• Nenhum resultado encontrado

Participação do público na construção do telejornal: uso do aplicativo Bem na Hora

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Participação do público na construção do telejornal: uso do aplicativo Bem na Hora"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

Participação do público na construção do telejornal: uso

do aplicativo Bem na Hora

Inara Souza da Silva1 Karina Torres de Oliveira2 Resumo: O avanço da digitalização e a popularização dos telefones celulares têm mudado o comportamento da população, que assume uma postura ativa na produção e disseminação de conteúdos em diversos formatos. Diante deste cenário, empresas jornalísticas procuram se adaptar ao novo perfil e abrem espaço para a participação do público na construção do noticiário. Muitos disponibilizam aplicativos próprios como é o caso do “Bem na Hora”, criado em 2014, pela TV Morena – afiliada da Rede Globo em Mato Grosso do Sul, para que o telespectador envie fotos e vídeos com conteúdos que podem se transformar em notícia nos telejornais da emissora. O presente estudo – que faz parte da pesquisa “Jornalismo: Relação da tecnologia e o fator humano no dia a dia da profissão” – tem o objetivo de a verificar como se dá a participação do público por meio deste suporte e a sua contribuição na construção do telejornal MSTV 1ª edição, considerado o de maior audiência local no horário do almoço.

Palavras-chave: Tecnologia da Informação, Participação; Aplicativo; Telejornalismo.

1 Mestre em Ciência da Informação e integrante do Grupo de Pesquisa em Jornalismo: Relação da

tecnologia e o fator humano no dia a dia da profissão (PIBIC/UCDB), Contato: inarassilva@gmail.com.

(2)

1. INTRODUÇÃO

Ao longo da história, o jornalismo tem se utilizado das inovações tecnológicas para a construção do noticiário, mas sempre teve bem definida sua característica industrial de emissor de conteúdo, enquanto o público assumia o papel de consumidor dos produtos midiáticos. Esse quadro tem mudado nos últimos anos com o uso da internet e a popularização dos dispositivos móveis, que promovem a cultura da convergência, “onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneira imprevisíveis” (JENKINS, 2011, p. 29).

Com a digitalização, o cidadão comum se apropriou das mídias e, por meio de um dispositivo móvel, pode produzir e distribuir mensagens em diversos formatos, desde fotografias, textos ou audiovisuais. Ao avaliar este fenômeno, Lemos (2003) aponta três leis que regem a cibercultura: a conexão generalizada – em que os usuários estão sempre online, a liberação do polo de emissão – na qual todos são potenciais produtores e consumidores de conteúdos e a reconfiguração das práticas. Característica que se aplica aos meios de comunicação que – diante desta nova cultura – flexibilizam suas rotinas e adaptam-se a novos modos de fazer conteúdo para agradar a um novo perfil de consumidor.

O público sempre foi fonte de informações para o jornalismo, mas com as tecnologias móveis e a facilidade de registro, tem havido um aumento significativo de contribuições de informações que chegam diariamente às redações jornalísticas, o que pode ser classificado como jornalismo colaborativo. E os exemplos de participação são inúmeros, como ilustram Primo e Trãsel (2006, p.4) ao citarem coberturas como “o ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001; o tsunami no sudeste asiático, em dezembro de 2004; as explosões no metrô de Londres, em julho de 2005”.

Os autores ressaltam que este novo comportamento da audiência – ao enviar informações às empresas de mídia – tem facilitado o trabalho jornalístico com o registro e a divulgação dos eventos no momento em que acontecem. É neste sentido que Jenkins (2011) recomenda que as empresas de mídia repensem suas antigas posturas e reconheçam este novo perfil do consumidor de mídias.

