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APRENDER FAZENDO: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A TRASNFORMAÇÃO SOCIAL NO TRABALHO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

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APRENDER FAZENDO: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E A

TRASNFORMAÇÃO SOCIAL NO TRABALHO DA EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA

Amanda dos Santos Lemos; Jéssica Souza Lima dos Santos; Vanessa Costa Neves de

Souza

Universidade Castelo Branco (amandalemos@castelobranco.br)

Resumo: Identificando os desafios a serem enfrentados, a partir do envelhecimento da população, a Universidade Castelo Branco/RJ (UCB), através de sua Pró-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEXT) e do Programa Laboratório de Extensão-Organização de Experiências em Serviço Social, Trabalho e Educação (Lext-Oesste), desenvolve o Projeto Tempo de Aprender, que pretende, a partir de atividades socioeducativas e lúdicas, permitir ao idoso, sua participação ativa na sociedade, reconhecendo que o processo de envelhecimento ocorre em todos os tempos e significa que este mantém condições de alcançar novos rumos e dar continuidade a construção da sua história em todos os aspectos. Além de cumprir sua missão, enquanto Universidade, promovendo a integração entre a Academia e a comunidade, o trabalho na Extensão, permite o aprimoramento do processo de formação profissional, oportunizando que o aluno vivencie os desafios inerentes a intervenção profissional e vivencie a prática interdisciplinar na construção de seus processos de trabalho.

Palavras Chaves: Envelhecimento, Extensão Universitária, Formação Profissional, Direitos Sociais, Interdisciplinaridade.

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1. Introdução:

Para sua constituição, uma Universidade deve promover e zelar pela indissociabilidade do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, garantindo não somente uma formação completa, mas principalmente, que os avanços científicos e tecnológicos produzidos na Academia, sejam compartilhados, trazendo melhorias para a sociedade, especialmente, para a região geográfica onde está inserida.

Em sua trajetória de significativa inserção na Zona Oeste, a Universidade Castelo Branco (UCB), possui como diferencial, sua preocupação com o desenvolvimento local e regional, o que está expresso em sua Missão Institucional:

(...) contribuir para a construção e o desenvolvimento sustentável de uma sociedade mais justa e com igualdade de oportunidades para todos ao oportunizar, numa perspectiva crítico reconstrutiva, a socialização e a produção do conhecimento científico, formando profissionais para intervir em diferentes áreas de atuação acadêmico profissional, tendo como princípios pressupostos humanísticos, da inclusão social e da cidadania emancipada. (UCB: 2015)1

O bairro de Realengo, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro, segundo dados do Instituto Pereira Passos (IPP) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresenta um dos menores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município, dados que refletem a falta de políticas públicas de qualidade na região, que tornam sua população vítima da escassez de recursos e da falta de oportunidades.

Não acreditamos que o trabalho da Universidade vá suprir a ausência do Estado, no que diz respeito ao provimento de condições dignas de moradia e desenvolvimento para esta população, mas, faz-se imperioso que a Universidade efetive sua função na localidade, trazendo assim, alguma melhoria para essa população. Com isso, a atividade de Extensão repassa a sociedade em geral, o conhecimento desenvolvido e construído pela Universidade, requalificando seus quadros de acordo com novas exigências científicas, tecnológicas e novos desafios culturais. As atividades de Extensão abrem espaço para o debate e reflexões com as organizações sociais, com o poder público e com o próprio cidadão, a respeito das realidades nacionais, regionais e locais, trazendo efetivas contribuições da tecnologia, da ciência e da cultura.

Entendemos que a Extensão da UCB deverá sempre articular-se com ao Ensino e a Pesquisa, ampliando a relação entre a Universidade e a Sociedade, contribuindo simultaneamente, para o desenvolvimento científico e tecnológico e para o atendimento das necessidades da sociedade, implementando experiências exitosas que dão um diferencial ao processo de formação profissional.

