• Nenhum resultado encontrado

COLÉGIO SÃO LUÍS ENSINO MÉDIO CURSO DE METODOLOGIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA. AGDA MIRELLA ESTEVÃO RUAS e MARIANA AKEMI MANABE SOUZA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "COLÉGIO SÃO LUÍS ENSINO MÉDIO CURSO DE METODOLOGIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA. AGDA MIRELLA ESTEVÃO RUAS e MARIANA AKEMI MANABE SOUZA"

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

COLÉGIO SÃO LUÍS ENSINO MÉDIO

CURSO DE METODOLOGIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

AGDA MIRELLA ESTEVÃO RUAS e MARIANA AKEMI MANABE SOUZA

FUTEBOL FEMININO E SUA DESIGUALDADE COMPARADO AO MASCULINO, COMO IGUALAR O JOGO NO BRASIL?

São Paulo SP, Brasil 2020

(2)

AGDA MIRELLA ESTEVÃO RUAS e MARIANA AKEMI MANABE SOUZA

FUTEBOL FEMININO E SUA DESIGUALDADE COMPARADO AO MASCULINO, COMO IGUALAR O JOGO NO BRASIL?

Artigo apresentado como requisito de aprovação em “Metodologia de Iniciação Científica”, na 2ª série do EM do Colégio São Luís

Orientador(a): Prof(a). Fernanda da Silva Franco

São Paulo SP, Brasil 2020

(3)

RESUMO

Este trabalho destaca os desafios do futebol feminino no Brasil em comparação com o masculino e investiga meios para a superação destes. A partir da análise da história da modalidade no país e de conceitos como machismo, misoginia e sexismo presentes na sociedade brasileira, ideias de como resolver o problema vão se tornando simples de serem listadas. O principal caminho é investir na modalidade desde a infância, incentivando as garotas nas escolas. A partir daí precisaríamos de mais oportunidades, consequente de um país com menos desigualdade de gênero. Por meio de análise de entrevistas, entrevista autoral, análise de dados numéricos e análise de materiais produzidos por especialistas é possível compreender as principais adversidades e o quanto elas impactam no desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. Com essa visão é possível concluir que num contexto capitalista o esporte é um negócio sério, que gera empregos, entretenimento, acordos publicitários, patrocínios e que pode sim gerar altos lucros, assim como o masculino. O futebol feminino brasileiro precisa ser enxergado com essa seriedade e precisa ser explorado até o seu auge.

Palavras-chave: Futebol, futebol feminino, desigualdade de gênero

ABSTRACT

The present study emphasizes the challenges of woman’s soccer in Brazil compared to men’s and it also investigates ways to overcome these. From the analysis of the modality’s story in the country and concepts like machismo, misogyny and sexism present in Brazilian society, ideas on how to solve the problem are becoming simple to list. The best way is to invest in the sport since childhood, encouraging girls in schools. From this point on it is required more opportunities and consequently a country with less gender inequality. Through analysis of interviews, personal interviews, analysis of data and materials produced by specialists it is possible to comprehend the main adversities and how they impact the development of woman’s soccer in Brazil. With all of that in mind, it is possible to conclude that in a capitalist context sport is a serious business, it creates jobs, entertainment, publicity arrangements, sponsorships and can generate high profits, just like men’s soccer. Brazilian women’s soccer needs to be seen with this seriousness and needs to be explored until the peak is reached.

(4)

1 INTRODUÇÃO

Devemos nos atentar aos conceitos de machismo, misoginia e sexismo. A terceira definição do dicionário Michaelis define que machismo é a ideologia da supremacia do macho que nega a igualdade de direitos para homens e mulheres. Se conclui que no futebol está presente o machismo e o sexismo, ou seja, isso significa que existem pessoas dentro dos clubes como conselheiros e dirigentes não investem na área por possuírem um preconceito internalizado. A história do futebol masculino e feminino no Brasil nos mostra possíveis explicações para isso.

No Brasil muitos conhecem a história de Charles Miller que durante uma viagem a Inglaterra trouxe duas bolas ao país e com o seu breve conhecimento sobre o esporte sugeriu a criação de uma equipe de futebol. Em 1916 foi criado a Copa América, competição que integrava países como Uruguai, Brasil, Argentina e Paraguai. Feita com o intuito de acontecer a cada quatro anos, entre os times de futebol que estariam representando cada país.

