• Nenhum resultado encontrado

Hematoma Cervical e Hemotórax Espontâneos no contexto de Neurofibromatose Tipo I

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Hematoma Cervical e Hemotórax Espontâneos no contexto de Neurofibromatose Tipo I"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

www.elsevier.pt/acv

ANGIOLOGIA

E

CIRURGIA

VASCULAR

CASO

CLÍNICO

Hematoma

cervical

e

hemotórax

espontâneos

no

contexto

de

neurofibromatose

tipo

I

Anita

Quintas

,

José

Aragão

Morais,

João

Martins,

Frederico

Bastos

Gonc

¸alves,

Gonc

¸alo

Rodrigues,

Rodolfo

Abreu,

Rita

Ferreira,

Nelson

Camacho,

Maria

Emília

Ferreira,

João

Albuquerque

e

Castro

e

Luís

Mota

Capitão

Servic¸odeAngiologiaeCirurgiaVascular,HospitaldeSantaMarta,CentroHospitalarLisboaCentral,Lisboa,Portugal

Recebidoa31demaiode2015;aceitea28defevereirode2016 DisponívelnaInterneta6demaiode2016

PALAVRAS-CHAVE

Neurofibromatose tipo1;

Doenc¸adevon Recklinghausen; Hemorragia espontânea; Hemotórax

Resumo

Introduc¸ão: AneurofibromatosetipoI(NF1),tambémdesignadadoenc¸adeVonRecklinghausen, écausadaporumaanormalidadenocromossoma17,detransmissãoautossómicadominante, responsável pela produc¸ão deficiente de neurofibromina. Caracteriza-se por displasia nos tecidos mesodérmicoseneuroectodérmicos,e tem umaincidência deum para 2.500-3.300 nascimentos.Apresenc¸ademanchascafé-au-lait,neurofibromascutâneosehamartomasda írissãosinaiscardinaisdadoenc¸a.

PrimeiramentedescritaporRuebiem1945,apatologiavascularéumacomplicac¸ão subesti-madaepoucoreconhecidanaNF1.

Aocorrênciadehemorragiafatalouquasefatalestáreportadaocasionalmentenascavidades pleural,abdominal,retroperitoneu,tecidosmolesdotroncoeextremidades.Estahemorragia massivaécausadapelaruturadevasossanguíneosfriáveis,característicospelosníveisreduzidos deneurofibrominaeconsequenteproliferac¸ãoendotelialedemúsculolisonasartériaseveias. UmadasconsequênciasclínicasmaissériasdescritasnaNF1éaocorrênciadehemorragiasevera edificuldadeemalcanc¸arcontrolohemostático.

Objetivo: Exposic¸ãodecasoclínicodeextensohematomacervicalehemotóraxespontâneos porruturatroncosvenososbraquiocefálico,veiasubcláviaejunc¸ãosubclávio-jugularemdoente comNF1.

Casoclínico: Relata-secasoclínicodemulherde51anos,comantecedentesconhecidosdeNF1 ehipertensãoarterial.

Foiadmitidanoservic¸odeurgênciaemchoquehipovolémicohemorrágico,nocontextode dorsúbitanoombrodireitoevolumosatumefac¸ãocervicaldireita.EmangioTCfoiobjetivado volumosohematoma,envolvendoaregiãocervicaldireita,aregiãoretrofaríngea-prevertebral, escavadosupraclaviculardireito,mediastino,associandoaimportantehemotóraxdireito.

Autorparacorrespondência.

Correioeletrónico:anitaquintas@gmail.com(A.Quintas). http://dx.doi.org/10.1016/j.ancv.2016.02.001

1646-706X/©2016SociedadePortuguesadeAngiologiaeCirurgiaVascular.PublicadoporElsevierEspa˜na,S.L.U.Este ´eumartigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

(2)

Procedeu-seaabordagem supraclavicularcomdrenagem dohematomaeidentificac¸ãode fonteshemorrágicas,nomeadamente:troncovenosobraquicefálico,veiasubcláviae confluên-ciasubclávio-jugular.Foinecessáriasecc¸ãodaclavículaparacontrolohemorrágicoerealizac¸ão derafiasdostroncosvenososcomprolene.Intraoperatoriamente,foievidenteafragilidadee friabilidadeexcessivadosvasossanguíneos.Apóscontrolohemorrágico,foirealizada videoto-racoscopiaparadrenagemdehemotóraxeevacuac¸ãodecoágulos,confirmando-seaausência dehemorragiaativa.

