Supositórios e Óvulos
Definição (FP)
Características dos supositórios:
Superfície lisa, homogénea sem cristalização Consistência adequada Perfeita distribuição da SA Via rectal: 1g (lactentes) - 3g (adultos)
Forma cónica (acção local); cilíndrica; torpedo (acção sistémica)
Tipos especiais de supositórios: ocos (protecção total da SA); estratificados (incorporação de SA incompatíveis); dupla camada (1ª: base gorda + SA; 2ª: PEG libertação lenta; clima tropical); drageificados (revestimento clima tropical); com grânulos revestidos
Vantagens: administração de SA irritantes/ sensíveis em relação à mucosa gástrica; ef. 1ª passagem; uso pediátrico
Desvantagens: irritação da mucosa rectal pouco humedecida; absorção lenta e, por vezes, incompleta e variável
Via Rectal (veias hemorroidais): Factores Fisiológicos conteúdo do cólon e fluidos; circulação sanguínea; pH (); estado fisiológico; camada da mucosa da parede luminal + Factores FQ Excipientes (diferentes tipos de bases) + Factores FQ SA solubilidade/ coef. partilha O/A favoráveis à libertação da SA para o cólon (base do supositório fluidos do cólon); grau de ionização/ pKa; tamanho forma não ionizada - ácidos ou bases fracos, micronizada (+/- 100m) e com
solubilidade oposta à da base veiculada é melhor absorvida por ser termodinamicamente instavel! (SA c/ acção sistémica)
Principais problemas dos supositórios:
1- higroscopia (sup. glicerina gelatinada) evitar: excip. Anidros (se não houver água na ff); acondicionamento e armazenagem adequados
2- incompatibilidades (sup. PEG) evitar: outra base (incompatível c/ base); sup. estratificados (incompatibilidade entre SA)
3- viscosidade insuf. (sup. massa estearínica) evitar: + viscosantes 4- fragilidade (sup. massa estearínica) evitar: T; revestimento
5-contracção de volume insuf. / excessiva (sup. glicerina gelatinada; manteiga de cacau): não se destaca dos moldes/ formação de chaminés peso evitar: encher com excesso de massa posterior/ raspado – indústria; encher com T ligeira/ acima do PS num molde ligeira/ aquecido; lubrificar os moldes; revestir moldes; revestir supositórios
6- ranço ou oxidação (sup. manteiga de cacau): evitar: + antioxidantes
7- polimorfismo: funde cristaliza (ff metastáveis) absorção (sup. manteiga de cacau) evitar: técnica da “sementeira” (adição de alguns cristais acelera a mudança para a forma estável); T
Base Ideal: ( ainda não há!)
1-Intervalo de fusão/ solidificação curtos:
s/ polimorfismos
PF 36ºC: para fundir no corpo, mas suficiente para se conseguir manipular
PS 32ºC: para solidificar rapidamente após preparação e arrefecimento, evitando a sedimentação e aglomeração das partículas suspensas
2- Índice de água; índice de acidez (<0,2); índice de iodo (<7); índice OH; I. G.S 30%; I. saponificação 200-245
3-Propriedades humectantes e emulgentes
4-Equilíbrio entre hidrofilia/ lipofilia (boa libertação da SA) 5-Consistência e viscosidade adequadas
6-Contracção após solidificação fácil separação dos moldes s/ lubrificação 7-Sem toxicidade/ irritação/ acção terapêutica
8-Bons caracteres organolépticos 9-Compatível com SA
10-Fácil manuseamento processos de fabrico 11-Estável durante armazenagem
12-Custo acessível
Bases Gordas
(libertação da SA hidrossolúvel por fusão)
Características Vantagens Desvantagens Aplicação
Manteiga de cacau
Sólido branco amarelado com cheiro a chocolate
PF = 30-35 ºC PS = 22-26ºC
Inócua, suave, não reactiva (índice de acidez <4) resistente
Incompatibilidade com algumas SA (cânfora, fenol...)
