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O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES NA VISÃO DOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA RURAL.

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O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES NA VISÃO DOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA RURAL.

Ozeias de Lima Soares Priscila Ramos Toledo Ferreira Resumo:

Tratou-se de uma investigação sobre o Programa Bolsa Família onde foram tratadas as potencialidades e fragilidades do Programa Bolsa Família em relação aos impactos das suas condicionalidades na vida escolar do aluno, tendo como objetivo analisar sua contribuição como alternativa de inclusão social das crianças de classes menos favorecidas à escola, segundo a visão dos professores da Escola Rural Laurinda Souza. Foram entrevistados os professores que atuam como regentes no fundamental I, direção e supervisão escolar. O processo metodológico desenvolvido foi a pesquisa qualitativa, sendo realizadas entrevistas semi-estruturadas, ouvindo a opinião dos professores envolvidas no processo de ensino-aprendizagem escolar. O trabalho é embasado na contribuição de diversos autores que estudam a relação educação e Bolsa Família e que dão suporte à análise da visão do professores. Palavras-chave: Programa Bolsa. Família. Potencialidades e Fragilidades Desempenho Escolar.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil tem historicamente sofrido com a má distribuição de renda, por ter um grande número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, apresentando alto índice de desemprego e analfabetismo. Educação, Saúde e Trabalho são direitos universais, garantidos pela Declaração Internacional dos Direitos do Homem e pela constituição de diversos países. Entretanto, muito mais do que garantir direitos, a atuação do Estado nesses campos garante, teoricamente, a igual oportunidade de ação dos indivíduos na sociedade.

O que me levou a optar pela temática foi a minha vivencia como ex-integrante do Programa Bolsa Família (PBF) e por atuar como educador em uma comunidade Rural. Onde os educandos em sua maioria são beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF). Por presenciar diariamente questionamentos do corpo docente em relação à efetividade e os impactos das condicionalidades no combate à pobreza das famílias beneficiárias. Fatores que influenciam diretamente no ensino-aprendizagem segundo Neves e Eliza:

As condicionalidades na área da educação atribuem à frequência por parte das crianças e adolescentes beneficiárias na escola um propósito e

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intencionalidade direcionados ao rompimento do chamado ciclo intergeracional da pobreza. Dessa maneira, a escola é projetada como um espaço que ultrapassa os limites físicos e geográficos e que, por isso, possui uma finalidade educativa e um projeto pedagógico capaz de alcançar a inclusão social e autonomia do cidadão (NEVES; ELIZA, 2008, p. 298). O Programa Bolsa Família foi criado pela medida provisória número 132, de 20 de Outubro de 2003, transformada na Lei no 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado pelo Decreto no 5.209, de 17 de setembro de 2004, é o principal programa de transferência de renda do governo federal. Constitui-se num programa estratégico no âmbito do Fome Zero – uma proposta de política de segurança alimentar, orientando-se pelos seguintes objetivos: combater a fome, a pobreza e as desigualdades por meio da transferência de um benefício financeiro associado à garantia do acesso aos direitos sociais básicos saúde, educação, assistência social e segurança alimentar; promover a inclusão social, contribuindo para a emancipação das famílias beneficiárias, construindo meios e condições para que elas possam sair da situação de vulnerabilidade em que se encontram (BRASIL. MDS, 2006).

A instituição do Programa Bolsa Família decorreu da necessidade de unificação dos programas de transferência de renda no Brasil, conforme diagnóstico sobre os programas sociais em desenvolvimento, elaborado durante a transição do governo Fernando Henrique Cardoso para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi elaborado visando minimizar: 1) a ocorrência de sobreposições de programas, definindo objetivos e público alvo; 2) desperdício de recursos por falta de uma coordenação geral e dispersão dos programas em diversos ministérios; 3) falta de planejamento e mobilidade do pessoal executor, 4) alocações orçamentárias insuficientes, com o não atendimento do público alvo conforme os critérios de elegibilidade determinados (BRASIL, 2002).

O governo federal criou o programa Bolsa Família, em 2003, para apoiar as famílias mais pobres e garantir o direito à alimentação. Para isso, há a transferência de uma renda mensal diretamente para as famílias e as mesmas fazem o resgate deste valor através de saque com cartão magnético distribuído pela Caixa Econômica Federal.

