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EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE PORTO ALEGRE/RS URGENTE 1 - DOS FATOS

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EXMO(A). SR(A). DR(A). JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DE PORTO ALEGRE/RS

URGENTE

SINDICATO DOS SERVIDORES DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – SIMPE/RS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 06.274.668/0001-03, com sede na Av. Getúlio Vargas, nº 275, bairro Menino Deus, CEP 90150-001, por intermédio de seus procuradores abaixo firmados, os quais recebem intimações no endereço constante do rodapé, vem à presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO DE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

com pedido de tutela de urgência

em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, pessoa jurídica de direito público, CNPJ 87.934.675/0001-96, com sede na Praça Marechal Deodoro, S/N, nesta Capital, pelos fatos e fundamentos que passa a expor e ao final requerer.

1 - DOS FATOS

A Pandemia de COVID-19 alterou amplamente as relações nos mais diversos estratos, requerendo medidas drásticas de redução do contato entre as pessoas, a fim de evitar a disseminação do vírus e garantir uma curva de contaminação em níveis que permitam a disponibilização de atendimento médico para a população infectada.

Nesse contexto, o Estado do Rio Grande do Sul decretou calamidade pública, com o intuito de possibilitar a adoção de medidas efetivas para evitar os piores cenários de contágio, como a proibição de aglomerações públicas e em ambientes de trabalho no âmbito da Administração Pública. O Tribunal de Justiça do RS e o Ministério Público do RS também editaram normativas nesse sentido.

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Ocorre que, apesar das restrições impostas ao serviço presencial, eventualmente é realizada a convocação de servidores para exercerem diligências urgentes nos setores vinculados à Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri.

Tanto é verdade que, recentemente, o Sindicato-autor teve de ajuizar demanda (nº 50192048220208210001) buscando o reconhecimento da nulidade do ato que determinou a realização de atendimento presencial na Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Porto Alegre, em descumprimento ao Provimento nº 09/2020.

Esta convocação normalmente exige que o servidor se desloque até a sede ministerial, via de regra tendo de utilizar transporte público. Também, é necessário que os servidores realizem diligências externas como, por exemplo, visita a hospitais ou clínicas médicas ou geriátricas.

A quebra do isolamento social permite o contato com outras pessoas, ainda que de forma breve, bem como com objetos e superfícies facilmente contamináveis; o desempenho da diligência, ainda, exige o contato com processos físicos, equipamentos e outros materiais de trabalho sem a correta higienização, bem como o comparecimento a locais com alta possibilidade de contágio. Verifica-se, portanto, que todo o processo de cumprimento das diligências presenciais expõe os servidores ao contágio.

Por essa razão, a Administração Pública deve fornecer equipamentos de EPI - Equipamento de Proteção Individual - em máscaras, luvas e álcool-gel -, bem como deve fornecer transporte individualizado para todos os servidores designados para realização de atendimento presencial ou diligências urgentes, o que não tem sido a regra até o momento, não sendo disponibilizado nem mesmo o álcool-gel, item imprescindível no atual cenário.

Diante de tais circunstâncias, o Sindicato-autor ajuíza a presente demanda com o fim de determinar que o órgão ministerial seja incumbido de fornecer EPIs e transporte individualizado, com o objetivo-fim de garantir a saúde e a própria vida dos servidores.

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2 - DO DIREITO

2.1 - DA LEGITIMIDADE ATIVA

O Sindicato-autor detém autorização estatutária e legal (CF, artigo 8º, III, e Lei nº 8.073, e artigo 284, “a”, da Lei 10.098/94) para o ingresso de medidas judiciais de caráter coletivo em defesa dos interesses individuais e coletivos dos integrantes de sua categoria, inclusive como substituto processual.

Aliás, o Supremo Tribunal Federal, em composição plenária, em inúmeras oportunidades recentes, decidiu, com base no artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal, que toda e qualquer entidade sindical tem legitimidade ativa, na condição de substituto processual, para atuar judicialmente na defesa de todos e quaisquer direitos subjetivos individuais e coletivos dos integrantes da categoria representada, independentemente de autorização dos substituídos, conforme exemplifica a seguinte decisão:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL.