Funde fácil/ qd se T
índice de água
mto oxidável (índice de iodo = 34-38) polimorfismo
Fraca contractilidade
Escorre fácil/ do interior do corpo (não usar em óvulos!) Caro Preparações magistrais (mas actual/ é pouco usada) Òleos tratados-
Ex: óleo de coco ou de sementes de palma
Tratamento através de rx esterificação, hidrogenação ( insaturação), fraccionamento em PF (óleos e as ceras PF das bases)
Substituição da manteiga de cacau
Massas Estearínicas
Ex: massa estarinum, witepsol
Bases sólidas semi-sintécticas Mistura de glicéridos com ácidos gordos saturados
Lotes reprodutíveis de supositórios brancos e brilhantes
Solidificam fácil/ s/ polimorfismo
índice de água e poder emulsionante A/O
retracção fácil (s/ lubrificantes)
índice de acidez e de iodo (menor oxid.)
PF perto do PS barato
( + viscosantes)
frágeis: estalam qd o arrefecimento é rápido (+ revestimento)
Witepsol – base universal para indústria
Bases Aquosas/ Hidrodispersíveis ou Mucilaginosas ( PM)
(libertação da SA lipossolúvel por dispersão e desagregação na mucosa rectal pouco humedecida: aplicação + dolorosa) Uso: óvulos; laxantes; climas tropicais
Lactose PM: origina soluções verdadeiras em presença de água desuso
Glicerina /
Glicerina- gelatinada
PM: originam geles em contacto com água
70% glicerol em água + 14% gelatina em pó A (ácida)/ B (básica) + 16% água - FP Formas uniformes Suaves (Ver aplicação) Higroscopia laxante Contaminação mo Base demora a preparar
Glicerina liquida à Tamb (adicionar endurecedores) Necessário lubrificantes Óvulos Supositórios laxativos PEG =polietilenoglicol =polioxietilenoglicol
(Macrogol; Carbowax) – nome internacional PM: L (supositórios moles) PM: S (supositórios duros estaladiços) Mistura s/ laxação contaminação mo s/ lubrificantes
fácil manuseamento (PF > Tcorpo) não escorre do interior do corpo bom solvente
aparência limpa e macia ao tacto
Higroscopia (usar moldes bem secos) Estabilidade
biodisponibilidade
mtas incompatbilidades! (antibióticos, compostos aniónicos, halogéneos…) Rx com plástico Estala qd moldado a T PM: velocidade de libertação SA PM: velocidade de libertação SA Adjuvantes Exemplos Correctores do P.F e consistência
endurecedores – ceras; ácido esteárico; parafina amolecedores – óleos; glicerina; PEG L; água; sorbitol
viscosantes- 1-2% monoestearato de alumínio ou magnésio; álcoois cetílico, estearílico, miristico, bentonite; dióxido de silicone tixotropia
Emulgentes O/A – tween 60 (5-10%); lecitinas; sabões de trietanolamina …– acção sistémica A/O – span; colesterol… - acção local (<< absorção!)
