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DIREITO NO BRASIL AULA DE DIREITO ADMINISTRATIVO II Profª Lúcia Luz Meyer atualizado em

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DIREITO NO BRASIL

AULA DE

DIREITO ADMINISTRATIVO II

Profª Lúcia Luz Meyer

atualizado em 09.2010

PONTO 33 – RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

Roteiro de Aula (11 fls)

SUMÁRIO: 33.1. Evolução. 33.2. Teorias. 33.3. Princípios fundamentais. 33.4. O dano indenizável. 33.5. Excludentes de responsabilidade. 33.6. Ação regressiva. "Não há responsabilidade sem prejuízo advindo de dano"

33.1. EVOLUÇÃO:

Durante séculos prevaleceu a Teoria da Irresponsabilidade do Estado; na época do absolutismo, imperava e regra de que o Estado não tinha responsabilidade por comportamentos lesivos a terceiros (‘The king can do no wrong’ ou ‘Le roi ne peut mal faire’). Essa teoria começa a ruir após os movimentos sociais do séc. XVIII. Nos EUA e na Inglaterra, entretanto, aquele entendimento prevaleceu até 1946 e 1947, respectivamente.

Surgem várias teorias buscando prever a responsabilidade do Estado; de início, os atos de

império não gerariam responsabilidade, ao contrário dos atos de gestão; depois, o Estado seria

responsabilizado apenas se fosse comprovado dolo ou culpa do agente público causador do dano. E por aí vai.

Segundo SAULO JOSÉ CASALI BAHIA (Responsabilidade Civil do Estado, Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 11 – grifamos):

Viveu-se, no campo da responsabilidade civil do Estado, uma noção de evolução. Partiu-se da irresponsabilidade do Poder Público (Teoria da Irresponsabilidade), para em seguida admitir-se a responsabilidade do Estado baseada na culpa, nos moldes do Direito Civil (Teoria da Culpa

Civilística), carreando-se, progressivamente, a esta responsabilização, aspectos de Direito Público

(Teoria da Culpa Administrativa). Ainda neste avanço, iniciou-se a prescindir da aferição apriorística da culpa, admitindo-se sua presunção, com a inversão do ônus probatório, culminando-se com o refinamento oferecido pelas teorias da culpa anônima e da falta administrativa. Num passo seguinte, buscou-se a responsabilização do Estado por atividades lícitas que desenvolvesse (de acordo com a Teoria do Risco Administrativo), pretendendo-se que chegasse aos rigores da Teoria do

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Teoria do Risco Social (Responsabilidade sem Risco).

Vale citar LEONARDO AYRES SANTIAGO, em artigo intitulado “A responsabilidade

extracontratual do Estado na hipótese de suicídio de presos sob sua custódia” (disponível em:

http://www.mundojuridico.adv.br/documentos/artigos/texto428.doc-Microsoft>), quando diz que:

A responsabilidade extracontratual patrimonial do Estado evoluiu, embora de modos e em

momentos diferentes, passando por três fases distintas: a fase da irresponsabilidade total, a fase da responsabilidade civilista, fundada na culpa civil comum, e, por fim, a fase da responsabilidade publicista, baseada nos princípios de Direito Público. A evolução da responsabilidade patrimonial do Estado por atos danosos praticados por seus agentes corresponde à própria evolução do Estado de Direito. De fato, se todos devem submeter-se às regras que constituem o sistema jurídico interno, a obrigação de recompor o patrimônio injustamente desfalcado deve alcançar a todas as pessoas, sejam elas naturais ou morais, públicas ou privadas. O fato é que, a responsabilidade do Estado no direito

positivo brasileiro veio num crescendo, acompanhando o próprio desenvolvimento das teorias a respeito. Assim é que as primeiras Constituições, de 1824 e 1891, embora não previssem a

responsabilidade do Estado, estabeleciam a responsabilidade do agente público em decorrência dos abusos ou omissões praticados no exercício de suas funções. Leis ordinárias e a própria jurisprudência à época, de sua parte, vieram a consolidar uma responsabilidade solidária do Estado para com os seus agentes causadores de danos, como aqueles causados por estradas de ferro, colocação de linhas telegráficas, serviços de correio etc. A Lei nº 221, de 20-11-1894, sobre procedimentos judiciais, já admitia, embora de forma velada, a responsabilidade do Estado, ao estabelecer a competência dos juízes e tribunais federais para o processamento e julgamento das causas fundadas em lesão de direitos individuais por atos ou decisões das autoridades administrativas da União. O Código Civil Brasileiro,

