• Nenhum resultado encontrado

As muitas pedras na "caminhada do povo de Deus"

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "As muitas pedras na "caminhada do povo de Deus""

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

AS MUITAS PEDRAS NA "CAMINHADA DO

POVO DE DEUS".

Ismar

da

Silva Costal

Resmne: Resumo:

Dans ce texte nous chercherons penser Neste texto proeuraremos pensar a expe­

l'experience des sujets catholiques de rieneia dos sujeitos eat6licos de

Itapuranga-GO dans les annees 70 apres la ltapuranga-GO nos anos 70 apas a

l'estructuration diocesaine proposee par reestruturac;ao diocesana proposta pOr Dom 'romas Balduino, Pour

tant nous Dam Tomas Balduino. Para tanto, esco­ choisissons deux moments decoulants de lhemos dois momentos decorrentes des­ cette experience: l'expulsion des de sa a expulsao dos padres da la paroisse et 1a presence des latques face it par()quia e a presenC;a dos leigos frente

as

les prises de decisions dans lla paroisse et tomadas de decisoes na paraquia e na dans la diocese.

diocese.

Nas ultimas tres decadas do seculo passado [oram produzidos yarios estudos que procuraram problematizar a presen<;a da Igreja Catolica no Bra­ sil, mais precisamente a ala progressista identificada como pertencente

a

Te­ ologia da junto

as

lutas pela retomada e consolida<;ao da demo­ cracia no pais. Neste sentido, estudos foram realizados para compreender 0 papel da instituit;iio como fomentadora e mediadora de questoes sociais, ou­ tros que procuraram perceber os limites institucionais desta insen;:ao junto it

sociedade civiL

Na segunda metade dos anos 80 presenciou-se a emergencia e con­ solida<;ao, de forma acelerada, da Renoya<;ao Carismatica Cat6lica. Tal emer­ gencia se deu nao so em territorios edesiasticos considerados propkios como as dioceses conseryadoras, mas tam bern em territorios onde se semeou "da boa semente"; as dioceses

Estas transforma<;oes de modos de vin::nclas do catolicismo no Bra­ sil, tah'ez, possam ser compreendidas se pensarmos que a identidade religlOsa

I • Proft:ssor do Curso de Hist6ria do CAC/UFG, mestrando em Hist6ria peJa UFU. Linha de Pesquisa Polftica e Jmaginiirio, Vict:-Coordenador do NIESC- NucJeo InterdiscipJinar de Pesquisa e Estudos Culturais.

OPSIS - Revista do

do cat6licos brasileiro pode ser permeada pc lidades. 0 pluralismo que adotamos para viVf coloca, de certa forma, longe da maxima qll

Salus".

Assim, procuraremos pensar, a part cat6licos de Itapuranga-GO com a reesttuti Dom Tomas Balduino, nos anos 70, como e

metidos com as reorienta<;oes diocesanas, p: atua<;oes junto it Igreja de Goias, que as coloe do sagrado. Assim, se a passagem do mileni,

aponta para novas e variadas formas de viv mem; vivenclas estas que sao mais direcionac dualis ta do sagrado, nos voltamos aos an os . pensarmos como um grupo particular de cat6 Go produziram uma sensibilidade sobre suas que se queria como coletiva. Uma maneira de vivencia ao "modo do Evangelho".

Para pensarmos estas questoes escol recorrentes para as sujeitos cat6licos que vivell que sao: a expulsao dos padres cia par6quia e tomadas de decisoes na paroquia e na dioc pensados par estes sujeitos como criticos e d trabalhos de constru<;ao de uma conscifficia tanto sao marcados por duvidas e anglistias

c

zas da Caminhada do Povo de Deus.

A discus sao a ser apresentada parte Caderno de Notas que fora utilizado para or madas nas reunioes dos representant{ compromissados com 0 projeto da Igreja do

identifica-los com a denominat,:ao nativa df as principais discussoes travadas entre os cal Grupos de Base, as tensoes existentes intra e do exerdcio de se implantar uma nova fom como urn todo e em I tap uranga em particul num periodo que vai de mar<;o de 1975 am A expulsao dos padres de Itapurang~

fundante

da do Evangelho em Itapur:

Sidney Valadares Pimentel (46:1997)

... 0 even to /undante

e

um"

de eventos com as quais mi fato social ou historico. Nesu autor)que serve como ponto

(2)

AS NA "CAMINHADA DO

DE DEUS".

Ismar da Silva Costa

1

Resume:

Dans ce tcxte no us chercherons penser I'experience des sUlets catholiques de Itapuranga-GO dans Ies annees 70 apres Ia restructuration dlOcesaine proposee par Dom Tomas Balduino, Pour tant nous choisissons deux moments decoulants de celte experience: I'expulsion des pretes d~ Ia paroisse et Ia presence des Ia'iques face a Ies prises de decisions dans lla parolsse et dans la diocese,

o seculo passado foram produzidos ,Tarios tizar a presenc;a da Igreja Cat6lica no, Bra­ sista identificada como pertcncente a Te­ s pela retomada e consolidac;i'lO da demo­ dos foram realizados para compreen~er 0 tadora e meruadora de questoes SOCialS, ou­ limites institucionais desta inserc;ao junto

a

anos 80 presenciou-se a cmergencia e con­

Renovaolo Carismatica Cat6lica. Tal emer­ S

eclesia~ticos

considerados propicios como ambem em territ6rios onde se semeou "cia ssistas.

modos de viyencias do catolicismo no Bra­ .das se pensarmos gue a identidade religiosa

CAC/UFG. mestrando em Hist6ria pela UFU Linha -Coordenador do NIESe-'Kuc!eo Interdisciplinar de

OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002

do cat6licos brasileiro pode ser permeada por uma gama variada de possibi­ lidades. 0 pluralismo que adotamos para vivenciar nossa pratica religiosa nos coloca, de certa forma, longe da maxima gue diz: " Extra Ecclesiola Nulla Salus".

Assirn, procuraremos pensar, a partir das experiencias dos sujeitos cat6licos de Itapuranga-GO com a reestruturac;ao diocesana proposta por Dom Tomas Balduino, nos anos 70, como estes sujeitos cat6licos compro­ metidos com as reorientac;oes diocesanas, produziram reflexoes sobre suas atuac;oes junto

a

Igreja de Goiis, que os colocavam como sujeitos produtores do sagrado. Assim, se a passagem do milenio e a entrada num novo seculo aponta para novas e variadas formas de vivencias do religioso para 0 ho­

mem; vivencias estas que sao mais direcionadas para uma perspectiva indivi­ dualista do sagrado, nos voltamos aos anos 70 e 80 do seeulo passado para pensarmos como Um grupo particular de cat6lieos da par6guia de I tapuranga­ Go produziram uma sensibilidade sobre suas atuac;oes num projeto de igreja que se queria como coletiva. Uma maneira de fazer da vi"encia religiosa uma vivencia ao "modo do Evangelho".

Para pensarmos estas guestoes escolhemos dois momentos gue sao recorrentes para os sujeitos cat6licos que vivenciaram 0 periodo em Itapuranga

que sao: a expulsao dos padres da par6quia e a presen<;:a do leigo a frente das tomadas de decisoes na par6quia e na diocese. Estes dois momentos sao pensados por estes sujeitos como criticos e definidores de suas atuac;oes nos trabalhos de construc;ao de uma consciencia da sociedade e da religiao, por­ tanto sao mareados por duvidas e angustias dos leigos em rela<;ao

as

incerte­ zas da Caminhada do Povo de Deus.

A discus sao a ser apresentada parte, inicialmente da leitura de Um Caderno de Notas que fora utilizado para organizar e anotar as decisoes to­ madas nas reunioes dos representantes dos leigos de Itapuranga compromissados com 0 projeto da Igreja do Evangelho - gue passaremos a

identifica-Ios com a denominac;ao nativa de

Gruplio,

bern como registrar as principais discussoes travadas entre os cat6licos da Caminhada, nos seus Grupos de Base, as tensoes existentes intra e extra grupo de leigos em torno do exerdcio de se implantar uma nova forma de se ser cat6lico na diocese como um todo e em Itapuranga em particular. 0 caderno registra reunioes nurn periodo que vai de marc;o de 1975 a mar<;:o de 1977.