Nopós-operatórioadoenterecuperouestabilidadehemodinâmica,semevidênciaanalíticade quedadehemoglobina.Realizou-seangioTC,ondeseconfirmoufrancamelhoriadohematoma cervicaldireitoeretrofaríngeoemcritériosquantitativos, eausênciadeextravasamentode contraste.Objetivou-seadicionalmenteaneurismasaculardaartériavertebraldireita,corrigido ulteriormenteatravésdeembolizac¸ãocomcoils.

Conclusão:ANF1éumadoenc¸agenéticaqueraramentesepodeassociarahemorragia life--threatening.A vasculopatia éuma complicac¸ão subestimadae poucoreconhecida naNF1. A existênciadefriabilidade vascularexcessivacom consequentehemorragia espontâneana NF1éraraepodeserfatal,exigindoumdiagnósticorápidoetratamentoatempado.

©2016SociedadePortuguesadeAngiologiaeCirurgiaVascular.PublicadoporElsevierEspa˜na, S.L.U.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons. org/licenses/by-nc-nd/4.0/). KEYWORDS Neurofibromatosis type1; VonRecklinghausen disease; Acutehemorrhage; Hemothorax

Spontaneousacutecervicalhematomaandhemothoraxintheset

ofneurofibromatosistypeI

Abstract

Introduction:Neurofibromatosistype1(NF1),alsoknownasVonRecklinghausendisease,is cau-sedby anautosomal dominantabnormalityinchromosome17, responsiblefor theimpaired productionofneurofibromin.Thepresenceofcafe-au-laitspots,neurofibromasandiris hamar-tomasarecardinalsignsofthedisease.Theoccurrenceofafatalornear-fatalhaemorrhageis reportedinpleural,peritoneal,retroperitoneum,softtissuesofthetrunkandextremities.The massivehemorrhageiscausedbyruptureoffriablebloodvesselsasaconsequenceofimpaired expressionofneurofibromininthearteriesandveins.One ofthe mostseriousclinical con-sequencesdescribedinNF1istheoccurrenceofseverehaemorrhageanddifficultyachieving hemostaticcontrol.

Objectives: Wereportacaseofspontaneousmassivecervicalhematomaandhemothoraxas aresultofvenousruptureofinnominate,subclavianandsubclavian-jugularveinsjunctionina NF1patient.

Casereport: A51year-oldwomanwithpasthistoryofneurofibromatosistypeIand hyperten-sionwas admittedtotheemergencydepartmentwithanhaemorrhagicshockintheclinical setofasuddenrightshoulderpainandaexpansiverightcervicalswelling.TheCTangiography showedamassivehematoma,involvingtherightcervical,retropharyngeal-prevertebral,right supraclavicularandthemediastinumregions,associatedwithanimportantrighthaemothorax. Throughasupraclavicularapproach,itwasperformedhematomadrainageandidentification ofbleedingsourcesincluding:brachycephalicvenoustrunk,thesubclavianveinand subclavian--jugularconfluence.Itwasrequiredclaviclesectiontoachievehaemorragiccontrolandsuture therupturedvenoustrunks.AVATSwasperformedforhaemothoraxdrainageandconfirmed theabsenceofactivebleeding.

ApostoperativeCTangiographyconfirmedtheresolutionoftherightcervicalhematomaand absenceofcontrastextravasation.Additionallyitwasfoundasaccularaneurysmoftheright vertebralarterycorrectedlaterbyembolizationwithcoils.

