• Nenhum resultado encontrado

Estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em Cenários de Minorias Linguísticas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em Cenários de Minorias Linguísticas"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em Cenários de Minorias Linguísticas

Jefferson Machado BARBOSA1

CAVALCANTI, M. Estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em contextos de minorias linguísticas no Brasil. DELTA, São Paulo, v.15, 1999.

Marilda do Couto Cavalcanti, atualmente é docente titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), possui formação na área de concentração em Linguística Aplicada; desenvolve pesquisa de cunho etnográfico em contextos de minorias linguísticas e de maiorias minoritarizadas em cenários sociolinguisticamente e culturalmente complexos. Nesses contextos, seu interesse em pesquisa, baseado em reflexões metateóricas e metametodológicas, está nos seguintes temas: leitura, letramentos, identidades, diversidade/diferença, formação de professores.

A discussão que Cavalcanti se propõe a realizar gira em torno da reunião de projetos de pesquisa de cunho etnográfico que ela desenvolveu com sua equipe, dando ênfase no primeiro momento ao contexto de educação indígena escolar e, posteriormente, a contextos bi/multilíngues de minorias2. A autora faz uma diferenciação nos termos: escolarização bi/multilingue e educação bilíngue. O primeiro é caracterizado pela presença de duas ou mais línguas, não necessariamente escritas, visto que tal cenário é forte em tradição oral. Já o segundo termo, a autora se baseia, principalmente, nos três modelos apresentados por Hornberger (1991), de transição, manutenção e enriquecimento de uma língua, desse modo, uma ponte para se chegar à língua-alvo.

Para tal reflexão, a autora se baseia em estudos que focalizam o contexto indígena, como os de Cavalcanti (1995, 1999); Maher (1990, 1996); Mendes (1995); César (1995); Freitas (1998). E ainda em estudos relativos aos contextos de imigrantes,

1 Mestrando em Linguística Aplicada e Transculturalidade pela Faculdade de Comunicação; Artes e

Letras (FACALE) da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Bolsista-CAPES. Dourados-Mato Grosso do Sul. kellomachado@hotmail.com.

2 É importante destacar que quando a autora usa o termo minoria, não se refere à quantidade, mas sim à

classe menos favorecida, inferior, estigmatizada, ridicularizada, desprivilegiada, e dentre outras terminologias utilizadas para classificar este tipo de comunidade, que na realidade representa a maioria em quantidade.

(2)

como: Jung (1997); Takasu (1999) e Pereira (1999), além de pesquisas realizadas em contextos de fronteira, realizado por Martins (1995).

O texto está dividido em três partes: Na primeira parte, a autora focaliza o “contexto sociolinguístico brasileiro”, afirma que no Brasil não se pode ignorar os contextos bilíngues, tendo em vista que o país, apesar de ser considerado monolíngue (Cf. Bortoni, 1984; Cavalcanti, 1996 e Bagno, 1999), o bilinguismo está presente em praticamente cada país do mundo, pois, há o uso da língua de sinais, indígenas e do português brasileiro e suas respectivas variações dialetais.

É oportuno mencionar que há estudos sociolinguísticos de elite, que são investigações realizadas em contextos majoritários, ou de línguas que possuem status superior, por exemplo: francês e italiano. Esses estudos são baseados, geralmente, nos postulados Labovianos3 que se encaixa na Linguística dita clássica, contudo - o que Cavalcanti se propõe; é trazer ao leitor; um estudo sociolinguístico marginalizado, de contextos minoritários, como os de: indígenas, imigrantes, surdos e de fronteira. Tal abordagem realizada por Cavalcanti é uma perspectiva teórica mais próxima da sociolinguística educacional4, que se encaixa na área denominada Linguística Aplicada.

Na parte seguinte, são apresentados os “estudos realizados sobre educação em cenários bilíngue/multilíngue e sobre bilinguismo de minorias linguísticas”. O leitor pode obter uma visão ampla acerca dos contextos, de modo a observar, as peculiaridades de cada contexto minoritário, ou seja, “o tema são de todos, mas cada um tem uma visão acerca daquele tema”.

