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PERCEPÇÃO DA VEGETAÇÃO NO PÁTIO ESCOLAR

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Academic year: 2021

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PERCEPÇÃO DA VEGETAÇÃO NO PÁTIO ESCOLAR

Beatriz Fedrizzi, Eng. Agr., PhD (1)

Sérgio Luiz V. Tomasini, Eng. Agr., MSc (2)

Luciano Moro Cardoso, acadêmico de Agronomia da UFRGS (3)

Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação - NORIE / UFRGS Av. Osvaldo Aranha, 99 - 3o andar, CEP 90035-190 - Porto Alegre -RS

Tel.: (51) 316 3353; Fax: (51) 316 4054;

(1) beatrizfedrizzi@terra.com.br, (2) sergiovtomasini@yahoo.com.br, (3) mindubars@yahoo.com.br

RESUMO

Estudou-se, através desta pesquisa, a percepção de alunos e professores de escolas municipais de Porto Alegre-RS sobre a vegetação no pátio escolar. Inicialmente, realizou-se um estudo para verificar as condições predominantes nos pátios das escolas. Foram avaliadas 15 escolas quanto à presença, quantidade e qualidade da vegetação disponível no pátio. Apenas duas escolas apresentaram vegetação de qualidade adequada, sendo que a maioria das escolas apresentou pátios bastante áridos. A partir desta avaliação, realizou-se um estudo de casos envolvendo duas escolas com pátios áridos e duas escolas com um nível mais adequado de vegetação no pátio. Através da aplicação de entrevistas a professores e alunos, procurou-se compreender como é percebida a vegetação no pátio destas escolas. Os resultados indicam que, em todas as escolas estudadas, a importância da vegetação no pátio está associada predominantemente ao seu valor estético. Nas escolas cujos pátios apresentaram vegetação mais adequada, parece existir uma maior consciência sobre os benefícios que a vegetação proporciona, sendo salientados aspectos mais abstratos, como o aumento da auto-estima da comunidade escolar. Tal percepção da comunidade escolar emerge, provavelmente, da experiência prática com a vegetação existente no pátio.

Palavras-chave: psicologia ambiental; vegetação em pátios escolares; consciência ambiental

1.

INTRODUÇÃO

A melhoria da qualidade dos pátios escolares constitui-se em uma importante alternativa para transformar as escolas em locais mais atrativos e aprazíveis para seus usuários. O adequado planejamento do uso da vegetação nos pátios das escolas é um dos aspectos que mais contribui para a melhoria da qualidade destes espaços, agregando valores estéticos aos mesmos, melhorando suas condições de conforto e, ainda, servindo como uma valiosa ferramenta de apoio ao trabalho de educação ambiental.

Pesquisas têm demonstrado que o espaço físico influencia o comportamento das crianças. As crianças gastam uma importante parte da sua vida na escola. “Uma vez que a criança começa a freqüentar a escola, sua vida muda consideravelmente. Uma grande parte do seu dia é gasto na escola, muito mais do que nas vizinhanças” (PROSHANSKY & FABIAN, 1987). Desta forma, o ambiente escolar assume uma considerável importância no desenvolvimento da criança.

Nos últimos anos, observa-se que o interesse pelos pátios escolares tem crescido em nível mundial e isso pode estar relacionado a dois fatores: primeiro, o espaço disponível para brincar vem diminuindo pelo crescimento do tráfego, criminalidade e as crianças estão mais atarefadas com atividades que as mantêm dentro de instituições. O segundo fator seria o interesse em favorecer o conhecimento ecológico, interagindo as crianças com o espaço aberto.

I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

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O contato com elementos naturais é muito importante para o ser humano. Mesmo os mais insignificantes sinais da natureza em áreas urbanas acabam afetando seus usuários. Kaplan & Kaplan

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(1989), em suas pesquisas, explicam que o ambiente natural é influente, e vivenciá-lo é uma experiência profundamente restauradora no que se relaciona à fadiga mental (estresse). Outros estudos identificaram que ambientes naturais são eficientes em trazer à tona mudanças no estado emocional entre indivíduos estressados e não estressados. Estas descobertas associam-se aos resultados da pesquisa da ciência cognitiva, que sugerem a hipótese plausível de que a exposição a ambientes naturais aumenta a criatividade e a organização funcional cognitiva em geral (ULRICH, 1993).