Conclusion:NF1isageneticdisorderthatrarelycanbeassociatedwithlife-threatening hae-morrhage.ThevasculopathyisanunderestimatedcomplicationwithlimitedrecognitioninNF1. Theexcessivevascularfriability withspontaneousbleedinginNF1 israreandcanbe fatal, requiringatimelydiagnosisandprompttreatment.

©2016SociedadePortuguesadeAngiologiaeCirurgiaVascular.PublishedbyElsevierEspa˜na, S.L.U.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons. org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

(3)

Introduc

¸ão

A neurofibromatose tipo I (NF1) ou doenc¸a de Von

Rec-klinghausen, é uma doenc¸a neurocutânea causada por

uma mutac¸ão no gene supressor tumoral NF1 localizado nocromossoma 17 (17q11.2), detransmissão autossómica dominante, que setraduz na produc¸ão deficiente da pro-teína neurofibromina7. Até50% dos casos têm origemem

mutac¸õesespontâneas6---9.

Historicamente descrita em 1882 por um patologista, Friedrich Daniel von Recklinghausen6,9,11,12, caracteriza-se

por displasia nos tecidos mesodérmicos e neuroecto-dérmicos, e tem uma incidência de um para 2.500 a 3.300 nascimentos1,2,4. Sem predominância conhecida de

rac¸aougénero,adoenc¸atemumadistribuic¸ãomundialcom diversasexpressõesfenotípicasrelacionadascomostecidos afetados,maisfrequentementederivadosdacristaneurale damesoderme6.

Apresenc¸ademanchascafé-au-lait,neurofibromas cutâ-neosehamartomasdaírissãosinaiscardinaisdadoenc¸a5,10.

Alémdasmanifestac¸õesclínicastípicassecundáriasalesões celulares pigmentadas, presentes em 95% dos doentes9,

existe umapropensão ao desenvolvimentode tumores do sistema nervoso central e periférico, de que são exem-plos meningiomas, feocromocitomas, ganglioneuromas6,7.

Os neurofibromas plexiforme e nodular podem sofrer transformac¸ãomalignaemtumoresdabainhanervosa peri-féricosem2-16%dosdoentes9.

Ahipertensãodesenvolve-seem6%doscasos,com1/3de etiologiasecundáriarelacionadacomdoenc¸arenovascular, coartac¸ãodaaortaoufeocromocitoma9.

A maioria dosdoentes apresenta-se com umaou2 das referidas características, nasquais assentao diagnóstico, definindocritériosdediagnósticoformais6,7.

Condicionando umaesperanc¸a média de vida reduzida (idademédiademortede54,1anosemedianade59anos), amortalidadenaNF1estáassociadaprimariamentecoma patologianeoplásica.Asegundacausademorte relaciona--secomadoenc¸avascular,particularmenteemdoentescom menosde40anos4,5,9,11.Anormalidadesvascularessão

apon-tadasem cercade50%dosdoentes comneurofibromatose

post-mortem10.

Primeiramente descritas por Ruebi em 1945, as manifestac¸õesvascularessãoumacomplicac¸ãosubestimada epoucoreconhecidanaNF13,11,14.

Existeumalargadoespectrodeanormalidadesvasculares associadasàNF1.Amaioriaconsisteemdoenc¸a aneurismá-ticaoudoenc¸aestenóticaaórtica,renalemesentérica5,12.

Asuaetiopatogenia,espectroclínicoehistórianatural per-manecemdesconhecidos5.

A ocorrência de hemorragia fatal ou quase fatal está reportada ocasionalmente nas cavidades pleural, abdominal, retroperitoneu, tecidos moles do tronco e extremidades1,2. Esta hemorragia massiva é causada

pela rutura de vasos sanguíneos friáveis característicos pelos níveis reduzidos de neurofibromina e consequente proliferac¸ão endotelial e de músculo liso nas artérias e veias2.Umadasconsequênciasclínicasmaissériasdescritas

na NF1éa ocorrênciadehemorragiasevera edificuldade emalcanc¸arcontrolohemostático2.

