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Rafael COSTA e Rute CONCEIÇÃO

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O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA: OS USOS DAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO E HIFENIZAÇÃO DAS NOVAS REGRAS

ORTOGRÁFICAS

Rafael Praciel COSTA (PETLetras/FACALE/UFGD1 Rute Izabel Simões CONCEIÇÃO (FACALE/UFGD – Bolsista MEC/SESu/DIPES; Tutora PETLetras)2

Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar e analisar os resultados de uma investigação a respeito do domínio das regras de uso do hífen previstas no Novo Acordo Ortográfico de 1990, vigente no Brasil desde janeiro de 2009, entre os países cuja língua oficial é o português, para a reformulação das regras ortográficas da Língua Portuguesa. Os dados foram gerados a partir da aplicação de um questionário diagnóstico a respeito do uso do hífen e das novas regras de acentuação, segundo as regras previstas na Nota Explicativa do Novo Acordo, por alunos do terceiro ano do curso de graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados. Foram analisadas 475 palavras referentes ao uso do hífen e 418 sobre o uso dos acentos. O critério de escolha das palavras previstas na coleta de dados se formou a partir de minicursos sobre a nova ortografia ministrados para três públicos diferentes durante o anos de 2011 e 2012: acadêmicos da graduação, alunos do primeiro ano do ensino médio público e o corpo docente/administrativo de uma escola pública de nível fundamental, respectivamente em três momentos diferentes. O referencial teórico abordado para esta pesquisa foi a legislação que normatiza as regras previstas no Novo Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990, bem como materiais explicativos do Acordo em que são apresentados adendos às novas regras, dando ênfase à proposta de reformulação das regras de hifenização. Como resultado, observou-se que menos da metade dos sujeitos conheciam as novas regras.

Palavras-chave: Nova Ortografia; Acordo Ortográfico; Desvios Ortográficos

Introdução

O Acordo Ortográfico de 1990 da Língua Portuguesa entrou em vigor em janeiro de 2009, mas somente em janeiro de 2016 ele será obrigatório em todo o território brasileiro. A proposta tinha a finalidade de atender as necessidades linguísticas dos países falantes da Língua Portuguesa, firmando as deliberações que, todos esses países deveriam fazer do acordo lei e que a ABL (Academia Brasileira de Letras) e ACL (Academia das Ciências de Lisboa) deveriam publicar um novo vocabulário ortográfico da Língua. A princípio, todos os países signatários deveriam ratificar o acordo para que este fosse implementado, até 1994, contudo houve muita demora para a ratificação do acordo nos países que têm o português como língua oficial. Em 1998 foi feito um protocolo modificativo do acordo para alterar a data limite. Embora fosse necessária a ratificação de todos os países, somente Portugal, Brasil e Cabo Verde ratificaram o acordo. Em 2004, um

1

Graduação Licenciatura em Letras – Faculdade de Educação, Artes e Letras (FACALE) /Universidade Federal da Grande Dourados/Bolsista PETLetras.

2

Professora da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras (FACALE)/Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) – Bolsista MEC/FNDE – Tutora PETLetras

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segundo protocolo modificativo foi feito, acrescentando Timor Leste como país falante da Língua Portuguesa e determinando que bastaria a ratificação de três países para a sua implementação. Desta forma, o acordo é aprovado por São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Brasil e Portugal com data de implementação em 2010 (embora no Brasil tenha sido implementado em 2009). As datas de uso obrigatório e exclusivo das novas regras ortográficas são definidas em cada país.

A partir de 2009, então, começou-se a usar no Brasil, principalmente pelas mídias, as novas regras ortográficas. A questão da reforma é polêmica e há, por vários motivos, discordâncias da reforma. A maior delas é o fato de não haver um consenso em determinadas bases que o Acordo Ortográfico traz, principalmente no que se refere às regras de uso do hífen (a maior parte) e acentuação. Há muitas exceções que são justificadas como “formas consolidadas da língua”. Tais explicações não convencem e fragilizam muitos dos argumentos presentes no documento que traz a proposta de mudança ortográfica de quase 4% da ortografia do vocabulário da língua.

O que deve ser entendido é que o Acordo Ortográfico de 1990 da Língua Portuguesa entre os países lusófonos é um acordo muito mais político do que normativamente ortográfico. A ortografia unificada é, sobretudo, uma maneira de contribuir para o fortalecimento da língua portuguesa e assegurar sua relevância no âmbito mundial.

