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Funcionamento hidrodinâmico do aqüífero semiconfinado da região do Bonfim - RN – Brasil: uma interação com o aqüífero livre e a Lagoa do Bonfim

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Funcionamento Hidrodinâmico do Aqüífero Semiconfinado da Região

do Bonfim - RN – Brasil: Uma Interação com o Aqüífero

Livre e a Lagoa do Bonfim

Roberto Pereira

Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) – RN, Av. Senador Salgado Filho, 1559, Cep. 59015-000 Natal/RN – Brasil, rpereira-roma@cefet-rn.br

Gerson Cardoso Da Silva Junior

Instituto de Geociências-UFRJ, Ilha do Fundão, Cep. 21949-900 - Rio de Janeiro/RJ – Brasil, Gerson@acd.ufrj.br

João Abner Guimarães Junior

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Laboratório de Recursos Hídricos, Caixa Postal: 1639, Cep. 59072-970 Natal/RN, Abner@ct.ufrn.br

Recebido: 07/10/02 - revisado: 28/10/03 - aceito: 20/05/04

RESUMO

A lagoa do Bonfim, maior lagoa do estado do Rio Grande do Norte, situa-se a sul de Natal e fornece água para o sistema Adutor Agreste-Trairi-Potengi com 300 km de extensão, o qual deverá suprir uma população de 220.000 pessoas. Se o seu nível d’água atingir a cota absoluta de 39 m, um conjunto de poços de emergência, situado na porção oeste desta, que drenam água de um aqüífero semiconfinado, entrariam em operação. É provável, contudo, que tal bombeamento possa levar a uma depleção das próprias reservas da lagoa do Bonfim. Esta hipótese é apoiada pelas seguintes evidências: 1) Os mapas potenciométricos dos aqüíferos livre e semiconfinado indicam que o terreno a oeste desta lagoa constitui a zona de recarga de ambos compartimentos hidrogeológicos; 2) um intenso programa de monitoramento pôs em evidência a relação direta entre a subida do nível d’água da lagoa do Bonfim, durante a estação chuvosa de 1999, e a correspondente subida dos níveis piezométricos do aqüífero semiconfinado no setor SW desta lagoa, sem que haja mudança na tendência à descida do nível do aqüífero livre, já que não ocorreu recarga nesta época; 3) finalmente, o mapeamento e seções hidrogeológicas mos-traram que o aquitardo apresenta descontinuidades no extremo oeste da lagoa do Bonfim, bem como sob a lagoa, devido a falhas e fraturas, ou ainda subsidência cárstica ou mesmo variações de fácies sedimentares.

Palavras-chave: lagos, impacto ambiental, aqüífero semiconfinado.

INTRODUÇÃO

As regiões do Agreste Trairi e Potengi do estado do Rio Grande do Norte são caracterizadas por condições de semi-aridez, onde os recursos hídricos superficiais e subterrâneos são escassos e com elevada salinidade. To-mando-se como base este fato, o Governo do Estado implantou um sistema adutor com 315 km de extensão, adutora Agreste/Trairi/Potengi, para suprir as necessida-des das concentrações urbanas nessas regiões, assim como à dessedentação animal, beneficiando 23 sedes municipais e 28 comunidades rurais, totalizando uma população de 222.336 habitantes, no horizonte do projeto (ano 2016), cuja vazão será de 452,32 L/s.

Desse modo, estudos prévios (Costa, 1997) apon-taram a captação direta da lagoa do Bonfim, localizada no município de Nísia Floresta, na região costeira do RN,

distante 25 km em direção a sul de Natal, capital do Esta-do, como a única alternativa viável de alimentação do sistema (Figura 1). A lagoa do Bonfim constitui um lago fechado com transbordamento somente em condições excepcionais. É, portanto, a maior lagoa do Estado, com uma área de 9 km2, profundidade máxima de 33 m e

acu-mula aproximadamente 84 milhões de m3 de água (Tabela

1).