Vegetação e natureza no pátio da escola podem ter uma influência benéfica no sistema educacional. As crianças podem visualizar os assuntos ensinados teoricamente em sala de aula. De acordo com Piaget (apud DATTNER, 1969), a inteligência é uma forma especial de adaptação, que consiste em uma interação criativa e contínua entre o organismo e o meio. A vida, assim, torna-se o processo de criar cada vez mais estruturas complexas de comportamento. Nem o organismo nem o meio existem sozinhos, mas apenas quando interagem entre si.

Pátios escolares atrativos podem até mesmo criar oportunidades para o desenvolvimento cultural e tendem a fazer a comunidade escolar sentir-se orgulhosa (FEDRIZZI, 1991). Um pátio escolar com vegetação e ambientes naturais pode lembrar as pessoas que elas são parte de um ecossistema muito delicado. Neste tipo de ambiente, as crianças podem aprender como cultivar alimentos de alta qualidade e ficarão bem informadas sobre a possibilidade de suprir seus próprios problemas nutricionais (FEDRIZZI, 1997).

Grahn (1994) afirma que crianças em pré-escolas, escolas e hospitais mostram comportamento mais harmonioso e têm uma melhor relação com os funcionários quando elas podem passar mais tempo em contato com a natureza. Ele explica também que elas brincam melhor, fantasiam mais, e têm uma melhor percepção do espaço em que vivem. No mesmo trabalho, o autor identificou que nas escolas com mais vegetação, as crianças ficam menos doentes. É fundamental entender melhor de que forma a vegetação colabora positivamente para o desenvolvimento saudável das crianças. Os resultados podem representar uma grande economia, uma vez que a saúde das crianças poderá melhorar significativamente.

Em uma pesquisa realizada em escolas inglesas, Titman (1994) observou que as crianças, de maneira geral, preferem e valorizam mais os ambientes naturais em detrimento aos ambientes construídos. Para a pesquisadora, ambientes externos naturais significam oportunidades para uma gama de coisas que as crianças desejam e necessitam, e que não podem ser encontradas nos espaços internos da escola.

Em sua pesquisa, Titman (1994) ainda faz algumas constatações sobre a percepção das crianças a respeito de diferentes elementos vegetais presentes nos pátios escolares. Segundo a autora, as crianças identificam a grama como sendo um símbolo de um espaço “macio” próprio para realização de brincadeiras, ao contrário de pisos pavimentados, os quais são considerados duros e perigosos em caso de quedas. As crianças relacionam o elemento “grama” com o desenvolvimento de jogos e outras atividades. Para elas, a grama serve para sentar, deitar e rolar e não apenas ser olhada e observada. As árvores, por sua vez, são vistas essencialmente como um elemento que permite se fazer “escaladas”. Segundo a autora, o valor das árvores para as “escaladas” reside no desafio que ela proporciona, sendo que as crianças consideram a experiência de subir em árvores uma aventura mais instigante do que bem subir em equipamentos de brinquedo. As crianças também apreciam as árvores por estas proporcionarem sombra, abrigo e, ainda, partes (como flores, frutos, folhas, etc.) que podem ser coletadas e com as quais se pode fazer uma série de coisas. Já as flores, normalmente, estão associadas a valores estéticos. As flores simbolizam, para a criança, o grau de cuidado que a escola dedica ao pátio. Além disso, quando as crianças são envolvidas no plantio e cuidado de flores, seu senso de orgulho e posse torna-se símbolo de sua relação com a escola como um todo. Arbustos, por outro lado, não têm um valor estético muito significativo para as crianças, porém são muito apreciados em brincadeiras como locais que servem de esconderijo.

Outro aspecto importante de ser abordado, quanto à presença da vegetação no pátio escolar, diz respeito aos benefícios relacionados ao conforto térmico proporcionado pela mesma, que pode ser sentido, tanto pelos usuários do pátio, quanto pelos usuários das edificações. A vegetação pode interagir beneficamente com as edificações, melhorando as condições de conforto vigente em seu interior, especialmente nos períodos mais quentes do ano.