A expulsao dos padres de Itapuranga sera, pens ada como urn evento fundante da Igreja do Evangelho em Itapuranga, visto que, como 0 definiu Sidney Valadares Pirnen tel (46: 1997)

... 0 even to /undante e um acontecimento que inicia uma serie

de eventos com os quais mantem uma certa identidade como fato social ou historico. Neste sentido, ele e "algo novo n (gnfos do

autor)que serve como ponto de partida para "comerar-se a con·

(3)

tar 0 tempo" de algum modo, isto

e,

ele pode ser usado como um

marco historico para se produzir uma certa periodiza~iio. Neste incidente, D. Tomas ira refon;:ar a "Op<;ao Preferencial Pelos Pobres", numa a<;ao em consonancia com os leigos do Grupao e demais catolicos da Caminhada em Itapuranga. Como medida punitiva aos catoli­ cos que haviam planejado 0 evento e os demais catolicos identificados como tradicionalistas, D. Tomas, a partir de uma consulta realizada junto aos catoli­ cos da/na Caminhada da nova Igreja de Goias, fecha a Igreja de Itapuranga por sete meses, e nomeia uma leiga para realizar as funt;:oes de celebrat;:ao.

A partir deste evento a Igreja do Evangelho em Itapuranga ira rom­ per com as praticas e vivencias dos catolicos urbanos, procurando se firmar entre os Grupos de Eyangelho rurais. Neste sentido, e reafirmado a maxima da Igreja do Evangelho de que e necessario romper com rudo aquilo que e da tradit;:ao do catolicismo. Assim, foram proibidas as realizat;:oes dos tert;:os, das noyenas, das folias de reis e de outras manifestat;:oes propria do catolicismo popular no Brasil, bern como a propria realiza<;ao dos rituais sacramentais como 0 batizado, 0 casamento, e outros, sem as deyidas reflexoes da realldade. As anota<;:oes feitas neste Caderno de Notas" possibilitam analisar­ mos como este evento da expulsao dos padres e reyelador da for<;:a da tradi­ <;:ao entre os catolicos de I tapuranga. Os leigos irao encontrar toda forma de resistencia ao discurso transformador em detrimento, principahnente, da pre­ sen<;a do padre

a

frente da Igreja.

Interpretarmos os registros contidos neste caderno como senda urn documento produzido por estes sujeitos catolicos da Caminhada da 19reja de Goias e que, portanto, possibilita compreendermos como estes sujeitos vivenciaram e participaram da implanta<;ao do novo modo de se ser catollco em Goias. Este caderno assume uma impordncia por ser urn documento produzido pelos proprios catolicos que foram encarregados de ser 0 "fer­

mento da massa", no momenta mesmo em que eles vivenciavam toda a alegria e inseguran<;a do novo discurso da Igreja de GOlaS.

Cma das premissas basicas da 19reja Popular em todo Brasil e a que deveria partir do povo as formas legitimas de resistencias e lutas por urn mundo melhor e mais justo. Para que isto fosse possivel, a Igreja Popular pl'Ocurou priorizar a participa<;ao do leigo, enquanto sujeitos de sua propria historia, dentro dos canais de tomadas de decisoes e deliberat;:oes nas dioceses progressistas.

Ao chegar

a

Diocese, Dom Tomas implanta 0 sistema de assembleias

diocesanas, ja discutido no primeiro capitulo. Segundo Pessaa, "As assemblei­

2 _ Nas citaf,:oes referentes

as

anotaf,:oes contidas no Caderno de Notas seril.o mantidas a forma original do texto, procurando assim observar a oralidade do texto escrito.

OPSIS - Revisto do N

as diocesanas ( 14 ate 1988) se tornaram, end) instfmcia superior de declsoes em temas past( ceira assembleia, ocorridas em 1970, que apa~ papel do leigo dentro da nova igreja de

Go~

menta que, na Diocese, quase em sua malOna, se

it

com insignificante atuar;:ao em cu/tos, se descobre e

do peio Bispo(. ..)" . _ .

Essa preocupa<;ao na 1User<;:ao do lelg( nas paroquias ressoni'mcias conforme a acelt perde! de vista que 0 dlscurso da

podemas . " , . d

seguiu ser taO hegemonico. HOU\'e padres e! da Igreja de Goias, chegando mesma a fazer leigos por parte da EClulpe Dlocesana, fato

padres da diocese. . '

Se a transforma<;ao da IgreJa de G( no contigente de padres e freiras que estavart "Paradoxaimente, 0 mesmo motivo que os lev, surpreenderam com as novas atribuir;:oes do seu

",

d

a" (Pessoa 1990:12 converteram as mu anr;: s. . ,

"0 Nosso Trabalho

Ja

E

Liberta':fao Frente a "Nova RI

Passado 0 susto e 0 me do com a e:

reafirmada a alian<;a com os "pabres e opr da punis:ao imposta aos "grandes" de Ital continuarem a sua Caminhada de Llbertas:

o

episodio da cxpulsao dos pa demarca uma nova fase no projeto de mst catolico em Itapuranga.

Ao reafirmar 0 redirecionament( compromisso da transforma<;ao da 19rej: mente identificado como sendo da Camm novo articulador do saber religioso em

It:

ser

a Igreja de

GOUlS.

Assim Carlos Rodrl Eies constituem, em pTl onais da Diocese. Em SJ bispo ou voiuntarios in pastoral, das equipes , algum dos grupos e m( portanto, os que partie igreja ", atraves de rea

(4)

82

modo, isto e, elepode ser usado como um se produzir uma certa periodizafao. ira refon;ar a "Opt;ao Preferencial Pelos

com os leigos do Grupao e demais Como medida punitiva aos cat6li­ e os demais cat6licos identificados como

uma consulta realizada junto aos cat61i­ de Goias, fecha a 19reja de I tapuranga para realizar as func;:oes de celebrat;ao. . do Evangelho em Itapuranga ira rom­ cat6licos urbanos, procurando se firmar

Neste sentido,

e

reafirmado a maxima

...c:~~'lnu romper com tudo aquilo que

e

da proibidas as tealizac;:oes dos tetc;:os, dag manifestat;oes propria do catolicismo . realizas:ao dos rituais sacramentais sem as devidas reflexoes da realidade. . . .,"U!~u,:v de Notas" possibilitam analisat­ dos padres

e

reyelador da forc;:a da tradi­ Os lelgos irim encon trat toda forma de em detrimento, principalmente, da pre­ contidos neste caderno como sendo urn

cat6licos da Caminhada da Igreja de compreendermos como estes sujeitos _UIl:''',"LU do novo modo de se ser cat6lico importimcia por ser um documento que foram encarregados de ser 0 "fer­

.teS1TIO em que e!es vivenciavam toda a da Igreja de Goias.

19reja Popular em todo Brasil e a que de resistencias e lutas par urn isto fosse passive!, a IgreJa Popular leigo, enquanto sujeitos de sua propria de decisoes e deliberas:oes nas dioceses implanta 0 sistema de assemblt~ias ....1)IlIJ1U, Segundo Pessoa, ".A.5 assemblei­

no Caderno de Notas serao mantidas a a oralidade do texto escrito.

OPSIS - Revista do Niese, V.Z, N.J, Jan/Jun, ZOOZ

as diocesanas ( 14 ate 1988) se tornatam, entao, segundo se diz na diocese, a instancia superior de decisoes em tetnos pastotais."( 1990,124). Sera na ter­ ceita assemble!a, ocortidas em 1970, que aparecera a discus sao em tomo do papel do leigo dentro da nova igreja de Goias. Para Moura(1989), "Esse seg­ menta que, na Diocese, quase em sua maioria, se ligava

a

Igreja ritualisticamente, au com insignificante atuafao em cultos, se descobre e e descoberto como ator e confirma­ do pelo Bispo(.. .)"

Essa preocupac;:ao na inser<;:ao do leigo nas discussoes diocesanas tera, nas par6quias ressonancias conforme a aceitac;:ao do paroco local. Pois, nao podemos perder de vista, que 0 discurso da nova Igreja de Goias nao con­

seguiu set tao hegem6nico. Houve padres descontentes com a transformat;ao da Igreja de Goias, chegando mesmo a fazer acusac;:oes de manipula<;oes dos leigos pot parte da Equipe Diocesana, fato que ocasionou a saida de yarios padres da diocese.

Se a transforma<;ao da Igreja de Goias assustava e causava "baixas" no contigente de padres e fteiras que estavam atuando no territ6rio diocesano, "Paradoxa/mente, 0 mesmo motivo que as levava a sair, atraia outros. Alguns se surpreenderam com as novas atribuiroes do seu ministerio mas permaneceram e "se converteram" as mudanras." (pessoa, 1990:128)

"0 Nosso Trabalho

Ja

E

Liberta~ao?"- 0 Repensar dos Leigos Frente a "Nova Realidade"

Passado 0 susto e 0 medo com a expulsao dos padres de Itapuranga,

reaflrmada a alianc;:a com os "pobres e oprimidos" atraves da fala do bispo e da punic;:ao imposta aos "grandes" de Itapuranga, restava aos no\'os deitos continuatem a sua Caminhada de Libertac;:ao.

o

epis6dio da expulsao dos padres, como urn evento fundante, demarca uma nova fase no ptojeto de instaurat;ao de uma nova forma de set catolico em I tapuranga.

