• Nenhum resultado encontrado

A obra infanto-juvenil de Jeronimo Monteiro : modelo para consumo

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A obra infanto-juvenil de Jeronimo Monteiro : modelo para consumo"

Copied!
100
0
0

Texto

(1)

;y

A OBRA INFANTO-JUVJ:NIL DE JERÔNIMO MONTEIRO:

MODELO

PARA

CONSUMO

Leila Teresinha SimÕes Rensi.

Dissertação apresentada ao Departanento de 'leoria Literaria do Instituto de Estudos da Ling;uagen da Universidade Estadual de Caop~ nas cooo requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre eo Teoria Literária.

Car;-~pinas, junho de 1988.

<c~~

'QI2LQ[·<'<'.

V'iCL,

l

0\.

fi.';L~o:i!J -~;cJl~

W\.

1::1 ...

''-1!

~(r,"'~

Í)U'Y\

~tl_a.,

.)..10\QJàJ.J'C"\\.é, S.J..rm(lc'l.,

I

-~"'V"ôA

(\l\0d\Jl1~,~'

\;,_e,ll::)...

('~~::,J>CÜÍl h1-~(\~'\i:À.

e.Nn

(2)

Ao Cid e a Cris, Tha e Lea, cuja paciência e ir.tpaciência r.1e fizeram, respectivamente, persistir na reali zação deste trabalho e terniná-lo.

(3)

Este trabalho contou com o apoio financeiro da FAPESP e da CAPES.

Meus agradecimentos

à

Marisa Lajolo, que orientou este trabalho com respeito e dedicação, lendo cuidadosaoente meus textos e

discutindo-lhe as idéias; ao Jesus e

à

Berta, pelas sugestÕes

sas.

(4)

RESUMO

Este trabalho procurou estudar as narrativas infanto -juvenis de JerÔniQO Monteiro sob o ponto de vista da composi-ção e do oodo de producomposi-ção. A existência de UQa estrutura básica, que se repete em todas as histÓrias de JerÔnimo Monteiro, suge-riu encontraren-se nestas, ressonâncias dos contos prir:ü t i vos e 8Íticos. Dado que, diferenter:1ente dos Últimos, as narrativas de JerÔnir.J.O Monteiro se vinculam a ur.~a tradição literária escrita, foi necessário rastrear possiveis contribuiç~es da literatura

anterior

à

época en que o Autor produziu sua obra. Esta análise

apontou para seQelhanças fornais entre as estratégias de COQP~

sição usadas por JerÔniQO Monteiro e as utilizadas por alguns escritores oitocentistas - especialr:Jen'te os que se dedicaram ao folhetiQ, Por outro lado, o fato de se tratar de uma obra

gera-da nun contexto noderno de produção de bens culturais - portan-to, com UQ horizonte prévio de consuno - legitinou laços de

pa-rentesco da literatura infanto-juvenil com o modo de produção da indÚstria cultural.

Candidata Lei la Teresinha SimÕes Rensi. Orientador Profa. Dra. Marisa P. __ Lajolo.

(5)

ÍNDICE

INTRODUÇÃO • • • • • • . • • • • • • • . . • • • • • • • . . • . • • • , , . . • . • . • • • • . . • • . 01

1. A RECORRÊNCIA DE UMA ESTRUTURA BÁSICA . • • . . • • . • • • • • . • • • • • • 04

1.1. Entre fadas, bichos, crianças e bonecos . . . 05 1.2.

À

procura de aventuras num passado perdido •..•..•.•. 13 1.3. O futuro ao honem pertence: ficção cientifica . . . 22

2. A REDUNDÂNCIA DOS TOPICOS •••••••••••••••..••.. , . , , , •• , . . . . 29

.

3. A VARIAÇÃO DA ESTRUTURA BÁSICA .•••••••••••••••••••.••••••• 39

4. A TRADIÇÃO LITERÁRIA E O FOLHE7IM •••••••••••••••••••••••• 55

5. SOB A BATUTA DA INDÚSTRIA CULTURAL ••••••••.••••••••••••••• 73

6. CONCLUSÃ0 ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 85

(6)

INTRODUÇÃO

Volta e meia deparo com afirmações de autores mais lÚci dos, segundo as quais produzir histÓrias para crianças e jovens

é

uma tarefa difÍcil. Isso ocorre er.1 virtude da prÓpria a!7lbigu1-_

dade do conceito de infância, pois ela mesma

é

uma fase amb{gua que parece rejeitar o consenso.

Tendo definido como objeto de estudo a literatura infan to-juvenil produzida por JerÔnimo Monteiro, suspeitei, logo nas etapas iniciais deste trabalho, que escrever para crianças deve ser tão dificil quanto escrever sobre aquilo que os autores es crevem para elas.

Confiroada a suspeita, vi-we a braços com os primeiros

problemas trazidos pela escolha daquele objeto: qual das aborda gens poderia esclarecer melhor os ~ecanis~os de construção de una literatura que tem como patrono a escola e como @ecenas a indÚstria cultural? Que sienificado tem ela no conjunto das

produçÕes culturais de nosso pais?

Observara anteriormente, através da leitura de livros infanto-juvenis, que a tão propalada 11

adequação aos niveis in-fantis de conpreensão" resultava geraloente no conservadorismo forôal das oanifestaçÕes de literatura para crianças e jovens, dado que, produzida pelos adultos, essa modalidade encanpava as-piraçÕes tautolÓgicas: o escritor, ele prÓprio uo adulto, de r.lo do consciente ou não, apresentava ao receptor-criança uo oater~ al literário potencialnente capaz de transforr:1á-1o na reprod~

-çao nil:1etica do enissor- adulto.

Decidi, a partir dai, exar.ünar a '1

r:wrfoloeia'1

das narra

ç~es de Jer;nino Monteiro, a fin de descobrir nelas una possi

vel estrutura b~sica; algo nodesto, ainda que parcialnente ins pirado no trabalho ê.e Propp cou o conto rJaravilhoso russo. O na

(7)

terial obtido co~ esse estudo constitui o Capitulo 1 desta

dis-sertação, quando

aponto a existência de ur:1a estrutura miniQa

recorrente na obra de JerÔnimo Monteiro, capaz de abrigar essa

produção aparenter:1ente heterogênea sob a rubrica Única de

"nar-rativas de aventura11 •

Motivada pela constatação de alguns tÓpicos redundantes na obra do Autor, no Capitulo 2, a análise recai no

esquef."l.atis-mo na ordem do enredo. Coesquef."l.atis-mo se trata de nativos recorrentes,

canonizados por narrativas anteriores que gozaram de popularid~

de junto a leitores de várias épocas, a análise aponta eo

Jerô-nif."l.o Monteiro a possibilidade de ligaçÕes entre sua obra e a

cultura de oassa.

No Capitulo 3, analogaoente a prineira etapa deste tra-balho, apÓio-oe nas idéias de alguns forr.talistas russos, a fim de analisar os procedimentos de JerÔnioo Monteiro no que se re fere

à

introdução das variantes na estrutura básica das narrati vas. Tanbéo ai foi possivel depreender o esquenatismo: este tra ço não só parecia explicar o vinculo de tais histÓrias com as formas sinples exar:ünadas por André Jalles, como sugeria trans-fornaçÕes t~bén condicionadas por fÓroulas, na trajetÓria por que as narrativas atuais passarar:1, desde a sua fonte rer:10ta até o contexto conteoporâneo em que se inscrevem. Novaoente a influ ência da cultura de nassa assooou pelas frestas do conservado risoo, sugerido agora pelo aproveitaoento de certos aspectos formais presentes no folhetif:1 oi tocentista.

Essa foi a r.Jatéria desenvolvida no Capitulo 4, quando, auxiliada pelas idéias de Tynianov a respeito da evolução lite-rária, procurei estabelecer as consequências do recurso

à

lite-ratura do século XIX, na construção das narrativas de JerÔnino Monteiro.

A

~nfase nas estrat~gias da comunicaçio de cassa de-veu~se

à

hipÓtese de que esse Autor recorreu

às

forr:1as daquela literatura, na r.1edida er:1 que nela ja se encontrava estabelecido ur:1 r:Jodo de elaboração conveniente ao apelo do firande pÚblico.

(8)

O Capitulo 5 trata especifica~ente da internalização da realidade imediata nos textos de JerÔnioo Monteiro, cooo proce-dimento que aproxima o Autor dos nados de produção da indÚstria

culturaL Ou seja, tanto a literatura infanto-juvenil quanto as

DanifestaçÕes da cultura de nassa afivelan

à

sua face reacioná-'

ria a oascara da novidade, preenchendo o ir.lperativo do alinha

menta superficial com a modernização da sociedade.