(3)

Uma das iniciativas da mídia tem sido a criação de aplicativos jornalísticos voltados para tablets e smartphones, alguns para facilitar o acesso aos conteúdos disponíveis em sites da internet ou conteúdos próprios para serem consumidos em celulares e outros com as funções de facilitar o relacionamento do público com os produtores de mídia. Nesta segunda classificação está o aplicativo Bem na Hora, criado pela TV Morena, afiliada da Rede Globo, em Mato Grosso do Sul.

O software, disponível desde março de 2014, é um espaço aberto para que o telespectador envie sugestões e denúncias em diversos formatos de mídia, sendo que o conteúdo enviado pode ser exibido pela emissora ou se transformar em pauta para futuras reportagens. Por meio de observação direta, o telejornal MSTV 1ª edição foi monitorado no período de 18 a 22 de abril de 2016 a fim de verificar os espaços de participação do público abertos pelo dispositivo, como se dá a participação por meio deste suporte e a contribuição da audiência na construção do telejornal MSTV 1ª edição.

2. JORNALISMO CONVERGENTE E CULTURA PARTICIPATIVA

De acordo com Bordenave (1991) sempre houve uma demanda popular por participação nos meios de comunicação. O autor explica que o termo participação pode ter vários significados, como ‘fazer parte de algo’, ‘tomar parte em algo’, ou ‘ter parte em alguma coisa’. ‘Fazer parte de algo’ está relacionado a uma situação de fato, a algo adquirido quase ou de forma involuntária; já ‘tomar parte’ diz respeito a alguém responsável por uma atividade específica dentro de uma ação coletiva; e ‘ter parte’ refere-se a algo permanente, conquistado e adquirido. E é neste sentido que o autor alerta a dificuldade das formas de participação, uma vez que a própria natureza tecnológica desses meios sempre foi baseada na difusão de mensagens, por isso, Bordenave acredita que o público ‘ter parte’ na comunicação torna-se um grande desafio.

Desta forma, a participação do público não é novidade para o noticiário, pois antes da internet, a colaboração já era feita com sugestões dos cidadãos por meio de cartas, telefonemas e visitas às redações de jornais, rádios ou TVs (ZANOTTI, 2010). Já o termo jornalismo participativo, ganhou expressividade em meados da

(4)

década de 1990 com o surgimento dos blogs e, posteriormente, com a popularização das redes sociais na internet (FRAZÃO, 2012).

Ainda não há uma conceituação unânime entre os pesquisadores sobre o termo jornalismo participativo, ele pode ser classificado também como jornalismo cidadão, jornalismo open source ou outras nomenclaturas. Holanda, Quadros, Palácios e Silva (2008 apud ZANOTTI, 2010) defendem que a participação no jornalismo independe de suporte específico, ou seja, pode acontecer na web e fora dela. O que caracteriza o jornalismo participativo, de acordo com os autores, é a criação e adoção de mecanismos que promovam o envolvimento do público nas diversas etapas do processo de construção e distribuição das notícias. Por este enfoque, é considerado jornalismo participativo toda prática jornalística que envolve a participação do público na elaboração do conteúdo a ser veiculado pelo noticiário, seja ele, radiofônico, impresso, televisivo ou em redes digitais. E esta é a definição de jornalismo participativo adotado no presente estudo.

A cultura contemporânea tem sido marcada pela cultura da convergência, que segundo Jenkins (2011), envolve a cultura participativa, a inteligência coletiva e a convergência dos meios de comunicação. Estes fatores têm promovido transformações nas indústrias, mercados, gêneros, audiências e consumo dos meios – neste caso, com o fluxo de conteúdos por múltiplas plataformas de mídia, a cooperação entre mercados midiáticos e o comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação. Para Jenkins (2011), “a convergência representa a transformação cultural, à medida que os consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídias dispersos” (p.29-30).