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Tendo em vista as considerações acima, este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida com o objetivo de conhecer a qualidade da vegetação oferecida nos pátios das escolas da rede municipal de ensino de Porto Alegre-RS, bem como estudar a percepção de alunos e professores relacionada à importância da presença dessa vegetação no pátio.

2.

MÉTODO DE PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: a primeira consistiu da avaliação da vegetação existente nos pátios de 15 escolas municipais; a segunda compreendeu um estudo de caso envolvendo 4 escolas selecionadas dentre aquelas estudadas na primeira etapa.

Conforme comentado anteriormente, a presente pesquisa focou apenas escolas municipais de ensino fundamental. Desta forma, na primeira etapa, estudou-se uma amostra composta por 15 escolas escolhidas dentre um total de 44 escolas de ensino fundamental existentes junto à rede municipal de ensino. A distribuição desta amostra pode ser visualizada junto à Figura 1.

Figura 1: Distribuição da amostra para diferentes regiões de Porto Alegre*

Foram realizadas visitas a cada uma destas escolas com o objetivo de avaliar seus pátios em relação à vegetação existente. Para proceder essa avaliação, desenvolveu-se um método que levou em consideração a presença, a quantidade e a qualidade da vegetação presente nestes espaços. Este método consistiu basicamente em uma avaliação visual da vegetação presente nos pátios, realizada por ocasião das visitas às escolas. Esta avaliação foi realizada levando-se em conta diferentes níveis ou tipos de vegetação (quanto ao porte e à função) que podem ser encontrados nos pátios das escolas. São eles: a)árvores; b)arbustos; c)forrações (principalmente canteiros de flores ou outras espécies herbáceas de uso ornamental); d)grama; e)local para cultivo (horta ou outro espaço dedicado ao cultivo de plantas pelas crianças); f)vegetação do entorno (acessada pelas crianças a partir do pátio somente por meio visual). Desta forma, para cada escola visitada foi atribuída uma nota para cada um dos referidos níveis de vegetação acima citados. Essa nota, por sua vez, foi atribuída baseada em uma escala de valores que leva em conta a presença, a quantidade e a qualidade do nível de vegetação avaliado (Tabela 1). Cabe salientar ainda que a atribuição das referidas notas aos pátios avaliados

*Regiões de Porto Alegre: 1-Humaitá/Navegantes/Ilhas; 2-Noroeste; 3-Leste; 4-Lomba do Pinheiro; 5-Norte; 6-Nordeste; 7-Partenon; 8- Restinga; 9-Glória; 10-Cruzeiro; 11-Cristal; 12- Centro Sul; 13- Extremo Sul; 14-Eixo Baltazar; 15-Sul; 16- Centro.

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partiu da experiência anterior dos pesquisadores envolvidos no trabalho, procurando-se sempre atingir um consenso entre os mesmos. A soma destas notas multiplicadas pelo peso relativo de cada nível de vegetação determinou o escore final do pátio avaliado quanto à vegetação existente. Com exceção dos níveis árvore e grama, que receberam peso 3 devido ao maior impacto visual que produzem no pátio das escolas, os demais níveis de vegetação receberam peso 1. Baseado nos escores finais obtidos, as escolas foram agrupadas nas seguintes categorias: Classe I - pátio com boa vegetação; Classe II - pátio com relativa vegetação (ou vegetação regular); Classe III - pátio com vegetação ruim; e Classe IV - pátio árido, ou sem vegetação (Tabela 2).

Tabela 1: Conceitos e notas atribuídas aos níveis de vegetação existentes no pátio

Conceito Nota Condições observadas

Inexistente 0

quando o nível de vegetação avaliado não está disponível no pátio

Insuficiente ou ruim 1

quando se verifica a presença do nível de vegetação avaliado, porém em quantidades muito pequenas e/ou condições muito ruins

Regular ou médio 2

quando se verifica a presença do nível de vegetação avaliado em quantidades e/ou condições razoáveis

Bom 3

quando se verifica a presença do nível de vegetação avaliado em quantidades e/ou condições relativamente boas

Muito Bom 4

quando se verifica a presença do nível de vegetação avaliado em quantidades e/ou condições muito boas

Tabela 2: Classes de pátio quanto à vegetação existente em função da pontuação obtida