promulgado em 1916, adotou, segundo a maioria dos autores modernos, a responsabilidade subjetiva

do Estado, refletindo o pensamento dominante à época. A tese da culpa civil do Estado como requisito para fundamentar o dever de indenizar permaneceu até o advento da Constituição de 1934, que, num tímido progresso, estabeleceu a responsabilidade solidária do Estado para com os atos danosos praticados por seus agentes, preceito repetido na Constituição de 1937. Somente com o advento da

Constituição de 1946 é que o nosso direito positivo consagrou a responsabilidade objetiva do Estado,

pois estabelecia em seu artigo 194 que as pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis pelos danos que seus funcionários, nessa qualidade, causem a terceiros, cabendo-lhe direito de regresso contra aqueles que houverem atuado com culpa. (...) As Constituições de 1967 e

1969 repetiram a norma da Constituição de 1946, acrescentando apenas que a ação de direito de

regresso será cabível em caso de dolo ou culpa, o que, em todo caso, estaria implícito na expressão “culpa” constante do artigo 194 daquela Carta Política. Atualmente, o pilar da responsabilidade do

Estado no direito positivo brasileiro é a Constituição da República de 1988. Duas regras básicas

vigoram, a do art. 37, § 6º, de caráter genérico, e a do art. 21, inciso XXIII, alínea “c”, específica para os danos decorrentes de acidentes nucleares.

(grifamos)

No ensinamento de HELY LOPES MEIRELLES (Direito Administrativo Brasileiro, 29ª ed, São Paulo: Malheiros, 01.2004, p. 624):

O estudo da responsabilidade civil da Administração Pública, ou, como tradicionalmente se diz, da

responsabilidade civil do Estado, pede algumas considerações de ordem geral para o perfeito

entendimento da matéria no nosso Direito Administrativo. Preliminarmente, fixa-se que a

responsabilidade civil é a que se traduz na obrigação de reparar danos patrimoniais e se exaure com

a indenização. Como obrigação meramente patrimonial, a responsabilidade civil independe da criminal e da administrativa, com as quais pode coexistir sem, todavia, se confundir. Responsabilidade civil da Administração é, pois, a que impõe à Fazenda Pública a obrigação de compor o dano causado a terceiros por agentes públicos, no desempenho de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. É distinta da responsabilidade contratual e legal.

Seguindo nessa mesma esteira, EDMIR NETTO DE ARAÚJO (Curso de Direito Administrativo’, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 714 – grifo original) assevera que:

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Modernamente, o problema da responsabilidade do Poder Público por atos ou omissões prejudiciais de seus agentes, ou por fatos de coisas à sua guarda, é equacionado em termos eminentemente objetivos, sendo o administrado dispensado do ônus probante quanto à culpabilidade direta ou indireta da Administração. Pelo contrário, presentes todos os elementos (dano, vítima, sujeito ativo agente público no exercício de suas funções, causas com referibilidade ao Estado), esta é que estará obrigada a comprovar (inversão do ônus da prova), caso queira eximir-se integral ou parcialmente da obrigatoriedade de reparar o dano, que ocorre uma qualquer das hipóteses excludentes da responsabilidade, e para isso analisando especialmente a causa, que é o elemento catalisador dos dados mencionados.

Também ODETE MEDAUAR (Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 714 – grifo original) entende que:

A responsabilidade civil do Estado diz respeito à obrigação a este imposta de reparar danos causados a terceiros em decorrência de sua atividades ou omissões: por exemplo: atropelamento por veículo oficial, queda em buraco na rua, morte em prisão. A matéria é estudada também sob outros títulos: responsabilidade patrimonial do Estado, responsabilidade extracontratual do Estado,

responsabilidade civil da Administração, responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado.

DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR (Direito Administrativo, 5ª ed, Salvador: Jus Podium, 2007, p. 308 – grifo original), diz que:

Responsabilidade civil extracontratual do Estado é a obrigação que lhe incumbe de reparar os

danos lesivos a terceiros e que lhe sejam imputáveis em virtude de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos. Essa responsabiliade estatal pode decorrer de comportamentos administrativos (para essa hipótese alguns autores preferem chamar de responsabilidade civil da Administração Pública), de atos legislativos e de atos judiciais.

Mister esclarecer que, para se configurar a responsabilidade civil do Estado é necessário que se verifique o nexo causal entre a ação ou omissão da Administração e o evento danoso.

Dispõe o § 6º do art. 37 da CF/88, in verbis: Art. 37 - …

[…].

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

[…].

Em capítulo sobre a responsabilidadade civil prescreve o Código Civil Brasileiro - CC (Lei n° 10.406, de 10.01.2002), em seu art. 927 e parágrafo único que:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Por outro lado, no art. 43 CC apenas prevê a responsabilidade civil do Estado relativamente às pessoas de direito público o que, para muitos, significa ter havido um retrocesso de interpretação do legislador menor:

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Art. 43 - As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Segundo MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO (Direito Administrativo’, 20ª ed, São Paulo: Atlas, 2007, p. 602), para que haja a responsabilidade do Estado, nos termos do transcrito § 6° do art. 37:

• é necessário que se trate de pessoa jurídica de direito público, ou pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços públicos;

• as entidades de direito privado precisam ser prestadoras de serviços públicos; não incide a responsabilidade objetiva, por exemplo, nas relações estritamente comerciais das empresas públicas ou sociedades de economia mista, ainda que delas decorra algum tipo de dano;

• é necessário que ocorra um dano em decorrência da prestação do serviço público; este é, na voz da autora, o nexo de causa e efeito;

• o dano deve ser causado por agente daquelas entidades, o que abrange todas as categorias de agente público, quer sejam políticos, administrativos ou particulares em colaboração com a Administração Pública, não importando o título sob o qual prestam o serviço;

• por fim, é necessário que o agente, ao causar o dano, aja nessa qualidade; não acarretará a responsabilidade estatal se o agente, ao causar o dano, não estiver no exercício de suas funções.

Vale observar também o disposto no art. 21, XXIII, ‘d’, da CF/88, que contempla a Teoria

do Risco Integral, conforme adiante será estudado:

Art. 21. Compete à União: […].

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; […].

33.2. TEORIAS:

Algumas teorias se sobressaem quanto à Responsabilidade Civil do Estado, tais como as teorias publicistas:

a) Teoria da Culpa Administrativa (ou culpa do serviço):

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baseada na culpa, a qual, por sua vez, pode se dar através de três formas: imprudência, negligência ou imperícia do agente. Distingue, outrossim, a culpa individual do agente

público (sobre a qual o próprio agente respondia) da culpa administrativa.

Se o serviço não funcionou, funcionou mal ou funcionou atrasado, implicando num ilícito da Administração, surge a responsabilidade subjetiva do Estado e a vítima teria o ônus da prova.

b) Teoria do Risco:

A Teoria do Risco serve de fundamento para a responsabilidade objetiva do Estado; aqui mais se invoca o dolo ou culpa do agente, ou o mau funcionamento ou falha da Administração.

Se houve nexo causal (relação de causa e efeito) entre o comportamento da Administração Pública e o dano a terceiro, o Estado responderá, independentemente de dolo ou culpa, licitude ou ilicitude da conduta, bom ou mau funcionamento da Administração.

Essa teoria considera duas vertentes: risco administrativo e risco integral:

b.1) Teoria do risco administrativo – é adotada pela CF/88; considera a publicização da responsabilidade e coletivização dos prejuízos. Prevê a obrigação de indenizar o dano pela simples ocorrência do ato lesivo; admite causas excludentes (culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior).

b.2) Teoria do risco integral – reconhece a responsabilidade civil em qualquer situação, desde que presentes os três elementos essenciais; não admite exceções. Pode-se citar como exemplo, no Brasil, a responsabilidade por danos nucleares (já citado art. 21, XXIII, d, da CF/88).

