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O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel: uma análise do impacto na agricultura familiar

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS- CCSA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

EDLANE MIRELE RODRIGUES DOS SANTOS

O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL: UMA ANÁLISE DO IMPACTO NA AGRICULTURA FAMILIAR

NATAL/RN 2018

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EDLANE MIRELE RODRIGUES DOS SANTOS

O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL: UMA ANÁLISE DO IMPACTO NA AGRICULTURA FAMILIAR

Monografia de conclusão de curso apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito ao título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. Thales Augusto Medeiros Penha

Natal/RN 2018

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EDLANE MIRELE RODRIGUES DOS SANTOS

O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL: UMA ANÁLISE DO IMPACTO NA AGRICULTURA FAMILIAR

Monografia de conclusão de curso apresentada ao Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito ao título de Bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em: 04/07/2018

_________________________________________ Prof. Dr. Thales Augusto Medeiros Penha

Orientador/DEPEC-UFRN

__________________________________________ Prof. Dr. João Rodrigues Neto

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Dedico esta monografia à minha batalhadora e amada mãe. E Por todo o incentivo que ela sempre me deu, quanto aos estudos. E ao meu amado avô, Valter, que sempre acreditou em mim.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu bom e generoso, Deus, por nutrir minha fé e esperança.

À minha família pelos valores, incentivo, força e encorajamento. Em especial à minha amada mãe, Ana Patricia, e ao meu querido avô, Valter Barros.

Ao meu esposo, pela atenção e paciência.

Ao meu professor e amigo João Rodrigues Neto, por me apresentar (e presentear) a esse tema tão encantador, em se tratando das energias renováveis.

Ao meu querido e paciente orientador, Thales Augusto, por todas as vezes que me ouviu, me corrigiu e me guiou por todo o trajeto, até a conclusão desta monografia.

Deixo registrado, também, meus agradecimentos às minhas queridas e amadas amigas, Danielle Rodrigues, Julliana Edwisges, Larissa Regina, Suenya, Elaine Monique e Kaline, que tanto me ajudaram, me ouviram e me aconselharam nessa árdua caminhada.

Esses são meus agradecimentos.

“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (I Tessalonicenses 5:18)

(6)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Santos, Edlane Mirele Rodrigues dos.

O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel: uma análise do impacto na agricultura familiar / Edlane Mirele

Rodrigues dos Santos. - Natal, 2018.

75f.: il.

Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais

Aplicadas, Departamento de Economia.

Orientador: Prof. Dr. Thales Augusto Medeiros Penha.

1. Economia - Monografia. 2. Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) - Monografia. 3. Agricultura familiar - Monografia. 4. Biocombustíveis - Monografia. I. Penha, Thales

Augusto Medeiros. II. Título.

RN/UF/CCSA CDU 338.31:662.2

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Em um mundo cada vez mais preocupado com o futuro abastecimento de energia e com o aquecimento global, o contínuo desenvolvimento de biocombustíveis provavelmente irá se revelar um ingrediente essencial ao crescimento econômico sustentável.

(8)

RESUMO

O presente estudo tem por objetivo avaliar o Programa Nacional de Produç ão e Uso do Biodiesel (PNPB) no Brasil, de seu lançamento até os dias atuais e, verificar se os resultados obtidos condizem com o planejado pelo programa. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica e uma análise documental que permitiu a verificação dos resultados propostos. Como resultados, constatou-se que o objetivo de reduzir as disparidades regionais, diminuir as importações de diesel e diversificar as matérias-primas para fabricação do biodiesel, não foram atendidos, conforme estipulava o programa. Entretanto, ainda que, com uma participação mínima, o biodiesel foi inserido como novo biocombustível na matriz energética brasileira, gerando inúmeros benefícios para o meio ambiente. Quanto aos agricultores familiares, estes, também se inseriram nessa cadeia produtiva, embora de forma desigual, por região brasileira. Deste modo, embora o programa tenha alavancado a diversificação da matriz energética, com a inserção de um novo biocombustível, e gerado novos postos de trabalho para o homem do campo, o PNPB ainda precisa de ajustes para atender todos os pontos propostos pela política.

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ABSTRACT

This study aims to evaluate the National Program for the Production and Use of Biodiesel (PNPB) in Brazil, from the beginning of the project until the present day, and to verify if the results obtained are in line with what is planned by the program. The methodology used was a bibliographical review and databases analysis that allowed the verification of the proposed results. As a result, it was found that the goal of reducing regional disparities, reducing imports of diesel and diversifying the raw materials for biodiesel production, were not achieved as stipulated in the program. However, although with a minimal participation, biodiesel was inserted as a new biofuel in the Brazilian energy matrix, generating numerous benefits for the environment. As for the family farmers, these, also, were inserted in this productive chain, although of unequal form, by Brazilian region. Although the program has leveraged the diversification of the energy matrix, with the insertion of a new biofuel, and created new jobs for the rural man, the PNPB still needs adjustments to meet all the posts proposed by the policy.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Fontes de Energia...18

Figura 2- Potencialidade para produção de biodiesel...23

Figura 3- Fluxograma do Processo de Produção do Biodiesel...25

Figura 4 - Cadeia produtiva do biodiesel...26

Figura 5 - Evolução do percentual de teor de biodiesel presente no diesel fóssil...34

Figura 6 - Capacidade nominal e produção de biodiesel (B100), segundo grandes regiões (mil m³/ ano) - 2016...50

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Repartição da Oferta Interna de Energia brasileira para o ano de 2016...41

Gráfico 2 – Participação da lixívia e outras renováveis na matriz energética brasileira ...42

Gráfico 3 - Consumo de energia no setor de transporte – 2017...43

Gráfico 4 – Consumo final de energia por fonte - 2016...43

Gráfico 5 - Evolução do percentual de teor de biodiesel presente no diesel fóssil no Brasil..44

Gráfico 6 - Produção de biodiesel x Importação de diesel fóssil...45

Gráfico 7- Evolução da Produção de Biodiesel no Brasil (m³)*...46

Gráfico 8 – Produção de biodiesel nas regiões brasileiras (2005-2017)*...47

Gráfico 9 – Evolução da Produção de biodiesel por região...48

Gráfico 10 - Participação dos estados brasileiros na produção de biodiesel em M³ (2005 a 2017)*...48

Gráfico 11 – Área colhida de Soja por regiões brasileiras (2000-2016)...51

Gráfico 12 – Número de atendimentos prestados pela ATER no Sul e Centro- Oeste (2010-2017)...51

Gráfico 13 – Evolução do Número de Agricultores Familiares participantes do PNPB detentores do Selo Combustível Social...53

Gráfico 14 – Evolução no número de agricultores familiares presentes no PNPB...54

Gráfico 15 - Nº de famílias fornecedoras de matéria prima nos arranjos do Selo Combustível Social x cooperativas por região brasileira (2008-2016)...55

Gráfico 16 - Evolução da produção x nº de famílias produtoras de biodiesel...56

Gráfico 17 - Matérias-primas utilizadas para fabricação de biodiesel...58

Gráfico 18 – Matéria prima para o biodiesel adquirida da agricultura familiar no âmbito do SCS (mil toneladas) – 2016...59

Gráfico 19 – Matéria-prima adquirida da Agricultura Familiar com SCS - 2016 -(mil toneladas)...59

Gráfico 20 – Matéria-prima adquirida da Agricultura Familiar com SCS por região brasileira – 2016- (mil toneladas)...60

Gráfico 21 - Número de atendimentos da ATER à agricultura familiar por regiões brasileiras (2010-2017)...61

Gráfico 22 - Número de atendimentos da ATER à agricultura familiar por regiões brasileiras...62