Destina-se às famílias extremamente pobres, com renda per capita mensal de até R$ 50,00, independentemente de sua composição e às famílias consideradas pobres, com renda per capita mensal de entre R$ 50,01 e R$ 100,00, desde que possuam gestantes, ou nutrizes, ou crianças e adolescentes entre 0 a 15 anos. O primeiro grupo de famílias recebe um benefício fixo no valor de R$ 50,00, podendo receber mais R$15,00 por cada filho de até15 anos de

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idade, num total de até três filhos, podendo alcançar um valor de benefício mensal de até R$ 95,00 por família. (CORREA 2008 p. 7.)

As famílias têm liberdade na aplicação do dinheiro recebido e podem permanecer no programa enquanto houver a manutenção dos critérios de elegibilidade e cumpram as condicionalidades indicadas, desde que lhes sejam oferecidas condições para tal. A transferência monetária concedida pelo Bolsa Família é associada ao desenvolvimento de outras ações como alfabetização, capacitação profissional, apoio à agricultura familiar, geração de ocupação e renda e microcrédito. Garante também acesso àquelas famílias que não possuem filhos, como o caso dos quilombolas, indígenas e moradores de rua (CORREA, 2008 p. 7).

O Bolsa Família procura enfrentar o problema da pobreza em dois momentos. No curto prazo, o programa pretende oferece alívio aos problemas imediatos e urgentes da pobreza, como a fome e a desintegração do ambiente familiar. No longo prazo, o Programa Bolsa Família tem como objetivo o combate à transferência da pobreza, induzindo a melhoria do status educacional e da saúde de seus beneficiários por meio das condicionalidades, promovendo assim melhores oportunidades de qualificação e consequente inserção futura no mercado de trabalho (CORREA, 2008 p 7). Em 17 de novembro de 2004, o Ministério da Educação publicou a Portaria Interministerial nº 3.789 (BRASIL, 2004b), estabelecendo atribuições e normas para o cumprimento da condicionalidade da frequência escolar das crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade que componham as famílias beneficiárias do PBF. As justificativas para as ações desenvolvidas pelo programa pautam-se, de acordo com a Portaria, na consideração de que,

Constitui fundamento do Programa Bolsa Família a associação de transferência de renda ao direito básico de acesso à educação e permanência na escola; considerando que a concretização do direito à educação compreende responsabilidades tanto por parte do Estado quanto da sociedade e dos indivíduos, cabendo à União, Estados, Distrito Federal e Municípios o papel de oferecer os serviços básicos de educação, de forma digna e com qualidade, elemento fundamental para a inclusão social das famílias beneficiadas; considerando que a escola é um espaço de construção de conhecimento, formação humana e proteção social às crianças e adolescentes e que o baixo índice de frequência escolar é um dos indicadores de situação de risco que deve ser considerado na definição de políticas de proteção à família; considerando que há necessidade de interferir nos baixos índices de frequência e evasão escolar no ensino fundamental, que são relacionados com a situação socioeconômica e cultural das famílias, dentre outras situações que interferem no desenvolvimento integral do aluno (BRASIL, 2004b).

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Condicionalidades são compromissos assumidos pelas famílias nas áreas de saúde e educação, para assim continuarem a receber o benefício monetário. Na área da saúde, existem os compromissos a serem cumpridos como o acompanhamento da saúde de gestantes com exames de rotina, nutrizes e menores de 7 anos de idade, com a manutenção do cartão de vacinas atualizado. Na área da educação, se condiciona a matrícula e frequência escolar mínima de 85% no ano letivo por crianças e adolescente com idade de 6 a 15 anos; retorno de adultos analfabetos à escola, além da participação de todas as famílias em ações de educação alimentar quando oferecidas pelo Governo.

Neste sentido, o adequado cumprimento das condicionalidades é fazer com que as famílias beneficiárias tenham acesso às políticas sociais, as quais são de direito de cada cidadão, com a intenção de que em um longo prazo as famílias tenham mais chances de sair e de superar a sua situação de pobreza.

Discutiremos o processo de acompanhamento da condicionalidade de educação, bem como seus desdobramentos a partir do descumprimento das condicionalidades.

A pesquisa de campo apontará dificuldades de lidar com um fenômeno social de muitas caras a partir da visão dos professores e diretores sobre o PBF a pobreza e sua incessante reprodução.

Compreendida como forma de intervir no ciclo de pobreza desta população no longo prazo. Entretanto, partimos do pressuposto de que o “sucesso” escolar não depende invariavelmente apenas da maior presença do aluno em sala de aula (REZENDE, 2015,p.10).

