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LÍNGUA KIMBUNDU. Penso ser a primeira vez que na Internet aparecem apontamentos de uma língua africana falada num PALOP.

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Academic year: 2021

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LÍNGUA KIMBUNDU

O kimbundu é a língua da região de Luanda, Catete, Malanje e as áreas de fronteira no Norte (Dembos - variante crioula kimbundu/kikongo) e no Centro (Kuanza Sul - variante crioula kimbundu/umbundu). É falada por mais de um milhão e meio de pessoas.

Faz parte da grande família de línguas africanas a que a partir do século passado os europeus convencionaram chamar Bantu (bantu significa «pessoas», e é plural de muntu. Em Kimbundu mutu designa «pessoa», com o plural em atu).

Estes apontamentos foram elaborados com o intuito de ajudar todos aqueles que manifestam preocupação em conhecer os entrelaçamentos da língua portuguesa com as línguas africanas. Neste caso, o kimbundu foi uma das línguas de África que mais conviveu com o português, pelo menos desde o século dezasseis até à actualidade. Penso ser a primeira vez que na Internet aparecem apontamentos de uma língua africana falada num PALOP.

Mona (filho) — ana («mona» é aglutinação de «mu+ana»)

mubika (escravo) — abika muadiakimi (velho sábio) — adiakimi B) MU — MI

O mesmo prefixo, desde que não se aplique a pessoas, forma plural diferente muxima (coração) — mixima

mulembu (dedo) — milembu muxitu (mata) — mixitu mundele (branco) — mindele mutue (cabeça) — mitue C) DI — MA

dikamba (amigo) — makamba diala (homem) — mala

dikolombolo (galo) — makolombolo dikota (o mais velho) — makota diaku (mão) — maku

D) KI — I

kinama (perna) — inama kilumba (rapariga) — ilumba

kima (coisa) — ima kifuba (osso) — ifuba kimuezu (barba) - imuezu (barbas)

E) MP, ND, NG, MB, etc — JI

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São nomes de origem estrangeira.

Note-se que o «m» e o «n» iniciais antes de consoante nunca se lêem. A sua função é nasalar a consoante.

No singular, a palavra seguinte deve começar por «i»: mpange ietu (o nosso companheiro); tata ie (o teu pai); mama iami (a minha mãe); nja iami (o meu pénis). Muitas vezes utiliza-se o singular como plural, mas a palavra seguinte vai para o plural: mpange jietu (os nossos companheiros), ngulo jiami (os meus porcos)

ndungo (picante) — jindungo

mpange (companheiro) — jipange (a nasalação cai) ngulo (porco-leitão) — jingulo

mbolo (pão) — jimbolo henda (saudade) — jihenda sabu (provérbio) — jisabu nvunda (raiva) — jinvunda tata (pai) — jitata

sanji (galinha) — jisanji ndanji (raiz) — jindanji ngandu (jacaré) — jingandu mbua (cão) — jimbua (jímbua) nja (pénis) — jinja

hombo (cabra) — jihombo («h» aspirado) F) KA — TU

O prefixo ka designa o diminutivo

kangombe (boizinho) — tungombe (boizinhos) kasanji (galinha pequena) — tusanji

Kahombo (cabrinha) - tuhombo (cabrinhas)

Kalumba (rapariguinhas) - tulumba (rapariguinhas) Kandenge (rapazinhos) - tungembe (rapazinhos) Kanzamba (elefantezinho) - tunzamba (elefantezinhos) G) Plurais irregulares

Não há regras precisas. Já vimos muhatu/ahetu DI — ME

disu (olho) — mesu 4) Verbos

A) Geral

Todos os verbos, no infinito, têm a desinência ku

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Kukalakala (trabalhar), Kusanga (encontrar), Kuloa (odiar), Kuzola (amar), Kutunda (sair) B) Pronomes pessoais

Para se conjugarem os verbos, tal como nas outras línguas, utilizam-se os pronomes pessoais que, em muitos casos, se sutentendem:

eme eie muene etu enu ene

C) Pronomes possessivos (usam-se com prefixos concordantes com os nomes)

uami (o muxima uami - o meu coração; o dikamba diami - o meu amigo; o muhatu uami a minha mulher; o inzo iami - a minha casa)

ue (o tata ie - o teu pai) ue (o inzo ie - a casa dele) tuetu (o ixi ietu - a nossa terra) nuenu (o mbiji ienu - o vosso mês)

a (o mona-a-ngulu a - a leitoa deles -- «mona-a-ngulu» significa literalmente: «filho de porco»)

D) Presente do indicativo

Tome-se o exemplo simples do verbo kuala (ser) (eme) ngala (eie) uala (muene) uala (etu) tuala (enu) nuala (ene) ala

Há aqui uma concordância «lógica». Na primeira pessoa do singular o prefixo do verbo é sempre «ng». As outras seguem os prefixos do pronome (note-se: muene uala. Podia ser «muene muala», mas o «m» cai, para tornar o encadeamento «mais leve»).

-Verbo kukala ni (ter)

ngala ni, uala ni, uala ni, tuala ni, nuala ni, ala ni

NOTA: O verbo ter em kimbundu expressa-se sempre como «ter com...»: ngala ni nzala (tenho fome), ki ngala ni makamba (não tenho amigos) -Verbo kuiza (vir)

ngiza uiza uiza tuiza

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nuiza iza

E) Presente-acção A acção forma-se com mu ou ngolo ou ngalo, conforme a região. (eme) nga-mu-tunda (estou a sair) ou ngolo tunda ou ngalo tunda

(eie) ua-mu-tunda; uolo tunda; ualo tunda (muene) ua-mu-tunda; uolo tunda; ualo tunda (etu) tua-mu-tunda; tuolo tunda; tualo tunda (enu) nua-mu-tunda; nuolo tunda; nualo tunda (ene) a-mu-tunda; olo tunda; alo tunda

(eme) nga-mu-ia (estou a comer) ou ngoloia ou ngaloia (eme) nga-mu-xana (estou a chamar)

(eme) ngolo kuiza (estou a vir); (eme) ngoloia (estou a ir) F) Futuro

Forma-se com ngondo

(eme) ngondo kuiza (virei) — Neste caso o «ku» do verbo não cai. É um imperativo da musicalidade da linguagem falada

(eie) uondo kuiza (muene) uondo kuiza (etu) tuondo kuiza (enu) nuondo kuiza (ene) ondo kuiza Mas:

ngondo zeka (dormirei); ngondo fua (morrerei) ngondoia (comerei); ngondo kuala (serei, estarei) G) Passado

- Do verbo kuzeka

ngazekele, uazekele, uazekele, tuazekele, nuazekele, azekele (dormi) ngalele (fui, verbo ser)

- Do verbo kuia

eme ngai (o presente é eme ngia, uia, uia, tuia, nuia, aia), eie uai, muene uai, etu tuai, enu nuai, ene ai

- Do verbo kukala (ser)

ngexile, uexile, uexile, tuexili, nuexile, axile - Do verbo kukala ni (ter)

ngexile ni, uexile ni, uexile ni, tuexile ni, nuexile ni, axile ni H) Imperativo

- Na segunda pessoa do singular forma-se com o infinito do verbo sem a partícula ku : Zuela! (fala!)

Tunda! (sai!)

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«u») - foi substituido pelo som longo iê)

- Na segunda pessoa do plural, forma-se com o sufixo «enu»: Dienu! (comei!)

Zekenu! (dormi!)

Ivuenu! (ouvi!) - verbo Kuivua (acento no «i»)

Este enu tem a ver com o significado «gentes», «pessoas» (enu akua zanzala — as pessoas da sanzala)

I) Negativa

- Uma das possibilidades de formação é com a partícula «ki»: eme ki ngala ni nzo (não tenho casa)

eme ki (ngala) muhatu (não sou mulher) - Mas também se utiliza a partícula «ku»: Monami, kutundê! Monami zeka!

(Meu filho, não saias! Meu filho, dorme! - Esta frase pertence a uma canção muito popular em Luanda em Fevereiro de 1961. É o lamento de uma mãe que aconselha o filho a não sair de casa por causa da Pide)

- Outra forma de negativa verbal:

Xitu, nga-i-diami (A carne, não a comi. Não se diz «Ngadiami o xitu»)

Eme ngeniami (ji) ndandu (Já não tenho parentes há muito tempo; a forma verbal ngeniami significa «não tenho há muito tempo»)

J) Forma reflexa

Forma-se com a partícula di: Ku-di-sanga kua makamba

(encontrar-se com os amigos, dar encontro com os amigos) (mona+ietu)

(estou a encontrar-me com o nosso filho)

L) Pronomes reflexos ngi, ku, mu, tu, nu, a

Muene ua-ngi-zola (ele ama-me) (Ene) a-ku-vualela (nasceram-te)

Em Kimbundu não há «o», «a» como reflexos, mas sim «lhe», «lhes». Por isso no Português de Luanda se diz «eu vi-lhe»: Nga-ku-mona (eu vi-te) M) Muitas vezes o verbo não aparece na frase:

Eme, diala (eu sou homem)

Kitadi, mona-a-ngene (o dinheiro é filho alheio). Nota: ngene usa-se muito em

kimbundu para designar as coisas dos outros, alheias (inzo ia ngene - casa alheia; kitadi-kia-ngene - dinheiro alheio)

5) Forma de cumprimento

O cumprimento matinal é extremamente importante. Não tem nada a ver com o seco «bom dia» ou «olá». É um cumprimento em que se estabelece uma relação social.

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- Uazekele kiebi?, ou simplesmente, Uazekele? (dormiste bem?) - Ngazekele kiambote! (dormi bem!)

Depois disto pergunta-se pelos filhos, pela mãe, pela avó, etc.: -O tata, kiebi? (O mama, kiambote?)

(o teu pai, está bem? a tua mãe, está bem?) Quando as pessoas se encontram, perguntam-se: - Kebi? (ou uala kiebi?) (como estás?)

- Kiambote! (ou ngala kiambote!) (estou bem!) E quando se despedem, podem dizer:

-Mungu, ue! (até amanhã)

-Mungu uenu! (até amanhã a vocês!) 6) Sim, não

Kiene (sim)

Kana (não) - ler «kanáa»

- Uandala kuia ni eme? (queres ir comigo?) - Kana! (não!)

7) Expressões de reforço· A expressão muene, além de significar «ele», «ela», significam também «mesmo».

Eie muene! (tu mesmo!) Muene muene! (ele mesmo!) O tata muene! (o pai mesmo!) Kidi muene! (é mesmo verdade!)

Nga-ku-zolo kiavulu muene! (Gosto mesmo muito de ti! - É a expressão mais poderosa usada em kimbundu para manifestar directamente um grande amor)

Kiambotebote (muito bem), kiavuluvulu (muitíssimo), kionenenene (muito grande), kiofelefele (muito pequeno):

-Eme, kiambotebote! (estou muito, muito bem!)

- Uala ni kitadi? - Kiavuluvulu! (tens dinheiro? Muitíssimo) Repare-se também neste reforço:

Tuoloietu! (estmos juntos! - Há aqui duas partículas repetitivas designando a primeira pessoa do plural: «tu». É um reforço muito comum no kimbundu)

8) Diversos A)

A-ngi-vualela mu Luanda (verbo Kuvuala - nascer) (Nasceram-me em Luanda) Em Kimbundu não se diz «nasci» mas «nasceram-me», «nasceram-te», etc.: a-mu-vualela (ele nasceu; literalmente: nasceram-lhe)

B) Talvez devido à necessidade do ritmo, em kimbundu diz-se:

- O kikalakalu, nga-ki-zuba kia (literalmente: o trabalho, acabei-o já. Em Português diz-se: Já acabei o trabalho).

A expressão «kia» (já) vai sempre para o fim da frase: - Dikolombolo diakokolo kia! (o galo já cantou!)

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- (Eme) ngadi kia! (Já comi!) - (Ene) afu kia (Eles já morreram)

- O jisoba jafu kia (Os sobas já morreram) C) Ki (quando)

Ki ngibita bu tandu ia dikalu, akuetu a-ngi-xana monangambéee!

( «Quando passo em cima do carro (camioneta) as pessoas chamam-me filho de carregador». É a forma pejorativa como os colonos tratavam os negros quando estes iam na carroçaria das camionetas, muitas vezes para o «contrato» (trabalho nos cafezais), pois não tinham acesso à cabina). Note-se o aportuguesamenteo de dikalu (carro), tal como ngeleja (igreja).

Ki uenda, uibula (quando viajares, informa-te) D) Kioso (todo)

O izua ioso (todos os dias. Literalmente: os dias todos) E) Boba, bana, baba

Boba (em algumas regiões baba) (aqui, cá) Bana (banáa) (lá, ali)

Há regiões em que o «b» é duro e quase aspirado, como se tivesse um «v» à frente: «bvabva»

Ngala boba (estou aqui)

Mas note-se esta expressão característica: Za kuku! (Vem cá!)

F) Género Não há feminino como ele se entende em Português.

Assim, usam-se as expressões auxiliares «muhatu (mulher)» e «diala» (homem) quando se quer especificar:

Mona-ua-muhatu (criança do sexo feminino) Mona-a-diala (criança do sexo masculino) Nzamba-ia-diala (elefante macho)

Hoji-ia-muhatu (leoa) Mas há outra forma: sanji — dikolombolo G) Conversar

Em Kimbundu não se diz conversar, mas «pôr conversa»:

Kuta maka (muene ua-mu-kuta maka - eçle está a pôr conversa) H) Artigo definido

Em Kimbundu só se usa «o» correspondente aos portugueses «o, a, os as». O njila (o caminho - o jinjila - os caminhos)

O nhoka ia-di-nhingi (a cobra enrolou-se) I) Tempo

Mu ukulu (antigamente, há muito tempo)

Lelu (hoje. Usa-se muito dizer Lelu, lelu! - hoje é hoje) Mungu (amanhã)

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Mungudina (á) (depois de amanhã) Maza (ontem) Mazadina (á) (anteontem) 9) Alguns números 1-moxi 2-iadi 3-tatu 4-uana 5-tanu 6-samanu 7-sambuadi 10-kuinhi

11 - kuinhi-ni-moxi (dez mais um) 12 - kuinhi-ni-iadi (dez mais dois)

Note-se a regra geral da língua, que atira os adjectivos para depois dos nomes e faz concordar todas as palavras pelo prefixo:

Poko imoxi (uma faca. Literalmente: faca uma) Jipoko jiadi (duas facas)

Muxi umoxi (uma árvore)

Makamba (m)asamanu (seis amigos) Uma vez, duas vezes:

Lumoxi, luiadi...

Ngadi ngo lumoxi (só comi uma vez)

10) Interjeições (algumas usam-se em Português de Luanda, que muitas vezes segue o Kimbundu e não o Português de Portugal)

Aiué ou Aiuê! (dor ou embevecimento) Ala! (não me maces. Desprezo)

Auá! (desdém, enfado) Exi! (que maçada!, é demais!) Haca! (Livra!)

Hela! (Caramba!)

Hum! (indecisão. Mas também «sim») Hum-hum (lamentação)

Também! (tens cada uma!) Tunda! (sai!)

Xê! (Olá, tu, você!) 11) Anga - ou

Kufua anga kutolola (Morrer ou vencer - slogan do MPLA nos anos 60) 12) Deus

Nzambi (Deus todo-poderoso) - Ngana Nzambi (Senhor Deus)

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13) Neologismos

A grande língua de referência do kimbundu é o português, a que ele recorre sempre que o seu vocabulário (mais incompleto) apresenta lacunas. O kimbundu da cidade, por ter necessidade de mais vocabulário, interpenetrou-se com o português local, importando variadíssimas expressões

a) Em kimbundu não existe «se», por isso se recorre ao português: Kalakala, se uandala kukala mutu! (Estuda, se queres ser pessoa!)

b) Lumingu (domingo), Sapalo (sábado), Ngeleja (igreja), dikalu (carro, camião) c) Em geral termos políticos e económicos

d) A expressão bessa, ngana (a sua bênção, senhor), por exemplo e) O português usa, por exemplo, a expressão minhoca (nkoka - cobra) f) Conceição - Sesa g) Cadeia - caleia (por exemplo, a conhecida canção do movimento de libertação: Doutor Netoé mu caleia, ngongoé (O Doutor Neto está na cadeia, que sofrimento)

h) Mesa - mesa. (Leia-se: messa)

Quando os portugueses chegaram à foz do rio Zaire encontraram dois reinos, Kongo e Ndongo. Ndongo foi fundado no início do século XVI, por um pequeno chefe Kimbundo que possivelmente, controlava o comércio de ferro. Os primeiros ngolas, partindo da possível ligação com a arte do ferro, estenderam a autoridade do Ndongo sobre diversos sobas. (Soba: do quimbundo, senhor de um distrito) para terminarem, em meados do século XVI, ocupando as terras compreendidas entre os rios Dande, Lucala e Cuanza.

Os ngolas foram obrigados a se submeteram os manikongos e pagarem impostos e rendiam a eles homenagens. A organização do estado Ndongo era parecida com a do Kongo, o estado Kimbundo só se tornou independente em l556, quando as tropas do ngola Inene, apoiadas por alguns portugueses, infligiram uma importante derrota ao manikongo.

Este último, inspirado pelos portugueses, tentava uma aventura militar nos territórios do Ndongo. Após a independência do reino do Ndondgo, o ngola, ouvindo os conselhos dos escravistas da ilha de São Tomé e sendo chefe de um estado totalmente soberano, enviou uma embaixada a Portugal para pedir contatos diretos com a Coroa. Era a melhor forma de garantir um fluxo sistemático dos produtos europeus, imprescindíveis a chefes políticos que assentavam parte do poder e prestígio sobre o controle do comércio de longa distância.

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O nula Ndambi, que sucedeu o Inene e olhava com desconfiança os contatos com os europeus, recebeu, em l560, uma embaixada portuguesa comandada por um jovem e ambicioso nobre português, Paulo Dias de Novaes, e mais quatro jesuítas.

As relações entre a embaixada portuguesa e o ngola ruíram-se a tal ponto que o único jesuíta que continuava na região foi reduzido praticamente à escravidão e Paulo Novaes foi colocado sob residência forçada. O jovem português, em melhores condições com ngola, voltou à corte em l566, com um carregamento de escravos e de marfim. Em Portugal, Dias de Novaes convenceu o rei a conceder-lhe, como donatária, as terras defronte à ilha de Luanda e os territórios orientais que conquistasse. Ele voltou em l575 como proprietário exclusivo das terras do manikongo e do ngola. O desembarque de Dias de Novaes não encontrou resistência. As terras, próximas ao reino de Ndongo, onde alguns portugueses já comerciavam com escravos, pertenciam ao distante reino do Kongo. Era nestas praias que os manikongos mandavam pescar os nzimbos, que serviam como moeda nacional no reino do Kongo. O ngola não se sentiu ameaçado. Mandou, no mesmo ano, uma delegação de boas-vindas ao nobre lusitano. O lusitano começou sua expansão a procura de preta e escravos. Invadiu terras do Ndongo.

O Senhor africano, após massacrar o comerciante português aliados de Dias de Novaes, que se encontravam na capital, reuniu suas tropas e atacou os lusitanos de Luanda. Uma longa e sanguinária guerra. Uma aliança entre Ndongo e Mtamba, um reino mais a leste permitiu vitórias importantes sobre os portugueses. A Aliança entre portugueses e os yagas (jagas) permitiu que aqueles fossem impondo sua soberania aos sobas e apoderando-se das terras do reino do Ndongo. Os resultados da guerra foram prejudiciais a todos os tipos de comércio, todo mundo corria perigo e nos primeiro anos do século XVII, os portugueses foram obrigados a abrirem uma conversa sobre a paz em Luanda, com os Kimbundos dos Ndongo. Ai apareceu à figura de Nzinga pela primeira vez na vida dos lusitanos, Nzinga Mbundi – rainha Ginga dos documentos da época – embaixadora plenipotenciária de seu tio, o ngola. A Africana mostrou-se esperta na arte da diplomacia e mais tarde nas artimanhas da guerra. Ela com habilidade conquistou na mesa de negociação quase tudo que o Ndongo havia perdido na guerra. Morrendo o ngola, ela quebrou as regras de sucessão e subiu ao poder. Exigiu então dos portugueses os que haviam sido acordados no tratado.

Os portugueses preocupados com a possível aliança entre holandeses e o manikongo, não deram importância às exigências de Nzinga, que de imediato, rearticulou uma poderosa frente de batalha composta de yagas, quimbares, cativos fugidos, kongos e até holandeses. Ocupou o reino de Mtamba e reforçou suas tropas. Os portugueses desesperaram. Os holandeses abandonaram Luanda. Portugal voltou às negociações.

Referências

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