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE TABELAS

Tabelas 1 – Oleaginosas potenciais da região Nordeste...24

Tabela 2 – Características de culturas oleaginosas no Brasil...25

Tabela 3 – Empresas com maior capacidade de produção de biodiesel no Brasil...52

(14)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIOVE Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais ANP Agência Nacional de Petróleo

ATER Assistência Técnica e Extensão Rural BACEN Banco Central do Brasil

BEN Balanço Energético Nacional

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura CEI Comissão Executiva Interministerial

CENAL Comissão Executiva Nacional do Álcool

COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social CPF Cadastro de Pessoas Físicas

CNAL Conselho Nacional do Álcool

CNPE Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel CTNBIO Comissão Técnica Nacional de Biossegurança DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf

DNTR Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais DOU Diário Oficial da União

EMATER Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural EUA Estados Unidos da América

FBC Fundo Bio de Carbono

FINAME Financiamento e aquisição de máquinas e equipamentos

FPC Fundo Protótipo de Carbono

GTI Grupo de Trabalho Interministerial

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA Ministério de Desenvolvimento Agrário MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MME Ministério de Minas e Energia

OIE Oferta Interna de Energia ONU Organização das Nações Unidas

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS Programa de Integração Social

PMR Preço máximo de referência

PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural PNPB Programa Nacional de Produção e Uso dos Biocombustíveis PROÁLCOOL Programa Nacional do Álcool

PROBIODIESEL Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel PRODIESEL Programa de Substituição do Óleo Diesel

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PROINF Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços em Territórios

PROÓLEO Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RBTB Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel

SAF Secretaria de Agricultura Familiar

SCS Selo Combustível Social

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UBRABIO União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene

UFCE Universidade Federal do Ceará

(16)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...16

1 RUMO A UMA MATRIZ ENERGÉTICA MAIS LIMPA...18

1.1 Algumas considerações sobre as fontes de energias limpas...18

1.2 Vantagens e desvantagens do uso do Biodiesel...21

1.3 A produção de biodiesel no Brasil...22

2 A GÊNESE DO PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL NO BRASIL E NO MUNDO...28

2.1 Antecedentes do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) ...28

2.2 O Programa Nacional do Álcool...29

2.3 A origem e evolução do PNPB...30

2.4 O Selo Combustível Social...35

2.5 Os Leilões de Biodiesel...38

3 A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO BRASIL APÓS O PNPB...41

3.1 A inserção do biodiesel na matriz energética brasileira...41

3.2 Os objetivos e resultados do PNPB...45

3.3 Participação da agricultura familiar no PNPB...53

3.4 A produção de biodiesel por matéria-prima...57

3.5 Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER...61

CONSIDERAÇÕES FINAIS...63

REFERÊNCIAS...64

ANEXOS...70

ANEXO 1 - COOPERATIVAS HABILITADAS PARA COMERCIALIZAR MATÉRIA-PRIMA DA AGRICULTURA FAMILIAR...71

(17)

INTRODUÇÃO

O cenário mundial atual aponta para uma forte pressão sobre a matriz energética, na medida em que países em desenvolvimento tem aumentado consideravelmente a demanda por energia. A combinação do impacto ambiental negativo causado pelos combustíveis fósseis, as oscilações recorrentes do preço do petróleo, o crescente interesse, por parte dos países importadores, por independência com relação aos países exportadores de petróleo, a crescente demanda por energia e o aumento da preocupação com a mudança climática global e com a sustentabilidade, têm apontado para um cenário até pouco tempo atrás desconhecido. (SOUSA, 2010)

Nesse contexto, existe a necessidade de esforços mundiais destinados ao aumento da oferta de energia e de, principalmente, migrar para uma matriz mais “limpa”, tendendo a dar maior enfoque aos processos sustentáveis, sob a ótica econômica, ambiental e social. A preocupação específica com relação ao clima, diz respeito ao aquecimento global (“efeito estufa”). (MATTEI, 2010). Nesse cenário, tem emergido várias trajetórias tecnológicas "limpas", tais como, eólica, solar e as biomassas.

Dentre estas alternativas menos poluentes, a biomassa destaca-se pelo fato de, além de ser uma alternativa de produção de energia renovável, permite a inclusão produtiva de produtores rurais de diversas áreas em sua cadeia produtiva, uma vez que, essa energia pode ser produzida por diversos tipos de matérias-primas. Por conseguinte, a biomassa pode ter mais um efeito virtuoso, que é aumentar a renda no campo, haja vista, que a grande parte da pobreza mundial encontra-se no meio rural.

Nesse contexto, o Brasil tem potencial de dinamizar diversos espaços produtivos do país, uma vez que, aspecto não desprezível da biomassa, é seu caráter descentralizador (SOUSA, 2010), proporcionando a produção de diversas culturas agrícolas aptas a serem transformadas em biomassa, e, portanto, tem a capacidade de incluir produtores de todas as regiões.

Além do mais, existe uma imensa disponibilidade de terras agricultáveis, e as melhores condições do clima, solo e tempo, e o legado oriundo do PRÓALCOOL, que o deixa em condição ímpar na conjuntura mundial. Em face do exposto, o Governo Federal inicia uma série de investimentos para desenvolver a produção e uso do biodiesel no país.

(18)

A partir de 2003, o governo brasileiro iniciou esforços objetivando a criação, de uma política para incentivo da produção do biodiesel, que se consolidou em 2004, no Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) para dinamizar várias regiões do país, inclusive a região Nordeste. À vista disso, este trabalho indaga a seguinte questão de pesquisa: quais os resultados alcançados pelo PNPB ao longo dos últimos anos na região Nordeste?

O presente trabalho parte da hipótese de que os resultados obtidos ficaram aquém do esperado, devido à falta de articulação e manejo da política pública. Assim sendo, esse estudo tem o objetivo de identificar os resultados alcançados pelo PNPB, analisando se estes condizem com o planejado pelo programa.

Para alcançar os objetivos propostos, se faz necessário uma avaliação minuciosa de alguns pontos específicos, em se tratando de: a) Levantar dados sobre o PNPB; b) o levantamento histórico da política; c) Avaliar a capacidade de inserção dos pequenos agricultores rurais; d) avaliar a inserção do biodiesel na matriz energética brasileira; e d) verificar se houve redução nas importações de diesel.

Este trabalho é uma pesquisa aplicada, de abordagem qualitativa, com objetivo de fazer uma análise descritiva. Os dados secundários foram obtidos nos sites oficiais do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Combustíveis (ANP), Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), Balanço Energético Nacional (BEN), e do Ministério de Minas e Energia (MME).

Além desta introdução, o trabalho possui outros três capítulos. O primeiro capítulo faz menção à necessidade de se utilizar fontes energéticas mais limpas, dando ênfase ao uso dos biocombustíveis, em especial, o biodiesel. O segundo capítulo, expõe o levantamento histórico do PNPB, mostrando todas as fases da política. No terceiro capítulo, se exibe uma análise dos dados estatísticos, por conseguinte, os resultados. E por fim, são apresentadas as considerações finais desse estudo.

(19)

CAPÍTULO 1 - RUMO A UMA MATRIZ ENERGÉTICA MAIS LIMPA

1.1 – Algumas considerações acerca das fontes de energias limpas.

A energia é um insumo fundamental, pois, é um fator de produção determinante para a expansão da economia, desde sempre. Dessa forma, suas fontes sempre foram alvo de investigações e preocupações científicas e geopolíticas. A primeira grande fonte de energia foi o carvão, que determinou o avanço da Primeira Revolução Industrial, ainda no século XVI. Desde então, essa matriz sofreu alterações importantes que abriu caminho para novas trajetórias tecnológicas e crescimento de determinados setores ligados direta e indiretamente à sua produção.