Classe Pontuação final Conceito

I de 31 a 40 pontos

pátio com boa vegetação

II de 21 a 30 pontos

pátio com relativa vegetação

III de 11 a 20 pontos pátio semi-árido ou com vegetação ruim/insuficiente IV de 0 a 10 pontos

pátio árido, com vegetação muito ruim ou praticamente inexistente

Na segunda etapa, foram estudadas quatro escolas selecionadas a partir dos resultados da avaliação da vegetação realizada na primeira etapa. A fim de se comparar como diferentes situações de vegetação no pátio influenciam a percepção de alunos e professores, procurou-se selecionar escolas que apresentavam extremos em termos de vegetação disponível no pátio. Assim, de um lado foram selecionadas duas escolas mal classificadas em relação à vegetação (Classe IV) e duas escolas bem classificadas (Classes I e II, já que, como será discutido mais adiante, apenas uma escola pôde ser situada na Classe I).

Foram realizados os levantamentos físico e fotográfico das áreas externas das escolas selecionadas, registrando-se os diferentes níveis de vegetação presentes nas mesmas. Foram aplicadas entrevistas abertas com professores e alunos sobre a importância da vegetação no pátio da escola, sendo as respostas gravadas e transcritas para que, posteriormente, fossem identificadas palavras-chave para a construção das categorias de respostas. No total, foram aplicadas 73 entrevistas (40 com alunos e 33 com professores).

3.

RESULTADOS E DISCUSÕES

A seguir são apresentados e discutidos os principais resultados da pesquisa. Inicialmente serão abordados os resultados da primeira etapa, referente à avaliação da vegetação disponível nas escolas municipais, e, na seqüência, os resultados da segunda etapa, que se refere ao estudo da percepção de alunos e professores sobre a vegetação presente nos pátios.

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3.1. Avaliação da vegetação disponível no pátio

Aplicando-se à amostra estudada o sistema de classificação anteriormente apresentado, obteve-se a seguinte distribuição das escolas visitadas: 7 foram classificadas como áridas (classe IV), 6 com vegetação ruim/insuficiente (classe III), e apenas 2 escolas foram classificadas como tendo vegetação regular ou boa (classes II e I, respectivamente).

As escolas visitadas que foram classificadas como áridas pela pesquisa são bastante variáveis quanto às formas e tamanhos de seus pátios, no entanto apresentam como características comuns paisagens bastante desoladoras e a presença muito escassa de vegetação (quando não ocorre a sua total ausência). É comum encontrar-se nos pátios dessas escolas a predominância quase total de áreas pavimentadas ou revestidas com areão, raramente sendo encontrada alguma parcela da superfície revestida por vegetação rasteira, como por exemplo, gramíneas. Na maioria das escolas deste grupo foi verificada a presença de árvores, porém em quantidades muito reduzidas e/ou muito mal conservadas. A presença de vegetação em outros níveis avaliados pela pesquisa, como arbustos, forrações e local para cultivo, não ocorre na maior parte das escolas que foram classificadas neste grupo. A vegetação do entorno varia desde vistas amplas para vegetação nativa (que certamente ajuda a amenizar a aridez presente no pátio) até vistas bastante opressivas, onde praticamente não se podem visualizar elementos naturais (Figura 2). Em geral, os pátios destas escolas são muito pouco atrativos visualmente, oferecendo poucos elementos e oportunidades para que as crianças criem brincadeiras e ainda apresentando péssimas condições de conforto térmico devido à ausência quase total de áreas sombreadas.

Figura 2: Entorno marcado pela presença de conjuntos habitacionais aumenta a aridez visual do pátio da escola.

Os pátios das escolas que foram classificados na classe III (a segunda classe de pátio mais freqüente observada pela pesquisa) diferem dos pátios áridos descritos anteriormente principalmente pela presença mais significativa de árvores. As árvores existentes nos pátios destas escolas, no entanto, apresentam-se ainda em pequena quantidade, de forma muito esparsa e, freqüentemente, mal posicionadas em relação às áreas de uso mais comum entre os alunos. Ainda assim foi possível observar algum grau de interação entre os usuários do pátio e a vegetação existente, principalmente através de pequenas áreas sombreadas que servem de refúgio nos dias quentes. Outros níveis de vegetação ocorrem apenas em poucas das escolas que foram classificadas neste grupo e de forma pouco significativa. Na Figura 3, pode-se observar uma imagem comum aos pátios de classe III, onde a presença de algumas árvores garante alguma sombra, no entanto, estas árvores estão localizadas em apenas uma pequena porção do pátio, enquanto o restante da área é marcado pela ausência de vegetação.

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Figura 3: Presença de vegetação arbórea ameniza a aridez do pátio.

Somente uma das escolas visitadas foi classificada como classe II (com vegetação regular). Um aspecto interessante é que esta escola, por ser relativamente nova, não possui vegetação arbórea desenvolvida, estando a presença deste nível de vegetação restrita a mudas recentemente plantadas. Apesar da quase ausência deste importante nível de vegetação no pátio, a paisagem da escola está longe de apresentar uma aridez visual. Isto ocorre porque outros níveis de vegetação estão presentes de forma bastante significativa. Através de um trabalho de paisagismo desenvolvido pela escola envolvendo toda a comunidade escolar, sob a supervisão de um profissional da área, foi realizado o plantio de grama, de diversas espécies de arbustos, além da construção de canteiros para o cultivo de espécies floríferas de ciclo anual (forrações). A presença destes níveis de vegetação é reforçada pelo entorno da escola, situada ao lado de um morro coberto por mata nativa, o que confere à paisagem da escola uma aparência bastante “verde” apesar da ausência de vegetação arbórea significativa. Na Figura 4, pode-se observar algumas crianças brincando sobre a superfície gramada de uma determinada parte do pátio. As superfícies revestidas com grama permitem que as crianças interajam de forma diferente com as áreas livres do pátio, em relação ao que fariam em superfícies pavimentadas.

Figura 4: A presença de grama permite realização de brincadeiras que não seriam possíveis em

superfícies pavimentadas.

Finalmente, uma das escolas visitadas pôde ser classificada como classe I (pátio com boa vegetação) de acordo com os critérios da pesquisa. Realmente, o pátio desta escola apresentou-se muito próximo ao pátio ideal quanto à vegetação existente, tomando-se por base o referencial teórico que suporta a pesquisa. Nesta escola, todos os níveis de vegetação previstos encontram-se presentes, em quantidades significativas e distribuídos pelo pátio de forma plenamente integrada, o que permite

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muitas possibilidades de interação entre os usuários do pátio e as plantas (Figura 5). Conforme relatos de professores, a atual configuração do pátio é resultado de um constante trabalho de educação ambiental que envolve a comunidade desde a fundação da escola. A vegetação arbórea é extremamente diversificada, com o amplo emprego de espécies nativas estaduais, todas devidamente identificadas pelos nomes populares através de placas penduradas junto ao tronco. Além de desempenharem um papel importante ao projetarem sombra sobre as edificações, muitas árvores configuram áreas de lazer ao abrigarem sob suas copas diversos recantos e trilhas que servem de refúgio e locais de brincadeira para as crianças. A presença de árvores frutíferas serve de atrativo para as crianças e para muitos pássaros que freqüentam o pátio da escola. Praticamente toda a superfície livre do pátio é revestida com gramíneas, com exceção de alguns caminhos e áreas destinadas às quadras esportivas, que são pavimentadas. Plenamente integradas à vegetação arbórea, pode-se encontrar diversas espécies de plantas arbustivas e forrações, muitas das quais apresentando flores, escoltando trilhas ou simplesmente plantadas ao acaso em determinados pontos do pátio. Estas espécies dão um toque de cor ao pátio, além de interagirem de diversas formas com as crianças, servindo de material didático ou incentivando a criatividade e a realização de brincadeiras. A presença de uma área destinada à horta e a canteiros de plantas medicinais e diversas floreiras dispostas próximas às salas de aula garante a alunos, professores, funcionários e pais de alunos, locais onde podem desenvolver o cultivo de plantas no pátio da escola. Toda esta abundante vegetação ainda é reforçada pela presença de mata nativa em frente e dos dois lados da escola, dando a impressão de se estar envolto pela natureza.

Figura 5: A presença de diversos níveis de vegetação permite muitas possibilidades de interação entre

os usuários do pátio e as plantas.