PATRÍCIO BORBA NETO, à página 13 do artigo de sua autoria intitulado “Responsabilidade civil da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)”, (disponível em: < http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5644 > - TEXTO Nº 0086), referindo aos três requisitos, ou pressupostos da responsabilidade objetiva do Estado – dano, agente público causador e nexo de causalidade -, define-os como:

Do dano - No que tange aos serviços públicos, é irrelevante que o ato seja lícito ou ilícito. O

tratamento constitucional dado à matéria "exclui a questão da licitude da conduta praticada pelo

agente causador do dano, bastando a demonstração do prejuízo e do nexo de causalidade" (69). Quando se tratar de ato ilícito, deverão estar presentes dois requisitos: que o dano seja quantificável,

certo, tanto atuais quanto futuros (danos emergentes ou cessantes), não se admitindo dano hipotético. Tem-se a necessidade ainda que o dano recaia sobre uma situação juridicamente (70) protegida no sentido da existência de um direito objetivo adquirido, e, como tal, reconhecido na lei vigente (71). Ruth Helena lembra que o dano deve ser excepcional, ultrapassando o limite que o administrado deve

suportar em prol da coletividade, como também deve ser especial, afetando a uma pessoa ou um conjunto delas (72).

Qualidade do agente - Este requisito é determinado em nossa Carta Constitucional no artigo 37, § 6 º

que estabelece: as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado, prestadoras de serviços

públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.

A expressão "agente" é utilizada para abarcar todas as pessoas que realizam funções ligadas às mencionadas entidades, por qualquer tipo de vínculo funcional, compreendendo, desta forma, as pessoas que, de forma definitiva ou transitória, regular ou irregular, prestarem serviços ao Estado, as pessoas jurídicas da Administração indireta e as pessoas jurídicas de direito privado prestador de serviços públicos, não se cogitando a validade ou não da investidura do agente, nem mesmo a validade de seus atos ou omissões.

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estabelecer o nexo de causalidade existente entre eles.

Nas palavras de Ruth Helena Pimentel, "o prejuízo ocasionado ao usuário de serviço público deverá

ser uma conseqüência da atividade do Estado, ou da entidade que presta o serviço publico, sem que haja a necessidade de investigar a ocorrência de elementos subjetivos - culpa do agente ou falha do serviço" (74). Assevera a mesma autora que, "estabelecida à responsabilidade objetiva, desvinculada de

qualquer noção de culpa, a existência de nexo causal entre o dano e a ação do Estado, ou do ente prestador do serviço público, é suficiente para estabelecer a responsabilização dessas entidades" (75).

Assim, é necessário discernir quando o Estado responderá objetivamente ou subjetivamente pelos danos causados a terceiros:

a) Responsabilidade por ação (ou ato comissivo) do Estado:

Se a Administração Pública causou o dano, através de um comportamento comissivo (de fazer), lícito ou ilícito, o Estado tem responsabilidade objetiva, eis que o dano tem origem direta de ação estatal. Reveja-se o § 6° do art. 37 da CF/88:

Art. 37 – (...). [...]

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso conta o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Também o art. 43 do Código Civil-CC:

Art 43 – As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvados direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

b) Responsabilidade por omissão do Estado:

Em regra, se o Estado não causou dano, não terá responsabilidade, salvo se ele tinha o dever jurídico de agir para impedir o evento danoso e se omitiu, sendo neste caso caracterizada a responsabilidade subjetiva (por culpa administrativa, ou culpa anônima).

33.3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

Pode-se dizer, latu sensu, que o ordenamento jurídico brasileiro previu sempre a responsabilidade do Estado; entretanto, a responsabilidade objetiva apenas teve previsão a partir da Constituição de 1946 (art. 194), depois com a Constituição de 1967 (art. 105), na EC nº 01/69 (art. 107) e, finalmente, com a CF/88 (art. 37, § 6º).