2. O Trabalho na Extensão Universitária com a População Idosa

1 Dados disponíveis no site da Universidade: http://www.castelobranco.br/site/index.php/conheca-a-castelo/missao-e-visao.html. Acessados em 02

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A partir da publicação do Plano Nacional de Extensão Universitária (1998), a Extensão Universitária assume o caráter de atividade acadêmica indispensável à produção do conhecimento e à intervenção na realidade. O conceito de Extensão presente no referido documento, a coloca como processo educativo, cultural e científico, que por meio da indissociabilidade entre o Ensino e a Pesquisa, é capaz de transformar a relação entre Universidade e Sociedade. Nesta perspectiva, a Extensão constitui-se como um espaço privilegiado para a formação do profissional cidadão, capaz de formular uma compreensão crítica e reflexiva da realidade, reunindo assim, meios e estratégias para a superação das desigualdades sociais.

Através da Pró-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEXT), a UCB desenha uma Política de Extensão que está balizada na sua vocação institucional, mas, sobretudo no compromisso social e ético-político que a vincula ao propósito de melhoria da qualidade de vida da população, agregando valores democráticos de equidade e justiça social.

Concretamente, a Extensão na UCB define sua atuação por meio de ações que se referenciam no campo da inclusão e da responsabilidade social, considerando a dimensão da participação da Universidade no desenvolvimento econômico e social da região, na defesa dos direitos humanos e sociais da população, na defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural. As Ações desenvolvidas no âmbito da PROEXT estão circunscritas nos programas, projetos, cursos, eventos, publicações e outros produtos acadêmicos voltados para o enfrentamento das demandas sociais da população, em especial, moradora do entorno da Universidade, bem como à promoção e ampliação do debate acadêmico em torno das expressões da Questão Social2.

É na interação entre Ensino e Pesquisa, que a Extensão se reafirma como prática acadêmica estratégica, inserida nas dinâmicas e rotinas institucionais e, presente nas construções curriculares, baseadas nos grandes pilares da Educação: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser. (DELORS: 1999)

No intuito de tornar as ações da Extensão mais dinâmicas e organizadas, a PROEXT, em uma atitude inovadora implementa o Núcleo de Gestão de Programas Sociais (NGPS), cujos objetivos inscrevem-se na articulação das ações dos programas e projetos desenvolvidos pela Extensão, bem como, dar maior racionalidade, padronização e otimização aos mesmos; eleição e afirmação de áreas de concentração de estudos para a graduação, possibilitando a consolidação de linhas de pesquisa e ampliação das possibilidades de obtenção de financiamentos externos e parcerias interinstitucionais, para ampliação de suas ações.

O NGPS consegue agrupar uma série de cursos em seu “guarda-chuvas”, promovendo assim a interdisciplinaridade entre as diferentes áreas do conhecimento, oportunizando uma vivencia diferenciada

2 Segundo Iamamoto (1999, p. 27), a Questão Social pode ser definida como: O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista

madura, que têm uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade.

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aos alunos que integram o núcleo e a produção de conhecimento. Reafirmar o compromisso institucional e social, de formar mais que profissionais qualificados, mas, principalmente, cidadãos críticos, proativos, responsáveis e comprometidos com a contribuição na construção de uma sociedade inclusiva, cidadã e sustentável.

Olhando pela lente das necessidades humanas e sociais, a UCB se vê continuamente desafiada a buscar imprimir uma lógica que supere as fragmentações e segmentações dos saberes e práticas, decorrentes da descentralização técnica, política e administrativa. Não cabe mais, uma visão da Extensão restrita a prestação de serviços de caráter assistencial e cultural, mas para além desta perspectiva, coloca-se a exigência de um empreendimento coletivo, institucional, alicerçado na responsabilidade e no compromisso de estruturar padrões de ações conjuntas, orgânicas e interdisciplinares, que possam conferir maior visibilidade e legitimidade social da Universidade junto à sociedade e vice-versa. Reafirma-se, assim, o compromisso com a promoção e garantia de valores democráticos, de igualdade e desenvolvimento social, em reposta às demandas da sociedade e das múltiplas expressões da Questão Social. (Política de Extensão da UCB: 2010) Atualmente, os programas e projetos sociais, realizados pela UCB, via PROEXT, agrupam vários cursos e temáticas, buscando a integração entre a Academia e a comunidade, trazendo a baile questões contemporâneas e urgentes, que demandam não só intervenção, mas, reflexões, que levarão a produção do conhecimento e a realimentação das práticas profissionais.

