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ANA EMILIA MENESES BEZERRA. AS MULHERES E A PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO: encontros a partir do processo de trabalho em uma Unidade de Saúde em Maceió/AL

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Academic year: 2021

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

ANA EMILIA MENESES BEZERRA

AS MULHERES E A PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO: encontros a partir do

processo de trabalho em uma Unidade de Saúde em Maceió/AL

MACEIÓ - AL 2016

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Centro Universitário CESMAC

B574m Bezerra, Ana Emilia Meneses

As mulheres e a prática da amamentação: encontros a partir do processo de trabalho em uma unidade de saúde em Maceió/AL

/ Ana Emilia Meneses Bezerra. - 2016 40 p.: il.

Dissertação (Mestrado Profissional de Pesquisa em Saúde) Centro Universitário CESMAC, Maceió, 2016.

1. Amamentação. 2. Mulheres. 3. Educação em Saúde. I.Batista, Luiz Henrique Carvalho (Orientador) II. Título.

CDU: 613.953 (813.5)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

ANA EMILIA MENESES BEZERRA

AS MULHERES E A PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO: encontros a partir do

processo de trabalho em uma Unidade de Saúde em Maceió/AL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Pesquisa em Saúde do Centro Universitário CESMAC, nível Mestrado Profissional, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Henrique Carvalho Batista e co-orientadora Profa. Ms. Renata Guerda de A. Santos

MACEIÓ - AL 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA EM SAÚDE

ANA EMILIA MENESES BEZERRA

AS MULHERES E A PRÁTICA DA AMAMENTAÇÃO: encontros a partir do

processo de trabalho em uma Unidade de Saúde em Maceió/AL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Pesquisa em Saúde do Centro Universitário CESMAC, nível Mestrado Profissional, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Henrique Carvalho Batista e co-orientação da Profª. Ms. Renata Guerda A. Santos

Data da defesa: 30 Abr. 2016 Resultado: Aprovada

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Luiz Henrique Carvalho Batista_____________________________ Orientador

Profª. Ms. Renata Guerda A. Santos_________________________________ Co-orientadora

Prof. Dr. Carlos Henrique Falcão Tavares____________________________ Examinador externo

Profa. Dra. Sonia Maria Soares Ferreira______________________________ Examinadora interna

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DEDICATÓRIA

Dedicado aos meus queridos pais, Raimunda Menêses Bezerra (in memorian) e Antônio Edmar Bezerra, que sempre me amaram, apoiaram e torceram por mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por conceder-me o milagre da vida.

Agradeço aos meus amados pais, Raimunda (in memorian) e Edmar, pelos bons ensinamentos e pelo amor incondicional.

A minha irmã Simone, pelo seu amor imenso. Ao meu cunhado Sérgio pelo carinho.

Aos amados sobrinhos Rafael e Ana Clara, simplesmente por existirem, tornando os meus dias mais azuis.

A amiga-irmã Ana Frante, pois sem sua força, seu carinho e incentivo, não teria alcançado essa conquista.

A Isabel e Indiara por sua amizade, carinho e ajuda na superação dos obstáculos aparentemente intransponíveis.

A Mara e Jaqueline, pela amizade, parceria e colaboração ao longo de todo esse processo.

As queridas Dionary, Luiza, Marina e Viviane, pela generosidade, compreensão e apoio ao durante essa jornada.

Ao meu orientador Luiz Henrique por sua paciência e disponibilidade, em todos os momentos.

A minha co-orientadora Renata, por sua paciência, sensibilidade, disponibilidade compreensão e apoio durante todo o processo de construção do trabalho.

As queridas Marília Soares e Marília Cerqueira, sem as quais este trabalho não teria se concretizado.

Agradeço ainda aos professores e funcionários do Mestrado Profissional Pesquisa em Saúde do Cesmac, em especial a professora Sônia pela generosidade, compreensão e carinho, sempre.

E por fim, agradeço a cada um dos amigos que fiz ao longo desses dois anos, tornando a jornada muito mais agradável e divertida, Aline Bezerra, Ana Frante Vasconcelos, Carla Campos, Chynthia Pereira, Ednar Melo, Evelynne Melo, Franklin Bezerra, Giane Aquilino, Indiara dos Anjos, Izabel Aguiar, João Carlos Melro, João Lourival Júnior, Kelly Araújo, Larisse Toledo, Mariana Pinheiro, Miguel Santos, Olívia Marroquim, Viviane Costa e Yugo da Silva.

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE SIGLAS

AM – Aleitamento Materno

AME - Aleitamento Materno Exclusivo CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde GF – Grupo Focal

IHAC – Iniciativa Hospital Amigo da Criança

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social MD - Mapa dialógico

NBCAL – Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes OMS – Organização Mundial de Saúde

PNH – Política Nacional de Humanização SUS - Sistema único de Saúde

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UBS – Unidade Básica de Saúde

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo, visibilizar os sentidos produzidos sobre amamentação pelas mulheres que realizam o pré-natal na Unidade Básica de Saúde Dr. Hamiltom Falcão em Maceió/AL. Tratou-se de uma pesquisa social de natureza qualitativa, realizada a partir do uso das ferramentas da Pesquisa Participante, que buscou aproximar-se das práticas discursivas produzidas sobre amamentação. A pesquisa foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde de Maceió/AL, vinculada à Secretaria Municipal de Saúde. A amostra foi definida, a partir da decisão espontânea e esclarecida das mulheres que realizam Pré-Natal na Unidade e que tenham vivenciado a experiência da amamentação. A coleta de dados foi realizada através da técnica do Grupo Focal (GF), Quatro perguntas nortearam a conversa do grupo: Por que amamentar? O que te fez decidir pela prática da amamentação? Como você organiza o seu dia-a-dia para o momento da amamentação? Pode falar um pouco da sua experiência da amamentação? (Sentiu prazer, dor, tensão?). As falas foram gravadas, feitas as transcrições na íntegra e sequencial, e construção do mapa dialógico a partir das seguintes categorias: pré-natal, relação mãe-bebê, família e dor e sofrimento, que orientaram o processo de análise dos dados e permitiram dar visibilidade à dialogia presente nos discursos analisados. Compreende-se neste estudo, em consonância com outras pesquisas, que as mulheres entendem o valor da prática da amamentação como benéfica para a saúde do bebê. Confirmou-se que as mulheres ainda passam por dificuldades e complicações para amamentar evitáveis, por falta de orientação adequada nas unidades de saúde e no seio de suas famílias. Considerando a magnitude e complexidade do tema, ainda que já tenha sido amplamente pesquisado e debatido, verifica-se que essa discussão está longe de findar.

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ABSTRACT

Breastfeeding is something that goes far beyond ensuring the child proper nutrition, is a process that involves deep interaction between mother and child, with repercussions on the nutritional status of children in their ability to defend against infections, their physiology and their cognitive and emotional development, as well as having implications for physical and mental health of the mother. Nearly all women have physiological possibilities of breastfeeding, but this innate potential does not guarantee the occurrence of breastfeeding. This study aimed, visualize the meanings produced about breastfeeding by women that undergoing prenatal care in Basic Health Unit Dr. Hamiltom Falcão in Maceió / AL. It was a social research of qualitative nature, carried out from the use of the Research Participant tools at the Health Unit Dr. Hamiltom Falcão. The Social Research has as its central concern to understand the production of social phenomena from the use of language, social practices and discursive used. In this sense, we tried to approach the discursive practices produced on breastfeeding with these women. The Participant Survey is a method that gives the researcher the knowledge of the target reality, also incorporates, through a continuous action-reflection-action of the situation defined, participants-researchers, by increasing awareness and understanding for decision making, aiming at the transformation. The survey was conducted at the Basic Health Unit Dr. Hamiltom Falcão, in the district of Benedito Bentes in Maceió/AL, linked to the Municipal Health Secretariat. The sample was defined, from spontaneous and enlightened decision of women who perform prenatal care in the UBS Dr. Hamiltom Falcão and have experienced the breastfeeding experience. It was therefore a non-probabilistic sample since it not presents statistical or mathematical reasoning, depending solely to the criteria of the researcher. The data collection was performed through the Focus Group Technique (GF), four questions guided the group discussion: Why breastfeed? What made you will decide by breastfeeding practice? How do you organize your day-to-day for the moment of breastfeeding? Can you talk a little bit of your breastfeeding experience? (felt pleasure, pain, tension?). Their discourses were recorded in full. Made transcription in intrigue, sequential transcription, and construction of the dialogic map from four categories (prenatal, mother-child relationship, family and pain and suffering) that guided the data analysis process and allowed to give visibility to dialogy this the analyzed speeches. It is understandable in this study, in line with other studies, that women understand the value of the practice of breastfeeding as beneficial for the baby's health, based on social experience. It was confirmed that women still experience difficulties and unnecessary complications to breastfeed, for lack of whom them properly orient in health units and within their families Considering the magnitude and complexity of the issue, although it has been widely researched and debated, I believe that this discussion is far from ending.