As fontes de energia, hoje, podem ser classificadas em dois grupos, as energias renováveis e não renováveis. Dentre as renováveis, apresentam-se a hidráulica, eólica, biomassa, geotérmica, as ondas e marés. Já, dentre as não renováveis, tem-se o petróleo, o gás natural, urânio e carvão mineral.

Figura 1 – Fontes de Energia

Fonte: Rocha (2009) apud SOUSA (2010)

Nos últimos anos, o debate acerca das mudanças climáticas e do aquecimento global, ganhou destaque na comunidade científica, bem como, chamou atenção da população em geral. À vista disso, tem havido uma forte tendência da substituição da matriz de energia mundial, por fontes menos poluentes e sustentáveis. A partir desse debate, se iniciam fortes

(20)

investimentos para desenvolver novas fontes de energia, dentre estas, a agroenergia, que se destacou diante das demais.

"O termo agroenergia compreende um conjunto de produtos derivados da biomassa, produzidos ou liberados pela atividade humana ou animal, que possam ser transformados em fontes energéticas para usos distintos: eletricidade, calor e transporte." (SEBRAE, 2013)

Considera-se que a agroenergia é composta por quatro grandes grupos: etanol e co-geração de energia provenientes da cana-de açúcar; biodiesel de fontes lipídicas (animais e vegetais); biomassa florestal e resíduos; e dejetos agropecuários e da agroindústria. Das florestas energéticas obtêm-se diferentes formas de energia, como lenha, carvão, briquetes, finos (fragmentos de carvão com diâmetro pequeno) e licor negro. (BRASIL, 2006, p. 12,13)

Esse tema reúne diversos interesses, dentre os quais podemos citar os comerciais, buscando desenvolver o agronegócio das oleaginosas potencialmente produtoras do óleo, os ecológicos, buscando minimizar os impactos ambientais, os industriais, onde a maior interessada é a indústria química, e os sociais, que visam diminuir as disparidades regionais (SOUSA, 2010). Esse fato demonstra a amplitude e importância da agroenergia apontando para uma importante sinergia entre agricultura e economia.

É importante diferenciar bioenergia de agroenergia, que segundo Sousa (2010), a bioenergia é a energia renovável originada de fontes biológicas, como galhos, podas de árvores e lodo. Por sua vez, a agroenergia é a energia proveniente da agricultura, e compõe o grupo da bioenergia. Como exemplo de energia formada da agroenergia, tem-se o biocombustível biodiesel e álcool, que advém, respectivamente, de oleaginosas e da cana-de-açúcar.

FRIEDMAN (2008) apud SOUSA (2010, p. 57), afirma que "a sociedade humana está em busca da revolução energética". Essa revolução trata do fim do uso dos combustíveis fósseis. É nesse âmbito, que biocombustíveis tem o papel fundamental na mitigação do efeito estufa. Eles surgem como uma válvula de escape do planeta para diminuir os efeitos da liberação de gás carbônico na atmosfera, proveniente dos combustíveis fósseis. Esse aumento de dióxido de carbono (CO²) constituiu-se no maior responsável pelo efeito estufa, resultando no aquecimento global do planeta.

Com o objetivo de reduzir essas emissões de CO² na atmosfera, e consequentemente, reduzir os efeitos do aquecimento global, firmou-se o Protocolo Kyoto, um acordo internacional firmado entre os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU). O acordo foi assinado em 1997, no Japão, mas só entrou em vigor em 2004. Segundo

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Decicino (2007), o acordo tinha como principal objetivo amenizar o impacto dos problemas ambientais causados pelos modelos de desenvolvimento industrial e de consumo vigentes no planeta. Nesse acordo, ficou estabelecido que, os países integrantes deveriam se comprometer a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em 5,2%, se comparado com o ano de 1990.

Para atingir as metas propostas pelo acordo, os países necessitariam tomar algumas medidas, dentre as quais podemos mencionar: aumento da eficiência energética do país, promoção de práticas sustentáveis de manejo florestal, promoção de formas sustentáveis de agricultura, apoio à P&D para descobrir novas fontes de energias renováveis e estimular reformas adequadas em setores relevantes, objetivando promover políticas e medidas que limitem ou reduzam emissões de gases de efeito estufa (DECICINO, 2007).

Atualmente, o setor que mais instiga a eliminação de gás carbônico, é o setor de transportes. Uma vez que, a maior parte desse setor é dependente de combustíveis fósseis. Como se espera que o número de veículos praticamente triplique até meados do século XXI, é provável que se dê continuidade a problemas relativos ao aquecimento do planeta. Aliado a isso, tem-se uma escalada crescente dos preços do petróleo (com aumento dos preços em todos os segmentos dessa cadeia), bem como, impasses nesse modelo energético em várias regiões do mundo. (MATTEI, 2010)

É a partir da “Crise do Petróleo”, iniciada na década de 1970, que reacendeu os estudos para se produzir os biocombustíveis.

A primeira grande crise energética vivenciada pelo capitalismo foi deflagrada pela OPEP em 1973, através de uma forte redução na produção de petróleo e, consequentemente, resultou numa abrupta elevação do preço do barril de petróleo no mercado internacional, em torno de 300% entre 1973/74. O preço do barril passou de US$ 2,90 para US$ 11,65 em apenas três meses, em preços correntes. Essa redução na oferta pode ser explicada, em parte, porque os principais países produtores mundiais de petróleo perceberam que essa fonte de energia não é um bem renovável, ou seja, um dia ela se esgotará, mas também existem questões políticas e econômicas envolvidas por trás desse comportamento por parte dos produtores de petróleo. A segunda grande elevação do preço do barril de petróleo ocorreu em 1979, alcançando US$ 26, em 1980 chegou a US$ 32 e em 1981 aproximadamente US$ 40 (SCANDIFFIO, 2005 apud GARCIA, pag. 31, 2007).

Segundo dados do Biodieselbr (2007), a segunda elevação no preço do barril de petróleo, foi motivada pela paralisação da produção iraniana e pelo embargo imposto pelos principais produtores de petróleo, aos Estados Unidos e países europeus, devido ao fato dessas nações terem apoiado Israel na Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão). Esse

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movimento de expansão/retração dos preços do petróleo vem se registrando desde então, com efeitos sobre as políticas de estímulo aos combustíveis alternativos. (MATTEI, 2010, p.735)

Conforme acima exposto, a maneira que os países acharam para superar essas duas fortes crises do petróleo foi utilizar a energia de forma econômica ou investir em fontes de energias renováveis.

No caso do biodiesel, as principais experiências foram brasileiras, que até ensaiou nas décadas de 1970/80 o uso comercial de óleos vegetais como combustível, visando à substituição parcial ou total do óleo diesel, criando para isso o Plano de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos (Pró-óleo) (MAPA, 2005).

1.2 - Vantagens e desvantagens do uso do Biodiesel

Por ser um combustível “limpo”, a inserção do biodiesel na matriz energética acarreta uma série de benefícios à sociedade, ao meio ambiente e a economia. Todavia, como é de se esperar, essa nova energia também vem acompanhada de alguns malefícios.

A utilização do biodiesel apresenta vantagens ecológicas e socioeconômicas. Como vantagem ecológica, essa energia caracteriza-se por ser renovável e não emitir dióxido de enxofre, que polui o meio ambiente. Do ponto de vista socioeconômico, observa-se que este tipo de produção pode contribuir para geração de emprego e renda para o homem do campo, por não necessitar de mão de obra especializada, e a produção desses grãos pode ser feita em localidades próximas, para evitar o gasto com transporte, o que o tornaria dispendioso. (RATHMANN et al., 2005 apud GARCIA, 2007).