Destaca-se nessa reflexão a experiência do curso de Serviço Social, com o projeto Tempo de Aprender3, uma

das frentes de atuação do Programa Lext-Oesste4, voltado para o atendimento da população idosa, vem alcançando resultados expressivos no que diz respeito a participação e a autonomia da população idosa. Logo, as atividades oferecidas aos participantes do Projeto Tempo de Aprender têm a perspectiva da educação emancipadora, buscando promover ações que promovam a autonomia e a interação do idoso no seu convívio familiar e comunitário. O objetivo do nosso trabalho é democratizar o acesso à cultura e a educação, utilizando as vivências cotidianas para ilustrar e incentivar a participação do idoso na vida comunitária e também promover o acesso à tecnologia e a direitos e benefícios sociais.

3 Hoje atendemos um grupo de, aproximadamente, 50 idosos. Na sua maioria mulheres; a faixa etária do grupo varia entre 60 a 93 anos; a

escolaridade varia entre o ensino fundamental e médio, tendo um pequeno percentual com formação superior; são moradores dos bairros adjacentes a campus Realengo; muitos participantes são aposentados e participam de outros projetos sociais próximos a sua residência. Além disso, todos os participantes apresentam elevado grau de preservação cognitiva. Outra característica que diferencia os participantes do Projeto Tempo de Aprender dos demais projetos sociais existentes nos bairros da Zona Oeste é a independência econômica em relação a seus familiares. São participantes que não apresentam situação de vulnerabilidade social e não dependem de seus familiares para participarem do projeto.

4 O Programa Lext-Oesste está vinculado à extensão da UCB desde 2001, quando surge como parceiro de um outro Programa de Extensão, o

Programa Micro Escola, visando consolidar o estágio na Extensão Universitária, desenvolvendo e promovendo ações de capacitação aos discentes e docentes, realizando práticas investigativas e interventivas na Zona Oeste do município do Rio de Janeiro, articulando a relação trabalho x educação (Almeida, 2001), tendo como característica a articulação entre o Ensino, a Pesquisa e a Extensão “a discussão de seu eixo de sustentação conceitual e campo teórico-prático de projeto, trabalho-educação, dá destaque ao programa no cenário intelectual”.

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O avanço das discussões acerca do envelhecimento tem colocado iniciativas como está em evidência e neste pensamento, o Projeto Tempo de Aprender legitimou-se, a partir da necessidade de promover a autonomia, integração e participação efetiva na sociedade da população idosa, moradora nas proximidades do campus sede da UCB5. O nosso trabalho propõe desenvolver atividades que reconstruam e/ou preservem a autonomia da pessoa idosa, numa perspectiva interdisciplinar, agrupando diferentes áreas de conhecimento no objetivo de oportunizar o aumento da qualidade de vida e o protagonismo da população idosa.

Ao procurarem o projeto, os idosos informam que buscam ocupar o tempo que está ocioso; ampliar conhecimentos; conhecer novas pessoas e oportunizar a troca e a valorização de experiências vividas. No entanto, observamos que o idoso busca outro espaço de socialização, de pertencimento, de identificação já que não trabalha mais, não tem os mesmos compromissos de antes, assume outro papel na família, alcançou outra etapa em sua vida. Quanto à família dos participantes, a maioria está estruturada numa dinâmica inter geracional de três gerações, sendo relevante sublinhar a possibilidade que o projeto nos dá, de pesquisar e discutir o papel/relação do idoso com a família.