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Sumário

APRESENTAÇÃO ... 12 1 INTRODUÇÃO ... 13 2. MATERIAL E MÉTODO ... 19 2.1 Local da Pesquisa ... 21 2.2 Participantes ... 21 2.3 Procedimentos ... 22 2.4 Transcrição do Material ... 24 2.4.1 Transcrição na Íntegra ... 24 2.4.2 Transcrição Sequencial ... 24

2.4.3 Produção dos Mapas Dialógicos ... 25

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 25 3.1 Categorias ... 26 3.1.1 Pré-natal ... 26 3.1.2 Família ... 28 3.1.3 Relação mãe/bebê ... 30 3.1.4 Dor e sofrimento ... 31 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53 REFERÊNCIAS ... 55

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... ....58

APÊNDICE B - ROTEIRO DE PERGUNTAS NORTEADORAS ... 62

APÊNDICE C – TRANSCRIÇÃO SEQUENCIAL SISTEMATIZADA ... 64

APÊNDICE D – MAPA DIALÓGICO ... 86

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APRESENTAÇÃO

No trabalho realizado pela equipe multiprofissional de uma Unidade Básica de Saúde da Rede Pública de Maceió, voltado principalmente à causa da amamentação, é possível observar de perto a história de muitas famílias, a relação das mulheres com seus filhos e as dificuldades enfrentadas pela maioria, ao vivenciar a prática de amamentar. Como parte do Programa de Atenção à Saúde da Criança, na tentativa de incentivar a amamentação, conforme recomenda o Ministério da Saúde, cujo objetivo é reduzir os índices de morbi-mortalidade infantil, criou-se na unidade o grupo de gestantes e o grupo de apoio ao aleitamento materno.

Tal serviço de saúde, trata-se de uma Unidade Básica, localizada em Maceió, a qual, eu como enfermeira atuo também na sistematização da atenção à gestante e a criança. Neste sentido, esta pesquisa passa a ser constituída a partir deste lugar de implicação com a realidade e na inquietação produzida ao longo dos anos de trabalho, buscando compreender o universo materno e as práticas da amamentação.

Semanalmente é realizado um grupo para acompanhamento integral durante o pré-natal. Este trabalho é desenvolvido por uma equipe composta por uma enfermeira, duas psicólogas, uma fonoaudióloga e duas assistentes sociais e tem o objetivo de propor um espaço de escuta e conversa orientadas sobre temas relacionados a prática de amamentação.

A partir da fala das mulheres que participam destes grupos, observamos o quanto ainda carecem de informações adequadas sobre o tema e também do apoio da equipe de saúde para que possam vivenciar essa experiência com tranquilidade e segurança. Neste sentido, visualizamos um espaço importante para a atuação da equipe junto a essa população.

Muitas dessas mulheres encontram-se despreparadas para lidar com as demandas do recém-nascido e dificuldades que envolvem a prática da amamentação. Assim, identifica-se um grande desafio para o profissional no campo da saúde, que requer um aperfeiçoamento quanto às habilidades técnicas e a capacidade de uma escuta ativa e sensível capaz de compreender a complexidade da demanda e atender as solicitações necessárias.

Desta forma, buscamos com este trabalho compreender a singularidade do universo da amamentação a partir da perspectiva da mulher, e neste sentido contribuir para a qualificação do processo de trabalho na atenção ao pré-natal.

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Adotamos as diretrizes e protocolos estabelecidos pela Política Nacional para a Saúde da Mulher e da Criança do Ministério da Saúde. Entretanto, consideramos também que tais dispositivos e tecnologias, embora tenham avançado, ainda tem se mostrado insuficientes (CHAVES; LAMOUNIER; CESAR. 2007).

Uma das pesquisas mais recentes realizada em 2008 nas capitais brasileiras e Distrito Federal aponta que a prevalência do Aleitamento Materno Exclusivo (AME) em menores de seis meses foi de 41% no conjunto das capitais e Distrito Federal. A Região Norte foi a que apresentou maior prevalência e a pior situação encontrada foi na Região Nordeste. Vale ressaltar que a maioria das capitais apresentou valores abaixo da média do conjunto das crianças analisadas. A pesquisa revela que houve aumento de 1 mês na duração mediana do AME no Brasil, passando de 23,4 dias, em 1999, para 54,1 dias, em 2008. (BRASIL, 2009).

Ainda assim, os índices de amamentação no País, estão abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que estabelece como ideal a amamentação exclusiva até os seis meses e manutenção do Aleitamento Materno (AM), juntamente com alimentos complementares, por dois anos ou mais (VENANCIO et al., 2009).

É na Atenção Básica que acontece o maior contato da gestante, puérpera e lactante com o Sistema de Saúde. Por vezes, nas Unidades Básicas, alguns profissionais que realizam o cuidado às mulheres que desejam amamentar, mostram-se despreparados para compreender, em que sentido precisam ser orientadas, a fim de oferecer uma assistência qualificada a essas mulheres, bebês e suas famílias. O que observa-se a partir de suas falas, em que referem as complicações vivenciadas durante o processo de amamentação, muitas vezes ocasionando o desmame precoce.

Considerando ser a amamentação algo da maior importância para o desenvolvimento saudável da criança, faz-se necessária a realização de pesquisas que levem em conta a complexidade sociobiológica deste tema, mas também as especificidades locais e regionais, a fim de adequarmos as práticas profissionais e a organização do trabalho, com base nas necessidades de saúde da população (ARAUJO; ALMEIDA. 2007).

Uma das estratégias do Ministério da Saúde (MS) adotadas para promover e apoiar à amamentação foi a criação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), título conferido por mérito a vários hospitais do Brasil nos anos 80, incluindo à Casa Maternal Denilma Bulhões, única maternidade pública do município de Maceió, atualmente fechada, localizada à época, no Bairro do Benedito Bentes I, ao lado da UBS Dr. Hamiltom Falcão,

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onde trabalho há mais de dez anos. Como parte dos dez passos estabelecidos para conquistar e manter o título (Hospital Amigo da Criança) foi criado em 1994, o grupo de gestantes e o grupo de apoio ao Aleitamento Materno, do qual faço parte desde então, além de outros profissionais enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e fonoaudiólogos, como citado anteriormente.

A partir das suas histórias percebe-se que muitas delas enfrentam dificuldades decorrentes da falta de orientação e apoio no processo de amamentar, já que este dá-se de forma natural, porém não é instintivo ou inato. Amamentar e mamar requerem aprendizado, habilidade da mulher e da criança respectivamente.

Considerando a amamentação como uma das formas de favorecer a construção do vínculo afetivo mãe-filho e de trazer para o mundo seres mais saudáveis nos níveis físico e psicológico, esta pesquisa busca produzir um debate, visto que o modelo biomédico não mais atende as necessidades das mulheres frente ao desafio da amamentação. Pois, muitas vezes o discurso prescritivo e normativo utilizado pelo profissional não produz um efeito positivo na atenção à mulher no período da amamentação.