3.2. Percepção da vegetação presente nos pátios

Os resultados das entrevistas aplicadas às quatro escolas participantes do estudo de casos apontaram semelhanças e diferenças entre as percepções dos entrevistados das escolas com pátios áridos e dos entrevistados das escolas com pátios onde a presença de vegetação é mais marcante. Na Figura 6, pode-se visualizar as categorias de respostas encontradas para importância atribuída à presença de

vegetação no pátio da escola, bem como as freqüências observadas para cada grupo de escolas

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Por que é importante ter plantas no pátio da escola? 0 20 40 60 80 100 beneficiam o clima produzem alimentos permitem brincadeiras ajudam no ensino/aprendizado valorizam a escola e as pessoas são boas para a saúde influenciam o comportamento consciência ambiental deixam escola mais bonita, agradável criam ambientes para atividade/convívio

%

escolas

c/vegetação

escolas áridas

Figura 6: Importância atribuída à presença de vegetação no pátio da escola

A principal semelhança entre as percepções dos entrevistados de ambos os grupos de escolas foi a grande associação da vegetação a seu valor ornamental. Ou seja, tanto nas escolas áridas como nas escolas com vegetação, os entrevistados percebem a vegetação predominantemente como um elemento capaz de melhorar esteticamente o pátio, tornando-o mais agradável aos sentidos. A vegetação como um elemento capaz de tornar a escola “mais bonita” não só foi a resposta predominante entre os entrevistados como também aquela apontada mais prontamente pelos mesmos. Ou seja, quando a pergunta era feita, quase sempre, para os respondentes de ambos os grupos de escolas, esta era a primeira resposta. Tal observação é bastante interessante, tendo em vista as diferentes realidades dos pátios das escolas estudadas. Desta forma, parece que o significado da vegetação como sendo um elemento capaz de melhorar a qualidade estética do espaço parece estar bastante arraigada na percepção das pessoas de forma geral, sendo pouco influenciada pela qualidade do ambiente realmente vivenciado.

Quanto às diferenças entre os grupos de escolas estudados, observa-se, em primeiro lugar, que os respondentes do grupo das escolas com vegetação apresentam maior freqüência para a maior parte das categorias de respostas. Como as perguntas eram abertas, isto quer dizer que os respondentes deste grupo de escolas relacionaram a importância da vegetação a um maior número de aspectos em suas respostas. Estas diferenças entre as percepções dos entrevistados dos dois grupos reforçam aquilo que se havia observado durante a aplicação das entrevistas, ou seja, nas escolas com vegetação a experiência (tanto de alunos como professores) do contato mais próximo com a vegetação parece se refletir em uma maior consciência dos entrevistados sobre a importância e os benefícios de se ter plantas no pátio da escola. Estes resultados permitem questionar a influência desta consciência sobre a formação de uma ética ambiental mais apurada entre a comunidade escolar e, especialmente, entre os alunos.

Um estudo realizado por Harvey (1989), confirma que a variedade de vegetação existente no pátio escolar pode ter um efeito positivo neste sentido. Após entrevistar mais de 800 alunos com idade entre 8 e 11 anos sobre suas experiências anteriores no contato com a vegetação, a autora verificou uma influência positiva do contato com uma maior variedade de plantas sobre a disposição ambiental dos alunos. Baseado nestes resultados, a autora recomenda que ambientes para crianças devem ser planejados de forma a oferecer a maior variedade de vegetação possível.

Diferenças marcantes entre os grupos de entrevistados foram observadas para as categorias de respostas “beneficiam o clima” e “valorizam a escola e as pessoas”.

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Os entrevistados do grupo de escolas áridas valorizaram mais os benefícios térmicos da vegetação em suas respostas do que os entrevistados das escolas com vegetação. Isto talvez possa ser explicado porque os entrevistados deste primeiro grupo sofrem diretamente os efeitos da falta de locais sombreados no pátio da escola, sendo que uma reivindicação freqüentemente manifestada pelos mesmos durante as entrevistas era o plantio de árvores “de sombra” no pátio.

