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CONHECIMENTO, INOVAÇÃO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

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Academic year: 2021

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PROSPECTIVA E PLANEAMENTO, Vol. 162009

CONHECIMENTO, INOVAÇÃO E POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO

REGIONAL

Mário Vale1

Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Centro de Estudos Geográficos Universidade de Lisboa

1. INTRODUÇÃO

A centralidade do conhecimento e da inovação para o crescimento económico e criação de emprego é um dos elementos distintivos das economias avançadas. Bell (1973) anunciou, nos anos 1970, o fim das sociedades industriais típicas do capitalismo do séc. XX e a relevância da ciência e da tecnologia na nova sociedade do conhecimento, hoje consideradas factores indispensáveis para a competitividade das empresas e para o desenvolvimento das economias regionais e urbanas (Scott 2001; Van Winden et al. 2007).

A partir dessa data, o debate em torno da geografia da inovação intensificou-se na comunidade académica, oscilando, no essencial, entre duas posições contrastadas. Na primeira, as redes de inovação estão relacionadas com as vantagens da aglomeração geográfica, em que a proximidade espacial facilita a geração de externalidades e o processo de aprendizagem localizada. O papel de aglomeração nas redes de inovação é tipicamente representado pelos conceitos de “distrito industrial”, “cluster” e “meio inovador”. Estes modelos de inovação territorial sublinham as condições territoriais particulares que promovem a geração localizada e difusão de conhecimento através de redes de empresas inovadoras, universidades e outras instituições. No entanto, esta tendência tem sido criticada precisamente pela ênfase excessiva atribuída às redes localizadas na criação e difusão de conhecimento (Oinas 2000, Boschma 2005, Torre e Rallet 2005), em consequência das possibilidades de interacção oferecidas pelo crescente

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uso das TIC e da redução dos custos de transporte, facilitando a operação eficaz de comunidades de prática através de espaço. Com efeito, as redes de produção são frequentemente multi-escalares, estendendo-se do local ao global e vice-versa (Dicken e Malmberg 2001), permitindo a produção de novo conhecimento e inovação através de formas de organização em redes trans-regionais (Doz et al. 2001).

Podemos perguntar quais são as implicações desta nova arquitectura organizacional, que extravasa os limites das regiões, para as políticas de desenvolvimento regional. De facto, se o foco de análise for a aglomeração geográfica, os sistemas regionais de inovação2 (Cooke 1992; Cooke e Morgan 1998) ou as políticas de criação ou desenvolvimento de clusters tendem a ser privilegiados, pois em ambas as perspectivas se considera a proximidade geográfica como um elemento-chave no processo de inovação ao nível regional. No entanto, com a afirmação das redes distantes de conhecimento enquanto formas organizacionais eficientes para explorar e examinar o conhecimento, parece adequado proceder a uma mudança do foco da política de inovação do quadro regional para o inter-regional. Neste sentido, Bathelt et al. (2004) afirmam que é necessário apoiar o estabelecimento de canais de conhecimento com locais distantes, aquilo a que os autores chamam “pipelines”, abrindo uma nova área de actuação para as políticas de desenvolvimento regional que, no essencial, deve reforçar a internacionalização, a mobilização de recursos não-locais e a cooperação territorial internacional.

Neste artigo, argumenta-se que estas duas perspectivas são complementares e que o debate dicotómico decorre da ausência de um entendimento claro dos diferentes tipos de conhecimento subjacentes aos processos de inovação. De acordo com Asheim e Gertler (2005), certos tipos de conhecimento são menos sensíveis aos constrangimentos espaciais e, como tal, a sua difusão espacial é mais fácil e rápida. Na verdade, o conhecimento analítico (saber porquê) é essencialmente codificado, altamente abstracto e universal e até certo ponto menos sensível ao contexto espacial quando comparado com o conhecimento sintético (saber como) e simbólico (saber quem). Estes tipos difundem-se mais lentamente no espaço devido ao seu carácter tácito (especialmente no tipo simbólico) e, assim, patenteiam maiores níveis de discrepância entre lugares. Considerando que as diferenças sectoriais se relacionam com tipos distintos de conhecimento, parece evidente que as respostas de política devem equacionar estas diferenças para responder eficazmente às necessidades das empresas e das regiões, em vez de seguirem rigidamente um ou outro modelo. Argumenta-se, portanto, que as questões em aberto têm sido mal colocadas e que em vez de antagonismo é mais

2 São diversas as organizações – por exemplo, OCDE e Comissão Europeia – que advogam mesmo a inevitabilidade do apoio aos sistemas regionais de inovação (SRI) no desenho de políticas de inovação territorial.

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adequado adoptar-se uma visão de complementaridade entre os diferentes modelos em discussão.

O artigo estrutura-se em três partes principais. Na primeira parte, revisitamos o debate teórico em torno do papel da aglomeração na criação de conhecimento e das dinâmicas de inovação e, em seguida, expõe-se o debate recente sobre a emergência de outras formas de proximidade e das redes distantes de conhecimento nos processos de inovação. Na segunda parte, examinamos as principais orientações de política de desenvolvimento regional e local para a inovação, especialmente a política de clusters e de Sistemas Regionais de Inovação (SRI), apontando algumas limitações face às novas dinâmicas territoriais do conhecimento e da inovação. Finalmente, são propostas novas direcções para as políticas territoriais de promoção de redes de inovação com lógicas espaciais multi-escalares.

2. ESPAÇO, CONHECIMENTO E REDES DE INOVAÇÃO 2.1. Ilhas de inovação: a força da aglomeração geográfica

O conhecimento é um factor fundamental para a inovação e crescimento económico e desenvolvimento regional. Conhecimento e inovação têm um papel determinante na introdução de novos produtos ao mercado, novos processos de produção e práticas de organização que são essenciais para a vantagem competitiva de empresas e regiões (Feldman e Stewart 2006). No entanto, as redes de inovação são mais relevantes para entender a dinâmica de inovação numa região. Amin e Cohendet (2004) referem que as relações de interdependência são decisivas para as dinâmicas de inovação, estabelecendo-se por via da formação de redes de relações entre agentes e fontes de conhecimento.

Como tal, os sistemas localizados de inovação captura(ra)m a atenção de economistas, geógrafos e cientistas regionais, destacando-se a proximidade e a inter-relação de agentes locais na explicação do sucesso de determinadas aglomerações. Os conceitos de “distrito industrial” (Bagnasco 1977, Becattini 1987), “cluster” (Porter 1990 e 1998) e o “meio inovador” (Aydalot 1986, Camagni 1991) ilustram de forma clara, embora diferenciada, o papel da aglomeração industrial e das redes de agentes no processo de inovação3. Estes contributos teóricos salientam as condições territoriais particulares que promovem a geração localizada de conhecimento e difusão por redes de empresas inovadoras, universidades e outras instituições (Antonelli 1999, Cooke 1996, Peck 2003, Moulaert e Sekia 2003, Amin e Cohendet 2004). Em suma, o tipo de conhecimento tácito

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