Filipa Seabra
CURRÍCULO E
PROFISSIONALIDADE
DOCENTE:
Bons ventos, e bons
casamentos?
“a possibilidade de a escola se (re)afirmar
como um espaço de referência social
depende (…), da capacidade de os
professores construírem uma verdadeira
autonomia curricular
(…), que não pode
dissociar-se de três componentes que
consideramos basilares: a
competência
profissional
, a identidade profissional
e a
profissionalidade docente
”
(Morgado, 2011, p. 795).
INTRODUÇÃO
Contexto
Tendências atuais
Profissionalidade
Autonomia
Competência
Currículo
. Movimento associado à exigência de uma
formação superior para o exercício da
docência.
. Universitarização (prós e contras)
Nesta aceção, seria, em Portugal – uma
batalha ganha.
Mas o grau superior será condição suficiente?
MOVIMENTO DE
Reconhecimento de que se trata de um
processo contínuo, ao longo de toda a
carreira.
Nesta lógica, a profissionalização seria
apenas um primeiro momento, associado
à
certificação
de competência para o
desempenho da atividade docente. A este
momento, deveria seguir-se um
trabalho
contínuo
de formação (Direta, na Escola,
Fora da Escola e na Sala de Aula)
1) obrigação de prestação de um serviço específico à
sociedade.
2) corpo de saberes específicos de natureza académica
imprescindível ao bom exercício da função.
(
Conhecimento profissional
)
3) domínio de competências específicas de natureza
prática. (
Competência
)
4) exercício de juízo em relação às incertezas.
(
Autonomia
)
5) experiência como geradora de conhecimento.
(
Desenvolvimento Profissional
)
6) comunidade profissional responsável pelo controle da
qualidade. (
Prestação de contas
)(Alves & André, 2013)
Roldão (2005):
reconhecimento social
da
especificidade da função ,
existência de um saber específico ,
poder de decisão sobre o trabalho
desenvolvido
pertença a um corpo coletivo
.
PROPOSTA DE EIXOS PARA O
CONCEITO DE PROFISSIONALIDADE
DOCENTE
Competência
e
conhecimento
Formação e
Desenvolvime
nto
Autonomia
Estabilidade
Carreira e
Prestação de
Contas/
Supervisão
Reconhecime
“Todas as profissões que construíram ao longo
do tempo o reconhecimento de um estatuto de
profissionalidade plena se reconhecem, se
afirmam e são distinguidas, na representação
social, pela posse de um saber próprio, distinto
e exclusivo do grupo que o partilha, produz e
faz circular, conhecimento esse que lhe
legitima o exercício da função profissional em
causa” (Roldão, 2007, p. 96).
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL
Tardiff (2000) refere algumas características do saber
profissional:
conhecimento formal e especializado associado às disciplinas
científicas;
adquirido por um longo período de formação (universitária ou
equivalente);
diploma como requisito de acesso à profissão;
com uma dimensão voltada para a resolução de problemas
concretos;
acesso exclusivo dos profissionais ao conhecimento
necessário ao exercício da profissão (em contraponto com
leigos);
avaliação por pares;
autonomia e discernimento;
conhecimento evolutivo – requer formação inicial e contínua;
responsabilidade deontológica e controlo.
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL
No caso da profissão docente, esta
competência corresponde ao saber
profissional especializado sobre o ato de
ensinar.
Este ato, requer, por um lado, o
conhecimento especializado sobre aquilo que
se ensina (área científica), e por outro, sobre
como fazer que alguém aprenda (domínio das
Ciências da Educação) (Roldão, 2005)
incluindo assim conhecimentos “pedagógicos
(didáticos, metodológicos), disciplinares,
curriculares e experienciais” (Alves & André,
2013).
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL
No caso da Profissão Docente:
- Dificuldade ao nível do reconhecimento social desta
especificidade (todos são ‘peritos em educação’) –
linha pouco definida face ao senso comum.