Ainda em termos de vantagens ambientais, está pode vincular a ganhos econômicos, algumas vantagens econômicas podem ser obtidas por meio ao protocolo Quioto, que criou o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), prevendo a redução certificada das emissões de gases do efeito estufa. “Uma vez conquistada essa certificação, quem promove a redução da emissão de gases poluentes tem direito a créditos de carbono e pode comercializá-los com os países que têm metas a cumprir.” (BRASIL, 2012)

Quanto às vantagens técnicas, segundo o Biodieselbr (2006), o biodiesel tem fácil transporte e fácil armazenamento, devido ao seu menor risco de explosão. E, de acordo com Oliveira e Costa (2002), outra vantagem técnica, é a adaptabilidade do biodiesel aos motores ciclo diesel, que não precisam adaptação para a utilização do novo biocombustível.

As desvantagens do uso do biodiesel estão mais relacionadas com a parte técnica. Segundo Garcia (2007), o biodiesel puro (B100) apresenta um conteúdo energético cerca de

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11% menor do que o óleo diesel mineral, e em consequência, pode gerar perda de potência nos motores, alcançando uma redução da ordem de 4 a 7% na potência máxima e, no caso do uso em misturas, essa perda variará de acordo com a percentagem aditivada. Outro problema relacionado ao biodiesel é a oxidação, que impede que o combustível seja estocado por um longo período de tempo. Ainda no que tange à parte técnica, a ANP (2014) apud MAPA (2015), registra a necessidade de trocas mais frequentes dos filtros de combustível quando da utilização do B20 em motores off-road. No entanto, verificou-se a inexistência de impactos indesejados sobre a durabilidade e desgaste de componentes em testes realizados pela empresa Camargo Corrêa e pelo Ladetel. Além disso, Garcia (2007) ainda destaca os custos elevados de produção, a volatilidade do preço das matérias-primas, e capacidade de produção limitada.

1.3 – A produção de biodiesel no Brasil

A definição do biodiesel partiu de diversas óticas diferentes, principalmente as relacionadas com a nomenclatura e especificações, mas, em todas as definições, se manteve a mesma essência.

Segundo o Decreto Presidencial nº 5.297, de 6 de dezembro de 2004, artigo 1º, o biodiesel é: “combustível para motores a combustão interna com ignição por compressão, renovável e biodegradável, derivado de óleos vegetais ou de gorduras animais, que possa substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil (...)”

Segundo dados da ANP (2016), o biodiesel é um combustível renovável obtido a partir de um processo químico denominado transesterificação1. E, Quimicamente, o biodiesel pode ser definido como um éster monoalquílico de ácidos graxos de cadeia longa com características físico-químicas semelhantes as do óleo diesel mineral. (HOLANDA, 2004)

Segundo Khalil (2006), Consultor Sênior do Centro de Pesquisas da Petrobras, o biodiesel pode ser obtido por diversos métodos, existem os químicos, os bioquímicos e os termoquímicos.

Químicos: Transesterificação Alcalina e Esterificação Ácida2

Bioquímicos: Transesterificação enzimática

1

Por meio desse processo, os triglicerídeos presentes nos óleos e gordura animal reagem com um álcool primário, metanol ou etanol, gerando dois produtos: o éster e a glicerina.

2

A esterificação é uma reação química reversível entre um ácido carboxílico e um álcool, produzindo éster e água. (Lana Magalhães, 2018)

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Termoquímicos: Craqueamento catalítico e Hidrocraqueamento

Todavia, este primeiro somente pode ser comercializado como o combustível renovável biodiesel, após passar por processos de purificação para adequação à especificação quanto à qualidade, sendo destinado principalmente para aplicação em motores de ignição por compressão (ciclo Diesel).

O Brasil possui uma extensa variedade de matérias-primas, potencialmente, produtoras de biodiesel. Dentre elas, pode-se citar o dendê (Elaeais guineensis, Jaquim), a macaúba (Acrocomia aculeata, Jacq.), a tucumã (Astrocaryum murmuru, Mart.), a inajá (Maximiliana

maripa) e o babaçu (Orbignya phalerata, Mart.), mamona (Ricinus communis), algodão (Gossypium), soja (Glycine max), o óleo de girassol (Helianthus annuus) o óleo de amendoim (Arachis hypogaea) e as gorduras animais.

Apesar de possuir essa vastar variedade de oleaginosas, atualmente, 99,6% da produção brasileira, é obtida através do óleo da soja e o restante, advém de gordura animal e outras fontes. A figura 2 ilustra as matérias-primas com maior destaque para fabricação do biodiesel dentre a agricultura familiar, no ano de 2016, por região brasileira. Vale salientar que, nos anos anteriores, houve a produção de amendoim, canola, dendê, gergelim e girassol.

Figura 2 – Potencialidade para produção de biodiesel

(25)

A figura 3 demonstra que, na região Norte do Brasil, destaca-se apenas a produção de soja. No Nordeste, há uma diversidade maior de matérias-primas, com a produção de mamona, soja, coco e óleo de peixe. No Centro-Oeste, apenas a soja domina o mercado. Na região Sul, soja e óleo de frango e no Sudeste, soja, mamona e macaúba.Deste modo, a maior parte do biodiesel produzido do país é oriundo da soja.

Aprofundando um pouco mais, a região Nordeste, objeto desse estudo, observa-se as matérias-primas potenciais de cada estado para o ano de 2016.

Tabelas 1 – Oleaginosas potenciais da região Nordeste

Estado

Oleaginosas

Ceará (CE) Mamona e óleo de peixe Bahia (BA) Mamona, soja e óleo de peixe

Alagoas (AL) Coco

Sergipe (SE) Coco

Rio Grande do Norte (RN) -

Paraíba (PB) -

Pernambuco (PE) -

Maranhão (MA) -

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados do MDA, Balanço do Selo Combustível Social, 2016.

A partir da observação da tabela acima, constata-se que há uma diversidade de matérias-primas na região Nordeste, potenciais para a produção do biodiesel, o que não ocorre com as demais regiões, pelo fato de concentrarem a produção de soja. Todavia, o rendimento e o teor do óleo caracterizam as oleaginosas mais viáveis para esse novo combustível. Conforme dados da tabela 2, observa-se que, apesar do amendoim, o coco e algodão permitirem as maiores rendimentos de produção, seus custos de produção são maiores que os das demais oleaginosas, isto pode explicar o fato de a soja ser a principal cultura adotada para produção, devido a seu alto rendimento, assim como um custo de produção inferior as das citadas anteriormente. É importante destacar a mamona e o girassol que possuem baixos custos de produção, o que tem permitido a maior inserção de produtores familiares menos capitalizados, todavia, seu baixo rendimento em relação às demais produtos destacados, esclarece sua baixa inserção dentro da matriz produtiva.

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Tabela 2 – Características de culturas oleaginosas no Brasil em 2017

Oleaginosa

Rendimento médio

(kg/ha)

Teor de óleo

(%)*

Custo de Produção

(R$/ha)**

Algodão 47.758 15,0 4.621 Amendoim 63.951 40,0 – 43,00 3.675 Girassol 18.250 38,0 – 48,0 1.050 Mamona 5.952 45,0 – 50,0 1.105*** Soja 40.092 18,0 2.016 Coco 88.454 55,0 – 60,0 12.225

Fonte: elaboração própria a partir de dados do IBGE, 2017. *Dados obtidos de Nogueira apud BIODIESELBR, 2006. **Dados obtidos do Agrianual (2013)

***Dados obtidos Embrapa (2018)

O biodiesel é obtido por diferentes métodos e inúmeras matérias-primas. Todavia, esse trabalho irá abordar somente o método químico de transesterificação, com base em óleos vegetais para obtenção do biocombustível biodiesel.

