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Uma Ronda pelo programa mais popular da TV Piauiense Uma análise do processo produtivo do programa Ronda 1

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Academic year: 2021

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Uma Ronda pelo programa mais popular da TV Piauiense – Uma análise do

processo produtivo do programa Ronda

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Tamires Ferreira COELHO2 Elinara Soares Barros de SOUSA3 Orlando Maurício de Carvalho BERTI4 1. Introdução

O processo produtivo do programa Ronda, veiculado pela emissora Meio Norte de televisão, afiliada da TV Band, é o objeto estudado pelo presente artigo. Consideramos neste estudo as formas como a notícia é produzida, a partir da observação das rotinas produtivas e de uma investigação sobre a organização prévia do programa.

Há dois tipos elementares de fontes nos programas jornalísticos, a autoridade/especialista – que costuma ser vista sempre como uma voz oficial ou autorizada para tratar de determinados temas, uma voz que transmite

credibilidade para o programa; e o cidadão comum – que costuma aparecer de três modos básicos: quando ele é afetado pelas notícias; quando ele próprio se transforma em notícia, seja fait divers, seja a humanização do relato; quando ele autentica a cobertura noticiosa e é tratado como vox populi, ou seja, quando faz parte de enquetes sobre determinada temática. (OLIVEIRA)

Para Gomes (2002, p.2) o gênero televisivo é visto como forma situar a audiência em relação a um programa ou assunto nele tratado e em relação a como ele se posiciona diante de seu público-alvo. Nessa perspectiva, gênero é uma estratégia de interação e investir numa abordagem dos gêneros televisivos pode significar ultrapassar a dicotomia entre análise do produto televisivo e análise dos contextos sociais de sua recepção.

2. Rotina produtiva do programa ronda

Barulho. Polícia. Crimes. Mortes. O dia começa bem movimentado para as produtoras do programa mais lucrativo da engrenagem televisiva do sistema Meio Norte de Comunicação – emissora afiliada à Band no Piauí.Quem vê o programa de televisão Ronda, não imagina o trabalho que dá produzi-lo. Há muito improviso, mas também há muito a ser elaborado horas antes de o apresentador Francisco Alberto Rego, 40 anos, – popularmente chamado de Beto Rego –ir ao ar. Cada quadro, cada pauta, cada ordem de patrocinador é pensado pelas produtoras Lígia Leão e Aline Ribeiro, com constantes palpites do apresentador.

Lígia Leão é radialista e produtora de TV. Ela está à frente da produção do programa Ronda desde 1999, quando ainda era apresentado por Silas Freire. Tem registro de radialista, porém ainda não possui o diploma de jornalista. Atualmente, cursa o quarto período do curso de Jornalismo da Faculdade Santo Agostinho, em Teresina.

1 Trabalho apresentado no GT 04 - Produção e Recepção do Colóquio Internacional sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação.

2 Estudante de Graduação 6º semestre do curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo na UFPI, email: tamirescoelho@hotmail.com.

3 Estudante de Graduação 7º semestre do curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo na UFPI, email: elinarabarros@hotmail.com.

4 Orientador do Trabalho, Professor da Universidade Federal do Piauí – UFPI e da Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista, e-mail: orlandoberti@yahoo.com.br.

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Beto Rego começou sua carreira nos meios de comunicação como radialista e, depois, passou a atuar como apresentador de televisão. Começou sua carreira trabalhando na antiga TV Timon (atual TV Meio Norte) e foi, durante muitos anos, apresentador do programa de rádio “Ligação Sucesso”. Apresentou programas como

“Poupa Ganha”, “Tenta Ganha” e “Viva Sorte”. Em 2002, foi convidado a apresentar o programa Ronda, quando o apresentador Pádua Araújo deixou o programa e a emissora.

Já Aline Ribeiro é jornalista e produtora de TV, na produção do programa Ronda desde o ano de 2008. Ela concluiu sua graduação em 2009, no curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela UFPI (Universidade Federal do Piauí).

O programa já foi denominado Ronda Policial, aludindo ao caráter de programa policial que ele tinha em seu formato inicial. Os primeiros roteiros – espécies de boletins televisivos que traziam informações como ocorrências, crimes e acidentes no estado – modificaram-se ao longo de quase quinze anos de existência.

Atualmente, o programa tem uma temática que ultrapassa a editoria de polícia e passa a figurar no gosto popular em geral, trazendo, além de matérias policiais, quadros de participação popular, concursos, repercussão de reportagens de cunho político e humor. Por isso, o nome do programa mudou para, simplesmente, “Ronda” – embora muitos o nomeiem como “Ronda do Povão”, pelo seu recorrente apelo popular expresso até mesmo no discurso do apresentador (que utiliza termos locais e regionais como forma de aproximação com as diversas camadas espectadoras).

