ADUBAÇÃO NITROGENADA E COBERTURA DO SOLO NA CULTURA DO ALGODOEIRO EM PLANTIO DIRETO
Danilo Carvalho Neves (Unesp - Ilha Solteira/ danilocna@gmail.com), Enes Furlani Junior (Unesp), Marcio Lustosa dos Santos (Unemat -Tangará da Serra), Marcio Silveira da Silva (Unesp), Thadeu Rincão
(Unesp)
RESUMO - A decomposição da palhada é influenciada por vários fatores, entre eles a adição de fertilizantes. O objetivo deste trabalho foi estudar a relação entre o emprego de doses de N em cobertura na cultura do algodoeiro e a permanência da palhada no solo. Os tratamentos empregados foram as doses de 0; 50; 100 e 150 Kg.ha-1 parceladas em três aplicações. O fator analisado foi a
porcentagem de cobertura do solo, o método utilizado foi o do ponto quadrado. O delineamento empregado foi o de blocos ao acaso com 4 repetições e a cultivar usada, a DeltaOpal. As avaliações foram realizadas a cada 15 dias, até os 75 dias após a semeadura (DAE). A quantidade inicial de palhada foi de 9.500 Kgha-1. A cobertura do solo aos 75 DAE foi superior a 90% , fornecendo boa
proteção ao solo durante o ciclo da cultura. A adição de N em cobertura aumenta a velocidade de decomposição da palhada a partir de 107 Kg ha-1 quando parcelada em 3 aplicações de N.
Palavras-chave: Gossypium hirsutum, doses de nitrogênio, palhada, método do ponto quadrado. INTRODUÇÃO
A produção de algodão (Gossypium hirsutum) em caroço no Brasil, na safra 2005/06 , segundo a Fundação de Amparo à Cultura do Algodão (2007), foi de 1,7 milhão de toneladas, distribuídas em uma área de 850 mil hectares, colocando o Brasil entre os maiores produtores e exportadores. Para a safra 2006/07, é estimado um acréscimo de 22,3% na área plantada, alcançando a casa de 1,05 milhão de hectares. A produção deverá aumentar em 490 mil toneladas, chegando a 2,2 milhões toneladas (CONAB, 2007).
O cultivo efetivo nos Cerrados iniciou-se com o algodão substituindo a soja em solos corrigidos. Atualmente, a região Centro Oeste é responsável por 60% da produção nacional, em condições climáticas adequadas ao seu cultivo. A cotonicultura nesta região é altamente tecnificada, tendo altos investimentos com insumos e maquinários, ou seja, custo muito elevado, remetendo a grande risco da atividade. Desta forma, alternativas que reduzam os riscos e tornem-na sustentável a longo prazo, é uma busca incessante pelos envolvidos na exploração desta malvácea. O Sistema de Plantio Direto (SPD) é uma destas alternativas, quando empregado de maneira racional, pois, segundo a Associação de Plantio Direto no Cerrado- APDC, menos de 30% da área sob plantio direto seguem corretamente os pré-requisitos técnicos básicos do sistema (DIRETO... 2005).
A área cultivada sob SPD no país é cerca de 20 milhões de hectares, destes, 25% concentram-se na região de cerrado, onde Ou concentram-seja, o sistema já está, de certa forma, adaptado,(LOPES et al., 2004). De acordo com Oliveira et al. (2002), a implantação do SPD trouxe redução em cerca de 75% das perdas de solo e em 20% das perdas de água, com relação aos locais onde há revolvimento do solo. Áreas que adotam este sistema, além do aspecto conservacionista de solo e de água, detêm
características próprias, exigindo um manejo diferenciado em vários aspectos; um deles é o manejo da fertilidade.
O nitrogênio é o nutriente que tem sua dinâmica mais afetada pelo SPD, devido à elevada quantidade de resíduos mantidos na superfície e a mínima mobilização do solo. Além disso, é o nutriente que mais limita a produção das culturas. Mesmo com o aporte contínuo de matéria orgânica pelo solo, ainda é necessária a adição externa de N para a obtenção de altas produtividades (FREIRE et. al., 2002).