CONSTITUCIONAL. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO. LEGITIMIDADE AMPLA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que os sindicatos têm legitimidade processual para atuar na defesa de todos e quaisquer direitos subjetivos individuais e coletivos dos integrantes da categoria por ele representada. Essa legitimidade extraordinária é ampla, abrangendo a liquidação e a

execução dos créditos reconhecidos aos trabalhadores, independente da comprovação de filiação ao sindicato na fase de conhecimento. Precedentes.

II - Agravo regimental a que se nega provimento.” [g.n.]

(Acórdão unânime da 2ª Turma do STF, de 05.08.2014, no ARE-ED 751500/DF, rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 15.08.2014)

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, igualmente, reafirmou entendimento semelhante ao estabelecido no Supremo Tribunal Federal:

“Processual civil. Embargos de divergência em recurso especial. Dissonância entre entendimentos recentemente manifestados no âmbito da Corte Especial. Legitimidade do sindicato para atuar em juízo na defesa de direitos individuais homogêneos. Reconhecimento, pelo STF, da

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tanto durante o processo de conhecimento, como na fase de liquidação ou cumprimento de sentença. Acolhimento de tal entendimento também no âmbito do STJ” [g.n.]

(Acórdão unânime da Corte Especial do STJ, de 04.12.2009, nos Embargos de Divergência no Recurso Especial nº 760.840/RS, rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe de 14.12.2009)

O Sindicato-autor tem, pois, legítimo interesse de agir na qualidade de substituto processual dos servidores pertencentes à categoria que se encontrem enquadrados na situação fática ora descrita.

2.2 – DA NECESSIDADE DE FORNECIMENTO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E TRANSPORTE

A Constituição Federal eleva o direito à vida a categoria dos direitos fundamentais, protegendo-a no maior grau possível, sendo destacado já no caput do artigo 5º da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e

à propriedade, nos termos seguintes:

Mas não só o direito à vida foi protegido pelo legislador constituinte. Esta tem de vir acompanhada de um grau mínimo de qualidade, que se obtém pelo tratamento adequado das moléstias que atacam o ser humano, o que motiva a inclusão do direito à saúde dentre os direitos constitucionalmente assegurados.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

O artigo 7º, inciso XXII, da Carta Magna estabelece especificamente a proteção ao meio ambiente laboral, ao determinar a adoção de medidas para redução dos riscos inerentes ao trabalho.

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,

higiene e segurança;

A par destes comandos constitucionais, a recente Pandemia de COVID-19 desencadeou uma série de medidas legais para efetivação destes direitos. Nesse sentido, o Governador do Estado editou o Decreto 55.128/2020, através do qual foi declarado estado de calamidade pública em todo o território do Estado do Rio Grande do Sul para fins de prevenção e de enfrentamento à epidemia causada pela COVID-19.

O Artigo 4º deste decreto determina ações necessárias para conter o contágio pela COVID-19 no âmbito da Administração Pública, elencando a redução de aglomerações e circulação desnecessária de pessoas nas repartições públicas como medida essencial neste esforço:

Art. 4º Os Secretários de Estado e os Dirigentes máximos das entidades da administração pública estadual direta e indireta adotarão as providências necessárias para, no âmbito de suas competências:

(...)

II - organizar as escalas de seus servidores, empregados e estagiários de

modo a reduzir aglomerações e evitar circulação desnecessária no âmbito das repartições, de modo a desempenhar as suas atividades

preferencialmente por meio de teletrabalho, sempre que possível, dispensando-os, se necessário, do comparecimento presencial, sem prejuízo de suas remunerações ou bolsas-auxílio;

A seguir, o decreto veda a circulação de processos físicos no âmbito da Administração Pública, como medida complementar, em vista da existência de indícios de que documentos em papel sejam vetores de disseminação do vírus, em razão do tempo alargado em que este permanece ativo sobre este tipo de superfície.