Na terceira parte, dentro de uma tradição da Linguística Aplicada, a autora busca estabelecer “relações do contexto sociolinguístico brasileiro e a formação de docentes”. De acordo com Cavalcanti (1999), infelizmente, a “escola(rização) bilíngue/bidialetal não faz parte da vida educacional brasileira” (p.396). Deste modo, até o fechamento do texto, observa-se, que, diante dos estudos realizados, que apresentam o panorama sociolinguístico de algumas regiões do país, ainda não se tem uma política linguística e educacional voltada para os contextos de minorias linguísticas.

Quando a autora ressalta que “arranhou apenas a superfície do tema, a ponta do iceberg” (p.407), concordo com ela, posto que este documento5

é datado de 1999, e os

3 Sociolinguística Variacionista postulada por Willian Labov, 1972, 1974, 1982 e 1994. 4 Sociolinguística Educacional postulada por Stella Maris Bortoni-Ricardo 2004, 2005. 5

Refiro-me ao artigo de Cavalcanti (1999), que pode ser considerado como um Documento que mostra o perfil do contexto sociolinguístico brasileiro.

(3)

estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em Cenários de Minorias Linguísticas, ainda geram estranhezas, que talvez aconteçam pela sustentação do mito de uma língua homogênea em nosso país, apagando os contextos minoritários, de imigrante, fronteira, surdos, indígenas, dentre outros.

Evidentemente, com o avanço dos estudos científicos após a publicação de seu artigo, é imprescindível considerar que já existem estudos correlacionados em que poderiam entrar nessa reunião de trabalhos sociolinguísticos de cunho etnográfico marginalizado6, por exemplo, os trabalhos de Dalinghaus7 (2009); Fernandes8 (2012); Silva (2005), Barbosa9 (2013), que investigaram os contextos sociolinguísticos de regiões de fronteira seca, situados no estado de Mato Grosso do Sul.

Nota-se ainda, curiosamente, na investigação de Fernandes (2012), a existência de um elo da escola(rização) bilíngue/bidialetal em duas escolas de fronteira entre Brasil e Paraguai. Desse modo, na atualidade, não se pode mais afirmar de modo generalizado que a educação bilíngue/bidialetal não faz mais parte da realidade educacional, como afirma a autora, visto que, em Mato Grosso do Sul, por exemplo, já se observa uma mobilização de docentes, conforme se nota em estudos de Dalinghaus (2009); Fernandes (2012); Silva (2005), Barbosa (2013), especificamente - das fronteiras de Aral Moreira-Brasil e Microrregião da Cardia-Paraguai; Ponta Porã-Brasil e Pedro Juan Caballeiro-Paraguay - em prol do reconhecimento de se preparar para atender o aluno (a) fronteiriço, que possui traços peculiares, desde o falar fronteiriço até a cultura do sujeito oriundo da fronteira.

Quanto aos estudos de fronteira que a autora considerou em sua reflexão, é fundamental salientar que já há estudos seguindo essa perspectiva, como se observa nas pesquisas de Barbosa10 (2010) e Pires-Santos (2010)11, além de outros estudos - para

6 Utilizo o termo denomina “marginalizado” Cf. Pereira (1999) como sinônimo de minoria ou minoritário. 7 DALINGHAUS, I. V. Alunos Brasiguaios em Escola De Fronteira Brasil/Paraguai: Um estudo linguístico sobre aprendizagem do português em Ponta Porã, MS. Dissertação de Mestrado -

UNIOESTE. 2009.

8 FERNANDES, E.A.A. Proyecto Escuela Bilíngue de Frontera Brembatti Calvoso/Brasil y Escuela nº 290 Defensores dol Chaco/Paraguay. Dissertação de Mestrado – UFGD. 2012.

9 BARBOSA, J. M. Questões investigativas sobre a fronteira de Aral Moreira/Brasil - Cardia/Paraguay:

um estudo de caso etnográfico. In: I Congresso Internacional América Latina e Interculturalidade, 2013, Foz do Iguaçu. América Latina e Caribe: cenários linguístico-culturais contemporâneos. Foz do Iguaçu: Unila, 2013. v. 1. p. 58-58.