Este trabalho se conclui col71 a tentativa de reatar a

ponta das contradiçÕes que subjazem

à

elaboração da obra infan-to-juvenil de JerÔnimo Monteiro ao fio extenso das incongru-ências que participam da formação da estrutura social do nosso pais. Penso que, de algum modo, a literatura- seja ela expres-sao estética, seja expressão da cultura de massa - congrega eQ si, coQo se fosse um

imã,

as limalhas do contexto que a prod~

ziu.

(9)

1. A RECORRÊNCIA DE UMA ESTRUTURA BÁSICA

As narrativas de JerÔnimo Monteiro, escritas ao loneo de 33 anos, destinao-se ao pÚblico infanto-juvenil. Cano inclu-em histÓrias de fadas, bichos e crianças - adequadas a leitores

mirins - e ficção cientÍfica, histÓrias policiais e de aventu

r as cujo alvo maior

é

o jovem leitor - defrontamo-nos com UT:'!a obra que explora una variedade razoável de eleoentos tenáti cos e que tem endereço duplo.

Ur!! exame das recorrências que se r;1anifestao ao longo da

construçao dessas narra ti v as, contudo, nostrará que tal varieda de não se nantén no n:Ível da forr:1a, pois todas invariavelnente constróe.n-se a partir de uma estrutura básica

presente no

prlneiro livro publicado, No Reino das Fadas. Esse esqueleto ri gorosamente articulado será recoberto pela carne constituida das variantes relativas

à

construção de personagens, aobiente e teopo de ação.

Neste prineiro capitulo, oinha pesquisa contará coo o apoio do estudo feito por Vladioir Propp sobre o conto oaravi-lhoso russo e que foi apresentado er.1 Morfologia do Conto. É pre císo esclarecer que apenas oe baseio no oétodo desse Autor, sen tooá-lo contudo de nado ortodoxo. Ou seja, procedo

à

decooposi-ção das partes constitutivas fundaoentais das narrativas de Je-rÔnioo Monteiro, tentando encontrar nelas una fÓrnula fixa.

Co-r:lO exar:dno histÓrias infanto-juvenis atuais - portanto, foroas

geradas nun contexto diferente do que presidiu ao aparecioento daqueles contos prioitivos e miticos - tive que aGaptar os con-ceitos básicos de Propp, ou nelhor, procurei extrair dele a con tribuição dada pela codificação e pelo rigor netodolÓgico que irnprine aos eleoentos de an~lise litcr~ria.

Esclareço ainda que excluo desta pesquisa os livros po-liciais âe JerÔnino Fionteiro; tanbén não me ocupo de Tangentes da Realidade (1979), por se tratar de uo livro de contos.

(10)

Lxanino, portanto, os seguintes livros: No Reino das Fa das (1930), Viage~ ao

Pais

do Sonho (1949), Traição e castigo _Qo Gato Espichado {1949) e Bunba, o boneco que quis virar gente

(1955), todos con histÓrias variadas endereçadas ao pÚblico in fantil; O ouro de Manoa (1937); cinco livros que constituer:1 a série do Perneta, a saber: O Honem da Perna-SÓ, O Tesouro do

Perneta, A_ Ilha do Mistéri·o, Os nazis na Ilha do Mistério e O palácio subterrâneo das Antilhas, todos de 1943; A cidade per