A primeira transmissão ao vivo de uma partida, aconteceu em um jogo do Brasil x Uruguai, pela Copa América de 1922. Infelizmente os registros de mulheres praticando a modalidade no Brasil datam 1921. Assim a elite conservadora se sentiu extremamente incomodada com o fato de existirem praticando a modalidade, até médicos e professores de Educação Física defendiam que havia certos esportes e atividades “incompatíveis a natureza feminina” como o futebol e que elas eram frágeis de mais para isso e deviam se preservar para a maternidade. Por tanto, em quase quarenta anos o Brasil ficou oficialmente sem futebol feminino, mas havia certos grupos se organizando clandestinamente e jogando bola.

Mas na prática a situação é triste, em 2018 169 milhões de reais foram investidos na base de times masculinos no Brasil, e a base feminina do Corinthians, uma das mais fortes do país não recebeu nem 3 milhões do clube (pesquisa da plataforma feminista Hysteria com apoio da Nike em junho de 2019 ). Além do mais, segundo um relatório da FIFA das quinze mil mulheres que jogam em times organizados no Brasil apenas três mil são registradas profissionalmente como atletas. Nos últimos anos, o futebol feminino vem cada vez mais ganhando força e reconhecimento, todavia mesmo não havendo mais uma lei que proíbe mulheres de fazerem parte dessa modalidade, elas ainda enfrentam muito preconceito e desafios

(5)

que a sociedade emprega sob elas. Assim pretendemos comparar o time principal e algumas bases do futebol masculino e feminino do São Paulo Futebol Clube. Se ambos possuem nutricionistas, fisiologistas de qualidade equiparável etc.

Ao falar da sociedade brasileira, pode – se dizer que há um grande machismo vinculado ao fato de futebol ser de todos e para todos, independente do gênero pertencente a cada um. Os homens não conseguem perceber que mulheres podem desenvolver as mesmas ações que eles desenvolvem dentro de campo. A grande diferencia entre homens e mulheres nesse meio, é que no Brasil não há infraestrutura nenhuma, não há valorização comparado ao futebol masculino. As jogadoras por muitas vezes não recebem salário, não tem carteira assinada, “Aqui as mulheres jogam por amor” (Silvana Goellner - Doutora em Educação pela Unicamp e pós-doutora pela Universidade do Porto (Portugal)

Algumas questões trabalhadas nesse projeto são informações importantes num âmbito geral para educar a sociedade. Respondemos aqui por que clubes grandes de São Paulo não investem mais no futebol feminino, por que e como o interesse do público é um fator decisivo. Já adiantamos que o preconceito por parte de vários setores da sociedade e desse contexto esportivo é um grande motivo.

É fato de que os grandes clubes do Brasil, principalmente os da Região Sudeste possuem um grande aporte financeiro. Esse é utilizado para a compra e pagamentos de salários enormes para os jogadores do elenco masculino principal, isso porque esses recebem mais visibilidade. É possível que uma falta de interesse dos fãs e dos investidores cause esse atraso no futebol feminino brasileiro. O grande atrativo que há nos canais de televisão quando falamos de esporte, sem dúvidas nenhuma é o futebol masculino que é transmitido justamente pela existência da audiência, do público. Já os jogos femininos quase nunca são televisionados e quando são poucos sabem, pois não a divulgação, ou seja, quase nunca é informado pelas mesmas mídias, para poder ter o devido reconhecimento ao ser gerada a sua transmissão.

O machismo da sociedade junto com a misoginia, influencia as pessoas a internamente associarem que o esporte que é mais popular entre os homens e que começou com eles no Brasil e no mundo não possa obter qualidade quando praticado pelo sexo oposto. E assim não há público nos jogos mesmo estes sendo de séries A e com entrada gratuita. O resultado é que as mídias comunicativas recebem esses dados e decidem não investir seus recursos, pessoal noticiando o futebol feminino já que o interesse é pequeno. Consequentemente empresas não patrocinam times e

(6)

campeonatos femininos porque o tempo na TV será minúsculo e com pouco público, e os jogos onde também poderiam promover suas marcas estarão quase que vazios.

Como objetivo mais amplo, esta pesquisa procura estudar o processo de introdução da mulher no futebol brasileiro e problematizar os preconceitos sofridos pelas mulheres durante esse processo histórico e conscientizar a população brasileira de que a desigualdade feminina no futebol brasileiro é gigante. Porém, num mundo em que tudo se torna um produto no mercado a solução não é difícil, mas o caminho a ser percorrido é complexo. Houve a pesquisa de dados atuais envolvendo valores financeiros e fatos históricos do passado para enfatizar como que a disparidade é gigantesca mesmo passando despercebida pelos cidadãos brasileiros e por veículos da grande mídia.

Mais especificamente, o projeto tem por objetivo analisar as diferenças salariais de atletas do futebol feminino dos três maiores clubes da cidade de São Paulo em comparação ao masculino, as diferenças nos investimentos etc. Procura-se reforçar a importância da mídia noticiadora e da mídia de publicidades em ação conjunta com empresas como solução e método de divulgação do futebol feminino.

Em relação a metodologia utilizada temos a análise de documentários que tenham finalidade na abordagem referente ao futebol feminino no Brasil juntamente com a leitura de artigos e relatos que são de grande relevância. A entrevista de profissionais da área de Educação Física e do público consumidor do esporte também ampliam as perspectivas desse documento. A visão de estudiosos representa uma das fontes também.

2 A PRÁTICA DA MODALIDADE ENTRE MENINAS E MULHERES

Ao relembrarmos todo o passado histórico de preconceito, proibição e machismo no futebol feminino, pode-se dizer que é necessário investir em uma gestão para que a modalidade exista e aconteça. Há muitas meninas talentosas no Brasil que tem o grande sonho de se tornar jogadoras de futebol. Mulheres e garotas querem muito mais que jogar futebol, querem receber respeito diante ao seu gênero e a modalidade, a qual escolheram por paixão e vocação praticar.

(7)

Esse futebol precisa de investimentos não apenas nas grandes seleções, é preciso haver investimento principalmente e especialmente nas categorias de base. Afinal é aplicando dinheiro e oportunidades as jovens que cria – se uma seleção forte, forma meninas aptas a jogar de maneira profissional, deixando seu legado a cada geração.

Ao atribuir recursos no futebol feminino, não apenas as garotas e mulheres terão maior oportunidades de lutarem pelo seu sonho e conseguir ter melhor preparação para exercer determinada profissão caso queiram, mas também terão maior visibilidade por meio de publicidades que estarão circulando na mídia, tendo maior ênfase ao esporte e a modalidade.

Procuramos a compreensão de que a dificuldade para encontrar dados e estatísticas dos bastidores do futebol é notória, e se tratando do futebol feminino e de sua base a dificuldade é estratosférica. Podemos pensar que há uma tentativa dos próprios clubes de não analisarem e publicarem certas estatísticas para não evidenciar mais ainda o problema ou que apenas a mídia e a população não possuem interesse. Ainda assim podemos observar o machismo. Esse machismo influencia até na infância de muitas meninas.

Desde pequenas são impostas a fazerem “coisas de meninas”, como brincar de boneca, ao invés de brincar com uma bola de futebol, sendo essa brincadeira por sua vez até os dias de hoje, dada como de menino e não de menina, como abordado em um artigo de (LOPES, Franciéli Arlt, p.2)

A grande diferencia entre homens e mulheres nesse meio, é que no Brasil não há infraestrutura nenhuma, não há valorização comparado ao futebol masculino. As jogadoras por muitas vezes não recebem salário, não tem carteira assinada, “Aqui as mulheres jogam por amor” (GOELLNER, Silvana, 2016)

Exemplificando, a desigualdade salarial entre jogadores homens e mulheres é gigante, o salário das atletas se equipara ao da série C masculina. A folha de pagamentos dos gigantes de São Paulo, de acordo com o Portal Estadão, publicado em 28 de julho de 2019, é de aproximadamente R$ 100 milhões enquanto os gastos com os times femininos ainda são da ordem de R$ 100 mil, cem vezes menor. No caso dos times menores, a remuneração das jogadoras oscila e é compatível com a dos homens das Séries B, C e até D do Campeonato Brasileiro. Outro problema é a carteira assinada, muitas não têm registro profissional, entre os 52 clubes que disputam o Brasileiro feminino, menos de 10% assinam a carteira das atletas. Sem

(8)

registro, a jogadora não tem acessos aos direitos trabalhistas. Em caso de lesão por exemplo não podem recorrer ao INSS, elas chegam a esperar meses por ressonâncias e cirurgias, sendo que milhões são gastos e investidos nos Departamentos Médicos de grandes times (para a equipe masculina). Em 2017, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) destinou à equipe campeã do Brasileirão da categoria, o Santos, uma premiação de R$ 120 mil. O valor é 141 vezes menor do que o dado aos homens do Corinthians, que campeões brasileiros de 2017, 17 milhões de reais.

“São unidades de negócio diferentes. Um é consolidado e lucrativo no País; o outro está em formação e ainda precisa de investimentos. Eles podem ser iguais financeiramente?” (CUNHA, Marco Aurélio, 2019).

