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A Luta pela Proteção dos Vertebrados Terrestres

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Academic year: 2021

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A Luta pela

Proteção dos

Vertebrados

Terrestres

MURIQUI-DO-SUL, ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), maior primata do continente americano, original da Mata Atlântica (aqui na Estação Biológica de Caratinga, em Minas Gerais). Em “perigo crítico”, é um dos mais ameaçados

(2)

Enorme complexidade,

conhecimento científi co ainda

limitado e fragilidade de algumas

áreas de endemismo prejudicam a

preservação de patrimônio natural

O

s vertebrados terrestres, ou tetrápodes, são animais caracterizados pela presença de quatro membros com dedos nas extremidades. Surgiram na Terra no período Devoniano, há cerca de 360 milhões de anos, a partir de um grupo de peixes com nadadeiras lobadas, conhecidos como sar-copterígeos. Os vertebrados terrestres atuais, representados pelos anfíbios, rép-teis, aves e mamíferos, são um grupo extremamente diversifi cado, com algo em torno de 21 mil espécies e grandes variações morfológicas, que ocupam uma ampla gama de ambientes.

O Brasil, com área de aproximadamente 8,5 milhões de km2 e seis grandes biomas terrestres, disputa com a Indonésia o primeiro lugar em biodiversidade de vertebrados terrestres em todo o planeta. Estima-se que no país ocorram 14% de todas as espécies de anfíbios conhecidas, 9% dos répteis, 18% das aves e 12% de todos os mamíferos.

A informação científi ca disponível para cada um dos grupos de tetrápodes é bastante heterogênea. Enquanto o conhecimento sobre aves e mamíferos tem um grande avanço nos últimos anos, pouco se sabe sobre aspectos de ecologia, biologia e ameaças para a maioria das espécies de anfíbios e répteis. Essa discre-pância de informações explica parte das marcantes diferenças no número de espécies ameaçadas de extinção em cada grupo.

Herpetofauna é o conjunto de espécies de anfíbios e répteis presentes em determinada região. Em função de exigências fi siológicas, reprodutivas e ali-mentares, os ambientes fl orestais tropicais costumam reunir maior diversidade herpetofaunística, em comparação com regiões dominadas por desertos, cam-pos naturais, camcam-pos agrícolas, caatingas, cerrados, pampas e fl orestas não tropicais. Ainda assim, anfíbios e répteis estão presentes com muitas espécies em quase todas as regiões da América do Sul – com exceção apenas ao do am-biente marinho para os anfíbios, que não sobrevivem na água salgada. Com essa variedade de biomas e a maior parte de seu território situada entre a linha do equador e o trópico de Capricórnio, não é surpresa que o Brasil disponha de extraordinária riqueza herpetofaunística.

POR

ADRIANO P. PAGLIA, RENATO S. BÉRNILS

E PEDRO F. DEVELEY

© KEVIN SCHAFER/MINDEN PICTURES - LA

TINST

(3)

No caso dos répteis, o Brasil ocupa a segunda posição entre os países com maior diversidade de espécies (721), atrás da Austrália (865 es-pécies), mas à frente dos demais países tropi-cais grandes e megadiversos, como México, Índia, Colômbia, Indonésia e Peru. Mas esses valores estão subestimados; no ritmo em que avança o conhecimento sobre nossa herpeto-fauna, muito em breve o Brasil poderá se reve-lar abrigo da mais rica fauna de répteis do pla-neta. Desde 2000 até agora, aqui foram descritas 88 novas espécies de répteis (12% do total), quase todas endêmicas. Essas descober-tas recentes representam ritmo médio de uma nova espécie descrita a cada 45 dias. Poucas partes do mundo mostram ritmo de cresci-mento recente tão acelerado.

Em relação à diversidade de anfíbios, o Brasil ocupa a primeira colocação mundial (875 espécies registradas até agora), com fol-ga para o segundo colocado, a Colômbia (660 espécies). Nos últimos dez anos foram descritos 153 novos anfíbios no Brasil (17,5% do total atual), o que representa uma nova espécie descrita a cada 24 dias. Man-tendo-se esse compasso, em sete ou oito anos o país chegará a mil anfíbios registrados para seu território, cifra impressionante para qualquer grupo animal em qualquer lugar do mundo. E ainda estaremos longe das esti-mativas que, no Brasil, fazem os pesquisado-res de anfíbios.