Os pontos negativos do Acordo não podem subjugar os positivos. O fato de se ter uma única ortografia entre os países que falam uma língua, como é o caso do português, é a facilidade para circulação de documentos escritos na língua oficial desses países. Por exemplo, a ortografia da língua pode ser reconhecida por órgãos políticos como sendo uma só, facilitando a emissão de documentos oficiais, sem necessidade de adaptação para o português brasileiro ou lusitano. Além disso, as editoras têm muito menos trabalho para adaptação de livros que são escritos na mesma língua de dois ou mais países usuários do português. A unificação é uma forma de defender o idioma da desagregação e um meio facilitador do ensino da Língua Portuguesa como língua materna, ou como segunda língua. Cabe ressaltar também que o Acordo prevê mudanças somente no âmbito ortográfico da língua e que críticas do tipo: “como vou falar agora?” devem ser desconsideras, visto que a pronúncia da língua não pode/consegue ser politicamente decidida. A variação linguística acontece em toda língua e nem por isso a ortografia deve ser mudada para atender às constantes variações e mudanças na fala.

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Para este trabalho, apresentaremos a análise das mudanças referentes tanto à acentuação quanto ao uso do hífen.

Este artigo está dividido em três partes, sendo que na primeira discorremos sobre a fundamentação teórica, em que apresentamos as Bases VIII, IX, X, XI, XV e XVI da Nota Explicativa do Acordo Ortográfico que se referem à acentuação e hifenização; na segunda parte, a metodologia, onde descrevemos o processo de investigação, desde a elaboração do diagnóstico até sua quantificação e análise; e na terceira e última parte, analisamos os dados. Nas considerações finais, discutimos a relevância deste trabalho no âmbito acadêmico-científico.

1 Fundamentação Teórica

A Nota Explicativa do Acordo Ortográfico de 1990 foi dividida em 21 bases, com o intuito de agrupar, por semelhança, as mudanças ortográficas. No Quadro 1, apresentamos um resumo de todas as bases do Acordo, embora a este trabalho interessem, sobretudo, as Bases VIII, IX, X, XI, XV e XVI que tratam da acentuação e da hifenização.

Quadro 1 - Bases do Acordo Ortográfico de 1990

Base I Alfabeto e grafia de nomas próprio estrangeiros

Base II Uso do h

Base III Grafemas consonânticos

Base IV Vogais átonas

Base V Vogais nasais

Base VI Ditongos

Bases VIII, IX, X, XI, XII, XIII Acentuação gráfica

Base XIV Uso do trema

Bases XV, XVI, XVII Uso do hífen

Base XVIII Uso do apóstrofo

Base XIX Uso de letras maiúsculas e minúsculas

Base XX Divisão silábica

Base XXI Grafia de assinaturas

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Cabe esclarecer que a base XVII, embora também trate de hifenização, e as bases XII e XIII sobre acentuação, não foram consideradas na análise realizada neste trabalho pelo fato de as mudanças não serem relevantes para a análise.

Tomaremos as bases VIII, IX, X, XI, XV e XVI como escopo teórico para este estudo3.

Base VIII – Da acentuação gráfica das palavras oxítonas

Segundo as novas regras, serão acentuadas com acento agudo as palavras oxítonas que apresentarem: a) vogal final tônica a, e o, ou receberão acento circunflexo aquelas que apresentarem pronúncia fechada, geralmente as de origem francesa, como crochê/crochê, bebê/bebé (admitindo-se, assim, as duas formas); b) vogal final tônica, sendo verbo acompanhado de pronome clítico como em nomeá-lo, tateá-lo; c) oxítonas que têm mais de uma sílaba e terminam em ditongo nasal, como em também, refém, haréns; d) palavras oxítonas com ditongos abertos como herói, chapéu, anéis.

Serão acentuadas com acento circunflexo as palavras oxítonas que apresentarem: a) vogais finais tônicas fechadas como você, lê, robô; b) sílabas tônicas fechadas em verbos conjugados com pronomes clíticos como propô-lo, vencê-lo.

Não serão acentuadas as palavras oxítonas homógrafas heterofônicas como colher (substantivo) e colher (verbo), com exceção do verbo “pôr” que continua com acento circunflexo, para diferenciar da preposição “por”.

