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Homoparentalidade e Desenvolvimento Infantil

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Academic year: 2021

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2015/2016

Raquel Andreia Gonçalves Oliveira

Homoparentalidade e Desenvolvimento Infantil

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Mestrado Integrado em Medicina

Área: Psiquiatria e Saúde Mental

Tipologia: Monografia

Trabalho efetuado sob a Orientação de:

Doutor Manuel Fernandez Esteves

Trabalho organizado de acordo com as normas da revista:

Arquivos de Medicina

Raquel Andreia Gonçalves Oliveira

Homoparentalidade e Desenvolvimento Infantil

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HOMOPARENTALIDADE E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Raquel Andreia Gonçalves Oliveira

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Rua Nova, 516, 4820-509 Fafe

919681389

raquel.ag.oliveira@hotmail.com

Prof. Doutor Manuel Fernandez Esteves

Resumo: 223 palavras

Abstract: 215 palavras

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2 RESUMO

A homoparentalidade em Portugal, assim como em grande parte do mundo, é uma realidade em crescendo que tem vindo a ser alvo de estudo ao longo dos tempos. Neste trabalho em particular, o foco serão as crianças educadas neste contexto e o seu impacto no desenvolvimento das mesmas.

Muitos são os estudos que abordam a questão e, apesar da ausência de unanimidade de opiniões, a sua grande maioria aponta para a não existência de diferenças significativas relativamente ao desenvolvimento cognitivo, psicossocial e sexual entre crianças educadas numa família normativa e em contexto homoparental.

Ainda assim, alguns foram os autores que discordaram. Estudos sugerem uma prevalência de crianças com mais baixa auto-estima, assim como uma possível associação com hiperatividade em rapazes. Importante salientar que estes resultados não parecem ser uma consequência direta da orientação sexual dos pais, sendo atribuídos essencialmente aos efeitos negativos do estigma social e discriminação a que estas crianças estão sujeitas. Outros achados revelam que crianças com pais homossexuais tendem a apresentar atitudes mais liberais quanto ao desempenho de papéis de género e aparentam ser mais esclarecidas quanto à sua própria sexualidade, provavelmente fruto de uma educação mais sensível a este tema.

O consenso surge quando consideram a qualidade da relação parento-filial mais importante que a orientação sexual dos pais, evidenciando os efeitos nefastos da homofobia, do preconceito e da discriminação.

Palavras-chave: homoparentalidade; pais gay mães lésbicas; desenvolvimento infantil; desenvolvimento psicossocial sexual.

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3 ABSTRACT

Homosexual parenthood in Portugal, such as in most of the world, is a growing reality that has been the subject of study over time. Our focus will be the children raised in this context and the impact on their psychosocial adjustment.

There are many studies that address the issue and, despite the absence of a unanimous opinion, most of them indicates that there are no significant differences in cognitive, psychosocial and sexual development between children raised in a tradicional family or by gay/ lesbian parents.

Still, some authors disagree. Studies suggest a prevalence of children with lower self- esteem, as well as a possible association with hyperactivity in boys. Important to note that these results do not seem to be a direct consequence of the parents' sexual orientation, being mostly related to the negative effects of stigmatization and discrimination that they are exposed to. Other findings sugest that children with gay/ lesbian parents tended to have more liberal attitudes toward the performance of gender roles and appear to be more elucidated about their own sexuality, probably the result of a more sensitive education on this subject.

There is consensus among researchers that the quality of children relationships with parents is more important than their sexual orientation, highlighting the harmful effects of homophobia, stigmatization and discrimination.

Keywords: homossexual parenthood; gay lesbian parents; child development; psychosocial sexual adjustment.

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INTRODUÇÃO

Em Portugal, assim como em toda a União Europeia (EU), o índice de homofobia, atinge ainda valores muito elevados. De acordo com o Eurobarómetro de 2013, num estudo realizado a pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros (LGBT) quase metade sentiram-se discriminadas ou assediadas devido à sua orientação sexual no último ano e 26% afirmaram ter sido atacados ou ameaçados com violência nos últimos cinco anos. Estas atitudes homonegativas verificam-se mais frequentemente em indivíduos do sexo masculino, com crenças religiosas vincadas e ideações políticas mais conservadoras (1). Quanto à avaliação da qualidade parental em casais LGBT e casais heterossexuais, a população portuguesa demonstra uma opinião mais negativa no que se refere a casais do mesmo sexo, prevendo futuros problemas sociais na criança (1).