Pelo menos duas famílias de anuros têm distribuição fortemente centrada no Brasil, ou seja, 100% de suas espécies ocorrem aqui, ain-da que algumas sejam compartilhaain-das com Argentina e Paraguai: Brachycephalidae (sa-pos-pingo-de-ouro), com 44 espécies, e

Hylodidae (rãs-de-riacho), com 42 espécies. E a quantidade de gêneros endêmicos do Brasil, não apenas nessas duas famílias, é de enorme magnitude. Também chama a atenção a enor-me diversidade de anfíbios exibida por deter-minadas localidades. Especialmente na Ama-zônia e na Mata Atlântica, não é raro encontrar entre 60 e 80 espécies compartilhando a mes-ma região, e um estudo recente realizado no Acre registrou 126 espécies de anfíbios numa única unidade de conservação.

A grande diversidade herpetofaunística do Brasil contrasta com a modesta quantidade de espécies nacionalmente reconhecidas como extintas (um anfíbio) ou ameaçadas de extin-ção (15 anfíbios e 20 répteis). Esses valores estão subestimados e certamente aumentarão após revisão dos especialistas que elaboraram as primeiras listas nacionais de espécies amea-çadas. Mas, mesmo que esses números do-brem, mal atingirão 4% de toda a diversidade herpetofaunística nacional. Isso não signifi ca que o país se encontre em situação cômoda, pois é preocupante considerar que estão sob ameaça 4% das espécies da maior diversidade herpetofaunística do mundo. Mas, se

compa-rarmos aos valores registrados para aves e ma-míferos, veremos que as condições de anfíbios e répteis são menos alarmantes.

As maiores ameaças à herpetofauna brasi-leira se concentram nos biomas Mata Atlânti-ca e Cerrado e resultam principalmente de perda e degradação de hábitat. Situações críti-cas ocorrem nas restingas (para lagartos) e matas de baixada litorânea (para anfíbios e serpentes) da Bahia ao Rio Grande do Sul, em ilhas do litoral paulista (para serpentes e anfí-bios), nos remanescentes de cerrado e campos rupestres de São Paulo e Minas Gerais (para lagartos e serpentes), em riachos e afl oramen-tos rochosos das serras dos Órgãos, Manti-queira, Bocaina e Caparaó (para todos os gru-pos) e em corpos d’água diversos, sobretudo na região Sudeste (para anfíbios e cágados). Casos emblemáticos, de preocupação extre-ma, envolvem a perereca Hypsiboas

cymba-lum, descrita em 1963 a partir de exemplares

obtidos na região metropolitana de São Paulo (hoje densamente habitada) e nunca mais en-contrada, provavelmente extinta; ou o cágado

Mesoclemmys hogei, habitante de rios de

Mi-nas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro que cortam áreas densamente habitadas e estão muito poluídos, sem vegetação marginal e par-cialmente represados.

Campos do Sul e Caatinga

Isso tudo sem contar que também há ameaças graves ocorrendo nos Campos Sulinos e na Ca-atinga. Estudos recentes identifi caram situa-ções sérias envolvendo anfíbios e répteis mes-mo em biomas menos descaracterizados, comes-mo Pantanal e Amazônia. As principais praias de desova de tartarugas marinhas são protegidas e fi cam do norte fl uminense para cima. Con-tam com programas de reconhecimento, salva-mento e monitorasalva-mento das ninhadas, a cargo do Projeto Tamar desde 1980, mas isso não impede que adultos e jovens das cinco espécies

■ O Brasil disputa com a Indonésia o primeiro lugar em biodiversidade de vertebrados terrestres.

Estima-se que no país ocorram 14% de todas as espécies de anfíbios conhecidas, 9% dos répteis, 18% das aves e 12% de todos os mamíferos.