~id~ (1948) e Coruni, o nenino selvageo (1956), que perfazem

a modalidade de aventuras propriaoente di ta; Três ueses no sécu

!o 81 (1947), Fuga para parte alguma (1961) e Os visitantes do

~~~ (1963), textos de ficção cientifica e, cooo os de aventu

ras, destinados a leitores juvenis.

1.1. Entre fadas, bichos, crianças

e

bonecos

o arcabouço das narrativas inrantis de JerÔnil7lO Monteiro e u!7l esquena fundanental fornada por una seqüência fixa de cinco elenentos que pode ser assio representada:

NECESSIDADE - PARTIDA - OBSTÁCULO - Cot1BATE - VITÓRIA

'

Estamos diante de uo modelo sioples que e a oatriz dos contos r.~aravilhosos, cujo objetivo

é

relatar ur:1 acontecinento ir;1pressionante, tecido pelo errfrentamento e posterior superação de obstáculos trágicos de oodo a reseatar senpre o desfecho éti

( 1) co.

Na seqti~ncia fixa utilizada por JerÔnimo Monteiro, o obstáculo

é

a pedra de toque da ação, ou seja,

é

a convenção que subjaz a necessidade e a partida e que justifica o co!7lbate

e valoriza a vitÓria. Por isso co;1sti tui o nÓ da intriga, que deve se desenrolar de nanei ra a corresponder exatanente

à

expe.s:,

t,ativa dos leitores, nur."ta reprodução fiel da ordeo a que os

(1) Jolles, A. Foroas sioples. p.30

(11)

acontecimentos se subordina~ nas construçÕes que André Jalles chama de forma simples.

Em torno desse modelo constitutivo fundamental, grav~ tam variantes que funcionam como extensÕes de cada elemento:da energia gerada por tais desdobraJ7Jentos (que respondem pela !!no-vidade11 dentro da fÓrr:1ula fixa) e da iteração da seqüência inal terada em que patina a ação das personagens (que produz a reali

r:1entação continua da aventura) as narrativas de JerÔnimo Montei ro extraem os mecanismos de aprisionamento do leitor, previsto como desejando, sim, a novidade, mas iDpondo taQbém a condição de que ela não transborde da fo(Ô)rna em que se insere.

O primeiro livro de JerÔnimo Monteiro, No Reino das Fadas, recupera a tradição do conto de fadas tradicional: um

prÍncipe - Everardo - deixa a faraili a para correr oundo er;1 bus-ca de aventuras. Encontra um velho que o informa da perseguição, pelos Cavaleiros Negros, a Artenisia, filha de Mieis, um feiti-ceiro mau. O raoço depara cora ela na floresta. e, juntos, escapara dos perseguidores e penetran no Pais das Fadas, visitando o Rei no Encantado. Ai, um dos dragÕes, Microfera, valendo-se de pod~ res mágicos, rapta Artenisia e dispÕe-se a torná-la sua esposa. A Fada da Vida intervém e fulmina Microfera, possibilitando a Everardo que reencontre a ooça. Voltan ao Reino da Alegria,

ca

-sam-se e sao nuito felizes.

A trana dessa narrativa pernite encaixá-la na modali~ dade do conto r.Jaravilhoso, que Vladioir Propp, adotando o ponto de vista t10rfo1Ógico, define cano nqualquer desenrolar de ação que parte de una malfeitoria ou de u~a falta, e que passa por funçÕes interoédi as para ir acabar er.1 casamento ou elll outras

( 2)

funçÕes utilizadas cono desfecho11 •

Tal colllo nos contos folclÓricos exaoinados pelo Autor russo, No Reino das Fadas apresenta funçÕes (para usar a

teroi-(2) Propp,

v.

Morfolopia do Conto.p.144.

(12)

nologia proppiana) que se repetem: o que motiva Everardo a

cor-rer nundo

é

o desejo de aventuras, isto

é,

una necessidade. No decorrer do conto, quando o principe

é

informado da perseguição

a Arteríl:Ísia, aquela função continua subsistindo, r:1as o que ago-ra a preenche primordialnente

é

o desejo de salvar a r:1oça. A re petição de ur:1a função vai deflagrar o desdobraQento de outra,

por exemplo, a partida. Na verdade, há una partida inicial, que

fornaliza a trajetÓria completa do herÓi no conto e cuja nonta-gel7! se faz COfil quatro "segoentos" que constituer.1 as células

ne-nores daquela. Esse processo de desdobraoento de funçÕes

é

pec~ liar às narrativas de JerÔnioo Monteiro e se torna mais

cor:1ple-xo nas histÓrias de aventuras e ficção cientÍfica, cono vereoos adiante.

Nos contos maravilhosos tradicionais, o enfrentaoento e a superação dos obstáculos interpostos na viageo

é

subsidiado tanto pela competência inconun de uoa personagem construÍda nos noldes do super-herÓi, quanto pelo auxilio de objetos mágicos*.

-Eo No Reino das Fadas, a açao dos auxiliares circunda algumas ~ tapas do deseopenho do herÓi: a luz que indica a Everardo o c a-ninho correto e a Fada que fulr.üna o agressor, Microfera. A fun ção da malfeitoria (Everardo e Arter.~isia perdem as forças por efeito de un lÍqüido mágico) emparelha-se

à

do obstáculo e

é

se guida pela transfiguração, quando aD.bos se recuperam do poder r:1aléfico de Microfera, voltando a ser saudáveis e capazes.ApÓs a punição do agressor, a situação de equilÍbrio apresentada no inicio do conto é restabelecida e a vitÓria

é

recompensada con o casar:wnto, que torna prÍncipe e princesa felizes para serJpre.

O par fornal r.1Ínir:1o dos contos r.1aravilhosos tradicio-nais

é

representado pela oposição Vida/Morte, cujo conflito vai propor duas forças antagÔnicas: a do Ber.1., concernente

à

ação do herÓi, e a do Hal, relativa

à

ação do agressor. A!Llbas são

pro-*De acordo cor:1 Propp, incluen-se na categoria de objetos .mági-cos os serviços prestados por personagens, que desempenhar.J. a função do doador.

(13)

postas no conto, oas cabe

à

Últina ver-se totalmente abolida. Não

é

outra a essência das histÓrias de aventuras, cujos herÓis enpreendem tambér.1 a luta contra a Morte. Assim, esse r,1octelo de

herÓi ~~é análogo ao Messias nitico ou libertador que veo de ur:J

Mundo superior, e seu inir.üeo

é

análogo aos poderes de!7lon:f.acos

de um oundo

inferior''~

3)Er.1bora apresentando alteraçÕes na

cons-trução do caráter do herÓi e no teopo e espaço da ação, as

his-tÓrias de aventuras

enraizan-se na tradição da literatura

nito-péica.

Viagen ao

pais

do sonho

é

uoa narrativa tematica!7lente

diversa da anterior. Do ponto de vista oorfolÓgico contudo, r:Ja~

tér:1 a estrutura básica peculiar às histÓrias de JerÔnioo Montei ro*. Trata-se de Ul!l livro para crianças, cuja personagerJ princ!. pal

é

Lalalo, garotinho de quatro anos que, apÓs brincar col!l un

trenzinho de r:1assa, adornece ouvindo a r:1âe contar-lhe ur.w hístÓ ria de cogur.1elos e borboletas coloridas. O sonho da criança constrÓi a histÓria: integrando ur:1 grupo de al!liguinhos, Lalalo vive coo eles aventuras l!laravílhosas, que se inician coo UD pa~

'

seio de trerJ; dentro de uo circo, assisteo a nul!leros anioados por insetos gigantes e por uo l!lágico que, con lllágicas loucas, cria un lago para inundar o circo, fazendo corJ que as crianças fujao num barquinho. Deslizando sem parar, a eobarcação leva-os

-a ur:1-a florest-a -al-ag-ad-a, o que -aoedront-a L-al-alo, que n-ao s-abe co no frear o barquinho, até que, desesperado, cai na água, grita e acorda. A oãe debruça-se sobre ele apreensiva e o r;lenino per-r;unta pelo barco, pelo trer;l, pelas crianças e pela água. A r:1ãe responde-lhe con naturalidade, pensando tratar-se dos brinque-dos e brinque-dos ar;ügos do filho. Traz-lhe uo copo d 1

água e o garoto a dornece novanen te, sorrindo, apÓs se r afagado pela oãe.

*Na verdade, as narrativas de Jerônioo Monteiro nao se inovao do ponto de vista norfolÓgico, rllas aproveitao uoa fÓroula funda oental, que

é

tlpica das histÓrias de aventuras. Não se trata -de criar ur.1a estrutura, nas -de utilizar UD estereÓtipo estr.ut~­

ral.

(3) Frye, N. Anatooia da Critica. p.186

(14)

Nesse livro, a necessidade se concretiza pelo desejo de

ouvir histÓrias. A viagen eQpreendida por Lalalo, leitor não al fabetizado,

é

proporcionada pela narradora, que

é

a nae, nur.1 processo siQilar ao que

é

experiwentado pelos leitores dos 11 vros de aventuras. ApÓs viajar por neio da palavra do narrador,

Lalalo torna-se o herÓi da histÓria, quando então

é

conduzido

'

pelo sonho. Aqui se inicia a partida runo a aventura vivida onirica!7lente. A trajetÓria do r.1enino

é

perneada pela recepção

de objetos nágicos oferecidos por auxiliares diversos. Mas a or

del7l desse nundo fantástico se quebra quando nela se interpÕe o

obstáculo do nedo provocado pela corrida desenfreada do barco.

A forna de conbate assunida

é

a tentativa do pequeno herÓi de ;:-~anter-se fisica e psicologicaLlente integro. A vitÓria, no caso, não

é