É fato de que devemos igualar os investimentos, folha salarial e aparição nas grandes mídias e veículos de comunicação. Algo que nunca vamos igualar é o corpo masculino e o feminino, não significando que os jogos femininos não possam mostrar um futebol de extrema qualidade assim como grandes clássicos do futebol europeu masculino, por exemplo. Essas diferenças são analisadas cientificamente, um estudo publicado em 2010 no Journal of Sports Science and Medicine examinou os avanços em recordes mundiais e as performances dos 10 melhores atletas em 82 esportes, ano a ano desde 1896, início da era olímpica moderna. Segundo os autores, as mulheres não são tão rápidas ou fortes quanto os homens. Fatores genéticos e hormonais afetam a altura, o peso, a gordura, a massa muscular, a capacidade aeróbica e o limiar anaeróbico. Além desses aspectos, no futebol, por exemplo, controle de bola, visão tática, cooperação e espírito de equipe são partes vitais do jogo. E as mulheres são cientificamente melhores do que homens em resistência em atividades física que tem duração maior que duas horas devido a irradiação de calor e conversão de gordura em energia de forma mais eficiente

Na mídia as coisas não são muito diferentes, de acordo com, Claúdio Zaidan - (Documentário: “A falta de visibilidade e o preconceito com mulheres que praticam futebol no Brasil,2016), comentarista esportivo da rádio Bandeirantes, o patrocinador quer visibilidade, para ter visibilidade, é preciso a transmissão de jogos na televisão, essa transmissão, por sua vez busca público, e em relação ao futebol feminino, ainda há pouco público.

Mesmo quando são determinadas certas atribuições pelo seu gênero, muitas garotas vão em busca de seus sonhos e suas vontades de fazerem o que tanto amam:

(9)

jogar futebol, seja com meninos ou com meninas, a única coisa que querem é fazer parte de uma das modalidades mais falada e praticada no mundo, principalmente no Brasil. Entretanto, como já dito enfrentam muito preconceito ao realizarem um esporte, o qual é majoritariamente praticado por homens.

Ao falar da sociedade brasileira, pode – se dizer que há um grande machismo vinculado ao fato de futebol ser de todos e para todos, independente do gênero pertencente a cada um. Os homens não conseguem perceber que mulheres podem desenvolver as mesmas ações que eles desenvolvem dentro de campo.

Essa visão torna o futebol feminino desvalorizado por clubes, treinadores e a mídia. É visível a ausência de investimento, estrutura e patrocínio. Enquanto para meninos é extremamente fácil a busca de uma escolinha ou um clube de futebol, para meninas há uma dificuldade persistente em encontrar.

Silvana Goellner, doutora em Educação pela Unicamp e pós - doutorado pela Universidade do Porto (Portugal), e pesquisadora sobre o estudo de gênero no esporte e professora na graduação e pós-graduação no curso de Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui uma grande importância no tema referente ao futebol feminino no Brasil.

Por sua vez, já escreveu alguns artigos acadêmicos, dentre eles (GOELLNER, Silvana, "Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades”, 2005) esse artigo traz consigo grandes questões responsáveis pela visão que o futebol feminino encara desde o início de sua existência. A imagem da mulher na sociedade é aplicada como uma figura inferiorizada pela sociedade machista, e isso está imposto em diversos contextos da sociedade brasileira, inclusive no futebol. A questão física do corpo feminino é algo que para muitos implica nas atividades que podem ou não ser realizadas por elas, sem contar a erotização que seus corpos exercem em relação a qualquer atividade feita.

Em seu artigo, Silvana cita: “O apelo à beleza das jogadoras e a erotização de seus corpos tem como um dos pilares de sustentação o argumento de que, se as moças forem atraente, atrairão público aos estádios e, portanto, ampliarão os recursos captados com os jogos, propagandas, produtos e serviços a girar em torno da modalidade. Atrairão, sobretudo, patrocinadores cuja ausência é comumente apontada pela mídia esportiva como um dos grandes problemas do futebol feminino no Brasil. “O custo e a falta de patrocínio são os maiores empecilhos do esporte”. (MULHERES..., 2003, p.42). Silvana complementa essa ideia e traz uma observação

(10)

dizendo: “Agrega-se a esse discurso do mercado, ou ainda, da fala de condições de manter-se nele, um outro que há muito tempo ronda os espaços onde acontece a prática de atividades físicas tais como o futebol: o da masculinização das mulheres” (GOELLNER, Silvana, 2005, p. 6-7).

Ambas observações em relação ao corpo feminino e a modalidade a qual praticam, fica intensamente claro que a figura feminina dentro do futebol possui além de um grande preconceito imposto pela não aceitação da prática esportiva, uma grande dificuldade na realização da sua divulgação, tendo em vista que essas mulheres são olhadas em sua grande maioria, com aspectos eróticos ou até mesmo como uma aparência masculina. Como se o esporte fosse apenas destinado aos homens, e quando o gênero oposto realiza a prática dessa atividade, deixa de ter uma configuração feminina passando a ter uma masculina.