De fato, as Constituições de 1824 e de 1891 adotaram a tese de irresponsabilidade do Estado mas os empregados públicos eram responsabilizados quando cometiam abusos e/ou omissões no exercício de suas funções. Já as Constituições de 1934 e de 1937 previam a responsabilidade solidária entre o funcionário e o Estado. Com a Constituição de 1945 iniciou-se no ordenamento jurídico brasileiro o estudo da responsabilidade objetiva do Estado. A Constituição de 1967 manteve o mesmo entendimento da Constituição anterior e a Emenda nº 01/69 não trouxe alterações. A Constituição vigente, de 1988, apresentou importantes mudanças, sobretudo a que inclue no rol de quem responderá civilmente pelo Estado as entidades de direito privado prestadoras de serviço

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público.

O art. 37, § 6º da CF/88 consagra, como já visto, a responsabilidade objetiva: a) das entidades de direito público;

b) e das entidades de direito privado, prestadoras de serviço público (sejam essas entidades estatais, ou seja, as Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista, ou não, como as concessionárias, permissionárias ou autorizatárias de serviço público).

Para que se afirme a responsabilidade do Estado faz-se necessário que o dano possa ser imputado a ele; é possível, porém, haver responsabilidade da Administração Pública, ainda que não seja identificado o agente público; por exemplo, o comportamento ativo ou omissivo, mesmo decorrente de falha mecânica (semáforos, a exemplo).

Hoje pode-se considerar a seguinte situação da responsabilidade civil do Estado no direito positivo brasileiro:

a) a regra é a do ‘princípio da responsabilidade objetiva’, fundada na teoria do risco administrativ o , nas relações entre Administração Pública e administrado, podendo o Estado exonerar-se desta responsabilidade se provar a culpa exclusiva

da vítima, o caso fortuito ou a força maior;

b) nos casos de danos causados por omissão do Estado, à exceção do item anterior, embora vigente a responsabilidade objetiva por disposição constitucional, aplica-se o ‘princípio da responsabilidade subjetiva’, dada a necessidade de provar o dever de agir do Estado e sua omissão a esse dever;

c) em hipóteses de danos causados por terceiros ou por fatos da natureza, impera o ‘princípio da responsabilidade subjetiva’ do Estado, fundada na ‘teoria da culpa administrativa’;

d) vige, nas relações entre a Administração e o agente causador do dano, o ‘princípio da responsabilidade subjetiva’, o que permite ao Estado exercitar o direito de regresso nos casos de dolo ou culpa daquele;

e) admite-se a 'teoria do risco integral' (art. 21, XXIII, d da CF/88) nos acidentes por dano nuclear).

33.4. O DANO INDENIZÁVEL:

Nas preciosas palavras de DIRLEY DA CUNHA JÚNIOR (2007:301-302 – grifo original): Para haver indenização, é necessário que o dano cause, para além de uma lesão econômica, uma lesão de direito. Ademais, desde a Constituição de 1988 que não mais é imprescindível o dano econômico, uma vez que restou consagrado o dano tão-somente moral. O fundamental, portanto, é que o dano seja

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ou futuro, ou seja, englobar o que se perdeu e o que se deixou de ganhar.

Caso o comportamento estatal que gerou o dano for lícito, será necessário, para haver indenização, que seja um comportamento especial e anormal.

Também, ‘a ação de reparação de danos tem que ser feita por pedido judicial até cinco anos, podendo ser proposta, segundo a maioria da doutrina e da jurisprudência, contra o Estado, hipótese em que a responsabilidade é objetiva, o agente público, em que terá de provar o dolo ou a culpa (responsabilidade subjetiva), ou ainda, contra ambos, em litisconsórcio facultativo como responsáveis solidários’.

Quanto à possibilidade de Denunciação à lide existe uma corrente contrária adotada por Celso Antônio Bandiera de Mello (2004:917), Lúcia Valle Figueiredo (1994:177), Vicente Grecco Filho (94:9-12), Weida Zacanner (1981:64-65), entre outrosm, conforme citado por MARIA SIYLVIA ZANELLA DI PIETRO – (2007:608).