A questão do envelhecimento não diz respeito apenas à população idosa, porquanto o crescimento demográfico atualmente é uma preocupação que afeta toda sociedade a nível mundial, e em particular, no Brasil a discussão desta temática ainda pode-se considerar recente e vem sendo um dos grandes desafios para o país no que tange a elaboração de políticas públicas voltadas para a garantia de qualidade de vida da população idosa, que requer uma articulação entre as políticas setoriais, entre os órgãos de governo e a sociedade em geral. Os direitos específicos da população idosa ficam enaltecidos na Política Nacional do Idoso – PNI (Lei 1.842, promulgada em 04, de janeiro de 1994), de prevê proteção ao idoso na área da assistência social, da saúde, da educação, da habitação e urbanismo, da justiça e da cultura, esporte e lazer. Bruno (2003) quando considera que a sociedade brasileira ainda traz consigo a ideia reducionista de ser cidadão e que a Sociedade Civil, em sua totalidade, não compreende que a cidadania não se resume a conhecer direitos e deveres instituídos por lei, mas sim de exercê-los plenamente. Interessante é instrumentalizar o público idoso para o pleno exercício da cidadania, formar sujeitos políticos e críticos, ativos, participativos, propositivos na sociedade. Ao encontro desta concepção de cidadania, consideramos que podemos contribuir para despertar a

apreensão da realidade do segmento idoso na conquista de espaço na sociedade como detentor da autonomia necessária para exercer o papel de protagonista na luta pela garantia dos seus direitos.

5 O campus sede da Universidade Castelo Branco, fica localizado no bairro de Realengo, bairro pobre do subúrbio carioca que figura na lista dos dez

bairros com mais idosos no Brasil (Fonte: http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/rio-tem-9-dos-10-bairros-com-mais-idosos-do-brasil-diz-censo-2010-do-ibge-20110701.html). Segundo o Instituto Pereira Passos (IPP-Rio, que é uma autarquia da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro que tem como missão prover subsídios para o aprimoramento das políticas públicas na cidade), atualmente existem, aos arredores do bairro de Realengo, cerca de 30 favelas. Ainda segundo o IPP, entre 1994 e 2004 houve uma variação de 3,83% no crescimento das favelas deste bairro. Se fizermos um rápido passeio pelas ruas do bairro, logo perceberemos a ausência de equipamentos e serviços que garantam a qualidade e o atendimento integral das necessidades da pessoa idosa, acentuando a situação de exclusão vivida (muitas vezes) pelo idoso.

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Torna-se, portanto, necessária à adoção de políticas que habilitem os idosos e respaldem a continuidade deles em nossa sociedade, estabelecendo novos papéis sociais de participação e inclusão e promovendo o desenvolvimento da independência e autonomia na vida social. (BERZINS, 2003, p.35)

Em direção a esta conquista, cabe pontuar brevemente a caminhada brasileira acerca das políticas sociais voltadas para a população idosa, que em relação aos países desenvolvidos, desenvolveu-se diferentemente, isto é, de forma lenta e gradual, como acontece até os dias atuais, sendo este avanço resultado da luta de classes e organização dos movimentos sociais. No caso brasileiro, as políticas sociais, particularmente pós-64, tem-se

caracterizado pela subordinação a interesses econômicos e políticos. A matriz conservadora e oligárquica, e sua forma de relações sociais atravessadas pelo favor, pelo compadrio e pelo clientelismo, emoldura politicamente a história econômica e social do país, penetrando também na política social brasileira. (YAZBEK, 1993, p. 40-41)

A política social brasileira mantém até os dias atuais características que reproduzem a dependência e a subalternidade, que cercadas pelos interesses do Estado em dar continuidade a pseudo-concreticidade6 da universalização das políticas sociais, geram a intensificação das condicionalidades para a elegibilidade dos programas sociais e o estreitamento na garantia ao acesso dos direitos sociais.