Diante disso, para a aproximação com o tema, foi realizada inicialmente uma pesquisa bibliográfica que permitiu um aprofundamento do assunto desde seus aspectos históricos até as discussões atuais para o incentivo a amamentação. Posteriormente, utilizou-se o grupo focal como ferramenta para coleta de dados (RODRIGUES, 1988). Em seguida, trabalhamos com a produção dos Mapas Dialógicos como estratégia de visibilizar as conversas produzidas no Grupo Focal Para as análises, utilizamos o referencial teórico das Práticas Discursivas e Produção de Sentidos no Cotidiano (SPINK, 2004).

Nosso objetivo foi compreender os sentidos produzidos pelas mulheres que são atendidas no programa do pré-natal na Unidade Básica Hamiltom Falcão sobre a prática da amamentação, afim de possibilitar a qualificação do processo de trabalho dos profissionais na atenção ao pré-natal e puerpério.

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1 INTRODUÇÃO

Amamentar é algo que vai muito além de garantir a criança uma nutrição adequada, é um processo que envolve interação profunda entre mãe e filho, com repercussões no estado nutricional da criança, em sua habilidade de se defender de infecções, em sua fisiologia e no seu desenvolvimento cognitivo e emocional, além de ter implicações na saúde física e psíquica da mãe. A espécie humana é a única entre os mamíferos em que a amamentação, além de ser biologicamente determinada, é condicionada por fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais (GIUGLIANI, 2014).

Em função disso, o aleitamento materno deixou de ser uma prática universal, gerando muitas vezes divergência entre a expectativa biológica da espécie e a cultura. Algumas consequências dessa divergência já puderam ser observadas, como desnutrição e alta mortalidade infantis, sobretudo em áreas menos desenvolvidas. Porém, as consequências no longo prazo ainda não são totalmente conhecidas, já que transformações genéticas não ocorrem com a rapidez de mudanças culturais (GIUGLIANI, 2014).

Segundo Antunes et al. (2008), a importância da amamentação natural tem sido abordada, principalmente sob o ponto de vista nutricional, imunológico e psicossocial; portanto, é um assunto de interesse multiprofissional envolvendo dentistas, médicos, fonoaudiólogos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos.

O leite humano possui elevada constituição biológica que inclui em sua composição todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento do recém-nascido, além de diversos tipos de fatores bioativos, dos quais destacam-se enzimas digestivas, agentes anti-inflamatórios, fatores antimicrobianos, vários tipos de hormônios, fatores de crescimento e imunomoduladores que além de proteger contra infecções e alergias, estimula o desenvolvimento adequado do sistema imunológico, assim como a maturação do sistema digestivo e neurológico (CALIL; VAZ, 2008).

O leite materno apresenta alta concentração de proteína (principalmente no início das mamadas), é responsável pela estabilização dos níveis de glicose sanguínea do bebê, rico em vitaminas e minerais (cálcio, zinco, vitaminas B6, B12, C e D) e lipídios que aparecem no fim das mamadas, sinalizando ao cérebro do bebê o estímulo de saciedade (TOLLARA et al., 2001).

Embora a ciência comprove a superioridade da amamentação, comparada a outras formas de alimentar a criança pequena e apesar dos diversos programas sociais

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voltados a esta causa, ainda constatamos que os índices de amamentação estão aquém do preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Ministério da Saúde (MS), (BRASIL,2009).

As categorias de aleitamento materno preconizadas pela OMS são: aleitamento materno exclusivo (a criança recebe apenas leite de sua mãe, sem outros líquidos ou sólidos, excetuando gotas, xaropes, suplementos minerais ou medicamentos); aleitamento materno predominante (a criança recebe leite humano e líquidos, como água, chás, suco de frutas e medicamentos, porém nenhum outro leite); e aleitamento materno complementado (a criança recebe leite humano e outros alimentos sólidos ou semissólidos). O termo desmame total foi atribuído à parada total da amamentação (CHAVES et al., 2007).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (1995), o aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses é considerado o mais natural e desejável método de alimentação infantil no que diz respeito aos aspectos fisiológicos, físicos e psicológicos.

Os aspectos psicológicos do aleitamento materno estão relacionados ao desenvolvimento da personalidade do indivíduo. As crianças que mamam no peito tendem a ser mais tranquilas e fáceis de socializar-se durante a infância. As experiências vivenciadas na primeira infância são extremamente importantes para determinar o caráter do indivíduo quando adulto (ANTUNES et al., 2008).

O estilo de vida, a personalidade, a história pessoal e as influências diretas da sociedade são fatores que direcionam a decisão da mãe pelo tipo de alimentação do bebê, apesar das vantagens que o aleitamento natural oferece a saúde da criança, o método artificial ainda é muito utilizado devido a desinformação, a falta de estímulo dos profissionais de saúde ou por indicação médica comprovada (PRATZEL et al., 1997; CZERNAX; BOSCO, 2003).

A amamentação é um exercício essencial para o adequado desenvolvimento das estruturas crânio faciais tais como músculos, dentes, língua e de suas funções (sucção, deglutição, respiração, mastigação e fala) (KOHLER et al., 1995). Tamanha a complexidade, a amamentação é um tema de interesse multiprofissional envolvendo enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, médicos, fonoaudiólogos e dentistas, pois vai muito além de garantir à criança uma nutrição adequada. (CALIL; VAZ, 2008). Faz parte do papel social de todos os profissionais de saúde, divulgar a importância da amamentação, orientando quanto aos benefícios orais, nutricionais, imunológicos, afetivos e psicológicos para o bebê (KOHLER et al., 1995).

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Muitas mulheres valorizam o aleitamento materno, porém não o adotam como alimento exclusivo durante os seis primeiros meses de vida, conforme recomenda o Ministério da Saúde. A ciência é unânime ao reconhecer o leite materno como fonte segura de nutrição para o humano no início da vida, cujos benefícios ecoam para vida adulta. Além de nutrir atendendo as especificidades fisiológicas do lactente, o seu caráter funcional assegura proteção imunológica e função moduladora (AKRÉ, 1997).

Houve um tempo em que amamentar fazia parte do contexto sócio cultural, as mulheres amamentavam porque suas mães haviam amamentado e suas avós também e esse conhecimento e costume era passado de geração em geração, sem que fossem questionadas a capacidade de amamentar ou a importância do leite materno. Com o advento da indústria e a inserção da mulher no mercado de trabalho, houve uma grande mudança no comportamento da sociedade em vários aspectos, inclusive relacionada a amamentação (BOSI; MACHADO, 2005).

A partir das grandes transformações políticas, sociais e econômicas ocorridas na Europa no século XVIII, novas relações de poder estabeleceram-se entre o estado e a sociedade, que resultou no nascimento da medicina social. Assim, começaram a surgir as primeiras políticas voltadas fundamentalmente para o controle social, privilegiando a higiene, a infância e a medicalização da família. (SANTOS NETO et al., 2008). Desde então, os processos fisiológicos e patológicos relacionados a gestante, ao parto e ao recém-nascido passaram a sofrer intervenção médica.

No Brasil, a preocupação governamental com a saúde materno-infantil remonta aos anos de 1940, com a criação do Departamento Nacional da Criança, que enfatizava não só cuidados com as crianças, mas também com as mães, no que se referia à gravidez e amamentação (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005).

A industrialização e a urbanização crescentes implantaram novas rotinas e hábitos na alimentação, atingindo também mães e filhos. Em meados do século XX, a indústria moderna introduziu o leite em pó que, através de intensas campanhas de incentivo, foi conquistando o mercado com sua facilidade e praticidade.

Este fato, associado a fatores sociais (aumento de números de mães trabalhando fora) e culturais (falta de informação sobre os benefícios da amamentação, causas referidas como “a criança não quis mais”, “tenho pouco leite” ou crenças “leite é fraco”), além do medo em relação à estética do seio, ocasionaram a falta de estímulo à prática da amamentação. Hoje, esses fatores continuam existindo exceto em relação à informação, que é bem divulgada por ser um assunto em voga (ANTUNES et al., 2008).

