QC,
BQO
PAULO RENATO
CORRÊA
GLÁVAM
JÚNIOR
SÍNDROME
DA ÚLCERA
SOLITÁRIA
DO RETO
RELATO
DE
DOIS
CASOS
FLORIANÓPOLIS
»I
PAULO
RENATO
CORRÊA
GLAVAM
JÚNIOR
SÍNDROME
DA ÚLCERA
SOLITÁRIA
DO
RETO
RELATO
DE
DOIS
CASOS
Trabalho
de
conclusão
do
curso
de
graduação
em
medicina,
apresentado
ao
Departamento
de
Clinica
Cirúrgica,
da
Universidade Federal
de Santa
Catarina.
ORIENTADOR:
Prof.Felipe
FelícioFLORIANÓPOLIS
NOVEMBRO/1995
II
AGRADECIMENTOS
Ao
Prof. FelipeF
elício, pela compreensão e entusiasmoem
aceitara tarefa de orientação.
À
Prof*. Irene Vieira de Souza, pela inestimável colaboração,incentivo e co-orientação,
sem
os quais não seria possível arealização deste trabalho.
Ao
Dr. João Carlos de Oliveira, que cordialmente colaborou paraa elaboração do mesmo.
Ao
Prof Antônio Carlos Scaramelo, pelo apoio na documentaçãofotográfica.
À
Maria Djanilva de Melo, pelo trabalho de editoração.Aos
Pacientes, que,mesmo
incógnitos no seu sofrimento, nosIII
~
SUMÁRIO
~
RESUMO
... ..IvABSTRACT
... ..vINTRODUÇÃO
... ..õPACIENTES
E
MÉTODOS
... ..sCASO
Na
01
... ..9CASO
N*
02
... ..14DISCUSSÃO
^ _ ... .. nnnnnnnnnnnnnnnn ou17
REFERENCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... ..32IV
RESUMO
A
Síndrome da
Úlcera
Solitáriado Reto
émn
distúrbioque
acomete
adultos jovens,de
ambos
os sexos, apresentando-se clinicamentepor
retorragia,
mucorréia
e desconfortoao
defecar. çDe
patogenia aindanão
totahnente esclarecida, é,provavehnente,
causada por
uma
alteraçãona
contratilidadeda
musculatura
pélvica,principalmente
do músculo
pubo-retal,que não
relaxa durante asevacuações,
gerando
pressão intrarretal excessiva eformação
de
prolapso interno,clinicamente detectável
ou
não,o que
levaa
um
traumatismo
crônicoda
parede
retal,
com
conseqüente
ulceração.O
diagnóstico éfirmado
apenas
pelo estudo histopatológico que,caracteristicamente, apresenta alteração
da
camada
muscularis
mucosae,
com
hipertrofia
de
suas células, e invasãoda
lâmina
própriapor fibras musculares
efibroblastos,
com
hiperprodução
de
colágeno.É
patologia infreqüente,mas
deve
serlembrada
no
diagnósticodiferencial
de doenças mais
comuns
como
retolite ulcerativa inespecífica,doença
de Crohn,
amebíase, e, principalmente,carcinoma
do
reto.Seu
tratamento é conservador, constituindo-se, basicamente,
por
mudança
do
hábito intestinal
com
uso de
dieta ricaem
fibras
e,algumas
vezes, laxantesleves.
O
tratamento cirúrgico éreservado para
casosque
não
respondem
adequadamente
à conduta
clínica.Aqui
são apresentados dois casosde
Síndrome da
Úlcera
Solitáriado
Reto, diagnosticados histologicamente, correlacionandonossos
achados
V
~
-~
ABSTRACT
'The
Solitary RectalUlcer
Syndrome
isa
disturbance_ that afl`ects'young
adults,of
either sex, clinically presentedby
rectal bleeding,mucus
discharging
and
disconfoiton
defecation.The
pathogenesis, still not totally clarified, isprobably
caused
by
an
alterationof
contractillyof
the pelvic musculature, specially thepubo-
rectalis muscle, that doesn”t relax during evacuations, creating
an
excessiveintrarrectal pressure
and
intemal prolapse formation, clinically detectable ornot, leading to a chronic
traumatism of
the rectal wall,with subsequent
ulceration.