■ No caso dos répteis, o Brasil ocupa a segunda posição (721 espécies), atrás da Austrália (865),

mas à frente dos demais países tropicais grandes e megadiversos, como México, Índia, Colômbia, Indonésia e Peru.

■ Em relação à diversidade de anfíbios, o Brasil ocupa a primeira posição (875 espécies) já

regis-tradas, com folga para o segundo colocado, a Colômbia (660 espécies).

■ Parcela considerável da fauna de aves está ameaçada de extinção. A expansão do agronegócio

no Brasil Central e a perda de extensas áreas de Cerrado fazem com que este seja o segundo bioma brasileiro em número de aves ameaçadas.

■ De acordo com a lista ofi cial das espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil, 66

mamí-feros estão em vias de desaparecimento, com 40 deles na categoria “vulnerável”, 11 na condição de “em perigo” e 18 na mais elevada delas: “criticamente em perigo”.

Conceitos-chave

PATRIMÔNIO BIODIVERSO

GRUPO

BRASIL MUNDO

POSIÇÃO DO BRASIL

Anfíbios

875

6.200

1

o

Répteis

721

8.750

2

o

Aves

1.834

9.991

3

o

Mamíferos

680

5.416

1

o

Total Tetrápodes 4.092

30.357

1

o

ou 2

o

(4)

os últimos exemplares das aves mais raras em todo o país, como o “criticamente em perigo” limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi). Atualmente as duas únicas localidades onde a espécie pode ser encontrada são a Estação Ecológica de Murici (Alagoas) e a serra do Urubu (Pernambuco). O mutum-do-nordeste (Pauxi mitu) também ocorria nas matas dessa região, mas essa espécie já foi extinta na Na-tureza, restando apenas indivíduos mantidos em cativeiro, que representam a esperança de ser reintroduzidos nos fragmentos fl orestais remanescentes.

Impacto do Agronegócio

A expansão do agronegócio no Brasil Central e a consequente perda de extensas áreas de Cerrado fazem com que este seja o segundo bioma do Brasil em número de aves ameaça-das. Entre as diferentes fi sionomias vegetais do Cerrado, as áreas abertas (campo limpo, cam-po sujo e camcam-po cerrado) são as mais propícias para o desenvolvimento da agricultura, já que são planas e o solo apresenta condições sa-tisfatórias de drenagem, propiciando a im-plementação de extensas lavouras com alta mecanização. Em consequência, quase me-que ocorrem em nosso litoral sejam vítimas

diárias de redes de pesca, ainda que incidentais. Nenhum outro anfíbio ou réptil no Brasil rece-be atenção conservacionista tão organizada e por tanto tempo, nem mesmo os que têm dis-tribuição extremamente limitada e ainda não protegida por parques e reservas ambientais. Portanto, ainda engatinhamos quando o tema é proteger nossa herpetofauna e propor ações de reversão de seu status de ameaça.

O Brasil está entre os três países (juntamen-te com a Colômbia e o Peru) com maior rique-za de aves no mundo: 1.834 espécies ocorrem aqui. Dessas, 234 são endêmicas do território brasileiro. Assim, é de inteira responsabilidade do país zelar pelo futuro dessas espécies. O número de aves é bastante variável entre os seis biomas brasileiros, sendo que a Amazônia e a Mata Atlântica abrigam a maior quantida-de quantida-de espécies. Mas a real diversidaquantida-de é ainda pouco conhecida. Várias espécies de aves fo-ram descritas apenas nos últimos anos (21 no-vas entre 1996 e 2006). Além daquelas ofi cial-mente catalogadas, outras estão em processo de descrição, e muitas, consideradas atual-mente como subespécies, podem vir a ser ele-vadas à categoria de espécie após estudos mais

© GERMANO

WOEHL JUNIOR/INSTITUT

O RÃ-BUGIO

detalhados. Essa falta de conhecimento ocorre em grande parte devido à pequena representa-tividade das áreas estudadas, o que é realidade principalmente na Amazônia.

Parcela considerável da fauna de aves no Brasil está ameaçada de extinção. De acordo com a lista global de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), 122 aves correm “perigo real de desaparecer”. Elas se distribuem, de acordo com as categorias reconhecidas pela IUCN, em: 25 “criticamente em perigo”; 33 “em perigo” e 64 “vulneráveis”. Já a lista nacional de aves ameaçadas considera um total de 160 táxons (unidade taxonômica as-sociada a um sistema de classifi cação cientí-fi ca), incluindo subespécies ameaçadas, o que, em parte, explica as diferenças em rela-ção à lista global.

A Mata Atlântica concentra cerca de 80% de todas as aves ameaçadas no país. A situa-ção é mais séria na região Nordeste, especial-mente em Alagoas e Pernambuco, onde a maior parte da fl oresta original foi substituída por plantações de cana-de-açúcar, restando apenas poucos fragmentos de mata preserva-da. É nessa região que podem ser encontrados

Mata Atlântica concentra 80% de todas as aves ameaçadas.

Situação é mais séria no Nordeste, em Alagoas e Pernambuco

SAPO-PINGO-DE-OURO (Brachycehalus pernix), representante da família dos menores sapos do mundo. Natural da Mata Atlântica, historicamente esteve restrito ao Espírito Santo e Rio de Janeiro, mas este exemplar foi fotografado em Santa Catarina

(5)

tade das aves ameaçadas no bioma ocorre exclusivamente nesses ambientes, como a codorna-mineira (Nothura minor), o galito (Alectrurus tricolor) e os caboclinhos

(Spo-rophila cinnamomea e S. palustris). Apesar

da situação preocupante, alguns casos de-monstram que ainda há tempo para preser-var a grande diversidade de aves do Cerra-do, como a redescoberta, em 2006, do pica-pau-do-parnaíba (Celeus obrieni), re-encontrado nas proximidades da cidade de Goiatins (Tocantins) depois de quase 80 anos sem registros – uma importante desco-berta ornitológica.

No extremo sul do Brasil, a paisagem dos Campos Suli-nos é dominada por extensos campos naturais. Do total de espécies de aves desse bioma, 109 são essencialmente cam-pestres, incluindo as “amea-çadas de extinção” veste-amarela (Xanthopsar fl avus) e noivinha (Heteroxolmis

do-minicana). Nos Campos

Suli-nos, ajustes de manejo na pe-cuária podem beneficiar a avifauna sem prejudicar os ganhos do produtor, que, ao mesmo tempo, pode conse-guir maior valor de mercado pela carne produzida de for-ma alinhada à conservação.

A Caatinga também é pouco conhecida em relação à avifauna e apresenta gran-des extensões já muito de-gradadas. Recentemente, o projeto de conservação de uma ave endêmica da

Caa-tinga gerou resultados animadores para os biólogos e ambientalistas. Na região do Raso da Catarina, sertão da Bahia, um o esforço conjunto de ONGs nacionais e internacio-nais, governo e proprietários de terras conseguiu com que as populações da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) aumen-tassem, de modo que a categoria de ameaça de extinção de espécie passasse à condição de “criticamente ameaçada” para a categoria menos severa de “em perigo de extinção”.

Finalmente, a Amazônia e o Pantanal apre-sentam situações de conservação mais privile-giadas em relação aos demais biomas

brasilei-ros, com poucas espécies de aves ameaçadas. A existência desses biomas bem preservados re-presenta um privilégio, mas também uma grande responsabilidade para as atuais gera-ções em relação ao futuro dessas áreas.

A fauna de mamíferos do Brasil é extrema-mente rica, e, assim como no caso dos anfí-bios, répteis e aves, a informação sobre essas espécies vem aumentando signifi cativamente nas últimas décadas. Em 1996, por exemplo, foi feita uma compilação dos mamíferos ocor-rentes no Brasil, indicando aproximadamente 524 espécies. Recentes revisões taxonômicas e descrições de novas espécies elevaram esse

nú-mero, uma década depois, para mais de 650 espécies. A estimativa em 2010 é algo em torno de 680 espécies de ma-míferos, um incremento de mais de 30% em apenas 14 anos. Do total de mamíferos existentes no Brasil, cerca de 200 espécies são endêmicas. Esses números colocam o país em primeiro lugar na diversi-dade de mamíferos em todo o mundo, ligeiramente à frente da Indonésia.

Alguns grupos de mamífe-ros estão intimamente relacio-nados a determinadas regiões do país, em razão de suas ne-cessidades ecológicas. Exis-tem, por exemplo, 116 espé-cies de primatas no Brasil, todas elas dependentes de am-bientes fl orestais. A maioria, 90 espécies, ocorre na Amazô-nia, sendo 87 exclusivas desse bioma. Apesar da menor di-versidade de primatas, a Mata Atlântica também se destaca pelos elevados níveis de endemismo. De um total de 24 espé-cies de macacos da Mata Atlântica, 18 são en-contradas apenas aí.

Cer ca de 12% das espécies de mamíferos no Brasil têm distribuição geográfi ca restrita, ocorrendo em pequenas porções bem delimi-tadas do território nacional. Dentre essas espé-cies destaca-se o mico-leão-caiçara

(Leontopi-thecus caissara), que pode ser encontrado em

ADRIANO P. PAGLIA, biólogo com mestrado e doutorado em ecologia, conservação e manejo de vida silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais, é coordenador de planejamento territorial do Programa da Mata Atlântica da ONG Conservação Internacional (CI-Brasil) e professor da Metodista de Minas/Izabela Hendrix, em Belo Horizonte. Foi um dos editores do Livro vermelho das espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção e trabalha com pesquisa e conservação de mamíferos. RENATO S. BÉRNILS, biólogo com doutorado em zoologia pelo Museu Nacional, Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro, tem trabalhos centrados em diUni-versidade, biogeografi a e taxonomia de répteis da América do Sul, bem como em fauna ameaçada de extinção. Coordena a Lista Brasileira de Répteis para a Sociedade Brasileira de Herpetologia. PEDRO F. DEVELEY, biólogo, é mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), atuando na linha de ecologia e conservação de aves. Foi um dos organizadores dos dois volumes do livro Áreas

Importantes para a Conservação das Aves no Brasil. Diretor de Conservação da BirdLife/Save Brasil. © CIRO

ALBANO

Se nenhuma providência for tomada, em poucas décadas

o Brasil pode perder 10% de sua fauna de mamíferos

PICA-PAU–DO-PARNAIBA (Celeus obrieni) endêmico do Brasil, no Piauí, recentemente foi localizado em Tocantins. De hábitos alimentares e reprodutivos desconhecidos

(6)

pequenas populações na ilha de Superagui, li-toral do Paraná, e pequenos trechos adjacentes no continente, totalizando uma população de apenas 400 indivíduos. Ainda mais impressio-nante é o caso de uma espécie de preá (Cavia

intermedia), endêmica da ilha Moleques do

Sul, litoral de Santa Catarina. A população co-nhecida dessa espécie é de menos de 50 indiví-duos vivendo em apenas 10,5 ha. É um dos mamíferos com menor distribuição geográfi ca conhecida. Não é de estranhar o fato de que essa espécie, e também a grande maioria dos demais mamíferos brasileiros de distribuição muito restrita, seja considerada como “critica-mente em perigo de extinção”.

De acordo com a lista ofi cial das espécies de animais ameaçados de extinção no Brasil, 66 mamíferos estão em vias de desapareci-mento, com 40 deles na categoria “vulnerá-vel”, 11 na condição de “em perigo” e 18 es-pécies na mais elevada delas: “criticamente em perigo” (somando 69 táxons quando conside-radas algumas subespécies). Isso signifi ca que, se nada for feito, em poucas décadas podere-mos perder cerca de 10% de toda a fauna de mamíferos. Como ocorre também no caso de aves, répteis e anfíbios, as regiões que concen-tram as maiores ameaças para os mamíferos são a Mata Atlântica e o Cerrado, dois biomas brasileiros considerados como hotspots da biodiversidade, áreas com elevados níveis de endemismo, mas que já perderam grande par-te da vegetação original.