Nas falas de Silvana Goellner costuma ser visto de maneira nítida a reafirmação de suas opiniões diante ao futebol feminino, sempre envolto ao pensamento em que diz que dentro dessa modalidade há uma série de condições que fazem com que seja difícil para as mulheres se manterem no futebol. “As mulheres jogam também e tão bem, quanto os homens, portanto elas merecem respeito, reconhecimento, oportunidades e estrutura, e profissionalização do esporte” (Silvana Goellner – Documentário Impedidas, 2015). Essa visão deixa a pergunta de por que as mulheres encontram se diante a essas dificuldades, algumas delas já foram mencionadas anteriormente, como preconceito, machismo, e falta de investimento.

Há outras questões que implicam pela luta das mulheres pelos seus direitos, desde aproximadamente a década de 30 no Brasil. Todavia havendo boas articulações na implementação de gestões em prol ao futebol feminino, é possível que ao longo dos anos, a visão da modalidade torne se algo com tanta visibilidade, quanto é apresentada ao futebol masculino.

O documentário Impedidas, 2015, produzido por Bruno Silverio, José Balganon, Juliana Becheeli e Letícia Romão, apresenta alguns entrevistados que possuem opiniões em relação ao atual cenário que encontra o futebol feminino e quais medidas deveriam e poderiam ser tomadas para a pratica dessa modalidade vir a ser condizente a pratica do mesmo esporte realizado pelos homens.

A formação de uma seleção feminina deve ser trabalhada a partir de meninas, através de aulas de futsal e futebol dentro das escolas e clubes, para que futuras gerações possam ser formadas. Tendo em vista disso, em entrevista para a produção

(11)

do documentário Impedidas, foi discutido esse tema: “Aqui o pessoal prioriza o esporte, quanto vai ganhar esquece a educação”, (..) “Se cada universidade que existe no Brasil, montar um time de futebol feminino, futsal feminino, dando bolsa de estudo, nós vamos ter a melhor seleção de futebol feminino do mundo. (Wegner Oliveira – Dono e treinador da equipe Tiger, Documentário Impedidas, 2015).

Dessa forma, pode – se dizer que é necessário a valorização e oportunidades para as meninas que jogam por paixão e tem vocação, para futuramente se tornarem mulheres jogando em clubes e seleções, com os mesmos critérios e investimentos oferecidos na pratica da modalidade para homens. Essas oportunidades podem vir a se enaltecer dentro das escolas, como dito no documentário: “O Ministério do Esporte poderia desenvolver uma ação com o Ministério da Educação, e que isso fosse implementado dentro das escolas”. (..) “Isso é um processo difícil e demorado, mas não é impossível.” (Luciane Castro – Jornalista do Lancenet, Documentário Impedidas, 2015)

Além de tantas dificuldades ainda presentes na modalidade, a falta de visibilidade permeia o gênero feminino. Como dito pela Silvana Goellner, “Comparar futebol masculino e feminino é reafirmar a inferioridade das mulheres” (Silvana Goellner – Documentário Impedidas, 2015). Todavia é difícil não fazer uma comparação entre ambos em diversos aspectos, e um deles é a questão da divulgação, a qual é mais que notório que a categoria masculina possui maior atenção, enquanto a categoria feminina fica velada. Claro que por volta da década de 30, para o ano atual de 2020, muita coisa já mudou, e pra melhor, porém ainda há muitas barreiras a serem quebradas, e a divulgação do futebol feminino é uma dessas barreiras. “ O futebol é produto, então você tem que mudar tudo, e transformar isso em uma coisa atrativa, aí é produto! (...) “Coloca umas meninas com qualidades e chama gente para ver um bom jogo de futebol” (Luciana Castro – Jornalista do Lancenet, Documentário Impedidas, 2015)

2 .1 INVESTIMENTOS, SAÚDE E PERFORMANCE

A saúde física das atletas fica comprometida pela falta de recursos e investimentos no futebol feminino. O ortopedista de joelho João Hollanda que é

(12)

médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino apresenta fatos alarmantes sobre as lesões das atletas em seu blog online.

O doutor afirma que as lesões do Ligamento Cruzado Anterior, que é a principal da modalidade são de quatro a seis vezes mais frequente nas futebolistas do que nos jogadores do mesmo nível competitivo. O especialista minimiza os aspectos do ciclo menstrual, da força muscular, dos aspectos neurofisiológicos ou atômicos dando enfoque nos fatores externos. Nos departamentos médicos dos clubes as lesões musculares e entorses de tornozelos vem em seguida causando grandes problemas. Hollanda exemplifica diversos fatores não diretamente relacionados ao corpo da mulher e que obtém grande impacto nesses dados alarmantes.