conquistada pelo herÓi: ela lhe

é

oferecida pelo auxilio proveniente da interrupção do sono. Lalalo, cooo o herÓi nitico, que

é

ULl eleito dos deuses, enpreende a luta e checa

à

vitÓria, pois pode contar coo o afago naternal da Providência.

A

recom-pensa

é

Uí.la extensão da vitÓria e se configura nurJ novo sono, agora tranqüilo, porque a histÓria tinha que chegar ao fim.

Eo ViageG ao pais do sonho, as funçÕes que constrÓen a estrutura básica não são repetidas, talvez porque se trate de u!7la histÓria curta, for1:1alr:1ente sir.1plificada, para crianças eG1 processo inicial de foroaçao na leitura.

No livro seguinte, Traição e castigo do Gato Espichado, a função do obstáculo concretiza-se na r:1alfeitoria de um agres-~3or que

é

posteriorr:~ente punido, cor.~o se pode deduzir do ti tu lo.

t

a histÓria de uo casal de ratos, o Sr. Rato ~alhado e Dona Ra ta Gris que, con os oi tos filhos, deixa.r:1 sua casa para hospeda;c -se na residência de Don Bonifácio, um gato bonachão, aoigo dos

ratos oue, na ausência dos donos, faz o convite

à

faoilia de roedores. Recebidos gentilwente pelo felino, acooodar:~-se na ca-sa, tendo

à

sua disposição UQ providencial estoque de alj.r:~entos.

Mas 0 Gato Espichado, anir:wl fanoso nos arredores pelo apetite

(15)

voraz, vis i ta o conpadre Bonifácio e dispÕe-se tar.1bér:1 a passar

a noite na casa. Os ratos ficam apavorados, nas o anfitrião

as-segura-lhes ser o cor:1padre un gato ar:1igo. À noite, quando todos

doroen, Espichado, fiel

à

raça, nata um dos ratinhos. Os pais

acordao coT!l o alvoroço e debandao para sua toca cor.~ a far:~ilia, sob as desculpas de Dor:1 Bonifácio. No dia seguinte, o Rato t-J:a-lhado encontra o cadáver de Espichado, que oorrera de

tao.

indige~

Aqui, a necessidade inicial se traduz no apelo

à

sobre-vivência: o Rato Malhado parte eo busca de cor:1ida e encontra Don Bonifácio, que lhe faz o couvite.

À

partida nao se sucede o obstáculo, eo virtude da introdução de una nova personageo - o gato - que funcionará coDo auxiliar da ação do Rato Malhado. Aquele é, portanto1 o eler:1ento de lir;ação entre a partida inic~

al e a subsequente; nesta é que está a origen dos aconteciD.en tos que se ordenao na estrutura básica isenta de repetiç~es, tal cono eo Viar,er.1 ao pais do sonho, pois aobos os livros desti nar;1-se ao r.1esoo tipo de pÚblico. TafJbéo similar

à

histÓria ante rior

é

o enfraquecinento da função de conbate: a reação dos ra tos

à

oalfeitoria do Gato Espichado linita-se

à

salvação da pr~ pria pele, através da fuga. A punição do agressor, cooo a vitÓ ria de Lalalo, desaba das oãos da Providência. Nos dois casos, o equilibrio se restabelece quase que

à

revelia da açao do he-rÓi, acentuando o caráter nodelar das histÓri-as para crianças. Ou seja, estas fornas de literatura infantil absorveo a tendên-cia pedagÓgica, segunG.o a qual faz parte da educação dos peque-nos mostrar-lhes urn pretenso r:mndo reB;ido por ur.1a ordeQ. ioanen-te, con a naldade sendo vencida pelo bern de um oodo que parece transcender a açao huoana. Talvez derive dai a debilidade das ar;Ões de cor.1bate e vitÓria nas duas narrativas exa:r.1inadas.

Buoba, o boneco que quis virar gente apresenta ur.w for-. l a COQ u·s ele~entos da estrutura b~sica repetin-t1a oa~s cor.1p ex , . '"

do-se er:1 esquenas a que vão se agre0ando funçÕes redundantes.

(16)

Narrada pelo pai de Teresinha, personageo principal, a histÓria

relata a visita de anbos ao Pais dos Bonecos. Lá, a nenina

emo-ciona-se corJ Bur:~ba, ur.1 boneco cujo sonho era virar eente. o rei dos bonecos, por intervenção de Teresinha, decide satisfazer a vontade de Bul7lba, con ur:1a condição: ele dever i· a pe rr.mnece r,

co-1710 gente, no Pais dos Bonecos, durante un ano, a fio de nostrar se era capaz de ter una conduta exenplar. Mas Bunba

é

tenpera-r.lental, despÓtico, e acaba por se r.10strar incapaz de cunprir a tarefa. Os desdobranentos da ação de Bumba e do Rei sao

-

aconp~ nhados pelas idas e vindas de 'I'eresinha aos

Pais

dos Bonecos. Nuoa dessas ocasiÕes, a oenina tor.1a conhecir.1entJo da punição que o Rei inflige a Bunba, condenando-o a ser boneco no Pais dos Hor;1ens. A tristeza de Teresinha diante do fato acaba quando, C.§.

sualnente, depara cot1 Buoba no terraço do apartamento vizinho.

A recor,1pensa e a posse definitiva do boneco.

'

Nesse livro, a necessidade inicial e preenchida pelo d~ sejo que Teresinha sente de voltar ao Pais dos Bonecos; quando a histÓria cooeça, o narrador nos inforoa que a oenina

viaj~ ra até lá e dispunha-se a repetir a façanha. A partida assinala o coneço de una nova viaeeo de Teresinha, agora acor.1panhada pe-lo pai. A de!!landa

é

auxiliada pela chave do tananho, coo função seraelhante

à

do objeto oágico nos contos de fada. A introdução de Buoba na histÓria esvazia a necessidade de seu filOtivo inici-al (=volta ao Pais dos Bonecos) para preenchê-la coQ uo novo d~ sejo; ajudar But1ba a tornar-se gente, A função peroanece, nas deflagrando agora una outra partida, cujo sucesso será obstado nelo Rei. I:ste inpÕe a :Sunba una tarefa dificil. A partir dai, as funçÕes básicas, enbora constantes, são desewpenhadas por personagens que se alternao, e preenchidas de nodo diverso nas

seqüências que se repeteo. Por ex.enplo: na seqüência que se in_i c ia con ur;la segunda parti da, o Rei representa o obstáculo na d~

Llanda de '?eresinha; na seqüência posterior, ocorre nova partida

e a nenina fica ciente de que as açÕes do prÓprio Bunba inpedem

(17)

que a necessidade seja atendida. A quarta 2artida apenas reite-ra a seqüência anterior ser.1 altereite-rar nenhun dos eler.1entos que a

formao; finaloente, na quinta e Úl tir.1a partida, cujo objetivo

é

revelar ao Rei a oalfeitoria de Bunba, ocorre a punição do bon~ co. A histÓria ternina cor.J a recor.tpensa da heroina que se desdo brara en vaivéns sucessivos na deuanda de Bulí1ba,

Novanente a função do conbate esvazia-se e punição e vi

~ia não acontece!71 diretanente pelas oaos do herÓi. o conbate existe na !lledida er.1 que Teresinha persiste na sua der;~anda, mas

é

o Rei quen maneja os fios dos acontecirJentos decisivos, ou se ja, ele

é

o aeente direto da punição. A vitÓria, concretizada pelo encontro de Buoba, trru<sforrJado nur.J boneco esfarrapado, é obra do acaso.

Ur.1a conparação das quatro narrativas exaninadas perrü te observar que apenas era No Reino das Fadas a função do cor,1bate

é

vitalizada pela ação de un herÓi inconun, de forna que essa na~ rativa se evoca diretaoenbe a forna t:Í.pica dos contos r:1aravilh2, sos. Nestes, a célula básica da intriga

é

preenchida pelo binÔ-mio obstáculo/ combate. Como, era relação

prineira, as outras

três histÓrias constituen fornas oais atualizadas da antiga for r.1a simples, o conponente nitico, que nessa Últina cercava o he rÓi cor:1bativo de una aura sobre-huoana, debilita-se er:1 favor de convençÕes peculiares a épocas e culturas r:1odernas. Dado que a

di~~são lilaior de textos escritos e a escolarização fazer:l parte

do nosso tenpo, as narrativas infantis conservam UrJ esqueleto arcaico (cuja natriz

é

una foroa sinples) nas o recobren com tenas selecionados e tratados de r:1odo a se confornareQ as con-vençÕes atuais. Assin, o prota;J;onista assenelha-se geralDente nenos ao herÓi r.LÍ. ti co e Dais ao herÓi prosaico, aparentado ao individuo couun; o conbate realiza-se de forr:~a oodesta, CODO se

0 r.~undo de agora se caracterizasse por ur.1 tipo de lee;alidade ca

paz de atribuir~lhe a "orden11 que faltava ao nundo r:~edieval eo

que florescer'an os contos hlaravilhosos.

(18)

1. 2. À procura de aventuras nur.1 passado perdido

Nas narrativas de aventuras de JerÔnir.Jo Monteiro, a

es-trutura básica que re,ce o principio de construção das histÓrias infantis se r.Jantél7! COQ o acréscino de repetiçÕes de seqüências

inteiras. As funçÕes perr.1aneceo invariáveis; o que muda

é

o

r.1o

-elo coTJo sao preenchidas. 'I'ra'ca-se de un nod-elo estrutural que

Unberto Eco chana de '1

esquena iterativo'1 e que se particulariza

pelo mecanismo da redun danela. - . ( ~) CorJa as 1mpl1caçoes da ut1l1-. . - . . zação dessa fÓrr;mla serão observadas detalhadar.~ente no Capitulo LI deste trabalho, passo de ioediato ao exar.1e das narrativas de aventura.

O prineiro livro de aventuras para jovens escrito por

