais se identificam com a categoria. Assim, ao

agruparmos objetos ou seres em uma mesma categoria, haverá aquele que mais se assemelha ao núcleo prototípico de determinada categoria, apresentando mais traços em comum.

Voltando ao exemplo da categoria PEIXE, ao compararmos os traços necessários entre dois seres para considerá-los pertencentes a essa categoria, constatamos, por exemplo, que o peixe “namorado” possui mais traços semelhantes ao protótipo, do que “baleia”, que apresenta menos traços em comum. No entanto, há recursos na língua que permitem que “baleia” seja considerada um exemplo de peixe, como em “a baleia é um tipo de peixe”. Em tais recursos inserem-se os anguladores, construções que possibilitam a determinada entidade inserir-se ou aproximar-se de outra categoria.

2.1.2. Frames

Outro conceito de suma importância diz respeito aos frames, que são ferramentas cognitivas pelas quais os indivíduos organizam suas ideias e percepções de mundo. Informações criadas recentemente só apresentam sentido se forem associadas a frames, através dos contextos de uso e às estruturas de

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35 conhecimento. Dependendo do frame acionado, uma palavra pode apresentar significados diferentes.

Charles Fillmore desenvolveu muitos estudos acerca da Semântica de frames. O autor afirma que a interpretação das palavras é subordinada a frames.

Para melhor explicar a noção de frames, Fillmore (1982) apresentou análises de exemplos fundamentais à compreensão desse conceito. Dentre eles, destacamos a cena da transação comercial, envolvendo os verbos comprar, vender, pagar, gastar, custar, cobrar. Nessa cena, segundo o autor, é necessário acessar o frame de

EVENTO COMERCIAL para interpretá-los.

Dependendo de qual for o verbo utilizado na cena, o foco será diferente. Assim, podemos notar que

o verbo comprar focaliza as ações do Comprador em relação às Mercadorias, deixando em segundo plano o Vendedor e o Dinheiro; que o verbo vender foca nas ações do Vendedor em relação às Mercadorias, colocando em segundo plano o Comprador e o Dinheiro; que o verbo pagar foca nas ações do Comprador em relação ao Dinheiro bem como ao Vendedor, deixando em segundo plano as Mercadorias, e assim por diante, com verbos tais como gastar, custar, cobrar e um número de outros que são, de algum modo, mais periféricos que esses. (FILLMORE, 1982, p.378, tradução nossa1).

1 (…) the verb buy focuses on the actions of the Buyer with respect to the Goods, backgrounding the Seller and the Money; that the verb sell focuses on the actions of the Seller with respect to the Goods, backgrounding the Buyer and the Money; that the verb pay focuses on the actions of the Buyer with respect both to the Money and the Seller, backgrounding the Goods, and so on, with such verbs as spend, cost, charge, and a number of others somewhat more peripheral to these.

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36 Embora o uso de cada verbo apresente uma perspectiva acerca da cena apresentada, é importante salientar que eles se referem a uma mesma cena geral.

2.1.3. Modelos Cognitivos Idealizados

Numa associação entre os conceitos sobre Frames e Categorização, surge outro conceito: Modelos Cognitivos Idealizados (MCI’s).

Lakoff (1987) postula que os MCI’s formam um conjunto de mecanismos, com os quais os seres humanos organizam diversos domínios de conhecimento, atendendo a propósitos comunicativos. Segundo o autor, os MCI’s dependem de três princípios em sua composição: Estrutura proposicional, Esquemas imagéticos e Projeção metafórica ou metonímica.

Os MCI’s são construídos socialmente, convencionalizados, interpretados e adotados pela sociedade. São definidos a partir de diferentes frames, sendo mais complexos e abstratos do que estes. Para ser compreendido, é necessário que seja aceito pela comunidade, a partir das práticas socioculturais dos indivíduos.

Para Duque e Costa (2012, p. 76), esses modelos “viabilizam o gerenciamento e uso do amplo conjunto de experiências adquiridas no dia a dia, durante toda a nossa vida”.

Assim, os MCI’s representam a estrutura de conhecimento de mundo organizada na mente dos indivíduos.

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37 Cada MCI representa um espaço mental. As palavras e seus significados só podem ser entendidos se forem relacionados a um modelo idealizado. Por exemplo, a palavra “sexta-feira” só pode ser compreendida se for associada a um MCI, no caso, semana, que transmite a ideia de um todo dividido em sete partes e sexta-feira é, portanto, uma dessas partes.