Dada a história de ocorrência de grandes varia-ções do nível d’água da lagoa do Bonfim no passado, o Ministério Público Estadual e Federal, preocupado em garantir a preservação desta lagoa e minorar os impactos sobre o sistema lacustre, estabeleceu a cota absoluta de 39 m relativa ao espelho desta lagoa como limite de operação da mesma e recomendou a instalação de poços de

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emer-gência, devidamente localizados, os quais deveriam entrar em operação quando o nível d’água da lagoa do Bonfim atingisse o limite estabelecido.

Tabela 1 - Principais características das lagoas do sistema lacustre Bonfim (COSTA, 1997).

Lagoas Área da superfície (m2) Volume armazenado (m3) Profundidade máxima (m) Bonfim 8.899.936 84.268.211 31,00 Urubu 899.870 2.736.115 9,00 Redonda 993.211 3.720.090 8,00 Boa Água 686.268 1.469.132 4,00 Ferreira Grande 1.064.065 2.812.724 8,00 Carcará 665.125 1.570.976 4,00

Para a implantação dos poços foram levados a cabo estudos por consultores do Governo Estadual (Melo e Feitosa, 1998), onde os quais identificaram dois setores com melhores condições hidrogeológicas para a implanta-ção dos poços de emergência supracitados: um a leste do sistema lacustre e o outro a oeste da lagoa do Bonfim. Por razões hidrogeológicas, este último setor (designado de Área Produtora) favoreceu a implantação de 7 poços tubu-lares para atender a adutora, tendo em vista que estes iriam captar água de um aqüífero semiconfinado da Formação Barreiras, ai identificado, e sem conexão com a lagoa do Bonfim. A capacidade de produção dos poços neste aqüí-fero semiconfinado foi avaliada em torno de 230 L/s, cujo valor corresponde à primeira etapa da explotação para a adutora.

Atualmente, devido ao rebaixamento excessivo apresentado pela lagoa do Bonfim após o início do bom-beamento em 01/08/98, este poços já se encontram em operação permanente. Dessa maneira, a adutora funciona como um sistema misto de captação, ou seja, 137 L/s provém diretamente da lagoa do Bonfim, sendo o restante (100 L/s) proveniente dos poços supracitados, perfazendo uma vazão total variando em torno de 237 L/s.

Assim, este trabalho tem por objetivo apresentar o funcionamento hidrodinâmico do aqüífero semiconfina-do e seus aspectos geométricos, bem como as possíveis evidências da sua inter-relação com o aqüífero livre e a lagoa do Bonfim, e as conseqüências ambientais na lagoa do Bonfim frente à explotação pela bateria dos poços supracitados. Os dados de campo e de laboratório deste estudo e seus resultados foram obtidos pelo primeiro autor em sua pesquisa de tese de doutorado (Pereira, 2001).

ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA LACUSTRE BONFIM E A SUA PROBLEMÁTICA

O sistema lacustre Bonfim, composto pelas lago-as do Bonfim, Redonda, Boa Água, Ferreira Grande, Car-cará e Urubu, encontra-se inserido dentro de um bloco triangular, tendo, ao norte, o rio Pium, ao sul, o rio Trairi e, a leste, a linha de costa do oceano Atlântico (Figura 1). Desse modo, no contexto das bacias hidrográficas do Rio Grande do Norte, está incluído nas chamadas microbacias de escoamento difuso do litoral Leste.

Localiza-se numa região caracterizada pela exis-tência de um clima com condições quentes e úmidas, esta-ção seca, no verão, e chuvas, no outono-inverno, ou seja, nos meses de setembro a janeiro e fevereiro a agosto, res-pectivamente. As precipitações pluviométricas apresentam média anual de 1.273 mm, sendo as condições hidrogeoló-gicas favoráveis pois permitem a recarga dessas lagoas por ressurgência do fluxo subterrâneo do aqüífero livre.