Atendendoàraridadedasmanifestac¸õesvasculares agu-dasnocontextodaNF1,expõe-seumcasoclínicodeextenso hematoma cervical e hemotórax espontâneos, por rutura troncos venosos braquiocefálico, veia subclávia e junc¸ão subclávio-jugular em doente com a doenc¸a de Von Rec-klinghausen.

Caso

clínico

Relata-secasoclínicodemulher de51anos, com antece-dentesconhecidosdeNF1(fig.1)ehipertensãoarterial.

Nãohaviahistóriadetraumatismo,lesãooucirurgiada regiãosupraclavicular,fraturadaclavícula,nemde tentati-vasdecateterismodosvasosdopescoc¸o.

Foiadmitidanoservic¸odeurgênciacomchoque hipovo-lémicohemorrágico,nocontexto dequadrosúbitodedor no ombro direito e volumosa tumefac¸ão cervical direita. Apresentavaprostrac¸ão e tensãoarterialde 43/30mmHg, comfrequênciacardíacade90batimentosporminuto.Ao exameobjetivoapresentamúltiplosneurofibromas subcutâ-neos,volumosatumefac¸ãonaregiãosupraclaviculardireita ecervicalhomolateral.

Analiticamente, a hemoglobina à admissão era de 7,8g/dL,hematócritode23,2%com2,61x10ˆ12/L eritró-citos.

A radiografia de tórax (fig. 2) demonstrou derrame pleuraldireito,desviodatraqueiaparaaesquerdae alar-gamentodomediastino.

Emangiotomografiacomputorizada(angioTC)foi obje-tivadovolumoso hematoma, envolvendo a região cervical direita, a região retrofaríngea-prevertebral, escavado supraclaviculardireito,mediastino,associandoimportante hemotóraxdireito(figs.3,4e5).

Procedeu-se a abordagem supraclavicular (fig. 6) com drenagemdohematoma e identificac¸ão de fontes hemor-rágicas,nomeadamente:troncovenosobraquicefálico,veia subclávia e confluência subclávio-jugular. Foi necessária secc¸ãodaclavículaparacontrolohemorrágicoerealizac¸ão derafiasdostroncosvenososcomprolene. Intraoperatoria-mente,eraevidentea fragilidadee friabilidadeexcessiva dos vasos sanguíneos. Após controlo da hemorragia, foi evidentea recuperac¸ão daestabilidadehemodinâmica da doenteeestabilizac¸ãodahemoglobina.

Apóscontrolohemorrágico,foirealizada videotoracosco-piaparadrenagemdehemotóraxeevacuac¸ãodecoágulos, confirmando-seaausênciadehemorragiaativa.

(4)

Figura2 Radiografiadetóraxàadmissão.

Duranteaintervenc¸ãocirúrgica,objetivaram-seperdas sanguíneasde4.060cc,tendosidoadministradas6unidades deconcentradoeritrocitárioe3deplasmafresco.

No pós-operatório a doente recuperou estabilidade hemodinâmica,semevidênciaanalíticadequedade hemo-globina. Teve necessidade de internamento em unidade de cuidados intensivos durante 5 dias, tendo sido extu-badano2.◦diadepós-operatório.Realizou-seangioTCpara

avaliac¸ãotorácicano2.◦diadepós-operatório(figs.7,8,9),

onde se confirmou franca melhoria do hematoma cervi-cal direito e retrofaríngeo em critérios quantitativos, e ausênciadeextravasamentodecontraste.Objetivou-se adi-cionalmenteaneurismasaculardaartériavertebraldireita, corrigido ulteriormente atravésde embolizac¸ão com coils

(fig.10,Servic¸odeNeurorradiologiaH.S.José).

Do estudo complementar inerente à NF1, verificou-se o achado de nódulo em topografia paravertebral direita, adjacenteaumburacodeconjugac¸ão,com14mm, repre-sentandoprovável tumor neurogénico. Foi ainda excluída doenc¸a arterial adicional de outros territórios nas suas diferentes formas de apresentac¸ão. A angioTC excluiu a presenc¸adoenc¸a aneurismáticaou oclusiva dos principais leitosarteriais(nomeadamentedoenc¸aateroscleróticadas artériasrenais),assimcomofístulasarteriovenosas.