Já em relação ao Litisconsórcio facultativo vale ver YUSSEF CAHALIL a respeito. 33.5. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE:

Excludente de responsabilidade objetiva será toda causa que rompa o nexo de causalidade, vale dizer, desde que se configure que tenham impedido o nexo causal entre o comportamento do Estado e o dano, tais como:

a) culpa exclusiva da vítima, por exemplo, um potencial suicida joga-se, inadvertidamente, à frente de um veículo que, por acaso, é um veículo oficial, dirigido por agente público no exercício de sua função de motorista.

b) força maior, por exemplo, um raio cai em uma árvore sita em um estacionamento público, atinge um galho que em decorrência desse raio quebra e cai encima de um veículo particular aí estacionado. É um evento inevitável da natureza.

c) caso fortuito, decorre de fato ou ato alheio à vontade das partes, como por exemplo, uma greve, um motim, a guerra.

A culpa concorrente entre o Estado e a vítima apenas atenua o quantum da indenização. 33.6. AÇÃO REGRESSIVA:

É possível a ação regressiva contra o agente culpado (ou que agiu com dolo), desde que o Estado, tendo sido condenado, tenha pago indenização à vítima; o Estado indeniza a vítima e o agente indeniza o Estado.

A Lei nº 4.619, de 28/04/1965 estabelece normas sobre ação regressiva da União contra seus agentes; a Lei nº 4.898/65 regula o direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade – não trata de ação regressiva, mas

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de ação direta da vítima contra a autoridade que o lesou por abuso de poder. Também trata do assunto o art. 122, § 2º, da Lei nº 8.112/1990(Estatuto do Servidor Público Civil Federal):

Art. 122 – A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou a terceiros.

§ 1º - (...).

§ 2º - Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servidor perante a Fazendo Pública, em ação regressiva.

[...].

O Supremo Tribunal Federal no julgamento do Rec Esp 327409, relatado pelo Ministro Carlos Britto, fazendo menção à Ação Regressiva doEstado, define-a como:

… a ação de "volta" ou de "retorno" contra aquele agente que praticou ato juridicamente imputável ao Estado, mas causador de dano a terceiro. Logo, trata-se de ação de ressarcimento, a pressupor, lógico, a recuperação de um desembolso. Donde a clara ilação de que não pode fazer uso de uma ação de regresso aquele que não fez a "viagem financeira de ida"; ou seja, em prol de quem não pagou a ninguém, mas, ao contrário, quer receber de alguém pela primeira vez. (STF, RE 327409/SP, REL. CARLOS AYRES BRITTO, DJU 08.09.2006, P.28).

Alguns autores, como por exemplo, Yussef Said Cahali, já antes citado, admitem o litisconsórcio facultativo.

OBSERVAÇÕES:

responsabilidade civil do Estado por atos jurisdicionais –

No Brasil ainda não encontrou sede no ordenamento jurídico, salvo por erro judicial de natureza criminal (art. 630/CPP – art. 5º, LXXV da CF/88). É prevista no art. 133 do Código de Processo Penal – CPP a responsabilidade pessoal do juiz.

Há acórdão do STF no sentido de que ‘a autoridade judicial não tem

responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais praticados, devendo a ação ser proposta contra a Fazenda Estadual, a qual tem o direito de regresso contra o magistrado responsável, nos casos de dolo ou culpa’ (AC. nº RE nº 228.977/SP).

Por outro lado, vale transcrever as preciosas palavras de JOSÉ CRETELLA JÚNIOR (Responsabilidade do Estado por atos judiciais. RDA 99:13):

a) a responsabilidade do Estado por atos judiciais é espécie do gênero responsabilidade do Estado por atos decorrentes do serviço público;

b) as funções do Estado são funções públicas, exercendo-se pelos três Poderes;

c) o magistrado é órgão do Estado; ao agir, não age em seu nome, mas em nome do Estado, do qual é representante;

d) o serviço público judiciário pode causar dano às partes que vão a juízo pleitear direitos, propondo ou contestando ações (Cível); ou na qualidade de réus (Crime);

e) o julgamento, quer no Crime, quer no Cível, pode consubstanciar-se no erro judiciário, motivado pela falibilidade humana na decisão;

f) por meio dos institutos rescisório e revisionista é possível atacar-se o erro judiciário, de acordo com a s formas e modos que a lei prescrever, mas, se o equívoco já produziu danos, cabe ao Estado o dever de repará-los;