Os principais fatores de ameaça para a diversidade de vertebrados no Brasil são a destruição dos hábitats naturais, caça, tráfi co ilegal e introdução de espécies exóticas inva-soras (que não são nativas da região e cujo crescimento populacional provoca danos ao ambiente em que foram introduzidas). Para combater os vetores de ameaça e reverter o quadro de perda de biodiversidade, as prin-cipais medidas são a criação de novas áreas protegidas, o investimento no aumento do conhecimento científi co sobre as espécies de vertebrados e o desenvolvimento de tecnolo-gias de manejo de populações, tanto na Na-tureza quanto em condições de cativeiro. Para ilustrar esse caso, anos de investimento em técnicas de reprodução em cativeiro do mico-leão-dourado (Leont opithecus rosalia), aliados ao desenvolvimento da metodologia de translocação de indivíduos, contribuíram para a recuperação dessa espécie e levaram à redução da categoria de ameaça de

“critica-mente em perigo” para “em perigo”. Algumas ações são emergenciais. Muitas espécies de ver-tebrados ameaçados de extinção não estão devi -damente protegidas pelo atu-al sistema de Unidades de Conservação de Proteção Inte-gral (parques, reservas e estações ecológicas). Ainda assim, é urgen-te a necessidade de ampliar a co-bertura da rede de Unidades de Conservação em escala nacio-nal. Nesse sentido, a BirdLi-fe International desenvolveu um método de identifi cação de áreas prioritárias para a conservação, conhecida co-nhecido como Áreas Im-portantes para a Conser-vação das Aves, ou IBAs (Important Bird Areas). No

Brasil, 237 IBAs foram identifi cadas, representando 11% do território. A par-tir desse método, a Conservação Interna-cional ampliou o processo de identifi cação de áreas-chave para a biodiversidade para os demais grupos de vertebrados terrestres ameaçados de extinção, por meio das Áreas-Chave para a Biodiversiade (Key Biodiversi-ty Areas, KBAs).

Para muitos vertebrados terrestres, prin-cipalmente os que ocorrem na Mata Atlân-tica, apenas a criação de Unidades de Con-servação pode não ser sufi ciente, pois não existem áreas nativas grandes o sufi ciente para garantir a persistência das populações de muitas dessas espécies. É necessário in-vestir em estratégias de restauração fl orestal no bioma, como a promovida pela iniciativa do Pacto para a Restauração da Mata Atlân-tica. Em outra linha de ação, precisamos também de investimentos públicos para combater o tráfi co de animais silvestres, re-forçando a fi scalização e o controle, mas ao mesmo tempo investindo em iniciativas de educação ambiental e estratégias econômi-cas de geração de renda nas regiões onde a caça ilegal é mais intensa.

A conservação dos vertebrados terrestres no Brasil é um desafi o grande e complexo, e somente a ação conjunta do setor público, or-ganizações não governamentais e setor

pro-dutivo, adotando ações e estratégias formuladas sobre com sólida base cien-tífi ca, permitirá a manutenção dos quase 14% da diversidade de vertebrados terres-tres que temos o privilégio de abrigar.

PARA CONHECER MAIS

http://www.savebrasil.org.br/ (Site da ONG Save Brasil).

http://www.icmbio.gov.br/camave/ (Site do Centro de Pesquisa para a Conservação de Aves Silvestres – CEMAVE).

http://www.sbherpetologia.org.br/check-list_brasil.asp/ (Site da Sociedade Brasileira de Herpetologia).

Mamíferos do Brasil. N.R. dos Reis, Universi-dade Estadual de Londrina (UEL), o livro pode ser baixado na íntegra no site da UEL: http://www.uel. br/pos/biologicas/.

http://www.conservacao.org/publicacoes/ megadiversidade01.php/ (Site da revista Megadiversidade).

http://www.biodiversitas.org.br/livrover-melho2008/default.asp/ (Site em que os dois volumes do Livro Vermelho da Fauna Brasileira podem ser baixados na íntegra).

COLEÇÃO P AR TICULAR ARARA-AZUL-DE-LEAR (Anodorhynchus leari), endêmica do Brasil, na região semiárida da Bahia, é uma das espécies de aves mais ameaçadas de extinção no mundo. O número na Natureza não ultrapassa 130 indivíduos

Referências

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