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ANAIS A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROCESSO DECISÓRIO: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR

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ANAIS

A INFLUÊNCIA DOS STAKEHOLDERS NO PROCESSO DECISÓRIO: UM ESTUDO EM UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR

ANA CAROLINA VITAL DA COSTA ( anacarolinavital@gmail.com , aniva_84@hotmail.com )

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

MINELLE ENÉAS DA SILVA ( minele.adm@gmail.com , minele-silva@hotmail.com )

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CARLA REGINA PASA GOMEZ ( carlapasa@hotmail.com )

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

Resumo

A influência exercida pelos stakeholders determina a dependência institucional para com os mesmos nos processos decisórios. Considerando a relevância em analisar essa relação, este artigoobjetiva caracterizar como os principais stakeholders de uma ONG localizada em João Pessoa (PB) afetam os processos decisórios da mesma. Foram realizadas pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, além de entrevistas semi-estruturadas e observação direta não participante. Identificou-se os funcionários e a sede da instituição como

stakeholders definitivos pela teoria de Mitchell, Agle e Wood (1997), e a influência sobre a

tomada de decisão da ONG, conforme Simon (1972), nas três fases do processo.

Palavras – chave: Stakeholders, tomada de decisão, Terceiro Setor, ONG Introdução

A partir da redução da influência Estatal e a preconização da divisão de suas responsabilidades com o setor privado e com a sociedade civil organizada, processo iniciado na década de 1970, observou-se o crescimento vertiginoso do mercado e o rápido desenvolvimento das organizações da sociedade civil, estas constituindo o terceiro setor. Esse processo de mudança protagonizado pelos três setores (privado, público e sociedade civil) criou novos padrões de inter-relações e de comportamentos, que culminaram por gerar novos tipos de organizações, que exercem e recebem novas demandas dos atores com os quais interagem (SCHOMMER, 2000).

Essas mudanças ocasionadas pela globalização e pelos processos históricos de desenvolvimento social, ainda segundo a autora, trouxeram ainda mais heterogeneidade às organizações, criando um complexo conjunto de atores interligados que apresentam diferentes perfis, não se excluindo desse contexto as organizações do terceiro setor, que, enquanto envolvidas nessa rede interdependente, também não podem ser caracterizadas como entidades autônomas. São, ao contrário, suportadas por redes formadas pelas interações com outras organizações, de diferentes naturezas e interesses (SCHOMMER, 2000).

Os atores que compõem essa rede são os stakeholders, que, de acordo com a clássica definição de Freeman (1984), são todos os que podem afetar ou que são afetados de alguma forma por meio do alcance dos objetivos da organização. Uma organização da sociedade civil

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atua com um considerável número de stakeholders, os quais de alguma forma afetam o desempenho da organização: comunidades beneficiárias, associados, financiadores, entre outros. Gerenciar esse conjunto diverso de interesses faz parte da árdua missão de uma Organização não governamental (ONG) ou outra forma de Organização do Terceiro Setor. Entretanto, como preconiza a tipologia de Mitchell, Agle e Wood (1997), nem todos os

stakeholders exercem o mesmo nível de influência sobre a organização. A mesma deve,

então, priorizar o atendimento das demandas dos stakeholders mais importantes para o alcance de sua missão. Essa identificação é feita de acordo com o atributo ou a combinação dos atributos que o stakeholder apresente, sendo estes o poder, a legitimidade e a urgência. O poder se caracteriza como a capacidade de por em prática sua vontade sobre a de outros atores. A legitimidade está relacionada à percepção que se tem da organização: se as ações da mesma são desejáveis, valorosas, ou se não o são. Já a urgência caracteriza-se como a demanda que determinados atores possuem por respostas frente às organizações.

Uma das ações gerenciais que envolve crucialmente a análise dos stakeholders e da relevância dos mesmos é a tomada de decisão, processo que leva em conta o estudo de diferentes possibilidades ou reações dos atores que possivelmente serão afetados pela decisão aplicada. Sendo as ONGs instituições fortemente ligadas a movimentos sociais, as mesmas tendem a desenvolver relações de dependência e mutualidade com seus stakeholders mais importantes, com o objetivo de fortalecer seu papel enquanto organização da sociedade civil. Esse estudo parte, então, da premissa de que, quanto maior for a dependência de uma ONG para com um de seus stakeholders, mais adaptável torna-se seu processo de tomada de decisão.

Partindo dessa premissa, este trabalho tem o objetivo de analisar a influência dos stakeholders na tomada de decisão organizacional da Essor a partir do modelo proposto por Mitchell, Agle e Wood (1997). Nesse sentido, o estudo apresenta-se justificável na medida em que se percebe uma lacuna na literatura sobre os problemas de gestão em organizações do terceiro setor (MACHADO, FRANCISCONI, CHAERKI, 2007). Tal lacuna se estende a trabalhos que busquem visualizar como os atores envolvidos nesse setor se relacionam e se influenciam por um objetivo em comum, análise a que este estudo se propõe.

Esse estudo está dividido em cinco seções. Além desta parte introdutória, identifica-se na segunda seção um levantamento teórico capaz de subsidiar a pesquisa, ao longo de seu desenvolvimento. Na seção três são apresentados os aspectos metodológicos e as características pertinentes a Essor. A seguir, a apresentação e análise dos resultados e, por fim, as considerações finais.