O geologia/geomorfologia da área retrata a pre-sença de um zoneamento na área de estudo (Pereira, 2001). Nas porções oeste e sudoeste da lagoa do Bonfim ocorre, compondo os tabuleiros, a Formação Barreiras (Terciário), principal aqüífero da região, o qual é caracterizado por sedimentos areno-argilosos. Sotoposta a esta formação ocorre o embasamento hidrogeológico, o qual aflora na parte oeste da área (Figura 01). Está representado por uma seqüência sedimentar bastante cimentada e de baixa condu-tividade hidráulica, a qual é correlacionada ao Cretáceo, sendo constituída por carbonatos e arenitos calcíferos, assim como por quartzoarenitos (este ocorrendo apenas no setor oeste),. Na porção central da área onde ocorrem as lagoas, está presente uma cobertura arenosa sobre a For-mação Barreiras, interpretada como lençóis eólicos. Na parte leste, margem esquerda do riacho Boacica, encon-tram-se os campos de dunas parabólicas fixas do Quater-nário. Estes sedimentos eólicos tem um papel importante na transferência de águas para os estratos inferiores da Formação Barreiras (IPT, 1982). Ressalta-se, adicionalmen-te, que a orientação da lagoa do Bonfim, com dois ramos preferenciais de direções 600 AZ e 1350AZ, está

provavel-mente dentro do contexto de uma tectônica que afeta a costa Leste do Rio Grande do Norte, a qual tem sido atri-buída por Bezerra (1993) como Cenozóica, assim como representam duas direções principais de fraturas e falhas afetando o pacote da Formação Barreiras.

A bacia hidrogeológica do sistema lacustre Bon-fim apresenta um comportamento bastante complexo (Figura 2), porquanto a lagoa do Bonfim (espelho d’água acima da cota 40 m) recebe os fluxos subterrâneos de oeste do aqüífero livre (zona principal de recarga subterrânea, com apenas cerca de 25 km2) e repassa de forma divergen-

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Figura 1 – Localização do sistema lacustre Bonfim - RN

Figura 2 – Mapa potencimétrico do aqüìfero livre e sem o confinado do sistema lacustre Bonfim 5 Km 4 3 2 1 0 1 NATAL MONTE ALEGRE 335 9340KmN 270KmE 265 260 255 250 248 242,5 330 325 323 NATAL 6°S 36°W 38°W RN PB CE LOCALIZAÇÃO Estrada Cidade Lagoa Drenagem Fluxo Subterrâneo Aquífero Livre Fluxo Subterrâneo Aquífero Profundo Curva Isopotenciométrica Aquífero Livre Curva Isopotenciométrica Aquífero Profundo Divisor Hidrogeológico

Fonte: SUDENE(1971); escala 1:100.000.

Ano 1999 38 Bananeira Jardim SÃO JOSÉ DE MIPIBÚ NÍSIA FLORESTA O C EAN O A T N T ICO Riach o Tim Lagoa do Bonfim Lagoa Redonda Lagoa Urubu La. Boa Água Lagoa Ferreira Grande Lagoa do Carcará Ria cho Boa Cica Riacho do Pium Lagoa Pi um

Lagoa Nísia Floresta Rio Trairí 3234 36 38 40 40 42 44 4648 5052 54 20 16 12 8 6 4 22 24 2628 3032 34 3638 40 42 44 42 403836 3432 3028 262422 24 26 28 30 44 42 42 39 37 35 33 31 5 Km 4 3 2 1 0 1 NATAL MONTE ALEGRE 335 9340KmN 270KmE 265 260 255 250 248 242,5 330 325 323 NATAL 6°S 36°W 38°W RN PB CE LOCALIZAÇÃO Estrada Cidade Lagoa Drenagem Fluxo Subterrâneo Aquífero Livre Fluxo Subterrâneo Aquífero Profundo Curva Isopotenciométrica Aquífero Livre Curva Isopotenciométrica Aquífero Profundo Divisor Hidrogeológico

Fonte: SUDENE(1971); escala 1:100.000. Ano 1999 38 Bananeira Jardim SÃO JOSÉ DE MIPIBÚ NÍSIA FLORESTA O C EA N O A T N T IC O Riach o Tim Lagoa do Bonfim Lagoa Redonda Lagoa Urubu La. Boa Água LagoaFerreira Grande Lagoa do Carcará Ria cho Boa Cica Riacho do Pium Lagoa Pi um

Lagoa Nísia Floresta Rio Trairí 32 34 36 38 40 40 42 44 4648 50 52 54 20 16 12 8 6 4 22 24 262830 3234 36 38 40 42 44 42 403836 3432 3028 2624 22 24 26 28 30 44 42 42 39 37 35 33 31

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te para o rio Pium (cota 18 m), a norte, e riacho Boacica (cota 3,6 m, na confluência com o riacho Timbó), a sudeste (Pereira, 2001). Este comportamento constitui consenso entre os outros trabalhos prévios (Pereira, 1996; Feitosa e Melo, 1997; Melo e Feitosa, 1998). A Tabela 2 mostra que a soma das vazões mínimas do riacho Boacica e Pium estão muito próxima da vazão final de projeto da adutora (452,32 L/s), embora possam atender a primeira etapa (230 L/s).

Tabela 2 - Tabela comparativa do monitoramento de vazões entre o rio Pium, riacho Boacica e a explotação da lagoa do Bonfim ( novembro de 1998 a março de 2000).

Rio Pium (jusante da lagoa do Pium)

Riacho

Boacica Explotação Adutora

Vazão Média (L/s) 367,3 486,8 191,3 Reservas Anuais (hm3) 11,6 15,3 8,5 Vazão Mínima (L/s) 217,5 237,5 121,8 Vazão Máxima (L/s) 1.346 2.788 267,6

Os estudos anteriormente citados de Melo e Fei-tosa (1998) que subsidiaram a implantação dos poços de emergência a fim de atender o sistema adutor, basicamente constituindo a problemática do trabalho, constataram no domínio da Área Produtora dois aqüíferos, um superior do tipo livre e um outro inferior confinado, com carga hidráu-lica menor que o primeiro, separados por uma camada argilosa de espessura média de 6,0 m. Esta não permite uma conexão hidráulica direta entre os dois aqüíferos, visto que os níveis d'água dos poços rasos não reagiram ao bombeamento dos poços profundos. Entretanto, os testes de aqüífero realizados mostraram que o aqüífero Barreiras comporta-se como um sistema semiconfinado drenante, estando o aqüífero inferior recebendo contribuições do aqüífero superior por drenança vertical descendente signi-ficativa através do aquitardo (camada argilosa). Portanto, estes autores, com base em seção geológicas E-W (Figura 3), mapa potenciométrico do aqüífero inferior (Figura 4), assim como, no rebaixamento, durante os testes bombea-mento, de cerca de 19 cm do nível do piezômetro, também telado no aqüífero inferior e localizado à margem oeste da

lagoa do Bonfim, concluíram que provavelmente a recarga principal do aqüífero inferior deveria ocorrer por sistemas de fluxos oriundos do aqüífero livre da margem leste da lagoa do Bonfim, o que não comprometeria esta lagoa pelo efeito do bombeamento, visto que a mesma situa-se sob a influência do aqüífero superior. De qualquer maneira, é importante ressaltar aqui que o domínio da “Área Produto-ra” de Melo e Feitosa (1998) está inserido na zona princi-pal de recarga subterrânea da lagoa do Bonfim.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Descontinuidade da camada semiconfinante

O mapeamento espacial da camada semiconfinan-te argilosa, através dos perfis dos poços profundos cadas-trados na área, bem como de suas cargas hidráulicas e testes de aqüíferos correspondentes, indicaram que a mes-ma está limitada apenas a oeste da lagoa do Bonfim, gros-seiramente orientada N-S (Figura 5).

O limite oeste da camada semiconfinante ocorre também em subsuperfície e pode ser marcado ou por variação lateral de fácies sedimentar ou por processo erosi-vo, conforme sugere o Perfil CD (Figura 6). De qualquer forma, pela inclinação desta camada, obrigatoriamente deverá existir uma conexão entre o aqüífero superior e o inferior neste domínio oeste. Na porção norte, em teste de aqüífero realizado por Costa (1997), constatou-se apenas condições de aqüífero livre, o que indica que esta camada argilosa está interrompida ou por variações laterais de fácies, muito comum na Formação Barreiras, conforme diversos trabalhos na região, ou secionada pelo prolonga-mento do falhaprolonga-mento, com componente normal, associado justamente ao ramo NW-SE da lagoa do Bonfim (Ver falha em perfil na figura 6 e em planta na figura 7). Já na parte sul está possivelmente interrompida em superfície pelas vertentes fluviais, conforme as freqüentes surgências.