Figura 3 – Fluxograma do Processo de Produção do Biodiesel

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Após demonstrar o fluxo de obtenção de biodiesel e as principais características técnicas deste processo, vale apresentar, também, os principais agentes envolvidos na produção desse biocombustível, ou seja, apresentar sua cadeia produtiva.

Figura 4 - Cadeia produtiva do biodiesel

Fonte: RATHMANN, 2007 adaptado da ANP.

A base institucional é caracterizada pelas ações governamentais e não governamentais, sendo elas materializadas em programas públicos de incentivos a produção e uso do biodiesel.

A cadeia de produção do biodiesel pode ser distribuída em quatro fases:

a) Primeira fase: temos a fabricação do óleo vegetal, como demonstra a figura 4. Nessa fase temos o fornecimento das sementes, a maioria proveniente da agricultura familiar, máquinas, adubos e herbicidas. Essa fase contempla ainda as atividades de transporte e armazenagem. Segundo Garcia (2007), Destaca-se ainda nesta fase, a questão do fornecimento de assistência técnica e das linhas de crédito, pois o capital e o conhecimento também são considerados insumos de produção. O fornecimento do crédito e do conhecimento podem ser inteiramente público ou privado, ou mesmo misto, como é o caso brasileiro.

b) Segunda fase: Essa fase é caracterizada pela produção industrial do biodiesel, que após reagir com o álcool, no processo de transesterificação, torna-se biodiesel. Ela demanda óleo vegetal, catalisadores, álcool, energia elétrica e mão de obra.

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c) Terceira fase: é a fase de distribuição do biodiesel, onde há a movimentação entre as etapas 1 e 2 da cadeia produtiva do biodiesel. Nessa, há o transporte dos insumos, da produção de matéria primas, do óleo vegetal, e do biodiesel até o consumidor. Vale salientar que nesta fase, também, destaca-se a função dos revendedores atacadistas e varejistas.

d) Quarta fase: a última etapa da cadeia produtiva do biodiesel é o consumidor final, que pode ser um indivíduo dono de um veículo movido a óleo diesel, uma empresa que possui uma frota de veículos automotores ou o mercado exterior.

E assim, essa cadeia produtiva é responsável por gerar vários empregos, tanto por meio da agricultura familiar quanto pelo lado da indústria nacional.

Baseado na importância do biodiesel, como combustível, foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel que será discorrido no capítulo 2.

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CAPÍTULO 2 - A GÊNESE DO PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL NO BRASIL E NO MUNDO.

2.1 - Antecedentes do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB)

Conforme dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o primeiro ensaio com uso de biocombustíveis ocorreu em 1900, por Rudolf Diesel, em Paris, com um motor movido a óleos vegetais. Segundo Rathmann et al. (2005) apud Mattei (2010), após os ensaios de Diesel, em 1937, foi concedida a primeira patente relativa aos combustíveis oriundos de óleos vegetais ao pesquisador G. Chavanne, em Bruxelas (Bélgica). Já em 1938, segundo os mesmos autores, foi realizado o primeiro registro de uso de combustíveis de óleos vegetais nos ônibus que fazia a linha Bruxelas-Lovaina. Além destes, há diversos outros registros ainda durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em que carros de guerra eram abastecidos com combustível de origem vegetal.

No entanto, a propagação do biodiesel, como combustível, vai acontecer após a segunda crise do petróleo, ocorrida no ano de 1973. É a partir daí, que os países desenvolvidos irão começar a buscar alternativas para substituir o petróleo. Dentre os países pioneiros deste feito, destacam-se a Áustria, França e Alemanha, que, desde 1980, vem implementando políticas para desenvolver esse combustível. Nos EUA, políticas de incentivo ao biodiesel só foram lançadas por volta da década de 90. Este foi o caminho traçado pelo biodiesel no mundo, que demonstrou seu potencial como combustível (MATTEI, 2010).

Na América Latina, deve-se destacar, também, a produção de biodiesel na Argentina, que, desde 2001, vem incentivando a expansão deste produto. Através do Decreto 1.396 (novembro de 2001), instituiu-se o “Plano de Competitividade do Combustível Biodiesel” com a finalidade de incentivar investimentos (externos e internos) na produção do combustível, cuja matéria-prima básica é a soja e, com menor expressão, o girassol. Neste mesmo ano, também foram instituídas normas de controle de qualidade do produto, sobretudo em termos dos testes exigidos e das regras para sua comercialização. (MATTEI, 2010, p. 734)

No Brasil, entretanto, antes de existir o biodiesel, a solução foi a produção de etanol, também como resposta às crises do petróleo, fazendo com que o governo brasileiro em 1975 lançasse o Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL3, que tinha como principal diretriz

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enfrentar a crise mundial do petróleo e incentivar a utilização do álcool como combustível e, assim ir, aos poucos, substituindo os cada vez mais os combustíveis fósseis.

2.2 – O Programa Nacional do Álcool

A experiência mais importante do Brasil com biocombustíveis se deu com o Programa Nacional do Álcool. Programa criado pelo governo brasileiro para substituir, ao longo do tempo, o uso de derivados do petróleo. O outro motivo para desenvolver esse programa foi reduzir a dependência externa e superar as fortes crises do petróleo, que ao oscilar, comprometia toda a economia mundial.

O Proálcool foi criado em 14 de novembro de 1975, pelo decreto n° 76.593, com o intuito de substituir total ou parcialmente a gasolina. A principal matéria-prima utilizada era a cana-de-açúcar e a mandioca. A cana-de-açúcar tem o mais alto retorno para os agricultores por hectare plantado. O custo de produção do açúcar no país é baixo, podendo, dessa maneira, competir no mercado internacional. (BIODIESELBR, 2006)

O esforço foi dirigido, sobretudo, para a produção de álcool anidro para a mistura com gasolina. Nessa fase, o esforço principal coube às destilarias anexas. A produção alcooleira cresceu de 600 milhões (1975-76) para 3,4 bilhões (1979-80) (BIODIESELBR, 2006).

Após o Segundo Choque do Petróleo no final da década de 1970, o governo resolve criar medidas mais drásticas para fixar o Proálcool, e assim ele institui o Conselho Nacional do Álcool - CNAL e a Comissão Executiva Nacional do Álcool - CENAL para administrar melhor o programa (BIODIESELBR, 2006).

A partir de 1986, o cenário internacional do mercado petrolífero é alterado. Os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20. Esse novo período, denominado “contra choque do petróleo”, colocou em xeque os programas de substituição de hidrocarbonetos fósseis e de uso eficiente da energia em todo o mundo. (BIODIESELBR, 2006). No Brasil, esses efeitos foram sentidos pela falta de recursos para continuarem investindo no programa.

Mesmo com a redução do preço do barril de petróleo, o PROÁLCOOL ainda conseguiu, substituindo gasolina por álcool, reduzir 10 milhões de automóveis consumidores de gasolina rodando no Brasil, o que diminuiu a dependência do país do petróleo importado (Lamonato, 2014). Segundo Biodieselbr (2006), essa substituição no período de 1976-2004

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representou uma economia de US$ 61 bilhões (dólares de dezembro) ou US$ 121 bilhões (com os juros da dívida externa).

O maior legado deixado por esse programa, e sem dúvidas o mais importante, foi a introdução do uso dos combustíveis renováveis na matriz energética. E diante dessa trajetória, incentivando o uso de biocombustíveis, que se abriram portas para a introdução do biodiesel.

2.3– A origem e evolução do PNPB

Foi a partir dos bons resultados com a utilização do álcool, como combustível veicular, que o biodiesel entrou como uma nova fonte energética para o mundo.