Tais atribuições elegem um conjunto de novas atribuições aos educadores segundo Paulo Freire (1987) apud Módulo III Escola: espaços e tempos de reprodução e resistências da pobreza e educação não são neutros. Nessa perspectiva, uma escola que se comprometa com a transformação social precisa se posicionar diante das desigualdades sociais, lutando para combatê-las e buscando, junto com os movimentos sociais, construir uma sociedade mais justa e democrática.

Os professores têm de lidar com alunos que trazem consigo dificuldades das mais diversas ordens, fruto de complexas questões sociais.

A desigualdade nos indicadores educacionais é multideterminada, mas está correlacionada às desigualdades econômicas e sociais, às desigualdades no acesso aos direitos (não apenas aos sociais) e é produzida por mecanismos institucionais de desresponsabilização, discriminação e exclusão. De forma mais ou menos consciente, com mecanismos mais ou menos objetivos, a relação da educação com a pobreza (CRISTINA, 2012, p.13).

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O Programa Bolsa Família (PBF) possibilitou que a minoria marginalizada pela sociedade tivesse acesso aos direitos sociais básicos de saúde, alimentação, educação e assistência social às famílias que se encontram em circunstâncias de pobreza e de extrema pobreza, buscando superar sua condição de vulnerabilidade. As famílias em situação de pobreza apresentavam dificuldades para que suas crianças, seus adolescentes e seus jovens tenham acesso à escola e nela permaneçam até concluir a educação básica. Para romper o ciclo, a assiduidade nas atividades escolares é condição fundamental.

A execução do Programa se organiza com base em três dimensões centrais, sendo elas: o alívio imediato da pobreza, que se concretiza pela transferência de renda direta às famílias pobres; a ruptura do ciclo de pobreza entre gerações por meio do acompanhamento das condicionalidades, e; a disponibilidade de ações e programas complementares que qualifiquem a oferta de serviços e apoiem o desenvolvimento das famílias (GUROVITZ, 2002, p.2.).

Frente à proposta educacional estabelecida pelo Programa Bolsa Família (PBF), no que concerne à permanência das crianças e adolescentes na escola através da contrapartida da frequência escolar em relação a obrigatoriedade da frequência escolar do Programa Bolsa Família (PBF) e o desempenho dos alunos beneficiários na ótica dos professores da rede municipal de ensino, visando compreender a influência dessa contrapartida no processo de aprendizagem e na vida escolar dos alunos.

A proposta da contrapartida educacional do PBF é manter as crianças nas escolas com a finalidade precípua de garantir o direito ao acesso e à permanência na educação e reduzir, consequentemente, os índices de evasão ainda elevados nos sistemas municipais e estaduais de educação (CRISTIANE; MACEDO 2015, p.436).

Este artigo buscou uma reflexão a partir das vivências e opiniões dos professores sobre a exigência da obrigatoriedade da frequência escolar presente no desenho do programa de transferência de renda Bolsa Família. Visando compreender o desempenho dos alunos beneficiários e a influência dessa contrapartida no processo de aprendizagem na vida escolar dos alunos.

Estabeleceu o olhar dos professores e diretores que conhecem e vivenciam o Programa Bolsa Família (PBF) em relação a frequência escolar. A exigência de frequência escolar sendo um fator significativo para romper o chamado ciclo da pobreza e se possibilita condições para que os beneficiários obtenham êxito na vida escolar.

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As influências das condicionalidades sobre os índices de frequência, evasão e rendimento dos educandos no educandário. A condicionalidade do Programa Bolsa Família (PBF) é capaz interferir nos níveis de aprendizagem dos beneficiários ao longo prazo.

A condicionalidade do Programa Bolsa Família (PBF) possibilitou de fato melhorias ao sistema de ensino- aprendizagem atenuando as desigualdades sociais por meio da redução evasão, repetência e fracasso escolar, incluindo os mais vulneráveis.

Este artigo teve sua descrição detalhada em três etapas da pesquisa. Na primeira, apresentamos algumas reflexões que, de maneira direta ou indireta, problematizam a efetividade das condicionalidades em educação do Programa Bolsa Família (PBF). Na segunda parte do artigo, apresentamos algumas considerações e o percurso metodológico que seguimos, tendo em vista a pesquisa que foi desenvolvida junto aos Educadores. Na terceira, as análises acerca da visão dos professores em relação ao PBF e por fim apresentamos algumas reflexões que acreditamos serem pertinentes para futuras pesquisas.