Ao reafirmat a redirecionamento das alian<;as, 0 bispo rea firma 0

compromisso da transformat;ao da Igreja de Goias. Agora 0 leigo, devida­

mente identificado como sendo da Caminhada da 19reja de Goias, torna-se 0

novo articulador do saber religioso em Itapuranga, reaflrmando a posit;ao de

ser

a Igreja de

Goias.

Assim Carlos Rodrigues Brandao(1992;56) as deflnem:

Eles constituem, em primeiro lugar, 0 corpo estavel de profissi­

onais da Diocese. Em sua maio ria SilO Joraneos, chamados pelo

bispo ou voluntarios integrados em alguma das coordenaroes de pastoral, das equipes diocesanas de pratica cotidiana, au em algum dos grupos e movimentos de "renovarao da igreja". Sao portanto, os que participam do que denominam uma "vida de igreja", atraves de realiza-la como uma "pastoral de compro­

(5)

misso". sao eles, em suas comunidades locais, os agentes ativos do "trabalho pastoral

da Diocese"; sao os seus representantes em

momentos de reunioes e tomadas de decisoes regionais... Reforc;:ados em suas condic;:oes de novos produtores do sagrado em Itapuranga, a duvida que restou aos sujeitos catolicos era 0 que fazer? Sim,

pois 0 episodio demarca tambem a questao do

valor do padre

junto aos catolicos. 0 que fica mais nitido neste evento e 0 papd fundamental do padre como membro articulador dos sujeitos catolicos.

o

que se instaura neste momento e 0 inkio da crise em torna da autonomia do leigo. Se por urn lado a Diocese procura estimular a presenc;:a destes como os novos produtores do sagrado, por outro Iado ha os catolicos que nao compartilham da ideia de se ter leigos como articuladores do saber religioso; questao que sera tema do Primeiro Encontro dos Leigos da Diocese de Goias, ocorrido em julho de 1975.

A partir da leitura de Carmem Cinira tvlacedo em seu

Tempo de

Genesis,

podemos estabelecer um dialogo entre os acontecimentos ocorridos

em Itapuranga e aqueles que ela analisou em Morro Grande. 0 prajeto de uma possivellegitimidade da ac;:ao do leigo frente aos trabalhos sacramentais e apontado par j\[acedo assim como tambem pelos sujeitos cat6licos em I tap uranga.

Guardadas as devidas diferenc;:as, 0 que estamos propondo compa­ rar e a pratica em tomo da presenc;:a do leigo como agente religioso demarcada pelo compartilhar de uma nova identidade religiosa. As crises e criticas en­ frentadas pelos militantes totais da Igreja de Goias, principalmente aqueles membras do Grupao fizeram com que as suas ac;:oes fossem amplamente discutidas em grupos na cidade e na zona rural.

;\pesar de haverem conseguido sensibilizar uma parcela da popula­ c;:ao urbana em tamo da questao de se solidarizar contra a violencia cometida contra os padres, estes mesmos cat6licos nao aceitavam a presenc;:a de leigos como articuladores do sagrado. Para Carmem Cinira Macedo (1986, p.262): A popularao, ..., ainda espera muito dos padres e, com certeza, permanece acreditando que sem eles nao existe, de Jato, nem religiao nem catolicismo. Ra uma "sacralidade" na representa­ rao que se tem dos membros do clero, e que nao se projeta sobre nenhum leigo, por mais ativo, bern intencionado, lucido, cons­ ciente e dedicado aos demais que possa ser. Respeitam-se algu­ mas pessoas de modo especial, mas sua idern~fica<;:iio como leigas sempre permanece.

.!\:as reunioes realizadas pelos coordenadores dos Grupos de Evan­ gelho, em Itapuranga, logo ap6s a expulsao dos padres e 0 fechamento da

OPSIS - Rewsto (l

Igreja, as conclus6es em tome da importar nime. Todos queriam a volta da missa ceh discussao da primeira reuniao registrada m de marc;:o de 1975 e sobre a prepara<;ao pal tiradas sobre 0 que fazer esbarrou na

figu

do Xixaza04 , que realizaram tres reuni6es, - Nao tem padre nao tem

-E

dificil reunir. Os grupos que se reuniram nas "l:

melhor conclusaa:

- boa - aproJundaram be nao chegam lao

a

pessoal Entre 0 primeiro grupo e 0 segun tecer uma interpreta<;ao. Aqui os coordenat car os catolicos conforme a sua localiza<; Aqueles que estao no centro do bairro sac dos, nao sendo possivel reuni-Ios, enquant( das, na periferia do bairro sao mais interes "os boatos naa chegam hi". Ao mesmo te ticipar das reuni6es promovidas pelos agent sobre 0 que esta acontecendo na paroqui3 que a terceira assembleia diocesana, reali: necessidade de se trabalhar com os leigos cidades, visando sua conscientizac;:ao e just

J

a as reunioes realizadas no Xixaz: relatado que nao houve nenhum incidente. de urn grupo, que nao deu apoio, e, que rt nao Fosse 0 padre Ivo Polleto. 0 principal·

fianc;:a no trabalho que a diocese estava iml pera principal, bonitao e acomodado".

3 _ Segundo Dona Rita, 0 grupo que organizou a e~

movimento para trazer de volta 0 Monselhor Line

chegada de Dom Tomas it Diocese e que era consi, nem sequer discutiu com este grupo esta possibil obtidas com cat6licos mais tradicionalistas, era co caravanas para irem it cidade de Rubiataba assistil

4 _ A cidade de Itapuranga

e

dividida em duas regi

do povoamento que

e

conhecido pOf Xixaz1lo, e al Xixa

e

0 nome de uma arvore abundante na regi povoado, segundo Thomaz Ferreira Lemos, pelo·

(6)

em suas comunidades loeais, os agentes ativos

da Diocese"; sao os seus representantes em

e tomadas de decisoes regionais... de novos produtores do sagrado em sujeitos cat6licos era 0 que fazer? Sim,

a questiio do

valor do padre

junto aos evento e 0 papel fundamental do padre

cat6licos .

• lornel:HO e 0 inkio da crise em torno da

a Diocese procura estimular a presenc:;a sagrado, par outro lado ha os cat6licos ter leigos como articuladores do saber Encontro dos Leigos da Diocese .meltn Cinira Macedo em seu

Tempo de

_Ia1C)I!:O entre os acontecimentos ocorridos

em 1\1orro Grande. 0 projeto de leigo frente aos trabalhos sacramentais tambem pelos suieitos cat6licos em

, 0 que estamos propondo compa­

leigo como agente religioso demarcada ~tlaalae religiosa. As crises e criticas en­

Igreja de Goias, principalmente aqueles que as suas a<;oes fossem amplamente zona rural.

sensibilizar uma parcela da popula­ solidarizar contra a violencia comerida

nao aceitavam a presen<;a de lelgoS Carmem Cinira Macedo (1986, p.262): espera muito dos padres e, com certeza, que sem des nao eXlste, de jato, nem Hd uma "sacralidade" na representa­ membros do clero, e que nao se projeta sabre

ativo, bem inteneionado, lucido, eons­ demais que possa ser. Respeitam-se algu­ especial, mas sua identificarrao como leigas

coordenadores dos Grupos de Eyan­

-.a.L'Ul:"IU dos padres e 0 fechamento da

OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002

Igreja, as conclusoes em torno da imporrancia da presen~a do padre era una­ nime. Todos queriam a volta da missa celebrada por urn padrel

• E, como a discussao da primeira reuniio registrada no Caderno de Notas, datada de 16 de marc:;o de 1975

e

sobre a prepara<;ao para celebrar a Piscoa, as conclusoes riradas sobre 0 que fazer esbarrou na figura do padre. Os grupos da regiio do Xixazao· , que realizaram tres reunioes, chegaram a conclusao de que:

- Nao tern padre nao tem religiao,

-E

di/fcil reunir.

Os grupos que se reuniram nas "beiradas", no entanto, riveram uma melhor conclusao:

- boa - aprojundaram bem. 0 boletim ajudou bern. Os boatos nao ehegam ld. 0 pessoat das beiradas sao interesados.

Entre 0 primeiro grupo e 0 segundo grupo urn detalhe nos permite

tecer uma interpretar;ao. Aqui os coordenadores criam urn sistema de classifi­ car os cat6licos conforme a sua localizac:;ao geognifica ocupada na cidade. Aqueles que estao no centro do barrro sao identificados como desinteressa­ dos, nao sendo possivel reuni-los, enquanto que os que se localizam nas beira­ das, na periferia do bairro sao mais interessados, no en tanto, e destacado que "os boatos nao chegam Ii". Ao mesmo tempo que ha preocupa<;ao em par­ ticipar da;;; reunioes promovidas pelos agentes da Igreja, ha uma desinforma<;ao sobre 0 que esta acontecendo na par6quia.