JerÔnil7lo Monteiro

é

O ouro de Manoa, inicialoente publicado COQ o titulo de

O

iroao do Diabo. Relata os percalços vividos por ur.1a expediçao que viaja até o Alto Anazonas, cor.J o objetivo de

encontrar Manoa, a cidade do ouro, onde supostar.1ente se escon-den os descenescon-dentes dos incas, entre os rios Ar:1azonas e Orinoco. O grupo se depara, durante todo o percurso, con obstáculos

in-terpostos pela natureza selvageo ou pelo ataque freqüente de i~ dios; cooo as soluçÕes vêo sempre de Walter Baron- o herÓi da histÓria - a expedição, enbora tenha perdido alguns elenentos, logra cher;ar a Fianoa, habitada por una raça desconhecida e QUi-to antiga, denooinada pelos aventureiros de atlantes. Obtên QUi-

to-do o ouro que desejao nas, COTilO no regresso as lutas coo indios '

ferozes se :i.ntensificaD, o grupo e paulatinanente externinado, sendo \Jalter Baron o Único sobrevivente, podendo não sÓ contar

a aventura, cono execrar o ouro responsável por tantas nortes. Para \lalter :Saron, a necessidade da aventura justifica, nais que a busca do ouro, a função da partida. A seqüência

par-tida/obstáculo/conbate/vitÓria repete-se cinco vezes; se consi-derarnos a volta cone uoa nodal idade de partida en que o

prota-(4) Eco, u. AoocalÍpticos e integrados. p.269

(19)

gonista se desloca de un local estranho para outro que lhe

é

fa niliar, terenos oito repetiç3es daquela seqli~ncia. o esquena, que parece conplexo er.1 virtude da redundância e do preenchinen..;.. to das funçÕes por elenentos alternados,

é

na verdade ou i to sio

ples do ponto de vista estrutural. Cono observa Northrop Frye,

no eler.Jento essencial da trana, na estÓria ronanesca,

é

a

aven-tura, o que siB;nifica que a estrutura ronanesca

é

naturalr:1ente

Ut:la forna consecutiva e progressiva ..• ( •.• ) Eo seu ponto sais

ingênuo

é

uoa foroa ser,1 fir:-~, na qual un protagonista que nunca se desenvolve ou envelhece passa de una aventura a outra, até que o prÓprio autor desan1r.1a''· . (5) Jeron1r:1o Monteiro so desanina " . ' rá quando suas personagens perfizeren oi to r.1Ódulos, como ja as~ sinalei .•.

Em

seis das oito saidas da expedição, os honens contaQ com a açao de um auxiliar, representado por indios, quer cooo a oigos de boa vontade, quer cor:1o prisioneiros obrigados a agiren cono guias que amenizam os obstáculos da viageo; pelo acaso, que providencia a pista para a descoberta dos atlantes; pelos prÓprios atlantes que, de agressores na seqüência quatro, pas~

sao a auxiliares na cinco. A função do obstáculo

é

desenpenha~ da variadru.1ente: pelo anbiente desconhecido e agreste da selva; por indios ferozes que atacru~ a expedição e oatao alguns de seus cor:1ponentes; pelos atlantes, nur:1a deterninada etapa da via

ger:1. Ao obstáculo segue-se invariavelnente o coobate, cujas fÓrr.mlas al ternar.1 o confronto direto e sangrento (no caso dos indios), a obstinação e a coragen (no que se refere ao anbiente hostil) e foruas de doninação das culturas civilizadas sobre as nrü;ütivas (con os atlantes). A vitÓria, que é o sucedâneo do corJbate desencadeado pelo herÓi hábil e persistente, tanbéo

é

una função constante, arrenatada por reconpensas nenores distr.:!:_ buidas no final de cada seqüência: o oerecido repouso do gue!:. reiro apÓs una jornada estafante, algum ouro encontrado nur.1 ria

(5) Frye, N. Op.cit. p. 185

(20)

cho durante o trajeto, o gosto de ver o agressor subnisso. A Úl tima recol7lpensa antecede a volta e se concretiza na obtenção do objeto que Dotivara a deRanda: o ouro.

A

circunstância de ser \lalter Baron o Único sobrevivente da viaeer.:t encarece aqui a

au-ra de heroicidade 17litica de que sua ação se reveste e prova que,

cono

Galaaz, Baron 1

'não é ele i to porque ele triunfa nas provas, r:1as triunfa porque e ele ' i to>~. ( 6)

Não

é

so a utilização de una estrutura b~sica estereoti pada que raarca o oodo de produção das histÓrias infanto-juvenis e de outras r.:todalidades literárias de consumo; taQbéo o arranjo

de narrativas erJ séries se faz presente no raodo de produção de~ sa literatura. JerÔnioo Monteiro tem cinco livros pertencentes a ur.1a série: O HoJJleo da Perna-SÓ, O tesouro do Perneta, A Ilha do Mistério, Os nazis na Ilha do !Viistério e O palácio subterrâ-neo das Antilhas.

Existeo séries e~ que cada livro encerra uma narrativa autônona; a ligação entre una e outra

é

feita pela peroanência do grupo de personar,ens con os r:1esr:1os atributos definidos no prir.1eiro livro do conjunto.

A

série de JerÔnioo Monteiro consti tui-se, ao contrário, de histÓrias interdependentes, unificadas por urJa notivação

apresentada no prir:1.eiro livro.

Levando eo conta que, eG nosso autor, o resultado final

'

do conjunto e una longa narrativa cor:1posta de outras oenores, teremos, do ponto de vista norfolÓgico, estruturas básicas que teceu

a

estrutura r.1aior, reproduzindo~a.

En

outras palavras, as funçÕes consti tuen redundâncias quase que conpletas da fÓrr:1ula utilizada na construção da narrativa global. Vejanos cor.1o isso acontece.

No prineiro livro da série, O Honer.1 da Perna~só, dois neninos incautos, Eurico e zé-Cabelo-de-Índio são raptados por

ur.1 antigo narinhei.ro solit~rio, que perdera ur:1a perna en conba-(6)-A observação

é

feita por Tzvetan Todorov a respeito de Cal~

az no livro _A.s estruturas narrativas, quando o Autor anali-sa A DecanGa do Santo Graal, p.178.

(21)

tes no raar. O hor:1en leva as crianças a uoa ilha perto de são Vi c ente e obriga-as a trabalharer.t para ele. Os earotos escapar.1 no prÓprio barco do Perneta e, enfrentando os perigos do oar, che-gar;, sãos e salvos

à

casa dos pais. A policia captura o raptor e este revela o napa de um tesouro escondido nuna ilha. A partir dai, o pai de Eurico, Tancredo, cor.wça a planejar ul7la viagen er,1

busca do tesouro, a despeito da reprovação da esposa, Dona Maro c as.

À

se!Jlelhança dos contos de encantamento, teoos a

traje-tÓria dos neninos precedida de una transgressão: aobos saen de

casa e raantêo contato cor.t o futuro agressor (o hooer.t da

Perna--SÓ), desobedecendo aos conselhos da r.1ãe de Eurico, que não via cor.1 bons olhos a nova ar.üzade. O rapto das crianças constitui a nalfeitoria que vai interditar a ação daquelas.

A

reação tra-duz-se no coobate: prineiro, contra o Perneta a fio de concreti zareo a fuga, depois contra o nar.

À

vit6ria seeue-se o desnas-caraoento pÚblico do agressor, que é punido con a prisão.

O Perneta acuoula funçÕes: inicialoente e o agressor, ' er.1 seguida o auxiliar que revela estar de posse do napa de ur.t tesouro. Nesse ponto da histÓria, se instala uma necessidade que sera o raotor da deoanda pelo ouro. O corte da narrativa

é

o final do livro que provoca no lei to r UE1B pergunta: como será a

viagen?

Poréo, a viagen ainda não acontecerá, coDo se pode ver pelo resumo da intriga do segundo livro, O tesouro do Perneta.

À revelia de Dona !líarocas, que continuava pressentindo coisas, o Sr. ':'ancredo, de posse do oapa, inicia os planos e a preparação da viagen

à

ilha do tesouro. Contudo, UD. estratagena do hof:leL1 da Perna-SÓ frustra o sucesso do eopreendioent.o: na noite anterior a ?artida, o Perneta acorda os oeninos pedindo--lhes que tra_g;;;..r:-, o ca!)a para ser corrigido, pois uo erro exis tente nele prejudicaria o Sr. Tancredo. As crianças deixaD-se enganar e saen do quarto. são levadas clandestinaoente para o

(22)

iate

equipaào para a viaeen, que parte coR tripulação pro-'

pria. Er.~ alto oar, ocorre um r.10tim e alguns homens. dá -confiança do Perneta revol tar.1-se contra seu despotisr:JO e, prendendo-o no porão, dirigel':l o iate para o porto de Santos, cor.1andados pelo

HoDeo-da-Cicatriz. Os Reninos chegan sãos e salvos, sao

recebi-dos efusivar.1ente pelos pais e pelo povo cooo her6is e, no final, o Sr. Tancredo reitera sua intenção de tentar novar:-~ente a busca

do tesouro. Apesar dos protestos renovados de Dona Marocas, 0

marido obstinado CODbina con o Sr. Nascinento ur:1a prÓxina part~

da e, desta vez, decide levar Dona Marocas.

A estrutura dessa segunda narrativa repete a da

prioei-ra, ou seja, apÓs urJa nova transgressão aos conselhos de Dona Marocas, oco:c~r.:.: ~.~'.1a f:lalfei toria que frustra os planos da viager:1;

'

o

agressor

e

o nesf:lo,

e

o coobate assenelha-se ao anterior, acrescido agora da ação de Uf:l auxiliar. Os herÓis f:lirins obtêo

a vitÓria, o a8ressor

é

punido e a necessidade apresentada ini-cialrJente pernanece. O corte da narrativa devolve a pergunta

'

ainda nao respondida: cooo sera a viagef:l?

As sequências idênticas dessas duas histÓrias indicam una técnica de cor.1posição que prevalece nas histÓrias de aventu ras e cujo objetivo não

é

produzir satisfaçÕes novas nas permi-tir que elas novanente existao.

O terceiro livro da série e A Ilha do Mistério, que re

lata as aventuras dos exploradores ruoo a uf:la ilha das Antilhas,

na qual se supunha estar o tesouro. Hovas.1ente, porén, a viageo não se faz sen percalços: Eurico e Z~-Cabelo-de-Índio, certo

dia, alojar:l-se nur.1 dos barquinhos salva-vidas do iate e

cobres--se com una lona a ~in de se protegereo do sol. Tobias, urJ lou-co que fazia parte da tripulação, resolve i'ugir utilizando-se da er.1barcação er.1 pleno Atlântico, e Tobias, furioso por

desco-brir que escolhera just?.JJente o barco eD que estavao os garotos, tenta forçá-los a voltar para o iate a nado. ApÓs uo acesso de loucura, j_'obias er:1purra ar:1bos para fora do barco r.1as tambér.1 se

(23)

dese,_fuilibra, cai n 1

água e a er.lbarcação vira. O louco afoga-se e os oeninos, que haviao conseguido ar,arrar-se ao barco e esta-vao perdidos no oceano, são posteriornente encontrados pelos ho rnens do iate e recebidos outra vez cano pequenos herÓis.

O episÓdio não faz cor.1 que se desista da busca ao tesou ro; a viageo continua e, na chegada

à

ilha, a tripulação

é

sur-preendida .coo sinais de sapatos ferrados, indicando a presença

inusi tad& .je estranhos. O Sr. Tancredo e os oeninos deixao a tenda que havian ir.1provisado, na tentativa de investigar o nis-tério. Quando retornao, ser.1 solução alt;una, vêeD que o acaopa-nento fora assaltado, o cozinheiro r:10rto, e o iate roubado cor.1 toda a tripulação, inclusive Dona ~arocas. Prepara@-se para uo cor.1bate ao que juleam ser uoa base de subnarinos corsários.

Ocorrendo finaloente a partida, o obstáculo

é

agora re-presentado

por

Tobias e acarreta

as

funçÕes do cor,1bate, vitÓria

e puniçao. ApÓs essa seqüência, uoa retooada da partida e a sur presa de uoa oalfeitoria provocada por uo agressor não identifi cacto. O livro teroina, cooo os anteriores, suscitando uoa pe~ gunta, que agora é a seeuinte: queo

é

o agressor?

A resposta esta no titulo do quarto livro: Os nazis na Ilha do Mistério. O enredo deste livro explora a descoberta de uma Base Aérea Nazista nas Antilhas que, no entender do Sr. Tan credo, ru,1eaça a integridade fisica e polÍtica da Anérica.

Cabe-rá então aos herÓis brasileiros a defesa do continente, e

a

jo~ nada terá pleno sucesso quando Eurico e Zeca, desobedecendo r:mis una vez a advertência dos adultos, invader.1 a Base Aérea e, usando bonbas para avião e a dinaí:li te do prÓprio inioigo, explQ demo reduto nazista. Afastado o perigo, a tripulação er.1preende, finalr;~ente, a caninhada pela ilha

à

cata do tesouro.

-A prineira seqüencia inco~~nora a reaçao dos exploradQ res, que se pÕen a se~uir as pistas do agressor. Identificado este,

é

preciso que seja conbatido. A funçio do conbate ~ prec! dida de una nova tre.:-;sgressão dos neninos, a que se sucede a vi

(24)

tÓria, ainda parcial porque apenas ur.1 grupo de nazistas fora aniquilado. A liquidação dos denais exi[;e o desdobrarJer-::;o de açÕes idênticas às da prioeira seqüência. Cano ainda não é a hora do sossego dos herÓis, estes parter,1 novaoente, pois :._~estava a recuperação do iate roubado (= objeto da der:Janda atual). Uua ou tra seqüência, análoga às precedentes,

é

encaixada na histÓria e culrüna cor.1 a E_unição dos nazistas. Enfio, os herÓis sao l i

berados para reencetarer.1 a viar,em cuja der.1anda foi anunciada no

pri:G1eiro livro da série.

E o leitor não se per[;unta liserá que agora vai dar

cer-to?" r.1as ncohlo será que vai dar certo?''

O Último livro, O palácio subterrâneo das Antilhas, na~ ra a exploração da ilha e a descoberta de una caverna que ocul-ta un palácio repleto de tesouros arqueolÓgicos. Mas esse ainda não

é

o tesouro da ilha: o pivÔ de tantas aventuras será

encon-trado seguindo-se a orientação do oapa do Perneta.

É

o que fa zen os exploradores, dando finaloente coo una arca que,

terrada, revela una quantidade enor~e de jÓias, pedras e

desen

'

per~

las, r.üsturadas a antigas ooedas de auto e prata, ben COQO a va liosos lingotes de prata fundida. Desnorteados pela proxir.1idade da riqueza e sobretudo pesarosos por estareo se apoderando de

ur:1 tesouro oaldito que não lhes pertencia e que, portanto, no entender de Dona l1Jarocas, usurparia a felicidade de que até en

tão

desfrutavaJJ, os honens deciderJ desfazer-se dele, doando-o, quase que integraloente, ~ instituiç5es de caridade brasileiras

( !1 l) No final, o Sr. 'l'ancredo afiroa aos oeninos que

é

preciso

corager.1 para a tooada de decisÕes no oonento certo, DeSfilO quan-do elas parecerJ reverter en prejuÍzo . . .

*

Nessa narrativa, a sucessão dos aconteciDentos acor.lpa-ntJ.a a que aparece eD Q__2._~ro de Manoa. As :funçÕes são

recorren-tes, sendo que os obstáculos se concentrao na dificuldade que

*

Cor:Jentáríos acerca do clichê Ho ouro nao conpensa" er.1 alguns

livros de JerÔnino ilionteiro serão feitos no Capitulo 2 deste trabalho.

(25)

os herÓis encontran na localização do tesouro; pistas falsas,

explorações denoradas dos locais e arnadilhas subterrâneas. Co-mo a vitÓria definitiva

é

o be171 inalienável dos herÓis - cor.1o o

é

o lugar que ela ocupa na histÓria, isto

é ,

o final _ o tesou ro

é

àescoberto casual!Jente, fechando o circulo aberto no

pri-neiro livro pela der.1anda.

Tal tipo de série incorpora necanisnos de adianento con t:fnuo da ação final: as seqüências girar.1 er.1 torno de si JJesr.Jas

a

fi!7l

de retardar o desfecho. Do ponto de vista estrutural,

te

nos uraa sana de r:licro-estruturas redundantes e interlie;adas cor.1 o objetivo de inflar a estrutura básica da série total.

No livro A cidade perdida, Jerônioo Monteiro parece rea lizar una ''alquirüa11 cor.1 os eler:1entos que, nas narrativas de a

ventura

cooentadas, constituen

as

foroas de 'Preenchioento

das funçÕes básicas. A histÓria narra,

à

seoelhança do que oco!: re eo O ouro de ~anoa, a busca de uo lugar esquecido, entre o Xingu e o TapajÓs, no qual viven os atlantes. Contudo,

dif'eren-terJente daquele, a viaeer.1 não se justifica pela obtenção de u!71

tesouro, nas pela comprovação de una teoria aceita por Sálvio, ur:Ja das personagens, segundo a qual o berço da huoanidade se lo calizaria no Brasil, na fronteira do Pará COQ o Ac1azonas, onde viverar7l os atlantes. Con base erJ dados geolÓgicos e arqueolÓgi-cos, sálvio planeja a viageD, que

é

er.1preendida cor:1 alguns ar.ü-gos, dentre eles, J e rer:ü as, o narrador da histÓria .ApÓs extensa sucessão de obstáculos e conbates, os viajantes consegueo encon trar os atlantes, que lhes nostrar:1 una civiliZação não sÓ avan-çada cano infornada dos principais aconteciuentos nacionais e nundiais, cano a Segunc!a Guerra. O estranho povo não perde opo!:_ tunidade de criticar o r.1aterialisuo e a cobiça hur.1ana, chegan-do a prever o desaparecir.1ento da huoanidade er:1 virtude das gue!:. ras.

'

O esquena e o nesr:1o das narrativas anteriores de aventu ras. O que DUcia e o prcenchinento da necessidade dos herÓis e

(26)

os protagonistas do auxilio. A expedição inicia a prineira par-tida que, no desenvolvilí1ento da histÓria,

é

retol7lada seis vezes, forr:1ando seqüências ser:1elhantes. O deseopenho dos obstáculos fi ca, cooo er:J O ouro de Manca, por conta dos Índios, do ar.1biente e, numa determinada etapa, dos prÓprios atlantes. As vitÓrias consecutivas vão infornando o leitor de que os atlantes estão cada vez r.1ais perto,

A alquirüa a que r.1e referi antes r e sul ta da corJbinação de eleoentos da viaeer.1 já utilizados eo narrativas anteriores: o serviço dos auxiliares, o obstáculo representado por selva

e

Índio (v.

O

ouro de Manoa), a perseguição de pistas diversas e a interferência da casualidade (v. O palácio subterrâneo das ~ntilhas).

'i'entando representar figurati var:1ente o desenvol vü1ento da trana~ eu diria que as seqüências desenhao elipses, pois as açÕes se desdobran continuanente, mas ser.1pre vol tao ao ponto de onde partiran.