Os primeiros registros do interesse do Brasil por biodiesel ocorrem ainda na década de 1920, quando o Instituto Nacional de Tecnologia testava combustíveis alternativos e renováveis. Durante a Segunda Guerra Mundial, houve algumas tentativas experimentais de uso do biodiesel também. (SUAREZ et al, 2014)

Ainda segundo Suarez (2015), houve relato, na década de 40, do uso de óleo com a reação de craqueamento, mas não se sabe se tentaram usar o processo de transesterificação, também.

Na década de 1960, uma experiência partiria da iniciativa privada, mais propriamente das indústrias Matarazzo. O grupo buscava produzir óleo comestível a partir dos grãos de café. Para lavar o café de forma a retirar suas impurezas, impróprias para o consumo humano, foi usado o álcool da cana-de-açúcar. A reação entre o álcool e o óleo de café resultou na liberação de glicerina, redundando em éster etílico, ou seja, biodiesel. O resultado acabou sendo relatado anos depois em debates com indústrias automobilísticas. . (SUAREZ et al, 2014)

A primeira patente de biodiesel foi instituída na Universidade Federal do Ceará, no final dos anos 70, e o responsável por esse feito, foi o engenheiro químico, Expedito Parente. Houve também, na década de 80, outra iniciativa de tornar o biodiesel um combustível nacional, se tratava o projeto Dendiesel, biocombustível proveniente do óleo de dendê. Segundo Suarez (2014), o projeto era defendido pelo pesquisador Hernani de Sá, que se tornou um grande defensor do uso dos combustíveis renováveis. Ele acreditava que o Brasil poderia se tornar o pioneiro na substituição do diesel mineral, através do óleo de dendê. Tanto acreditava que, em 1984, Hernani percorreu o Brasil em um carro da Volkswagem, utilizando apenas biocombustível, para provar que o projeto era viável.

Ainda na década de 1980, sob a ótica governamental, quando, com o envolvimento de outras instituições de pesquisas da Petrobrás e do Ministério da Aeronáutica, foi criado o

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Prodiesel, cujo combustível foi testado por fabricantes de veículos a diesel. A UFCE também desenvolveu o querosene vegetal de aviação para o Ministério da Aeronáutica. Após os testes em aviões a jato, o combustível foi homologado pelo Centro Técnico Aeroespacial (SUAREZ, 2014).

Em termos de trajetória histórica, verificam-se distintas fases na incorporação do biodiesel à agenda das políticas públicas. Em 1980, Governo Federal lançou o Programa Nacional de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos (Proóleo), que continha o Prodiesel como um de seus subprogramas. Ainda naquele ano, foi criada a Empresa Cearense Produtora de Sistemas Energéticos (Proerg), em Fortaleza, de onde surgiram dois tipos de óleos combustíveis: o óleo de origem vegetal, obtido através da semente de maracujá; e óleo de origem animal, extraído de peixes (MATTEI, 2010). Contudo, nos anos posteriores, a crise do petróleo diminuiu, fazendo com que os agentes públicos perdessem o interesse pelo tema, e desativassem o programa, consequentemente a Proerg.

No ano de 1990, houve a reestruturação da matriz energética e o retorno do tema biodiesel, como combustível veicular, no qual a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através de testes com o biodiesel em motores de combustão, constatou a viabilidade econômica do biodiesel como combustível.

Desde a década de 80, o Brasil vem direcionando esforços para desenvolver o biodiesel no país, como brevemente discorrido anteriormente, mas o primeiro programa de incentivo à produção do Biodiesel surgiu no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, no ano de 2002, se trata do Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel - PROBIODIESEL, que tinha como diretriz, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (2002), "promover o desenvolvimento científico e tecnológico de biodiesel, a partir de ésteres etílicos de óleos vegetais puros e/ou residuais".

Em linhas gerais, esse programa tinha como objetivos reduzir a dependência do petróleo; expandir os mercados das oleaginosas; impulsionar a demanda por combustíveis alternativos; e reduzir a emissão de gases poluentes, visando atender as regras do Protocolo de Kyoto, do qual o Brasil é signatário (MATTEI, 2010).

Ainda no ano de 2003, o Ministério de Minas e Energia (MME) institui o Programa Combustível Verde – Biodiesel, cujo objetivo era prover a sociedade com diferentes combustíveis, com preços estruturados de forma aderente às políticas públicas. A política surgia da necessidade de diversificar as fontes de combustíveis líquidos, reduzir as importações de diesel, geração de emprego e renda no setor agrícola, fixação das famílias no

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campo, utilização de terras inadequadas para produção de alimentos e, disponibilizar um combustível ambientalmente correto, o biodiesel. O Combustível Verde seria empregado, ainda, como um instrumento de definição de uma nova política nacional para uso do biodiesel, todavia, esse programa também não obteve êxito. (FOSTER, 2003)

Como a tentativa de avançar com o programa Combustível Verde não deu certo, ainda em 2003, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PROBIODIESEL volta à agenda pública e sofre uma importante reformulação. E através de decreto presidencial, o governo cria o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com intuito de discutir a viabilidade econômica do novo combustível, biodiesel. Segundo Mattei (2010), este grupo, produziu um relatório que enfatizou aspectos relacionados à produção, distribuição, comercialização, tributação e controle de qualidade. Os resultados obtidos serviram de base para as reformulações, e assim, ele acenou para que a produção de biodiesel ocorresse de forma descentralizada, contemplando as diversas rotas tecnológicas, matérias-primas, categorias de produtores, características regionais e o tamanho das plantas industriais. Dentre as mudanças importantes, destaca-se a geração de emprego e renda para o homem do campo.

Com alterações significativas, o PROBIODIESEL passa a se chamar Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Nesse período o "Governo Federal organizou a cadeia produtiva, definiu as linhas de financiamento, estruturou a base tecnológica e editou o marco regulatório do novo combustível" (MME, 2017).

A forma de implantação do PNPB foi estabelecida por meio do Decreto de 23 de dezembro de 2003. A estrutura gestora do Programa ficou definida com a instituição da Comissão Executiva Interministerial (CEI), possuindo, como unidade executiva, um Grupo Gestor (MME, 2017).

Acrescenta-se, ainda, em termos de estrutura, a criação da Rede Brasileira de Tecnologia do Biodiesel (RBTB) pela CEI em 2004, formada por entidades de pesquisa residentes em 23 Estados. A RBTB tem por objetivo o provimento de serviços de assistência técnica e a realização de pesquisas nas diversas áreas que envolvem a produção e a comercialização de biodiesel e, mesmo de seus subprodutos e de coprodutos (ABREU, VIEIRA & RAMOS, 2006).

Após concluir toda a estrutura organizacional e institucional para uso e produção do biodiesel o governo brasileiro institui a Medida Provisória nº 214, de 13 de setembro de 2004, criando assim, a figura jurídica do biodiesel. E em dezembro do mesmo ano, o presidente Lula, lança oficialmente o PNPB, que segundo o MME tinha como principais diretrizes:

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 Introduzir o biodiesel na matriz energética brasileira de forma sustentável, permitindo a diversificação das fontes de energia, o aumento na participação das energias renováveis e a segurança energética;

 Geração de emprego e renda para o homem do campo, com a produção de matérias-primas;

 Redução de disparidades regionais. Com ênfase no desenvolvimento do Norte e Nordeste;

 Diminuição das emissões de gases do efeito estufa;

 Economia de divisas, com a redução na importação do diesel fóssil;

 Incentivos fiscais e criação de políticas públicas direcionadas as regiões mais carentes.

 Uso de diferentes matérias-primas oleaginosas e rotas tecnológicas (transesterificação etílica ou metílica, craqueamento, etc.).