Neste cenário, ocorre a interação entre o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor, ou seja, na cultura participativa produtores e consumidores de mídia deixam de ocupar papéis separados e tornam-se participantes e interagentes. O consumo como processo coletivo possibilita a inteligência coletiva, todos sabem de alguma coisa e podem compartilhar o que sabem e juntar suas habilidades. As tecnologias de distribuição – como disquetes, CDs e fitas cassetes - têm sido substituídas, mas os velhos meios de comunicação não somem, são transformados pela introdução de novas tecnologias e “persistem como camadas dentro de um

(5)

estrato de entretenimento e informação cada vez mais complicado”. (JENKINS, 2011, p.41).

2.1. MÍDIAS MÓVEIS

Um dispositivo fundamental neste processo tem sido os aparelhos de telefone celular. Afinal, como diz o autor, a convergência é mais que mudança tecnológica, pois altera a lógica pela qual a indústria da mídia tem operado e altera a forma como os consumidores processam a notícia e o entretenimento. As mudanças ocorrem tanto de cima para baixo (por meio das corporações), quanto de baixo para cima (consumidores). Os consumidores deixam de ser passivos e passam a ser mais exigentes, conforme aponta Jenkins (2011, p. 47):

Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, os novos consumidores são ativos. Se os antigos consumidores eram previsíveis e ficavam onde mandassem que ficassem, os novos consumidores são migratórios, demonstrando uma declinante lealdade as redes ou aos meios de comunicação. Se os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novos consumidores são mais conectados socialmente. Se o trabalho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível, os novos consumidores são agora barulhentos e públicos.

Com base nesta realidade, as empresas de mídia têm reformulado seus produtos a fim de garantir o público e manter os lucros. Jenkins (2011) ressalta que as novas tecnológicas conferem poder ao público, que agora exigem o direito de participar e fazem a interseção entre as velhas e novas mídias, como é o caso da participação do telespectador por meio do aplicativo Bem na Hora da TV Morena. Ao mesmo tempo em que toma para si o poder de produzir conteúdo, o consumidor importa-se em ver seu material exibido num veículo tradicional, como uma emissora de televisão.

Para Barbosa (2013, p. 42), as mídias móveis “reconfiguram a produção, a publicação, a distribuição, a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdos jornalísticos em multiplataformas”. Por conta destes dispositivos, a mídia tradicional tem lançado produtos aplicativos (apps) jornalísticos para tablets e

smartphones, muitos com aplicações criadas com o oferecimento de material

(6)

Pesquisa do Conecta, plataforma web do Ibope Inteligência, realizada em julho de 2015, no Brasil, mostra que o internauta brasileiro costuma navegar na internet e assistir TV simultaneamente, prática de 88% dos pesquisados. Conforme o levantamento, que ouviu 1.004 pessoas, 65% costumam navegar pelo smartphone, enquanto que 28% usam o computador e 8% optam pelo tablet.

Enquanto assistem TV, 72% acessam redes sociais e 17% disseram que assistem TV e navegam na internet ao mesmo tempo para interagir com a transmissão. De acordo com o estudo, 96% dos internautas afirmaram que já buscaram na internet informações sobre o que viram na TV, ou seja, as duas mídias podem ser complementares.

3. TELEVISÃO E INTERATIVIDADE

Montez e Becker (2005) ressaltam que o termo interação é antigo, mas o conceito de interatividade surgiu recentemente, ligado ao desenvolvimento da informática, por volta dos anos de 1960. Os autores afirmam que “a interação pode ocorrer diretamente entre dois ou mais entes atuantes, ao contrário da interatividade, que é necessariamente intermediada por um meio eletrônico (usualmente um computador)” (MONTEZ e BECKER, 2005, p. 33).

Portanto, a partir desta classificação, os autores concluem que o termo diz respeito ao quanto o usuário pode participar ou influenciar na mudança imediata, na forma e no conteúdo de um ambiente computacional. Sendo assim, as mídias tradicionais – como livros, jornais e TV aberta, são consideradas pouco interativas, já as de alta interatividade seriam, por exemplo, e-mail, teleconferência e videogames.