A homoparentalidade, como contraposto a uma família hétero-normativa que se rege pelas normas de uma sociedade com bases religiosas, com valores tradicionais há muito enraizados no nosso país e que incluem níveis elevados de homofobia (2), tem como grande obstáculo a quebra de preconceitos. Este rearranjo parental pode advir de diversas estruturas familiares: ser pai/mãe no contexto de relações heterossexuais anteriores à afirmação da homossexualidade; resultar de um processo de adoção singular ou co-parental; lésbicas que recorreram à inseminação artificial com doadores de esperma ou gays que procuraram uma “barriga de aluguer” (3).

A adoção por casais do mesmo sexo é legal atualmente em 23 países: África do Sul, Andorra, Argentina, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Colômbia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Irlanda, Islândia, Israel, Luxemburgo, Malta, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido, Suécia e Uruguai. Tudo indica que Portugal

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será ainda este ano, 2016, o décimo quarto país a legalizar a adoção por casais do mesmo sexo.

Iremos abordar em particular a homoparentalidade do ponto de vista das crianças que poderão vir a ser legalmente educadas por casais do mesmo sexo e no impacto que tal poderá exercer sob estas.

Este trabalho pretende contribuir para uma melhor compreensão do tema, tentando perceber, desta forma, se são necessários pais de sexos opostos para que uma criança possa experienciar um desenvolvimento a nível cognitivo, psicossocial e sexual saudável. Com este intuito, algumas são as questões que vamos abordar:

 Poderá prejudicar ou inibir o desenvolvimento cognitivo normal da criança?;

 Promoverá confusão na sua própria identidade de género?;

 Verificar-se-á uma tendência homossexual em filhos de casais do mesmo sexo?;

 Haverá alguma consequência pela ausência de figura materna/ paterna?;

 Afetará o seu desenvolvimento psicossocial?.

A pertinência deste tema prende-se não só pela sua atualidade, fruto da constante mutação das sociedades que reflete o crescendo desta realidade que é a homoparentalidade, mas acima de tudo tentar perceber se há algum impacto no desenvolvimento destas crianças para que possamos atuar, enquanto clínicos, em conformidade.

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6 IMPACTO NA CRIANÇA

Pensando sempre no superior interesse da criança e num entendimento acerca de um possível impacto no desenvolvimento infantil em contexto homoparental, muitos foram os que se interessaram sobre o tema e o tentaram aprofundar. A literatura científica concorda em larga maioria que crianças que crescem em famílias homoparentais apresentam um desenvolvimento a nível cognitivo, psicossocial e sexual equivalente a outras que crescem no seio de famílias normativas (2-12). Não obstante, foram encontradas algumas divergências entre estudos, uns dos quais revelam resultados negativos e outros que adquirem uma posição oposta, apresentando aspetos favoráveis à educação por pais do mesmo sexo.

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

No que se refere ao desenvolvimento cognitivo da criança em contexto de homoparentalidade, a preocupação e dúvida reside no facto de averiguar se estas crianças poderiam de alguma forma ficar prejudicadas quanto à aquisição das competências cognitivas normais, avaliando para este efeito o rendimento escolar e o percurso académico.

Nesta matéria, a opinião é unânime e assume a não existência de diferenças entre estas e crianças com famílias normativas (4-8). Estes resultados são o reflexo das caraterísticas e motivações dos adultos homossexuais que se propõem a ser pais e mães, as quais não diferem substancialmente de indivíduos heterossexuais (13), promovendo às crianças cuidados e oportunidades equivalentes. São atribuídas competências parentais semelhantes em ambas as estruturas familiares estudadas, sejam estas constituídas por indivíduos hétero ou homosexuais (6,14), o que se reflete

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num rendimento escolar equivalente em ambos os grupos de crianças (9). E por este motivo, concordam que a nível cognitivo, filhos de pais homossexuais não sofrem qualquer tipo de impacto.

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8 IDENTIDADE DE GÉNERO

Os padrões da sociedade em que vivemos definem a família normativa é heterossexual e biparental e que ao longo dos tempos foi atribuindo papéis de género relativamente bem definidos. A mãe assume o papel de cuidadora e prestadora de cuidados, enquanto ao pai se reserva o dever de impor limites e aplicar castigos (15), ainda que na realidade esta divisão de tarefas não se verifique, sendo mesmo um pouco utópica. Ora, se a criança se encontra num contexto em que terá duas mães ou dois pais, estarão estas responsabilidades presentes na sua educação?

Nesta linha de pensamento, analisando pais homossexuais, percebeu-se que mães lésbicas assumem o mesmo papel que mães heterossexuais, não contrariando o papel feminino tradicional, enquanto pais gays se aproximam mais da homoparentalidade feminina que da heteroparentalidade normativa (15), concluindo que comparativamente com pais heterossexuais, um casal de lésbicas tende a exercer menos punição física, sendo ainda mais evidente em pais gays (16). É também constatado que crianças que vivem em contexto homoparental adaptaram-se à sua própria realidade, adquirindo uma perspetiva mais flexível quanto ao desempenho de papéis de género (15). Interessante também, é um estudo que nos diz que rapazes que crescem em famílias monoparentais onde a figura masculina está ausente, independentemente da orientação sexual da mãe, assumem uma postura mais feminina quanto às tarefas domésticas, não sendo no entanto menos masculinos quanto à sua identidade (10).

Ainda de referir que relativamente à escolha de brinquedos, atividades e jogos, estas crianças demonstram preferências atribuíveis como normativas para o próprio género, não demonstrando diferenças comportamentais quando comparadas com filhos de pais heterossexuais (9,10).

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9 ORIENTAÇÃO SEXUAL

Quando o assunto é homoparentalidade, a questão que mais suscita dúvida continua a ser a possibilidade de existir alguma “transferência” da orientação sexual de pais para filhos. Pais homossexuais transmitem essa preferência sexual aos filhos? Esta preocupação tem por base uma sociedade hétero-normativa, regida por padrões e regras, as quais assumem que ser heterossexual é normal e todas outras orientações sexuais o não são. Caso a homofobia não fosse uma realidade, esta questão não teria qualquer relevância nem suscitaria interesse para estudo.

Posto isto, vários são os estudos que tentaram encontrar respostas. Neste assunto, concordam que ter pais homossexuais não parece ter influência na orientação sexual dos filhos (4-9, 11,17). Crianças criadas por lésbicas ou gays são, na idade adulta, maioritariamente heterossexuais (9), não se verificando um aumento da prevalência de homossexuais quando comparadas com outras, educadas numa família normativa (7). Ainda de referir que em ambos os casos se verificam tipos de relações amorosas idênticas, dentro das quais se encontram uma minoria de experiências homossexuais, assim como também se regista uma sobreposição quanto à idade correspondente ao início da atividade sexual (11).

Foram, no entanto, constatadas algumas diferenças no que diz respeito à forma como percecionam a sexualidade no geral (7). Aqui, a orientação sexual dos pais parece ter alguma influência, ainda que indiretamente. Jovens criados por pais do mesmo sexo, que convivem de perto com a homossexualidade, são menos preconceituosos, mais liberais e sensíveis a estes temas (7,15). Esta constatação poderá justificar um outro achado de estudos recentes que apontam par uma maior, ainda que pouco significativa, prevalência de homossexuais em crianças educadas por gays/ lésbicas (7). Estes resultados podem induzir-nos em erro, pois se bem analisados, poderão estar simplesmente a refletir uma educação mais liberal, uma maior abertura de

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espírito e mentalidades mais recetivas à diferença no contexto sexual. Tal, traduzir-se-á em jovens predispostos a descobrirem as suas preferências sexuais sem o peso do estigma vivenciado pela sociedade em geral. Quando questionados sobre o assunto, filhos de mães lésbicas revelam que já ponderaram sentir-se atraídos por indivíduos do mesmo sexo e alguns até mantiveram uma relação homossexual (5,18). O que significa que filhos de mães lésbicas, quando confrontados com uma possível relação homossexual demonstram-se mais recetivos à ideia, afirmando que se assumiriam com mais facilidade que filhos de um casal heterossexual (5) o que revela apenas uma maior abertura para relações homossexuais fruto de uma sensibilidade acrescida por parte dos pais.

Um desenvolvimento sexual adequado para o género e idade é o objetivo a salvaguardar, e a questão prende-se com a orientação sexual dos pais. Interessante é o que encontramos na literatura, pois revela-nos que todo este processo de descoberta da sexualidade é tão mais saudável quanto melhor a relação parento-filial, não parecendo apresentar correlação significativa com a orientação sexual dos pais/mães, sendo eles homo ou heterossexuais (11,17). A qualidade e proximidade das relações familiares adquirem, deste modo, papel de destaque em detrimento das preferências sexuais parentais.

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11 AUSÊNCIA DE FIGURA MATERNA/ PATERNA

No contexto de uma família homoparental, sendo ela monoparental ou não, está implícito a ausência de uma figura materna ou paterna, caso se trate de mães lésbicas ou pais gays, respetivamente. A questão que se coloca é se esta variação relativamente a uma família convencional altera, de alguma forma, o desenvolvimento psicossocial e sexual da criança.

Neste âmbito, e relembrando o já anteriormente referido no que diz respeito à tradicional divisão de papéis de género, encontramos alguns estudos que evidenciam certas diferenças.

Em mulheres adultas, que na sua infância foram educadas por pais gays, ou seja, na ausência de figura materna, parece existir um maior desconforto com a proximidade e intimidade assim como uma menor capacidade para confiar e depender de outros. Adicionalmente, estas mulheres apresentam níveis superiores de ansiedade nas relações quando comparadas com aquelas que experienciaram uma educação com pais heterossexuais (8). Relativamente à auto-estima não parece estar afetada pela orientação sexual da mãe, não se registando diferenças entre filhos de mães lésbicas e filhos de mães hetrossexuais (6).

Se olharmos para as crianças que cresceram sem a presença de uma figura paterna, existe um estudo (19) que revela uma diminuição da auto-confiança tanto quanto às suas capacidades físicas como às suas competências cognitivas ou académicas, o que sugere que a figura masculina é importante para o desenvolvimento da auto-estima da criança, especificamente no contexto cognitivo e físico. Ainda assim, de referir que os resultados dizem respeito a crianças educadas em contexto monoparental feminino quando comparadas com famílias normativas, não se encontrando, contudo, diferenças entre famílias com mães lésbicas ou heterossexuais. Ainda no seguimento de monoparentalidade sem figura paterna, independentemente

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da orientação sexual das mães, há um estudo (10) que nos revela que aos 6 anos de idade, crianças educadas nesta estrutura familiar parecem apresentar menos competências a nível cognitivo e físico, diferenças essas que desaparecem aos 12 anos de idade. Tal achado pode corroborar a hipótese anteriormente referida relativamente ao papel do pai no desenvolvimento da auto-confiança da criança, como também poderá ser explicada levando em conta a forma como a sociedade subvaloriza as competências de uma mulher quando esta exerce o papel de chefe de família. Sendo que a auto-validadação por parte das crianças é um processo que em muito depende do crédito que os outros lhe dão, este poderá estar diminuído como consequência do estigma existente relativamente a famílias matriarcais.

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13 DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL

Viver em sociedade e interagir com o mundo e com as pessoas que nos rodeiam é preponderante para o desenvolvimento psicológico de um qualquer indivíduo. Ser criança e viver em circunstâncias um pouco diferentes do considerado normal, neste caso ter pais homossexuais, poderá exercer algum efeito nesta área?

Ao longo de uma vasta pesquisa sobre o tema, constatamos que a sua grande maioria concorda com a não existência de uma relação entre a orientação sexual dos pais e o desenvolvimento psicossocial e emocional das crianças (2-12).

Em todo o caso, muitos são os que se focam nas consequências negativas da discriminação social à qual estas crianças estão sujeitas devido à sua configuração familiar (3,8,15,20-22). Este preconceito pode variar consoante a sociedade e cultura de cada país, assim como do estatuto social correspondente à proveniência das famílias estudadas que se apresentam mais ou menos liberais (3,8,15). Esta atitude homofóbica reflete-se nas crianças, tendo as próprias sido alvo, em contexto escolar, de comentários sexistas, relativamente à orientação sexual dos pais como também quanto à própria sexualidade, e afastados em algumas atividades por outras crianças pertencentes a famílias normativas (3,20). Resultados de um estudo associam estes níveis de discriminação/ rejeição elevados a um decréscimo no bem-estar psicológico da criança que se traduzirá na presença de hiperatividade nos rapazes e baixa auto-estima mais marcada nas raparigas (20). Esta baixa auto-auto-estima decorrente da exposição ao preconceito, encontra-se presente mesmo quando as crianças têm mecanismos de coping adaptativos (22). Como forma de atenuar este efeito negativo, parece ser benéfica a comunicação e interação entre crianças que experienciam a mesma realidade no que se refere à homoparentalidade pois entreajudam-se no que diz respeito a enfrentar todo este estigma social (20).

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Contudo, um outro estudo que engloba famílias monoparentais, revela que filhos de mães lésbicas apresentam níveis mais baixos de comportamentos anti-sociais, assim como de sentimentos de solidão e isolamento quando comparados com crianças com mães heterossexuais (6), provavelmente devido a uma maior proximidade parento-filial e a uma educação mais liberal como referido anteriormente. Adicionalmente, ao contrário do que era expectável por alguns autores, não se encontram níveis de ansiedade aumentados nestas crianças (6,9), assim como não se verificaram diferenças de comportamentos como delinquência, vitimização e abuso de drogas em adolescentes educados por lésbicas quando comparados com parentalidade heterossexual (25).

Ainda neste contexto de homoparentalidade feminina, constatou-se que ambos os grupos apresentavam dificuldade na exteriorização de emoções e sentimentos e níveis elevados de agressividade (6), havendo uma associação com a estrutura familiar monoparental, mas não evidenciando diferenças relativas à orientação sexual materna.

Uma outra perspetiva a ter em atenção são os casos em que as crianças são fruto de um relacionamento heterossexual anterior e que agora se deparam não só com a separação dos pais, como também com a revelação e afirmação da homossexualidade de um deles. Aqui, existe em primeiro lugar o stresse emocional inerente à rutura da união parental que exige todo um reajuste familiar associado aos efeitos de uma visão homonegativa da sociedade, os quais podem conduzir a um desequilíbrio psicológico que incluem depressão e ansiedade (24). Mães que se afirmam lésbicas perante os seus filhos devem estar conscientes que estes poderão passar por um processo que envolve um período inicial de negação, revolta, depressão e, mais tarde, aceitação (9). Curiosamente, após um divórcio, quando são pais a assumirem a sua homossexualidade, estes são mais bem aceites pelas filhas que pelos filhos (9).

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15 CONCLUSÃO

Serão necessários pais de sexos opostos para que uma criança possa experienciar um desenvolvimento cognitivo, psicossocial e sexual saudável? Eis a pergunta que permanece com uma resposta longe de ser conclusiva.

Apesar da ausência de unanimidade, a larga maioria da literatura aponta para a não existência de diferenças significativas no desenvolvimento infantil no contexto da homoparentalidade, existindo mesmo quem afirme que os profissionais de saúde devem evitar assumir que as patologias destas crianças estejam relacionadas com a sua educação homoparental (9). Por contraposição, alguns são os autores que o contradizem, baseando-se essencialmente nos efeitos negativos do estigma social e discriminação a que estas crianças estão sujeitas.

São necessários estudos de maiores dimensões, mais abrangentes colmatando a escassez de estudos com pais gays e mais longitudinais, com um período de seguimento alargado para clarificar e cimentar resultados.

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16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AGRADECIMENTOS

Porque tudo o que fazemos, ainda que a nível individual, é em boa verdade um trabalho de grupo, o meu enorme e sincero agradecimento:

Ao Prof. Doutor Manuel Fernandez Esteves, meu orientador e responsável, em grande parte, por despertar em mim o interesse por esta área da Medicina enquanto professor da disciplina de Psiquiatria e Saúde Mental e, neste caso em particular, pela orientação, disponibilidade, críticas e sugestões ao longo da elaboração deste trabalho.

Aos meus amigos pelo apoio e por nunca duvidarem que este dia chegaria.

À minha irmã pela presença constante, amor incondicional, proteção e paciência infindável.

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