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ESPAÇO VIVIDO E ESPAÇO LEGAL NA TERRA INDÍGENA RIBEIRÃO SILVEIRA (TEKOHA MURUTÏ): REFLEXÕES A PARTIR DA CARTOGRAFIA PARTICIPATIVA EM SALA DE AULA

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Academic year: 2021

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ESPAÇO VIVIDO E ESPAÇO LEGAL NA TERRA INDÍGENA RIBEIRÃO SILVEIRA (TEKOHA MURUTÏ): REFLEXÕES A PARTIR DA CARTOGRAFIA PARTICIPATIVA

EM SALA DE AULA Área Temática: Educação

Responsável pelo Trabalho: Eduardo Bernardo dos SANTOS

Instituição: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Instituto de Geociências (IGE) Autores: 1) Eduardo Bernardo dos SANTOS1, 2) Lincoln John Leite MEDEIROS2, 3) Rafael de SÁ3.

Palavras-chave: cartografia participativa; projeto de extensão; educação indígena; terra indígena;

Da Extensão à Comunidade – Da Comunidade à Extensão

A Terra Indígena Ribeirão Silveira é distribuída em 948 hectares e está localizada no litoral do Estado de São Paulo, no limite entre a escarpa da Serra do Mar e a faixa litorânea, entre os municípios de Bertioga e São Sebastião. Vivem na aldeia hoje aproximadamente 400 índios (FUNASA 2005) e a principal atividade econômica é a comercialização do palmito da jussara. Além disso, a comercialização de flores e mudas de espécies nativas, cultivadas em viveiros, e o artesanato – cestos, esculturas de animais em madeira, colares, pulseiras etc – compõe uma outra parte das atividades econômicas. A comunicação dos índios entre si é feita em guarani, que é a língua que aprendem pela oralidade desde a infância, e somente na escola são alfabetizados em língua portuguesa.

Essa comunidade indígena está perdendo significativamente sua relação com o espaço, ao mesmo tempo em que enfrenta um processo contínuo de descaracterização de suas tradições. Seu território também sofreu, e continua sofrendo, principalmente a partir da década de 1960, com a intensificação da urbanização do litoral paulista. Essas terras, que têm sido palco de disputa entre os

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Aluno do curso de graduação em Geografia da Unicamp. 2

Aluno do curso de graduação em Geografia da Unicamp. 3

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indígenas e moradores locais há décadas, tiveram sua demarcação homologada pelo Decreto Presidencial 94.568, de 8 de julho de 1987 e atualmente está em trâmite sua ampliação, que podem vir a totalizar 8.500 hectares4, porém o processo encontra-se paralisado devido a ação judicial5.

O presente trabalho tem origem de um projeto de extensão comunitária intitulado “Cartografia participativa, território e cultura: a Comunidade e Terra Indígena “Rio Silveira” (Tekoha Morutï), em Bertioga (SP)”6 e é desenvolvido na Escola Municipal Indígena Nhembo `e´ á Porã e na Escola Estadual Indígena Txeru Ba’ e’ Kua-i, ambas localizadas dentro das terras da reserva indígena Ribeirão Silveira. Esse projeto tem a proposta de enfrentar os problemas locais a partir da leitura do território, sobretudo com mapas, que permitem à população o reconhecimento e a identificação com seu espaço vivido. A proposta é que a cartografia sirva como ferramenta de reflexão para os indígenas, tanto para o auto-reconhecimento quanto para o conhecimento de seus direitos.

Ao fim do projeto, objetiva-se a apresentação de um atlas geográfico etnográfico bilíngue – em português e guarani – que será elaborado no decorrer das atividades e contará com a participação dos próprios indígenas, trazendo suas referências espaciais e territoriais e seus valores sócio-cosmológicos. A ideia é que esse material seja utilizado nas escolas de modo a possibilitar uma aprendizagem significativa aos conteúdos geográficos trabalhados pelos professores, uma vez que possibilitará a aproximação dos conteúdos com a realidade local.

Da Extensão à Pesquisa

Este trabalho traz alguns resultados e reflexões obtidos a partir do projeto de extensão comunitária supracitado. Objetiva utilizar o material obtido a partir do mapeamento sistemático e o material produzido pelos alunos das escolas da Reserva Indígena Ribeirão Silveira nas atividades de

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Nessa nova demarcação, além de Bertioga e São Sebastião, está incluída a cidade de Salesópolis. 5

Essa ação judicial é uma Medida Cautelar em Mandado de Segurança (MS 29293), movida por moradores dos arredores que contestam a possível ampliação das terras indígenas, alegando ilegibilidade do processo e argumentando que tal demarcação inviabilizaria loteamentos residenciais nos bairros Boraceia I e Boraceia II, chamando atenção para o prejuízo aos proprietários possuidores de lotes.

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produção de mapas mentais como ferramenta para compreensão do espaço local. Esse processo passa por entender de forma crítica não só as partes constituintes da aldeia, mas também todo o processo que a cerca; deve abranger desde os limites legais da aldeia, até a apreensão dos símbolos, signos, trajetos, elementos naturais e sociais e as relações socioespaciais que se estabelecem nesse contexto.

Atualmente, o trabalho se encontra em revisão bibliográfica, a fim de apreender mais conteúdo tanto sobre os elementos históricos da comunidade indígena, quanto sobre as teorias empregadas para reflexão sobre o espaço. Assim, o objetivo é poder discutir com mais propriedade e apresentar resultados mais significativos.