Conservantes Nipas ou Parabenos…
Antioxidantes fenóis; quinonas; tocoferol; galhatos; taninos; BHA; BHT; ácido cítrico (tb quelante- 0,5%) (Bases gordas) Tampões pH (): base pH > pKa / ácido pH < pKa
Corantes + usados em supositórios estratificados
Aulas Teórico- Práticas:
1- Formulação:
Ter em conta:
1- Acção local (base não absorvível lenta a fundir; libertação + prolongada)- forma cónica/ sistémica- forma torpedo
2- Local de aplicação:
2.1- Recto: supositórios; microenemas ou clisteres (soluções ou sistemas dispersos) 2.2- Uretra: bugias ou velas
2.3-Vagina: Pessários = Óvulos: cápsulas vaginais ou óvulos com invólucro; comprimidos vaginais ou óvulos comprimidos
Produção: por compressão/ fusão
Massa 1-15g SA + base hidrofílica (glicerina gelatinada; PEG)
comprimidos vaginais: SA + lactose e/ou glucose anidras + ácido bórico e/ ou fosfórico (pH = 4-5, embora o ác. láctico tenha este pH)
3-Efeito: rápido/ lento
4-Solubilidade: SA hidrossolúvel base gorda SA lipossolúvel base aquosa
(Porém, na prática nem sempre tal se verifica: quando se formulam óvulos; supositórios para climas tropicais ou outras situações específicas)
2- Preparação e Equipamento:
Pulverização SA: 100% pó deve passar por tamiz USP 100 malhas ou dissolução SA num solvente
Moldagem por compressão: compressão/ prensagem da massa ralada em pó através de uma máq. compressão com um volante rodado manualmente (lento e + caro; incorpora ar; supositórios quebradiços, pouco homogéneos…) – ex: óvulos
Moldagem por fusão: fusão da base (banho de água: T 40ºC) adição e homogeneização da SA (emulsionada ou suspensa) enchimento dos moldes metálicos/ plásticos (moldagem a quente) arrefecimento lento (, escala: + comum; sup. + homogéneos e estáveis)
Máquina Automática (rotativa ou em linha de recta)- preparação da massa com agitação e T cte enchimento em excesso dos moldes após respectiva lubrificação por escovagem ou aspersão arrefecimento: solidificação da massa raspagem do excesso (reutilizado) estação de ejecção (moldes abrem-se) limpeza dos moldes Moldagem por fusão + compressão: fusão SA + exc. solidificação da massa
Moldagem por rolamento (moldagem manual): por rolamento da massa de supositórios bem misturada com SA e corte em várias unidades depois afiladas (método mais antigo)
Actualmente já há métodos de moldagem directamente no material de acondicionamento.
Acondicionamento e embalagem: folhas de alumínio ou estanho; tiras de papel ou plástico -PVC
Conservação: de preferência no frigorífico
Cálculos:
1º) Escolha dos excipientes
2º) Calibração dos moldes: excip. puro fusão nos moldes determinar peso de 20 unidades: Média; DP; Coef.V < 4,5% (*)
3º) Cálculo da quantidade de excipiente
4º) Enchimento dos moldes após lubrificação (se necessário)
P excip. = Pt – Psa
Se as densidades fossem iguais
as massas
ocupariam o mesmo volume (enchimento volumétrico)
Mas as densidades normalmente são diferentes, então: deve-se ter em
conta a massa de excip. correspondente ao volume ocupado pela SA, para
além da massa SA:
P
excip.= F – (
F
d* s)
* nº total de supositórios
F: peso do supositório (cheio de excip.) S: massa de SA (dosagem)
Fd: Factor de deslocamento ou de substituição S
* nº total de supositórios
Diferentes hipóteses para calcular Fd:
1)Tabela com fd para cada SA
2) Fd = 1/DSA consultar Tabela com densidades relativas para cada SA em relação ao excip.
3) Fd = 100 (E – G) / (G * X) + 1 ou Fd = (E – G) / (G * X) + 1 E: peso do supositório (cheio de excip.)
