CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO
Origem: PRT 17ª Região
Interessado 1: Delegacia Especializada em Acidentes de Trabalho –
DEAT
Interessados 2: VERDAN SUETI Construções e Premoldados Ltda. Interessado 3: Ministério Público do Trabalho
Assuntos: Construção Civil (NR 18)
Acidente de Trabalho
Procurador oficiante: Antônio Marcos Fonseca de Souza
“Intervenção do MPT em matéria que trata de FGTS. Legitimidade. Ausência de princípio investigatório em outras matérias que, assim, não admitem conclusão homologatória.”
RELATÓRIO
Trata-se de inquérito civil instaurado para apurar irregularidades no meio ambiente do trabalho da empresa Verdan Sueti Construções e Premoldados Ltda., onde ocorrente acidente fatal de trabalho, em obra localizada na avenida Rio Doce, município de Colatina/ES, de responsabilidade da investigada.
No curso da ação fiscal, houve regularização do meio ambiente do trabalho da investigada, com o cumprimento das normas de medicina e segurança a serem observadas na obra supra referida, porém restaram constatadas irregularidades quanto ao FGTS, as quais não foram apuradas pelo Órgão ministerial atuante neste feito, porquanto entendeu o seguinte: “(...) Ocorre, porém, que, de acordo com a redação dos artigos 1º e 2º da Lei 8.844/94, cabe ao Ministério do Trabalho a fiscalização e a apuração das contribuições devidas ao FGTS. E a execução da dívida apurada, se necessária, compete a Procuradoria da Fazenda Nacional. E mais, conforme determina o artigo 1º, parágrafo único da Lei nº 7.347/85, alterada pela Medida Provisória nº 2.180, de 24.08.01, o Ministério Público do Trabalho é parte ilegítima para ajuizar eventual Ação Civil Pública, para veicular pretensão que envolva o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.”
Consta, ainda, do relatório fiscal a existência de irregularidades trabalhistas [não apresentação de documentos, atraso de salários, ausência de FGTS mensal, contribuição sindical e não registro em CTPS] em face das empresas Indústria de Premoldados Sueti Ltda.; B.E.L.V Sueti Granitos Ltda.ME; J. Francisco Verdan Sueti Junior e Ramos Indústria e Comércio de Materiais de Construção Ltda.ME.
O ilustre Membro oficiante não determinou a instauração de procedimento investigatório para apurar as irregularidades referidas no parágrafo anterior, sob o fundamento de que: “... não é qualquer
conduta lesiva que enseja a atuação do Ministério Público do Trabalho, mas somente aquela que tenha aptidão para malferir interesses metaindividuais dos trabalhadores, assim entendidos os difusos, coletivos e individuais homogêneos, o que não se verifica na hipótese em exame, ainda mais se tratando de empresas com poucos empregados.”
Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os autos a esta Relatora.
É o relatório.
VOTO-FUNDAMENTAÇÃO
Entendo viável e necessário o prosseguimento investigatório no que concerne às irregularidades concernentes ao FGTS, as quais podem conduzir a prováveis lesões de ordem pública ou “lesa-sistema”.
Ademais, a lesão perpetrada pela empregadora em cada uma das contas FGTS de seus empregados passa a contribuir para a macro-lesão do sistema fundiário como um todo, pois que o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, segundo as Leis nº 8.036/90 e 8.844/94 tem seu fundo geral gestionado para vários fins de interesse público ou geral, como garantia em caso de desemprego, aquisição ou amortização de
financiamentos para a casa própria, instalação de negócio próprio, etc., que restam afetadas na medida em que sonegados os recolhimentos devidos sobre cada conta individual vinculada.
A própria Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho, em voto relator da Excelentíssima Senhora Subprocuradora-Geral do Trabalho e Membro da CCR/MPT, Dra. Lucinea Alves Ocampos, nos autos do Processo PGT/CCR/PP nº 918/2010, entende pela legitimidade do Ministério Público do Trabalho para apuração de casos concernentes ao não recolhimento do FGTS, ad litteram:
Origem: Rep 1270/2005 PRT/ 1ª Região – Volta
Redonda/RJ
Procurador oficiante: Marco Antonio Sevidanes da Matta
Interessado: Evandro José de Macedo Assunto: Sonegação - FGTS
EMENTA: Não recolhimento do FGTS. Legitimidade do MPT. Precedentes da CCR. Pela não homologação do arquivamento. I – RELATÓRIO
O presente feito foi instaurado a partir de denúncia sigilosa noticiando o não recolhimento do FGTS por parte de Evandro José de Macedo.
O douto Procurador oficiante, Dr. Marco Antonio Sevidanes da Matta, propôs o arquivamento do feito, assim se posicionando (fl. 20):
Trata-se de Representação instaurada em face de Evandro José de Macedo, que tem o escopo de apurar supostos ilícitos praticados no que concerne à falta de recolhimento de FGTS.