Lemos (1997) afirma que a interatividade é o diálogo entre homem e a máquina, em tempo real. Neste caso, ao interagir com o sistema digital, usuário interage com o objeto (a máquina ou a ferramenta) e também com a informação, como é o caso da televisão interativa digital. É com base na evolução tecnológica da televisão, que Lemos (1997) classifica os níveis de interação na TV, de 0 a 4, conforme o grau de interação permitido pela tecnologia disponível. O período em que a televisão tinha imagens em preto e branco, com poucos canais é chamado de interação “nível 0”, uma vez que o telespectador podia apenas ligar ou desligar o

(7)

aparelho, mudar o canal, além de regular o volume, brilho ou contraste. A interação “nível 1” ocorre quando a televisão ganha cores, aparecem novas emissoras e o controle remoto – instrumento que dá certa autonomia ao telespectador.

No “nível 2”, a TV ganha equipamentos que possibilitam seu uso para outros fins, como as câmeras portáteis, vídeo games e videocassetes, o que permite a gravação da programação para assistir depois. A interatividade de cunho digital aparece no “nível 3”, quando a audiência pode interferir no conteúdo com o uso de telefone, fax ou e-mail. Lemos (1997) acrescenta que no “nível 4”, é a época da “Televisão Interativa”, que possibilita a participação no conteúdo informativo em tempo real.

Com base na idealização da TV digital interativa, Montez e Becker (2005) ampliam a proposta de Lemos e apresentam mais três níveis. O “nível 5” é classificado como aquele em que o telespectador participa da programação e da produção de conteúdo, com o envio de vídeos de baixa qualidade (webcam), a partir de um de canal de interação; no “nível 6”, o telespectador passa a colaborar com vídeo de alta qualidade, o que é facilitado pela largura de banda. Já no “nível 7”, ocorre a interatividade plena, momento em que o telespectador é confundido com o transmissor, ou seja, pode enviar seu material para as emissoras e romper o monopólio da produção vertical da mídia de massa.

4. MSTV 1ª EDIÇÃO E O APLICATIVO BEM NA HORA

Primeira emissora de televisão de Mato Grosso do Sul, a TV Morena foi criada pelo Decreto número 56.977, assinado pelo presidente Castelo Branco, em 19 de outubro de 1965. Mas, só entrou ao ar dois meses depois, no dia 24 de dezembro de 1965. Segundo Cancio (2005), no começo eram exibidos programas de empresas paulistas e uma produção local de quatro a cinco horas de duração, incluindo espaço para notícias locais. Os telejornais MSTV primeira edição e o segunda edição foram criados em janeiro de 1983, atendendo determinação da Rede Globo, que implantou seu padrão de jornalismo com modelo de reportagens e notas nos noticiários regionais. Cancio (2005) ressalta que, para atender as mudanças, nesta fase a emissora contratou diversos jornalistas de outros estados.

(8)

Acompanhando as transformações tecnológicas e sua apropriação pela sociedade, em março de 2014, a TV Morena lançou o aplicativo Bem na Hora, primeiro aplicativo de colaboração da emissora. O software próprio possibilita ao telespectador enviar fotos e vídeos sobre flagrantes testemunhados em Mato Grosso do Sul, por meio de smartphones ou tablets. Para participar, o usuário precisa baixar o software em uma loja virtual, a partir do próprio telefone celular e o conteúdo enviado pode ser utilizado nas coberturas jornalísticas da emissora.

Com o aplicativo instalado, o usuário precisa fazer um cadastro, incluindo “Nome, DDD, Nº de telefone, E-mail, Região (cidade)”. Na sequência é exibida a tela inicial, com ícones para o carregamento de fotos, vídeos, galerias e sugestão de pauta, conforme demonstrado na figura abaixo:

Figura 1: Reprodução página inicial do aplicativo Bem na Hora.