Dificuldade geral de legitimação pela posse do
conhecimento
Borges (2014) salienta a dimensão pessoal e
experiencial deste saber e desta competência. Nesse
sentido, a relevância conferida à prática docente na
formação inicial de professores assume, como adiante
veremos, relevância particular.
CONHECIMENTO E COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL
“O acto educativo deve ser, essencialmente, um acto
de criação” (Morgado, 2005)
Ora, apenas se reconhecermos os professores como
profissionais dotados de um conjunto especializado de
saberes científicos, pedagógicos e profissionais
específicos, competências, capazes de atualizar-se ao
longo da sua profissão e (re)construir de modo
contínuo os saberes e competências requeridos pela
sua profissão, num contexto social mutável, podemos
confiar aos professores a capacidade de exercer uma
profissão complexa com grande margem de
autonomia.
AUTONOMIA – CONTROLO -
PRESTAÇÃO DE
Autonomia curricular – relaciona-se com o
reconhecimento de que as escolas e os professores são
atores curriculares por excelência, que não se limitam
a implementar currículo, mas que o reconfiguram,
contextualizam, apropriam, traduzem, transformam,
num conjunto de relações complexas com a
comunidade em que se integram e as populações a
quem servem.
Isso requer flexibilidade, e confiança. A lógica de
projeto, que em certa medida se tem esvaziado na
prática das escolas (veja-se o caso dos PCT), é disso
exemplo.
Relação difícil e instável com as formas de regulação –
sejam elas a montante, ou a jusante.
AUTONOMIA – CONTROLO -
PRESTAÇÃO DE
Le i tura de te ndênc i as a tuai s a par ti r da pro po st a de e i xos par a o c on c e i to de pro fi s s i o na l i d a de
«VENTOS E
CASAMENTOS»?
Bolonha – grau exigido, mestrado
Tempo e lugar do saber profissional – como ensinar, e
da socialização profissional associada ao
estágio/prática pedagógica (saber em contexto).
Ex.: Licenciado em Educação Básica – C) iniciação à
prática profissional 15 a 20 créditos; D) Formação na
área de docência 120 a 135 créditos. A) Formação
educacional geral – 15 a 20 créditos; b) Didáticas
específicas – 15 a 20 créditos. Já no mestrado, a
percentagem dedicada à prática supervisionada
corresponde, no mínimo, a 40% do total de créditos
(para as áreas específicas).
A - COMPETÊNCIA E
“o saber profissional tem de ser construído – e
refiro-me à formação – assente no princípio da teorização,
prévia e posterior, tutorizada e discutida, da acção
profissional docente, sua e observada noutros” (Roldão,
2007, 101).
Movimento social – papel do professor enquanto
transmissor de conhecimentos em crise – competição
com muitos outros modos e fontes de ter acesso ao
conhecimento.
(quer o conhecimento científico, quer o conhecimento
pedagógico, enquanto modos de legitimação
profissional, sofrem alguns abalos).
Conhecimento relacional e emocional.
A - COMPETÊNCIA E
“A crise a respeito do valor dos saberes profissionais,
das formações profissionais, da ética profissional e da
confiança do público nas profissões e nos
profissionais constitui o pano de fundo do movimento
de profissionalização do ensino e da formação para o
magistério” (Tardif, 2000, 9).
Novas competências – para além do papel tradicional
do professor
O lugar das tecnologias – força, fraqueza, ameaça,
desafio?
Entre a difusão e a tecnicização (Roldão, 2007).
A - COMPETÊNCIA E
Evidente precarização – prestígio, poder aquisitivo,
satisfação (Ludke & Boing, 2004)
Acesso dos professores contratados à carreira?
Prova de acesso?
Avaliação do desempenho docente – melhoria/qualidade
vs escrutínio e prestação de contas? Como e por quem?
Progressão na carreira?
“A profissionalidade docente ainda é afetada pelas
condições de trabalho, os meios técnicos, o respeito, a
remuneração, o prestígio e a atração exercida pela
profissão, os quais constituem um conjunto heterogêneo
de condições na maioria dos países e em geral oscilam
de acordo com suas condições de desenvolvimento
econômico, social e histórico” (Alves & André, 2013).
Supervisão/ responsabilidade/ desenvolvimento
profissional
CFAE
Condições para aceder à profissão
O professor investigador (investigador-ator) (Sousa,
2013) e a cientifização da sua prática.
A prática reflexiva
C – FORMAÇÃO E
A imagem dos professores nos media
Crise do valor social da educação na perceção social
Imagem negativa da escola (sobretudo a pública) e dos
professores (Morgado, 2005)
Terá havido alguma melhoria?
Discursos sobre os professores
«Resistência a mudança» - vs. Atores e autores da mudança
Hiper-responsabilização dos professores pelos resultados e
a qualidade do ensino.
Ao mesmo tempo –(Re)valorização da Educação?
Grande exigência face à escola e aos professores – multiplicação das
funções da educação e da escola; papel na formação de cidadãos críticos
e interventivos, e não apenas de transmissão de conhecimento: Educação
para a paz/ contra o radicalismo; Educação Ambiental; Educação para os
valores, para «viver juntos»; Educação para a Aprendizagem ao Longo da
Vida (Aprender a Aprender); Educação para selecionar e interpretar
informação (num tempo de factos e notícias «Alternativos»)…
consenso alargado quanto ao papel fundamental da educação para o
desenvolvimento dos indivíduos e das sociedades.
Direito humano à Educação – acesso a conhecimento poderoso e
transformador vs. Acesso à escolarização (Equidade no sucesso, e não
apenas no acesso).
Ou, por outro lado: Valorização de uma educação tecnocrática –
a que se repercute em resultados mensuráveis e ganhos
económicos? (Economia do Conhecimento?) (Escola Sem
Partido?)
Professor da Contemporaneidade
Ressurgimento de lógicas técnicas e burocráticas
Movimentos da pós-modernidade
Negação de um conhecimento verdadeiro/ fundamental/ universal
Desconstrução
Hibridismo
Perda da fé no progresso
Pragmatismo…
Sociedade em rede, da informação e do
conhecimento(Morgado, 2005)
Self-media (Sousa, 2013)
Fortes desafios ao currículo, ao professor e à escola
Professor, agente de reprodução ou de
transformação social? (Sousa, 2013).
E - AUTONOMIA
Até aos anos 60/70 – educação fortemente centralizada
e controlada – professor funcionário/Professor como
profissional técnico (Morgado, 2005).
Necessidade crescente de adequar a oferta educativa a
contextos e necessidades diversas – Maior
preponderância do papel da escola e do professor e
Estado Regulador. – (Re) profissionalização dos
professores.
Professor – Decisor curricular.
Currículo – mais do que um plano a ser implementado…
… uma construção participada, que acontece nos vários
níveis de decisão curricular.
… embora constrangido por uma pluralidade de decisões
e contextos envolventes, que constituem limites à
autonomia (Ludke & Boing, 2004)
Tempos e espaços de decisão curricular
Contexto meso – a escola – a colegialidade
Contexto micro – a sala de aula
Papel fundamental da relação individualizada com cada
estudante
Currículo oculto
Novos currículos à prova de professores? As metas
curriculares como dispositivo de controlo.