E

interessante lembrarmos aqui, que a terceira assembleia diocesana, realizada em julho de 1970, reforr;a a necessidade de se trabalhar com os leigos da zona rural e das periferias das cidades, visando sua conscientizac:;ao e jusrir;a (Moura,1989:50).

Ja

as reunioes realizadas no Xixazinho, num total de oito grupos, f01 relatado que nao houve nenhum incidente. Todos participaram, com excec:;ao de um grupo, que nao deu apoio, e, que ressaltaram querer outro padre que nao fosse 0 padre Ivo Polleto. 0 principal argumento era 0 medo e a descon­

fianc:;a no trabalho que a diocese estava implantando. Para outros, 0 "padre

e

a perra principal, bonitao e acomodado".

3 _ Segundo Dona Rita, 0 grupo que organizou a expulsao dos padres. organizou tambem urn movimento para trazer de volta 0 Monselhor Lincon. que era padre em Itapuranga antes da chegada de Dom Tomas

a

Diocese e que era considerado como tradicionalista. Dom Tomas nem sequer discutiu com este grupo esta possibilidade. No entanto, segundo informa"oes obtidas com cat61icos mais tradicionalistas, era comum catolicos de Itapuranga organizarem caravanas para irem

a

cidade de Rubiataba assistir missa e ate mesmo batizar os seus tilhos. 4 _ A cidade de Itapuranga e dividida em duas regioes: uma mais antiga. onde se deu 0 inicio do povoamento que e conhecido por Xixazao, e a outra mais nova como sendo 0 Xixazinho. Xixa e 0 nome de uma arvore abundante na regiao e da mesma derivou 0 nome dado ao povoado, segundo Thomaz Ferreira Lemos, pelo engenheiro Humberto Rizo, em 1933.

(7)

.

A partir destas reunioes realizadas nos Grupos de Evangelho, os ca­ t6licos iam aos poucos aprofundando no novo sentido de ser cat6lico na diocese de Goias. Aos poucos estes leigos come<;:am tam bern a questionar 0

seu papd frente

a

Diocese. Para a grande mruoria 0 leigo deveria ser reconhe­ cido como parte da Igreja. Afirmam que

"responsabilidade do cristao

e

igual

a dos padres. "

No entanto, estes sUJeitos cat6licos esqueceram-se que apesar

de transformadora, revolucionaria, a Igreja do Evangelho continuava ainda uma 19reja ligada

a

tradis:ao da Igreja Cat6lica Apost6lica Romana e como tal, so mente aqudes agentes ditetamente ligados

a

sua cstrutura como padres e Freitas poderiam ministrar os sacramentos.

Sobre a autonomia dos leigos frente ao trabalho da nova evangeliza<;:ao, Pessoa(1990,154), citando Turner, nos diz que "a tao ressaltada 'autonomia' dos leigos nao passou de 'ritos de crises da vida', onde a 'eleva<;:ao' e a 'rever­ sao' do 'status' serVlram exatamente para definir papeis axiomiticos, imutaxeis(...)dentro da institui<;:ao(o papd do sacerdote, principalmente)."

E tomando de emprestimo a Pessoa estas questoes expostas por Turner sobre os ritos de crises da vida, que podemos construir urn entendi­ men to sobre a crise presente nas avalia<;:oes realizadas pelos cat6licos do Grupao, que ficaram registradas no Caderno de Notas.

As primeiras anota<;:oes do Caderno de Notas datadas de 16 de mar­ <;:0 de 1975, iniciahTlente cita uma leitura da Biblia do Livro de Exodo, capi­ tulo 04, vers1culos de 10 a 14 e capitulo OS, vers1culos de 01 a 09. Nesta passagem Moises recebe de Deus a ordem de ir ao Egito libertar os israelitas. Moises, no entanto, questiona-se diante de Deus, dizendo ser incapaz de rea­ lizar tal tarefa, e 0 Senhor Ihe diz que ele seria 0 seu mensageiro. Assim,

Moises de porte das revela<;:oes parte para libertar 0 seu povo da opressao. 0

Livro de Exodo, que significa saida, narra a saida de Israel do Egito, conduzi­ dos por Moises. (Biblia Sagrada, 1989, p.85-6)

Assim, de posse da leitura biblica, caberia aos cat6licos da Caminha­ da entio a interpreta<;:ao da realidade

a

luz do Evangelho. A questao proposta, pelos membros do Grupao para reflexao era a seguinte:

1)Existe tambem hoje, gente que pensa igual ao Farao eaos Eg{p­

cios?

2)Nos, estamos vivendo, como fara6, ou como os Isrraelistas? 3)0 nosso trabalho jd

e

libertarao?

Postas as questoes pdos coordenadores do Grupao, 0 plenario assim

se manifestou:

- "Somos covardes, ego{stas e as vezes fara6"

"Precisamos nos conhecer-umr, libertar de tudo, principalmen­

te

da tradirao da igre;a. ""

- "Organizdroes que engambela, 0 povo nao toma parte. Os gran­

OPSIS - RevisttJ ,

des jd os fazem. lmpoe." · "Mentalidade de obdece - "Os faraos coiocam na c, tempo, gente oprimida qi

contra- torna opressor. " · "lsrraelitas de hoje, queP' que a citua(:(w nao

e

boa. · "Moises de hoje

e

querY, reconhecendo que

e

[raco - "Pensar em deixar, em! Ouvidas as coloca<;:oes do plenari propuseram tres questoes para 0 deba

Apro/undar":

- 1-"0 nosso trabalho

e

co - 2-" A Esperanr;a de Ii.

Evang. Deus".

- 3-"Por que a Igreja se t·

"-\ conclusao apresentada pelos cc "A propria igreja[oi inC! dres [0 ram educados aSS! acomodada dos oprimid se e chuta os outros? DelA

nos e os outros. Sozinho , que so vem depois da ml A

je dos

1" cristaos era, lado do poder[oi que tu Es ta Reuniao do Grupao, de 16. samos entender a matriz interpretativa d

Tendo a expulsao dos padres como pano tava para os sujeitos cat6licos era a de d que sao e fazem a Igreja do Evangelho e: de tal Igreja. Assim posto quem estava na

GO como 0 ?OVQ de l",,~d

a

procura de.

de opressao e injusti<;:a. Os que; por ouU sao dos padres e aque1es que os apoiavar opressores, os poderosos, logo portant! ptatica entao a maxima da Teologia da 1. gelho

a

luz da realidade.

o

que fica evidenciado para estes 87

(8)

86

ealizadas nos Grupos de Evangelho, os ca­ ndo no novo sentido de ser catolico na es leigos come<;:am tambem a questionar 0 grande maio ria 0 leigo deveria ser reconhe­

que "responsabilidade do cristiio

e

igual ujeitos cat6licos esqueceram-se que apesar , a Igreja do Evangelho continuava ainda eja Cat6lica Apost6lica Romana e como tal, te ligados

a

sua estrutura como padres e os frente ao trabalho da nova e\'angeliza<;ao,

nos cliz que "a tao ressaltada 'autonorrua' crises da vida', onde a 'elevac;:ao' e a 'rever­

ente para definir papeis axiomaticos, o papel do sacerdote, principalmente)."

o a Pessoa estas questoes expostas por vida, que podemos construir um entendi­

. c;:oes realizadas pelos catolicos do Grupao, ode Notas.

Cademo de Notas datadas de 16 de mar­ leitura da Biblia do Livro de Exodo, capi­ ·capitulo 05, verslculos de 01 a 09. Nesta 11. ordem de it ao Egito libertar os israelitas. .. nte de Deus, dizendo ser incapaz de rea­

. que ele seria 0 seu mensageiro. Assim,

te para libertar 0 seu povo da opressao. 0

narra a saida de Israel do Egito, conduzi­ 989, p.85-6)

biblica, caberia aos catolicos da Carrunha­ eiduz do Evangelho. A questao proposta,

flexao era a seguinte:

hoje, gente que pensa igual ao Farao e aos Eg{p· ·vendo, como farao, ou como os Isrraelistas?

jd.

e

libertafaO?

rdenadores do Grupao, 0 plenario assim

5, egoistas eas vezes farao"

conhecer·unir, iibertar de tudo, przncipalmen­

ria igreja."

eengambela,

°

povo nao toma parte. Os

gran-OPSIS - Revista do Niese, V.Z, N.1, Jan/Jun, 2002

d.f'o~)ti!)5/flZ.f.W.. lwpfj£.. "

, "Mentalidade de obdecer tudo que esta no papeJ"

. "Osfaraos coiocam na cabefa do povo que isto eperigoso, perde tempo, gente oprimida que nao acredita na libertafao e vai ate contra· torna opressor. "

. '1srraelitas de hoje, que prorura l.evar a vida a serio ediscubrimos que a cituafclO nao e boa. ")

"Moises de hoje e quem infrenta 0 trabalho, a vida, mesmo

reconhecendo que Iffraco e duro"

- "Pensar em deixar, em se acorvardar e ser Farao. "

Ouvidas as colocac;:oes do plenario, os coordenadores do encontro propuseram tres questoes para 0 debate, como sendo "Assuntos para

Aprofundar":

1- "0 nosso trabalho If como a caminhada no deserto e sempre?" 2·" A Esperanfa de liberdade . So para ficar livre? Ou no Evang. Deus" .