O trabalho começa, diariamente, às oito da manhã, quando a produtora Lígia Leão já prepara as cabeças – introduções das notícias em poucas palavras – das matérias que vão ao ar nos primeiros blocos. Não seria possível deixar o programa preparado no dia anterior, segundo a produtora, porque o programa seria factual (formatado em fatos recentes). As produtoras têm, basicamente, cerca de uma hora e meia para organizar e deixar o programa pronto. Às nove horas e quarenta e cinco minutos o Ronda entra no ar, por isso, é preciso apressar-se todas as manhãs para não comprometer o horário inicial deste programa.

O dinamismo mostrado em frente às câmeras também é uma marca do apresentador por trás delas. Beto Rego e a equipe buscam manter o ambiente descontraído, antes mesmo de entrar no estúdio. O

assistente de palco, Raimundo Pereira dos Santos Filho, 36 anos, que interpreta no programa o “Palhaço Chupetinha”, é quase irreconhecível ao chegar à redação. Pessoas comuns, no Ronda, transformam-se em personagens do povo, pop-stars da periferia, embora não se considerem tanto. Por

trás das câmeras, há muito pouca encenação. Há, contudo, uma constante preocupação com seu resultado final.

Enquanto a produtora termina de preparar o espelho (cronograma de como o programa televisivo irá se desenrolar), Francisco Alberto Rego, o apresentador, ainda não está no prédio onde o Ronda é

apresentado. Ele chega, geralmente, por volta de nove e vinte da manhã.

Nas sextas-feiras, o programa é realmente diferente. O “Ronda Show” mescla matérias policiais com apresentações de bandas, que buscam deixar o programa mais “leve”, buscando outros tipos de apelo. Isso pode ser observado até mesmo na vestimenta do apresentador: todas as sextas-feiras, Beto Rego muda de traje. Entre segundas e quintas-feiras, ele apresenta o programa com trajes sociais. Nas sextas ele veste uma camisa que transparece menos seriedade e uma calça jeans – trajes simples, despojados e bastante comuns, o que está também relacionado à identificação do público. O apresentador costuma trajar roupas de patrocinadores.

Um ponto marcante do programa é a presença de patrocinadores. Atualmente, o Ronda conta com vinte patrocinadores e ainda existe uma fila de espera de empresas que querem anunciar durante as duas horas e quarenta e cinco minutos de programa. Cada patrocinador possui exigências que as produtoras têm que memorizar e cumprir.

O programa tem cinco blocos (cada um com duração média de 30 minutos) e, durante toda a semana, já está pré-definido aonde cada patrocinador vai. Faço só o encaixe das matérias e das atrações. Na segunda-feira, eu faço o rodízio, porque os

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patrocinadores não querem ficar sempre no mesmo horário. (ENTREVISTA COM LÍGIA LEÃO)

Poucas pessoas sabem, mas até o apresentador e a equipe de produção precisam arrumar patrocínio para o programa. Beto Rego ganha comissão por cada patrocínio levado ao ar e esse valor aumenta, caso ele mesmo tenha fechado o negócio. O preço pago por cada patrocinador e o repasse ao

apresentador são informações sigilosas, consideradas “restritas ao Departamento Comercial da TV Meio Norte”.

Nem sempre o retorno do público é favorável quanto aos produtos indicados durante o programa. O apresentador até admite em entrevistas que já recebeu mensagens denunciando problemas no serviço de patrocinadores do Ronda, porém essas

reclamações não vão ao ar, porque ele argumenta que veicular tais insatisfações seria algo “antiético”, tendo em vista que o programa sobrevive de seus patrocínios.

À frente do programa há, praticamente, oito anos, o apresentador Beto Rego não esconde a satisfação em fazer a apresentação de um dos programas mais assistidos da TV piauiense – que é também uma mistura de gêneros.

Meu programa tem uma conotação jornalística porque informa e ajuda, mas ele tem um lado humorístico. É um programa humorístico, crítico e jornalístico. É misto. (ENTREVISTA COM BETO REGO)

Na correria do cotidiano, nem sempre a dupla de produtoras está voltada somente para o Ronda. O aparelho celular é equipamento obrigatório para a produção, na comunicação entre sala de suítes e estúdio. Duas câmeras são designadas para a realização do programa. Uma produtora fica no estúdio para auxiliar o apresentador, enquanto outra continua correndo entre redação e estúdio. Durante o programa, chegam bilhetes, cartinhas e mensagens para o apresentador.

O Ronda não é o mesmo desde sua estreia, em 1995. O sucesso do gênero popular é o que o mantém no ar durante tanto tempo. Além disso, as mudanças ocorridas no programa são constantes. A novidade do ano de 2010 é a participação popular através de uma webcam. “Tem muita gente querendo participar do programa, se ver na televisão. Essa novidade já está sendo um sucesso” (ENTREVISTA COM LÍGIA LEÃO).

A participação do povo não acontece apenas através da webcam. O apresentador possui um canal direto com os telespectadores: um de seus celulares foi disponibilizado apenas para receber ligações e

mensagens da população. Além de pautas para o programa, o apresentador recebe muitos pedidos de ajuda.

