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Matéria: literatura Assunto: quinhentismo pero vaz de caminha Prof. IBIRÁ

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Matéria: literatura

Assunto: quinhentismo – pero vaz de caminha

Prof. IBIRÁ

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QUINHENTISMO – A LITERATURA NO SÉCULO XVI

Literatura Informativa ou Dos Viajantes

As primeiras manifestações literárias sobre a América estão delimitadas pelo seu caráter informativo. Expressam sem maiores intenções artísticas, os contatos do europeu com o novo mundo. São documentos a respeito das condições gerais da terra conquistada.

Dentro da tradição utópica do Renascimento, a América surge como o paraíso perdido, local de maravilhas e abundâncias. Também os nativos são apresentados sob olhares favoráveis. Porém, na segunda metade do século XVI, à medida que os índios começam a se opor aos desígnios imperiais, a visão rósea transforma-se. A natureza continua exuberante mas os habitantes da terra são pintados como seres animalescos.

A Carta de Pero Vaz de Caminha

Entre os testemunhos deixados pelos portugueses no século XVI, sobre o Brasil, o mais importante é a Carta do escrivão Pero Vaz de Caminha. O texto tem um notável valor histórico, por ser o primeiro registro escrito sobre a realidade local, vale ainda mais pela agudeza com que Caminha revela a paisagem física e humana daquilo que ele julga ser uma imensa ilha. Verdadeiro homem do renascimento, o escrivão da frota lusa transforma a Carta num monumento de curiosidade antropológica e de abertura intelectual à diversidade. O crítico Sílvio Castro aponta alguns dos aspectos mais significativos do texto:

• a atenção minuciosa dos detalhes;

• a simplicidade no narrar os acontecimentos;

• a disposição humanista de tentar entender os nativos; • a capacidade constante de maravilhar-se.

Vejamos como ele descreve o primeiro contato com os índios:

“A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e de bons narizes. Em geral são bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido nele um osso branco, do comprimento de uma mão travessa e da grossu-ra de um fuso de algodão. (...)

Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provaram alguma coisa, logo a cuspiam com nojo. Trou-xeram-lhes vinho numa taça, mas apenas haviam provado o sabor, imediatamente demonstra-ram não gostar e não mais quisedemonstra-ram. (...)”

A Nudez das Índias

A imagem mais desconcertante para os marinheiros lusos é a nudez das índias. Vindos de um mundo onde o corpo era censurado e reprimido, eles não escondem o assombro diante do que veem. Caminha traduz esse sentimento, mas com seu particular espírito renascentista, procura ver os corpos femininos desnudos dentro do quadro cultural da sociedade indígena:

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“Ali andavam entre eles três ou quatro moças, muito novas e muito gentis, com cabelos muito pretos e compridos, caídos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. (...)” “E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima, daquela tintura; e certamente era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha  que ela não tinha  tão graciosa que, a muitas mulheres de nossa, vendo-lhes tais feições, provocaria vergonha por não terem as suas como a dela. (...)”

Ideal Salvacionista

A profunda religiosidade portuguesa, que era um dos móveis da conquista, mostra-se na possi-bilidade de conversão dos primitivos habitantes:

“E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã do que nos entenderem. (...) E bem creio que, se Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar, porque então terão mais conhecimento de nossa fé, pelos dois degradados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.”

A Visão do Paraíso

A linhagem dominante é a do paraíso terreno, como se percebe no final do texto de Caminha:

“Essa terra, Senhor. (...) é toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.

Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender os olhos, não podía-mos ver senão terra e arvoredos, terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não podemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem o vimos. Contudo, a terra em si é de muitos bons ares, frescos e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achávamos como de lá.

As águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem!

Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será alvar essa gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.”

Relatos dos Viajantes

Durante todo século XVI, o Brasil despertou grande fascínio entre os europeus. Além dos colo-nos portugueses e dos invasores espanhóis, outros europeus visitaram a terra recém conquis-tada. Dois desses viajantes produziram obras definitivas sobre a vida cotidiana e os costumes dos Tupinambás: o alemão Hans Staden e o francês Jean de Léry.

Hans Staden publicou na Alemanha, em 1557, o livro “Duas Viagens ao Brasil” no qual

des-creve as suas aventuras em território brasileiro, especialmente os nove meses e meio em que esteve prisioneiro dos Tupinambás.

A Antropofagia é o motivo principal de seu livro, talvez até pelo interesse que o assunto des-pertava na Europa. Além disso, mostra aos leitores europeus os animais da terra e a natureza, pintando um quadro intenso e colorido da realidade brasileira de então, transformando o seu

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livro num notável êxito editorial do século XVI. No fragmento abaixo ele descreve a execução e a devoração de um inimigo pelos Tupinambás:

“Quando trazem para casa um inimigo, batem-lhe as mulheres e as crianças primeiro. A seguir, colocam-lhe ao corpo penas cinzentas, raspam-lhe as sobrancelhas, dançam em seu redor e amarram-no bem. Dão-lhe então uma mulher para servi-lo. Se tem dele um filho, criam-no até grande e o matam e o comem quando lhes vem a cabeça.