- 3- " Por que a 19reja se torna opressora?"

A conclusao apresentada pelos coordenadores foi a seguinte:

"A propria igreja foi inconciente. Os proprios papas, Bispos, pa·

dres foram educados assim. Ser bonzinhos e aceitar tudo. A paz acomodada dos oprimidos. Sofremos por que cada um quer pra se e chuta os outros? Deus nao quer assim. "Efe" que safvemos a nos e os outros. Sozinho ninguem salva. A SalVafaO nao eaquela que so vem depois da morte, If hoje, aqui If vida.

A

je

dos 1" cristaos era diforente, depois q/e a Igreja passou ao lado do poder foi que tudo mudou".

Esta Reuniao do Grupao, de 16.03.75 e fundamental para que pos­ samos entender a matriz interpretativa da "Carrunhada do povo de Deus". Tendo a expulsao dos padres como pano de fundo, a questao que se apresen­ tava para os sujeitos catolicos era a de demarcar as diferen<;:as entre aqueles que sao e fazem a Igreja do Evangelho e aqueles que nao aceitam a existencia de tal Igreja. Asstm posto quem estava na Caminhada estava sendo identifica­ do como 0 povo de Israel

a

procura de uma nova terra, livre de toda forma

de opressao e injusti<;:a. Os que; por outro lado, haviam promovidos a expul­ sao dos padres e aqueles que os apoiavam, eram identificados como sendo os opressores, os poderosos, logo portanto como sendo 0 Farao. Estava em pratica entao a maxima da Teologia da Liberta<,:ao que era a leitura do Evan­ gelho

a

luz da realidade.

(9)

1

A vida nao

e

a eterna repeti~ao do mesmo, hd um fluxo de acontecimentos, uma estrada, uma caminhada, como dizem. No discurso religioso, isso aparece como a possibilidade da cons­ tru~ao do Reino, atraves da uniao de todos, na caridade e na ;ustira. Mas nao aparece mais como 0 sonho da vida eterna, nem

como dddiva dos reus. Aparece agora como /ruto da luta e do trabalho, do esJor~o de cada um e de todos. (Macedo, 1986:243) Nesta perspeeciva de que a vida e fruto da luta e do trabalho

e

que os cat6licos da "Caminhada do Povo de Deus" em Itapuranga optaram por realizar, no ana de 1975, uma preparac,ao para a celebrac,ao da paseoa voltada para as discuss6es nos bairros, ou melhor nos grupos de Evangelho. No dia 06 de abril de 1975, foi realizado urn "Encontro dos Coordenadores" na cidade para revisao do trabalho sobre a pascoa. As conclus6es apresentadas peios coordenadores indiearam uma aplieac,ao das novas regras dioeesanas:

o Nao hd liberta~ao, hd muita escravidao. o Algumas missas estava morta, so serimonia

- Pdscoa de [uto, por Jalta dos padres. A Pdscoa continua - tem escravos. Os homens precisa de Evang. 0 povo nao conhece nada. Precisa atingir 0 povo.

o Essas rezinhas nao adianta nada. Agente reza pia ter ocasiao

de ver 0 Evang. Quando atinge 0 povo eles gostam.

- Nos como crist. Devemos ser como 0 Soldado pia ter ordem,

vigia contra 0 mal;.

o Opressao, os pioes so causa problema. Acham que 0 padre

e

a

pera principal. bonitao e acomodado. Acha bom a missa da televisao.

-Os costumes velho tem que ser deixado para se renovar. Antiga· mente a igreja dava um passo a /rente e 3pia tras. Agora td indo so pia /rente.

Os vicentinos estao com calma, resao 0 ter~o para dar oportuni·

dade. Houve mesmo algumas JoJocas dentro das resas, mas com a verdade isso passou e no final Joi bom. Terro ou resas sem liga~ao com igreJa

e

Jurar a ordem do Bispo.

. Problema de mulheres ( no original) de vida livre perto das familias - nao hove solurao. Queremos estudar sobre isso. -Pdscoa

e

passagem. Todos sao empregados, nao tem valor. Tudo que Jaz

e

pouco pia 0 patrao. Lavadeira 11 /reguisia de roupa,

CR$35,OO, vai embora daqui pia ver se melhora, por que nao dd pra comer. Querem reunir mais perto pra ve se Jaz uma passa· gem. Um ajudar 0 outro .

. Dao valor no padre como padre, nao gente. Quem tem televi­ sao nao vao, sao escravos. 0 povo tem outros interesse melhor.

OPSIS - Revista •

Ao final desta reuniao foi apresen Somos coordenadores. Ir visitas, afim de unirmos estamos at. Alguns deixa dades, Jasem visitas, reI entao de estudar nOvas tambem 0 d{zimo (a m

fazer?

As reflex6es realizadas pdo grup' que estavam sendo diseutidas naquele mo ser deixadas de lado, ao mesmo tempo, problemacizar questoes basicas do seu c "mulheres de vida livre" com as familias. ~ ras recebem uma atem;ao especial na disCl existe uma opressao do trabalhador

pel.

taos" de,-em denunciar toda forma de 01

questao moral a ser combacida que

e

a ~ com as "casa de familia". A prostltu1<;:a pecado, imoralidade. Portanto distante dt cao e 0 combate. Tao permclOso como ~presentada nas conclusoes como sendo maior participa<;ao das pessoas. Prmclpah ter aeesso

a

missa, cida como alien ada, c( Assim, podemos pereeber tamb eer uma politica de boa vizinhan<;a com todo este periodo se manciveram distant gelho. Dois pontos, endo, merecem de, em se eriar uma maneira de arrecadar fUl

do grupo. Esta questao e fundamental v: cos "militantes totais" era inviavd a par eram realizadas em todos os municipio Igreja, e 0 segundo a forma como as n

urn roterro pre-estabelecido atraves de Sobre a questao da autonomia do leig direcionamento da Igreja dentro das nO\ fun<;ao predeterminada, seguindo os pa cando estes passes con forme as diSCUSS Outta questao inscigante preser tante referencia aos demais cat6licos c dos noyos "bens simb6licos" produzid Goias, como sendo 0 povo enquanto c

(10)

a eterna repetirao do mesmo,

hd um fluxo

de

l

pDVO.

~

uma estrada, uma caminhada, como dizem.

'giDso, iSSD aparece como a pDssibilidade da COns­ , atraves da uniao de lodDS, na caridade e na

aparece mais como 0 sonho da vida eterna, nem

s ceus. Aparece agora como fruto da luta e dD 'OrrDde cada urn ede todos. (MacedD,1986:243) a vida e fruto da luta e do trabalho

e

que as

o de Deus" em Itapuranga optaram por ara<;iio para a celebra<;:ao da pascoa ,'oltada melhor nos grupos de Evangelho. No dia urn "Encontro dos Coordenadores" na bre a pascoa. As conclusoes apresentadas a aplica<;ao das novas regras diocesanas: aD, hd muita escravidao.

estava morta,

so

serimonia

porfa/ta do! padres. A Pdscoa cDntinua - tem ens precisa de Evang. 0 povo nao cDnhece nada. nao adianta nada. Agenre reza pia ter Dcasiao

Quando atinge a povo eles gostam.

Devemos ser como 0 SoldadD pia ter Drdem, ~es so causa problema. Acham que '0 padre e a

bonitao e acomDdado. Acha bom a missa da

tem que ser deixado para se renDvar. Antiga­ aurn passo a /rente e 3 pia tras. Agora ttl indo

CDm calma, resao 0 terro para dar oportuni­

'0 algumas fofocas dentro das resas, mas com

SDU e nD final fDi bom. Terra ou resas sem

. e

furar a Drdem do Bispo.

!heres (no original) de vida livre perto das soluraD. Queremos estudar sobre isso. . Todossaoempregados, nao tem valor. Tudo aD patrao. Lavadeira 11 /reguisia de roupa, bora dtqui pia ver se melhora, por que nao dd

reunir mais perto pra ve se faz uma passa­ Dutro.

re comD padre, naD genre. Quem tem televi­ craws. 0 povo tern outros interesse melhor.