Figura6 Incisãosupraclavicular.

Discussão

A presenc¸a de manchas café-au-lait, neurofibromas cutâ-neos, hiperpigmentac¸ão áreas axilar e inguinal, gliomas óticos, hamartomas pigmentados da íris, anormalidades ósseas, tumores intracranianos, entre outras característi-cas,sãoalgunsdosachadosquecaracterizamadoenc¸ade

VonRecklinghausen,queenvolvemostecidosderivadosda cristaneurale,menosfrequentemente,damesoderme1,2.

O seu diagnóstico é especialmente difícil, atendendo a: variabilidade clínica, desde o envolvimento cutâneo exclusivo ao atingimento de diferentes órgãos; evoluc¸ão imprevisíveldocursodadoenc¸a;eprognósticomuitasvezes incerto8.Oprognósticodependeessencialmenteda

existên-ciadetumorescerebrais,responsáveispelamortalidadeem 72%doscasos11.

AfrequênciadoenvolvimentovasculardaNF1é subesti-mada, em resultado deas lesõesdos vasosserem muitas vezes assintomáticas e, por vezes, atribuídas a outras causas1,11. A prevalênciade lesõesvasculares em grandes

sériesvariade0,4-6,4%5,12.

As alterac¸ões vasculares podem surgir sob a forma de estenoses,aneurismasefístulasarteriovenosasdasartérias coronárias e braquicefálicas1. As lesõesarteriais resultam

docontextodecompressãoextrínsecapormassastumorais, espessamentointramurale/oudegenerac¸ãoaneurismática sacularefusiformesecundariaadisplasiavascularde dife-rentestipos1.

(5)

Figuras7,8,9 ImagensangioTCeradiografiatóraxno2.◦diadepós-operatório.

Primeiramentedescrita porRuebiem 1945,apatologia vascularnaNF1foiporeleclassificadadefinindo3padrões histopatológicos (forma intimal-pura, forma intimal--aneurismática, forma nodular periarterial)1,5,6. Feyrter

acrescentouasformasintimal-avanc¸adaeepitelioide1,6.

A displasiaarterialassociada aNF1caracteriza-sepela acumulac¸ãodesubstânciamuscoidenaíntima,proliferac¸ão das células mio-intimais, espessamento da média ou disrupc¸ão do tecido elástico, que podem resultar em estenoses, oclusões, rutura, fístulas arteriovenosas ou degenerac¸ãoaneurismáticadasartériasdegrandeemédio calibre1,2.

ApatogénesedestavasculopatiadaNF1aindaestápouco esclarecida3---5. A deficiente expressão do gene supressor

tumoral NF1 leva ao deficit da sua proteína neurofibro-mina, a qual se encontra expressa fisiologicamente nas célulasendoteliaisedemúsculoliso.Aexpressão endote-lialalteradadeneurofibrominapoderáresultarnamigrac¸ão eproliferac¸ãoexcessivadefibroblastos,célulasdemúsculo lisoecélulasdeSchwann3,4.

Amaioria daslesõesvascularesnaNF1são assintomáti-casehabitualmenteatingemmúltiplosterritórios.Aartéria renalé o território preferencialmente envolvido(41% das lesõesvasculares, unilateral em 68%), com a hipertensão renovascular como a apresentac¸ão clínica mais comum. Outrosquadrosclínicosvascularescomunssãoacoartac¸ão daaortaabdominal (12%),aneurismas da artériacarótida internaemalformac¸õesarteriovenosasvertebraiscervicais, comafec¸ãodasartériascarótida,vertebraloucerebraisem 19%daslesõesvasculares5,15.

As indicac¸õespara intervenc¸ão oucirurgia relacionam--secomaidade, tipoe localizac¸ãodalesão,presenc¸ade sintomas,ruturaoudiâmetroaneurismáticosignificativo5.