O limite leste da camada semiconfinante está as-sociado ao bloco baixo da falha correspondente ao ramo NW-SE da lagoa do Bonfim (Figura 6 e 7). Indicações de sondagem e poços tubulares profundos permitiram cons-tatar a ausência dessa camada no domínio leste da lagoa do Bonfim. Isto pode indicar uma simples variação lateral de fácies ou que esta camada estaria vinculada a uma ativação sin-sedimentar transtensiva dextral desta falha, o que pare-ce ser mais provável, tendo em vista a estruturação assimé-trico do depocentro sedimentar da Formação Barreiras neste setor (Figura 7). Desse modo, poderia ser explicado que esta camada aquitardo (argilosa) desenvolveu-se asso-ciada a um grande lago no setor oeste da lagoa do Bonfim, sob um afundamento tectônico, cuja sedimentação associ-ada originou o aquitardo. Adicionalmente, as cargas hi-dráulicas rasa e profunda, no setor oeste desta lagoa, são coerentes com o aqüífero superior.

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Figura 3 – Seção hidrogeológica oeste-leste do Bonfim (adaptada de Melo e Feitosa, 1998) (ver figura 4 para localização)

Figura 4 – Potenciometria de aqüífero semiconfinado do Berreiras, com a localização aproximada dos poços produtores (Melo e Feitosa 1998)

O mapeamento da cota absoluta do topo da ca-mada semiconfinante argilosa (Figura 5) mostrou também que a mesma está afetada por dobramentos en echelon com eixos encurvando-se para norte (dobra de arrasto), eviden-ciando íntima associação com a falha vinculada ao ramo NW-SE da lagoa do Bonfim. Caracteriza-se assim uma tectônica pós-sedimentar transpressiva sinistral atuando na

Formação Barreiras e, portanto, secionando todo o pacote sedimentar (Figura 7).

Outros mecanismos devem estar associados e contribuem para a descontinuidade dessa camada, como uma provável subsidência cárstica, já que o eixo NE da lagoa do Bonfim, o mais profundo, não apresenta falhas normais ao nível do areníto calcífero. Também a ocorrên-cia da Formação Barreiras ao nível e no entorno da lagoa

? ? ? ? ? ? 0 400 -40 -20 A LT IT U D E (m ) 20 40 60 80 PZ 47.1

ARENITO FINO ARGILOSO NÍVEL POTENCIOMÉTRICO DO AQUÍFERO SUPERIOR (LIVRE) NÍVEL POTENCIOMÉTRICO DO AQUÍFERO INFERIOR

NÍVEL D'ÁGUA

NA -

FALHA INFERIDA PELA GEOFÍSICA/ SONDAGEM

ARENITO FINO-GROSSO

ARENITO GROSSO-CONGLOMERÁTICO INTERCALAÇÕES DE ARGILA E ARENITO GROSSO-CONGLOMERÁTICO

ARENITO CALCÍFERO ARGILA

PZ 50.1

PZ 56 Lagoa do S78 S187 S139 Dunas

Bonfim RedondaLagoa

W E 0 800m Pz - Piezômetro S - Sondagem (B) (A) 1 km P35 P28 P30 P32 P47 P52 P50 A B

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do Bonfim indica a ausência de ravinamento que pudesse justificar a profundidade de 32 m desta lagoa, bem como sua largura de até 600 m. O caráter ácido (agressivo) das águas subterrâneas e das lagoas (Costa, 1997 e Melo e Feitosa, 1998) vem corroborar, também, esta hipótese. Por último, a própria estruturação NW-NE da lagoa do Bonfim aponta para uma descontinuidade sob a mesma. Esta mesma estruturação é encontrada em fraturas nas margens da lagoa do Bonfim.

Quanto ao perfil E-W construído por Melo e Fei-tosa (1998) (Figura 3), verificou-se um erro de posiciona-mento da camada aquitardo, no perfil do piezômetro (PZ 56) junto à margem da lagoa do Bonfim. Assim, após a correção, conforme indica a camada tracejada na figura 3, observa-se uma semelhança com o perfil construído neste trabalho (Figura 6), indicando também impossibilidade de correlação com o lado leste.

Potenciometria do aqüífero inferior

A construção do mapa potenciométrico do aqüí-fero inferior (com base em levantamentos topográficos realizados neste trabalho e coleta dos níveis estáticos de poços quatro meses após o término do período de estia-gem - dezembro de 1998) mostrou mudanças significativas no traçado das curvas equipotenciais do aqüífero inferior em relação ao trabalho anterior de Melo e Feitosa (1998). De um modo geral, pôde-se notar que as linhas de fluxo, apesar da escassez de informações (apenas dez piezôme-tros), indicam um fluxo proveniente de oeste, sofrendo bifurcações para nordeste, em direção ao rio Pium, bem como para sudeste/sul, neste caso, em direção ao rio Trai-ri, na margem sudoeste da lagoa do Bonfim (Figura 2). O monitoramento não mostrou mudanças significativas que indicassem alterações desse padrão geral. Em adição, nota-se um condicionamento dos fluxos subterrâneos do aqüífero inferior à geometria dos dobramentos da camada semiconfinante (Figura 5), onde observa-se que aqueles movimentos para o rio Pium acompanham a zona interna do antiforme (zona de charneira) e que os mesmos diver-gem para o rio Trairi buscando os flancos do sinforme.

Por fim, a comparação dos fluxos subterrâneos do aqüífero superior e inferior (Figura 2), mostra que o setor oeste da área, onde a camada aquitardo argilosa ter-mina em sub-superfície, representa tanto a zona de recarga do aqüífero superior, que alimenta a lagoa do Bonfim, quanto do aqüífero inferior. Inclusive pode-se observar no sentido oeste do perfil da figura 5, que ocorre progressi-vamente um ajuste perfeito da superposição entre as duas superfícies potenciométricas.

Variação dos níveis d’água

O intensivo programa de monitoramento conco-mitante das precipitações pluviométricas, variações dos níveis das lagoas (medições diárias) e da rede piezométrica do aqüífero superior e inferior da região (medições gerais mensais), evidenciou um comportamento hidrodinâmico distinto entre o setor NW e SW do aqüífero inferior, no período chuvoso de 1999. Nesta época, entretanto, não houve a alteração da curva de rebaixamento do aqüífero superior neste setor oeste da lagoa do Bonfim, uma vez que não ocorreu percolação (mesmo nos meses posteriores ao término do período chuvoso), já que as precipitações não foram expressivas, ou seja, estiveram abaixo da média, com 845 mm. Assim, a parte infiltrada deve ter ficado na zona de aeração. Convém ressaltar que apenas o aqüífero superior do setor leste apontou recuperação piezométrica em torno de 1,0 m, tendo em vista a elevada permeabilida-de das dunas.

Dessa maneira, notou-se que no setor SW da la-goa do Bonfim existe uma relação expressiva entre a eleva-ção do espelho desta lagoa e a elevaeleva-ção concomitante do nível do aqüífero inferior (Figura 8). Por outro lado, o setor NW do aqüífero inferior acompanhou, da mesma maneira, o rebaixamento do aqüífero superior de oeste.

Em síntese, enquanto os níveis piezométricos do aqüífero inferior que mostraram uma conexão hidráulica com a lagoa do Bonfim devem permitir a descarga desta lagoa em direção ao rio Trairi, os níveis d’água nos poços do aqüífero inferior, que não reagiram às precipitações, isto é, continuaram descendo, devem estar mais sujeitos às condições de montante (oeste), governada pelo aqüífero superior, o qual também continuou a rebaixar. Este com-portamento hidrodinâmico é compatível com a superposi-ção da potenciometria dos aqüíferos superior e inferior discutido anteriormente (Figura 2).