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Optamos por pesquisar professores da rede municipal de ensino em razão de serem eles os principais agentes do processo de ensino-aprendizagem por apresentarem condições de avaliar a aprendizagem dos educandos e estarem diretamente envolvidos na sala de aula.

Foram entrevistados 10 professores, de ambos os sexos e com média de idade variando de 30 a 50 anos que atuam a mais de três anos como regente no fundamental I, recém-contratados e professores de carreira. O nível de escolaridade dos professores entrevistados com formação em nível superior.

Parte dos dados foi obtida a partir da realização de entrevistas semi estruturadas com os professores da Escola Municipal Rural Laurinda Souza por meio da observação não estruturada. As entrevistas semi estruturadas nos permitiram maior homogeneidade e especificidade nas respostas dos sujeitos, oferecendo meios para o aprofundamento de aspectos e dimensões do estudo. Em linhas gerais, o eixo norteador das entrevistas buscou compreender a percepção dos professores acerca do PBF (Programa Bolsa Família) e da sua contrapartida educacional, mas sobretudo analisamos a influência dessa contrapartida no desempenho dos alunos, identificando fatores (internos e externos ao ambiente escolar) que interferem no processo de ensino-aprendizagem.

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O eixo norteador das entrevistas buscou compreender a percepção dos professores acerca do Programa Bolsa Família(PBF) e da sua contrapartida educacional-Social, analisando o desempenho dos alunos no processo de ensino-aprendizagem.

3 ANÁLISE DOS DADOS: VISÃO DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO AO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Esse estudo possibilitou uma reflexão sobre o Programa Bolsa Família buscamos a confirmação de que o Programa Bolsa Família tem contribuído ou não para a manutenção dos Educandos na escola Levantaremos discussões sobre as condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) na perspectiva dos educadores seus efeitos práticos em termos de frequência escolar ou ganhos de escolaridade, mas também o sentimento de pertencimento e reconhecimento social.

Na análise dos dados, consideramos a importância de compreender o discurso dos professores sobre o PBF (Programa Bolsa Família), com a finalidade de identificar com mais propriedade não só o entendimento em relação à estrutura do PBF (Programa Bolsa Família), mas, sobretudo, sobre seus objetivos.

Os professores descrevem o PBF como um programa social com finalidade eleitoreira, que disponibiliza uma ajuda financeira às famílias de baixa renda, mediante incentivo à permanência da criança no ambiente escolar. Abaixo, são apresentados depoimentos dos professores sobre essa questão: "Em parte é bom porque faz com que a criança frequente a escola evitando a evasão. Porém precisaria ter critérios para que essa criança desenvolvesse plenamente aprendizagem. (Professora ESTEFANNY da ERMS,2016).” É um bom programa mais poderia ser aprimorado não só na questão da frequência mais também em relação a comportamento e a questão de notas. (Professor GETÚLIO, da ERLS, 2016).

O programa segundo relatos dos professores colaborou para a permanência dos alunos pobres na escola pública (ainda que obrigados por meio da exigência da frequência escolar mínima) contribuiu com um número maior de estudantes frequentando as salas de aulas. A educação compõe um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, devendo ser assegurada pelo poder público, designado para prover as condições necessárias à sua efetivação, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

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A escola é uma instituição marcante na vida das pessoas, independentemente do ponto de vista político-educacional. Neste espaço, decorrem diferentes tipos de aprendizagens e de socialização entre os seres humanos.

O PBF e uma alternativa para lidar com a pobreza e a desigualdade social, todavia os educadores em sua maioria vem o Programa Bolsa Família como um programa social que satisfaz de forma momentânea as carências da população que vive na pobreza. Em curto prazo o programa alivia os problemas decorrentes da situação de pobreza ao longo prazo precisa investir no cidadão pobre quebrando o ciclo da pobreza.