A permanência de matéria orgânica no solo vai depender da velocidade de decomposição da palhada pelos microrganismos. Esta velocidade é função de vários fatores e, segundo Wisniewski e Holtz (1997), alguns destes são: quantidade de palha, tipo de rotação de cultura adotado, grau de revolvimento do solo, clima da região e doses de fertilizantes aplicados nas lavouras; a relação C/N também é um fator muito importante (CANTARELLA et. al., 1992).
No SPD, preconiza-se manter uma elevada quantidade de palhada que recobre a superfície do solo pelo maior período de tempo possível. Essa exigência de permanência é maior na cultura do algodoeiro, que tem um intervalo de fechamento entre linhas maior que nas outras culturas anuais. O uso de fertilizantes nitrogenados que pode alterar a decomposição da palhada, tem reflexos positivos na nutrição e no rendimento do algodoeiro, existindo uma interface entre a sua permanência no solo, o manejo empregado e a adubação com N. Combinar estes dois objetivos tem sido um desafio para agricultores e técnicos (AMADO et al. 2003).
Desse modo, a eficácia desse sistema de manejo na conservação do solo depende, dentre outros aspectos, do conhecimento da velocidade de decomposição dos resíduos culturais mantidos sobre a superfície do solo.
O objetivo deste trabalho foi estudar a relação do emprego de doses de N em cobertura na cultura do algodoeiro e a permanência da palhada no solo.
MATERIAL E METODOS
O local em que foi instalado o ensaio pertence à Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da FE/UNESP, localizada em região de Cerrado, de baixa altitude, com 335 m. As coordenadas geográficas correspondentes são 20° 22’ de latitude Sul e 51° 22’ de longitude Oeste. O clima da região, segundo a classificação Köppen, é do tipo Aw, definido como tropical úmido de estação chuvosa no verão e seca no inverno. A temperatura média anual é de 24,5 °C, a precipitação, 1.232 mm distribuídos de outubro a abril, e a umidade relativa, 64,8% (HERNANDEZ et. al., 1995).
De acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA, 1999), o solo da área é um Latossolo Vermelho distroférrico muito argiloso a moderado, hipodistrofico álico, caulinítico, férrico, epicompactado, muito profundo e moderadamente ácido. Na área experimental utilizada para implantação do trabalho, que já vinha sendo utilizada em SPD desde julho de 2005, procedeu-se às operações de preparo do solo (aração e gradagem) e calagem, para iniciar SPD, que anteriormente era utilizado- Semeadura Convencional.
O delineamento adotado foi o de blocos causalizados, utilizando 4 repetições, resultando em 16 parcelas. Cada parcela foi constituída por quatro linhas de 5 metros de comprimento, com espaçamento entre linhas de 0,90 m. O fator analisado foi a adubação nitrogenada em cobertura nos seguintes níveis: 0; 50; 100 e 150 Kg de N ha-1.
A semeadura do milheto foi realizada com semeadora, em 22 de setembro de 2006, para produção de biomassa, promovendo a cobertura do solo. Aos 50 dias após a semeadura (DAS), realizaram-se a dessecação do milheto e a coleta de amostras para quantificar a produção de palhada. O manejo foi realizado aos 57 DAS, três dias após, efetuou-se a semeadura da cultivar DeltaOpal. O espaçamento utilizado foi de 0,90 m entre linhas com 13 sementes m-1. Na adubação de plantio foi
utilizada a formula 8-28-16, na dose de 200 kg ha1.. A fonte de N utilizada em cobertura foi o sulfato de
amônio; a cobertura foi realizada em três etapas: 30, 45 e 60 dias após a semeadura (DAE).
A persistência da biomassa na superfície foi realizada pelo método do ponto quadrado (SPEDDING e LARGE, 1957), constituído por um quadro de madeira de 50 x 50 cmcom linhas fixadas a cada 5 cm em todos os lados, formando uma grade de 100 pontos nos locais de intersecção das linhas (Fig. 1); medindo-se, desta maneira, a porcentagem de cobertura do solo. Foram avaliados dois pontos por parcela, sendo estes marcados para posteriores análises a cada 15 dias, da semeadura aos 75 dias apos a emergência.Os dados obtidos foram submetidos à analise de variância (ANAVA) através do teste F, do teste Tukey e análise de regressão, a nível de 5%. A metodologia usada foi a descrita por Gomes (2000).
Figura 1. Quadro de avaliação de palhada RESULTADOS
Os dados avaliados sobre palhada do solo foram em relação à cobertura que esta proporcionou ao solo. A quantidade inicial fornecida pela cultura do milheto, foi de 9.500 kg de MS ha-1.
Este valor obtido foi superior ao reportado por Silva et al. (2006) na mesma localidade - de 7.400 Kg ha1., no ano agrícola de 2005. As fontes de variação analisadas, época e doses, foram todas
significativas; não houve interação significativa entres este dois fatores (Tab.1).
Tabela 1. Análise de variância da cobertura do colo em diferentes épocas e doses de nitrogênio em cobertura na cultura do algodoeiro em sistema de plantio direto.
FV GL SQ QM Fc Pr>Fc Bloco 3 47.134 15,711 2,630 0,012 Época 4 3855.800 963,950 161.,389 0,0001 Doses 3 81.134 27,044 4,528 0,0040 Doses*Época 12 33.350 2,779 0,465 0,9338 CV (%) 1,14
As analises realizadas em distintos estádios da cultura diferiram de forma significativa quanto à cobertura do solo, mostrando que há uma redução progressiva da cobertura do solo durante o ciclo do algodoeiro (Fig. 2). Porém, aos 15 DAS, a cobertura do solo foi de 99,8% e aos 75 DAS foi de 90,3%, ou seja, em todos os estádios avaliados o solo estava quase totalmente coberto pela palhada.
e d c b a y = -0,1642x + 102,54 R2 = 0,9938 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 15 D AS 30 D AS 45 D AS 60 D AS 75 D AS Dias Apos a semeadura (DAS)
C ob er tu ra d o so lo ( % )
Figura 2. Cobertura do solo em diferentes avaliações durante o ciclo da cultura.
A cobertura do solo teve comportamento quadrático para doses crescentes de N em cobertura (Fig. 3), mostrando que há um aumento da cobertura do solo com doses crescentes de nitrogênio até 107 Kg ha-1 , havendo redução acima deste valor.
Inicialmente, a cobertura do solo é proporcionada unicamente pela palhada do milheto, em seguida, há a participação das estruturas vegetativas e reprodutivas do algodoeiro. Araújo e Beltrão (2005) obtiveram aumento da área foliar por planta, com doses crescentes de N, tendo a dose de 140 Kg ha-1 superou a testemunha (0 kg de N.ha-1) em 50 %. Isto indica que a adubação nitrogenada
induz a planta de algodoeiro a produzir maior quantidade de folhas, que na época oportuna contribuírão com a palhada; concordando com Santos et al (2005), que reportam que o algodoeiro produz mais de 3.500 Kg de MS em folhas e estruturas reprodutivas até os 64 dias após a emergência.
y = -0,2719x2 + 1,7131x + 92,828 R2 = 0,9085 93,5 94,0 94,5 95,0 95,5 96,0 0 Kg 50 Kg 100 Kg 150 Kg
Doses de N em Cobertura (Kg/ha)
Cobe rt ur a do Sol o (% )
Figura 3. Cobertura do solo em função da dose de nitrogênio em cobertura na cultura do algodoeiro
em plantio direto.
No entanto, há registros de que a adição de N no solo provoca redução na relação C/N da matéria orgânica. Bertol et al. (2004), trabalhando com palhada de milho, demonstraram que houve redução de 12% na relação C/N, quando se adicionou N na dose de 100 Kg ha-1. Esta redução faz
com que aumente a velocidade de decomposição da palhada, reduzindo, assim, a cobertura do solo. CONCLUSÃO
A adição de nitrogênio em cobertura só será responsável pelo aumento da decomposição da palhada, a partir de 107 Kg ha-1 parcelados em 3 aplicações.
CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO
Subsidio a decisões na adubação nitrogenada, em relação a doses e parcelamento do adubo a ser aplicado, para melhor aproveitamento da palhada no SPD.
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