O Úl tino livro de aventuras e Corur:1i, o l7lenino se 1 vager.1. O resuno

é

o seguinte: o jornalista Rodolfo decide participar de uhla expedição para a AnazÔnia, con a finalidade de fazer una reportagen sobre os conflitos entre indios e seringueiros. A v! agem inicia-se e os obstáculos não tard~: o trecho que corres-ponde

à

naveeação do rio Anazonas) no coneço da histÓria,

é

cheio de dificuldades. Huo deterr.ünado f.lOrilento, o aparecioento do nenino bra1co Corur.ü, criado pelos :Índios, r.luda o objetivo prj.ncipal da via2er.1, pois ele traz consigo ur.1a carta do pai (L!_ sias) que, prisioneiro dos açurinis, queria a liberdade para d~ di c ar-se a procura da ncasa Antiga!!, suposta construção sub ter-rânea de pedra, anterior aos incas e que encerrava ur.1 tesouro ew metais e pedras preciosG.s. A cor:1itiva dirige-se

à

aldeia dos açurinis, perde alguns de seus hor.1ens no confronto cor.1 esses in dios, nas recuí)era Lisias. Vencendo obstáculos trazidos pelo coní'li to co o os cai após, a expedição ches;a ao tesouro da

(27)

'

ra N1Kaping, poreo o narrador, atraÍdo desde o inicio pela

pes-quisa cientÍfica, acentua a necessidade do desvendaQento de u~

tesouro Qaior: o Qistério da AnazÔnia.

O livro

é

dividido en duas partes, respectivarJente cha-madas 11A viager,l" e 11A ação11 • Na prir:Jeira, a função da necessida de

é

preenchida inicialnen te cor.l o desejo de fazer a reportage1:1,

o que justifica a partida, con os obstáculos enfrentados na tra vessia do rio Ar:Jazonas e a subseqüente superação deles.

na selva, una nova partida acaba por introduzir a personagem

Coru-rai, cuja carta, substituindo o objeto da deuanda, altera a na tu reza da necessidade, que agora

é

preenchida pelo objetivo de el_l

contrar Lfsias. Una outra seqüência se desenvolve, integrando a agressão dos :Índios, o cor:-~bate e a vitÓria dos brancos. Pernane cendo a seeunda necessidade, os herÓis parteo novamente e tudo se repete, culoinando con o resgate de Lisias.

Ai

cooeça a se gunda parte da histÓria, com una terceira necessidade, constitu ida agora pela busca do tesouro. Sucedeo-se as funçÕes b~sicas conpondo três outras seqüências, redundantes na estrutura e nas formas de ação, que incluem o equivoco de três pistas falsas e a sorte da descoberta casual do tesouro.

11A viagem"

é

O ouro de Manoa revi si tado; "A ação'' e a

retonada de O palácio subterrâneo das Antilhas.

Considerando o conjunto dos livros de aventuras de Jerô nino Níonteiro, percebeoos que neles ocorre a redundância da re-dundância: não apenas a estrutura básica se r.ml tiplica constar__2 tewente, nas tar:1béo o preenchir.1ento de algumas funçÕes

é

recor-rente.

1.3. O futuro ao hoDeD pertence: ficção cientifica

As narrativas de ficção cientifica represental7l fornas a tualizadas do ronance de aventuras no sentido de que, cofil o fe-char:Jento do ciclo de colonização, eseotando o espaço geográfico

(28)

real que caracteriza esse tipo de histÓria, popularizada no

sé-culo passado, os escritores fazer.J. com que as aventuras

atraves-sen o espaço cósr:lico para aportaren er.1 outros planetas. A prev~

lência da ação nua tempo futuro torna a fantasia uo cor.J.ponente

fundar.1ental dessas histÓrias.

Cooo se trata de uoa variante do rooance de aventuras, a estrutura básica desses r,1antéo-se nas narrativas de ficção c!_

ent:Í.fica, geralr;wnte coo o acréscir.1o de reflexões nostálgicas acerca das conseqüências do avanço tecnolÓgico na vida do homeo.

É o que acontece coo a ficção cientifica de JerÔnü10 TVíonteiro, reconhecidar.1ente Utl ser;uidor da tradição de H.G,\/ells.

Sua produção no ~ênero engloba três livros, sendo que as histÓ-rias de dois deles se passar:J er;; séculos futuros r.mi to distantes do nosso tenpo; não são os honens que se transportan a outros planetas, nas seres extra-terrestres

é

que invadeo a Terra.

Iniciarei coo o exaoe do prineiro livro, Três ucses no século 81. A histÓria cor.~eça cor.1 ur:1 diálogo entre o jornalista CaDpos e o asieo Da Silva, en que o prir;;ciro se refere a uoa e~

tranha experiência por que passara a partir de ur.1a conversa con H.G.Wells. Dado o interesse do outro, CaDpos escreve a sua his-tÓria, cuja leitura por Da Silva constitui o texto propriaoente di to. O protagonista parte nuna viageo de três r,1eses a ur:1 futu-ro distante, possivel graças ao pfutu-rocesso de transnisração, pelo qual o espfrito se liberta do corpo e encarna nun outro ser, no caso, ur.1 individuo do século 81 (Loi) que acabara de r:10rrer sob as rodas de un Ônibus. A personager,1 encontra~se diante de urJ oundo - o dos terreanos ~ excessivar:1ente dor:linado pelo

progres-so tecnolÓgico e pela carência de sentinentos, vê-se incapaz de se adaptar e alia-se aos warciaDos - un grupo dissidente dos terreanos - a fin de fundar uo Estado independente na região a-nazÔnica. Loi/Canpos conduz a rebelião dos oarcianinos sob o le na nPelo Amor, pela ;Jatureza, pela Vida11

, e o conflito terr::Jina

con ur::Ja guerra de raios Vonde, da qual saen vencedores.

(29)

da a r.üssão, e tendo o prazo da experiência terr.ünado, Loi/Car.1

-pos

é

atingido por un aero-foguete e seu esp:Í:ri to regressa ao ano de 1946, reinstalando-se no corpo de Car.1pos, cuja letargia de três r.leses estava sendo noticiada pelos jornais.

Cor.1o já observei, a narrativa se inicia con a exposição,

en forr.~a de diálogo, da necessidade de Canpos: viver três neses

no século 81. A partida ocorre apÓs a transgressão, fon1alizada pela insistência do prota,rronista er.1 realizar a viageo ao futuro, apesar dos conselhos contrários do Dr. Perth. Vencido o obstácu lo da perda de identidade sentida por Caopos (que agora e conhe c ido cono Lo i) no inicio do contato cor.1 os hor.1ens do século 81, o herÓi se posicionará - cor:~ o auxilio de Mui - a fim de salvar a prÓpria pele: afinal, os sábios da Acadenia de Ciências pre-tendiar.1 aniquilar o intruso que passara a alíleaçar a or'der.1 daqu~ la sociedade. Esta inforr.1ação

é

dada pela personageo Ilá, insa-tísfei ta COQ a heger::~onia seopre r.1aior dos terreanos sobre os narcianos. Teo inicio aqui nova intriga, cujas funçÕes repeteo a estrutura básica das deoais narrativas examinadas. Loi/Car.1pos foge (~partida) da Acadeoia a que fora levado para observação, pela necessidade de vencer o segundo obstáculo, representado p~ los cientistas. Auxiliado por Ilá, o herÓi lidera o colílbate dos narcianinos contra os terreanos. A vitÓria é cofi'lpleta e a reco~ pensa

é

o amor de Ilá. Coopletado o ciclo da aventura, a histó-ria teroina cor.1 a volta de Canpos, transf'igurado espiritual e enocionaloente pelos acontecinentos que vivera.

A

cooparação dessa narrativa cor.1 as de aventura leva a duas observaçÕes. A prioeira refere-se

à

substituição do obstá-culo: nas anteriores, tal função era preenchida pela selva, con caRinhos oisteriosos e indios hostis; eo Três neses no século 81, é o exotisoo da sociedade ~utura que deve ser dieerido pelo hof.len do século XX. Sinplificando: trata-se do prir.ü tivisno(pa~ sado) versus progresso (futuro). A segunda observação a ser fei ta prende-se

à

introGução de uo conpo~1ente que se agre,Ga as

(30)

truturas redundantes de Três neses no seculo 01, diluindo o di-nanisno da ação; refiro-ne a un tipo de filosofia ingênua, nais prÓxina do filosofísno*. Eobora n 1 A cidade perdida esse eleoen ....

to taobén se nanifeste, prevalece a sucessão de seqüências aven turosas, o que garante

à

histÓria sua natureza primordialoente herÓica. No citado livro de ficção cientifica, o filosofisno P.§; rece ocupar una boa parte dos espaços cedidos

à

repetição das seqüências, o que resulta na redução do seu núoero e no retarda nento das açÕes fundar:1entais.

No livro Fuga para parte alguna, a deconposição das pa~ tes que constitueo a narrativa não

é

tão simples. Vejaoos inici

-almente a intriga, cujas personagens sao os descendentes dos Darcianinos vitoriosos na guerra ocorrida en Três meses no sé cu

lo 81. O planeta eo que ocorrer.1 os fatos

é