88

OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002

1\0 final desta reuniiio foi apresentada a seguinte proposta:

Somos coordenadores. Iniciamos 0 trabalho de quarteirao com

visitas, afim de unirmos mais e contribuir com 0 dtzimo. Agora

estamos at. Alguns deixaram, outros continuaram com dificul­ dades, fasem visitas, reunioes. 0 dtzimo acabDu. Precisamos

entao de estudar novas maneiras pia continuar as reunioes e tambem 0 dtzimo ( a maneira de sustentar 0 trabalho). 0 que

fazer?

As reflexoes realizadas pelo grupo apontam para as questoes basicas que estavam sendo discutidas naquele momento: as tradi<;oes da igreja devem ser deixadas de lado, ao mesmo tempo, estes sujeitos cat6licos procuram problematizar questoes basicas do seu cotidiano como a proximidade das "mulheres de vida livre" com as familias. Se par um lado, as mulheres lavadet­ ras recebem uma aten<;:ao especial na discus sao do grupo, vis to que para estes, existe uma opressao do trabalhador pelo patrao, e que, como "novos cris­ taos" devem denunciar toda forma de opressao, por outro lado, eXlste uma questao moral a ser combatida que e a proxirni~ade da zona de prostitui<;iio com as "casa de familia". A prostitui<;ao contmua aSSlm a ser VIStO como pecado, imoralidade. Portanto distante de qualquer a<;:ao que nao seja a nega­ <;ao e 0 combate. Tao pernicioso como a prostitui<;ao e a televisao. Esta e

apresentada nas conclusoes como sendo a grande barrelra ~ue Im~ede u,ma maior participa<;ao das pessoas. Principalmente por que atraves de1a e paSSIve! ter acesso

a

missa, tida como alienada, conservadora e tradicionalista.

Assim, podemos perceber tambem uma preocupa<;ao em estabele­ cer uma politica de boa vizinhan<;a com os cat6licos Vicentinos que durante todo este periodo se mantiveram distante das discussoes da Igreja do Evan­ gelho. Dois pontos, entao, merecem destaque: 0 primeiro e ~ preocupa<;:ao em se criar uma maneira de arrecadar fundos para a manuten<;:ao do trabalho do grupo. Esta questio e fundamental visto que para a maioria destes cat6li­ cos "militantes totais" era inviavel a participa<;ao nas constante reunioes que eram realizadas em todos os municipio diocesanos sem a ajuda financeira da Igreja, e 0 segundo a forma como as reunioes eram coordenadas, seguindo um roteiro pre-estabelecido atraves de um boletim preparado pela dlOcese. Sabre a questao da autonomia do leigo, mais uma vez, 0 que temos e a direcionamento da Igreja dentro das novas perspectivas. 0 leigo executa uma fun<;:ao predeterminada, seguindo as passos do que deve ser discutido e apli­ cando estes passes con forme as discussoes em cada grupo.

Outra questao instigante presente nas conclusoes do grupo

e

a cons­ tante referencia aos demais cat6licos que nao comparrilha\'am diretamente dos novos "bens simb6licos" produzidos pelos novos cat6licos da 19reja de Goias, como sendo 0 povo enquanto que aqueles identificados com a

Cami·

(11)

nhada da nova Igreja de Goias eram denominados de cristaos. Assim, e comum encontrarmos nas entrevlstas realizadas com os ex participantes do Grupao expressoes como: -" 0 povo nao entendeu, 0 povo teve medo, 0 povo se assustou, 0 pavo

e

pela tradifao e tem ambifaO". Enfim, em varios momentos aparece, tambem no Caderno de Notas estas categorias usadas para diferen­ ciar os cat6licos em Itapuranga.

Se as condusoes apresentadas pelos grupos urbanos apontam para uma dificuldade em converter novos cat6licos para a Igreja do Evangelho, 0

mesmo nao acontece com os cat61icos das regioes de Guaraita, Bali e Laran­ jal. Estas regioes sao consideradas, pelos sujeitos por nos entrevistados, como dissemos acima, na sua maioria ex-membros do Grupao, como sendo regi­ oes que tiveram uma organiza~ao mode1o dos Grupos de Evangelho para toda a Diocese. As condusoes apresemadas pela plenaria, no dia 20 de abril de 1975, foram as seguintes:

"S.Paulo /undava as grupinhas mostrava 0 caminho e os deixa­

va pia ir a outros. Escrevia cartas. -Agente toma respansabilidade

-A explo do! grupos

e

que os outros VaG descabrindo. Precisamas ter paciencia e serfirmes.

a

trabalho mecheu muito com 0 povo

contra. 0 Evang. Que nao meche com 0 pessoal nao da para

seguir. Hei preOCUpafaa com os sacramentos. Eucaristia sem uniao, mudanfa de vida nao if Peiscoa.

- Viram na rOfa que deve trabalhar um para 0 outro para servir

e nao ficar marcando dia. Na medida que precisar.

- Na igreja nao tem boneco para mandar 0 pova. Somos gente

que queremos acertar. Assim 0 padre ajuda, diferente atrapalha.

-A realidade colocada sobre a cabera no povo if dura. "se 5Omos comunistas 0 Cristo /oi 0 maior e me/hor comunista ".

Nesta reuniao aparece pela primeira vez a discussao sobre a possibi­ lidade de reabertura da Igreja de Itapuranga. A questao posta para discus sao do grupo foi: "Quais as sugestoes sobre a reabertura da igreja?" As coneIu­ soes apontadas foram radicais: "Nao /azer um passo certo e abrir a todos. Talvez dar licenra de casar, batizar aonde quiser e continuar diferente. Encontros ocasionais. Entrar de vagar com 0 povo - nao logo distribuir sacramentos. »

Na reuniao do dia 15 de junho de 1975,0 Grupao decide que ja

e

tempo de reabrir a Igreja de Itapuranga. Os motivos citados sao:

-'jd /az sete meses. Foi bom porque mechou com muita gente. -tem muita gente boa que ainda nao estao sendo atingido por grupos. Como ainda nao temos condissoes de atender todas essas pess. Em grupos e elas poderam se perderem e ate ficar contra. . tambem a diocese nao pode ficar desligada das outras,

e

muito

OPSIS - Revista (I

util

0 contacto com elas.

- tambem os grupos se p comessa a nao ficar boa ( -Reabre com 0 apoio din

e condi~oes. Tambem car. Nesta rcuniao, as reflexoes giraran do Grupaa. A questao posta para analise f

libertar 0 pessoal? 0 que

e

que ainda prende?

:\.$ possibilidades de reabertura da tidas tendo como ponto basico 0 aprend junto aos catolicos da fun<;ao do padre na xima da Igreja, e sim, como um articulal caminhada, e a diocese. 0 importante era a Igreja do Evangclho, saisse deste epis6di. diocese e pdo padre local. "\5 reflexoes ti (tear claro as condifoes de vida para que isto te

Nesta perspectiva, 0 que 0 Grupa quistas politicas alcan<;adas. Que se reabra fazer qualquer tipo de concessao aos "trad os catblicos militantes totais cobravam pos aos ca to1icos que es tavam frequentan Rubiataba,(Diocese de .\napolis), em bus( De forma geral, as discussoes at maioria das reunioes registradas no Cade do cotidiano dos cat6licos apontando pa: como ques!(")es mais complexas como os de que "uns estao querendo aparecer m: questoes foram discutidas no Primeiro Er e 06 de julho de 1975.

o

Primeiro Encontro dos Leig

Para Moura 0 Primeiro Encontr'

demarcou 0 "assumir de fato dos leigo

entanto, que esta analise sobre 0 assumir de um encontro

e

insuficiente para entendi os conflitos assumidos com a nmra post\ conservadora. Nao podemos nos esque( implanta<;i\o da Igreja do E\rangelho na I sobre 0 !nundo do sagrado ja estaYam 5i

ma tensa e conflituosa, como aponta a 91

(12)

90

eram denominados de cristiios. Assim.

e

'stas realizadas com os ex participantes do vo nao entendeu, 0 povo teve medo, 0 povo se

ambirao". Enfim, em varios momentos Notas estas categorias usadas para diferen­

tadas pelos grupos urbanos apontam para vos cat6licos para a Igreja do Evangelho, a 'licos das regioes de Guaraita, Bau e Laran­

,pelos sujeitos par n6s entrevisrados, como -membros do Grupiio, como sendo regi­ o modelo dos Grupos de E'Tangelho para

resentadas pela plenaria, no dia 20 de abril va as grupinhos mostrava 0 caminho e os deixa.

s.