O primeiro fator são os contratos das atletas, esses são muito precários, muitas vezes as ligas têm atividades apenas em parte do ano e acabam dispensando as atletas no final da temporada. Essas retornam apenas na temporada seguinte o que prejudica a pré-temporada, muitas ao invés de utilizarem esse tempo para se recuperarem acabam assinando novos contratos em outras ligas e clubes. Isso ocorre tanto pelo “amor ao esporte”, como para se manter na indústria ou para se sustentar. Em outros casos as atletas se afastam temporariamente de qualquer treino regular quando são dispensadas, o que prejudica muito o condicionamento físico pois não há continuidade.

O segundo fator seria a limitação do elenco, com poucas peças de substituição as atletas lesionadas muitas vezes têm que retornar a atuar mesmo antes de uma recuperação completa. Outro motivo é que os departamentos médicos femininos possuem recursos humanos e materiais mais limitados do que as categorias masculinas. As condições para a realização de um trabalho preventivo com médico, fisioterapeuta, preparador e outros são restritos.

A crítica final é sobre as condições dos campos que são duros e esburacados que fazem parte da rotina do futebol feminino e podem ocasionar e prejudicar lesões.

“Justificar as lesões com base apenas nas diferenças próprias do corpo feminino é ignorar aquilo que, de fato, pode ser modificado, que são as condições de treino e jogo. Ao discutirmos sobre as lesões no futebol feminino, precisamos sim considerar as diferenças físicas entre os gêneros, mas os fatores extracampo, ainda que não estejam sob o controle direto das equipes médicas, devem também ser levados em consideração.” Completa o médico. (HOLLANDA, 2020)]

(13)

Os problemas do futebol feminino brasileiro são resultado de uma mentalidade conservadora e machista da sociedade. Um grande marco do atraso deste ocorreu durante a ditadura militar. O decreto de lei número 3,199 de 14 de abril de 1941 dizia “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo para esse efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Assim as mulheres passaram quatro décadas proibidas de praticar o futebol e outros esportes considerados inadequados para o corpo da mulher. Alguns médicos até apoiavam a medida apesar de não haver nenhum fundamento comprovado, as mulheres deveriam de preservar para a maternidade e eram consideradas extremamente frágeis em comparação com o homem.

O fim da proibição veio apenas em 1979 após luta e resistência. Existem relatos de mulheres perseguidas pela polícia, jogos interrompidos e outros. As perdas são estratosféricas no desenvolvimento da modalidade e das competições até das próprias atletas no país. O resultado de uma ignorância. Existem registros da prática “clandestina”, o que não é surpresa, mas não compensa as consequências.

Em meio a essas questões, que por sua vez afetam na valorização e no reconhecimento do esporte na categoria feminina, á diversos problemas que envolve esse assunto, desde a lei imposta pelo governo de Getúlio Vargas em 1941, (a proibição de mulheres jogarem futebol) até os dias atuais, tendo hoje no Brasil uma das melhores jogadoras do mundo, que serve como inspiração, a jogadora Marta.

Tendo em vista disso, é apresentado alguns dos problemas abordados por esse tema, que a cada ano vem ganhando força e resistência para serem tirados de campo, através dos pés das próprias meninas e mulheres que se interessam e se dedicam pela prática do esporte no Brasil.

Em entrevista com Paula Viotti Bastos formada em Educação Física na antiga OSEC (Organização Santamarense de Educação e Cultura) atual UNISA (Universidade de Santo Amaro) atualmente trabalhando no Colégio São Luís como professora do Fundamental II e treinando meninas há 30 anos é possível constatar opiniões de uma especialista da área.

Primeiramente a entrevistada deixa claro que os problemas não estão no futebol feminino brasileiro pois estão na forma como esse é tratado. Em seu diálogo afirma a problemática do passado, citada anteriormente em relação a prática da

(14)

modalidade no Brasil: “Em pensar que de 1941 a 1980 as mulheres eram proibidas de jogar futebol e só foram autorizadas a prática em 1983, vemos o início de um árduo caminho a ser percorrido.” Complementou sua fala dizendo que problemas como preconceito, falta de patrocínio e incentivos, questões estruturais da desigualdade de gênero, falta de informação, valorização e visibilidade, são temas envoltos ao futebol feminino há anos, desde os tempos atuais. Esses problemas são insustentáveis com argumentos como a fragilidade física dos corpos femininos em relação aos corpos masculinos, que é ofuscado quando um futebol igualmente competente e brilhante é apresentado. Paula exemplifica essa enorme qualidade ao citar a jogadora Sisleide do Amor Lima, popularmente conhecida como “Sissi”, alegando que essa foi a melhor jogadora de futebol que já viu atuar. Após dar exemplo de uma mulher que aderiu a prática do esporte, a entrevistada expõe possíveis maneiras de inserção do futebol feminino dentro das escolas, como uma maneira de incentivo para que meninas se desenvolvam a partir do primeiro contato com a bola.