paulatinanente inva-dido pelas gi~antescas foroigas Attas, que se mostran invenci veis oesoo diante de una avançada tecnologia. Cavando galerias subterrâneas, os insetos vão soterrando todas as construçÕes e devorando hooens, anioais e vegetais. A terra, aos poucos, tor-na-se un deserto, e ouitos dos seus habitantes fogeo para Marte ou Vênus. Apenas três personagens salvao-se - Aron, lona e Ênia - fugindo sen destino nuo barco, tentando lutar contra a fatali dade absurda.

Do ponto de vista estrutural, a diferença entre essa histÓria e as denais consiste na seleção de alguns quadros

nar-rativos en que atuao zrupos diversos de personagens. Isso ocor-re porque ao narrador inteocor-ressa mostrar panoranicar.1ente a devas tação causada pelas forr.ügas Attas. As si o, há cinco entradas de personagens huoanas, correspondendo a cinco quadros episÓdicos, el7J tol~no dos quais gravitar:l as açoes. A ligação entre eles

é

feita pela presença constante das forrügas ("'obstáculo) 1 cujo

poder Daléfico

é

r.1ostrado nun 01

crescendo", e por nooentos de -~* No Capitulo 2, analiso as várias forr.1as sob as quais se r.1ani~

festa o filosofisno nas narrativas de JerÔnirao Ifronteiro.

(31)

transição preenchidos pelo debate - fornalizado principalnente pelos sábios da Acadeoia de Ciências - do problena e de tentati vas de conbate ao agressor. Cria-se, desse r.10do, UQa alternân-cia entre tensão (=ação efetiva das foroigas) e distensão (=co-Qentário daquela ação).

Dos quadros nencionados, apenas aquele no qual Aron aze e retor.1ado er.1 toda a narratí v a, aparecendo cinco vezes, Os de nais liQitan-se ou a uoa Única ocorrência dentro da estrutura total da narrativa, ou são introduzidos, sofrer.J uma interrupção e ressurger.1 novar:~ente entre as seqüências, sendo depois defini-tivar:lente abandonados.

Ter;ws, portanto, uoa narrativa cujo fio condutor e a agressão das foroigas, coo encaixes de episÓdios vividos por uo grupo coeso de personagens. A esfera de ação preponderante de Aron

é

a viga oestra da estrutura da narrativa, que oantéo as funçÕes básicas do esquer.Ja utilizado por JerÔnifi10 Monteiro. As seqüências eQ que Aron atua foroula.n-se da seguinte oaneira: 1. OBSTÁCULO/NECESSIDADE/PARTIDA/COMBATE/VITÓRIA(parcial) 2. OBSTÁCULO/NECESSIDADE/PARTIDA/VOLTA

3. OBSTÁCULO/NECESSIDADE/PARTIDA/COMBATE/VITÓRIA(parcial) 4. OBSTÁCULO/NECESSIDADE/PARTIDA

Cooo a narrativa finaliza e~ aberto, o ÚltiRo cooponen-te dela

é

a partida (=fuga) npara parte alguoan, o que,

é

suficiente para nos relatar ufi1a tra,ietÓria coopleta

-.

se nao no sen tido tradicional das narrativas de aventuras- reitera, todavia, a natureza herÓica de Aron, que logra liderar o Único grupo de sobreviventes.

O Últino livro de ficção cientifica é Os visitantes do espaço, que tanbén apresenta uQa estrutura cor:1plexa, enbora di-versa da acioa exaoinada. Seres extra-terrestres, provindos de

Io, UQ satélite de JÚpiter, pousar:1 eo Goiás e raptan o engenhel

ro Hughes, que nais tarde, volta

à

'l'erra deser.1penhando a

f'un

-çao de interr:Jediário, a :fío de tranqüilizar seus patricios qua.Q_

(32)

to às boas intençÕes dos visitantes. Estes estabeleceo-se,

jun-tamente coo seus discos voadores, nur.1a grande planicie, na fron teira do Amazonas cor.1 a ColÔrJbia, perto do rio Uapés.

Poste-riorr.1ente,-os terráqueos descobreo que o intuito dos ionas era

roubar r.mléculas de hidrogênio da Terra, ufi1a vez que eo I o, os seres estavan no r rendo pela falta desse elenento. Percebendo que uo calor sufocante invade o planeta, alguns militares ata c ao os ionas que, equipados con estranhas energias, derrotar.1 su nariaQente o antagonista. O equilÍbrio retorna quando os extra-terrestres voltar.! para Io, e una personagem, que

é

char.1ada de Hor.1em Ioaginativo, explica aos seus conterrâneos que a retirada do vapor d'água era inofensiva, pois a natureza era capaz de se recoopor.

A estrutura básica das narrativas de JerÔnioo Monteiro repete-se er:1 Os vi· si tantes do espaço, do ponto de vista da ação deseopenhada pelos ionas. AssiD, a necessidade representada pe-la obtenção do vapor d 1água deflagra a partida eo direção

à

Ter

ra. A deoanda dos ionas

é

auxiliada por Hughes; uais tarde, quando os nilitares passahl a constituir un obstáculo para os vi si tantes do espaço, o Hooen Inaginativo torna-se Ul:l auxiliar destes. O coubate não pode ser evitado* e a vitÓria dos ionas

é

recoopensada con a obtenção das r,Joléculas de hidrogênio que sal variao seu satélite.

A função de descobrir o verdadeiro objetivo dos ionas e desvendar o r:üstério da sua vi si ta

é

deseopenhada pelo Hooeo

I-.

.

.

naglnavlVO, que utiliza recursos da inteligência para chegar ra cionaloente

à

verdade: o deseopenho dessa personageo é sioilar ao dos detetives dos rooances policiais** e de espionageo.

Ali-* No referido livro, a intransigência dos honens e un dos nati-vos qu.e se responsabilizai7! pela presença de outras nuances do :filosofísno de JerÔnir.lO Monteiro.

·HJerÔnír.10 Monteiro cultivou a oodalidade policial, através de uoa série deno.oinada Aventuras de Dick ?e ter, e o que esta pe~ sonageo ~ un detetive que atua segundo o estere6tipo dos li-vros do eênero.

(33)

'

as, tanto as narrativas de aventuras quanto as narrativas poli-ciais ~antêo seoelhanças estruturais; a função da de~anda, por exenplo, existe eo ambas: na histÓria de aventuras,

à

ooda de JerÔnioo Monteiro, buscao-se os caninhas do ouro, as civiliza-çÕes perdidas, r.mndos fantásticos ou oesr.w a sobrevivência; na tüstÓria policial, persegue-se o caninho que leva ao crininoso. Eo todas as denandas, as pistas. De preferência, falsas, a fio de que o suspense e a eooção garantam a fidelidade do leitor.

(34)

2, A REDUNDÂNCIA DOS TÓPICOS

Ao consuniren a narrativa de aventuras, os leitores de

JerÔnino Monteiro digereo una estrutura básica que sustenta o

esqueoatismo da trana. Ainda que o preenchimento das funçÕes de cada narrativa se faça através de personagens diversos que

atu-arJ er.J lugares e épocas tar.Jbéo diferentes entre si - o que dete~

nina as variantes dentro da fÓroula - o esquematismo eo JerÔni-mo Monteiro não

é

apenas de orden estrutural. Há na obra desse Autor alguns tÓpicos redundantes que percorreo a trana de

algu-raas das narra ti v as exar.ünadas. Cooentarei quatro desses topo i,

que me pareceran caracterizar-se por una incidência significat~ va no conjunto da obra de JerÔnir:~o Monteiro.

O prineiro deles

é

a constância do nativo que anioa as narrativas de aventura: a busca do tesouro. Este tema ja apare-ce nas narrativas de viagen de século XIX*, que, herdando as in fluências do colonialisr.1o iniciado no Renascir:wnto, refleter:1 a

" " . (1)

prevalencia do poder economlco

As histÓrias de O ouro de Manoa, a série do Perneta e Coruni, o nenino selvagen teceo-se em torno da descoberta de uo

lugar onde se esconde un tesouro naterial. Cooo a caça a tesou-ros exige una trajetÓria dificil e arriscada por locais exÓti-cos, eis ai un nativo que enseja a criação de una persona-gen estÓica e superior que possa desvendar r.tapas enigliJáticos e percorrer c~~inhos pontilhados de pistas falsas e perigos de to da orde!71.

O ouro

é

o preoio pela intrepidez do herÓi. Nas histÓri

i> Dentre os escritores oi tocentistas que narravar.J viagens à

ca-ça de tesouros salientap-se os populares Robert Louis Steven-son (A ilha do tesouro) e Henry Ridder Haggard (As ninas do rei Salor:;ão) •

( 1 )C f .Paes ,J .P. "As GinensÕes da aventura. nrn: Os preferidos do pÚblico.p.67.

Referências

Documentos relacionados

pertence à classe morfológica dos outros exemplos da relação dada. Na coluna 3, a palavra cheia não faz parte da relação da classe gramatical dessa coluna, por

As etapas que indicam o processo de produção do milho moído são: recebimento da matéria prima pela empresa, transporte manual, armazenamento, elevação mecanizada do produto,

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

Os maiores coeficientes da razão área/perímetro são das edificações Kanimbambo (12,75) e Barão do Rio Branco (10,22) ou seja possuem uma maior área por unidade de

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Este capítulo tem uma abordagem mais prática, serão descritos alguns pontos necessários à instalação dos componentes vistos em teoria, ou seja, neste ponto

Discussion The present results show that, like other conditions that change brain excitability, early environmental heat exposure also enhanced CSD propagation in adult rats.. The