10

BARBOSA, J. M. Curandeirismo: Uma Abordagem Sociolinguística da Linguagem de Curandeiros

Paraguaios Radicados na Fronteira Meridional de Mato Grosso do Sul. Dourados: UEMS, 2012. 75f.

TCC: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Letras).

11

PIRES-SANTOS, Maria Elena. Ambivalências de termos e conceitos: Implicações para a linguagem

(4)

destacar todos, seria fundamental uma busca mais aprofundada. Talvez seja imprescindível uma revisão bibliográfica acerca de todos os estudos sobre educação bilíngue e escolarização de minorias linguísticas; realizados; após o artigo de Cavalcanti (1999), para que um novo panorama sociolinguístico brasileiro de minorias linguísticas seja apresentado à academia.

Por fim, o texto de Cavalcanti (1999) não pode ser considerado como mais um simples artigo. Mais do que isso, é um texto que contribui no sentido de a) levar o leitor a conhecer o contexto sociolinguístico brasileiro de minorias linguísticas; b) mostrar para o leitor como a diversidade linguística tem sido tratada, seja do ponto de vista das políticas linguísticas ou educacionais, seja na visão da escola. Com certeza, o artigo de Cavalcanti contribui significativamente para a área de conhecimento não só da Linguística Aplicada, mas para todas as outras que atuam num país plurilíngue e multicultural, seja na superfície social, política, econômica, cultural, religiosa, educacional ou linguística.

Referências bibliográficas:

BARBOSA, J. M. Curandeirismo: Uma Abordagem Sociolinguística da Linguagem

de Curandeiros Paraguaios Radicados na Fronteira Meridional de Mato Grosso do Sul. Dourados: UEMS, 2012. 75f. TCC: Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação

em Letras).

_______________. Questões investigativas sobre a fronteira de Aral Moreira/Brasil - Cardia/Paraguay: um estudo de caso etnográfico. In: I Congresso Internacional

América Latina e Interculturalidade, 2013, Foz do Iguaçu. América Latina e Caribe:

cenários linguístico-culturais contemporâneos. Foz do Iguaçu: Unila, 2013. v. 1. p. 58-58.

CAVALCANTI, M. Estudos sobre Educação Bilíngue e Escolarização em contextos de minorias linguísticas no Brasil. Em DELTA, vol 15. São Paulo, 1999. p. 385-417. DALINGHAUS, I. V. Alunos Brasiguaios em Escola De Fronteira Brasil/Paraguai:

Um estudo linguístico sobre aprendizagem do português em Ponta Porã, MS.

Dissertação de Mestrado - UNIOESTE. 2009.

FERNANDES, E.A.A. Proyecto Escuela Bilíngue de Frontera Brembatti

Calvoso/Brasil y Escuela nº 290 Defensores dol Chaco/Paraguay. Dissertação de

Mestrado – UFGD. 2012.

HORNBERGER, N.H. (1991) Extending enrichment bilingual education: Revisiting typologies and redirecting policy. In: O. GARCIA (org.) Bilingual Education Focusschrift in Honor of Joshua A. Fishman. Volume 1. Philadelphia: John Benjamins.

(5)

PIRES-SANTOS, Maria Elena. Ambivalências de termos e conceitos: Implicações para a linguagem híbrida em contexto de fronteira. Línguas e Letras: UNIOESTE. Vol.II, nº 20. 2010.

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Corograpliiu, Col de Estados de Geografia Humana e Regional; Instituto de A lta C ultura; Centro da Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa.. RODRIGUES,

Mova a alavanca de acionamento para frente para elevação e depois para traz para descida do garfo certificando se o mesmo encontrasse normal.. Depois desta inspeção, se não

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

O score de Framingham que estima o risco absoluto de um indivíduo desenvolver em dez anos DAC primária, clinicamente manifesta, utiliza variáveis clínicas e laboratoriais