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No Brasil, a década de 70 é caracterizada pelos altos índices de desmame precoce e pela ausência de ações de incentivo à amamentação (VENANCIO; MONTEIRO; 1998).

A partir dos anos 80, impulsionada por forte pressão popular, começa a surgir a regulamentação legal dos direitos à proteção, que resultará na aprovação de leis e políticas públicas, não apenas baseadas no interesse unilateral do estado brasileiro, intensificando-se em toda a década de 1990 e estendendo-se até o ano 2000, pela formulação e execução de programas e estratégias de saúde pública voltadas à atenção materno-infantil. (ALMEIDA, 2005).

No início desta década, o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS) do Ministério da Saúde (MS), estabeleceu a obrigatoriedade do alojamento conjunto em sua rede assistencial, através da Resolução18/INAMPS de 1983. Tal medida, favorecia um maior contato entre a mãe e o recém-nascido, incentivando assim o aleitamento materno, o que também apontava o início de uma série de transformações no campo assistencial da saúde. Embora fosse ainda restrita a abrangência populacional dessa medida, percebia-se a necessidade de amparo legal, para efetivação de práticas humanizadas no parto e puerpério.

O grande marco de amparo à saúde da mulher e da criança, é a Constituição de 1988, mesmo já tendo alguns direitos adquiridos há anos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), tais como: a garantia de proteção e conforto das mulheres no ambiente de trabalho e o direito à creche e a pausas para amamentar no ambiente de trabalho, Consolidação das Leis do Trabalho: Art. 389: § I, II; Art. 396: parágrafo único (BRASIL, 1943). Na Constituição Federal de 1988 diversos artigos fundamentam e constituem a base dos direitos reprodutivos. Dentre eles, destacam-se: o direito das presidiárias de permanecerem com seus filhos durante o período de amamentação; a proteção à maternidade e à infância; a licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; a licença paternidade, nos termos fixados em lei; a assistência gratuita aos filhos e dependentes, desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas; a proteção especialmente à gestante; e ao planejamento familiar - Constituição Federal de 1988: Art. 5: L; Art. 6; Artigo 7: XVIII, 110 Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p.107-119, 2008 XIX, XXV; Art. 196: II; Art. 226: § 7 - (Brasil, 1988). Por um lado, impede qualquer forma de discriminação à mulher trabalhadora e, por outro, ampara e garante a independência financeira da mulher no momento reprodutivo e provê o mecanismo básico de sobrevivência da mãe e do recém-nascido, a renda (SANTOS NETO et al; 2008).

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Nos últimos 35 anos, muitas ações vêm sendo desenvolvidas no Brasil na tentativa de recuperar a prática da amamentação, especialmente em âmbito hospitalar. São exemplos a normatização do sistema de Alojamento Conjunto, a aprovação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL), o estabelecimento de normas sobre funcionamento dos bancos de leite humano, a implementação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) e a interrupção da distribuição de “substitutos” de leite materno nos serviços de saúde (BRASIL, 2011).

Em 1º de agosto de 2008, durante a abertura da Semana Mundial da Amamentação, o Ministro da Saúde lançou a Rede Amamenta Brasil. Em 18 de novembro de 2008, foi assinada a Portaria MS/GM nº 2.799, instituindo a estratégia no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A Rede Amamenta Brasil é uma estratégia de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno (AM) coordenada pela Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, com o Departamento de Atenção Básica, ambos vinculados à Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde (SANTOS NETO et al; 2008).

A Rede se propõe a aumentar os índices de amamentação no país a partir da circulação e troca de informações entre os diversos atores, capacitando os profissionais que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) para que se tornem agentes de mudança no ensino e aprendizagem do AM e para uma prática integralizadora, até de monitorar os índices de AM das populações atendidas pelas unidades básicas de saúde certificadas (BRASIL, 2011).

Deste modo, a política nacional de incentivo ao aleitamento materno, até então voltada para o ambiente hospitalar passou a ser praticada nas Unidades Básicas de Saúde, uma vez que é na Atenção Básica onde se dá o maior contato da gestante, da puérpera e da lactante com o sistema de saúde (BRASIL, 2011).

Com as mudanças no âmbito da amamentação são beneficiadas: as crianças, uma vez que, mamando exclusivamente nos primeiros seis meses e mantendo o AM por dois anos ou mais, têm melhor qualidade de vida e menor risco de adoecer e morrer e as mães, que amamentando, têm menos riscos de desenvolver complicações pós-parto, câncer de mama e ovários e diabetes (BRASIL, 2011).

Apesar de todas as políticas voltadas a saúde da mulher e da criança, a maioria dos óbitos maternos e infantis ocorridos no país é considerada evitável, podendo ser prevenida com a melhoria da assistência ao pré-natal, ao parto e ao recém-nascido, assegurando o acesso da gestante e do recém-nascido em tempo oportuno a serviços de qualidade (LANSKY e col., 2002; HARTZ e col., 1996; NOVAES e col., 2004). Um dos

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grandes dilemas enfrentados no SUS é fazer valer no dia-a-dia seus princípios, em particular o que diz respeito ao acesso pautado num acolhimento de qualidade e a integralidade da assistência nos serviços prestados à população (SANTOS NETO et al; 2008).

Mesmo com os reconhecidos avanços vivenciados no Brasil em várias áreas da oferta de serviços públicos e nos indicadores de saúde, há ainda um longo e difícil caminho no qual a superação das iniquidades e das desigualdades se apresenta como desafio para todos os que defendem a vida como um direito de cidadania e bem público (COSTA et al., 2010).

Quanto às estratégias de promoção da amamentação comumente praticadas, permanecem marcadas pela incapacidade de lidar com a ambivalência que se estabelece, para a mulher, entre o querer e o poder amamentar. Este modelo assistencial, verticalizado e impositivo, revela-se incapaz de responder às demandas da mulher em processo de amamentação (ALMEIDA; GOMES, 1998).

Assim, tentar ouvir e compreender às mulheres, suas dificuldades com a prática da amamentação nas últimas duas décadas, tem sido um exercício multidisciplinar e multiprofissional, provocado pelo fato de que, a despeito de inúmeras iniciativas de promoção do aleitamento materno, o grande desafio tem sido o de identificar os reais motivos envolvidos na decisão materna de desmame ou de manutenção do aleitamento. Ao ser compreendida em suas necessidades as mulheres estarão mais disponíveis para falar, escutar, entender a situação vivenciada e decidir o que for melhor. Deste modo, a partir da análise dos sentidos produzidos pelas mulheres, relacionados ao aleitamento materno, tornar-se-á possível traçar estratégias mais direcionadas ao êxito no processo da amamentação (ARAUJO; ALMEIDA. 2007).

O estudo apresenta como objetivo geral: visibilizar os sentidos produzidos sobre amamentação pelas mulheres que realizam o pré-natal na Unidade Básica de Saúde Dr. Hamiltom Falcão em Maceió/AL. E, objetivos específicos: identificar os fatores envolvidos na decisão da mulher em relação a amamentação; compreender as práticas da amamentação no cotidiano das mulheres; e refletir sobre as contribuições da equipe multidisciplinar no desenvolvimento de atividades de educação e saúde voltadas para o incentivo ao aleitamento materno.

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2. MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa teve como alicerce as aproximações circunscritas da Pesquisa Social sobretudo com influências do Construcionismo Social. Agregou elementos da pesquisa qualitativa, adotando as Práticas Discursivas e Produção de Sentido no Cotidiano como referencial teórico-metodológico norteador, que tem como viés a discussão sobre o uso da linguagem como “uma forma de ação no mundo” (SPINK, 2008).

Castañon (2004), Rasera (2005) e Mèllo (2007) caracterizam o Construcionismo Social como um Movimento que assume uma posição crítica constante diante dos fenômenos considerados deterministas e inquestionáveis, preocupando-se especialmente em problematizar como se dá as interações entre as pessoas, a construção dos sentidos dessas relações e como elas narram o mundo e a si mesmas, centrando-se na implicação da linguagem como produção de conhecimento.

As Práticas Discursivas e Produção de Sentido no Cotidiano segundo SPINK (2004, p.23) demanda em:

[...] uma prática social, dialógica, que implica a linguagem em uso. A produção de sentido é tomada, portanto, como um fenômeno sociolinguístico – uma vez que o uso da linguagem sustenta as práticas sociais geradoras de sentido – e busca entender tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano (narrativas, argumentação e conversas, por exemplo), como os repertórios utilizados nessas produções discursivas.

Há mais de vinte anos concluí a graduação em enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas/UFAL e algum tempo depois, comecei a atuar no Hospital Universitário da UFAL, no setor de Neonatologia. Não demorou muito e eu logo me encantei pelas pequenas criaturas (recém-nascidos), abraçando ao mesmo tempo a causa da amamentação, com a qual estou envolvida até hoje.

Após alguns anos, fui trabalhar também na Unidade Básica de Saúde Dr. Hamiltom Falcão, na área de Saúde da Criança. Inicialmente realizando consultas de Puericultura, atendendo crianças de zero a dois anos e priorizando sobretudo as questões relativas a alimentação (amamentação) da criança, com foco na prevenção da morbimortalidade infantil. Posteriormente passei a trabalhar nos grupos de gestantes e lactantes, cuja implantação deu-se por volta de 1994, como estratégia para apoiar e incentivar o aleitamento materno. Estes são compostos por duas enfermeiras, uma fonoaudióloga, duas assistentes sociais e duas psicólogas, que se propõem a acolher e

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orientar a população que procura a unidade em busca de apoio e assistência para amamentar.

Ao longo desses anos, em contato frequente com muitas mulheres e seus filhos, vivenciando o processo de amamentar e mamar respectivamente, não pude deixar de me envolver com suas histórias, algumas vezes de sucesso, outras não. Mas histórias que sem dúvida, me encantam e intrigam ao mesmo tempo. Conheci mulheres que amamentaram seus filhos adotivos, mães biológicas que apesar de referirem querer muito e fazerem um grande esforço para isto, não puderam amamentar porque a criança não conseguia sugar suas mamas.

Vi crianças que tinham boa pega e sucção, porém suas mães não demonstravam o desejo de amamentar, mulheres que apesar de todo esforço para amamentar, haviam sido submetidas a cirurgia plástica para redução das mamas e não produziram a quantidade de leite suficiente para a demanda do bebê, mulheres que relataram ter passado por um sofrimento tão terrível para amamentar, chegando a comparar a experiência com “tortura”. Algumas por outro lado, falaram da sua história de amamentação com nostalgia, do quanto foram felizes durante o período em que amamentaram seus filhos.

Outras referiam ter sofrido quando precisaram desmamar suas crianças, já aos três anos. Certa vez, por acaso, atendi uma mulher no terceiro dia de puerpério, de seu primeiro filho e ela me contou que o bebê ainda não havia conseguido mamar, e eu não contive o julgamento: como assim, ela está internada numa maternidade escola? Então eu conversei um pouco com ela, tentando acalmá-la, expliquei como posicionar o bebê adequadamente ao seio para que ele mamasse e eles conseguiram! Ela (mãe), amamentar e ele (filho), mamar. Quando percebi que o bebê mamava de forma adequada, falei: ele está mamando muito bem e ela me disse, mas meu seio não está doendo. Então falei: mas não é para doer. E ela comentou, mas eu pensei que doía, pois as pessoas dizem que dói tanto! Respondi: é diferente para cada mulher, não podemos generalizar, percebe?

A partir da presença deste tema durante minha formação e prática profissional fui compondo meu campo-tema buscando delinear nesta pesquisa uma conjugação de histórias implicadas na produção do conhecimento. De acordo com Peter Spink (2008), a produção de conhecimento/informação numa perspectiva social reposiciona o pesquisador como simplesmente um entre muitos membros competentes de uma comunidade moral, que busca arguir e agir para melhorias, tal como também fazem muitos outros.

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Ou seja, para o autor, o método para a Pesquisa Social deve possibilitar chegar mais perto, conhecer o outro e trocar figurinhas para ter uma visão mais objetiva um do outro, conhecer seus pontos de vista e de onde falam; ou seja, uma objetividade construída intersubjetivamente. E produzir análises passa a ser também contar histórias, histórias de como e onde a vida acontece.

2.1 Local da Pesquisa

O Benedito Bentes é um dos maiores bairros do munícipio de Maceió e um dos mais populosos, com 220 mil habitantes. Junto ao Antares, compõe o VI Distrito Sanitário da capital maceioense. As atividades culturais de maior relevância são os teatros e folguedos populares, destacando-se as quadrilhas, coco-de-roda e a prática da capoeira.

A pesquisa foi realizada na Unidade Básica de Saúde Dr. Hamiltom Falcão, localizada na Avenida Norma Pimentel da Costa, no bairro do Benedito Bentes I. A Unidade conta com profissionais das áreas médica, enfermagem, psicologia, farmácia, serviço social e fonoaudiologia que oferece atendimento nas áreas de saúde da mulher, da criança e do idoso. Realiza os programas de tratamento da tuberculose e da hanseníase. Dispõe ainda dos serviços de farmácia e laboratório, pré-natal, puerpério, puericultura, planejamento familiar, grupos de gestantes e aleitamento materno, sala de vacinas e sala de curativos.

A assistência ao pré-natal é realizada por médicos e enfermeiras, que solicitam exames necessários para o acompanhamento da gestante, orientam sobre os cuidados com alimentação, vacinas e encaminham para os atendimentos especializados caso seja indicado. Segundo recomendação do Ministério da Saúde a UBS deve oferecer no mínimo seis consultas durante o período de gestação, porém as gestações de alto risco devem ser encaminhadas para os locais de referência. Quarenta dias após o parto, a puérpera deve comparecer a UBS para consulta com a finalidade de verificar suas condições de saúde.

2.2 Participantes

Os participantes foram definidos, a partir da decisão espontânea e esclarecida das mulheres que realizam pré-natal na UBS Dr. Hamiltom Falcão. Tratou-se, portanto, de amostra não-probabilística uma vez que não apresentam fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente de critérios do pesquisador (GIL, 2008).

Participaram da pesquisa nove mulheres inscritas no pré-natal da UBS Hamiltom Falcão e que pertencem ao grupo de gestante da Unidade. As mulheres foram

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convidadas pela pesquisadora para participar do estudo durante uma das reuniões semanais do grupo, momento em que apresentou-se, de forma clara e concisa, os objetivos da pesquisa. O critério essencial para participar da pesquisa foi ter vivenciado a experiência de amamentação. A reunião para realização do GF ocorreu em uma quarta-feira, com duração de 1hora e 30minutos, em dia e hora combinados previamente com as participantes. As dúvidas relacionadas ao TCLE, foram esclarecidas pela pesquisadora.

As mulheres que aceitaram participar da pesquisa, assinaram o TCLE (Apêndice A), conforme descrito na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde (CNS/MS).

Assim, o Grupo Focal foi composto por nove mulheres na faixa etária de dezoito a quarenta anos de idade, que já haviam vivenciado a experiência da amamentação.

Iniciou-se o estudo após autorização da Secretaria do Municipal de Saúde e aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Cesmac proponente sob o protocolo número 49687515.6.0000.0039 e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética: 1.455.747(ANEXO A). O anonimato das participantes viabilizou-se com a utilização das cores para apresentação dos dados (WILHELM et al., 2015).

2.3 Procedimentos

Para a coleta de dados foi utilizada a técnica de Grupo Focal (GF) que é uma forma rápida, fácil e prática de pôr-se em contato com a população que se deseja investigar (RODRIGUES, 1988).

Segundo Gomes e Barbosa (1999), o grupo focal é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter informações de caráter qualitativo em profundidade que visa a compreensão das experiências do grupo participante a partir do seu ponto de vista.

A essência do grupo focal (GF) consiste na interação entre os participantes e pesquisador que objetiva colher dados a partir da discussão focada em tópicos específicos e diretivos (LEVORLINO; PELUCIONI, 2001).

Os GF são grupos de discussão que dialogam sobre um tema em particular, ao receberem estímulos apropriados para o debate. Essa técnica distingue-se por suas características próprias, principalmente pelo processo de interação grupal, que é uma resultante da procura de dados (RESSEL et al., 2008).

A principal vantagem do grupo focal é a oportunidade de observar uma grande interação a respeito de um tema em um período de tempo limitado. No grupo focal, não se

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busca o consenso e sim a pluralidade de ideias. Assim, a ênfase está na interação dentro do grupo, baseada em tópicos oferecidos pelo pesquisador, que assume o papel de moderador. O principal interesse é que seja recriado, desse modo, um contexto ou ambiente social onde o indivíduo pode interagir com os demais, defendendo, revendo, ratificando suas próprias opiniões ou influenciando as opiniões dos demais.

Essa abordagem possibilitou também ao pesquisador aprofundar sua compreensão das respostas obtidas. O Grupo Focal pressupõe, como seu nome indica, a existência de um “foco”, ou “tema”, em torno do qual as pessoas irão expor suas ideias, percepções, sentimentos. Os tópicos devem ser organizados, e roteirizados, segundo o esquema lógico mais adequado ao projeto de pesquisa em questão. Essa medida auxilia o moderador decorrer da sessão, dando-lhe maior controle sobre a situação (GUI, 2003).

Para que a técnica de GF fosse realizada com êxito houve a necessidade da participação de um mediador e um observador e operador de gravação, funções estas exercidas durante a realização do grupo, pelo próprio pesquisador e uma colaboradora externa. A gravação integral das falas feita durante a reunião (mediante autorização das participantes) foi posteriormente transcrita para facilitar a análise dos dados (NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002).

Em uma vivência de aproximação, o Grupo Focal permitiu que o processo de interação do grupo fosse se desenvolvendo, favorecendo trocas, descobertas e participações comprometidas. Também proporcionou descontração para os participantes responderem as questões em grupo, em vez de individualmente. Essa técnica facilita a formação de ideias novas e originais. Gera possibilidades contextualizadas pelo próprio grupo de estudo. Oportuniza a interpretação de crenças, valores, conceitos, conflitos, confrontos e pontos de vista. E ainda possibilita entender o estreitamento em relação ao tema, no cotidiano.

Cabe enfatizar que o GF permite ao pesquisador não só examinar as diferentes análises das pessoas em relação a um tema, ele também proporciona explorar como os fatos são articulados, censurados, confrontados e alterados por meio da interação do grupo e, ainda, como isto se relaciona à comunicação de pares e às normas grupais (RESSEL et al., 2008).

A formação do GF foi intencional e pretendia-se que houvesse, um ponto de semelhança entre as participantes, que no estudo proposto foi a experiência pessoal com a amamentação.

O grupo focal foi composto por nove mulheres que já haviam vivenciado a experiência da amamentação e estavam inscritas no Programa de assistência ao pré-natal

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da Unidade Básica de Saúde Dr. Hamiltom Falcão, localizada no bairro do Benedito Bentes I. O convite foi feito pela pesquisadora, às mulheres, durante as reuniões do grupo de gestante, que acontecem semanalmente às quartas feiras, às 14 horas, na unidade. E aquelas que aceitaram participar da pesquisa mediante assinatura do TCLE, foram informadas do dia e hora que deveriam comparecer àquela unidade para a realização do grupo focal, que teve a duração de uma hora, com participação, além das mulheres, da pesquisadora com a função de mediadora e uma colaboradora, que ajudou no processo de gravação das falas, previamente autorizada pelas participantes, as quais foram transcritas na íntegra e posteriormente analisadas. Quatro perguntas nortearam a conversa do grupo: Por que amamentar? O que te fez decidir pela prática da amamentação? Como você organiza o seu dia-a-dia para o momento da amamentação? Pode falar um pouco da sua experiência da amamentação? (Sentiu prazer, dor, tensão?)

Após escutarmos atentamente as mulheres e suas histórias sobre a amamentação, a pesquisadora agradeceu as participantes pela contribuição e encerrou a reunião.

Para manter o anonimato, as participantes foram identificadas por cores (Amarela, Azul, Lilás, Rosa, Verde, Vermelha, Branca, Laranja e Preta)

2.4 Transcrição do Material 2.4.1 Transcrição na Íntegra

A transcrição integral do áudio ou vídeo inclui todas as falas e expressões comunicadas, ou seja, é feita de forma literal, de modo a preservarmos o discurso original do contexto de pesquisa. Temos assim quem fala, sobre o que fala e como cada um/a fala (SPINK, 2006).

2.4.2 Transcrição Sequencial

A transcrição sequencial foi nossa primeira aproximação com o material a ser analisado e nos auxiliou na definição dos temas ou categorias para uso no mapa. Ela foi feita a partir da identificação das falas e vozes presentes no áudio, imagens ou textos. Procuramos identificar quem fala, em que ordem cada pessoa fala e sobre o que fala. Foi possível também observar quem se deteve mais em um determinado assunto e como uma fala – do/a entrevistador/a ou de outra pessoa participante no grupo, suscita ou provoca a fala de outra pessoa (SPINK, 2006).

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2.4.3 Produção dos Mapas Dialógicos

Os mapas são instrumentos de visualização do processo de interanimação que possibilitam, entre outras coisas, mostrar o que acontece quando perguntamos certas coisas ou fazemos certos comentários. Possibilitam, sobretudo, nos sensibilizar para a existência de múltiplas modalidades de diálogos. Fomos percebendo também que o que chamamos de diálogo é uma atividade bastante complexa que envolve uma série de estratégias de fala, que incluem a narrativa, a argumentação, os depoimentos entre outros.

O Mapa é uma tabela onde as colunas são definidas tematicamente. Os temas, em geral, acabam refletindo o roteiro de entrevista, porque ninguém vai para o campo de pesquisa dizendo: “fala!”. Todo mundo diz: “fale sobre”, “me conte sobre” ou “o que você pensa disso”. Os mapas ainda orientam o processo de análise. O mapa dialógico é um recurso que nos permite dar visibilidade aos passos dados na construção da pesquisa e à dialogia presente nos discursos analisados (SPINK, 2010).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O mapa dialógico constitui um dos passos iniciais da análise e pode auxiliar pesquisadores/as em uma aproximação com o material, na organização dos discursos e no norteamento da discussão. É um recurso que nos permite dar visibilidade aos passos dados na construção da pesquisa e à dialogia presente nos discursos analisados. Parte da compreensão de que rigor metodológico em pesquisa científica implica a explicitação dos passos de busca e de análise das informações obtidas e visa à reflexividade do/a pesquisador/a no processo da pesquisa (SPINK, M.J.; LIMA, 1999; SPINK, M.J.; MENEGON, 1999).

O mapa dialógico abaixo, apresenta as quatro categorias estudadas, que orientaram o processo de análise dos discursos.

Sentidos Categorias

Pré-natal e orientação sobre amamentação: orientou entre aspas. Só disse que era importante para saúde da mãe e do bebê

Orientação no pré-natal (médica dizia assim: é bom amamentar pra saúde) Cuidado com as mamas

Orientação da enfermeira: usar o próprio leite do peito. Não procurou o médico

Suspendeu a amamentação por causa da febre e iniciou o Leite Nan por conta própria Amamentação cruzada

Doação de leite humano

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Persistência

Prazer em amamentar – Bem-estar Praticidade

Relação com o corpo (vaidade)

Desmame precoce - Primeiro filho vivia doente

A segunda filha que mamou até quatro anos - bebê saudável “meu filho chorava muito à noite”

Mamou até um ano e oito meses - bebê saudável Desmame precoce - bebê doente

Vínculo mãe-filho

Decisão de amamentar Obrigação, dever, fardo peso, imposição, compromisso, responsabilidade

“esse menino só vive chorando” Eu ia de acordo com meu filho Falta orientação para o desmame

Dúvida quanto a decisão de amamentar o próximo filho

Ordenhava o leite todos os dias pela manhã, a tarde e à noite (bebê prematuro). Transição da alimentação por sonda para amamentação

Amamentação na gravidez

Atitudes inadequadas para estimular o desmame

Relação Mãe/bebê

Incentivada a amamentar pela própria mãe que amamentou todos os filhos Não teve apoio/ajuda da família

Desestímulo à amamentação pela avó materna (minha mãe queria dar gogó no dia que eu saí da clínica)

Desinformação quanto ao direito ao acompanhante durante o parto Apoio do marido

Vínculo afetivo com a avó (adoção informal)

Família

Ingurgitamento mamário – febre - “Seio rachou” (“Chorava eu, chorava ela”)

Desmame precoce

“muita dor mesmo, mas eu dava de mamar”

Obrigação, dever, fardo, peso, imposição, compromisso, responsabilidade Ele dormia o dia todinho e passava a noite toda acordado. Mamadas noturnas Internamento do recém-nascido por 1 mês.

Faltou incentivo e apoio durante a internação em uma instituição hospitalar para amamentar Ordenhava o leite todos os dias pela manhã, a tarde e à noite (bebê prematuro).

Bebê com paralisia cerebral Cólicas do bebê

Dor/Sofrimento

3.1 Categorias 3.1.1 Pré-natal

As orientações fornecidas a mulher durante o pré-natal são fundamentais para uma gestação saudável, bem como para a manutenção o aleitamento materno (DEMITTO et al., 2010).

A realização de ações educativas durante todas as etapas do ciclo gravídico puerperal é muito importante, mas, é no pré-natal que a mulher deve ser melhor orientada, proporcionando-lhe condições de vivenciar positivamente a experiência do parto, evitar complicações no puerpério, cuidar da criança com mais segurança e obter êxito na amamentação (RIOS; VIEIRA; 2007).

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A educação e o preparo das mulheres para a amamentação durante o pré-natal, contribui muito para aumentar sua habilidade e confiança, auxiliando para o sucesso do aleitamento materno (NASCIMENTO, 2012).

Sabe-se que apenas as informações não bastam para que as mulheres tenham motivação e sucesso na prática do aleitamento materno. Ter informação não significa necessariamente ter conhecimento, conhecer algo não significa mudança de atitudes com relação aquele objeto e, a decisão de amamentar das mulheres não pressupõe necessariamente realizar a ação (RIBEIRO; BOERY, 2011).

Neste sentido, o (a) enfermeiro (a) tem papel importante no fortalecimento de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, graças principalmente ao caráter educativo e holístico de sua prática. No contexto, faz-se necessário que o profissional de saúde tenha o olhar ampliado para o ato de amamentar, pois pode deparar-se com diversas dificuldades no cuidado às mulheres e aos deparar-seus familiares durante o processo de amamentação (RIBEIRO; BOERY, 2011).

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a prática da amamentação salva muitas crianças por ano, promovendo e prevenindo contra infecções, além da amamentação exclusiva ser importante sobre o ponto de vista nutricional e psicoafetivo. Recomenda ainda que a amamentação deve ser exclusiva por seis meses e complementada por outros alimentos até os dois anos de vida ou mais (BRASIL, 1993).

São inúmeros os benefícios da amamentação para a criança, a mulher, a família e a sociedade, porém para que obtenha êxito nesse processo a mulher precisa estar bem assistida e apoiada pela equipe de saúde e família, pois inúmeros fatores estão envolvidos na dificuldade em amamentar ou no desmame precoce, dentre os quais estão o desconhecimento das mães sobre o aleitamento materno, como também, os aspectos sociais, políticos e culturais que envolvem a amamentação (ALMEIDA; NOVAK, 2004).

Este estudo mostra que as práticas de incentivo ao aleitamento materno durante o pré-natal na UBS Dr. Hamilton Falcão são ainda insuficientes. Não há um preparo em orientar, incentivar e apoiar de acordo com a necessidade especifica de cada mulher que deseja amamentar. Assim, quando foi perguntado se durante o pré-natal alguém havia lhe orientado sobre amamentação, Amarela respondeu:

“Orientou entre aspas, assim, disse que era importante, mas não disse como era que eu ia fazer não. Só que era importante para a saúde do bebê, para a saúde da mãe, tudo isso

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Aí sempre a médica dizia assim: “É bom amamentar, pra saúde, doença, o leite é bom, não substitui nada o leite, não dê água.”, aí eu sempre fui escutando isso.(Azul)

Deste modo, percebe-se que a conduta relacionada à amamentação durante o pré-natal pode e deve melhorar.

A atenção ao pré-natal no que diz respeito ao processo de amamentar, ainda está muito aquém do que recomenda o Ministério da Saúde (MS). Sabe-se que a orientação sobre a amamentação no pré-natal é sem dúvida muito importante e que novas ações devem ser incorporadas pelos profissionais de saúde com a finalidade de estimular o aleitamento materno.

3.1.2 Família

Dentre as maiores influências no aleitamento materno estão as experiências anteriores e o estado emocional da nutriz, bem como a família (principalmente o pai e a avó), e os profissionais de saúde, tanto como transmissores de mitos e crenças, quanto como fonte de incentivo/apoio (BUCCINI et al., 2014).

O pai pode exercer grande influência, positiva ou negativa, tanto na maternidade, quanto na lactação. Algumas dificuldades maternas durante a amamentação podem estar relacionadas, direta ou indiretamente, com o pai da criança, principalmente quando ele apresenta um sentimento de repulsa frente à amamentação. Neste sentido, faz-se necessário que os programas de incentivo à amamentação insiram o pai nas atividades educativas e de orientação e que os profissionais de saúde escutem e esclareçam seus anseios e dúvidas, fazendo com que este pai se torne um incentivador e um ponto de apoio da nutriz durante a lactação, exercendo assim uma influência positiva neste processo. Portanto, é de suma importância informar os pais das vantagens da lactação e de seu verdadeiro significado, sendo que esse processo educativo deve iniciar na infância, auxiliando o sucesso e a manutenção do aleitamento materno.

Ressalta-se a importância de se estreitar os laços entre pai-filho, permitindo, assim, que o pai perceba a fragilidade e a necessidade de cuidados que seu filho inspira, fato este que justifica a dedicação materna de modo a reduzir os sentimentos de exclusão, ciúme e competitividade que muitas vezes o pai sente perante seu filho (BUCCINI et al.,

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2014). A amamentação precisa ser compreendida não apenas como responsabilidade da mãe, mas sim do casal.

A influência de uma figura feminina, e que tenha a prerrogativa de já ter sido mãe, é percebida pela nutriz de forma significativa, devido à experiência que aquela possui em relação à maternidade e ao aleitamento materno, tendo vivido as mesmas dificuldades, medos e anseios dessa fase. De fato, a filha toma a mãe como exemplo a ser seguido, copiado e transformado: “já que minha avó amamentou e minha mãe também, consequentemente, eu irei fazê-lo” (BUCCINI et al., 2014).

Dentro deste contexto, as avós (maternas e paternas) trazem consigo conhecimentos e experiências adquiridas durante sua vivência na amamentação de seus filhos ou mesmo adquiridas através da transmissão de valores, mitos, crenças e tabus de geração em geração. Durante a lactação, algumas mães, muitas vezes, se mostram inseguras quanto aos cuidados com o bebê, apresentando dificuldades para solucionar pequenos problemas, e é justamente neste ponto que a presença de uma figura feminina, principalmente da avó, torna-se imprescindível para esta mãe. Então, a participação da avó nos cuidados da criança durante o aleitamento materno pode interferir, incentivando ou desestimulando esta prática (PRIMO; CAETANO; apud BUCCINI, 2014).

Deste modo, o apoio da família pode influenciar sim, positivamente na amamentação. É o que nos mostra a fala de Amarela, quando relata:

“E foi isso que eu peguei, mais com minha mãe, sempre ela amamentou e ela disse que a melhor coisa era amamentar, e isso eu peguei pra mim (Amarela).”

Ao contrário de Amarela, Azul diz:

“Mas pela minha mãe, no dia que eu sai daqui, ela falou: “Dê gogó, esse menino só vive chorando.”, Porque pela minha mãe

ela já queria dar gogó no dia em que eu saí da clínica”. (Azul) “Minha mãe veio me ajudar, mas, entre aspas, que ela não saiba disso, mais me atrapalhou, porque meu filho chorava muito a noite e ela deu gogó. Ele passou quase quinze dias sem fazer cocô (Azul)”

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Branca teve o apoio do marido, segundo ela mesma conta:

“Eu fui pra dentista, eu cheguei com o peito muito cheio, dormi com ele pedrado. Aí meu marido disse: ‘Branca, vamos resolver, bote pra fora.’ Quando ele deu uma chupada só, secou. Porque ele viu meu sofrimento e ele ficou assim, que ele tocava e eu dizia: “Não toque, não!” Parecia que ia dar choque. Aí meu marido foi e chupou (Branca)”.

3.1.3 Relação mãe/bebê

Estudos apontam que chá, leite artificial e água geralmente são oferecidos pela mamadeira. França et al. (2008), identificaram que aos sete dias 21,3% usavam a mamadeira e aos 30 dias, 46,9%; chá e leite industrializado, estes foram os principais conteúdos oferecidos nos dois momentos. Enquanto a mamadeira é utilizada como veículo para oferta de líquidos, a chupeta é introduzida para acalmar o bebê, função também atribuída ao chá. Essa função simbólica e sociocultural de acalmar o bebê corrobora com os resultados encontrados.

Em relação ao uso de bicos artificiais, apesar de a literatura identificar que o uso da chupeta aumenta o risco de utilização da mamadeira, não se pode estabelecer uma relação causal. A primiparidade associou-se aos três desfechos, tendo sido relatada como fator de risco para o desmame precoce e, consequentemente, para o uso de bicos artificiais. Desde o nascimento do filho a mãe passa por processo de aprendizado para conhecer/compreender sua linguagem.

Autores identificaram que os pais são pouco orientados sobre como manejar o choro/comportamento da criança e quando orientados sentem-se mais seguros em confortá-la sem utilizar bicos artificiais.

Conforme referiu Amarela:

“Mas, ela era uma menina muito chorona. Eu tentava amamentá-la, mas ela só mamou até quatro meses. Ela era brava, quando “tava” com fome não queria ver o peito. Eu queria que ela mamasse, mas não teve jeito. Quatro meses, ela

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deixou mesmo. Aí, mesmo assim não deu, né? Ela teve que ir ‘pro’ leite (Amarela)”.

Azul falou:

“Porque meu filho chorava muito a noite e ela (avó materna) deu “gogó” (Azul).

Pode-se notar que há um despreparo da mãe/família em lidar com o comportamento natural da criança, por falta de informação ou orientação adequada, tanto no pré-natal quanto no puerpério.

De acordo com Azul, pode-se supor que mães menos experientes fiquem mais ansiosas em manejar o choro/comportamento da criança e utilizem mais os bicos artificiais, utensílios que podem interferir negativamente na amamentação e na saúde das crianças (BUCCINI et al., 2014).

3.1.4 Dor e sofrimento

Embora se reconheça a importância da mulher na promoção da amamentação, os programas nem sempre consideram a percepção feminina sobre a amamentação e sua influência na vida cotidiana. É preciso repensar o atual modelo de amamentação adotado pelas políticas de saúde, em que as nutrizes são intensamente responsabilizadas e ao mesmo tempo excluídas da amamentação enquanto mulheres, e ora são sujeitos ativos, por terem a responsabilidade de amamentar, ora são passivas, pois seus sentimentos e desejos não são considerados neste processo (MARQUES; PEREIRA, 2010).

O discurso divulgado pela mídia em favor do aleitamento materno, influencia na construção de ideias das mulheres sobre amamentação, além de ser uma prática determinada socialmente como um ato de amor pelo filho (MARQUES; PEREIRA, 2010).

Os fatores negativos relacionados à lactação foram evidenciados em algumas falas neste estudo, o que sugere repensar sobre as estratégias de promoção do aleitamento materno aplicadas atualmente.

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“Eu queria que ela mamasse, mas não teve jeito. Quatro meses ela deixou mesmo. Meu peito ficava cheio, eu tive febre, ficou horrível, foi horrível. Aí, mesmo assim não deu, né? Ela teve que ir “pro” leite (Amarela)”.

Algumas vezes mesmo querendo amamentar as mães interrompem o processo, por falta de apoio ou de orientação adequada oferecida pela equipe de saúde ou pela própria família. E sofrem com o insucesso, pois o êxito em amamentar está associado muitas vezes, ao rótulo de “boas mães”.

Em sua experiência com a segunda filha, amarela relata:

“Das duas vezes rachou. Mas eu não parei não. Quando ela chorava pra mamar, eu olhava pro meu peito, assim, e olhava pra ela. Olhava “pro” meu peito e olhava pra ela. Digo “Meu Deus, mas é o jeito!” Aí quando ela dava a primeira chupada eu ia lá em cima e voltava. A lágrima subia nos olhos, mas eu não desistia, não! Nem na primeira, nem na segunda (Amarela)”.

Azul também mencionou:

“Mas, assim, era o peito doendo, rachado, muita dor mesmo, mas eu dava de mamar (Azul)”.

Ainda sobre os fatores negativos Lilás relatou:

“Eu também amamentei, só que meu peito também feriu muito, muito, muito. Foi horrível. Mas amamentei, né? Porque a médica dizia que depois iria sarar, quando ele fosse mamando ia sarar. Aí eu sempre dei o peito, eu sempre fui boa de leite, sempre tive muito leite, e aí ele mamou até os três anos (Lilás)”.

Percebe-se nestas falas que há uma aceitação/superação da dor, uma resignação talvez, pelo “dever” ou “querer” amamentar. O que leva a pensar se isto

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acontece pelo desejo de amamentar ou pela pressão estabelecida/imposta pela sociedade.

“Ele só veio parar, acho que vai fazer uns seis, sete meses que ele parou de mamar. Mas foi sufoco pra ele parar de mamar. Eita meu Deus! Mas tentei de tudo, inventei de tudo pra deixar o peito. Botei esmalte, botei, aquele negócio que coloca em machucado (Lilás)”.

Nota-se nesta fala de Lilás, que as mulheres enfrentam dificuldades não somente no início do processo da amamentação, mas também ao término deste, quando desejam realizar o desmame em virtude da criança já ter idade o bastante para ingerir outros alimentos e/ou da mãe sentir a necessidade de desmamar o filho já crescidinho. Pois ao que parece falta-lhes apoio e orientação adequada também nessa etapa.

Rosa disse:

“Vim pra casa na primeira semana, dei de mamar a ele certinho. Na segunda semana eu comecei a ter febre, muita febre, muita febre, muita dor no corpo. Tive muita dor de cabeça, muita febre, me tremia todinha na cama. Aí eu tive que parar de dar o peito a ele, porque quando eu comecei a ter febre que eu dei a ele, aí ele ficou com febre também (Rosa)”.

Esta fala de Rosa, mostra a inabilidade em lidar com a situação, talvez por falta de informação ou de uma assistência adequada durante o puerpério.

Verde falou:

“Assim, só não gostava muito quando ela acordava de madrugada, três horas da manhã. Aí, como ela dormia no bercinho dela, três horas da manhã em ponto ela acordava. Aí eu botava pra minha cama”.

Referências

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