É importante ressaltar que têm autores que não fazem diferença entre MCI e Frames. Em nossa análise (capítulo 5), optamos por trabalhar com os frames

apenas.

2.1.4. A noção de perspectiva

A noção de perspectiva, sob o viés da Linguística Cognitiva, está associada a ideia de um ponto de vista corporificado, levando-se em consideração a experiência humana.

O ponto de vista está associado à cognição humana e à linguagem, uma vez que esta reflete a corporificação, permitindo a interpretação do mundo. Assim, compreendemos os significados a partir de uma perspectiva. Determinada cena, por exemplo, pode apresentar diferentes possibilidades de interpretação, de acordo com o ponto de vista de quem a observa.

O significado linguístico é, portanto, dinâmico, flexível, pois a língua está sempre em movimento e é enciclopédico, uma vez que envolve o conhecimento de mundo e reflete nossas experiências como seres humanos.

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38 A forma como construímos um ponto de vista pode ser explicada pela noção de espaços mentais. Ao analisarmos os espaços mentais acionados para a obtenção de um significado linguístico, percebemos que estão ligados à percepção cognitiva e à experiência corporificada. Por exemplo, uma pessoa ao ler uma notícia sobre um político que está sendo acusado de corrupção no Brasil, imagina um cenário, a partir de um frame acionado e espaços mentais são abertos para as ações de jornalismo, política, conduta, corrupção, medidas judiciais, localidade. Realizada essa capacidade de combinação ou mescla entre os espaços acionados, o conhecimento de mundo do leitor, a partir de um ponto de vista particular, torna-se possível a compreensão cognitiva acerca da construção apresentada.

Assim, a noção de perspectiva está ligada à construção de espaços mentais, à capacidade cognitiva, à forma particular como o indivíduo interpreta o mundo e às suas experiências corpóreas.

2.1.5. A Teoria dos Espaços Mentais

Um dos princípios mais importantes da LC é a Teoria dos Espaços Mentais (TEM). Essa teoria é fundamental para a realização do presente estudo.

Para Fauconnier (1994), os espaços mentais “representam estruturas construídas no nível cognitivo”. De acordo com Ferrari,

a principal premissa da pesquisa com espaços mentais é que as mesmas operações de correspondência entre domínios atuam na semântica elementar, na pragmática e no raciocínio abstrato. No

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39 âmbito da linguagem, essas operações são indicadas por estruturas linguísticas específicas. (FERRARI, 2016, p. 109).

A TEM contribui para os estudos sobre a construção do significado linguístico, que ocorre quando o indivíduo pensa (cognição) e se comunica (experiência). O ser humano consegue construir significados a partir de sua capacidade cognitiva e de sua vivência. Dentre os conceitos apresentados nas pesquisas sobre a Teoria dos Espaços Mentais, temos, nesse estudo, o interesse em analisar os conceitos sobre Espaços Mentais e Mesclagem Conceptual, associados ao uso dos anguladores.

O estudo da TEM é muito importante para os estudos sobre anguladores, uma vez que trata os processos de integração conceptual.

Os espaços mentais (EMs) são domínios conceptuais que permitem a divisão de uma informação, permitindo referências a cenários imaginados. São acionados à medida que pensamos e falamos.

Segundo Fauconnier (1984, 1997) e Fauconnier & Sweetser (1996), os espaços mentais são ativados por expressões linguísticas e resultam da interação entre determinadas conexões cognitivas e a riqueza e a variedade de expressões linguísticas das línguas naturais.

Os EMs são criados a partir de marcadores linguísticos. Por exemplo, na afirmativa “No Brasil, as pessoas são amáveis”, cria-se, na mente, o espaço mental geográfico através do sintagma preposicional “No Brasil”.

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40 Os EMs podem ser classificados em diferentes tipos, como espaços geográficos, temporais, condicionais, entre outros. São definidos, portanto, de acordo com o que se pretende exprimir, a partir de indicadores específicos.

A rede conceptual de um indivíduo é formada por analogias e metáforas, importantes elementos na construção de significados. Quando dizemos uma palavra, automaticamente, de forma natural, relacionamos os significados entre essa e outra palavra, por analogia, e identificamos possíveis características perceptuais e experienciais para chegarmos à significação desejada.

Na frase “A política é o câncer do Brasil”, a palavra “câncer” é relacionada à doença, a algo ruim, destrutivo. Assim, o EM é ativado e o sentido da sentença é possível graças à interação entre processos cognitivos e conhecimento enciclopédico.