Ao acionar os ícones “Nova foto” e “Novo Vídeo, o telespectador tem a câmera do celular aberta, permitindo que o registre uma imagem (em foto ou vídeo) na hora e já a envie na sequência. Quando acionada a opção “Galeria”, o usuário tem acesso à galeria do telefone celular e tem a opção de escolher o que quer enviar (foto ou vídeo). No caso de envio de “Sugestão de Pauta”, o telespectador deve preencher um formulário com as seguintes informações: Assunto, Comentário e Autoriza Identificação (figura 2).

(9)

Figura 2 – Reprodução do espaço para envio de sugestão de pauta

O foco do presente estudo é o uso do aplicativo Bem na Hora, pelo telejornal MSTV 1ª edição, que vai ao ar de segunda-feira a sábado, do meio-dia às 12h45, pela TV Morena – afiliada da Rede Globo em Mato Grosso do Sul. Considerado o telejornal de maior audiência na faixa de horário de almoço, conforme divulgado pela emissora3, o noticiário é dividido em quatro blocos, com total de 40 minutos de produção diária, que inclui a apresentação de notas, reportagens, entrevistas e transmissões ao vivo de diversos pontos do Estado, com a participação de repórter.

A programação do MSTV 1ª edição foi monitorada entre os dias 18 e 22 de abril e, por meio de observação direta, foram verificados os espaços abertos no telejornal para a participação do telespectador usuário do Bem na Hora.

5. ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO PELO APLICATIVO BEM NA HORA

Espaços de participação do telespectador por meio do Aplicativo Bem na Hora, identificados por meio de observação direta entre 18 e 22 de abril de 2016.

Data/Bloco 1°bloco 2° bloco 3° bloco 4° bloco

18/abril Em nota responde à pergunta de um telespectador pela câmera

(10)

Bem na Hora 19/abril Telespectadora envia mensagem sobre buraco na rua (nota) - Mostra reportagem no local - No estúdio entrevistam prefeito sobre providências. - Apresentador comenta telespectadora agradece porque marido conseguiu emprego após aparecer no telejornal. (nota) 20/abril Apresentadora grava ao vivo através do Bem na Hora em resposta aos moradores de um bairro que mandam reclamações. Diz que busca respostas. (nota) Nota sobre a situação de banheiros e bebedouros nos terminais de ônibus; Reportagem em um terminal da cidade; Apresentadora comenta sobre outra telespectadora que denunciou a situação de outro terminal da cidade através do aplicativo Bem na Hora; Chama outra reportagem com entrevista presidente da Agetran. 21/abril Quadro “achados e perdidos” Apresentador comenta sobre o quadro Mostra vídeo enviado por telespectadora sobre algo encontrado;

(11)

Comenta caso enviado para o programa 22/abril Apresentador comenta sobre rapaz que conseguiu emprego através de quadro “Hora do trampo”. Entra reportagem com o rapaz Anuncia outra vaga no mesmo local de trabalho

Ao monitorar o MSTV 1ª edição foi possível identificar, por meio de observação direta, os momentos em que o telejornal abre para a participação do telespectador. Durante o período de monitoramento foram veiculadas pelo MSTV 1ª Edição 12 notas, quatro reportagens e duas entrevistas ao vivo, todas originadas da participação por meio do aplicativo.

Na segunda-feira, dia 18 de abril, a participação ocorre no segundo bloco, quando a apresentador respondeu uma pergunta enviada pelo aplicativo - o texto do participante aparece projetado na tela. Já para a resposta, em formato de nota, o apresentador usa a câmera Bem na Hora, que fica no próprio estúdio do telejornal e o enquadramento tem a identificação do quatro no canto esquerdo da tela, conforme mostra a figura abaixo:

(12)

Já na terça-feira, 19 de abril, a interação ocorre em dois blocos. No terceiro bloco, uma telespectadora informa sobre um buraco numa rua de um bairro de Campo Grande, o que aparece em formato de nota. No estúdio, a apresentadora chama uma reportagem no local e, no fim da reportagem, de volta ao estúdio, o prefeito da cidade é entrevistado para informar sobre as providências a serem tomadas. Já no quarto bloco, o apresentador mostra a mensagem de uma telespectadora que agradece à equipe do telejornal. Segundo ela, o marido conseguiu emprego por meio de um quatro do noticiário. O assunto é exibido em formato de nota.