Escrevia cartas. responsabilidade

:pos

e

que os outros vaa descobrindo. Precisamos /innes. 0 trabalho mecheu muito com a pavo

g. Que nao meche com a pessoal nao da para cuparao com os sacramentos. Eucaristia sem

de vida nao

e

pascoa.

que deve trabalhar um para 0 outro para seroir

-ando dia. Na medida que precisar.

tem boneco para mandar 0 povo. Somos gente

ertar. Assim 0 padre ajuda, diferente atrapalha.

locada sabre a cabera no povo e dura. "se somas

'sto fai 0 maior e me/hor comunista ".

primeira vez a discussao sobre a possibi­ tapuranga. A questao posta para discussiio

sobre a reabertura da

igreja?" .As conclu­

N fazer um passa certo e abrir a todos. Talvez

econtinuar diferente. Encontros ocasianais. distribuir sacramentos. I I

junho de 1975, 0 Grupao decide que

ja e

nga. Os motivos citados sao:

• Foi born porque mechou com muita gente. boa que ainda nao estao sendo atingido par

nao temos condissoes de atender todas essas etas poderam se perderem e ate ficar contra.

nao

podeficar desligada das outras, If muito

OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002

util 0 contacto com eLas.

tambem os grupos se prendem muito nisto e a caminhada comessa a nao /icar boa ( azedume).

. Reabre com 0 apoio direto do bispo deixando claro os moUvos

e condi~oes. Tambem com uma cartinha clara ao povo. " Nesta reuniiio, as reflexoes giraram em torno do trabalho do:; leigos do Grupaa. A questiio posta para analise foi: "Nosso trabalho esta ajudando a libertar a pessoal? 0 que e que ainda prende?

As possibilidades de reabertura da Igreja de Itapuranga foram discu­ tidas tendo como ponto basico 0 aprendizado politico, a conscientiza<;ao

junto aos catolicos da fun<;ao do padre nao mais como uma autoridade ma­ xima da IgreJa, e sim, como urn articulador entre 0 povo, os cat6licos da

caminhada, e a diocese. 0 importante era que 0 leigo, compromissado com a Igreja do Evangeiho, saisse deste episodio como uma figura respaldada peia diocese e peio padre local. As reflexoes tiradas foram: "Se abre 0 templo, deve

(tear claro as condif'oes de vida para que isto tenha valor. "

Nesta perspecti"l,Ta, 0 que 0 Grupiio procurou garantir foram as con­

quistas politicas alcan<;adas. Que se reabra 0 "templo," porem nao se cogitaya fazer qualguer tipo de concessao aos "tradicionalistas", muito peio contrario, os cat6licos militantes totais cobravam posicionamento da diocese em rela<;ao aos cat6licos que estavam frequentando missa na cidade yizinha de Rubiataba,(Diocese de Anapolis), em busca de sacramentos.

De forma geml, as discussoes apresentadas ate aqui, bern como a maioria das reunioes registradas no Caderno de Notas tratam das questoes do cotidiano dos cat6licos apontando para as dificuldades individuals, bem como questoes mais complexas como os atritos intra-grupo devido ao fato de que "uns estiio querendo aparecer mais que os outros". Estas e outras questoes foram discutidas no Primeiro Encontro de Leigos, realizado em 05 e 06 de julho de 1975.

o

Primeiro Encontro dos Leigos da Diocese de Goias. Para Moura 0 Primeiro Encontro dos Leigos da Diocese de GOlaS

demarcou 0 "assumir de fato dos leigos" pela Diocese. Acreditamos, no

entanto, que esta analise sabre a

assumir de Jato dos

leigos apenas em fun<;:ao de urn encontro e insuficiente para entendermos como estes leigos vivenciaram os contlitos assumidos com a nova postura religiosa frente a uma sociedade conservadora. :;-,Jao podemos nos esquecer que desde os primeiros an05 de implanta<;ao da Igreja do E\?angelho na Diocese de Goias as transforma<;()es sobre 0 mundo do sagrado Ja estavam se realizando, em sua maioria de for­ ma tensa e conflituosa, como aponta a fala do bispo D. Tomas em dezem­

(13)

bro de 1974, as vesperas do natal,

Chamaria a atenp1.o de voces para 0 fato do novo nascimento

da

Igreja em pessoas que assim fa/am claramente. E porque jd estiio falando desta forma, estao sendo perseguidos por outros que se dizem da 19reja. Estamos assistindo ao fomento de duas igrejas diferentes e conflitantes dentro

da

mesma cidade, da mesma familia, dentro do mesmo individuo: a 19reja da Tradi· vao ealgreja do Evangelho. (Boleum Diocesan0

de

29/12/1974 apud Pessoa, 1990)

o

que marca 0 primelro encontro dos leigos como algo extrema­

mente importante na hist6ria da Diocese de GOlaS, sob 0 pastoreio de D.

Tomas

e

que, oficialmente, sera 0 primeiro momento em que as crises internas

serao apresentadas e discutidas por aqueles que realmente estavam vivendo­ as. 0 momenta sera de criticas

a

Diocese, bem como de criticas ao trabalho desenvolYidos pelas regioes, bem como de avalia<;ao individual sobre as trans forma<;oes que a militancla religiosa havia produzido sobre este sujeito cat6lico. No Caderno de Notas esta registrado a presen<;a de 45 leigos de toda a Diocese, sendo que Itapuranga contou com a participa<;ao de quatro leigos, sendo eles: i\lmerico ( lavrador), Perpetua (nao definida), Jose Guedes (costureiro) e, Cariolita (domestica).

o

objetivo apresentado para 0 encontro foi: "Verde perto 05 problemas

que temos dentro do trabalho 19reja Libertavao e pensarmos em algumas pistas para enfrentarm os. Quais? Como?"

Assim, a falta de apoio da diocese, da familia, a situa<;ao financeira, a falta de conhecimento, foram algumas da dificuldades apontadas pelos parti­ cipantes do encontro. Por outro lado, este primeiro encontro tambem

e

extre­ mamente positivo para os cat6licos da Caminhada, visto que e 0 momenta

em que se procurara firmar uma identidade ao leigo que assume a Igreja de GOlaS, dada pelo compartilhar das mesmas dificuldades encontradas no de­ sempenho do trabalho.

Souza(1993), ao indagar sobre 0 que mobiliza um numero significati­

vo de cat6licos leigos para uma a<;ao politico-religioso integral e sem interes­ ses pessoais encontra no militante total respostas que possibilitam compreen­ der este novo sujeito cat6hco. Neste sentido, as caractertsticas apontadas por este autor na composi<;ao do militante total, nos auxiliam no entendimento de varias questoes colocadas em discussoes pelos sujeitos cat6licos participantes deste primeiro encontro.

Assim,o compartilhar das motiva<;oes para 0 engajamento, bem como, a exposi<;iio e 0 esquecimento de si, sao elementos fundamentais para a

constitui<;ao e compreensao da identidade rehgiosa-militante dos leigos na/ da Igreja do Evangelho em Goias.

OPSIS - Revista G

Nesta perspectiva de procurar disc gos na diocese, as propostas que foram al na sua maioria relacionadas

a

autoridade e a · Qual 0 nosso de7.ler e

di

· A te que ponto temos lib nhos condir;oes. · palavras claras para vel

· Ate onde vai 0 nosso ~

(evangelio)

· inicial . revisao total, trabalho ever qual e 0 (

onde vamos chegar. · Ver a responsabilidade. · Ligar bem a realidade vida. Ver no que 0 clero

· Ter cuidado pia naoJ aprofundar mais . ver b(

· Deichar bem claro: Qu

Vao . Quem precisa liber · Revisao . Fizemos bem de que jeito, 0 que preei.

outro>. Quebrar 0 tabu·

N as avalia<;oes realizadas por reg fazer para que 0 trabalho dos leigos pu cat6licos, bem como as questoes de cond maioria dos representantes como proble trabalho

Ao responderem a questao de c( maioria apontou a participa<;ao na igreja engajamento na nova proposta da dioces( uma participa<;io politica em organizac;iio taria de casas populares, como motivos Caminhada da Igreja de Goias.

E

interessante a resposta dada, I

sujeito,

a

pergunta: "0 que mudou em nos,

As respostas apontam para urn transforma<;io da pessoa frente a sua re de luta, liberta<;ao, reflesao, transforma( tes nas falas destes sujeitos. Neste senti, significa tiva:

-0 Evangeiio e

(14)

de voces para 0 foto do novo nascimento

que assim folam claramente. E porque jd forma, estao sendo perseguidos por outros . Estamos assistindo ao /omen to de duas conflitantes dentro da mesma cidade, da do mesmo individuo: a 19reja da Tradi­

atn2<~/ho. (Boletim Diocesano de 29/12/1974

_'\:ortIIO dos Ieigos como algo extrema­ _[ocese de Goias, sob 0 pastoreio de D.

momento em que as crises internas

o

,

.ClU(~les que realmente estavam vivendo­ bern como de criticas ao trabalho de avaliac:;ao individual sobre as havia produzido sobre este sujeito cat6lico. a presenc:;a de 45 Ieigos de toda com a participac:;io de quatro leigos, (nao definida), Jose Guedes encontro foi: "Ver de perto os problemas epensarmos em algumas pistas para da familia, a situac:;io financeira, a da dificuldades apontadas pelos parti­

primeiro encontro tambem

e

extre-Caminhada, visto que

e

0 momento

ao leigo que assume a Igreja de dificuldades encontradas no de-o que mde-obiliza um numerde-o significati­ integral e sem interes­ respostas que possibilitam compreen­ as caracteristicas apontadas por nos auxiliam no entendirnento de pelos sujeitos cat6licos participantes para 0 engajamento, bern como, sao elementos fundamentals para a religiosa-rnilitante dos leigos na/ da

OPSIS - Revista do Niese, V.2, N.J, Jan/Jun, 2002

Nesta perspectiva de procurar discutir os problemas comuns aos lei­ gos na diocese, as propostas que foram apresentadas para discussao foram, na sua maioria re1acionadas

a

autoridade e autonomia do leigo frente

a

diocese:

- Qual 0 nosso dever e direitos dentro da regiao e diocese

-Auf que ponto temos liberdade de assumir juntos e depois sozi­ nhos condifoes.