Noartigo derevisãodeOderichetal.,há referênciaa 46aneurismascerebrais,vertebraisecarotídeosocorrendo na3.a

décadadevidaemaisfrequentementenasmulheres (72%),dadosemqueseinsereocasoclínicodescrito.Uma apresentac¸ão clássicasãoasmalformac¸õesarteriovenosas vertebraiscervicaisquepodemserconsequênciatardiada ruturacontidade aneurismasvertebrais5. Noterritórioda

(6)

artéria subclávia, a rutura espontânea da artéria subclá-viaemalformac¸õesarteriovenosasdasextremidadesestão documentadas5,11,15. Existem, pelo menos, 3 casos

repor-tadosnaliteraturadeenvolvimentoaneurismáticovenoso, todosafetandoaveiajugular5,13.

Ahemorragiaseveraespontâneaoumesmoapóstrauma éumacomplicac¸ãoraradaneurofibromatosequeseassocia a elevada taxa de mortalidade10,12. A mortalidade

rela-cionada com causas vasculares na NF1 é particularmente frequentementenosdoentescommenosde30anos4,9.Para

a hemorragia de difícil controlo contribui a já descrita displasiada parede vascular, frequentemente complicada pelaexistênciadecoagulopatiaconcomitante,relacionada com alterac¸ões das plaquetas e consumo de fatores da coagulac¸ão10. O controlo hemorrágico é assim complexo,

atendendoàfriabilidadedostecidos evasose dificuldade emobterhemóstase4,11---13.É comuma todososcasos

sub-metidos a intervenc¸ão cirúrgica descritos na literatura a presenc¸adeumafragilidadeexcessivadaparededosvasos, condicionandohemorragiaintraoperatóriasignificativa12,13.

Existemvários casosdescritosderuturaespontâneade artérias,sendocaracterizadaaelevadafragilidadedovaso emruturaem consequênciadaproliferac¸ão edistribuic¸ão decélulasepitelioidesoufusiformesdostecidos envolven-tes,fragmentac¸ãodatúnicamusculariseespessamentoda íntimacom oclusãodo lúmen14. Estátambém descrita na

histologiadestesvasosfriáveisadesintegrac¸ãodaestrutura vascularpor invasãode fibrasneurais14.Osistemavenoso

podeserigualmenteafetadoecommaiorintensidade. Nocasoapresentado,apósincisãosupraclavicularfoi evi-denteaabundantehemorragiavenosadedifícilcontroloe cujoacessosófoipossívelapóssecc¸ãodaclavícula.

Apresenc¸a dehemotóraxconcomitante foi atribuídoà drenagemdescendente dohematomacervicalpeloespac¸o pleural.

Conclusão

ANF1éumadoenc¸agenéticaqueraramentesepode asso-ciar a hemorrafia life-threatening. A vasculopatia é uma complicac¸ão subestimada e pouco reconhecida na NF13.

Aexistênciadefriabilidadevascular excessivacom conse-quente hemorragia espontânea na NF1 é rara e podeser fatal,exigindoumdiagnóstico rápido e tratamento atem-pado.

Responsabilidades

éticas

Protec¸ão depessoaseanimais.Osautoresdeclaramque

paraesta investigac¸ão nãose realizaram experiênciasem sereshumanose/ouanimais.

Confidencialidadedosdados.Osautoresdeclaramquenão

aparecemdadosdepacientesnesteartigo.

Direito à privacidade e consentimento escrito.Os

auto-resdeclaramque nãoaparecemdadosdepacientesneste artigo.

Conflito

de

interesses

Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.

Referências

1.TeitelbaumG,HurvitzR,EsrigB.HemotoraxintypeI neurofi-bromatosis.AnnThoracSurg.1998;66:569---71.

2.NopajaroonsriC,LurieA.Venousaneurysm,arterialdysplasia andnear-fatalhemorrhagesinneurofibromatosistypeI.Hum Pathol.1996;27(9):982---5.

3.ObermoserG,ZelderB,MillonigG,etal.Vasculopathyinvon Recklinghausen’s neurofibromatosis - a diagnostic quandary. JAmAcadDermatol.2004:S107---9.