O pequeno rebaixamento do piezômetro na margem oeste da lagoa do Bonfim, durante os testes de bombeamento de Melo e Feitosa (1998), por si só não atesta a expansão do cone de rebaixamento além da lagoa do Bonfim, no senti-do leste. A verificação deveria ter sisenti-do feita senti-do outro lasenti-do (margem leste), porquanto, conforme podemos observar da CETESB (1978), figura 5.16, quando um rio sofre cap-tura devido à expansão de um cone de depressão de um aqüífero confinado, durante o bombeamento, poderá ocor-rer rebaixamento piezométrico inclusive debaixo do ma-nancial até aproximadamente o seu centro, não permitindo contudo a expansão além deste corpo d’água superficial. Outrossim, O cone de rebaixamento dos testes realizados por Melo e Feitosa (1998) demonstraram maior expansão no sentido N-S, justamente como se interpreta a geometria da camada semiconfinante, e, conseqüentemente, menor no sentido W-E, o que pode indicar que a lagoa do Bom-

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Figura 5 – Mapa estrutural do topo da camada semiconfinante da região do Bonfim - RN

Figura 6 – Perfil hidrogeológico W-E (CD) da região do Bonfim – RN (ver Fig.5 para localização) 5 Km 4 3 2 1 0 1 335 9340KmN 270KmE 265 260 255 250 248 242,5 330 325 323 NATAL 6°S 36°W 38°W RN LOCALIZAÇÃO Ano 1999 Lagoa do Bonfim La. Riacho do PiumLa. Pi um La. Redonda Urubu La. Boa Água La. Ferreira Grande NÍSIA FLORESTA Lagoa do Carcará Riach o Boacica

Lagoa Nísia Floresta Rio Trairí 10 6 18 14 10 22 26 30 34 38

Curva de Isocota Absoluta do topo da camada semiconfinante (m) Poço Tubular Piezômetro Sondagem Fluxo do Aquífero Semiconfinado: Antiforme c/ Caimento: Sinforme c/ Caimento: Limite em subsuperfície da Camada Semiconfinante: Provável limite erosional da Camada Semi-confinante: 38 D C Cidade Lagoa Drenagem 90(m) 80 70 60 50 40 30 20 10

0(N.M.) (Riacho Boa Cica)

La g. B on fi m La g. B on fi m La g. R ed on da La g. R ed on di nh a La g. B oa Á gu a La g. F er re ir a G ra nd e La g. C ar ca rá ? ? ? ? ? AQÜÍF ERO LIVRE CAM ADA A QUITARDO AQUÍFERO SE MICO NFINADO Argilito (Fm.Barreiras)

Arenito fino a médio argiloso (Fm. Barr.) Arenito médio à grosso (com pouca argila) com lentes de argilito e conglomerado (Fm. Barr.) Arenito argiloso (Fm. Barr.)

Argilito arenoso (Fm. Barr.)

Falha com forte componente normal podendo ser pós-sedimentar Topo do arenito calcífero ou marga ou calcário com quartzo

Discordância erosional ou variação de fácies

Superfície piezométrica do Aq. Livre Fluxo subterrâneo (Aquífero Livre) Fluxo subterrâneo (Aquífero Semiconfinado) Superfície piezométrica do Aq. Semiconfinado

LEGENDA

C D

PERFIL HIDROGEOLÓGICO CD (W-E)

0 0,5 1 1,5Km

Poço tubular

Poço amazonas (caçimbão) Piezômetro Sondagem 36 m 90 m 62 m 42 m 97 m 40 m 63 m 52 m58 m 63 m 80 m 16 m

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Figura 7 – Tectônica sin-sedimentar transtensiva dextral (A) responsável pela deposição da camada semi-confinante e pós-sedimentar transpressiva sinistral da Formação Barreiras,

responsável pela deformação da camada semiconfinante.

fim funciona mesmo como uma zona de captura (recarga).