Flexibilidade curricular vs. Avaliação
Performatividade
O lugar dos projetos
Autonomia vs. Regulação
Benchmarking, Boas-práticas e educação como mercado
(Figueiredo, 2015)
CONCLUSÃO
Profissionalidade
Autonomia
Competência
Currículo
Carreira
Formação e
Desenvolviment
o Profissional
Supervisão e
prestação de
contas
Reconhecimen
to Social
A l v e s , C . S. & A nd ré , M . E . D . A. ( 2 0 1 3 ) . A c o n s t i t ui ç ã o da p ro fi s s i o n a l i d a d e d o c e n t e : o s e f e i t o s do c a m po d e t e ns ã o do c o n t ext o e s c o l a r s o b re o s pro f e s s o re s . 3 6 ª Re u ni ã o N a c i o na l da AN P E d – 2 9 de s e t e m bro a 0 2 d e o u t ub ro d e 2 0 1 3 , G o i â n i a - G O B o rge s , M . L . ( 2 0 1 4 ) . Pro fi s s i o n a l i d a d e do c e n te : d a p r á t i c a à p r a x i s . I nv e s t i ga r e m E du c a ç ã o , I I ( 2 ) , p p. 3 9 - 5 3 . Fi g u e i re d o , M . P. ( 2 0 1 4 ) . A f o rm a ç ã o d e pro fi s s i o na i s p a r a a e du c a ç ã o b á s i c a no c o n t ex to d o e ns i n o s u pe r i o r e u ro p e u . I n G . Po r t ug a l , A. I . An dr a d e , C . To m a z , F. M a r ti n s , J . A. C o s t a , M . R. M i g u e i s , R. N e v e s & R. M . Vi e i r a ( O rg s . ) , F o r m a ç ã o I ni c i a l d e P r o f e s s o r e s e E d u c a do r e s : E xp e r i ê nc i a s e m c o nt e xt o po r t ug u ê s ( pp . 1 9 - 3 6 ) . Ave i ro : U A E d i t o r a . D i s p o n í v e l e m : ht t p : / /c i d t ff . w e b . u a . p t / pd f / ATAS _ I I IE N E B . pd f Lud ke , M . , & B o i n g, L . A. ( 2 0 0 4 ) . C a m i nh o s d a p ro fi s s ã o e d a p ro fi s s i o na l i da d e d o c e n t e s . E d uc a ç ã o & S o c i e d a d e , 2 5 ( 8 9 ) , 1 1 5 9 - 1 1 8 0 . M o rg a d o , J . C . ( 2 0 0 5 ) . C u r r í c ul o e P r o fi s s i o na l i da de D o c e n t e . Po r t o : Po r t o E d i to r a . M o rg a d o , J . C . ( 2 0 1 1 ) . I d e n ti d a de e Pro fi s s i o n a l i da d e D o c e nt e : S e n ti d o s e ( i m ) p o s s i b i l i d a d e s . E n s a i o : Av a l . P o l . P ub l . , 1 9 ( 7 3 ) , 7 9 3 - 8 1 2 . Ro l d ã o , M . C . ( 2 0 0 7 ) . Fun ç ã o D o c e n t e : N a t u re z a e c o n s t r u ç ã o do c o n h e c i m e nt o p ro fi s s i o na l . R e vi s t a B r a s i l e i r a de E du c a ç ã o , 1 2 ( 3 4 ) , 9 4 - 1 0 3 . D i s p o ní v e l e m : ht t p : / / w w w. s c i e l o. b r / pd f / r b e d u/ v 1 2 n3 4 / a 0 8 v1 2 3 4 . p d f S o us a , J . M . ( 2 0 1 3 ) . Pro f e s s o r de o u tro r a e p ro f e s s o r d e a g o r a . Ru m o à p ro fi s s i o na l i d a de d o c e nt e . E LO, Re v i s t a d o C e nt r o d e F o r m a ç ã o F r a n c i s c o de H o l a n da , 2 0 , 1 2 5 - 1 3 5 . Ta r fi ff , M . ( 2 0 0 0 ) . Sa b e re s pro fi s s i o na i s d o s pro f e s s o re s e c o n he c i m e n t o s u ni v e r s i t á r i o s . E l e m e n t o s pa r a um a e p i s t e m o l o g i a da p r á t i c a p ro fi s s i o n a l d o s p ro f e s s o re s e s u a s c o n s e qu ê n c i a s e m re l a ç ã o à f o rm a ç ã o pa r a o m a g i s t é r i o. R e v i s t a B r a s i l e i r a d e E du c a ç ã o , 1 3 , 5 - 2 4 .