2. Referencial Teórico

2.1 Stakeholders

O contexto organizacional é composto por uma gama de atores que se relacionam, denominados stakeholders. Num processo de desenvolvimento organizacional o stakeholder pode ser considerado como elemento conceitual fundamental na análise de relacionamento e poder entre as organizações e os atores com os quais uma empresa está envolvida (HUSTED, 2001; MITCHELL, AGLE & WOOD, 1997).

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O conceito de stakeholders aqui utilizado é o que os definem como grupo, indivíduo ou organizações que podem afetar ou que são afetados pelo alcance dos objetivos de determinada instituição. Esse conceito, trazido por Freeman (1984), é corroborado por outros teóricos, inclusive Mitchel, Agle & Wood (1997), servindo de base para modelos de classificação de

stakeholders, aqui utilizado como referencial.

A discussão sobre a influência que o relacionamento com esses atores exerce no gerenciamento das organizações é fundamentalmente importante para a compreensão de como se dão esses processos gerenciais. Segundo Lyra, Gomes e Jacovine (2009) a sobrevivência das empresas depende de como elas planejarão suas relações com seus stakeholders atuais e com aqueles em potencial, sendo esse planejamento parte de um processo estratégico de administração, contínuo e incorporado pelos demais processos gerenciais. Essas metas devem considerar o impacto potencial dos stakeholders nas organizações.

Para Araújo Junior (2008), a análise dos stakeholders implica na avaliação do ambiente em que a organização está inserida e na percepção da influência que os atores que convivem nesse ambiente exercem sobre a empresa. Implica também na percepção das maneira pelas quais essa influência pode ser manifesta. Confirma-se, então, a importância de identificar os atores que se relacionam com a instituição e o tipo de influência que exercem ou que dela recebem.

Dentro de uma perspectiva de caracterização desses atores envolvidos com as atividades organizacionais, Sousa e Almeida (2003, p.145) indicam a existência de dois tipos, de acordo com o caráter de voluntariedade: o ativo e o passivo. O stakeholder ativo “têm direitos relacionados diretamente aos direitos de propriedade” (envolvidos voluntariamente com a organização). Já o stakeholder passivo “têm direito sobre a empresa para que não sejam infringidas liberdades ou perdas”.

Nesse sentido, pode-se verificar que a existência de uma organização no mercado está condicionada aos relacionamentos praticados para com seus stakeholders. Portanto, é necessário que haja o reconhecimento da influência que os mesmos exercem sobre a empresa ou instituição, na medida em que este fato pode interferir nas ações praticadas por cada uma dessas organizações. Assim, dentro de um contexto organizacional dinâmico Mitchell, Agle e Wood (1997) desenvolveram um modelo na qual se consegue identificar a projeção desses

stakeholders sobre a organização, bem como inferir sobre as relações que delas decorre. Essa

teoria se baseia na tipologia dos stakeholders, que lhe são conferidas a partir de atributos (poder, legitimidade e urgência).

A tipologia de stakeholders desenvolvida pelos atores supracitados propõe, dentro de uma dinâmica organizacional na qual as relações existentes interferem nas atitudes de cada instituição, a criação de três atributos (ou classes) para os stakeholders, quais sejam: o poder (que pode ser exercido de forma coercitiva, utilitária ou normativa), a legitimidade no

relacionamento e a urgência de suas reivindicações à organização (idem), como se pode verificar na Figura 01, a seguir.

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6. Stakeholder dependente 2. Stakeholder discricionário. 7. Stakeholder definitivo 3. Stakeholder exigente 4. Stakeholder dominante 1. Stakeholder dominante 5. Stakeholder perigoso Legitimidade Urgência Poder

Figura 01: Tipologia dos Stakeholders Fonte: Mitchell, Agle & Wood (1997, p.874)

Infere-se, a partir da tipologia de Mitchel, Agle & Wood (1997), que o poder é a capacidade de realizar sua vontade sobre outros atores, independente da resistência dos mesmos. Esse atributo poderia ter características coercitivas (que envolve o uso da força), normativas (que envolve o uso de recursos simbólicos, como a Lei, por exemplo) ou utilitárias (que envolve o uso de meios materiais).

Essa tipologia, ainda segundo a teoria desses autores, ajuda a compor uma base de classificação dos stakeholders, a qual definirá a importância que os gestores devem dar a determinados atores. Tal classificação decorre das várias combinações entre os atributos, resultando assim, em sete tipos de stakeholders – um desses possuindo apenas um atributo (os chamados stakeholders definitivos); três deles possuindo dois atributos (os chamados

stakeholders expectantes) e outros três possuindo apenas um dos atributos e pouca ou

nenhuma atenção dos gestores (os chamados stakeholders latentes). Essa classificação pode ser melhor compreendida no Quadro 01.

Classificação Atributo Descrição

Dormente Poder Têm pouca ou nenhuma interação com a empresa, mas deveriam

receber atenção especial pelo poder que podem chegar a exercer, caso consigam urgência ou legitimidade.

Discricionários Legitimidade Não têm poder para influenciar a empresa nem demandas urgentes.

Exigentes Urgência São aqueles que geralmente mais levam suas demandas aos ouvidos

dos gestores. Entretanto, enquanto não conseguem outro desses atributos, não têm maior relevância.

Dominante Poder e Legitimidade Geralmente formam a coalizão dominante na empresa e suas

reivindicações importam para os gestores. Dependentes Urgência e Legitimidade Não têm poder e por isso dependem de outros.

Perigosos Poder e Urgência Podem usar de poder coercitivo e afetar a empresa.

Definitivos Poder, Legitimidade e

Urgência

É um membro influente na organização, já que possui os três atributos. Esse stakeholder naturalmente recebe maior prioridade e atenção nas tomadas de decisão.

Quadro 01: Classificação dos stakeholders pela tipologia de Mitchell, Agle & Wood (1997) Fonte: Adaptado de Mitchell, Agle & Wood (1997)

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Os stakeholders definitivos, como mostra a descrição do quadro 01, são os que deve receber maior atenção por parte da organização, dada a alta relevância que assume ao possuir os três atributos combinados: poder, legitimidade e urgência. É a esses atores que a instituição precisa estar mais atenta em determinados processos organizacionais vitais, como a tomada de decisões. Já os stakeholders dependentes são aqueles atores reconhecidos pela instituição e que apresentam demandas urgentes, mas que não têm poder para fazer valer suas reivindicações. Os dominantes, ao possuir o poder e a legitimidade, exercem grande influência sobre a instituição, mas não apresentam urgência em suas demandas. Diferentemente, os perigosos possuem urgência e apresentam poder, mas não são considerados legítimos pela organização.

Os exigentes possuem apenas urgência em suas reivindicações, e por isso geralmente não causam grande preocupação aos gestores. Da mesma forma, os dormentes e os discricionários exercem pouca influência nos processos gerenciais da organização por possuírem apenas os atributos poder e legitimidade, respectivamente.

Essas relações não são definitivas e podem mudar à medida que um stakeholder adquire outro atributo que ainda não possua. Há casos na história que comprovam tais modificações, corroborando o dinamismo desse modelo. Essa capacidade de dinamismo é um fator a ser observado pelas organizações, pois pode afetar seu desempenho e sua relação com a sociedade.

Sendo assim, compreende-se que os stakeholders de uma organização podem afetar uma ou mais ações executadas pela instituição, mesmo com resistência da mesma (SOUSA e ALMEIDA, 2003), e desse fato decorre a importância de estudar a relação entre os

stakeholders e o poder que podem exercer sobre determinada organização. Para esse trabalho,

o processo gerencial que será usado como referência para análise de influência dos

stakeholders é a tomada de decisão.

2.2 Tomada de Decisão

A atividade de tomar decisões é uma das mais complexas e difíceis enfrentadas pelos gestores, seja individualmente ou em grupo, pois comumente envolve o atendimento de inúmeros e diversos objetivos, e por muitas vezes os impactos que dessas decisões decorrem não podem ser criteriosamente identificados (GOMES, GOMES e ALMEIDA, 2002).

Na análise do processo de tomada de decisão, Simon (1972) o caracteriza como sendo compreendido por três fases essencialmente importantes: (1) coleta de informações - a descoberta das ocasiões em que deve ser tomada, (2) estruturação - a identificação das possíveis ações a serem desenvolvidas (momento de desenhar e analisar possíveis cursos de ação) e (3) a escolha de uma dessas ações.

Essa classificação não desmerece, entretanto, a complexidade que cada uma das etapas possui, pois, apesar de que muitas das decisões dos gestores são rotineiras e não precisam de muito esforço de pensamento (COSTA NETO, 2007), essas se contrapõem às decisões estratégicas, que envolvem a lide com novas direções e requerem maior sensibilidade dos tomadores de decisão.

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Num processo de decisão, o administrador, por sua preferência pessoal, poderia escolher entre usar o modelo clássico de tomada de decisão racional ou o modelo administrativo, sendo o primeiro de característica normativa (que indica como o gestor deve fazer a tomada de decisões racional e envolve problemas e metas definidos, condições de certeza, escolha racional) e o segundo de caráter descritivo (que envolve situações mais complexas, com problema e meta vagos, condições características de incerteza, informações limitadas e escolha satisfatória usando de intuição) (DAFT, 1997).

Essa reflexão nos remete à questão da presença da incerteza nos processos decisórios, que acontece pelo não conhecimento ou o conhecimento limitado do resultado de cada uma das alternativas disponíveis (ROBBINS e DECENZO, 2004). A limitação de tempo, de recursos e das informações disponíveis, assim como a capacidade limitada de percepção dos gestores e de retenção das informações pelos mesmos influencia os processos de decisão baseados em vieses intuitivos (BAZERMAN, 2004).

Ambos os processo de tomada de decisões envolvem, no entanto, a busca pela decisão mais acertada ou satisfatória. Ao procurar uma decisão satisfatória, a organização almeja desenvolver ações que sejam coerentes com os objetivos dos atores interessados em seus resultados.

Nesse sentido, destaca-se a influência que os atores institucionais, apresentados na teoria dos

stakeholders, exercem na tomada de decisão organizacional. Essa relação de poder e

influência que um stakeholder possa ter sobre determinada organização eventualmente determinará alguns dos cursos de ação escolhidos pela mesma. Assim, os interesses e a natureza da organização podem modificar o desenvolvimento dessas relações.

Assume-se que os processos decisórios, com base no modelo clássico ou o modelo administrativo apresentados por Daft (1997), podem apresentar decisões baseadas em condições de certeza ou não. Considera-se, também, que esses processos acontecem dentro de qualquer organização, inclusive em uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos.

2.3 Organizações Não Governamentais

As organizações participantes do terceiro setor têm desempenhado um papel de destaque no mercado, ora desenvolvendo ações de contexto do setor público, ora atuando na esfera privada, embora sem perder a característica de não possuir fins lucrativos. Suas ações podem incluir serviços de bem estar, desenvolvimento comunitário, campanhas temáticas de proteção ou defesa de direitos, educação para o desenvolvimento, ação em rede e pesquisa.

Essas organizações se caracterizam também pelas relações estabelecidas com outros atores sociais, com os quais mantêm relações de cooperação, que podem ir desde a relação meramente filantrópica até à alianças mais complexas, todas estas voltadas para o bem estar social (MACHADO, FRANCISCONI e CHAERKI, 2007).

Com a multiplicidade que suas ações adquiriram, naturalmente as demandas sobre essas instituições, bem como seus processos de gestão tornaram-se mais complexos. Essas instituições, atualmente, são desafiadas a se profissionalizarem e demonstrarem cada vez mais capacidade de flexibilidade e de sustentabilidade das suas ações, incorporando para isso práticas e modelos gerenciais da iniciativa privada.

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Dentro de uma análise mais restrita às Organizações Não Governamentais, verifica-se que os principais problemas apresentados pelas mesmas são geralmente de competência de gestão, envolvendo aspectos ligados ao campo da estratégia. Tal fato tem desafiado as ONGs a pensar sua sustentabilidade, e por isso mesmo a se fortalecer institucionalmente. (ARMANI, 2003).

Assim, é de grande valor também para as organizações não governamentais considerar os

stakeholders, em seus processos de tomada de decisão e em seu processo de formulação de

estratégias, bem como a relevância a eles atribuída. Dentro dessa perspectiva, ao entender a relevância dos stakeholders no processo de tomada de decisão em Organizações Não Governamentais torna-se de suma importância classificá-los quanto ao grau de influência que os mesmos possuem sobre a organização. Isso pode ser feito por meio da aplicação do modelo de projeção de stakeholders desenvolvido por Mitchell, Agle e Wood (1997).

Em estudo sobre os stakeholders no Terceiro Setor, Falcão, Santos e Gomez (2008), adaptaram e validaram o modelo dos autores anteriores como base para análise dos

stakeholders de organizações do terceiro setor, na medida em que conseguiram exprimir as

relações existentes entre a entidade e os parceiros. De acordo com as autoras, os mesmos atributos que se aplicam a empresas tornam possível a análise de dependência entre uma ONG e seus stakeholders, facilitando, assim, o entendimento de como o poder pode ser refletido no processo de tomada de decisão das mesmas.

3. Metodologia

A presente pesquisa caracteriza-se como exploratória, por proporcionar, segundo Gil (1991 p.45), “maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito”, e descritiva por apresentar a descrição das características de dada população ou fenômeno em estudo. A abordagem de análise é do tipo qualitativa pois a pesquisa pode ser considerada como um processo de reflexão e análise de um contexto com a utilização de métodos e técnicas para uma compreensão detalhada do objeto de estudo (OLIVEIRA, 2005).

Para a compreensão do fenômeno selecionou-se uma Organização Não Governamental sediada no município de João Pessoa (PB) como objeto de estudo. A pesquisa de campo foi realizada tendo como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada e observação direta não participante. Os sujeitos da pesquisa foram o Coordenador da Essor no Brasil e os sete funcionários que atuam na organização em diferentes áreas. A coleta de dados realizada no período de 01 a 03 de fevereiro desse ano, gravada e depois transcrita para a utilização de seu conteúdo e realização das análises qualitativas.

O delineamento do estudo se deu a partir de quatro etapas distintas, como melhor forma de entendimento daquilo que foi proposto. O primeiro passo envolveu a identificação de quais são os stakeholders que impactam as ações da Essor, sendo que essas informações foram coletadas por meio de entrevista que teve como sujeito a funcionária responsável pela comunicação institucional. Os questionamentos foram direcionados para que a mesma refletisse sobre os atores que de alguma forma se relacionam com a instituição, recebendo ou exercendo sobre a ONG mesma alguma influência.

Sequencialmente, buscou-se classificar a influência desses stakeholders sobre a organização a partir da aplicação de instrumento de pesquisa semi-estruturado, tendo como sujeito o

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coordenador geral da instituição para conferência de atributos aos stakeholders identificados, mediante prévia apresentação conceitual dos atributos, conseguindo o entrevistado ponderar sobre quais atributos seriam característicos de cada um dos atores, tendo em vista o relacionamento desenvolvido com os mesmos. Em seguida procurou-se ratificar os principais

stakeholders através do questionamento sobre a sua efetiva participação no processo de

tomada de decisão da ONG, para que a última etapa pudesse ser posta em prática. A mesma refere-se à realização das inferências necessárias para se descobrir a questão de dependência da organização, em seu processo decisório, em relação aos principais stakeholders indicados segundo o modelo como definitivos.

4. Apresentação e análise dos dados

4.1 A ESSOR: Associação de Solidariedade Internacional

A Essor, Associação de Solidariedade Internacional, é uma Organização Não Governamental francesa fundada em 1992. Foi criada depois da ocasião de uma missão ao Brasil efetuada por profissionais de outra ONG francesa. Essas pessoas deram continuidade às ações aqui iniciadas e criaram o escritório francês da Essor, ampliando a área geográfica de atuação a Moçambique, em 1997, a Cabo Verde, em 2006 e a Guiné Bissau e Chad em 2009.

A missão da Essor é traduzida pelo seguinte objetivo: Apoiar as populações desfavorecidas a adquirir meios de melhorar as suas condições de vida. O seu apoio está baseado na convicção e implementação de ações concretas. Facilitando a apropriação dos processos de desenvolvimento local, essas ações favorecem o exercício da cidadania e justiça social nos países abrangidos (ESSOR, 2010).

A Essor desenvolve ações nas áreas de educação, desenvolvimento rural e geração de trabalho e renda, mas não se restringe à área geográfica do escritório local. Atualmente há projetos em desenvolvimento nas cidades de Santa Rita, Patos, Pombal, e Sousa (Paraíba), Várzea Alegre (Ceará), Ladeirinhas (Sergipe), Manaus (Amazonas), Cametá, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru (Pará) e em São Luís (Maranhão). Há também instituições parceiras em outras cidades do país (como São Paulo e Fortaleza), com as quais a ESSOR já desenvolveu projetos, mas cujas atividades já foram finalizadas.

Os projetos desenvolvidos em cada uma dessas cidades não contam apenas com funcionários da Essor. Há instituições do terceiro setor, parceiras da Essor, que desenvolvem localmente as ações. A Essor privilegia essa busca por parceiros locais, que inicialmente são constituídos como um ponto de apoio ao desenvolvimento das ações, mas que aos poucos, à medida em que incorporam as metodologias propostas e as adequam aos contextos locais, tendem a fortalecer-se institucionalmente e manter a parceria com a Essor mesmo depois de finalizados os projetos que iniciaram esse relacionamento, passando a integrar a rede de parceiros com os quais a instituição se relaciona (ESSOR, 2010).

Para além das instituições parceiras que desenvolvem localmente as atividades de projetos, a Essor também mantém relações de apoio ou parceria com instituições não necessariamente do Terceiro Setor mas que de alguma forma influenciam o trabalho da organização, como instituições públicas e algumas instituições do Sistema S (são elas: o Serviço Nacional se Aprendizagem Industrial - SENAI e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio - SENAC ), Universidades, Conselhos e Redes.

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Órgãos como o Ministério da Justiça também exercem grande importância sobre a instituição, que precisa se submeter a processos jurídicos mais rigorosos, tendo em vista ser uma instituição estrangeira, a importância dos regulamentos por ele baixados e, das decisões dele emanadas a respeito das instituições estrangeiras no Brasil.

Internamente, a Essor está estruturada em coordenações que são subordinadas à coordenação geral do escritório. Operacionalmente, as ações são desenvolvidas pelos coordenadores (de educação, de desenvolvimento rural e de geração de trabalho e renda) e por três assistentes (um ligado à geração de trabalho e renda, outro de comunicação e secretaria e o terceiro, um assistente administrativo-financeiro). Há ainda voluntários que ocasionalmente colaboram com a instituição, de acordo com sua formação e a necessidade e disponibilidade do escritório em desenvolver um trabalho conjunto.

4.2 Identificação dos stakeholders da ESSOR

Os stakeholders influenciam na sobrevivência ou não da organização em sua área de atuação, já que eles na maioria das vezes conseguem dar subsídios para a efetiva atuação institucional. ou criar barreiras a ela Estudados de diversas maneiras, os atores mencionados assumem várias características e tipologias que conseguem representar sua forma de atuação junto às organizações. No presente estudo, selecionou-se a tipologia de stakeholders de Mitchell, Agle e Wood (1997) pelo fato de que a mesma consegue expor de maneira clara como atuam esses atores em relação as práticas organizacionais.

A partir da tipologia de Mitchell, Agle & Wood (1997) pode-se perceber, por parte dos

stakeholder,s uma relação de troca de "ações" ou até mesmo uma intervenção sobre a forma

de gestão organizacional, na medida em que os mesmos conseguem combinar os atributos de poder, legitimidade e urgência junto a cada organização. Neste sentido, pelo fato de o objeto de estudo ser uma ONG, essas relações de influências podem se apresentar de forma mais intensa na maneira de atuação da mesma pelo direcionamento e finalidade da organização. O produto da entrevista para identificação dos stakeholders da ESSOR resultou no Quadro a seguir:

STAKEHOLDER TIPOLOGIA DAS AÇÕES

Sede da Essor Influência em todas as decisões tomadas pela Essor.

Funcionários:

Coordenadores das áreas de atuação da Essor, assistentes

Exercício de poder sobre as decisões tomadas localmente, planejamento e desenvolvimento das ações da instituição. Beneficiários:

populações que são beneficiadas pelos projetos desenvolvidos pela instituição

Usufruem das atividades e dos resultados dos projetos desenvolvidos, direta ou indiretamente.

Financiadores:

Agências de cooperação internacionais, empresas e outras organizações financiadoras

Custeio das atividades dos projetos, buscando o exercício da responsabilidade sócio-ambiental e a visibilidade de suas ações.

Doadores:

Pessoas físicas e jurídicas

Doações feitas para desenvolvimento das atividades. Órgãos do Governo:

Ministério da Justiça, SICONV

Regulação e controle sobre as atividades da instituição.

Outras Organizações do Terceiro Setor Apoio ao planejamento e execução dos projetos, bem

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nos diferentes Estados em que atua. Provedores de serviços:

Contador

Prestação de serviços para a Essor. Instituições públicas:

Bancos públicos, secretarias municipais, etc.

Prestação de serviços burocráticos, necessários ao funcionamento de organizações da sociedade civil.

Universidades

Ações de extensão e pesquisa em parceria com a instituição.

Comunidades beneficiadas pelos projetos Área que vai além das residências dos beneficiários e que

também sofrem impactos com as ações dos projetos. Outras instituições parceiras:

SENAI, SENAC.

Desempenho de atividade em conjunto com a organização. Essas organizações têm natureza diversa dos demais stakeholders.

Mídia:

Jornais, revistas, sites

Potencialização ou prejuízo do trabalho da instituição por meio da comunicação.

Grupos interessados nas áreas de atuação da Essor Apoio ao alcance das causas que a instituição se propõe a defender.

Grupos de interesses contrários aos da Essor Prejuízo ao alcance das causas que a instituição se propõe a defender.

Quadro 02: Identificação dos Stakeholders da Essor Fonte: Os autores

O quadro revelou um grupo de atores heterogêneo, com representantes diferentes dos três setores da economia. Foram descritos 15 (quinze) diferentes stakeholders que interagem com a organização de forma a afetar ou serem afetados por ela. Com a visualização das ações que caracterizam esses relacionamentos praticados, torna-se interessante ressaltar as diferenças entre alguns grupos identificados.

Pode-se verificar a diferença existente entre os stakeholders "Financiadores" e "Doadores". Os primeiros caracterizam-se pelo vínculo formal com a instituição, normalmente por meio de contrato, que celebra o compromisso de financiamento de determinadas atividades por um determinado período de tempo. Já o segundo não necessariamente deve assumir esse caráter de obrigatoriedade, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas que contribuem pontualmente para um determinado projeto ou em uma destinação específica. Essa diferença pode ser destacada pela forma de comprometimento entre a organização e o stakeholder.

É curioso, também, que "instituições públicas" foram consideradas atores diferenciados de "órgãos do governo", pois, segundo a entrevistada, os primeiros são representados pelas instituições burocráticas, comuns no desenvolvimento das atividades organizacionais. Já o segundo é composto por órgãos específicos de controle de determinadas funções ou objetivos da instituição, estes considerados de fundamental importância para a realização das atividades. Assim, percebe-se que o relacionamento entre esses organismos governamentais apresentam diferentes nuances quanto a sua atuação e interferência junto à ONG.

A partir dessa identificação, é possível obter uma visão abrangente dos stakeholders da instituição. Porém, para que o estudo consiga atender ao que se propôs, faz-se necessária a classificação desses stakeholders quanto aos atributos de influência que cada um possui sobre a ONG em questão, e relacioná-los com a tipologia abordada de Mitchel, Agle & Wood (1997).

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Como se pode verificar, segundo a caracterização da Essor, e na definição dos stakeholders, a organização possui abrangência internacional e uma grande quantidade de stakeholders, fato este que sugere a atuação intensa desses atores. A classificação desses atores identificados a partir do quadro apresentado na seção anterior perpassa a conferência dos atributos apontados na tipologia de Mitchel, Agle & Wood (1997) (poder, legitimidade e urgência). A combinação dos atributos de cada ator é o que permitirá inferir a influência que cada um deles exerce sobre a instituição.

Levando em consideração que a ONG está presente em vários países, é necessário salientar que esse conjunto de stakeholders destacados são definidos segundo o contexto brasileiro, podendo-se admitir a inserção ou exclusão desses atores em outras regiões de atuação da organização. Na perspectiva de interpretação da realidade da organização, a entrevista referente à classificação desses stakeholders foi direcionada ao coordenador geral da Essor (Quadro 03).

STAKEHOLDERS PODER LEGITIMIDADEURGÊNCIA CLASSIFICAÇÃO

Sede e/ou filiais X X X Definitivos

Funcionários X X X Definitivos

Beneficiários - X X Dependentes

Financiadores - X X Dependentes

Doadores - X X Dependentes

Órgãos do Governo - X X Dependentes

Outras Organizações do Terceiro Setor - X X Dependentes

Provedores de serviços - X - Discricionários

Instituições públicas - X - Discricionários

Universidades - X X Dependentes

Comunidades beneficiadas pelos

projetos

- X X Dependentes

Outras Instituições Parceiras - X X Dependentes

Mídia - - X Exigentes

Grupos interessados nas áreas de atuação da instituição

- - X Exigentes

Grupos de interesses contrários aos da instituição

- - X Exigentes

Quadro 03: Classificação dos stakeholders pela Essor segundo a teoria de Mitchell, Agle & Wood (1997) Fonte: Os autores

A representação no quadro anterior favoreceu, segundo a aplicação da tipologia de Mitchell, Agle e Wood (1997), a identificação do grau de influência existente entre a organização e seus stakeholders. Percebeu-se, ainda, a verificação das combinações existentes entre os atributos de influência, realizando o direcionamento de cada um desses atores para um tipo de influência distinta dentro da organização.

Segundo o resultado, a distribuição dos atributos apontou que dois dos stakeholders podem ser classificados como definitivos, ou seja, na visão da coordenação da ESSOR, apenas a sede e os funcionários da instituição possuem os três atributos: poder, legitimidade e urgência. Devido a essa caracterização, esses seriam os atores mais importantes da instituição e a quem a mesma deveria dispensar mais tempo e esforços, estando esses atores envolvidos de maneira direta no processo de gerenciamento da organização.

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Os beneficiários, os financiadores, os doadores, os órgãos do governo, outras organizações do terceiro setor, as universidades, as comunidades beneficiadas pelos projetos e outras instituições parceiras foram classificadas como dependentes, pois a esses atores foram conferidos dois atributos: a legitimidade e a urgência. Tal resultado significa que esses atores possuem legitimidade para agir, e apresentam urgência em suas demandas, mas não possuem poder para interferir nas decisões tomadas pela instituição, e podem depender de um outro ator para fazer valer suas reivindicações.

O fato de a grande maioria dos stakeholders serem classificados como dependentes indica que, apesar da legitimidade desses atores, e por vezes das urgências em suas demandas, devido ao fato de não exercerem poder para obter suas respostas, esses possuem influência limitada no gerenciamento da instituição. Para o coordenador da Essor, os provedores de serviços e as instituições públicas são considerados como discricionários, uma vez que não apresentam demandas urgentes à organização, nem poder para agir quando houver interesse. São, entretanto, legítimos em suas demandas.

Outros stakeholders que possuem apenas um dos atributos podem receber a classificação, de acordo com a tipologia de Mitchell, Agle e Wood (1997), de exigentes. São eles: a mídia, os grupos interessados na área de atuação da instituição e os grupos de interesses contrários aos da instituição. Esse fato pode ser verificado uma vez que os mesmos não possuem legitimidade nem poder sobre a Essor. Dessa forma, não exercem grande influência sobre as ações da organização, apresentando suas demandas de forma urgente, mas sem possuir a competência para levar a cabo essas demandas.

A diferença destacada entre os atores "órgãos do governo" e "instituições públicas", confirma-se no posicionamento do coordenador, já que os mesmos receberam diferentes classificações em função das distintas demandas que exercem sobre a ONG. Os órgãos de governo foram classificados como dependentes e as instituições públicas como discricionárias. Porém, ao observar-se a diferença explicitada quanto aos "financiadores" e "doadores", percebe-se nesta parte que não há diferença na classificação dos mesmos pelo respondente, o que fato pode indicar a existência de uma mesma influência, todavia vale salientar a existência de diferenças nas suas vinculações com a instituição.

Beneficiários; Financiadores; Doadores; Órgãos do Governo; Comunidades Beneficiadas; Outras Organizações do Terceiro Setor; Universidades; Outras Instituições Parceiras. Provedores de Serviço; Instituições Públicas. Sede/Filiais; Funcionários. Mídia; Grupos de Interesse na Atuação Institucional; Grupos Contrários ao Interesse Institucional.

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Figura 2: Tipologia dos stakeholders da Essor Fonte: os autores

Ao realizar a identificação dos principais stakeholders, caracterizando-os como definitivos, é necessário destacar que estes compõem o público interno da Essor, o que indica a inexistência de agente externo à organização que exerça uma influência definitiva. É importante ressaltar, ainda, dentro da organização a ausência de stakeholders dominantes, possuidores dos atributos poder e legitimidade, e que, segundo a teoria de Mitchell, Agle e Wood (1997) geralmente formam a coalizão dominante na organização.

Assume-se, então, que são os funcionários e a sede os principais atores nos processos e tomada de decisão. Em decorrência da identificação desses stakeholders, como forma de reconhecimento sobre sua efetividade, procedeu-se à ratificação dessa classificação pelos próprios atores. Afinal, a visão dos mesmos sobre sua participação nos processos de tomada de decisão da instituição poderia corroborar ou não a classificação que lhes foi atribuída. Assim sendo, como forma de melhor compreender esse aspecto na organização, foi necessário indagar a esses stakeholders definitivos se os mesmos se consideram atores fundamentais e, como se dá essa participação nos processos de tomada de decisão da Essor.

Levando em consideração que o escritório objeto de estudo sofre inquestionável influência da sua sede, definiu-se como desnecessária a necessidade de indagação ao coordenador local da ONG sobre tal classificação atribuída ao ator (stakeholder definitivo). Portanto, pode-se afirmar que, sendo subordinado ao escritório francês, é mister que as decisões aqui tomadas estejam de acordo com planejamentos, diretrizes e orientações discutidas e aprovadas também por ele.