CONCLUSÃO

As evidências levam a crer que existem desconti-nuidades da camada semiconfinante tanto sob a lagoa do Bonfim, quanto no setor oeste da zona de recarga subter-rânea desta lagoa. Por conseguinte, o funcionamento dos poços poderá acelerar o processo de fuga descendente da

lagoa do Bonfim e barrar parte dos fluxos subterrâneos que alimentam esta lagoa, quer seja por drenança vertical induzida ou pela própria captura da recarga do aqüífero superior no setor mais a oeste, justamente onde a camada confinante termina.

Portanto, é bastante plausível a hipótese de agra-vamento da lagoa do Bonfim através do funcionamento desta bateria de poços. De qualquer maneira, em caso de comprometimento da lagoa do Bonfim e para garantir a Depocentro sedimentar Limite da camada semi - confinante Limite da camada semi - confinante

TECTÔNICA SIN-SEDIMENTAR (A)

TECTÔNICA PÓS-SEDIMENTAR (B)

Depocentro estrutural

N

(9)

Figura 8 – Relação entre o comportamento do aqüífero livre (superior), semiconfinado (inferior), lagoa do Bonfim e as precipitações no mês de maio de 1999. Os piezômetros monitorados dos aqüíferos livre e semiconfinado estão associados ao poço produtor P52, da figura 4.

Variação do Aqüífero Semiconfinado

30,3 30,32 30,34 30,36 30,38 30,4 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5 Dias do Mês N ív e l E st á ti co (m )

Variação do Aqüífero Livre

19,05 19,1 19,15 19,2 19,25 19,3 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5 N ív e l E s ti c o ( m )

Chuvas

0 50 100 150 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5 P re ci p it ão ( m m )

Variação do Nível da Lagoa do Bonfim

40,7 40,75 40,8 40,85 40,9 1/5 6/5 11/5 16/5 21/5 26/5 31/5 A lt it u d e ( m )

(10)

sustentabilidade da adutora, pode-se investigar o setor hidrogeológico a leste do sistema lacustre Bonfim, já pro-posto por Melo e Feitosa (1998), assim como o rio Pium e o riacho Boacica, na confluência com o riacho Timbó, os quais, conjuntamente, apresentam disponibilidade superi-or, pelo menos, à demanda da primeira etapa.

REFERÊNCIAS

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Bonfim – RN, Brasil. Tese de doutorado, Instituto de

Geociências - UFRJ. Rio de Janeiro, Rj, Brasil.

Hydrodynamic Behavior of the Semiconfined

Aquifer from Bonfim Region - Rn – Brasil: an

Relationship Existing with of the Unconfined

Aquifer and Bonfim Lake

ABSTRACT

The Bonfim lake is located in the state of Rio Grande do Norte, Northeastern Brazil. Currently, this lake supplies water to a pipeline system 300 km large, which assists about 220.000 people. If the water level falls below the absolute height of 39m, a set of water wells from a semi-confined aquifer should enter into operation.

Never-theless, it is likely that pumping the wells in the western margin of the Bonfim lake may lead to withdrawing water from the lake itself. This assumption is supported by the following facts: 1) the potentiometric maps of the two aquifers points out that the western section of the Bonfim Lake represents the zone of groundwater recharge to the Bonfim lake, as much as to the lower aquifer; 2) an inten-sive monitoring program brought to evidence the direct relationship existing between the rise of the Bonfim lake water level, during the rainfall season, and the concomitant increase in the head of the semiconfined aquifer, with no change in the observed declining trend of the uconfined aquifer water head; 3) finally, the mapping and hydro-geological profiles revealed that the aquitard layer presents discontinuities in the extreme western section of the Bon-fim lake, as well as under the lake, due to faults, karstic subsidence and probable variations of sedimentary facies. Therefore, an alternative source of water for the water line is proposed here: pumping water from the lower part of the system, below the zone of hydraulic connections with the Bonfim lake, in order to avoid water unbalance.

Keywords: Lakes, environment impact, semiconfined aqui-fer

Referências

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