G: peso do supositório com X % SA (mistura)
X: % de SA: expresso em nº inteiros na 1ª fórmula e nº decimais na 2ª fórmula
4) Fd = M excip. (g) correspondente ao volume ocupado por 1g SA (pela definição)
3- Controlo de Qualidade (rotina- escala industrial):
Caracteres organolépticos (homogeneidade/ boa consistência/ superfície lisa, sem rugosidades nem cristalização de SA) – cortes longitudinal e transversal
Identificação/ doseamento da SA/ Uniformidade de teor – Dose unitária (SA bem distribuída no sup.): tolerância +/- 5-10%; obedecer ao ensaio de uniformidade de massa (FP)
Ensaio de dissolução e desagregação (escolher: T; membranas; meio: água + tampão; movimento (pás; cesto) organismo)
Verificação de selagem: teste de estanquicidade
Estudos de estabilidade durante a armazenagem a T CQ dos excipientes ou Base (da responsabilidade do Fabricante):
CQ geral:
Índice de refracção Densidade a 20ºC
Viscosidade a 40ºC: tixotropia no intervalo de fusão: maior facilidade de gelificação em repouso e menor sedimentação SA/ boa distribuição SA
*Ensaios de tolerância in vivo (fase de pre-formulação)
*Ponto de fusão (teste de intervalo de macrofusão: tempo necessário para a fusão completa de um supositório em banho de água a 37ºC/ teste de intervalo de
microfusão: em tubos capilares; para bases gordas); tempo de liquefacção (“inicio” da fusão; com métodos compressivos ou não); ponto e tempo de solidificação (temperatura e tempo necessários para a solidificação da base aquando o arrefecimento no molde - termómetro rotativo; balão de Shukoff) rapidez de acção do sup.
*Ensaios de consistência (ponto de quebra: peso a que o supositório colapsa) – Aparelho de Erweka; Albuquerque…
(* Ensaios comuns ao produto acabado)
Excip. gordos:
Índices de: refracção; água; hidroxilos; saponificação; iodo; acidez; peróxidos; gorduras sólidas
Coeficiente de retracção
Índice de água = M H2O (g) incorporada em 100g gordura (pode ser por adjuvantes)
Índice de hidroxilo = M KOH (mg) necessários para neutralizar ácido acético usado para acetilar 1g gordura; indica % mono/ diésteres e indirecta/ a capacidade para incorporar água ( )
Índice de Saponificação = M KOH (mg) necessários para neutralizar ácidos livres e saponificar os ésteres contidos em 1g gordura; indica o tipo e qd de glicéridos da base/ anti-oxidantes naturais (200-245)
Ìndice de Iodo = M I2 (g) que reage com 100g gordura; (< 7 para diminuir a decomposição pela humidade, ácidos, O2 - ranço)
Ìndice de peróxidos = M peróxido (mcg) em 1 g produto (< 40 para haver menor grau de oxidação)
Ìndice de acidez = M KOH (mg) necessários para neutralizar ácidos livres contidos em 1g substância (< 0,2 para diminuir a reactividade e irritação da mucosa)
Índice de gorduras sólidas – determinado por dilatometria; indica a dureza dos supositórios à Ta (cerca de 30%)
Excip. hidrodispersíveis:
tempo de dissolução a 37ºC, 1h pH das dispersões
índice de acidez PM médio dos PEG
EXERCÍCIOS
1- Num laboratório farmacêutico formularam-se supositórios de ibuprofeno doseados a 400 mg. Durante os ensaios de desenvolvimento e pré-formulação obtiveram-se os seguintes dados: Peso da massa estearínica necessária para encher 100 moldes: 280 g
Peso de 100 supositórios realizados com uma mistura de 25:75 (p/p) de ibuprofeno: massa estearínica 300 g
Sendo a fórmula composta apenas por massa estearínica e ibuprofeno, calcule a quantidade de ibuprofeno e massa estearínica que terá que pesar para produzir um lote de 1 500 000 supositórios. G1
2- Com o objectivo de preparar um lote industrial de óvulos doseados a 600 mg de ácido bórico, prepararam-se 100 óvulos com uma mistura de PEGs cujo peso médio foi 14,5g, e prepararam-se também 100 óvulos de uma mistura 75 / 25 (p/p) de excipiente / fármaco cujo peso médio foi 15,0g.
Sendo a fórmula composta apenas pela mistura de PEGs e ácido bórico, calcule a quantidade de ácido bórico e da mistura de PEGs que terá que pesar para produzir um lote de um milhão de óvulos. G1
3- Propôr a formulação de óvulos de um fármaco anticoncepcional (estradiol) ou antifúngico (fluconazol) vaginal à escolha. G2
4- Propôr a formulação de supositórios de bisacodil. G3