Apesar de substituir o diesel de origem fóssil, em qualquer uma das suas aplicações, a inserção do biodiesel na matriz energética brasileira deverá ocorrer de forma gradual e focada em mercados específicos, que garantam a irreversibilidade do processo (BIODIESELBR, 2006). E assim, o governo estipulou metas para, aos poucos, ir misturando o biodiesel ao diesel do petróleo, até obter uma mistura ideal.

A sua mistura ao diesel fóssil teve início em 2004, em caráter experimental e, entre 2005 e 2007, no teor de 2%, a comercialização passou a ser voluntária. A obrigatoriedade veio no artigo 2º da Lei n° 11.097/2005, que introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira. Em janeiro de 2008, entrou em vigor a mistura legalmente obrigatória de 2% (B2), em todo o território nacional. Com o amadurecimento do mercado brasileiro, esse percentual foi sucessivamente ampliado pelo CNPE até o atual percentual de 7,0%, conforme pode ser observado: (ANP, 2016).

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Figura 5 - Evolução do percentual de teor de biodiesel presente no diesel fóssil

Fonte: UBRABIO (2018)

A figura acima mostra a evolução do percentual de teor de biodiesel presente no diesel fóssil ao longo dos anos. A regra de adição foi regulamentada pelo Decreto presidencial de número 5.448 do ano de 2005. No Decreto fica estabelecido a adição de 2% de biodiesel ao diesel fóssil em 2005 (Mistura B2).

Em 2008, a mistura B2 passou a ser obrigatória em todo o país e nos anos posteriores esse percentual aumentou. Já em 2010, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) elevou o percentual para 5% e o B5 passou a ser obrigatório, antecipando em três anos a meta estabelecida pela Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005. (UBRABIO, 2018)

Após alguns anos de estagnação do Programa, autorizam a mistura de 6% em 2014 (mistura B6) que logo alcançou os 7% no ano posterior.

Em novembro de 2015, a Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional do Senado aprovou o PLS 613/2015, que previa que a mistura obrigatória do combustível renovável ao óleo diesel chegasse progressivamente a 10% em até três anos. O Projeto de Lei foi aprovado por unanimidade pelos senadores e seguiu para a Câmara dos Deputados, onde tramitou em regime de urgência e também contou com apoio unânime dos deputados, fazendo com que fosse sancionado em março de 2016, como a Lei nº 13.263/2016. (UBRABIO, 2018)

Após fixar o novo percentual da mistura de biodiesel ao diesel, ficam estabelecidos os prazos para as misturas do B8, B9 E B10. Vale lembrar, também, que para a criação do novo marco regulatório para a mistura B15, faltando apenas uma decisão do CNPE. De acordo com

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a UBRABIO (2018) em março de 2017 começou a se utilizar a mistura B8 e no ano seguinte a B10.

Dentre os principais objetivos do PNPB com a evolução dessas misturas de biodiesel, existia o forte apelo da inserção social dos agricultores familiares e, para que esse objetivo fosse atendido o Governo Federal instituiu por meio do Decreto nº 5.297, de 6 de dezembro de 2004 o “Selo Combustível Social (SCS)” que tratará de incluir esses agricultores que estiverem enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).

2.4 – O Selo Combustível Social

O Selo Combustível Social é um componente de identificação, criado a partir do Decreto Nº 5.297, de 6 de dezembro de 2004, concedido pelo MDA ao produtor de biodiesel que cumpre os critérios descritos na Portaria nº 512, de 5 de setembro de 2017. O Selo confere ao seu possuidor o caráter de promotor de inclusão social dos agricultores familiares enquadrados do Pronaf (MDA, 2018).

A concessão do direito de uso do Selo Combustível Social permite ao produtor de biodiesel ter acesso às alíquotas de PIS/PASEP e COFINS com coeficientes de redução diferenciados para o biodiesel, que varia de acordo com a matéria-prima adquirida e região da aquisição, incentivos comerciais e de financiamento. (MDA, 2018)

Conforme Decreto Nº 7.768, de 27 de Junho de 2012 e da Lei Nº 12.865, de 9 de Outubro de 2013que dispõe sobre o tratamento tributário do biodiesel, segue o quadro abaixo que designa os impostos incidentes sobre esse combustível.

Quadro 1- Valores da incidência do PIS/PASEP e COFINS no biodiesel R$/m³ Regiões/Matérias-primas Alíquota PIS/PASEP COFINS

Qualquer matéria-prima 0,7802 R$ 26,41 R$ 121,59

Norte, Nordeste e Semiárido

Mamona e Palma 0,8129 R$ 22,48 R$ 103,51

Agricultor familiar enquadrado no PRONAF 0,9135 R$ 10,39 R$ 47,85 Soja

Soja 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00

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Através do quadro acima, se pode observar que, o principal incentivo do programa é reduzir o valor das alíquotas de PIS/PASEP e CONFINS. Algumas oleaginosas e regiões auferiram alguns incentivos a mais que outras, conforme estipula o Nº 7.768, de 27 de junho de 2012 e a Lei Nº 12.865, de 9 de Outubro de 2013, que institui para o biodiesel fabricado a partir de oleaginosas fabricadas por agricultores familiares integrantes do PRONAF.

Para o biodiesel fabricado a partir de qualquer matéria-prima que seja produzida pela agricultura familiar, independentemente da região, a alíquota efetiva é R$ 0,78/M³. E por fim, para o biodiesel fabricado a partir da soja, a alíquota é zero, independente da região plantada.

Vale salientar que esse incentivo dado à soja contraria o relatório do GTI, quanto a não priorização de matéria-prima, afetando negativamente o PNPB.

Importante avanço é a adoção pelo CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária) de importantes convênios para desonerar o mercado de biodiesel, Convênios n.º 11/05 e 113/06, os quais possibilitam os Estados concederem isenção nas operações internas com produtos vegetais destinados ao biodiesel e reduzir a base de cálculo do ICMS devido nas saídas deste produto, reduzindo o montante do imposto a pagar na comercialização. Os convênios incentivam tanto os produtores de matéria-prima usada na fabricação do biodiesel, quanto os comerciantes. Mas, não são autoaplicáveis. Os Estados devem aderir e integrá-los em seus Regulamentos do ICMS. Contudo, a questão principal que dará maior segurança jurídica e incentivo às operações do biodiesel ainda não está normatizada, falta regulamento específico para o biodiesel.

Hoje, a maioria dos Estados aplica o mesmo tratamento dado ao diesel com as alíquotas gerais do imposto, quais sejam, 17% e 18%, e em apenas 10 Estados há diferenciação de alíquota do ICMS entre o diesel e o biodiesel. (BIODIESELBR, 2006)

Outra vantagem do Selo Combustível Social é o acesso às melhores condições de financiamento junto aos bancos que operam o Programa (ou outras instituições financeiras que possuam condições especiais de financiamento para projetos) (MDA, 2010).

Após adquirir os benefícios do Selo, o produtor deve assumir algumas obrigações descritas na Portaria nº 512 de 5 de Setembro de 2017, onde pode-se grifar:

 A aquisição de um percentual mínimo de matéria prima dos agricultores familiares no ano de produção de biodiesel;

 Assegurar capacitação e assistência técnica a esses agricultores familiares contratados.

 Firmar contratos com os agricultores familiares negociados com a participação de uma entidade representativa dos mesmos (sindicatos, federações). A

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agricultura familiar organizada na forma de sindicatos ou federações terá que dar anuência por meio de carta para validar o que foi acordado entre as partes;

 Repassar cópia dos contratos devidamente assinados pelas partes para o agricultor familiar contratado e para a entidade representativa (sindicato, federação, outros);

 Capacitar os agricultores e agricultoras familiares para a produção de oleaginosa(s), de forma compatível com a segurança alimentar da família e com os processos de geração de renda em curso, contribuindo para a melhor inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel e para o alcance da sustentabilidade da propriedade.

 Repassar ao agricultor familiar assistido pelo técnico, cópia do laudo de visita devidamente assinado;

De 2005 a 2014, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) concedeu o uso do Selo Combustível Social a várias unidades produtoras de biodiesel. Em 2005, iniciaram com 3 unidades detentoras do selo, e em 2014, o saldo acumulado resultou em 41 unidades realizando parceria com a agricultura familiar.

Outra maneira que o Governo Federal encontrou para alavancar a produção do biodiesel foi por meio da oferta de linhas de crédito destinadas aos produtores agrícolas e industriais. Dentre as linhas de créditos criadas para beneficiar o produtor de biodiesel, pode-se citar o Pronaf biodiepode-sel, o Pronaf Agroindústria e Pronaf Eco.

Pronaf biodiesel: é um crédito para o financiamento do custeio das lavouras de o Plano Safra 2005/2006 16 oleaginosas, inclusive, a mamona, destinadas à produção de biodiesel. Será garantida, conforme constará no Manual de Crédito Rural (MCR), a concessão de um novo crédito de custeio ao agricultor familiar, independentemente, do montante utilizado na safra de verão precedente. (MDA, 2005) Todavia, vale salientar, que essa linha de crédito só vigorou durante os anos de 2005 e 2006, conforme previa o Plano Safra 2005/2006. Nos anos posteriores, a linha foi desativada e o MDA passou a utilizar para fomentar o uso de biocombustíveis o Pronaf Eco, que continua ativo até hoje.

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Pronaf Agroindústria: Essa linha de crédito é destinada para a compra de máquinas e equipamentos para o processo industrial de obtenção do biodiesel. Linha para o financiamento de investimentos, inclusive em infraestrutura, que visam o beneficiamento, o processamento e a comercialização da produção agropecuária e não agropecuária, de produtos florestais e do extrativismo, ou de produtos artesanais e a exploração de turismo rural. (MDA, 2018)

Pronaf Eco (2007): Investimento para aproveitamento hidroenergético, tecnologia de energia renovável, tecnologias ambientais, projetos de adequação ambiental, adequação ou regularização das unidades familiares à legislação ambiental, implantação de viveiros de mudas, investimento em silvicultura, Investimento em dendê (Pronaf Eco Dendê) Investimento em seringueira (Pronaf Eco Seringueira). (MDA, 2018). A única desvantagem dessa linha, é que nela, o biodiesel compete com outras culturas de oleaginosas, assim também, como com o fomento à produção de álcool.

Além destes, o BNDES lançou o Programa de Apoio Financeiro a Investimentos em Biodiesel, onde, um dos requisitos para obter o financiamento é possuir o selo Combustível Social. Segundo Biodieselbr (2006), esse financiamento consiste na participação do banco em até 90%, para projetos com selo Combustível Social e até 80%, para projetos sem selo Combustível Social. Os prazos e as taxas de juros da operação foram definidos de acordo com o disposto nas Políticas Operacionais do Banco, excerto, as operações para aquisição de máquinas e equipamentos.

A comercialização desse biodiesel produzido pela Agricultura Familiar no Brasil funcionará na forma de leilões públicos, os quais serão organizados pela Agência Nacional de Petróleo.

2.5 - Os Leilões de Biodiesel

Os leilões de biodiesel são regulados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), que, após ter seu mercado compulsório estabelecido pela Lei 11.097, de 13 de janeiro de 2005, o Ministério de Minas e Energia (MME), através da Portaria nº 483, de 03 de outubro de 2005, cria as diretrizes para realizar os leilões públicos. Assim, a ANP fica responsável de regular e

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fiscalizar a contratação do biodiesel entre os fornecedores e os adquirentes dos Leilões, e sua posterior comercialização para distribuidores de combustíveis até o consumidor final. Os Leilões Públicos deverão ser promovidos com a periodicidade e a antecedência necessárias para assegurar o adequado suprimento do mercado consumidor.

De acordo com a ANP (2018), o edital padrão do leilão estabelece que o processo passe por oito etapas, que estão listadas abaixo:

Etapa 1: habilitação dos fornecedores de biodiesel, promovida diretamente pela ANP por meio de análise documental.

Etapa 2: apresentação das ofertas pelos fornecedores para atender à mistura obrigatória. Cada fornecedor pode apresentar até três ofertas por unidade produtora. O preço apresentado para cada oferta, em reais por metro cúbico, na condição FOB, incluindo PIS/PASEP e COFINS, sem ICMS, não pode ser superior ao preço máximo de referência (PMR) regional, que é calculado pela ANP.

Etapa 2.a: apresentação de uma oferta individual de venda, com indicação do preço unitário e do volume pelos fornecedores, exclusivamente para fins de comercialização de biodiesel de uso voluntário. O volume ofertado por cada fornecedor não poderá ser superior ao seu saldo total de oferta não vendida para fins de adição obrigatória. Na segunda rodada de lances o fornecedor poderá alterar apenas o preço unitário.

Etapa 3: seleção das ofertas pelos adquirentes, com origem exclusiva em fornecedores detentores do selo combustível social. Nessa etapa os distribuidores disputam os lotes de biodiesel ofertados pelos produtores detentores do selo.

Etapa 4: reapresentação de preços de ofertas pelos fornecedores. Nessa etapa, os fornecedores deverão apresentar novos preços, sempre iguais ou inferiores àqueles apresentados na etapa 2, visando a sua participação na etapa 5.

Etapa 5: seleção das demais ofertas pelos adquirentes, com origem em quaisquer fornecedores, independentemente de possuírem o selo combustível social.

Etapa 5.a: seleção das ofertas pelos adquirentes para fins de comercialização de biodiesel de uso voluntário.

Etapa 6: consolidação e divulgação do resultado final, que é publicado no Diário Oficial da União (DOU).

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Quanto aos fornecedores industriais de biodiesel interessados em participar dos leilões, esses deverão atender aos seguintes requisitos, conforme Portaria nº 81, de 26 de Novembro de 2014:

1. Ser detentor do Selo Combustível Social ou apresentar projeto reconhecido pelo MDA como possuidor dos requisitos necessários à obtenção do selo e;

2. Cooperativa agropecuária do agricultor familiar: a cooperativa que esteja habilitada como fornecedora de matéria-prima aos produtores de biodiesel para os fins de concessão e manutenção do Selo Combustível Social;

3. Produtor de biodiesel: ser pessoa jurídica constituída na forma de sociedade sob as leis brasileiras, com sede e administração no país, beneficiária de autorização da ANP e possuidora de Registro Especial de Produtor de Biodiesel junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil.

Segundo a ANP (2018) os leilões são feitos a cada dois meses, e isso acontece para conseguir manter as entregas de biodiesel em dia. Existe também a possibilidade de leilões complementares e para que estes venham a existir há a necessidade de:

 Suprir os volumes de biodiesel não entregue pelos produtores aos adquirentes;

 Aquisição de quantidades de biodiesel superiores à demanda necessária ao atendimento do percentual mínimo obrigatório.

Por ser feito de forma pública, os leilões possuem uma maior credibilidade quanto a sua comercialização para com os agentes envolvidos. Sem contar que, por não avaliarem o porte do produtor no processo de negociação, acaba por manter o ambiente mais igualitário e mais justo.

Agindo dessa forma, o governo brasileiro procura implementar o PNPB, para diferenciá-lo dos demais programas que existiram anteriormente, principalmente, no que concerne ao enfoque social e ecológicos.

Referências

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