Dão de comer bem ao prisioneiro. Conservam-no por algum tempo e então se preparam. (...) Assim, que está tudo preparado, determinam o tempo em que ele deve morrer e convidam os selvagens de outras aldeias para que venham assistir. Enchem de bebidas todas as vasilhas. Logo que estão reunidos todos os que vieram de fora, o chefe da choça diz: “ Vinde agora e aju-dai a comer o vosso inimigo”. (...)

Quando principiam a beber, levam consigo o prisioneiro que bebe com eles. Acabada a bebida, descansam no outro dia e fazem para o inimigo uma pequena cabana no local em que deve morrer. Aí passa a noite, sendo bem vigiado. (...)

O guerreiro que vai matar o prisioneiro diz para o mesmo: “ Sim aqui estou eu, quero te matar, pois tua gente também matou e comeu muitos dos meus amigos”. Responde-lhe o prisioneiro: “ Quando estiver morto, terei ainda muitos amigos que saberão me vingar”. Depois, ele é gol-peado na nuca, de modo que lhe saltem os miolos, e de imediato as mulheres arrastam o morto para o fogo, raspam-lhe toda a pele, tornando-o totalmente branco e tapando-lhe o ânus com uma madeira, afim de que nada dele se escape.

Depois de esfolado, um homem o pega e lhe corta as pernas acima dos joelhos e os braços junto ao corpo. Vêm então quatro mulheres que apanham quatro pedaços, correndo com eles em torno das cabanas, fazendo grande alarido, em sinal de alegria. Separam após as costas com as nádegas, da parte dianteira. Repartem isso entre eles. As vísceras são dadas às mulheres. Fervem-nas e com o caldo fazem uma papa rala que se chama mingau que elas e as crianças sorvem. Comem também a carne da cabeça. As crianças comem os miolos, a língua e tudo o que podem aproveitar. Ao guerreiro mais forte é oferecido o coração e as genitais. Quando tudo foi partilhado, voltam para casa, levando cada um o seu quinhão.”

Jean de Léry, igualmente centrado no cotidiano da vida indígena, relata em sua obra “Viagem à terra do Brasil”, os costumes e a realidade local. Permanece no país durante um ano (1557),

como enviado do líder religioso Calvino, para servir a Villegagnon, fundador de uma colônia francesa na futura cidade do Rio de Janeiro. Ali tem a oportunidade de conviver (em liberdade) com os Tupinambás, fazendo uma série de anotações interessantíssimas a respeito de seu modo de vida.

O Canibalismo, obviamente é um dos temas predominantes da obra, sendo mostrada com uma riqueza de detalhes muito superior à obra de Hans Staden. Observe-se esta cena, ocorrida logo após a morte do prisioneiro:

“Em seguida, as mulheres, sobretudo as velhas, que são mais gulosas de carne humana e anseiam pela morte dos prisioneiros, chegam com água fervendo, esfregam e escaldam o corpo a fim de arrancar-lhe a epiderme; e o tornam tão branco como nas mãos dos cozinheiros os leitões que vão para o forno. Logo depois o dono da vítima e alguns ajudantes abrem o corpo e o esquartejam com tal rapidez que faria melhor um açougueiro ao esquartejar um carneiro. E então, incrível crueldade, assim como nossos caçadores jogam a carniça aos cães para

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los mais ferozes, esses selvagens pegam os filhos, uns após outros, e lhes esfregam o corpo, os braços e as pernas com o sangue inimigo a fim de torná-los mais valentes.

Em seguida, todas as partes do corpo, inclusive as tripas depois de bem lavadas, são colocadas no moquém, em torno do qual as mulheres, principalmente as velhas gulosas, se reúnem para recolher gordura que escorre pelas varas dessas grandes e altas grelhas de madeira. Em seguida exortam os homens a procederem de modo que elas tenham sempre tais petiscos e lambem o s dedos e dizem “iguatu”, o que quer dizer “está muito bom! “

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Bibliografia de Literatura

BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 40.ª ed., S. Paulo, Cultrix, 2002.

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CASTRO, Sílvio – História da Literatura Brasileira, 3 vols., Lisboa, Publicações Alfa, 1999. COUTINHO, Afrânio – A Literatura no Brasil, 5ª ed.,6 vols., S. Paulo, Global, 1999.

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MOISÉS, Massaud – História da Literatura Brasileira, 3 vols., S. Paulo, Cultrix, 2001.

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PROENÇA, Domício – Estilos de Época na Literatura, 5.ª ed., S. Paulo, Ática, 1978.

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Bibliografia de Música e Artes Plásticas

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BARDI, Pietro Maria. História da Arte Brasileira, Editora Melhoramentos, São Paulo, 1975. CASTRO, Sílvio Rangel de. A Arte no Brasil: Pintura e Escultura, Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, 1922.

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Referências

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