A velhice inclusive, durante longos anos, teve suas demandas respondidas pela esfera privada e familiar e, gradualmente, estendeu-se como uma questão pública, tendo como iniciativas estatais em 1975 a criação do Programa de Assistência ao Idoso (PAI), oferecendo oficinas socioculturais e atividades de lazer. Em 1987, com a reformulação da Legião Brasileira de Assistência (LBA)7 e o PAI, transformado em Projeto de Apoio à Pessoa Idosa (PAPI), tinha:

(...) suas ações voltadas para as pessoas idosas, visando dar-lhes oportunidades de maior participação em seu meio social e, também, desenvolver a discussão ampla de sua situação como cidadãos, suas reivindicações e direitos, além de valorizar todo o potencial de vivência dentro das comunidades. (RODRIGUES, 2001, p.20)

Já no início da década de 1990, o então presidente Fernando Collor lançou o Projeto Vivência8, que desenvolvia ações em diversas áreas de atendimento às necessidades da população idosa, inclusive atividades que preparavam para a aposentadoria. Mais recentemente, foram promulgados a PNI e o Estatuto do Idoso, elevando a questão do envelhecimento a uma política pública.

6 Esta lógica imposta pela sociedade capitalista contribui para a despolitização dos sujeitos sociais.

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Embora constitucionalmente tenhamos conquistas democráticas pelo viés, já mencionado, das lutas de classes e organização dos movimentos sociais, é explícita a discrepância existente entre os textos legais e a concretização dessas conquistas, fragilizando inevitavelmente a perspectiva da universalização de direitos. Esse distanciamento entre as determinações legais e a realidade vivenciada, se dá pela falta de uma administração pública comprometida com a efetivação das políticas sociais9.

A preocupação com o crescimento da população idosa e o enfrentamento de suas demandas, sobretudo como se referencia na Constituição Federal de 1988, são implantados sequencialmente, a PNI que estabelece em seu primeiro Artigo como objetivo “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” e, o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso10 . Consideramos este último, espaço efetivo de participação e controle social, no caso específico da população idosa, espaço para efetivação, fiscalização e avaliação de atividades e serviços viabilizados pelas políticas socais voltadas para o atendimento das necessidades dessa parcela da população.

Identificando os desafios a serem enfrentados no atendimento das necessidades da população idosa, a UCB através de sua PROEXT, procurou ofertar um projeto/serviço que oportunizasse ao idoso um espaço para além “da ocupação de seu tempo”. Pretendíamos ofertar para a população idosa um espaço para a promoção da cidadania, ou melhor, para a instrumentalização para o pleno exercício da cidadania e a construção de uma consciência coletiva e crítica. Objetivávamos, a partir dessa integração suscitar também a produção de conhecimento específico sobre a população idosa moradora da zona oeste da cidade e, assim, contribuirmos para as reflexões sobre as mudanças demográficas em nosso país.

Criado em 2007, a partir de uma exigência da disciplina de Estágio Supervisionado em Serviço Social II, o Projeto Tempo de Aprender, apresentasse hoje como uma experiência consolidada e bem-sucedida dentro da PROEXT UCB. Com um público fiel e uma equipe interdisciplinar motivada pela relevância do trabalho, o Tempo de Aprender chega ao 8º ano com o mesmo vigor e inovação de seu início.

Nossas atividades são programadas semestralmente, tendo diversidade quanto às temáticas abordadas para cada período letivo. A partir da temática escolhida, as atividades são planejadas pelos estagiários do curso de Serviço Social, Fisioterapia, Educação Física, Tecnologia da Informação e Ciências Biológicas, sob supervisão de seus professores e o coordenador do projeto. Assim acontecerão oficinas socioeducativas,

9 Neste contexto, o Estado transfere a sua responsabilidade de executor das políticas sociais para as organizações do terceiro setor (empresas privadas,

ONG’s, sociedade civil, etc.), e assume os papéis de financiador e regulamentador, abraçando o discurso da “desburocratização” e da busca pela eficiência na prestação de serviços, onde manipula a consciência da população em acreditar que os serviços e aparelhos geridos pela esfera pública estão “falidos”, contribuindo implicitamente para a mercantilização dos direitos sociais, onde quem têm condições de acessá-los pelos meios privados assim farão e, os demais, terão seus direitos mínimos garantidos com à imagem de um favor concedido.

10Espaço público enquanto prática democrática, destinado ao segmento idoso. Bredemeier (2003) aponta a paridade como ideia central na criação dos conselhos, isto é, refere-se à oportunidade de ambas as partes, sociedade civil e governo, discutirem, negociarem e deliberarem as políticas sociais que atendem às demandas do segmento populacional, em questão, o idoso.

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aulas de dança, oficinas de tecnologia, alongamentos e relaxamentos integradas e geradas a partir de uma temática comum a todas as áreas.

Mais uma vez, ressaltamos que este é um trabalho interdisciplinar, como premissa de trabalho da PROEXT, reúne diferentes esferas do conhecimento na tentativa de entrelaçar os fios que tecem a cidadania. Parafraseando o Código de Ética Profissional do assistente social "incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar". (CFESS, 1993)

Iniciativas como esta é que consolidam a Extensão Universitária e a Cidadania.

Partindo da premissa que o termo “Terceira Idade” sugere que a velhice representa uma fase advinda da sociedade contemporânea, caracterizada por um envelhecimento ativo, atribuindo a aposentadoria uma nova etapa de vida voltada para o lazer e a atenção maior no cuidado a saúde, entendemos o Projeto Tempo de Aprender como um espaço para, coletivamente, aprendermos um pouco mais sobre esta “nova fase”. Segundo Mercadante (2003, p.55) na Terceira Idade “nada se acaba definitivamente, [...]; ao contrário, tudo pode acontecer. Há uma ideia clara de futuro, em que projetos novos e também projetos antigos e esquecidos podem ser agora realizados”. Embora, tenhamos um posicionamento crítico em relação ao uso do termo “Terceira Idade”, acreditamos que este pode ser o mote para conferirmos a pessoa idosa o emponderamento e auto crença necessária, para que possam participar ativamente da vida em comunidade.

As oficinas de inclusão digital, por exemplo, não objetivam ensinar técnicas de uso de softwares, mas são atividades que aproximam o idoso das tecnologias digitais e assim, desconstroem alguns estereótipos que relegam o idoso à exclusão digital. Em alguns casos, o primeiro contato do idoso com o computador acontece nas oficinas de inclusão digital. Os estagiários de Serviço Social criaram um blog11 para o projeto onde os idosos e os outros estagiários e professores envolvidos podem compartilhar suas experiências, se comunicar ou discutir uma atividade realizada.

Em relação às oficinas socioeducativas, a equipe de Serviço Social construiu um espaço coletivo privilegiado entre os participantes, estagiários e profissionais com a produção de novos saberes e a troca de experiências, comprometendo-se com a dimensão política de qualquer intervenção. O Serviço Social reconhece esse idoso como sujeito crítico, em todo tempo, buscamos utilizar situações cotidianas a que o idoso esteja submetido a fim de instrumentalizarmos esta população para o enfrentamento consciente dessas situações, para que ele se posicione ativamente, como sujeito de direitos que é, para que ele se reconheça como tal. Como resultado, os usuários têm apresentado o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo acerca da realidade e a ampliação de sua autonomia, que tem contribuído para a consolidação de maiores condições para a sua participação na sociedade a partir, inclusive do aumento da autoestima dos mesmos quanto à valorização de sua imagem.

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As oficinas da Fisioterapia estimulam o corpo, melhoram a qualidade de vida, permitem um (auto) redescobrimento. A disciplina de Ciências Biológicas discute a fauna brasileira, a partir da apresentação de diferentes espécies de aves e de animais peçonhentos, apresentando os riscos que estes podem representar e, ações preventivas para que acidentes domésticos sejam evitados ou remediados.