Art. 5º Fica vedada a circulação, o encaminhamento e o recebimento, no âmbito da administração pública estadual, de processos físicos,

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Não obstante, segundo interpretação do próprio Órgão Ministerial, o art. 7º do Provimento autoriza a designação de servidores para o desempenho de diligências urgentes junto à Promotoria de Justiça. O texto dispõe (grifo nosso):

Art. 7.º Os servidores observarão resguardo domiciliar, devendo executar as tarefas, exclusivamente, em trabalho remoto, ressalvado o

atendimento aos casos de urgência.

Caso seja exercida esta exceção, o cumprimento das diligências urgentes exigirá, por óbvio, o deslocamento dos servidores até o local de trabalho, através de transporte público ou privado – este custeado pelo próprio servidor. Durante o trajeto e posteriormente chegando na sede ministerial, o servidor poderá ter contato com pessoas, ambientes e superfícies contaminadas pelo COVID-19. No exercício direto da diligência, os riscos são ainda maiores, uma vez que manuseará equipamentos, papeis e telefone; utilizará elevador; transitará pelos corredores, salas e outros ambientes de uso comum.

Mais ainda, aos servidores incumbidos do cumprimento de diligências externas o risco de contágio se acentua. Convém destacar que a realização de diligências em hospitais é uma praxe corriqueira na atuação destes servidores, podendo ser mantida naqueles casos urgentes, nos termos do Provimento.

Diante disso, é dever da Administração Pública fornecer EPIs – máscaras, luvas, álcool gel e outros produtos esterilizantes – para todos os servidores convocados e aqueles em situação de sobreaviso, bem como disponibilizar transporte individualizado até o local de trabalho, com o objetivo de minimizar ao máximo a exposição ao Coronavírus.

Na oportunidade da ação nº 50192048220208210001, na qual se discute a nulidade de ato proferido pelo Órgão Ministerial convocando servidores para desempenho de demandas presenciais na Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Porto Alegre, a Procuradoria ré manifestou-se no sentido de que o órgão ministerial não disponibilizará tais equipamentos de proteção aos servidores, em obediência às orientações dadas pelas autoridades de saúde pública.

No entanto, o protocolo de prevenção nacional ao novo Coronavírus, elaborado pelo Ministério da Saúde e autoridades internacionais de saúde pública,

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estabelece expressamente que, para as situações em que não for possível cumprir o isolamento social, é imprescindível a utilização de equipamentos de proteção, principalmente àqueles inseridos no grupo de risco ou em contato com pessoas e superfícies potencialmente contaminadas.1

Antes mesmo do surto, a OMS - Organização Mundial da Saúde já havia publicado um documento no qual traçava orientações básicas a serem observadas nos ambientes de trabalho. Cita-se algumas sobre a higienização da estação de trabalho e fornecimento de dispositivos com álcool-gel (grifo nosso)2:

- Cadeiras, mesas, telefones, teclados computadores e outros equipamentos precisam ser higienizados com pano e desinfetante regularmente (a contaminação de superfícies é uma das principais formas de transmissão de covid-19).

- Se possível e em caso de surto, incitar o trabalho remoto (em um esquema de home office, por exemplo) auxilia a evitar contatos desnecessários. Fora isso, os funcionários deixam de usar o transporte público, onde há grandes aglomerações.

- Lenços descartáveis deveriam estar disponíveis em diversos locais do ambiente de trabalho para o empregado assoar o nariz ou tossir sem espalhar gotículas com vírus. Lixeiras com tampa precisam estar ao lado para jogar fora o papel adequadamente.

(...)

- A empresa deveria distribuir dispensadores com álcool-gel em locais visíveis. Esses equipamentos também podem ser usados para colocar sabão líquido no banheiro.