Base IX – Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas

De uma maneira geral, as palavras paroxítonas não são acentuadas: caixa, escova, dente, sala, mesa, fale, xale, entre outras. No entanto, as novas regras determinam que se acentue com acento agudo as palavras paroxítonas: a) que apresentam sílaba tônica com vogais a, e, o e ainda i e u que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps (algumas palavras que apresentam oscilação de timbre, segundo a norma culta padrão da língua, podem ser grafadas com acento agudo ou circunflexo como fêmur/fémur, fênix/fénix)4; b) que apresentam sílaba tônica com vogais a, e, o e ainda i e u que terminam em ã(s), ão(s),

3 Para elaboração/resumo das mudanças quanto à hifenização das palavras, tomou-se como referencial o

Acordo Ortográfico de 1990, disponível no Portal da Língua Portuguesa

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&version=1990 Acesso em 20/Ago/2013.

4 Não concordamos com esta acepção, já que se for considerado o timbre fechado ou agudo das palavras,

ter-se-ia que adequar todas aquelas palavras que apresentarem oscilação de timbre. Esta exceção contraria o Acordo, embora por si só não apresente uma dificuldade real para os usuários da língua.

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ei(s), -i(s), -um, -uns, ou -us (há, como na acepção anterior, variação de pronúncia culta da língua, aceitando-se, assim, dupla grafia como em ônus/ónus, bônus/bónus).

Não se acentuam graficamente os ditongos abertos ei e oi das palavras paroxítonas como ideia, colmeia e heroico, considerando o fato de que há palavras homógrafas heterofônicas em que não há a necessidade de acento gráfico como governo (substantivo) e governo (verbo), para diferenciação de sentido.

É facultativo o acento gráfico para marcar a terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo como em cantamos (terceira pessoa do plural do presente do indicativo) e cantámos (terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo) ou somente a forma cantamos para os dois casos.

As palavras paroxítonas levam acento circunflexo quando: a) apresentam sílaba tônica com vogais a, e, o que terminam em -l, -n, -r ou -x: âmbar, bômbax, câncer cônsul; que apresentam sílaba tônica com vogais a, e, o que terminam em -ão(s), -eis, -i(s), -us; b) as terceiras pessoas do plural do presente do indicativo dos verbos ter e vir e suas variações (abolição dos acentos de terceiras pessoas do plural do presente do indicativo de outros verbos quando a vogal é duplicada: veem, leem). Também são acentuadas com acento circunflexo as formas verbais pôde para diferenciar de pode e facultativamente a forma verbal dêmos (para marcar o modo subjuntivo do verbo) para diferenciar de demos (modo indicativo).

Prescinde-se o acento gráfico de palavras paroxítonas quando: a) estas tiverem vogal duplicada: voo, enjoo, veem, releem; b) forem homógrafas: para (preposição) e para (verbo no imperativo), pelo (verbo), pelo (substantivo) e pelo (preposição), pera (substantivo) e pera (preposição arcaica), pela (verbo) e pela (preposição), polo (substantivo) e polo (preposição arcaica); c) palavras homógrafas heterofônicas como acerto (substantivo) e acerto (flexão do verbo acertar).

Base X – Da acentuação das vogais tônicas grafadas em i e u das palavras oxítonas e paroxítonas

As vogais tônicas i e u serão acentuadas desde que antecedidas de vogais que não formem ditongos nem de consoantes sucessoras com que formem sílabas, com exceção do -s: atraí, caís (de cair) Não serão acentuadas graficamente se forem sucedidas de -nh e acentuadas se forem flexão de verbos terminados em -uir e -air com pronomes clíticos: rainha, possuí-la, atraí-la.

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Prescindi-se o uso de acento gráfico nas vogais i e u quando estes forem sucedidos de ditongos como baiuca, feiura, boiuno, bem como se prescinde o uso do acento em ditongos iu e ui como em destruiu, instituiu; e de formas verbais rizotônicas de arguir e redarguir, bem como (mas neste caso facultativamente, dependendo da pronúncia) dos verbos aguar, enxaguar, etc. em que se pode ter duas pronúncias, como águo/águo, enxáguo/enxaguo (ambos para a primeira pessoal do singular do presente do indicativo).

Base XI – Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas.

Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas, inclusive as proparoxítonas aparentes: esquelético, catastrófico; contrário, escritório. Levam acento agudo quando a pronúncia for aberta e acento circunflexo quando esta for fechada. Devido à variação de pronúncia, efetua-se a dupla grafia de palavras proparoxítonas cuja vogal tônica é sucedida de -m ou -n como em cômico/cómico, acadêmico/académico.

Base XV – Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares:

Perda do hífen nos compostos em que se perdeu a noção de composição (mandachuva, paraquedas); nas locuções de qualquer tipo (cão de guarda, dia a dia), exceto as consagradas pelo uso (cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia).

Base XVI - hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação:

Perda do hífen: formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, duplica-se essas consoantes (contrarregra,

contrassenha).

Emprego do hífen quando:

• o segundo elemento começar por h (anti-higiênico, semi-hospitalar);

• o prefixo ou pseudoprefixo terminar na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento (auto-observação, micro-ondas);

• o 1º elemento terminar por m ou n e o 2º começar por vogal, m ou n (pan-africano,

circum-navegação);

• os prefixos hiper, inter e super forem combinados com elementos iniciados por

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• quando houver os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo (ex-diretor, vice-reitor); com os prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, (pós-graduação, pré-natal).

2 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

Para a coleta de dados, foi elaborado e aplicado um questionário diagnóstico que considerava as seguintes bases do Acordo: I, IV, VIII, IX, X, XI, XIV, XVI, XVIII e XIX. O critério para a escolha dessas bases foi estabelecido a partir das dificuldades apresentadas pelos participantes de três minicursos sobre a Nova Ortografia , oferecidos aos acadêmicos de Letras da Faculdade de Comunicação, Artes e Letras da Universidade Federal da Grande Dourados, cujo recorte para esta apresentação já foi explicitado anteriormente.

Cabe ressaltar que o teste diagnóstico foi aplicado a acadêmicos do terceiro ano do curso de Letras da UFGD que não receberam nenhuma formação específica quanto ao uso das novas regras ortográficas além daquela fornecida pela mídia de forma rápida e geral. Foram 19 os sujeitos da pesquisa, o que gerou um total de 1045 palavras a serem analisadas.

Para este trabalho, foram analisadas 418 palavras referentes ao uso de acentuação e 475 referentes ao uso do hífen. Para ser considerado acerto à resposta dada, o acadêmico teria que marcar as formas que estavam grafadas corretamente. A não marcação dessas formas foi considerada erro, bem como a marcação de formas grafadas incorretamente.

O critério de escolha das palavras se formou a partir de minicursos sobre a nova ortografia apresentados para três públicos diferentes: acadêmicos da graduação, alunos do primeiro ano do ensino médio do ensino público e para o corpo docente/administrativo de uma escola pública de nível fundamental, respectivamente em três momentos diferentes.

3 ANÁLISE DOS DADOS Acentuação

A primeira base analisada é a Base VIII, que discorre sobre a acentuação gráfica das palavras paroxítonas. Para o diagnóstico foram utilizadas três palavras dessa base: herói, constrói e pôr. O critério utilizado para a escolha dessas palavras foi o fato de elas deixarem muita dúvida quanto ao emprego ou não do acento, por se confundirem com

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regras ortográficas de outras bases. Por exemplo, as palavras herói e constrói deixam dúvidas, pois podem ser confundidas com a regra da Base IX, que abole o uso do acento gráfico em ditongos crescentes de palavras paroxítonas. Como a regra não é para as palavras oxítonas, herói e constrói devem continuar sendo acentuadas. O mesmo acontece com a palavra pôr, a qual também se confunde com a Base IX, visto que foram abolidos os acentos diferenciais de algumas palavras (como é o caso de para (verbo) e para (preposição)). Para esse grupo de palavras, constatamos que houve, assim, 40% de escolha de alternativa em desacordo com a regra. Esse índice de ocorrências pode ser justificado pelo fato de que o usuário da língua é levado a associá-las a outras regras, visto que não há uma explicação que justifique o emprego de uma forma e não de outra.

A segunda base analisada é a Base IX, que discorre sobre a acentuação gráfica das palavras paroxítonas. Para esta base, foram utilizadas as seguintes palavras no teste diagnóstico: vêm, lêem, pêra, crêem, pára, pôde, heróico, epopéico, jibóia, enjôo, pólo. Com exceção de vêm e pôde, todas as outras palavras foram grafadas de forma incorreta propositalmente, já que o sujeito só teria que marcar aquelas formas que estivessem de acordo com as novas regras ortográficas.

O resultado não foi muito alarmante, visto que só houve 35% de escolhas em desacordo com a norma. As palavras em que os sujeitos apresentaram maior dificuldade de reconhecer a escrita segundo a norma foram pôde (com 15 ocorrências) e epopéico (com 14 ocorrências). As palavras vêm e heróico (ambas apresentaram 13 ocorrências). A palavra que obteve maior número de ocorrência de acordo à norma foi pára (com 17

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ocorrências adequadas à norma) o que significa que 89,5% dos sujeitos da pesquisa estão cientes de que não há mais acento diferencial entre a preposição para e a flexão do verbo

parar no imperativo da segunda pessoa do singular, para.

A terceira base analisada é a Base X, que discorre sobre a acentuação das vogais tônicas grafadas em i e u das palavras oxítonas e paroxítonas. Essa base é muito interessante pelo fato de apresentar poucas mudanças no repertório linguístico do português. As mudanças da Base X se voltam para as palavras paroxítonas cuja sílaba tônica é uma vogal que não deverá ser acentuada graficamente se esta for precedida de ditongo crescente, como é o caso de baiuca, boiuno e feiura.

No diagnóstico, foram utilizadas as seguintes palavras: rainha, juiz, feiúra, jibóia, conteúdo, boiuno, constituído e viúva (as palavras sublinhadas foram grafadas incorretamente de forma proposital). O critério para a escolha dessas palavras se explica pelo fato de, nos minicursos anteriormente ministrados, os participantes terem demonstrado demasiada dúvida a respeito do conceito de ditongo crescente (que corresponde ao encontro vocálico entre uma vogal seguida de uma semivogal). Houve confusão, portanto, quanto ao uso do acento nas palavras utilizadas no diagnóstico (com exceção de feiura e jiboia). As palavras utilizadas contêm hiatos e não ditongos, o que também se revelou um problema na hora de apresentação dessa base, visto que esses termos nunca são novos para os participantes, mas também nunca lembrados pelos mesmos.

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Com relação aos hiatos, o maior índice de desacordo às novas regras ocorreu com a palavra boiuno (16 ocorrências), em contraste com a palavra de mesmo caso ortográfico feiúra (grafada incorretamente no teste diagnóstico) que obteve, juntamente com a palavra constituído, o menor índice de desacordo às regras (6 ocorrências cada uma) desta base. Uma hipótese que pode explicar essa discrepância, poderia ser o fato de uma ter sido grafada corretamente no teste e outra não. Esta hipótese, no entanto, parece pouco convincente, visto que a palavra para, anteriormente apresentada, ter apresentado somente duas ocorrências de desacordo às normas, assim como feiúra.

A última base analisada, a Base XI, diz respeito à acentuação gráfica das palavras proparoxítonas. Nada mudou nesta base, mas uma questão muito importante que o Acordo traz e que vem gerando muitas críticas é o caso da dupla grafia. As palavras proparoxítonas e proparoxítonas aparentes, cuja vogal tônica é sucedida de uma consoante nasal, são acentuadas tanto com acento agudo quanto com acento circunflexo, como é o caso de fenómeno/fenômeno (única palavra desta base utilizada no diagnóstico) e António/Antônio. A palavra fenómeno teve somente três ocorrências de acordo às normas. Isso mostra que a compreensão da dupla grafia por parte dos participantes desta investigação não é uma questão tão tranquila quanto se pode pensar.

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Não consideramos como muito relevante, por parte do falante/escrevente da língua portuguesa, o conhecimento de dupla grafia de algumas palavras, visto que não haverá situações no país em que se ficará com dúvida quanto ao emprego de uma ou outra forma. A variação de acentos ocorrerá mais especificamente entre países como Brasil e Portugal em que essas palavras proparoxítonas são grafadas de forma diferente devido à variação de pronúncia: pronúncia fechada nas regiões do Brasil, quando a sílaba tônica for seguida de consoante nasal e pronúncia aberta em Portugal, no mesmo caso de sílaba tônica.

De certa maneira, esta foi uma resolução muito bem pensada pelos formuladores do Acordo, visto que respeitou a variação linguística dos países, contudo, acabou se revelando contraditória visto que nem todos os casos foram respeitados. O princípio da unificação das grafias foi rompido.

Cabe ressaltar que a dupla grafia não é um caso específico da língua portuguesa. Línguas como o inglês e o espanhol também têm casos como esse: setiembre (forma mais comum no espanhol latino-americano) ou septiembre (mais comum na Espanha) que significa setembro em espanhol, e color (inglês americano) e colour (forma mais comum inglês britânico) que são usadas indistintamente.

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Hifenização

Na Base XV, destacamos os vocábulos afro-brasileiro e afrodescendente. A Base XV explica que na ocorrência de formas adjetivas como afro-, anglo-, luso-, continuam sem hífen os empregos em que há só uma etnia (afrodescendente), mas usa-se o sinal quando houver mais de uma etnia (afro-brasileiro). Dos 19 sujeitos que fizeram o pré-teste, 15 souberam a grafia correta de um dos dois vocábulos, mas erraram o outro. Dos restantes, 3 sujeitos erram ambas as formas e 1 acertou as duas. Supomos que, por não dominarem a abrangência das novas regras, os participantes acabam confundindo as formas que não sofreram mudança.

Pelo Acordo, não se emprega mais o hífen nas locuções de qualquer classe gramatical. 13 sujeitos souberam a grafia atualizada da locução dia a dia e 14 acertaram a locução fim de semana. Assumimos que há o domínio dessa regra nesse grupo de pessoas.

Na Base XVI, não se esperava que a palavra recém-casado causasse tantos problemas, visto que, além de não ter sido modificada pelo Novo Acordo, há propriedades

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lingüísticas, como o fato de o prefixo ser tônico e terminar com m, que, por si só, impossibilitam a exclusão do hífen e sua aglutinação com a palavra principal.

A palavra panamericano, que segundo as Novas Regras Ortográficas é grafada

pan-americano, teve 6 acertos e 13 erros. Podemos inferir que este erro se deu não

somente pelo fato de essa forma ser grafada sem hífen, na ortografia antiga, mas pelo fato de a mudança não obedecer a uma grande regra, visto que não abrange uma parte do vocabulário do português de uso corrente, segundo os exemplos que encontramos.

Coautor, coobservador e reescrever dizem respeito a uma única regra de

hifenização. Segundo a regra, os prefixos re- e co- sempre se aglutinam à palavra principal. A primeira palavra, coautor, sendo a única palavra grafada corretamente segundo as novas regras ortográficas, apresentou 12 acertos e 7 erros. A palavras co-observador e

re-escrever, que segundo as novas regras estavam escritas incorretamente, apresentaram

respectivamente 13 e 17 acertos. Dessa forma podemos concluir que a maior parte dos participantes da pesquisa demonstraram que dominam essa regra, mesmo ela sendo uma regra nova.

Considerações finais

Com este trabalho, pôde-se observar que ainda há muitos problemas em relação às novas regras ortográficas, e que há grande pertinência em se continuar trabalhando essas mudanças, pois, como foi demonstrado, muitos dos desvios estão associados às regras ortográficas antigas vigentes no português brasileiro.

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( )herói ( )constrói ( )heróico ( )feiúra ( )constituído

( )vêm ( )crêem ( )juiz ( )jibóia ( )pólo

( )lêem ( )rainha ( )pôde ( )enjôo ( )viúva

( )pêra ( )pára ( )epopéico ( )conteúdo ( )pôr

( )kilômetro ( )quilômetro ( )aspeto ( )aspecto ( )abril

( )d'ele ( )d'Ele ( )Abril ( )boiuno ( )fenómeno

( )arco-íris ( )porta-retrato ( )mesarredonda ( ) contrarregra ( )pára-quedas ( )afrobrasileiro ( )recém-casado ( )mal-criado ( )mal-humor ( )malvisto ( )antiinflamatório ( )auto-observação ( )inter-regional ( )panamericano ( )não-violência ( )co-observador ( )vice-reitor ( )expresidente ( )re-escrever ( )autoajuda ( )coautor ( )socioeconômico ( )afrodescendente ( )dia-a-dia ( )fim de semana

Pré-teste sobre a Nova Ortografia

Assinale com (x) as alternativas que se apresentam grafadas corretamente segundo as novas regras de acentuação da Nova Ortografia

Assinale com (x) as alternativas que se apresentam grafadas corretamente segundo as novas regras de hifenização da Nova Ortografia

Referências

AZEREDO, José Carlos. Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo acordo ortográfico de língua portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008.

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua

Portuguesa. , 5. ed. São Paulo: Global, 2009.

BECHARA, Evanildo. A nova ortografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Lucerna, 2008.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php?action=acordo&version=1990

Acesso em 25/Nov/2012.

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Referências

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