The
diagnosis isconfirmed
onlyby
the histopathologic study, that, caracteristically,shows
an
alterationof
themuscularis
mucosae,
with
hipertrophyof
cells,and
invasionof
thelamina
propria
by
muscle fibers
and
fibroblasts,
with overproduction of
colagen.lt°s
an
incommon
pathology
butshould
be
remembered
in thediferential diagnosis
of
more
frequent diseases like ulcerative colitis,Crohn°s
disease, amebiasis, and, principally, rectal carcinoma.
The
treatment isconservative,
and
consists basicallyby
intestinal habitschanging with an
high-fiber
diet and,sometimes,
soft laxatives.The
surgical treatment ispreserved
for cases that doesn°tanswer
to clinical
management.
Here
are presentedtwo
casesof
Solitary RectalUlcer
Syndrome,
histologically diagnosed, correlating our
founds with
the cases described atINTRODUÇÃO
~
~A
Síndrome
da
Úlcera
Solitáriado
Reto
(SUSR)
éuma
patologiabastante rara,
poucas
vezes descritaem
nosso
meio.Contudo, o
espectro clínico'de
suas manifestaçõestoma-a
uma
entidade importante a serlembrada
no
diagnóstico diferencial
de
condiçõescomo
o adenocarcinoma
retal, a retocoliteulcerativa inespecífica e a
Doença
de
Crohn
com
comprometimento
colorretal,patologias essas
de
manuseio
muito
diferenteda
referida síndrome. _São
várias as teoriasque
tentam
explicar agênese
da
SUSR.
Nenhuma
delas, entretanto,conseguiu
elucidaradequadamente o
mecanismo
fisiopatológico exato, seja atravésde
correlações clínico-anatomopatológicas, sejaatravés
de
estudos experimentais.A
teoriamais
forte é aquelaque propõe
Lunaorigem
isquêrnica para as lesões ulceradas, decorrentede
prolapso retal eque
teriacomo
conseqüência, alteraçõesfibromusculares
na
mucosa
esubmucosa do
reto.Não
obstante os diversos relatosna
literaturaque corroboram
essa teoria,nem
todos os casos
podem
seradequadamente
explicados pelamesma,
jáque
nem
7
A
faltade conhecimento
a respeitoda
etiologia exata fazcom
que
não
haja aindaum
tratamentocompletamente eficaz
para aSUSR.
O
tratamentocirúrgico
não
semostrou
satisfatóriono
controle das manifestações clínicasde
casos relacionados
ao
prolapso retal.Em
vários trabalhos,mesmo
após
a ressecçãodo
segmento
retal ulcerado,houve
recorrência das lesõesmeses
após.Visto isso, a maioria
dos
autores preconizaum
tratamento conservador, principahnenteno
que
tange aadoção de
uma
dieta ricaem
fibras,mudança
de
atitude
no
atoda
defecação, evitando esforço excessivo, e, sobretudo, atranqüilização
do
pacienteem
relaçãoao
caráterbenigno da
patologia. 'O
objetivo deste trabalho é apresentaro
relato de dois casosde
SUSR,
diagnosticados histologicamente, tentando correlacioná-loscom
osachados
da
literatura e trazendo à discussãouma
entidade que,embora
rara,deve
PACIENTES
E
MÉTODOS
Dois
pacientesforam
atendidosno
Serviçode
Coloproctologiado
Hospital Universitário e Hospital
de
Caridade,em
Florianópolis,tendo
sidoinvestigados
quanto
a sintomatologia eexame
fisico e, posterionnente,submetidos
apropedêutica
radiológica eendoscópica
com
biópsia das lesões e diagnóstico histopatológico.*U
~
CASO
N”
01
~
J. C. C.,24
anos, masculino, branco, apresentando-sehá
cercade
oito
meses
com
retorragia durante e entre as evacuações, seguidade
constipação,tenesmo
e mucorréia eventual.Apresentava algumas
vezes dor àevacuação
e prolapso retal,com
redução
espontânea.Emagrecimento
de
5Kg
no
período.História prévia
de hemorroidectomia há
três anos.Sem
outros antecedentespatológicos pessoais
ou
familiares.Ao
exame
fisico apresentava-seem bom
estado geral, pressão arterialde
120/70mmI-Ig,fieqüência
cardíacade 70
bpm,
peso:60 Kg,
altura:172
cm.