Posteriormente a um incentivo essas garotas devem ter a oportunidade de jogar profissionalmente com as mesmas condições necessárias a qualquer profissão, vale lembrar que figuras femininas como a jogadora Marta e a atual treinadora da Seleção Brasileira, a sueca Pia Mariane Sundhag neste meio é de extrema importância para alcançar uma maior visibilidade e inspirar jovens talentos a chegarem em uma possível Seleção Brasileira. Sua fala é complementada com outros caminhos para que haja maior valorização da modalidade no âmbito feminino, como salário, estrutura de trabalho, patrocínio, marketing iguais aos disponibilizados para o futebol masculino.

A educadora física afirma que ainda nota preconceito nas escolas em relação a modalidade, no entanto menos desde quando começou a trabalhar na área, e diz que ainda há profissionais que são preconceituosos. Ainda falando sobre preconceito, Paula diz que ela como treinadora não passou por muitas situações expostas ao julgamento, todavia quando passava por algo em relação a isso, simplesmente contornava a situação com o trabalho realizado. Mas, como jogadora diz que esse tema sempre esteve presente na sua prática esportiva dentro da modalidade, porém isso nunca foi um problema de acordo com ela, pois sempre teve o esporte como uma paixão, e respondia a tais julgamentos raramente verbalmente, mas sim com o próprio futebol. Em relação às suas alunas, disse que o preconceito era exposto por parte dos familiares

(15)

Para concluir, a professora do Colégio São Luís contou que algumas de suas alunas foram para intercâmbio fora do país, com a bolsa de estudos de 100%, por causa do futebol. E que nunca foi descriminalizada nesse mercado de trabalho (treinadora de futebol/futsal) por ser mulher numa vertente dominada por homens.

3 HIPÓTESES

Para o futebol feminino poder vir a ter maior impacto entre as meninas o primeiro contato tem que se dar através da escola, a partir de aulas de educação física, recreações, e atividades extra curriculares. Essa é a primeira grande iniciativa que deve ser imposta as jovens para que conheçam a modalidade, e desconstruam a visão de que o esporte é e deve apenas ser praticado pelo gênero masculino, ideia ainda muito presente na sociedade brasileira apesar dos avanços.

Além disso, a valorização no mercado e o investimento tem que ser atribuído de maneira igualitária, ou seja, os mesmos direitos dispostos aos homens devem ser relevados quando fala – se das mulheres, afinal apesar de obterem corpos distintos possuem o mesmo potencial para entrar dentro de quadra, dominar uma bola e fazer gol.

De maneira extremamente notória, apesar dos avanços, a sociedade ainda é muito preconceituosa e machista e isso não deixa de estar presente na vida de garotas e mulheres que jogam futebol. Todavia, diante a tantos olhares de julgamentos o esporte no Brasil tem grandes figuras femininas que empoderam a prática da modalidade, como a jogadora Marta e a Sissi, citada acima pela própria professora

Paula Viotti Bastos.

Por muitas vezes, os preconceitos e as falas atribuídas ao futebol feminino, empregadas pelo senso comum, são respondidas por um par de chuteiras, uma bola nos pés e habilidades de mulheres que jogam como mulheres e não como homens, comentário muitas vezes inserido ao verem que alguém do sexo frágil joga tão bem ou melhor que alguém que pertence ao sexo masculino, afinal não é o gênero que impõe quem é melhor e quem é pior.

(16)

4 CONCLUSÃO

A lei de 1941, simplesmente proibia pessoas do gênero feminino a jogarem futebol, todavia houve uma grande resistência por parte das mulheres de poderem praticar o esporte, mostrando que sua condição física não era um limitador para a prática da modalidade no Brasil. Essa resistência deu voz a prática da modalidade, ajudando a reforçar que independentemente da natureza feminina, mulheres e meninas podem e devem realizar essa atividade física, em prol do seu auto - conhecimento, no desenvolvimento de habilidades desconhecidas e na percepção que seu gênero não impede a realização de determinado esporte.