Outrossim, o Ministério da Saúde publicou em seu site oficial (https://coronavirus.saude.gov.br/) uma série de recomendações para evitar o contágio,

1 Ministério da Saúde. Saúde anuncia orientações para evitar a disseminação do coronavírus.

Acesso em: <https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46540-saude-anuncia-orientacoes-para-evitar-a-disseminacao-do-coronavirus>

2 Acesso em:

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dentre elas, enfatizou: higienizar mãos e superfícies de contato coletivo com sabão ou álcool-gel; bem como evitar aglomerações e contato com pessoas doentes ou inseridas no grupo de risco. Tais medidas exigem a disponibilização de produtos e equipamentos que são de dever do Estado, para a população em geral, e do empregador, no caso da relação de trabalho que causa a exposição do empregado ao risco de contágio.

No Brasil, já são mais de 11.000 casos confirmados e 400 mortos. Segundo o gráfico disponível no site da Our World in Data, centro de pesquisas ligado à Universidade de Oxford3, o Brasil apresenta curva de expansão da Covid-19 levemente

menos íngreme que alguns países europeus – como Itália, Alemanha e Espanha – e muito semelhante ao de Portugal. Ocorre que as comparações não consideram as subnotificações dos casos que distorcem os números reais, visto que a grande maioria dos casos da infecção pelo Coronavírus é assintomática ou apresenta sintomas muito leves e acaba não sendo diagnosticada, sendo computados apenas os casos que chegam aos hospitais e são testados, recebendo o diagnóstico oficial.

Embora a OMS mantenha a orientação do uso de máscaras e luvas apenas nos casos sintomáticos, inúmeras autoridades ao redor do mundo mudaram sua perspectiva sobre o uso pela totalidade da população, inclusive o Ministério da Saúde aqui no Brasil. A recomendação oficial de que o público em geral não devia usar máscaras, reproduzida pelos Estados Unidos e outros países ocidentais – ao contrário da China e Coreia, os primeiros países vítimas do vírus, foi motivada unicamente pela necessidade das reservá-las aos trabalhadores sanitários, não havendo respaldo científico para a afirmação de que esses equipamentos de proteção não são efetivos no combate ao COVID-19. Pelo contrário, em vista do objetivo de achatar a curva de contágio, qualquer

3 OUR WORLD IN DATA. Total confirmed cases of COVID-19. Disponível em:

<https://ourworldindata.org/grapher/covid-confirmed-cases-since-100th-case?country=AFG+ALB+DZA+AND+ARG+ARM+AUS+AUT+AZE+BHR+BGD+BLR+BEL+BOL+BI H+BRA+BRN+BGR+BFA+KHM+CMR+CHL+CHN+COL+CRI+CIV+HRV+CUB+CYP+CZE+COD+D NK+DOM+ECU+EGY+EST+FRO+FIN+FRA+GEO+DEU+GHA+GIB+GRC+GUM+GGY+GIN+HND+ HUN+ISL+IND+IDN+IRN+IRQ+IRL+IMN+ISR+ITA+JPN+JEY+JOR+KAZ+KEN+OWID_KOS+KWT+ KGZ+LVA+LBN+LTU+MKD+MYS+MLT+MUS+MEX+MDA+MNE+MAR+NLD+NZL+NER+NGA+NO R+OMN+PAK+PSE+PAN+PRY+PER+PHL+POL+PRT+PRI+QAT+ROU+RUS+RWA+SMR+SAU+S EN+SRB+SGP+SVK+SVN+ZAF+KOR+ESP+LKA+SWE+TWN+THA+TTO+TUN+TUR+UKR+ARE+ GBR+USA+URY+UZB+VEN+VNM>. Acesso em: 07 de abril de 2020.

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política de redução adicional, mesmo que de baixa efetividade, como uso de máscaras cirúrgicas e luvas durante atividades laborais comuns e até nos lares, se mostra de extrema importância.