Com relação a esse ponto, não tem o Ministério Público do Trabalho atribuição para presidir o procedimento investigatório em questão. Isso porque o atraso de recolhimento de contribuições fundiárias é matéria atinente às funções do Ministério do Trabalho e Emprego, consoante o disposto no art. 23, caput, da Lei nº 8.036/90.
Assim, considero que deve ser a presente investigação arquivada.
É o sucinto relatório.
II – VOTO
Com a máxima vênia do douto Procurador oficiante, entendo que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para atuar nos casos relacionados ao não recolhimento do FGTS.
De acordo com a Lei nº 8.844, de 20.01.94, compete ao Ministério do Trabalho a fiscalização e a apuração das contribuições relativas ao FGTS e à Procuradoria da Fazenda Nacional a inscrição em Dívida Ativa dos débitos para com o referido fundo (arts. 1º, 2º). Prescreve ainda que a Caixa Econômica Federal e a rede arrecadadora prestarão ao Ministério do Trabalho as informações necessárias ao desempenho das funções.
Todavia, a atuação dos órgãos
supramencionados (CEF, Ministério do Trabalho e Procuradoria da Fazenda Nacional) não obstaculiza a intervenção deste Ministério Público do Trabalho, pois aqueles atuam quanto aos débitos passados e o Parquet
laboral em relação ao futuro, evitando que a irregularidade continue a ser perpetrada. Neste sentido vem se posicionando a Câmara de Coordenação e Revisão (Precedentes: PGT/CCR/ nº 4313/2009; PGT/CCR/ nº 10280/2009; PGT/CCR/ nº 11189/2009; PGT/CCR/ nº 11327/2009).
Mais recentemente o colendo TST, por meio de sua Subseção de Dissídios Individuais I, reconheceu a legitimidade ao MPT para ajuizar ação civil pública visando à obrigação de empresas de recolher o FGTS, restando destacado pelo Ministro Vieira de Mello Filho “a ambivalência do FGTS, que por um lado é um tributo e uma contribuição social, mas, por outro, é uma espécie e ‘para-salário’ que garante a subsistência do trabalhador em caso de perda do emprego.”
Não há, pois, mais dúvidas quanto à legitimidade do Parquet laboral para atuar nos casos relacionados ao não recolhimento do FGTS.
Com base na fundamentação supra, não homologo o arquivamento proposto.
III – CONCLUSÃO
Com base na fundamentação supra, voto pela
não homologação do arquivamento proposto, com o
imediato retorno dos autos à PRT de origem, devendo ser observada, no que tange à designação de Membro para atuar no feito, a praxe adotada pela Regional.
Brasília/DF, 10 de fevereiro de 2010.
Lucinea Alves Ocampos
Membro da CCR – Relatora
(grifos originais)
Portanto, em exame revisional, entendo possuir legitimidade o Parquet laboral no trato das irregularidades envolvendo o FGTS, pelo que se justifica o prosseguimento das investigações, no particular.
Por outro lado, as demais infrações trabalhistas apuradas no relatório de fiscalização de DRT local (fls. 51/58), tais quais: não apresentação de documentos, atraso de salários, ausência de FGTS mensal, contribuição sindical e não registro em CTPS, em face das empresas Indústria de Premoldados Sueti Ltda.; B.E.L.V Sueti Granitos Ltda.ME; J. Francisco Verdan Sueti Junior e Ramos Indústria e Comércio de Materiais de Construção Ltda.ME., respectivamente, merecem, data vênia do entendimento do Órgão investigante, maiores digressões e apurações, mormente no que diz respeito aos salários em atraso e retenção dolosa de contribuições sindicais recolhidas dos trabalhadores e não repassadas às entidades de classe.
Além do mais, considero, permissa venia, prematura a conclusão do nobre colega oficiante de que as irregularidades mencionadas no parágrafo anterior não possuem aptidão de ferir e/ou violar interesses metaindividuais dos trabalhadores, quando sequer houve início de investigação neste sentido.
No específico, o arquivamento precoce, sem qualquer diligência investigatória, não se justifica, quando as irregularidades possam atingir trabalhadores em seus direitos trabalhistas básicos e evidenciar inobservância de preceito legal cogente.
Diante de tudo isto, não vejo como acolher a proposta de arquivamento de firmada nos presentes autos à fls. 72/73.
CONCLUSÃO
Pelo exposto, voto no sentido de NÃO- HOMOLOGAR a proposta de arquivamento.
Retornem os presentes autos à PRT de origem para as providências cabíveis a critério do d. Órgão oficiante.
Brasília, 24 de setembro de 2010.
VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho