Ministério Público do Rio Grande do Sul PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TAPERA
EXMA. SRA. JUÍZA DE DIREITO DA VARA JUDICIAL DE TAPERA:
O MINISTÉRIO PÚBLICO, por sua agente signatária, com base no incluso Inquérito Policial nº 101/2015/150731 (136/2.15.0000289-6), oriundo da Delegacia de Polícia de Selbach, RS,
DENUNCIA:
ALEXANDRE SOARES MARTINS, brasileiro,
solteiro, com 38 anos de idade ao tempo dos fatos (nascido em 22.12.1976), natural de Entre-Ijuis, RS, filho de Noeci Soares Martins, residente na Rua Padre Valentin, nº 462, em Selbach,RS, atualmente recolhido ao Presídio Estadual de Espumoso, pela prática
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1º FATO:
No dia 26 de março de 2015, por volta das 16 horas, na Rua Padre Valentin, nº 462, em Selbach, RS, o denunciado,
ALEXANDRE SOARES MARTINS, por motivo torpe e contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino, desferindo golpes de faca, tentou matar Neiva Salete Seffrin, sua companheira, prevalecendo-se das relações domésticas, não consumando o crime por circunstâncias alheias à sua vontade.
Ao agir, o denunciado, ALEXANDRE SOARES
MARTINS, inconformado com o fato de a vítima ter solicitado Medidas
Protetivas à Autoridade Policial, dirigiu-se à residência da vítima, armado com uma faca cabo branco e preto, com 16 cm de lâmina (cf. auto de apreensão da fl. 08 da Medida Protetiva). Ato contínuo, ao chegar à porta da casa, que tinha sido aberta pela vítima para receber a amiga Cláudia, ao visualizar a vítima, começou a gritar “o que você fez comigo”, puxando a faca que guardava nas costas, na altura da cintura. A vítima, então, correu para fora de casa, tentando fugir do denunciado, fazendo-o em direção ao carro da amiga Cláudia, do qual não conseguiu abrir a porta, sendo perseguida pelo denunciado, que veio a segurar a vítima, impedindo que entrasse no carro. Na sequência, acercando-se da vítima pela frente, desferiu um golpe de faca na altura do estômago da vítima, não a atingindo porque esta conseguiu se esquivar e fugir para a casa de sua vizinha Sandra, entrando na casa e escondendo-se no quarto da residência.
Ato contínuo, “de faca em punho”, o denunciado passou a procurar a vítima, tendo entrado e saído da casa da mesma cerca de três a quatro vezes, sem contudo localizá-la, gritando ameaças.
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O crime não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do denunciado, visto quem a vítima se esquivou do golpe de faca e se escondeu na casa da vizinha até que comparecesse no local a Brigada Militar que prendeu o denunciado em flagrante delito.
O denunciado praticou o crime por motivo
torpe, impelido por vingança, pelo fato de que a vítima havia pleiteado e
obtido medida protetiva prevista na Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006, consistente no afastamento do denunciado do lar comum.
O crime foi cometido contra mulher por razões da condição de sexo feminino, agindo o denunciado contra sua companheira, logo após ter sido deferida medida de proteção em favor da vítima, envolvendo portanto, violência doméstica e familiar.
2º FATO:
Nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima descritas, logo após a prática do 1º fato, o denunciado,
ALEXANDRE SOARES MARTINS, desobedeceu à ordem legal do
policial militar Gilmar Magni, emitida em razão de abordagem policial, ainda desacatando o miliciano ao proferir palavras desrespeitosas em razão da atuação funcional da vítima.
Ao agir, o denunciado, após ser indagado pelo policial militar sobre o que estava acontecendo, proferiu as seguintes palavras para o policial: “não te mete, que hoje vai ter, a coisa é comigo e com a Mike”. Ato contínuo, o policial militar ordenou que ele largasse a faca, mas ele não o fez e proferiu as seguintes palavras: “Não te mete, não te mete, que hoje vai ter”, desobedecendo e desacatando o policial militar.
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3º FATO:
Nas mesmas circunstâncias de tempo e local acima descritas, logo após a prática do 2º fato, o denunciado,
ALEXANDRE SOARES MARTINS, opôs-se à execução de ato legal,
fazendo-o mediante violência física e ameaça exercidos contra o policial militar Gilmar Magni.
Ao agir, o denunciado, com o intuito de impedir que o policial militar prestasse ajuda à vítima do primeiro fato, Neiva Salete Seffrin, e após verificar que o policial havia solicitado apoio da Brigada Militar, foi ao encontro do policial militar de posse de uma faca, investindo contra o mesmo, o que fez com que o policial fizesse uso do bastão para desarmá-lo e algemá-lo.
Assim agindo, o denunciado, ALEXANDRE
SOARES MARTINS, incorreu nas sanções do art. 121, § 2º, I e VI (motivo
torpe e contra a mulher por razões da condição de sexo feminino), combinado com o art. 14, inciso II, e art. 61, II “f”, ambos do Código Penal, na forma dos arts. 1º, I, e 2º,§ 2º, da Lei nº 8.072/90, e da Lei n.º 11.340/06 (Lei Maria da Penha), e nas sanções dos arts. 331 e 329, ambos do Código Penal, na forma do art. 69, caput, do mesmo diploma legal, motivo pelo qual o Ministério Público oferece a presente denúncia, requerendo, recebida e autuada, seja o denunciado citado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, inquirindo-se as pessoas adiante arroladas, interrogando-se o réu ao final, cumpridas as demais formalidades legais, até final julgamento e pronúncia.
TAPERA, 04 de maio de 2015.
MARISAURA INÊS RABER FIOR,
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ROL:
1) Neiva Salete Seffrin (vítima), brasileira, divorciada, residente e domiciliada na Rua Padre Valentin, nº 462, em Selbach, RS. Telefone nº (54) 9185-4597;
2) Gilmar Magni (vítima), brasileiro, policial militar lotado na Brigada Militar de Selbach,RS;
3) Cláudia Simone Freitas Rodrigues, brasileira, casada, residente e domiciliada na Rua Barão do Rio Branco, nº 648, em Selbach-RS;
4) Paulo César Ercolani D’Ávila, brasileiro, casado, residente e domiciliado na Avenida Jacuí, nº 386/02, em Selbach-RS.
PROMOÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
MM. JUÍZA:
Em relação aos fatos noticiados no expediente nº 136/2.15.0000286-1, em apenso, o Ministério Público requer aguarde-se o envio do respectivo Inquérito Policial para fins de aditamento da denúncia.
TAPERA, 04 de maio de 2015.
MARISAURA INÊS RABER FIOR,
Ministério Público do Rio Grande do Sul PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TAPERA
PEDIDO DE ARQUIVAMENTO PARCIAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
MM. JUÍZA:
No que tange ao descumprimento da decisão judicial proferida na Medida Protetiva nº 136/2.15.0000286-1, o fato praticado pelo denunciado é atípico, conforme ementa de julgado do STJ:
“RECURSO ESPECIAL. DESOBEDIÊNCIA. ART. 330 DO CP. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA CONTIDA NA LEI N. 11.340/06. LEI MARIA DA PENHA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. PREVISÃO DE SANÇÕES
ESPECÍFICAS NA LEI DE REGÊNCIA. 1. A
jurisprudência desta Corte Superior firmou o
entendimento de que para a caracterização do crime de desobediência não é suficiente o simples
descumprimento de decisão judicial, sendo
necessário que não exista cominação de sanção específica. 2. A Lei n. 11.340/06 determina que, havendo descumprimento das medidas protetivas de urgência, é possível a requisição de força policial, a imposição de multas, entre outras sanções, não havendo ressalva expressa no sentido da aplicação cumulativa do art. 330 do Código Penal. 3. Ademais, há previsão no art. 313, III, do Código de Processo Penal, quanto à admissão da prisão preventiva para garantir a execução de medidas protetivas de urgência nas hipóteses em que o delito envolver violência doméstica. 4. Assim, em respeito ao princípio da intervenção mínima, não se pode falar em tipicidade da conduta imputada ao recorrente, na linha dos
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precedentes deste Sodalício. 5. Recurso especial provido para absolver o recorrente. (STJ - REsp: 1492757 DF 2014/0292320-9, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 12/02/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/02/2015)”
Isso posto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer o arquivamento parcial, somente quanto ao delito de desobediência à decisão judicial, por atipicidade jurídico-penal da conduta praticada pelo denunciado.
TAPERA, 04 de maio de 2015.
MARISAURA INÊS RABER FIOR,