No dia seguinte, em 20 de abril, o MSTV abre a participação também em dois blocos. No segundo bloco, a apresentadora grava ao vivo por meio da câmera Bem na Hora. Ela responde aos moradores da cidade sobre diversas reclamações e problemas de bairros e informa que a equipe de jornalismo está em busca de resposta para todas.

No terceiro bloco, o assunto é o estado de calamidade que atinge os banheiros dos terminais de transbordo do transporte coletivo de Campo Grande. Os apresentadores contam que diversos telespectadores têm mandado reclamações e o apresentador resolve ir ao local para conferir e fazer a reportagem. De volta ao estúdio, a apresentadora diz que outras queixas chegaram à redação – em formato de notas e vídeos – enquanto a reportagem foi exibida (Figura 4). Na sequência é apresentada outra matéria sobre o mesmo tema em outra localidade da cidade, agora com entrevista com o diretor da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).

Figura 4 - Mensagem enviada por telespectadora (Reprodução TV Morena)

Na quinta-feira, dia 21 de abril, a participação é verificada no segundo bloco do telejornal. Desta vez, o quadro chama-se “Achados e Perdidos”, espaço para as pessoas enviarem imagens de objetos encontrados pela cidade (figura 5).

(13)

Figura 5 - Imagem enviada por telespectador (Reprodução TV Morena)

Na sexta-feira, dia 22 de abril, o apresentador lembra a história do rapaz que conseguiu um emprego por meio do quadro “Hora do Trampo”. A pauta nasceu da mensagem de agradecimento enviada pela esposa dele no dia 19 de abril. A equipe vai até o local de trabalho do rapaz, faz uma reportagem contando a importância do quadro e, de lá, anuncia outras vagas de emprego desta mesma empresa.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o monitoramento do telejornal MSTV 1ª Edição, foi possível identificar que muitos assuntos encaminhados pelo telespectador pelo aplicativo Bem na Hora rendem desdobramentos de conteúdos que são exibidos no noticiário. Além da apresentação dos assuntos com imagens (fotos e vídeos) enviadas pelos usuários do aplicativo, o telejornal costuma desenvolver os assuntos em reportagens e também em entrevistas. Há casos, em que o quadro chega a ocupar um bloco, como o ocorrido no dia 20 de abril, quando o assunto dos terminais de ônibus ocupou o terceiro bloco do telejornal.

O fato é que o aplicativo Bem na Hora tem sido usado como fonte de informações para os jornalistas da redação da TV Morena e originado assuntos que se transformam em pautas e reportagens exibidas no noticiário. Durante o período observado, verificou-se que os principais temas – originados da participação – dizem respeito à prestação de serviços e assuntos comunitários, como problemas dos espaços públicos – banheiro público, ruas esburacadas, achados e perdidos e vagas de emprego. O aplicativo possibilita a participação do telespectador, pois as

(14)

sugestões acabam se transformando em notícia, ou seja, ocorre uma participação nas decisões, o que Bordenave (1991) classifica como ter parte de algo, o que equivale à conquista de um espaço por parte do público.

O quadro demonstra que, de fato, o uso de celulares e aplicativos têm influenciado a mídia tradicional em sua maneira de lidar com o conteúdo e também sua interação com o público. Como Barbosa (2013) aponta as mídias móveis transformam o modo de produção, a publicação, distribuição e, principalmente, de consumo de conteúdos jornalísticos.