O grande atrativo que há nos canais de televisão quando falamos de esporte, sem dúvidas nenhuma é o futebol masculino. É transmitido, pois há audiência, há público. De acordo com Cláudio Zaidan – Comentarista esportivo da rádio Bandeirantes o futebol feminino não é tão transmitido, pois ainda não há audiência, todavia, a modalidade masculina possui uma maior divulgação nas redes sócias, informando as partidas que acontecerão. Já os jogos femininos quase nunca são televisionados e quando são poucos sabem, pois não a divulgação, ou seja, quase nunca é informado pelas mesmas mídias, para poder ter o devido reconhecimento ao ser gerada a sua transmissão.

O machismo da sociedade junto com a misoginia, influencia as pessoas a internamente associarem que o esporte que é mais popular entre os homens e que começou com eles no Brasil e no mundo não possa obter qualidade quando praticado pelo sexo oposto. E assim não há público nos jogos mesmo estes sendo de séries A e com entrada gratuita. O resultado é que as mídias comunicativas recebem esses dados e decidem não investir seus recursos, pessoal noticiando o futebol feminino já que o interesse é pequeno. Consequentemente empresas não patrocinam times e campeonatos femininos porque o tempo na TV será minúsculo e com pouco público, e os jogos onde também poderiam promover suas marcas estarão quase que vazios. Um exemplo claro é o primeiro jogo da Final o Paulista Feminino de 2019, que obteve no jogo 1 no Morumbi (com torcida única) apenas 8 mil pessoas. A entrada era gratuita e apenas 12% da capacidade (aproximadamente) foi ocupada. É um dado grave e chama atenção, para um investimento maior precisamos de um apoio do público, da população brasileira.

(17)

BIBLIOGRAFIA

CASTRO, Luciane, Documentário Impedidas. Direção Letícia Romão, 2015

CEOLIN, Monalisa. O que a Copa do Mundo Feminina revelou sobre a desigualdade de gênero?. Blog Politize, 2019. Disponível em: https://www.politize.com.br/copa-do-mundo-feminina-e-desigualdade-de-genero/ Acesso: 3 de novembro de 2020;

LOPES, Franciéli Arlt, Menina pode isso, menino pode isso, menino pode aquilo: Estereótipos de gênero no cenário escolar, 2017, p.2;

GALEANO, Marina. Como surgiu o futebol feminino no Brasil? Marie Claire, 2019.

Disponívelem:https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2019/06/como-surgiu-o-futebol-feminino-no-brasil.html. Acesso: 3 de novembro de 2020;

GOELLNER, Silvana, Documentário: “A falta de visibilidade e o preconceito com mulheres que praticam futebol no Brasil. Direção de Stephanie Lima, 2015; GOELLNER, Silvana, Documentário Impedidas. Direção Letícia Romão, 2015; GOELLNER, Silvana, “Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades”, 2015, p. 6-7;

HOLLANDA, João. Lesões no futebol feminino. Ortopedista do joelho, 2020.

Disponível em: https://ortopedistadojoelho.com.br/lesoes-no-futebol-feminino-muito-alem-do-genero/. Acesso: 3 de novembro de 2020;

MULHERES entram em campo. Zero Hora, Porto Alegre, 2 fev. 2003. Caderno Esportes, p.40-42;

OLIVEIRA, Wegner, Documentário Impedidas. Direção Letícia Romão, 2015; Salário do futebol feminino brasileiro se equipara ao da Série C masculina. Veja Abril, 2019. Disponível em: https://veja.abril.com.br/esporte/salario-do-futebol-

feminino-brasileiro-se-equipara-ao-da-serie-c-masculina/#:~:text=De%20acordo%20com%20informa%C3%A7%C3%B5es%20do,h omens%20ganham%20118%25%20a%20mais. Acesso: 3 de novembro de 2020; ZAIDAN, Claúdio, Documentário: “A falta de visibilidade e o preconceito com mulheres que praticam futebol no Brasil. Direção de Stephanie Lima, 2015.

Referências

Documentos relacionados

O teste de patogenicidade cruzada possibilitou observar que os isolados oriundos de Presidente Figueiredo, Itacoatiara, Manaquiri e Iranduba apresentaram alta variabilidade

O artigo 2, intitulado “Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): Estar fora da família, estando dentro de casa”, foi resultado da realização de uma pesquisa de

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

3.3 o Município tem caminhão da coleta seletiva, sendo orientado a providenciar a contratação direta da associação para o recolhimento dos resíduos recicláveis,

Assim, este estudo buscou identificar a adesão terapêutica medicamentosa em pacientes hipertensos na Unidade Básica de Saúde, bem como os fatores diretamente relacionados

Por outro lado, os dados também apontaram relação entre o fato das professoras A e B acreditarem que seus respectivos alunos não vão terminar bem em produção de textos,

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced