• Nenhum resultado encontrado

CONTORNOS DAS IMAGENS DA DOENÇA RENAL E DO CUIDADO: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CONTORNOS DAS IMAGENS DA DOENÇA RENAL E DO CUIDADO: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

196

CONTORNOS DAS IMAGENS DA DOENÇA RENAL E DO CUIDADO: UM ESTUDO

DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Maria Elisa Brum do Nascimento1, Maria de Fátima Mantovani2, Denize Cristina de Oliveira3 e Kátia Renata Antunes Kochla4

1 Graduação de Enfermagem Universidade Positivo, Paraná, Brasil. melbrum.brum@gmail.com, 2 Departamento de Enfermagem Universidade Federal do Paraná, Paraná, Brasil. mfatimamantovan@ufpr.br; 3

Departamento de Enfermagem Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; dcouerj@gmail.com, 4Graduação de Enfermagem Universidade Positivo, Paraná, Brasil; katiaantunes.kochla@gmail.com

Resumo: Estudo qualitativo baseado na teoria das Representações sociais destonado para analisar as imagens da doença e do cuidado com a saúde e a doença renal construída entre pessoas que fazem tratamento dialítico, na cidade de Curitiba- Paraná, Brasil. Foram realizadas entrevistas em profundidade com 52 participantes. A análise lexical foi realizada por meio do software Alceste 2015. Os resultados revelam a imagem da doença com três grupos de significados, o perigo, o domínio incurável, o desafio do ritual no tratamento dialítico e a imagem do cuidado em três grupos de significados, o apoio e a segurança; acolhimento tranquilo e compartilhamento e afeto para o cuidado. Conclui-se que existe confronto de atitudes positivas e negativas nas imagens da doença e do cuidado, revelando pistas simbólicas para as práticas de cuidado em situação de doença dialítica.

Palavras-Chave: Dialise renal; Cuidado; Doença crônica; Enfermagem em nefrologia.

Shape of the images from renal disease and health care: a social representation study

Abstract: This is a qualitative study based on the Social Representation Theory aimed to analyze the images of renal disease and health care taken from people undergoing dialysis treatment, in the Curitiba City and its metropolitan area, Paraná State, Brazil. Detailed interviews with fifty-two participants were applied and later Lexical analysis were carried out using Alceste 2015 software. Results show the disease image in three meaning groups, including the danger, the incurable aspect, and the routine challenge in dialysis treatment; and the care image show three meaning groups, including support and safety, peaceful admission and sharing, and affection in the care. The conclusion is that there is a confrontation of positive and negative attitudes in the illness and care images, showing symbolic clues to care practices in a dialysis diseases treatment situation.

Keywords: Renal dialysis; Chronic disease; Care; Nursing in nephrology

1 Doutora em Enfermagem. Professora da Graduação em Enfermagem. Universidade Positivo. Curitiba, Paraná, Brasil. 2 Doutora em Enfermagem. Professora da Pós-Graduação em Enfermagem da UFPR. Bolsista Produtividade CNPq. Curitiba.

Paraná, Brasil.

3 Doutora em Saúde Pública. Professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e em Psicologia Social e da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora CNPq. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Brasil

4 Doutora em Enfermagem, Professora e Coordenadora da Graduação em Enfermagem Universidade Positivo, Curitiba, Paraná, Brasil.

(2)

197

1.Introdução

Pessoas com doença renal crônica constroem crenças e representações organizadas sobre a doença e o tratamento (Clark, Yates, Smith, & Chilcot, 2016). Essas representações influenciam as estratégias de enfrentamento empregadas pela pessoa e pelo seu grupo para gerenciar a doença e podem atuar como um preditores da sua disposição em engajar-se na autogestão da doença (Crews et al., 2018). As representações sociais do cuidado com a saúde e a doença são construídas na experiência e na interação real ou simbólica e são compostas de crenças e valores moldados por influências diversas. Imagens mentais e representações se expressam nos conteúdos da representação, que possui um componente imagético, dando sentido ao mundo e constituindo um saber prático (Moscovici, 2017). A utilização das representações permite explicar a forma como o grupo com determinada patologia aceita o curso crônico da doença e as modalidades terapêuticas e possibilita obter melhora da adesão ao tratamento (Parfani, Nistor, & Covic, 2013; Deisseix; Couzi, & Merville, 2010). A análise das imagens da doença renal crônica, do cuidado e representações sociais permite perspectivar como o grupo em diálise se posiciona sobre as ações presentes e seus impactos no futuro em termos de saúde. Parte-se do pressuposto de que as imagens da doença e de cuidado são produtoras de sentido, pois mobilizam atividades intelectuais, decorrentes de um processo de aprendizagem natural (Terra & Do Nascimento, 2016). Assim, os significados destas imagens da doença e do cuidado são norteadores para os profissionais de saúde, pois o acesso a esse conhecimento social serve para subsidiar a prática. Justifica-se a realização deste estudo em virtude da magnitude da doença renal crônica, e ainda possibilita aos profissionais de saúde a identificação de questões do processo de adoecimento e aumenta o conhecimento sobre a experiência do ponto de vista do receptor. O presente artigo apresenta-se como parte de um estudo maior. Nesse estudo maior buscaram-se as representações de cuidado com a saúde e doença de pessoas com doença renal entre os tratamentos dialíticos de hemodiálise e dialise peritoneal e surgiu a partir da inquietação dos autores sobre acerca da construção das representações de cuidado com saúde e a doença com base na experiência do tratamento. Portanto, frente ao exposto, a questão que norteia este estudo é “quais as imagens da doença renal e do cuidado elaboradas por pessoas em tratamento dialítico?”. O objetivo foi analisar as imagens da doença e do cuidado com a doença renal construída entre pessoas que fazem tratamento dialítico.

2.Método

Pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, fundamentada na Teoria das Representações Sociais proposta por Moscovici (2017), por meio de entrevistas presenciais reconstruírem o significado da experiência de cuidado da pessoa em tratamento dialítico vivenciando a doença renal. Optou-se pela abordagem processual das representações sociais que se propõe a apreender o processo e o produto de constituição das representações sociais, ou seja, seus conteúdos que podem ser cognitivos, informativos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões e imagens, e pode dispor em evidencia o modo como os grupos estudados elaboram a realidade e integram a um sistema de valores (Moscovici, 2017; Jodelet, 2001).A amostra do estudo foi composta de 52 participantes com Doença Renal Crônica, destes 30 em tratamento de hemodiálise e 22 em dialise peritoneal, vinculados a quatro centros de referencia em saúde na área de nefrologia. Eles foram selecionados por conveniência, a partir da base de dados fornecida por quatro serviços ambulatoriais de diálise. Os critérios de inclusão foram: adultos, ambos os sexos, com idade entre 24 e 59 anos e estar em tratamento de hemodiálise e dialise peritoneal há mais de seis meses. Excluídos participantes com

(3)

198

restrição de comunicação oral, hospitalizados, com presença de infecções e/ou complicações, em tratamento fora do serviço de origem e que recebeu alta e/ou transferência durante o período da investigação O pseudônimo foi imediatamente atribuído aos dados do participante, e foi decido identifica-los pela letra E seguida do número ordinal correspondente em ordem sequencial. As informações foram coletadas em de junho de 2014 a maio de 2015. Uma pessoa foi inicialmente contatada e o processo de vinculação dos participantes foi continuado com base nessa entrevista. Todas as pessoas contatadas concordaram em colaborar e as autoras não tinham, vinculo com estas pessoas. Entrevista estruturada foi utilizada como técnica para coleta das informações. A pesquisadora contatou os participantes pessoalmente, agendou data e horário, e os entrevistou em local reservado, no serviço de dialise, partir de formulário composto por dados sócios demográficos (idade, sexo, tipo de tratamento, tempo de tratamento, estado conjugal, escolaridade) e questões abertas com enfoque no significado, na imagem, na informação e nos sentimentos em relação ao objeto cuidado com saúde e cuidado com a doença. As entrevistas duraram de vinte a quarenta minutos, foram gravadas, ouvidas e transcritas na integra pela pesquisadora. O Comitê de ética e Pesquisa da Universidade Federal do Paraná, aprovou o estudo, documento, nº CEP n.º 655.501/2014 CAAE 26511414.9.0000.0102. A Resolução do CEP 466/2012 e os princípios éticos da beneficência, autonomia, privacidade e liberdade de expressão e sentimentos foram considerados. A análise foi realizada por meio da análise lexical com auxilio do software Alceste 2015, que recorre a co-ocorrencia das palavras contidas nos textos, de forma organizar e sumarizar informações consideradas mais relevantes, e possui como referência em sua base metodológica, a abordagem lógica e dos mundos conceituais (Catão, 2001).O material transcrito foi padronizado constituindo um

corpus e inserido no software em um formato de texto simples. Variáveis sócio demográficas foram

codificadas, de modo a inseri-las no corpus de análise. O software realizou o tratamento do corpus com sua divisão em unidades de contexto elementares (UCE) e classes que a compreendem, conforme as formas lexicais que a compuseram (Oliveira, Gomes, & Marques, 2005). Após a clivagem do corpus e por sucessivas partições binárias na Classificação Descendente Hierárquica (CDH) produziu um dendograma composto por quatro classes representando as construções e conteúdo simbólico atribuído ao objeto cuidado com a saúde e a doença pelo grupo que vive a doença renal crônica. A identificação dos conteúdos presente nas classes foi composta de formas reduzidas relacionadas à UCE e Classificação Ascendente Hierárquica (CAH), gerada pelo software para cada classe. Foram considerados os critérios de credibilidade e possibilidade de obtenção de informação, foram obtidas por transcrição textual das entrevistas pelo primeiro pesquisador e revisadas por especialistas em pesquisa qualitativa. Quanto à transferibilidade, espera-se que os resultados deste estudo sirvam para encontrar semelhança ou divergência com achados de outros estudos que abordam o fenômeno.

3. Resultados E Discussão

A caraterização dos participantes revela que entre os tratamentos dialíticos houve predomínio do sexo feminino na dialise peritoneal e masculino na hemodiálise. A faixa etária predominante foi de 41 a 50 anos, sendo expressiva a faixa etária de 51 a 59 anos na hemodiálise e 41 a 50 anos na diálise peritoneal. A escolaridade mostra predomínio do ensino fundamental e médio em ambos os tratamentos. A condição viver com o companheiro mostrou-se significativa entre pessoas em diálise peritoneal. Quanto ao tempo no tratamento dialítico, na hemodiálise prevalece o quantitativo de pessoas com período superior a um ano e maior que dez anos e na diálise peritoneal período entre um ano e cinco anos. Os resultados observados na análise lexical das 52 entrevistas referidas revelaram a distribuição dos conteúdos em quatro categorias discursivas (classes). Essas classes apontam para os seguintes temas: classe 1- aspectos normativos dos saberes e controle para o

(4)

199

cuidado; classe 2 – Contorno das imagens da doença e do cuidado; Classe 3 - Organização do Cotidiano: limites e rede de apoio; Classe 4- Contornos e especificações do tratamento dialítico. O Alceste no processo de análise identificou 52 unidades de contexto inicial o que corresponde ao número de entrevistas incluídas no corpus de análise. O software dividiu o corpus submetido à análise em 653 UCE. Todavia, o programa classificou para análise 515 UCE, representando 77% de aproveitamento do material de análise. A partir deste quantitativo as UCE ficaram divididas entre as classes da seguinte maneira: classe 1: 191 UCE, representando 38%; classe 2: 87 UCE, significando 17%; classe 3: 106 UCE, expressando 21%; classe: 116 UCE, contabilizando 24%. Para fins deste trabalho, serão explorados e discutidos os conteúdos presentes na classe 2, uma vez que o objeto do estudo é melhor focalizado em seu interior. Contudo, outros elementos para o cuidado foram destacados a partir de uma leitura transversal do conjunto das classes. Os resultados gerados pelo programa Alceste 2015, informa às palavras que possuem maior qui- quadrado (x2), ou seja, maior

associação estatística à classe, bem como as UCE que mais contribuíram para formação das mesmas. Da totalidade de palavras isoladas pelo software, foram selecionadas aquelas que possuem maior qui-quadrado, representando os conteúdos presentes na classe (Tabela 1).

Tabela 1 – Palavras com maior grau de associação a classe 2. Curitiba, 2019

Os participantes demonstraram imagens divergentes acerca da doença renal e do cuidado com a saúde e a doença, que podem ser observadas em dois grupos gerais: 1) a identidade da doença e as âncoras para o cuidado. Cabe ressaltar que a Imagem da doença reflete como as pessoas com doença renal crônica veem a doença e constroem representações do adoecimento e as ancoras para o cuidado é a forma como estas pessoas representam o cuidado com a saúde e a doença. Essa classe apresenta forte relação com o conjunto social no qual o processo de adoecimento e o tratamento dialítico da pessoa com doença renal é realizado, expressas por “a doença”, “animal”, “leão”, “forte”, “a morte” e “cura” e revela o perigo e a moléstia que não tem cura. Conferem uma dimensão negativa da representação social da doença renal, conforme UCE a seguir: “A imagem do cuidado

com a doença e o leão, um animal forte. Em relação à doença renal, sei que ela e perigosa e pode levar a morte, se não tiver higiene e não for feito adequadamente o tratamento” (*ind_31 *ida_3

*sex_2 *dial_2; x2 37). A imagem da robusteza/força da doença revela o caráter devastador da

Palavras de maior associação Frequência x2

Imagem 92 260 Cachorro 18 89 Animal 16 47 Leão 12 37 Gato 9 33 Forte 18 32 Representa 6 29 Morre 24 24 Rato 5 24 Doença Renal 221 24 Bicho 11 11 Igual 10 20 Cura 8 19 Carinho 6 18 Vermelho 5 14 Delicado 3 14 Cuidado saúde 158 14 Cavalo 5 14

(5)

200

mesma e seus desafios, da mesma forma que a imagem da higiene vinculada ao tratamento dialítico traduz o desafio do tratamento e seus ritos, uma vez que submeter-se a rotina da terapia dialítica exige atenção com as medidas higiênicas. A imagem do rim não funcional vai se construindo gradativamente, ao longo da doença e se materializa como algo grandioso, que invade e modifica o organismo. A UCE seguinte exemplifica: “A imagem da doença renal e um rim pequeno, atrofiado,

isso significa que ele não volta mais. No inicio eu tinha esperança, mas a doença renal é enorme e faz

um estrago no organismo.” (*ind_49 *ida_3 *sex_2 *dial_2; x2 = 12). A percepção de vida invadida

pela doença, muitas vezes integra sinais de uma moléstia que estava progressivamente se expressando e que culminou no diagnóstico de deterioração irreversível da função renal. Em vista dessa realidade a necessidade do tratamento é uma imposição que não pode ser modificada para prolongamento da vida. Sobre a assimilação da existência da doença renal, é importante relatar que a representação social possui funções cognitivas por meio da ancoragem e significados. Ancoragem é classificar, nominar e tornar familiar àquilo que é intrigante e desconhecido, estranho (Moscovici, 2017). Assim, a classificação de um rim pequeno, não funcional, familiariza a doença renal até então desconhecida em algo que modifica a estrutura anterior do órgão e atrofia, reduz a função e mostra o caráter dominador da doença, suas complicações e a relação com outros problemas de saúde. As imagens caracterizadas refletem uma visão da doença expressa como algo perigoso, forte, que invade e domina o viver da pessoa nessa condição. A doença impõe mudanças radicais no cotidiano, exige enfrentamento e segrega a pessoa do convívio, da sociedade. As mudanças físicas impostas pela doença renal produzem impacto no cotidiano e perda do antigo eu e consequente perda da autoestima, pesar pela dependência da função renal normal e subsequente saúde e uma crescente dependência percebida dos familiares e profissionais dessaúde (Pugh-Clarke, Read, & Sim, 2017).Ao mesmo tempo, os entrevistados destacaram como o cuidado com a saúde e a doença é percebida por este conjunto social, demonstrado pelos termos: “bicho” “delicado”, “cachorro”, “ carinho”, “vermelho” como elementos significativos descrito na UCE “A imagem do cuidado com a saúde é um

animal que protege. A imagem do cuidado com a doença é a cor azul porque é tranquilo.” (*ind_46

*ida_3 *sex_2 *dial_2; x=44)5. O cuidado da pessoa com doença renal crônica requer uma abordagem profissional colaborativa, que assegure condições positivas, com segurança e confiança. O cuidado com a doença exige estar alerta para o sinal vermelho e precisa carrear afeto, compaixão e amor. A imagem do cuidado/apoio/proteção foi um elemento presente em relação a ambos os objetos doença e saúde, conforme retrata a UCE: “A imagem do cuidado com a saúde e um cachorro

fiel, companheiro, que sempre esta junto nas boas e nas más, não te abandona. Requer sempre ter cuidado com a saúde e algo que te anime para estes cuidados. A imagem do cuidado com a doença e

um cachorro.” (*ind_25 *ida_4 *sex_2 *dial_1; x2 = 22). A imagem da saúde está ancorada em

elementos de incentivo e reforço positivo para o cuidado. Os significados da doença são expressos em três categorias: o perigo, o domínio incurável, o desafio do ritual no tratamento dialítico. A imagem do perigo é uma dimensão da representação social da doença renal, ao lado das atitudes como atenção, advertências e restrições cotidianas, bem como, conhecimentos e práticas de cuidado. O perigo está associado a algo temível e devastador que quando somado a doença renal, produz o medo da morte. Muitos aspectos de controle quando somados a cronicidade representam o perigo. A exposição crônica a sobrecarga de líquidos e doença renal crônica é um forte fator de risco para morte (Zoccali et al, 2017). Restrições associadas a alimentos também são fontes de preocupações e risco de vida (Nascimento, Mantovani, & Oliveira, 2018).As pessoas nessa condição são obrigadas a ajustes psicológicos contínuos ao longo de sua doença, como aceitar o diagnóstico com risco de vida, precisar de tratamento vitalício, aprender técnicas de diálise, integrar tratamento

5 Ind_ Indivíduo; Ida_ Idade; Sex_sexo 1 Masculino, 2 feminino;; dial_ tipo de tratamento 1-Hemodialise; 2 Diálise peritoneal.

(6)

201

em suas vidas e lidar com a transição/falhas do tratamento e complicações (Goh & Griva, 2018). Ser diagnosticado com doença renal baliza o inicio de um caminho marcado por opções de tomada quanto ao tratamento, medicamentos e adaptações à carga do à doença renal. O diagnostico da doença renal crônica e a necessidade de tratamento dialítico incide em fontes de sofrimento mental e orgânico. A doença renal crônica afeta as pessoas de diferentes formas, tanto física como emocionalmente, isso pode incidir em muitos aspectos da vida, incluindo relacionamentos, vida pessoal entre outros. O domínio incurável vai se manifestando em forma de sinais e sintomas e incorrem em diminuição da vitalidade. A fadiga é comumente experimentada em pessoas com doença renal em fase final, varia conforme a modalidade dialítica e possui associação entre fadiga e fatores psicológicos, como depressão e ansiedade, e fatores comportamentais como sono e nutrição entre outros e corrobora para uma visão multidimensional e multifatorial da mesma (Artom et al., 2014). Trata-se de um sintoma complexo e subjetivo caracterizado por cansaço extremo e persistente resistindo ao repouso e recuperação, comum em pessoas em hemodiálise com consequências no funcionamento da vida diária (Picariello et al., 2018). A carga de sintomas presente em pessoas em hemodiálise aponta associação com prevalência de pele seca, coceira, dor muscular, dor óssea ou articular, pernas inquietas, falta de ar, sentir-se triste, sentir-se ansiosa, dificuldade de concentrar-se e dificuldade sexual (Bussola et al, 2018). A carga dos sintomas físicos se sobrepõe aos aspectos psicológicos quando presente. A relação percepção da doença e solidão interage negativamente à medida que seus níveis aumentam (Ozakan-Tuncay, Fertelli, & Mollaoğlu, 2018). A solidão indica mais uma atitude frente à doença renal do que propriamente uma representação social, pois se circunscreve a partir dos sentimentos experimentados frente ao objeto da doença.O ritual do tratamento dialítico se apresenta em diferentes modalidades que indicam viver uma nova rotina a cada dia. Os fatores tecnológicos quando transportados para o domicilio, no caso da diálise peritoneal, muitas vezes causa desconforto e medo, sobretudo n início (Tavares et al., 2016). Ciclos repetidos de tratamento estão entre os fatores que cansa e interferem na adesão as medidas de cuidado (Shahdadi, H. & Rahnama, 2018). A adesão da pessoa é um dos comportamentos

que pode prever o sucesso do tratamento e reduzir os efeitos adversos e gravidade, assim como o ajunte a sugestões de dieta e restrição de líquidos. Devido ao fato das pessoas em dialise peritoneal se auto tratarem em casa, elas correm o risco de complicações, como a peritonite ocasionada pela quebra da técnica, negligencia das medidas higiênicas e ou problemas associados ao cateter entre outros (Shahdadi, H. & Rahnama, 2018). Assim, a imagem da higiene consiste em um ritual necessário

e imprescindível para evitar a peritonite, pois a pessoa aprende que essa exposição pode significar falha do tratamento e complicações futuras. O tratamento da hemodiálise é realizado três ou quatro vezes na semana, sendo cada ciclo com duração de três a cinco horas, no qual a pessoa expõe-se ao tratamento e pode sofrer os eventos adversos da terapia, como sintomas de pressão arterial baixa, tontura, câimbra, entre outros e esses sintomas continuam a ser fonte de preocupações (Gesualdo et al.,2016). A hemodiálise é um processo complexo, que requer inúmeras etapas, envolvimento constante de pessoas, tecnologias, medicamentos, manobras invasivas entre outros. Pessoas com doença renal em hemodiálise interpretam o tratamento a partir do conhecimento reificado, da experiência pessoal e das representações construídas. A representação da doença orienta atitudes e práticas desse grupo em como visualizar sua terapia, adesão e adoção de comportamentos saudáveis. Quanto às ancoras para o cuidado podem-se destacar as categorias de significado: o apoio e segurança; acolhimento tranquilo e compartilhamento/afeto para o cuidado. O cuidado a esse grupo deve ser orientado de forma a reconhecer as individualidades, entender os significados da doença para a pessoa e familiares, como convivem e quais as rupturas e modificações impostas em suas vidas (Ramirez-Perdomo & Solano-Ruiz, 2018). Cabe aos profissionais de saúde olhar o outro na sua integralidade, com respeito, empatia e profissionalismo. O apoio e a segurança conformam elementos essenciais no cuidado das pessoas em diálise. A terapêutica dialítica é complexa e requer

(7)

202

uma enfermagem especializada, inclui o estabelecimento de uma relação terapêutica e interpessoal, tratamento dos sintomas físicos e atenção às limitações funcionais, transtornos mentais e necessidades educacionais dessas pessoas (Stavropoulou et al., 2017). Um dos cuidados essenciais proporcionado pelos enfermeiros às pessoas em dialise renal é o apoio psicossocial e emocional para adaptarem-se ao estado atual, auxiliar no processo de compreensão dos problemas, receios, diminuindo a ansiedade e amparando na tomada de decisão e necessidades educacionais (Shahdadi & Rahnama, 2018). A relação emocional com a pessoa em situação de diálise consiste em um fator que afeta e qualifica o cuidado. A tranquilidade configura um elemento para o cuidado por meio da criação de ambiente seguro e um relacionamento próximo à pessoa nessa condição. Destaca-se que o conforto definido como capacidade e atender as necessidades humanas básicas para alcançar alívio, facilidade, transcendência nas dimensões físicas, psicológica, cultural, social e ambiental é um fator que promove tranquilidade para a pessoa no tratamento dialítico (Borzou et al., 2014). O acolhimento se aproxima do cuidado de enfermagem e envolve estabelecimento de relações interpessoais, com objetivo de conforto, reconhecimento do outro como sujeito dotado de condições de objetivas e subjetivas, pensamentos e opiniões e que está inserido em um contexto de vida (Costa, Garcia & Toledo, 2016). Esse resulta das práticas de saúde e é composto por atos distintos no decorrer do atendimento. O acolhimento envolve ações, concepção adotada pelo profissional na identificação da demanda da pessoa que necessita de cuidados. Pessoas com doença renal na condição de dialise, frequentemente experimentam grande volume de interação clinica, envolvendo eles, seus cuidadores e profissionais de saúde em padrões complexos de organização, coordenação, negociação e gerenciamento de cuidados. E tem afetos negativos em relação ao tratamento, uma vez que é continuo e não leva a solução do problema, além disso, esses sentimentos perduram em relação à imagem corporal e estilo de vida que são drasticamente modificados. A habilidade de comunicação entre profissionais de saúde e a pessoa com doença renal em tratamento dialítico e o relacionamento humano da escuta, e da sensibilidade para acolher, criando vínculos essenciais ao tratamento destacam-se devido a serem esses a atuar nas orientações a fim de prover a adesão terapêutica e cuidados (Xavier et al., 2018). O acolhimento sensível e empático destaca-se como essencial ao cuidado, pois fortalece, ampara e oportuniza o reconhecimento do outro, na sua singularidade, necessidades e expectativas. O significado de compartilhamento e afeto associado ao cuidado poderá melhorar a adesão ao tratamento. Pessoas com doença renal crônica em diálise, frequentemente referem uma baixa autoestima e mal estar psicológico em relação à vida, afetos, e autoimagem corporal (Hedayati, Yalamanchili & Finkelstein, 2012). Eles enfrentam numerosos estresses físicos e psicológicos que resultam em saúde reduzida. A necessidade de suporte emocional diário e afeto às pessoas com doença renal em diálise contribui para redução da mortalidade e morbidade (Thong et al., 2007) Para esses autores, as mudanças trazidas pelo tratamento dialítico poderá levar essas pessoas a desenvolver sentimento de culpa e sobrecarregar a família e requer demonstrações de afeto, apoio e aceitação da rede de apoio. Os profissionais de saúde são responsáveis por direcionar os cuidados prestados a pessoa com doença renal, submetidos à diálise, tendo domo proposito melhor integra-lo no processo de adaptar-se e lidar com a doença. Desse modo, os sentidos do afeto para o cuidado sugerem que é necessário aos profissionais de saúde ter uma boa interação, com a confiança de quem cuida, empatia ao compartilhar emoções, entender que existem hábitos e maneiras distintas de se comunicar e atentar quanto à qualidade das interações, além de conhecer as representações dos sujeitos cuidados.

4.Conclusão

Os achados deste estudo sugerem orientações atitudinais opostas nos contornos das imagens da doença e do cuidado que se constroem ao longo da doença, destacando a positividade do cuidado e

(8)

203

a negatividade da doença. Destaca-se que tanto as imagens da doença, quanto do cuidado com a saúde e a doença estão intimamente ligadas às vivencias cotidianas dos participantes, perpassando a dimensão representacional negativa associada à doença em confronto com a positividade do cuidado. A imagem da doença perpassa o sentido de perigo e resultando em atitudes de restrição, controle e limitações para gestão da doença. O domínio incurável da doença revela o cotidiano marcado por sinais de debilidade física, emocional, psicológica, mental e social. Os rituais da diálise renal ensinam a viver a improbabilidade a cada dia, as representações da doença subsidiam o aprendizado sobre a terapia, adesão e orientam o comportamento de cuidado com a saúde e a doença. A imagem do cuidado conforma uma dimensão positiva da representação e destaca o que é essencial ao cuidado com a saúde e a doença. O significado do apoio/segurança contribui para minimizar a ansiedade, a tomada de decisão e a orientação educacional afetando positivamente o cuidado. O sentido do acolhimento e tranquilidade articula-se ao conforto, boa relação interpessoal e dá suporte a melhoria das práticas de saúde. O compartilhamento e afeto ressaltam as qualificações para o cuidado profissional e o impacto na adesão ao tratamento. Isso indica que os significados do cuidado ligado aos objetos saúde e a doença são passíveis de influencias e que intervenções podem ser potencialmente úteis para influencia-las, a fim de melhorar e qualificar o atendimento em nefrologia. Ressalta-se, finalmente, que a Teoria de Representações Sociais oferece ferramentas teórico-conceituais e metodológicas para a compreensão da relação doença-cuidado, conforme afirma Oliveira (2013) destacando a importância de estabelecer novas bases para o processo de cuidar a partir da compreensão das necessidades coletivas acessadas por meio das representações. Uma limitação deste estudo refere-se a doção de uma única técnica de análise, uma vez que no campo das representações sociais a triangulação de dados permitiria uma compreensão mais ampliada do objeto em questão.

Referências:

Artom, M., Moss-Morris, R., Caskey, F., & Chilcot, J. (2014). Fatigue in advanced kidney disease.

Kidney International, 86(3), 497–505.

Borzou, S.R., Anosheh, M. Mohammadi, E. & Kazemnejad, A.(2014). Patients' Perception of Comfort Facilitators During Hemodialysis Procedure: A Qualitative Study. Iran Red Crescent Med J., 16(7).

Bossola, M., Stasio, E. D., Marzetti, E., Lorenzis, K, Pepe, G.,& Vulpio, C.(2018)Fadiga está associada à alta prevalência e gravidade dos sintomas físicos e emocionais em pacientes em hemodiálise crônica.International Urology and Nephrology,50(7):1341-1346.

Clarke, A., Yates, T., Smith, A., & Chilcot, J. (2016). Patient’s perceptions of chronic kidney disease and their association with psychosocial and clinical outcomes: A narrative review. Clinical

Kidney Journal, 9(3): 494-502. Retrieved from

http://dev.up.com.br/IntegracaoEBSCO/autentica.aspx?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost. com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType%3dip%2cuid%26db%3dedsbas%26AN%3de dsbas.18377FB6%26lang%3dpt-br%26site%3deds-live%26scope%3dsite

Crews ,D. C., Banerjee, T., Wesson, D.E., Morgenstern, H., Saran, R., Burrows, N.R., Williams D.E., & Powe, N.R.(2018). Centers for Disease Control and Prevention Chronic Kidney Disease Surveillance Team. Am J Nephrol., 47(3):174-181.

Costa, P. C. P. D., Garcia, A. P. R. F., & Toledo, V. P. (2016). Welcoming and nursing care: a phenomenological study. Texto & Contexto-Enfermagem, 25 (1).

(9)

204

Catão, M. D. F. F. M. (2001). Excluídos sociais em espaços de reclusão: as representações sociais na construção do projeto de vida [tese]. São Paulo (SP): Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo USP.

Deisseix, A., Merville, P.,& Couzi, L.(2010). Analyse des repre´ sentations de l’he´modialyse et de la transplantation chez lês patients insuffisants re´naux chroniques: une approche anthropologique. Néphrologie & Thérapeutique, 6(2), p. 111–20.

Gesualdo, G.D., Menezes,A.L.C., Rusa, S.G., Napoleão, A.A., FIgueiredo, R.M., Melhado, V.R., & Orlando, F.S.(2017). Fatores associados à qualidade de vida de pacientes em hemodiálise.

Texto Contexto Enferm, 26(2):e05600015.

Goh, Z. S., & Griva, K. (2018). Anxiety and depression in patients with end-stage renal disease: impact and management challengesa narrative review. International journal of nephrology and

renovascular disease, 11, 93.

Hedayati, S. S., Yalamanchili, V., & Finkelstein, F. O. (2012). A practical approach to the treatment of depression in patients with chronic kidney disease and end-stage renal disease. Kidney

international, 81(3), 247-255.

Jodelet D. (2001).Representações Sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D. (org.) As representações sociais. Rio de Janeiro: EDUERJ, p 17-144.

Moscovici S. (2017). A psicanálise, sua imagem e seu público. Tradução de Santa Fuhrmann. Petrópolis: Vozes.

Nascimento, M.E.B.,Mantovani, M.F. & Oliveira, D.C.(2018).Cuidado, doença, Saúde: representações sociais entre pessoas em tratamento dialítico. Texto Contexto Enferm, 27(1): e3290016. Pugh-Clarke, K., Read, S.C., & Sim, J. (2017).Symptom experience in non-dialysis-dependent chronic

kidney disease: a qualitative descriptive study. Journal of Renal Care, 43(4): 197–208.

Parfani, M., Nistor, I.,& Covic, A. (2013). A systematic review regarding the association of illness perception and survival among end-stage renal disease patients. Nephrol Dial Transplant, 28(10):2407-14.

Picariello, F., Moss-Morris, R., Macdougall, I. C., Norton, S., Da Silva-Gane, M., Farrington, K., Clayton, H., & Chilcot, J. (2018). Cognitive-behavioural therapy (CBT) for renal fatigue (BReF): a feasibility randomised-controlled trial of CBT for the management of fatigue in haemodialysis

(HD) patients. BMJ Open, 8(3), 1. Retrieved from

http://dev.up.com.br/IntegracaoEBSCO/autentica.aspx?url=https%3a%2f%2fsearch.ebscohost. com%2flogin.aspx%3fdirect%3dtrue%26AuthType%3dip%2cuid%26db%3dedb%26AN%3d1301 59229%26lang%3dpt-br%26site%3deds-live%26scope%3dsite

Özkan Tuncay, F., Fertelli, T. & Mollaoğlu, M. (2018). Effects of loneliness on illness perception in persons with a chronic disease. Journal of clinical nursing, 27(7-8).

Ramírez-Perdomo, C. A., & Solano-Ruíz, M. C. (2018). Social construction of the experience of living with chronic kidney disease. Revista latino-americana de enfermagem, 26, e3028.

Stavropoulou, A., Grammatikopoulou , M.G.,Rovithis,M., Kyriakidi,K., Pylarinou ,A. & Markaki A.G. (2017). Through the Patients’ Eyes: The Experience of End-Stage Renal Disease Patients Concerning the Provided Nursing Care. Healthcare , 5(36).

Shahdadi, H. & Rahnama, M. (2018). Experience of Nurses in Hemodialysis Care: A Phenomenological

(10)

205

Tavares, J.M.A.B.,Lisboa, M.T.L.,Ferreira, M.A., Valadares,G.V. & Costa e Silva, F.V. (2016). Diálise peritoneal: cuidado familiar ao cliente renal crônico em tratamento no domicílio. Rev Bras

Enferm, 69(6): 1172-8.

Terra, I.G. & Do Nascimento, A.R.F(2016). Imagens e representações sociais: contribuições da análise semiótica. Psicologia em Estudo, Maringá,21(2): 291-302, abr.

Thong, M.S.Y., Adrian A. Kaptein, A.A. , Krediet, R.T., Boeschoten, E.W., & Dekker, F.W.(2007). Social support predicts survival in dialysis patients. Nephrology Dialysis Transplantation, 22(3):845– 850.

Xavier, S. S. D. M., Germano, R. M., Silva, I. P. D., Lucena, S. K. P., Martins, J. M., & Costa, I. K. F. (2018). Na correnteza da vida: a descoberta da doença renal crônica. Interface-Comunicação,

Saúde, Educação; 22(66): 841-51

Zoccali, C., Moissl, U., Chazot, C. , Mallamaci, G.T.,Arkossy, O., Wabel, P., & Stuard, S. (2017). Chronic Fluid Overload and Mortality in ESRD. J Am Soc Nephrol, 28: 2491-97.

Referências

Documentos relacionados

Já os valores de comercialização, dos dois produtos estudados (soja convencional e milho safrinha), foram obtidos através de site especializado que estabelece uma projeção futura

Conclui-se que a produção de rebentos oriundos de coroas cuja gema principal foi decapitada é uma alternativa para a produção de mudas de abacaxizeiro, sendo mais eficiente

Assim, são os objetivos deste estudo conhecer o conteú- do das Representações Sociais dos familiares cuidadores de pacientes com doença de Alzheimer sobre a doença, bem como

Este artigo objetiva caracterizar a expansão do ensino superior brasileiro através da análise de uma política pública educacional e seus resultados, bem como comparar dados

As espécies exóticas utilizadas em processos de recuperação, além de impedirem a sucessão por não estabelecerem interações interespecíficas nos ecossistemas brasileiros, tendem

• Serviço de coffe-break para 350 pessoas (turno da tarde) para 4 dias contendo: Café, água mineral sem gás, suco, 03 tipos de salgados, 03 tipos de doces, bolos,

Conhecer os processos, estabelecer os procedimentos e as atribuições indicam que o domínio do saber fazer não se restringe à especificidade do trabalho, uma vez que ao ser

Para os anarco-comunistas, isso resolvia a dúvida sobre o caráter da Revolução Russa ser socialista ou anarquista: ser comunista significava ser anarquista (LA BATALLA,