Duas vezes a cada semestre são realizadas atividades externas, passeios culturais que complementem as atividades realizadas nas dependências da Universidade. Disponibilizamos o transporte e procuramos sempre lugares gratuitos ou com valores acessíveis, para viabilizar a ida de familiares, promovendo assim, a integração do idoso com sua família e sua integração com a comunidade. A finalidade de despertar o desejo dos idosos pelo conhecimento e a diversidade cultural do nosso país tem sido alcançado, visto que os idosos aguardam ansiosamente por este momento, inclusive sendo uma contribuição para que os laços culturais não se rompam com o passar do tempo. Por meio das atividades externas, os idosos têm a oportunidade de maior integração entre o grupo, também sendo um momento de lazer e curiosidades.

Ao término de cada semestre realizamos um seminário, onde idosos e estagiários apresentam tudo o que aprenderam no período. O seminário é uma atividade apresentada pelos participantes do Projeto Tempo de Aprender, auxiliados e orientados pela equipe do projeto; é uma atividade aberta ao público em geral, realizada no Teatro Carlos Wenceslau, localizado nas dependências da UCB, tendo apresentações de dança, teatro, poesias, exibição de vídeos, etc., o intuito desta atividade é apresentar ao público de forma criativa e participativa, os resultados de todo o trabalho desenvolvido ao longo do semestre. Reconhecemos a importância da realização desta atividade, uma vez, é o espaço em que os participantes socializam todo conhecimento apreendido naquele momento, consolidando o trabalho que é desenvolvido por nossa equipe, valorizando a participação de cada participante, de cada familiar, de cada estagiário e professor, valorizando o trabalho que ali é desenvolvimento, o trabalho que acreditamos, o de transformação da realidade.

3. Considerações Finais

Considerando a trajetória do Projeto Tempo de Aprender na PROEXT, como um espaço coletivo que promove a cidadania, desenvolve a autonomia e fortalece os vínculos familiares e comunitários dos usuários, podemos entender que este trabalho se configura como “(...) espaços de inclusão social do idoso promovendo sua participação, através das diversas atividades desenvolvidas, refletindo sobre o processo de envelhecimento, a qualidade de vida e a valorização da própria vida”. (KURZ; MORGAN, 2012)

Se tivermos como referência os Centros de Convivência do Idoso, percebemos que o Projeto Tempo de Aprender extrapolou os seus objetivos institucionais, traduzidos pela Pesquisa, o Ensino e a Extensão, o projetou configurou-se como instrumento que promove a coletividade, a troca de experiências, que possibilita a pessoa idosa o convívio com outros indivíduos da mesma faixa etária, cuja finalidade é

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fortalecer a sua identidade individual, incentivar a participação ativa no convívio social, refletir acerca do envelhecimento e promover a qualidade de vida destes participantes.

Ao longo destes 08 (oito) anos já foram produzidos cerca de 15 (quinze) Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) sobre o envelhecimento e, o trabalho com este público; foram apresentados 02 (dois) trabalhos científicos em Congressos na área das Ciências Biológicas e outros 02 (dois) na área das Ciências sociais, muitos alunos estagiários e extensionistas passaram pelo projeto, bem como, muitos idosos (cerca de 80) aprendendo e nos ensinaram muito. Como dito anteriormente, hoje o Projeto Tempo de Aprender é o projeto mais consolidado na PROEXT, provando o quanto é necessário investirmos esforços e recursos para trabalharmos e estudarmos a questão do envelhecimento.

O “Tempo de Aprender” é a consolidação de uma concepção de envelhecimento que acredita na participação ativa do idoso e, que acredita que envelhecer é mais uma fase na vida; “Tempo de Aprender” é permitir ao idoso, sua participação ativa na sociedade, reconhecendo que o processo de envelhecimento é natural e que é possível dar continuidade a construção da sua história em todos os aspectos, seja na vida pessoal, profissional, social, afetiva, etc. Mais importante é consolidar essa temática como uma demanda concreta para Academia, viabilizando a intervenção e a problematização sobre esta demanda, cumprindo assim o papel institucional de uma Universidade e contribuindo para a formação de profissionais socialmente conscientes e participativos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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