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g) voluntário ou involuntário, o erro de conseqüências danosas exige reparação, respondendo o Estado civilmente pelos prejuízos causados; se o erro foi motivado por falta pessoal do órgão judicante, ainda assim o Estado responde, exercendo a seguir o direito de regresso sobre o causador do dano, por dolo ou culpa;

h) provados o dano e o nexo causal entre este e o órgão judicante, o Estado responde patrimonialmente pelos prejuízos causados, fundamentando-se a responsabilidade do Poder Público, ora na culpa administrativa, o que envolve também a responsabilidade pessoal do juiz, ora no acidente administrativo, o que exclui o julgador, mas empenha o Estado, por falha técnica do aparelhamento judiciário.

responsabilidade civil do Estado por atos legislativos

Argumentos contrários à responsabilidade do Estado por atos legislativos (a regra é, pois, a de irresponsabilidade):

a) exercício soberano da função de legislar;

b) a lei é norma de caráter geral e impessoal, não sendo suscetível de gerar dano a indivíduo determinado, pois é editada para beneficiar a todos

Vem sendo admitida, entretanto, a responsabilidade do Estado por leis inconstitucionais, assim declaradas. (O Estado responde civilmente por danos causados aos particulares pelo desempenho inconstitucional da função de legislar’ – RDA 189, de 1992, p. 305-306).

Outrossim, também alguns doutrinadores passam a entender ser possível a responsabilização legislativa do Estado – além de decorrrente de leis inconstitucionais - em decorrência da inércia do legislador em relação à edição de uma norma, sobretudo se for determinado um prazo para tanto.

TEXTOS RE LACIONADOS :

ALMEIDA Júnior, Jesualdo Eduardo de – “A prescrição da ação civil pública por dano

causado ao Erário”, (em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7973) - TEXTO Nº 0155.

BORBA NETO, Patrício – “Responsabilidade Civil da ANATEL”, (em: - http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5644) - TEXTO Nº 0086.

MENDES, Luiz Carlos Duarte - “Responsabilidade civil do Estado”, (em: - http://www.fada.adm.br/bresponsabilidade.htm ) - TEXTO Nº 0067.

PIZATO, Octávio Pelúcio Ottoni - “Breve histórico da Responsabilidade

Extracontratual do Estado e seu tratamento no Direito Positivo Brasileiro”, (em: http:// www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=5272) - TEXTO Nº 0053.

SANTIAGO, Leonardo Ayres - “A responsabilidade extracontratual do Estado na

hipótese de suicídio de presos sob sua custódia”, (disponível em:

http://www.mundojuridico.adv.br/documentos/artigos/texto428.doc-Microsoft).

SANTOS, Larissa Maria Mercês - “Responsabilidade civil do Estado por atos

legislativos”, (disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10791) - TEXTO 0185.

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SILVA, Augusto Vinícius Fonseca e – “A Responsabilidade Objetiva do Estado por

Omissão”, (em: - 5 R. CEJ, Brasília, n. 25, p. 5-11, abr./jun. 2004) - TEXTO Nº 0087.

DOUTRINA CITADA :

ARAÚJO, Edmir Netto de – ‘Curso de Direito Administrativo’, São Paulo: Saraiva, 2005.

CAHALI, Yussef Said - ‘Responsabilidade Civil do Estado’, São Paulo: Malheiros, 1995.

CASALI BAHIA, Saulo José – ‘Responsabilidade Civil do Estado’, Rio de Janeiro: Forense, 1995.

CRETELLA JÚNIOR, José - ‘Responsabilidade do Estado por atos judiciais’, RDA 99:13

CUNHA JÚNIOR, Dirley da - ‘Direito Administrativo’, 5ª ed, Salvador: Jus Podium, 2007.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella – ‘Direito Administrativo’, 20ª ed, São Paulo: Atlas, 2007.

MEDAUAR, Odete - ‘Direito Administrativo Moderno’, 7ª ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

MEIRELES, Hely Lopes - ‘Direito Administrativo Brasileiro’, 29ª ed, São Paulo: Malheiros, 01.2004.

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Osnabrück, Niedersachsen - Deutschland, revisto e atualizado em 28 de setembro de 2010 Profª LUCIA LUZ MEYER

meyer.lucia@gmail.com

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