Aguiar (2002) diz ser possível afirmar que programas de garantia de renda mínima, aplicados de maneira independente, não são capazes de atuar efetivamente no rompimento dos ciclos geracionais de pobreza e de desigualdade social. Essas variáveis não representam somente uma questão de renda. “Nenhuma renda distribuída aos pobres poderia garantir o mínimo de bens e acesso a serviços básicos de qualidade necessários, nos padrões modernos, para sair da condição de pobreza e mesmo da exclusão social” (Aguiar, 2002; p.32). A renda mínima, para se tornar um meio de combate à pobreza e à desigualdade, seria interessante estar vinculada a outras políticas sociais. Scalon descreve as elevadas taxas de repetência como: "[…] o ensino voltado para as camadas populares, muitas vezes incorpora logicas e valores distantes da realidade social na qual está inserido seu público-alvo, o que ajuda a explicar as elevadas taxas de repetência e evasão (SCALON Celi, 2011, p.62)."

Sem considerar os demais fatores do processo de ensino-aprendizagem, a maioria dos professores entrevistados associou o baixo desempenho dos alunos beneficiados à obrigatoriedade da frequência escolar. Quando afirmaram que o aluno era obrigado a frequentar as aulas e apresentava motivação e interesse reduzidos em aprender, acabaram de certa forma secundarizando determinadas dimensões das suas tarefas pedagógicas, que é promover o estímulo e despertar a motivação e a aprendizagem em sala de aula. Segundo a professora Louzanira, muitas crianças vão para a escola simplesmente obrigada pelos pais para não perderem o benefício.

Para Soares (2011), o estudante pobre e visto segundo o ponto de vista das carências anteriores, as que ele traz desde a sua origem familiar e que existem antes mesmo de chegar a escola. Por isso, e necessária a provisão das necessidades materiais dos estudantes, por meio da transferência de renda e dos outros programas educacionais, da merenda escolar, do

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uniforme, do transporte etc. Por outro lado, os professores afirmam que a pobreza não e um impedimento para a aprendizagem dos alunos. A pobreza pode até ser uma variável que dificulte a permanência desse estudante na escola, mas não e determinante para o grau de aprendizagem do mesmo. A resposta para o bom desempenho escolar não estaria no enfrentamento da pobreza ou em modificações da estrutura escolar, mas sim no esforço individual desse estudante e da sua família em obter bons resultados escolares.

O referido decreto, em seu Artigo 11, estabelece que “a execução e gestão do Programa Bolsa Família dar-se-á de forma descentralizada, por meio da conjugação de esforços entre os entes federados, observada a intersetorialidade, a participação comunitária e o controle social”. Desta forma, o PBF tem a sua gestão fundamentada no processo de descentralização e democratização. Está estruturado em três eixos principais de atuação: i) diminuição imediata da pobreza, por meio da transferência direta de renda às famílias; ii) reforço do direito de acesso das famílias aos serviços básicos nas áreas de saúde, educação e assistência social, contribuindo para que as famílias rompam com o ciclo da pobreza entre gerações; iii) integração com outras ações e programas do governo (nas três esferas) e da sociedade, apoiando as famílias a superarem a situação de vulnerabilidade e pobreza.

A exigência de contrapartidas é talvez uma das novidades mais importantes no desenho do Bolsa Família e, ao mesmo tempo, uma polêmica central do programa. Muitos questionam a legitimidade da contrapartida, já que este benefício é um direito social e deve ter caráter incondicional.(MONNERAT, G. L. et al. p 10)

Questionados os educadores sobre os fatores que interferem no desempenho dos alunos, em sua maioria, a resposta foi que a falta de apoio da família é o principal fator de influência no ensino aprendizagem dos educandos. Observados nos discursos dos docentes a falta de acompanhamento dos responsáveis na orientação e na formação dos filhos que afeta diretamente no desempenho dos alunos, bem como outros aspectos como a pobreza, fatores econômicos e culturais, o meio social e a condição social em que as famílias vivem. Uma professora analisa que:

O Programa Bolsa Família (PBF) é uma faca de dois gumes o programa faz com que os pais tenham responsabilidades de trazer os filhos para a escola porém as vezes vejo crianças mal alimentadas, sem material escolar, doentes e a falta de acompanhamento dos responsáveis. (Professora ZULEIDE da ERLS, 2016).

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A entrevistada ADALGIZA apresentou uma ideia generalizada de que o dinheiro tem que ser gasto em favor dos filhos na aquisição de materiais escolares, calçados e vestimentas. Para ela O programa ajuda porque muitas famílias têm dificuldades financeiras para complementar na parte pedagógica.

Porém alguns professores desconhecem que a finalidade do benefício é de garantir o sustento dos beneficiários na aquisição de alimentos tendo em vista que o PBF (Programa Bolsa Família) atua como uma renda complementar, o dinheiro e revertido unicamente na compra de alimentos em decorrência do valor recebido pelas famílias serem insuficientes para serem revertidos em sapatos, roupa para o filho e na compra de matérias escolares.