Muita coisa enviada pelo povo já virou pauta, muita coisa já foi ao ar. Às vezes, as pessoas passam no momento que acontece algum assassinato ou acidente aí me ligam informando. Logo depois, faço contato com a TV, que direciona alguém para o local. (ENTREVISTA COM BETO REGO)

A repercussão das matérias também é um ponto observado pela produção do programa. Prisões e desfecho de casos são constantemente apresentados. Outra decisão tomada pelas produtoras refere-se às imagens fortes. A produtora Lígia Leão diz que há

preocupação com esse conteúdo mais forte. “Temos o cuidado de colocar efeitos nas matérias, pois percebemos que, no horário, tem muita criança assistindo” (ENTREVISTA COM LÍGIA LEÃO). Porém, esse mesmo cuidado não é efetivamente comprovado durante a exibição de muitas matérias.

No jornalismo da violência, o cidadão comum - que já foi em grande medida agredido pelo ato violento de que foi vítima - recebe nova agressão ao perder sua intimidade e privacidade. A sociedade tem o direito de ser informada, mas jornais e jornalistas precisam refletir sobre formas e procedimentos desta cobertura com base na seguinte premissa: não dá mais para pensar a violência contemporânea com os critérios do

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jornalismo do passado. (GENTILI)

A função do palhaço Chupetinha é dar assistência ao apresentador e divertir os telespectadores. Ridicularizando muitos artistas que se apresentam no programa, soltando frases irreverentes, dançando forró no meio do estúdio ou servindo de saco de pancadas do apresentador. Não importa a performance, o fato é que ele já é marca registrada no programa.

Raimundo Pereira dos Santos Filho, o Palhaço Chupetinha é animador de festas infantis, além de assistente de palco. Ele trabalhava como “Palhaço Tabaquim”, na animação de festas de aniversário e clubes, e conheceu Beto Rego em uma agência bancária. Posteriormente, o apresentador o convidaria para trabalhar no programa Ronda. Há sete anos desempenha funções de animador e assistente de palco do programa, organizando também os produtos de patrocinadores e auxiliando na montagem do cenário.

Entre um bloco e outro, às vezes o palhaço sai do estúdio e o apresentador assume seu papel: o próprio Beto Rego dança e faz palhaçadas em frente às câmeras. Afinal, como o próprio Rego diz:

Na verdade, a gente faz um trabalho bem artístico, de representação. Aquilo tudo que a gente passa no ar é para que as pessoas comentem e gere algum comentário, curiosidade. Sempre que gera curiosidade chama atenção. (ENTREVISTA COM BETO REGO)

Muitas vezes, é o próprio apresentador que pede para mudar a sonoplastia do programa. Acontece, por exemplo, de ele ter que dar uma notícia ruim, de morte ou crime, e estar tocando ao fundo uma música animada. Cada detalhe precisa ser

observado, porque o próprio Rego admite que as pessoas em casa, os telespectadores, observam tudo. Aos poucos, o estúdio começa a esvaziar, conforme as pessoas vão se apresentando.

É necessário muita sintonia entre câmeras-men, produtoras, operadores de áudio e equipe da sala de suítes. Estão todos muito acostumados à correria, às pautas de última hora e ao “entra-e-sai” constante no estúdio.

Mesmo não sendo programa de auditório, a plateia do programa é grande. São cantores, dançarinos, crianças, pais, compositores etc, todos querendo uma chance de divulgar seu trabalho no programa de maior audiência entre as massas de Teresina. O ronda é também o mais longo entre os veiculados pela emissora Meio Norte.

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3. Conclusão

O processo produtivo do programa Ronda é trabalhoso e envolve uma equipe que lida com o improviso e com o planejamento, simultaneamente. Esse programa tem uma relevância muito grande por sua

audiência e pelo impacto que provoca em boa parte da sociedade piauiense.

Mesmo com uma proposta de associar humor e jornalismo, a parte jornalística do programa Ronda é exercida de maneira insatisfatória, tendo em vista que o programa comete atitudes antiéticas graves à categoria jornalística como exposição de conteúdo inadequado ao horário de veiculação do programa. Há muito mais humor que compromisso com o jornalismo.

O programa utiliza-se de convergência midiática, o que é facilitado por ser veiculado por um grupo de comunicação que atua em vários gêneros jornalísticos. Há também uma constante atualização nos quadros do programa, inserindo tecnologias midiáticas como a webcam.

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4. Referências

GENTILI, Victor. A violência no jornalismo: roteiro para discussão. Disponível em:

<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq050598e.htm >. Acesso em: 03 de maio de 2010. GOMES, Itania Maria Mota et alii. Quem o Jornal do SBT pensa que somos? Modos de

endereçamento no telejornalismo show. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, Porto Alegre, no. 25, p. 85-98, dezembro de 2004.

________. Modo de Endereçamento no Telejornalismo do Horário Nobre Brasileiro: o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. In: XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom, Rio de Janeiro, 2005.

_______. Telejornalismo de qualidade: pressupostos teórico-metodológicos para análise. In Compôs, (GT de Estudos do Jornalismo no Encontro Anual da Compós a se realizar em junho, em Bauru/Unesp), 2006.

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