7. REFERÊNCIAS

BARBOSA, Suzana. Jornalismo convergente e continuum multimídia na quinta geração do jornalismo nas redes digitais. in: Notícias e Mobilidade: O Jornalismo na Era dos Dispositivos Móveis, João Canavilhas (Org.). 2013

BORDENAVE, J. D. Além dos meios e mensagens. Introdução à comunicação como processo, tecnologia, sistema e ciência. 5ª ed., Petrópolis: Vozes, 1991.

CANCIO, Marcelo. Telejornalismo Descoberto: a origem da notícia no telejornalismo regional. Campo Grande: Editora UFMS, 2005.

CORTES, Verônica, RAMALHO Vanessa. Local x nacional na imprensa regional: Um estudo sobre a cobertura política do Diário do Grande ABC em 2002 e 2003. Revista PJ: BR – Jornalismo Brasileiro. Edição 5. 2005. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/artigos5_d.htm>. Acesso em: 03 ago 2015. FRAZÃO, Samira. Jornalismo participativo no telejornal: o telespectador como produtor de conteúdo. Vozes e Diálogos. Itajaí, v. 11, n.2, jul/dez. 2012. Disponível em: <www6.univali.br/seer/index.php/vd/article/download/4311/2519>. Acesso em: 03 ago. 2015.

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução Susana Alexandria. 2 edição. São Paulo: Editora Aleph. 2011.

LEMOS, André L.M. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais, 1997, Disponível em:

http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/interativo.pdf. Acesso em 03 agosto 2015.

LEMOS, André. Cibercultura – Alguns pontos para compreender a nossa época. In: Lemos, André; Cunha, Paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto Alegre, 2003; pp. 11-23

(15)

MONTEZ, Carlos; BECKER, Valdecir. TV Digital Interativa: conceitos, desafios e perspectivas para o Brasil. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2005. 2ª edição.

PRIMO, Alex; TRÄSEL, Marcelo Ruschel . Webjornalismo participativo e a produção aberta de notícias. Contracampo (UFF), v. 14, p. 37-56, 2006.

ZANOTTI, Carlos Alberto. Jornalismo Colaborativo, gêneros jornalísticos e critérios de noticiabilidade. Revista Comunicação Midiática, v. 5, n. 1, p. 28-41,

set/dez. 2010. Disponível em: <

http://www.mundodigital.unesp.br/revista/index.php/comunicacaomidiatica/article/vie w/25/17 >. Acesso em 03 ago. 2015.

88% DOS internautas veem TV e navegam na internet, diz Ibope. Revista Exame. Set/2015. Disponível em: < http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/88-dos-internautas-veem-tv-e-navegam-na-internet-diz-ibope>. Acesso em 17 jul. 2016.

Referências

Documentos relacionados

La asociación público-privada regida por la Ley n ° 11.079 / 2004 es una modalidad contractual revestida de reglas propias y que puede adoptar dos ropajes de

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados

O desafio apresentado para o componente de Comunicação e Percepção Pública do projeto LAC-Biosafety foi estruturar uma comunicação estratégica que fortalecesse a percep- ção

Bom, eu penso que no contexto do livro ele traz muito do que é viver essa vida no sertão, e ele traz isso com muitos detalhes, que tanto as pessoas se juntam ao grupo para

É possível perceber como a interação entre as ciências, incluindo a História da Arte e sua filosofia, situou este pertencimento a uma humanidade plena como principal interface

Como visto no capítulo III, a opção pelo regime jurídico tributário especial SIMPLES Nacional pode representar uma redução da carga tributária em alguns setores, como o setor

palavras-chave comportamento do consumidor, atmosfera, modelos de aceitação da tecnologia, atitudes, identidade social, altruísmo, telepresença, intenção de uso,

No Estado do Pará as seguintes potencialidades são observadas a partir do processo de descentralização da gestão florestal: i desenvolvimento da política florestal estadual; ii