Como resultado das entrevistas com os funcionários, pôde-se verificar que os mesmos corroboram a classificação atribuída aos stakeholders pela coordenação da Essor, mas é preciso ressaltar que cinco (dos sete) entrevistados acreditam que os funcionários têm papel fundamental nos processos de tomada de decisão da instituição. Além disso, são unânimes em afirmar que cada funcionário tem um papel fundamental nos processos de decisão em sua área de atuação no escritório, e que as decisões da ONG de um modo geral contemplam a participação dos funcionários. Isso pode indicar que alguns funcionários eventualmente sentem que não participam de forma plena de todos os processos decisórios da instituição, mas somente àquelas decisões a que estão especificamente relacionadas diante das suas competências e atividades.

Levando-se em consideração as fases do processo decisório descritos por Simon (1972), pode-se identificar a participação despode-ses atores nas diferentes etapas da tomada de decisão, como traduz a fala de um dos entrevistados: "Sinto que participo desde o momento em que

identificamos um problema e vamos decidir como tratá-lo. E a partir daí me sinto envolvido com todo o processo de avaliar a alternativa, mesmo que minha opinião não seja a decisão final que será tomada". Essa resposta, que apresenta elementos comuns às demais, aponta

aspectos que conduzem ao pensamento de que os funcionários participam das fases de 1) coleta de informações; 2) identificação das possíveis ações a serem tomadas e 3) da escolha

de uma dessas ações.

Percebe-se também, pelas respostas aos instrumentos aplicados com o coordenador e com os funcionários, que as decisões rotineiras, que não demandam muita energia por parte da

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instituição, são muitas vezes delegadas aos próprios funcionários. Ainda de acordo com os respondentes, sua participação se dá por meio de reuniões e conversas informais, sejam ambas em grupo ou isoladamente. Essa resposta foi comum a todos os entrevistados.

Pode-se afirmar, também, que os funcionários possuem poder. Isso pode ser percebido pelo fato de os mesmos se apresentarem como essenciais nos processos gerenciais, por possuírem a competência técnica e a relação formal com a instituição. Essa conjuntura resulta na dependência da organização para com seus colaboradores no que diz respeito ao desenvolvimento de sua missão. Eles são também stakeholders legítimos, pois possuem o reconhecimento organizacional de seu papel e da sua contribuição às decisões tomadas. Por fim, são também urgentes, pois suas demandas são prioritariamente consideradas na gestão da organização.

Nesse sentido, torna-se visível na organização objeto de estudo o quão dependente do público interno a mesma permanece durante seu processo de gerenciamento. Tal dependência é corroborada por esses atores, e pode ser percebida em seus processos de tomada de decisão, nas diferentes etapas identificadas.

5. Considerações Finais

Entender as relações existentes no mercado é de suma importância para um bom desenvolvimento das atividades organizacionais. Para tanto, é necessário reconhecer como interagem as organizações e, por consequência, quem são os atores nessa dinâmica. É notável o papel de influência existente entre as instituições e seus stakeholders numa troca de sobreposições, na medida em que existem entre as mesmos ações desenvolvidas de forma conjunta por um objetivo comum.

Nesse trabalho optou-se pelo estudo em uma organização do terceiro setor por existir um interesse de verificação sobre a forma de atuação na mesma dentro de um contexto de influências diretas. Esse fato favoreceu o reconhecimento de quais características são pertinentes a uma Organização Não Governamental ao propiciar a visualização ampla dessas relações, dando pistas sobre a maneira como se realiza o desenvolvimento do processo decisório nessas instituições.

Com o intuito de compreender como ocorre o processo de tomada de decisão em organizações desse setor, tomou-se como premissa deste estudo que, quanto maior for a dependência de uma ONG para com um de seus stakeholders, mais adaptável torna-se seu processo de tomada de decisão. Deste modo, verificou-se na organização, que ocorre essa dependência e que em cada novo projeto ou ação da ONG, o processo decisório sofre adaptações quanto à sua forma de operacionalização.

Estas considerações estão diretamente relacionadas ao atendimento do objetivo proposto, que foi analisar como a Essor é influenciada pelos seus principais stakeholders em uma perspectiva de tomada de decisão, a partir da análise dos atributos definidos por Mitchell, Agle & Wood (1997). Os resultados encontrados apresentaram a existência de quinze

stakeholders classificados em quatro tipos distintos, a saber: discricionários, dependentes,

definitivos e exigentes. Dentre os quais, recebeu um maior destaque os stakeholders definitivos, pois os mesmos possuem os três atributos necessários para uma maior influência sobre a organização.

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No processo de tomada de decisão da Essor, pôde-se verificar que a influência do seu público interno (sede e funcionários) está intimamente ligada aos atributos admitidos pelos mesmos durante a coleta dos dados. Para a organização, esses dois stakeholders são definitivos, na medida em que possuem legitimidade na realização de suas práticas, urgência quanto a demandas junto à organização e poder na atividade de decisão da mesma. De acordo com os funcionários, as decisões são tomadas de forma participativa, já que estes têm suas opiniões consideradas nos processos decisórios. Essa consulta, pela análise dos instrumentos, acontece nas três etapas do processo decisório descritos por Simon (1972).

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