Os professores afirmaram que o benefício está sendo bem aplicado tendo como objetivo principal atenuar a situação de pobreza e de miséria. Mas, apesar dessa constatação, muitos críticos, inclusive muitos beneficiários, chamam a atenção para o baixo valor dos benefícios do Programa Bolsa Família, segundo os quais, não seriam suficientes para retirar alguém da pobreza (SILVA, 2006).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que também na escola há questionamentos quanto à relação educação e o programa bolsa Família, sendo que muitas vezes a escola é vista como o único órgão público responsável em resolver as desigualdades sociais do país. Segundo Saviani (2009) a educação compensatória, nestes casos, tais programas colocam sob a responsabilidade da educação uma série de problemas que não são especificamente educacionais, o que significa a persistência da crença ingênua no poder redentor da educação em relação à sociedade, atribuindo à educação um conjunto de papéis que no limite abarcam as diferentes modalidades de política social. O PBF (Programa Bolsa Família), os professores, os governantes sustenta uma relação entre pobreza e frequência escolar, desconsiderando as reais causas da pobreza.

Analisando os discursos dos docentes entrevistados, percebe-se que a maioria descreveu o PBF como um “programa assistencialista”, que oferece “uma ajuda” financeira às famílias de baixa renda, mediante incentivo à permanência da criança no universo escolar.

Considerando os pressupostos da análise de discurso, identifica-se na fala dos professores determinados aspectos das relações de poder que permeiam a implementação e execução das políticas públicas de transferência de renda no Brasil. No campo político-ideológico, a política de transferência de renda, nesse caso o PBF, aparece como alternativa

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para lidar com a pobreza e a desigualdade social, todavia foi enunciada como “assistencialista”, “compensatória” e “paliativa”, em um quadro de fragmentação das ações das políticas de proteção social.

Diante das desigualdades sociais que assolam o país atualmente, os professores entrevistados afirmaram que fazem uso de projetos escolares contextualizados contribuindo para a formação de sujeitos críticos- sociais capazes de transformar a realidade em que vive. Tais práticas favorecem a formação de cidadãos com práticas e atitudes democráticas colaborando para formação de cidadãos capazes de refletir e discutir ações capazes de atenuar a realidade social onde o aluno está inserido.

5 REFERÊNCIAS

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BRASIL.Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania : Subvmário Brasília : Ipea, 2014. Disponível em: URL: http://www.ipea.gov.br

http://www.mds.gov.br/brasilsemmiseria/sesep-2013-acoes. Acesso em: 1 jun.2016 CAMPELLO Tereza, CÔRTES Marceloetalii. Programa bolsa família uma década de inclusão e cidadania Brasília : Ipea, 2013. Disponível em:

<http://moodle.epds.ufms.br/arquivos/biblioteca/educacao/Programa_bolsa_familia_uma_dec ada_de_inclusao_e_cidadania.pdf> Acesso em: 8 jun. 2016.

CRISTINA Silviaet alii. Política Educacional e Pobreza Liber Livro Editora Ltda 2013. Disponivel em http://moodle.epds.ufms.br/arquivos/biblioteca/educacao/Politica educacional e pobreza multiplas abordagens para uma relacao multideterminada.pdf Acesso em: 8 jun. 2016.

REZENDE Roberta condicionalidades de educação do PBF V seminário Internacional sobre Porfissionalização Docente UNESCO 2015Disponivel

em<http://moodle.epds.ufms.br/arquivos/biblioteca/educacao/As_condicionalidades_de_educ acao_do_PBF.pdf> Acesso em: 8 jun. 2016.

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PEDRO Antônio, GUROVITZ Elaine A pobreza como fenômeno multidimensional RAE-eletrônica, 2002 Disponivel em <http://moodle.epds.ufms.br/arquivos/biblioteca/educacao/A pobreza como fenomeno multidimensional.> Acesso em: 8 jun. 2016.

REGO Walquiria, PINZANI Alessandro VOZES DO BOLSA FAMÍLIA Editora Unesp 2013 Disponível

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WERTHEIN Jorge, JOVCHELOVICTH Marlova POBREZA E DESIGUALDADE NO BRASIL UNESCO Edição da UNESCO no Brasil2003 Disponível em: < http://

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