-palavras claras para ver meLhor a caminhada,

- Ate onde vai 0 nosso compromisso de en/rentar 0 trabalho

(evangelio)

- inicial . revisao total da [un£ao do leigo desde 0 inicio do

trabalho ever qual e 0 objetivo e valor do trabalho. 0 ponto

onde vamos chegar.

- Ver a responsabilidade pratica.

. Ligar bem a reaLidade . liberta£ao do homem com rela£Cio a Ver no que 0 clero estd nos ajudando.

- Ter cuidado p/a nao ficar em assuntos menos importantes­ aprofundar mais - ver bem a opiniao de cada.

Deichar bem claro: Quem deve assumir 0 trabalho de liberta­

rao -Quem precisa [ibenar?

- RevisCio - Fizemos bem, em que erramos, como fazer melhor, de que jeito, 0 que precisamos. Por que esperamos par padres e

outros. Quebrar 0 tabu -supertirao respeito humano.

Nas avalia<;oes realizadas por regiio, a questao do que fazer e como fazer para que 0 trabalho dos leigos pudesse atingir um numero maior de cat61icos, bern como as questoes de condi<;ao de vida destes e apontado pela maioria dos representantes como problematico para 0 desenvolvimento do

trabalho

Ao responderem a questao de como entraram para esse trabalho, a maioria apontou a participac:;ao na igreja tradicional como motiva<;ao para 0 engajamento na nova proposta da diocese. Apenas dois grupos apontam para uma participa<;ao politica em organizac:;ao de lavadeiras e construc:;ao comuni­ taria de casas populares, como motivos que os levaram a entrarem para a Caminhada da Igreja de Goias.

E

interessante a resposta dada, neste contexte de transforma<,:ao do sujeito,

a

pergunta: "0 que mudou em nos diante da sociedade?"

As respostas apontam para urn consenso em rela<;ao

a

ideia de uma transformac:;ao da pessoa frente a sua realidade. Assim, justic:;a, compromisso de lura, liberta<;ao, reflexao, transforma<;io na sociedade, sao ideias recorren­ tes nas falas destes sujeitos. Neste sentido, as falas apontadas na plenaria sao significa tiva:

(15)

ver a verdade.

. Viciado em tradi~ao, esJor~ou com a ajuda do padre e mudou. - Era da igreja comessou com grupos e caminhou

- Ideia de um padre que deu oportunidade de Jalar, teve nescessidade de criar um grupo, nao tinha jeito de mudar e enfreta tudo.

- Notou que a vida nao introsavam com evang e que a estrada certa era essa animou.

- Sede de justi~a - acreditou no caminho.

- Convite de amigo que entrou primeiro, ai esta 0 Jermento que

{ala 0 evang..

- Parecia um sonho nos dirigir grupos, agora estamos ai, -Temos visao do que If bom e errado, assumimos melhor 0 evang.

E

como tirar a laca da bainha, e a sociedade usa a taca ( Grifo meu).

-te conciencia da vida elf respeitado por participar da igreja que

concienti~a. A critica e amea~a If para destroir. Recorda as difi­

culdades de Cristo e segue. Os que tomam conciencia e mal vista, chamado comunista.

- Uma amizade aberta, desenteresada, um tipo de querer bem ( viver como irmao), firmesa, confian~a. Muda a natureza da gente, 0 jeito de lidar com as pessoas. Revolta com a familia.

,A,{udo 0 Jeito de Olhar 0 mundo e a igreja e as pessoas

Vimos' que as coisas boas ou mas, somos nos que as dazemos. Falta de Jorma~ao, conciencia de se mesmo, de estudo. 0 leigo precisa ser livre p/a continuar.

Temos interesse pelos outros, relacionamos melhor ate 0 com­

portamento. Somos {ermento (GriJo meu), Conhecemos nos di­ reito e ajudamos os outros. Tenho novas vistas, as opressoes,

abusos, renuncia de jogos e coisas erradas. Uniao no trabalho bra~al, na fomilia, na sociedade e raquitica, 0 crescimento por

causa da opressao. "grana". 0 nosso trabalho os atrapalha. As motiva<;oes dadas para 0 engajamento destes sujeitos catolicos em

Goias sao as mesmas apontadas por Macedo(1986), Souza(1993) e, si conse­ guissemos realizar urn levantamento de toda a produ<;ao academica sobre a Igreja Popular no Brasil, provavelmente as respostas se aproximariam muito destas obcidas atraves do Caderno de Notas produzidas pelos cat6licos da diocese de Goias reunidos no Primeiro Encontro de Leigos, 0 que importa para nos, e a presen<;a deste leigo, na diocese de Goias, que se viu frente a uma militancia policico-religiosa que em nenhum instante foi livre de tensoes e con­ flitos, seja em rela<;ao

a

diocese, seja em rela<;ao

as

condi<;oes materiais de

OPSIS . Revista

vida, bern como as pressoes da familia e Duas reunioes registradas no Ca( outubro de 1975 e, 20 de fevereiro de 19

para que se possam compreender alguml sUJeitos militantes totais da Igreja do Eva na concinua<;ao e consolida<;:iio do trabal policica,

A reuniao de 19 de outubro de 1 uma reuniao de revisao do trabalho. As Central: Como nasceu?

"' Revisao do trabalho­ panhar: grupos -sacram,

acompanhamentos do~ -linha de trabalho. As conclusoes apresentadas peh mente negaciya em rela<;ao a todo trabalh tantes totais, Para estes a questao dos PI( concinua<;ao do trabalho se de\-eu, princip entre os membros do Grupao e a figura " Depois que 0 Ivo saiu, nao assumimos mais

Incentivo,firmesa, (em geral e grupao)" As a' des em assumir 0 trabalho.

"difender

0

p

pos das 'ro<;as' e os da cidade,

precise

nem eles com agente", a dificuldade de tran! tros nas comunidades rurais, "Falta

de co

primeira vez, aparece a questao dos no' grupos nao sabiam 0 que fazer, dificult

libertadora,

"Entrada dos novos sem

sat

Sobre a presen<;a dos leigos des, conclusoes apontam para as questoes da t

trabalhos:

"Nem um profeta

e

bem leigo. Somos apegados n

t

a opressao que faz 0

Pi

somas igrejas as coisas

fi

referencia da linha libe As conclusoes apresentadas na

1977 e mais tensa, em rcla<;:ao

as

a\-alia<;:o mente do Grupao, na 19reia do EvangeU Grupao nao responde rr a~ao e leituras".

Referências

Documentos relacionados

6.2 Será criada uma Comissão Julgadora, composta por 03 (três) profissionais especialistas, de reconhecido saber no campo das Artes Plásticas, designada pela

a) Aplicação das provas objetivas. b) Divulgação dos gabaritos oficiais do Concurso Público. c) Listas de resultados do Concurso Público. Os recursos interpostos que não se

Para saber como o amostrador Headspace 7697A da Agilent pode ajudar a alcançar os resultados esperados, visite www.agilent.com/chem/7697A Abund.. Nenhum outro software

Considerando a formação da equipe de trabalho, o tempo de realização previsto no projeto de extensão e a especificidade das necessidades dos catadores, algumas

O Ministério do Trabalho aprova o quadro das atividades e operações insalubres e adota normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância

As pontas de contato retas e retificadas em paralelo ajustam o micrômetro mais rápida e precisamente do que as pontas de contato esféricas encontradas em micrômetros disponíveis

Contribuições/Originalidade: A identificação dos atributos que conferem qualidade ao projeto habitacional e das diretrizes de projeto que visam alcançá-los, são de fundamental

O presente estudo visa expor a prevalência de enteroparasitoses em idosos através de uma revisão da literatura, tendo em vista utilidade de estudos de prevalência para que sejam