Os caminhos percorridos

No decorrer do projeto de extensão comunitária, foram realizados trabalhos de campo com objetivo de promover encontros entre os participantes do projeto e algumas lideranças e residentes da aldeia. Para este trabalho, destacam-se dois momentos: um primeiro onde pôde ser feito o mapeamento sistemático da área, a partir de uma caminhada pela mata com um dos pajés, Sérgio, acompanhado de seu irmão, Toninho, uma liderança da aldeia; e um segundo com os alunos das escolas indígenas localizadas dentro da Aldeia Indígena Ribeirão Silveira onde foram realizadas atividades de produção de mapas mentais, entendidos a partir de Kosel (2005), para quem

O mundo é visto e experienciado não como uma soma de objetos, mas como um sistema de relações onde estão imbricados valores, sentimentos, atitudes, vivências, entre outros. As imagens espaciais provenientes dessas subjetividades foram denominadas mapas cognitivos, mapas conceituais e posteriormente mapas mentais.

Legenda: Fotos tiradas durante as atividades nas escolas Escola Municipal Indígena Nhembo `e´ á Porã e na Escola Estadual Indígena Txeru Ba’ e’ Kua-i

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O mapeamento sistemático foi realizado a partir do sistema de posicionamento global – GPS, na sigla em inglês – e com o auxílio do aparelho receptor móvel, foram coletadas as coordenadas dos locais julgados como importantes, como os núcleos familiares, as casas de reza, a escola, as cachoeiras etc. (ver Mapa 01).

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Para elaboração dos mapas mentais foram realizadas quatro atividades de produção com os alunos, que estavam divididos pelo ano escolar. Para cada turma, foram elaborados um comando e uma dinâmica distintos, a fim de explorar a particularidade de cada grupo. As atividades podem ser sintetizadas da seguinte maneira:

• Atividade 1 (alunos do 1º ao 3º ano do ensino fundamental): frase motivadora:

”imagine que você estaria livre para brincar agora. Desenhe onde você iria, quem levaria e quais as brincadeiras brincaria

a) Desenhar individualmente em papel tamanho A4;

• Atividade 2 (alunos do 4º e 5º ano do ensino fundamental): frase motivadora: “desenhe sua aldeia”

a) Desenhar individualmente em papel tamanho A4;

b) Com base na apresentação dos desenhos, criar uma lista dos itens que não podem faltar na aldeia;

c) Elaboração de um mapa coletivo a partir dos desenhos inicias e da lista do item anterior;

• Atividade 3 (alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental): frase motivadora:

“desenhe sua aldeia contendo elementos do cotidiano”;

a) Desenhar coletivamente em papel tamanho A1;

b) Desenhar coletivamente em papel tamanho A1 com a área atualmente demarcada e a área de demarcação pretendida plotadas;

• Atividade 4 (alunos do 1º ao 3º ano do ensino médio): frase motivadora:

“desenhe sua aldeia contendo elementos do cotidiano”;

a) Desenhar coletivamente em papel tamanho A1;

b) Desenhar coletivamente em papel tamanho A1 com a área atualmente demarcada e a área de demarcação pretendida plotadas;

c) Desenhar coletivamente em papel tamanho A1 com a imagem de satélite da aldeia plotada.

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O espaço legal e o espaço vivido

Em uma análise superficial, foi possível notar a boa relação dos alunos com seu território e perceber que a relação deles com o espaço é muito importante e significativa. Observando a produção dos mapas pelos mesmos, nota-se que, apesar de sutis diferenças de um mapa para outro, eles são muito semelhantes. Grande parte destes mapas possuem elementos chave, como a escola, sendo esta uma das principais referências e o ponto de partida para confecção dos outros elementos. A partir da observação do aparecimento de vários elementos da aldeia nos desenhos dos alunos, como a escola, a casa de reza e campo de futebol, é possível inferir uma homogeneidade no espaço vivido pelos indígenas e entender essa repetição como evidencia da importância desses elementos destacados.

Pôde-se perceber que a grande maioria dos elementos identificados no trabalho de mapeamento sistemático situava-se fora dos limites legais da demarcação da Terra Indígena Ribeirão Silveira e, da mesma maneira, os mapas mentais elaborados pelos alunos das duas escolas identificam esses elementos como pertencentes às delimitações do seu espaço vivido, abrangendo a área pretendida pelo processo de ampliação das terras indígenas desse povo. Desse modo, mostra-se necessário a reflexão sobre a demarcação atual, já que esta, de fato, corresponde a apenas uma parcela do espaço vivido pelos indígenas.

Bibliografia:

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livres”, “castanhais do povo”, faxinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2ª ed. Manaus: PGSCA-UFAM, 2008;

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais da educação escolar indígena. Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Básica, Brasília. Parecer 14/99, 1999. ECAM – Equipe de Conservação da Amazônia. Methodology of Collaborative Cultural Mapping. Amazon Conservation Team Editions, Brasília, 2008.

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KOSEL, Salete. Comunicando e representando: mapas como construções socioculturais. In: SEEMANN, Jörn. (org.). A aventura cartográfica: perspectivas, pesquisas e reflexões sobre a Cartografia Humana. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2005.

RICHTER, Denis. O mapa mental no ensino de geografia: concepções e propostas para o trabalho docente. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.

Terras Indígenas na Mata Atlântica: pressões e ameaças. 2a Ed. Comissão Pró-Índio de São Paulo, 2013.

Bibliografia da web:

Referências

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