Por outro lado, a categoria de respostas mais salientada pelos entrevistados do grupo das escolas com vegetação, quando comparados aos entrevistados das escolas áridas, foi: “as plantas valorizam a escola e as pessoas”. Esta categoria de resposta está relacionada à auto-estima da comunidade escolar, envolvendo um nível de abstração bem maior do que a questão do conforto térmico abordada anteriormente. Provavelmente esta categoria de resposta reflita um nível de consciência que só poderia emergir da experiência prática da comunidade escolar com a vegetação do pátio, o que de fato ocorre no grupo das escolas com vegetação, como pôde ser verificado durante o desenvolvimento da pesquisa. Neste grupo, observou-se um grande envolvimento da comunidade escolar com a vegetação existente no pátio. Este envolvimento se dava através do freqüente uso da vegetação para o desenvolvimento das matérias de várias disciplinas do currículo (especialmente educação artística, ciências, educação física e geografia), do plantio de mudas por grupos de pais, alunos e professores, do aproveitamento da produção da horta na cantina e de brincadeiras no período de recreio. Algumas destas formas de convívio com a vegetação também foram observadas nas escolas com pátios áridos, porém em um nível inferior, por causa da escassez de elementos vegetais nestes espaços.

Em suma, a vegetação parece ser percebida como um elemento importante no pátio escolar, tanto naquelas escolas que dispõem de níveis mais adequados deste elemento como naquelas onde as áreas externas são excessivamente áridas. Embora a consciência desta importância esteja ligada a várias funções que a vegetação pode exercer para a melhoria da vida no ambiente escolar, destaca-se, sobretudo, a sua função estética. Pátios com níveis mais adequados de vegetação, ao que sugerem os resultados do presente trabalho, podem influenciar na formação de uma consciência mais ampla dos benefícios que essa presença proporciona. Esta consciência provavelmente resulta do contato direto com a vegetação no próprio espaço da escola. O maior contato com plantas e o envolvimento com seu plantio e manutenção também parece levar à construção de significados mais abstratos para a vegetação, como a sua colaboração para elevar a auto-estima da comunidade escolar. Significados como este podem constituir elementos importantes na mobilização da comunidade escolar para a implantação de melhorias no espaço da escola.

4.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aplicando-se o sistema de classificação utilizado pela pesquisa, os resultados sugerem um panorama predominantemente negativo quanto à presença e qualidade dos elementos vegetais nos pátios das escolas do município. Mesmo sendo esta a realidade predominante entre as escolas visitadas, duas escolas apresentaram níveis satisfatórios de vegetação no pátio, sendo que uma delas apresentou-se muito próxima ao ideal preconizado por esta pesquisa.

Embora as escolas visitadas sejam bastante diferentes em termos de localização, área física disponível, número de alunos, entre outros aspectos, a variação encontrada entre os pátios, no que se refere à presença e qualidade da vegetação existente, é extremamente acentuada quando se consideram as piores e as melhores situações apresentadas e avaliadas. Esta marcante diferença encontrada pela pesquisa talvez esteja associada às diferentes políticas das escolas em relação ao uso do pátio. De fato, as duas escolas que foram melhores classificadas pela pesquisa quanto à vegetação existente passaram (e ainda passam) por um trabalho de conscientização e envolvimento da comunidade escolar para a transformação do pátio da escola. Observou-se ainda, que, nestas escolas, o pátio está bastante vinculado ao desenvolvimento de atividades pedagógicas, principalmente relacionadas à educação ambiental.

Verificou-se também, que, tanto em escolas cujos pátios possuem níveis mais adequados de vegetação como em escolas áridas, alunos e professores tendem a associar predominantemente os benefícios da vegetação no pátio ao seu valor estético. Nas escolas cujos pátios apresentaram vegetação mais adequada, parece existir uma maior consciência sobre os benefícios que a vegetação proporciona, sendo salientados aspectos mais abstratos, como o aumento da auto-estima da comunidade escolar. Tal percepção da comunidade escolar emerge, provavelmente, da experiência prática com a vegetação existente no pátio.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FEDRIZZI, B. The Schoolyard and the Children Needs. Master Theses. Department of Landscape Planning. SLU. Alnarp. 1991. Unpublished.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPERGS pela disponibilização dos recursos que permitiram o desenvolvimento deste trabalho.

Referências

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