Nessa linha, inclusive, cabe mencionar recente entrevista feita com George Gao, chefe do Centro Chinês para o Controle e Prevenção de Doenças, para a revista norte-americana Science (publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência), na qual ele aponta quais seriam, do seu ponto de vista, os principais erros que outros países estavam cometendo na hora de conter a pandemia4: “O grande erro nos EUA e na Europa, na minha opinião, é que as pessoas não usam máscaras. Este vírus é transmitido por gotículas e contato próximo. As gotas desempenham um papel muito importante: é preciso usar máscara porque, quando você fala, sempre saem gotas de sua boca. Muitas pessoas têm infecções assintomáticas ou pré-sintomáticas. Se usarem máscaras faciais, você pode evitar que as gotículas que transportam o vírus escapem e infectem os outros”.5

O uso de máscaras caseiras passou a ser um fenômeno internacional no enfrentamento do COVID-19 visando minimizar o aumento de casos. As pesquisas têm apontado que a sua utilização impede a disseminação de gotículas, garantindo uma barreira física que vem auxiliando na mudança de comportamento da população e diminuição de casos. Embora a OMS, a princípio, negue a efetividade do uso do material para evitar a propagação, o Ministério da Saúde - MS, nos últimos dias, deu orientação contrária à da autoridade.

Na tarde de 6 de abril, o MS publicou, através do Boletim de Epistemologia nº 7, números atualizados: o Brasil já conta com mais de 12.056 infectados – representando um aumento de 926 casos em relação ao balanço divulgado no dia anterior, de 11.130 casos; cerca de 553 mortes, dentre as quais 67 foram nas últimas 24 horas. A

4 Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). Disponível em:

<https://www.unasus.gov.br/especial/covid19/markdown/98>. Acesso em: 07 de abril de 2020.

5 EL PAÍS. Máscaras contra o coronavírus, sim ou não? Mandetta defende até as caseiras, feitas de pano. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-04-03/mascaras-contra-o-coronavirus-sim-ou-nao-mandetta-defende-ate-as-caseiras-feitas-de-pano.html>. Acesso em: 07 de abril de 2020.

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taxa de letalidade do vírus no Brasil é de 4,6%6. No mesmo Boletim, ainda, o Ministério

reconhece a necessidade do uso de máscaras e recomenda que a população em geral a use. No entanto, ressalta que o sistema de saúde pública passa por um período de escassez de materiais protetivos até mesmo para os profissionais da saúde, os quais se encontram no front do combate ao COVID-19, conforme excerto abaixo:

Pelo contexto, verifica-se que há todo um esforço por parte das autoridades públicas na tentativa de contenção do COVID-19, principalmente por intermédio de campanhas que sinalizam a importância do isolamento social. Ocorre que a Instituição permanece exigindo a presença de servidores para as demandas urgentes, havendo, inclusive, uma ação judicial para sustar esses atos de convocatória que expõe os servidores à pandemia. Ora, diante do risco assumido pelo Órgão ao insistir em manter as escalas de plantão, exigindo que aos servidores suspendam a quarentena e compareçam ao local de trabalho, é, no mínimo, razoável que se essa se comprometa em fornecer os EPIs e o transporte adequado, ou, ao menos, seja responsabilizado por eventuais danos à saúde e à vida dos servidores.

Com efeito, depreende-se, ainda, que o não fornecimento, ao contrário do que defende o Réu, não está de acordo com as orientações prestadas pelas autoridades nacionais de saúde, visto que, conforme demonstrado até aqui, já é consenso no Ministério da Saúde a necessidade do uso de máscaras e luvas pela população em geral.

6 Ministério da Saúde. Boletim Epistemológico 7. Disponível em:

<https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/06/2020-04-06-BE7-Boletim-Especial-do-COE-Atualizacao-da-Avaliacao-de-Risco.pdf>. Acesso em: 07 de abril de 2020.

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Reitera-se, por fim, que é direito dos servidores exercerem suas atividades em local seguro, que preserve seu direito à vida – art. 5º, CF –, à saúde – art. 6º, CF – e, sobretudo, à minimização dos riscos que advenham do desempenho das demandas urgentes em local potencialmente contaminado – art. 7º, XXII – durante uma pandemia, com força na orientação constitucional e nas recomendações proferidas pelas autoridades de saúde.