4.Hung MC, YangE, Huang Y, et al, Spontaneous Hemorrhage withintheneckofaNeurofbromatosistype1patient. 5.OderichG,Sullivan T,Bower T,et al.Vascular abnormalities

in patientswith neurofibromatosissyndrome typeI: Clinical spectrum,managementandresults.JVascSurg.2007:475---84. 6.LieJT.VasculopathiesofNeurofibromatosisType1 (von

Rec-klinghausenDisease).CardiovascPathol.1998;7(2):97---108. 7.HirbeA,GutmannD.Neurofibromatosistype1:A

multidiscipli-narapproachtocare.LancetNeurol.2014;13:834---43. 8.Tadini G, Milani D, Menni F, et al. Is it time to change

theneurofibromatosis1diagnosticcriteria?EurJInternMed. 2014;25:506---10.

9.Reynolds R, Browning G, Nawroz I, et al. Von Recklinghau-sen’s neurofibromatosis: Neurofibromatosis type 1. Lancet. 2003;361:1552---4.

10.WhiteN,GwanmesiaI,AkhtarN,etal.Severehaemorrhagein neurifibromatoma:Alesson.BrJPlastSurg.2004;57:456---7. 11.GutarraF,AsensioJ,MiceliM,etal,Rpturedfemoropopliteal

arteryaneurysminvonRecklinghausenneurofibromatosis, Jour-nalofVascularSurgery,46,4,808-811.

12.EmoriM,Naka N, Takami H,et al. Rupturedbrachial artery aneurysmin apatientwithtype1 neurofibromatosis. JVasc Surg.2010;51(4):1010---3.

13.BelcastroM,PalleschiA,TrovatoA,etal.Ararecaseofinternal jugularveinaneurysmaldegenerationinatype1 neurofibro-matosiscomplicatedbypotentiallylife-threateningthrombosis. JVascSurg.2011;54(4):1170---3.

14.HinschN,KrienerS,RitterR,etal.Fatalhaemorrhagedueto extensivefragilityofmedium-andlarge-sizedarteriesandveins inayoungpatientwithneurofibromatosis1.CardiovascPathol. 2008;17:108---12.

15.Al-Jundi W, Matheiken S, Abdel-Rehim S, et al. Ruptured thyrocervicaltrunk aneurysmina patientwithtypeI neuro-fibromatosis.EJVES.2011:e10---2.

Imagem

Figura 1 Neurofibromas.
Figura 6 Incisão supraclavicular.
Figura 10 Imagens embolizac ¸ão aneurisma sacular vertebral com coils (Servic ¸o de Neurorradiologia H

Referências

Documentos relacionados

Este estudo teve como objetivo validar o CSHQ-PT na população clínica, em crianças com diagnóstico de pertur- bação do sono e crianças com PHDA, conhecidas por apre- sentarem

(A) Tomografia computadorizada inicial, que revela edema difuso com hematoma subdural frontotemporal esquerdo e hematoma epidural occipital direi- to.. (B) Aspecto

• Ocorre na doença hepática alcoólica e esteatose hepática aguda da gravidez.. Necrose

buição de gordura corporal de indivíduos infectados pelo HIV e sujeitos controles, utilizaram para a avaliação da distribuição de gordura corporal os itens antes

FICHA ANESTÉSICA DOSE TOTAL: DOSE: MANUTENÇÃO – DROGA: OBSERVAÇÕES: DOSE: HORA: INDUÇÃO – DROGA: DOSE: HORA: MPA – DROGA: OBSERVAÇÕES: RESPIRAÇÃO PULSO: HORA: EXAME

Aula 38 - Outros tipos de sinais utilizados pela unidade de comando Além das informações dos sensores visto até o presente momento, a unidade de comando do sistema de injeção

Figura 10 Imagens de uma craniotomia para drenagem de hematoma subdural crônico (HSDC): (A) Imagem de tomografia computadorizada de crânio evidenciando.. HSDC do