No caso dos anguladores, também acontecem associações semânticas por eles promovidas, graças ao afrouxamento das fronteiras que permitem a emergência de novos sentidos.

A mesclagem conceptual é um dos processos mentais que tornam possível a criação de novos sentidos. Nesse processo, há projeção parcial entre dois espaços, chamados de input 1 e input 2, que permitem associações entre elementos análogos. Essa associação é licenciada pelo Espaço Genérico (Generic Space), que indica as propriedades comuns dos inputs, isto é, a estrutura compartilhada por esses domínios. Por fim, há um quarto espaço, chamado espaço Mescla (Blend Space), que apresenta uma estrutura emergente própria que não aparece nos

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41 O processo de mesclagem possibilita aos seres humanos desenvolverem a arte, a ciência, a cultura, ferramentas, etc. (FAUCONNIER; TURNER, 2002). Está, portanto, presente na maioria das operações cognitivas responsáveis pelo conhecimento humano.

Frequentemente, diagramas são utilizados para melhor ilustrar os processos de mesclagem. A Figura 1 é uma representação do processo de mesclagem conceptual, segundo Fauconnier e Turner (2002):

Figura 1 - Representação do processo de mesclagem conceptual. Fonte: Fauconnier e Turner (2002).

Os anguladores, segundo Fauconnier (1984), são indicadores de EMs. No exemplo clássico: “A baleia é um tipo de peixe”, o angulador “um tipo de” conduz à realização do processo de mesclagem para que a sentença seja compreendida.

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42 Assim, no input 1 tem-se a palavra “baleia” e suas características específicas, no input 2, tem-se a categoria “peixe”, com suas características próprias. No espaço genérico, há associação entre o que há nas duas entidades destacadas. Por último, no espaço mescla, a partir de estrutura única, são apresentadas características que aproximam o ser baleia, pertencente à categoria mamíferos, da categoria “peixe”, devido a propriedades compartilhadas.

Assim, na realização do processo de mesclagem, são acionados EMs para a criação de significados e a mescla prova a capacidade humana de criar associações e novos sentidos.

Essa teoria é, portanto, de suma importância para o estudo do angulador praticamente, uma vez que através da TEM é possível analisar esse angulador e a

sua natureza aproximante, a partir do contexto de uso e das associações mentais realizadas para a obtenção de sentido, em relação ao que se pretende enunciar.

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43 3.O OBJETO DE ESTUDO

O nosso objeto de estudo é o uso de praticamente, especialmente, a sua função anguladora. Nesse capítulo, portanto, apresentamos as funções dos anguladores e, logo a seguir, a análise de praticamente, numa perspectiva cognitivista.

3.1. Anguladores

Muitos linguistas desenvolvem estudos a respeito dos anguladores, apresentando diferenças quanto à abordagem. Há, portanto, abordagens que levam em consideração os aspectos mais pragmáticos e abordagens que consideram os aspectos semânticos e conceptuais.

Em nossa pesquisa, portanto, adotamos uma abordagem cognitiva, ou seja, priorizamos os aspectos semânticos e conceptuais dos anguladores e a Teoria dos espaços mentais (TEM), importante para a construção de significados, mas levamos em consideração, também, os aspectos pragmáticos, presentes na situação comunicativa.

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44 Como já foi dito anteriormente, os anguladores permitem a transferência de domínios e a modificação do grau de pertencimento categorial de palavras e sentenças, marcando os representantes menos prototípicos. De acordo com os efeitos que promovem na construção, são encaixados em determinado grupo, como Almeida (1999) postulou (ver Quadro 1, pág. 27).

Uma das características dos anguladores é apresentar natureza aproximante, uma vez que buscam aproximar entidades pertencentes a categorias diferentes. Essa aproximação pode ser explicada a partir da TEM. Assim, espaços mentais são acionados, num cenário imaginado, possibilitando a mescla de informações que permitem a construção do significado.

Além de alterar o pertencimento de uma entidade a uma categoria, os anguladores contribuem para as regras de conversação, uma vez que podem ser vistos como modificadores do estatuto de verdade de uma sentença, isto é, o falante faz uso dos anguladores, numa situação comunicativa, quando não tem ou não quer comprometer-se com a verdade do que está sendo dito. Vande Kopple (1985), em sua categorização dos tipos de metadiscurso, considera o emprego de anguladores como denotando uma falta de comprometimento completo com o conteúdo proposicional de uma enunciação.

Assim, num contexto conversacional, os anguladores têm relação com a polidez. E nesse viés, os anguladores são utilizados pelos falantes como mecanismos para salvamento de face, podendo, quando usados positivamente, demonstrar opiniões imprecisas, cabendo, portanto, ao ouvinte interpretá-las como

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45 melhor julgar. No uso negativo da polidez, os anguladores contrariam as Máximas de Grice e modificam a intenção comunicativa, comprometendo o estatuto de verdade da sentença.

Nesse raciocínio, o falante faz uso dos anguladores quando não tem a certeza do que está sendo dito e prefere ser impreciso, preservando o ouvinte de receber falsas informações e, também, livrando a sua face, como defesa para possíveis equívocos e reações por parte do ouvinte.

Para Hübler (1983), o motivo para empregar anguladores é tornar as sentenças mais aceitáveis para o ouvinte e, portanto, aumentar suas chances de ratificação e, por conseguinte, reduzir o risco de negação (inerente às sentenças).

Segundo Kay (1997), os anguladores servem a propósitos de polidez e preservação de face do falante e/ou do ouvinte e são diferentes de qualquer outra categoria gramatical.

Sendo assim, quanto maior for a incerteza sobre um fato, maior será o uso de determinados anguladores. Vale ressaltar que existem vários tipos de anguladores e que são empregados de acordo com a função que exercem e com o que se deseja exprimir.

Ao estudar o funcionamento dos anguladores, Almeida (1999, p. 135) afirma que é típico dos anguladores “serem sempre recurso para o falante exprimir sua

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46 opinião sobre o que está proferindo”. Assim, são modalizadores e conduzem a interação.

3.2. Praticamente

Os estudos sobre os anguladores, sob a perspectiva cognitivista, são bastante recentes, não havendo ainda, como já salientamos, estudo algum sobre o angulador praticamente. Para chegarmos à análise de praticamente como angulador, julgamos necessário, primeiramente, um levantamento referente a seus usos e significados.

Vejamos os significados atribuídos a praticamente em algumas obras de referência:

a) Agenor Costa (1967) - Dicionário de Sinônimos e Locuções Da Língua Portuguesa:

Pràticamente– com facilidade; de modo prático; experimentalmente; na prática; segundo a prática, a experiência.

b) Aulete Caldas (1970) - Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa: Práticamente– adv. de modo. Prático. // Segundo a prática// Com facilidade, de modo acessível ou proveitoso para todos.

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47 c) Antônio Houaiss e Villar Mauro de Salles (2009) - Dicionário Houaiss da

Língua Portuguesa:

Praticamente - \prà\ adv. (sxv) 1 de modo ou maneira prática <resolver p. um problema>2 perto de, aproximadamente <está p. na adolescência>3

na realidade, na prática <p., é ele quem manda aqui>4 pouco menos de; quase < juntou p. 500 ensaios sobre o assunto>5 quase; por um triz; por pouco <p. enlouqueceu com aquelas crianças>. ETIM prático + -mente.

d) Gran Diccionário de La Lengua Española (2012):

Prácticamente– 1 Casi, en realidad: no recuerdo, prácticamente, nada de lo que sucedió aquella noche.2 De hecho, en la práctica: es prácticamente

imposible que falle el mecanismo de seguridad. 3 Con la práctica, por

medio de la experimentación: lo aprendi prácticamente.

Podemos observar, segundo as obras citadas, que praticamente apresenta a formação prático + -mente e que os significados mais básicos encontrados foram: “na prática” e “modo prático”.

No entanto, dicionaristas mais recentes já apontam para o uso de praticamente com o valor de aproximadamente.

Com a análise dos dados selecionados, percebemos que o uso de praticamente com o sentido de “aproximação” vem sendo usado com frequência. Isso mostra o uso de praticamente com valor de angulador.

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48 Como mencionado anteriormente, os anguladores exercem a função de atribuir determinado grau de incerteza categorial às palavras ou sentenças por eles destacados. Esse grau de incerteza está relacionado aos processos cognitivos de construção de sentido que envolvem o indivíduo e a forma como vivencia o mundo.

Retomamos o quadro que Almeida (1998) postulou para os anguladores do PB, classificando-os em relação às entidades referidas:

Quadro 1: Tipologia para os anguladores do PB. Fonte: Almeida (1998).

Segundo a autora, a significação de uma sentença é alcançada não só pelos aspectos semânticos dos itens lexicais e sua combinação com outros elementos linguísticos que compõem o seu contexto, como também pelas propriedades semânticas das construções gramaticais somadas a aspectos invisíveis do significado que são recobertos via pragmática e conhecimento do mundo.

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49 a) Ana é praticamente um bicho preguiça.

Praticamente é, portanto, definido como um angulador de propriedade

periférica, pois é utilizado quando ignoramos as propriedades primárias do item escopado e consideramos os critérios secundários de pertencimento categorial. Se levarmos em conta, no exemplo acima, o fato de Ana apresentar movimentos lentos e dormir muito, perceberemos que há uma aproximação com o “bicho-preguiça”. Logo, essa afirmação torna-se aceitável graças ao uso do angulador praticamente, que promove tal aproximação. Assim, é importante diferenciar os critérios primários e secundários de pertencimento categorial.

Lakoff (1973) diz que precisamos distinguir aquelas propriedades capazes de conferir algum grau de pertencimento categorial daquelas propriedades que são características dos membros de uma categoria, mas que não conferem nenhum grau de pertencimento.

Os anguladores atuam como um regulador do grau de pertencimento categorial, atribuindo a uma entidade propriedades de outras categorias e, assim, abrem espaços mentais, dando sentido ao que está sendo colocado em foco, permitindo a projeção de um domínio sobre outro. São, portanto, importantes marcas linguísticas de perspectivação do discurso.

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50 Desse modo, dentre os conceitos trabalhados na Linguística Cognitiva, o uso de praticamente como um angulador pode ser estudado e compreendido através da Teoria dos Espaços Mentais (TEM), que explica os fenômenos de significação em línguas naturais.

Utilizando o exemplo citado anteriormente: “Ana é praticamente um bicho-preguiça” e o conceito de Mesclagem Conceptual, que permite a criação de novos significados, podemos compreender como essa aproximação acontece. Vejamos:

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Figura 2 - Representação da mesclagem conceptual em “Ana é praticamente um

bicho-preguiça”.

Logo, temos a seguinte significação: uma mulher com algumas propriedades em comum com as que apresenta o bicho-preguiça, resultando no processo de mesclagem conceptual de: “Ana é praticamente um bicho-preguiça”.

É claro que, embora Ana durma durante muitas horas e apresente um comportamento lento em suas atividades diárias, não faz com que seja considerada um bicho-preguiça, mas se falamos de um ser vivo, de vida terrestre, com movimentos lentos, podemos considerar, de certa forma, que Ana é praticamente um bicho-preguiça. Assim sendo, o angulador praticamente não confere nenhum grau de pertencimento categorial, mas aproxima os critérios secundários das entidades envolvidas, o que revela a sua qualidade periférica e a sua natureza aproximante.

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52 4. METODOLOGIA

Nossa pesquisa é de natureza qualitativa, embora façamos uma contagem em termos percentuais das ocorrências de praticamente catalogadas. Tem por objetivo levantar ocorrências de praticamente em situações de língua em uso, através do Corpus do Português e da ferramenta de busca Google.

A análise é realizada a partir de diferentes textos escritos, para que consigamos identificar o uso de praticamente e, principalmente, a sua função anguladora e observar os contextos de uso e os gêneros discursivos encontrados.

Os textos encontrados em blogs e sites da internet apresentam marcas linguísticas próximas à oralidade, indicando o uso cotidiano de praticamente como angulador.

Os dados começaram a ser coletados no mês de setembro, do ano de 2017. Selecionamos amostras de praticamente em diferentes sites.

Em um primeiro momento, procuramos pela palavra isolada e em seguida acompanhada por outras palavras que apareceram espontaneamente em nossa busca. Buscamos em manchetes de jornais e revistas, blogs e sites da internet.

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53 Numa segunda rodada, portanto, digitamos praticamente associado a artigos, adjetivos, verbos, numerais etc., como, por exemplo, “praticamente uma mãe”, “praticamente casado”, “praticamente pregam”, “praticamente 100%”, etc. Dessa forma, outros usos de praticamente foram aparecendo e realimentando a busca.

Ao selecionarmos uma amostra, analisamos os frames acionados, a partir do uso do angulador praticamente. Na descrição dos elementos que compõem os inputs, no processo de Mesclagem Conceptual, consideramos as informações

presentes no texto da própria amostra e informações outras obtidas através da ferramenta de busca Google.

Assim foi constituído o corpus referente aos usos na Internet, sendo coletados dados provenientes das seguintes páginas da web, jornais e revistas online: Revista Quem, Jornal Extra, Folha Patoense, Gshow (globo.com), Terra, Histórias com valor, Techtudo, Correio Braziliense, Século Diário, Gazeta das Caldas, Gauchazh, Gazeta do Povo, Uol notícias, ESPN, Jornal do Brasil, Brasil 247, Mais Goiás, Revista Capricho.

O Corpus do Português, por sua vez, é um banco de dados criado pelo professor Mark Davies, BYU e financiado pelo National Endowment for the Humanities (2004, 2015). É dividido em duas partes distintas: um corpus mais antigo e menor e um corpus novo e muito maior (web/dialetos).

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54 Nossos dados foram retirados desse novo corpus, que apresenta cerca de um bilhão de palavras de páginas da web de quatro países de língua portuguesa (Brasil, Portugal, Angola e Moçambique). Mas é importante ressaltar que essa pesquisa utiliza somente os dados referentes ao Português do Brasil (PB). O novo corpus é maior do que o anterior, permitindo a análise do Português mais recente.

Em nossa busca, encontramos diversas ocorrências de praticamente, mas todas com o valor de angulador. Constatamos, então, já na coleta de dados, que praticamente com valor puramente adverbial dificilmente é utilizado.

Nas situações reais de uso analisadas, praticamente aparece exercendo função anguladora, indicando aproximação, em menor ou maior grau, como veremos no capítulo cinco desta dissertação, na análise dos dados.

Foram catalogados 60 dados que constituem os corpora com os quais trabalhamos, sendo 14 do Corpus do português e 46 de sites da internet. Realizamos a análise dos dados selecionados a partir das ocorrências de praticamente em textos escritos, sob a ótica da Linguística Cognitiva, mais

especificamente, sob o viés da Teoria dos Espaços Mentais (TEM), buscando identificar seus usos e funções. Para tanto, dividimos os dados em três grupos, com base em uma escala que ilustra a direção da mudança de praticamente (de advérbio a angulador). Considerando tal escala, conforme explicaremos no capítulo 5 desta pesquisa, os grupos foram definidos como Grupo 1 (- - +), Grupo 2 (- + +) e Grupo 3 (+ + +). Para demonstrar os procedimentos da análise realizada, selecionamos três amostras de cada grupo de anguladores, totalizando nove amostras.

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55 Na análise dos dados, buscamos:

1- Verificar os usos de praticamente em contextos reais de uso;

2- Identificar os sentidos de praticamente nos textos escritos selecionados; 3- Diferenciar o uso de praticamente com valor adverbial e com função

anguladora;

4- Observar em quais contextos praticamente é usado como angulador, por meio de análise gramatical dos termos que aparecem junto a ele e de acordo com os pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva e contribuições da Pragmática.

Constatamos que os textos escritos que apresentam características da oralidade, como os blogs e sites da internet, são os que mais utilizam praticamente como angulador. Como elementos da oralidade destacamos: textos em primeira pessoa, linguagem coloquial, textos com opiniões pessoais, gírias e expressões presentes na fala.

A análise dos 60 dados que formam o nosso corpus foi realizada em duas etapas:

a) Análise gramatical dos termos e construções que acompanham praticamente observando, também, a sua função sintática e semântica nos contextos de uso;

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56 b) Análise de praticamente como angulador e seus diferentes graus de aproximação e funções, sob o viés da Linguística Cognitiva e contribuições da Pragmática.

Na apresentação dos exemplos e casos em análise, as ocorrências de praticamente são destacadas com negrito e sublinhado.

Embora tenhamos utilizado a mesma fonte do trabalho como um todo, para uma melhor organização, os textos em que se dão as ocorrências de praticamente estão em conformidade com original de onde foram copiados. Como se poderá observar, há casos em que praticamente aparece no título e no corpo do texto e outros em que ocorre só no título ou só no texto.

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57 5. ANÁLISE DOS DADOS

Na análise dos dados, considerando a natureza adverbial de praticamente, apontada por dicionaristas, e o seu uso mais recente como angulador, criamos o quadro a seguir, que ilustra uma escala, que nos ajudará a categorizar as ocorrências de praticamente que encontramos:

PRATICAMENTE

Advérbio de modo Angulador

(- - -) (- - +) (- + +) (+ + +)

Quadro 2 - Praticamente: de advérbio de modo a angulador.

Assim, em um dos extremos da escala, temos praticamente com valor adverbial, isto é, como um advérbio de modo que, como o próprio nome indica, modaliza o significado da construção: praticamente com a acepção “de modo prático”, “em termos práticos”. No outro extremo da escala, temos praticamente como angulador, com o sentido de “aproximação”. Entre os dois extremos, temos

Referências

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