Ante o exposto, mostra-se imprescindível que a Administração forneça equipamentos de proteção – como máscaras, luvas, álcool gel e outros produtos esterilizantes – e, ainda, disponibilize transporte individualizado, evitando qualquer tipo de exposição dos servidores ao vírus durante a suspensão do isolamento social, razão pela qual o Sindicato-autor pugna pela total procedência da presente demanda.

3 - DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

Pelas razões expostas e a fim de que a Administração Pública forneça EPIs – máscara, luvas, álcool-gel e outros produtos esterilizantes – e transporte individualizado aos servidores convocados para desempenhar diligências urgentes junto à Promotoria de Justiça, pleiteia, o Sindicato-autor, o deferimento da tutela de urgência ora pugnada.

O art. 300 do Código de Processo Civil autoriza o juiz a conceder a antecipação da tutela quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Os requisitos legais para o deferimento liminar da tutela antecipatória, no presente caso, encontram-se plenamente configurados.

A probabilidade do direito deflui dos fundamentos acima expendidos.

Já o requisito do perigo de dano irreparável ou de difícil reparação revela-se, sobretudo, pela real possibilidade de contágio dos servidores que deverão se dirigir ao prédio da Promotoria, em evidente aglomeração de pessoas e contrariando todas as recomendações das autoridades de saúde nacionais e internacionais.

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Presentes os pressupostos informadores da concessão liminar da tutela antecipatória, imperioso se torna o deferimento da mesma, inclusive inaudita altera parte, mormente em face da inequívoca irreparabilidade do dano.

4 - DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Ao Sindicato-autor, na qualidade de substituto processual da coletividade que representa deve ser concedida isenção do pagamento das custas processuais, aí compreendidas as de distribuição, as recursais e as custas do processo em geral, como forma de garantir e viabilizar o livre acesso ao Judiciário aos trabalhadores substituídos.

Demais disso, o Superior Tribunal de Justiça atualmente vem entendendo que a simples afirmação de hipossuficiência, para os fins de obtenção do benefício da assistência judiciária gratuita, na petição inicial, constitui-se presunção juris tantun, sendo de ser concedida, de plano, isentando o Sindicato-autor do pagamento de custas, honorários periciais e eventuais honorários sucumbenciais.

É o que requer, com fundamento nos artigos 2º, 4º e 12 da Lei nº 1.060/50 e 5º, LXXIV, da CF.

5 - DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) antecipação da tutela jurisdicional, inaudita altera parte, nos termos do artigo 300 do NCPC, que:

a.1) determine ao réu o imediato fornecimento de EPIs – máscara, luvas, álcool-gel e produtos esterilizantes – e transporte individualizado para os servidores convocados para atendimento presencial ou cumprimento de diligências urgentes;

a.2) fixação de multa diária, em favor do Sindicato-autor, para o caso de descumprimento da medida antecipatória que venha a ser deferida;

b) entendendo Vossa Excelência pela necessidade de manifestação do réu, seja o mesmo intimado para se manifestar acerca do pedido antecipatório em prazo razoável, com a posterior análise do pedido;

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c) citação do réu, na pessoa de seu representante legal, para, querendo, contestar a presente ação, sob as penas da lei;

d) julgamento final de procedência da presente ação, com a confirmação da antecipação da tutela jurisdicional, para fins de declarar o dever de fornecimento de EPIs e transporte aos servidores convocados para atendimento presencial ou cumprimento de diligências urgentes;

e) a concessão da assistência judiciária gratuita, sendo dispensado do pagamento de custas e de eventual pagamento de honorários periciais e sucumbenciais, a teor da fundamentação apresentada, na forma da Lei;

f) condenação do réu ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como de honorários advocatícios a serem arbitrados por esse Juízo;

g) admissão da prova do alegado por todos os meios admitidos em direito, especialmente pericial, documental e testemunhal.

Valor da causa: R$ 1.000,00 (mil reais).

Nesses termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre, 07 de abril de 2020.

Jefferson dos Santos Alves OAB/RS 89.504

Rogério Viola Coelho OAB/RS 4.655

Marco Aurélio Pereira da Silva Karine Vicente de Matos

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