Auscultapulmonar
e cardíaca nonnais.Abdome
plano, flácido, simétrico,sem
massas
ou
visceromegalias, levemente doloroso à palpaçãode
fossa ilíaca esquerda,ruídos hidroaéreos presentes. ›
Q
Exame
proctológico: realizadona
posiçãode
Sims. Inspeção normal.Toque
retalmostrando pequena
irregularidadeno
quadrante anterior direito,semelhante
a
feridade
hemorroidectomia.Anuscopia
normal.Retoscopia
mostrando
pequena
lesão ulcerada rasa, de +/- 0,8cm
na
parede anteriordo
reto, distante cerca10
distante cerca
de
2 a 3cm
da
linha pectínea. Foi realizada biópsia, colhendo-se 3fragrnentos para
exame
histológico.Ultra-sonografia abdominal: normal.
Raio
X
de
TrânsitoDelgado:
normal. Clister opaco: lesãode
reto baixa. ,Essa
apresentação clínica e resultadosdos
exames
complementares
levouao
diagnósticode
provável lesãomaligna de
reto.O
laudo inicialdo
exame
histopatológico foi
adenocarcinoma
moderadamente
diferenciado.Como
persistisse, contudo, dúvida a respeito desse laudo,
o
paciente foi levado a cirurgia,sendo submetido
auma
ressecção localda
lesão. -O
exame
histopatológicoda
peça
cirúrgica revelou cortesde
mucosa
intestinal apresentando criptas
com
arquitetura parcialmente distorcida,com
focosde
erosão e áreascom
aspectode
pseudo-invasãoda muscular
da
mucosa.
Conclusão:quadro
compatívelcom
Úlcera
Solitáriado
Reto.(FIGURAS
O1,02
E
O3). _
Com
esse diagnóstico,o
paciente foi entãomantido
em
observação
clínica semestral, apresentando-se
sem
recidivada
lesão ulcerada até a últimall
FIGURA
01 -Mucosa
intestinal erodida,com
alterações inflamatóriasmoderadas
e12
FIGURA
02
-Mucosa
intestinal erodida,inflamada,
com
criptasem
regeneraçãopor
vezes conferindo aspectode
pseudo-invasãoda
muscular
da
13
FIGURA
03
-Mucosa
intestinal erodida,inflamada,
com
distorção arquitetura]~
CASO
N°
02
~
'B. J. O., 16 anos, masculino, branco, apresentando-se
há
4 anos
com
retorragia durante
ou
entre as evacuações, dorabdominal
em
cólica, diarréia emucorréia eventuais.
Ausência de
outros antecedentes patológicos pessoaisou
familiares significativos.
Ao
exame
fisico apresentava-seem bom
estado geral, pressãoarterial
de
120/80mmHg,
fieqüência
cardíacade 88
bpm.
Auscultapuhnonar
ecardíaca nonnais.
Abdome
plano, flácido, simétrico,sem
massas
ou
visceromegalias, levemente doloroso à palpação
de
flanco
e fossa ilíaca esquerdos,ruídos hidroaéreos presentes.
Exame
Proctológico: realizadona
posiçãode
Sims. Inspeçãonormal.
Toque
retalmostrando
pequena
lesão endurecida anterior.Anuscopia
normal.
Retoscopia mostrando
lesão ulceradade
+/- 2,0cm
de
diâmetro,de bordos
elevados e
fundo
fibrótico, localizada a cercade
6,0cm
da
margem
anal,na
parede
anteriordo
reto. Foi realizada biópsia, retirando-se4
fragmentos para análise15
O
exame
histopatológico revelou áreade
ulceração superficialcom
exudato fibrino-purlento, dilatação vascular,
edema
e hiperplasia glandularcom
configuração
vilosa.Em
um
dos fragmentos
havia nítida desorganizaçãoda
muscular
da
mucosa. Ausência de
malignidade. Conclusão: lesão compatívelcom
Úlcera Solitáriade
Reto.FIGURA
04
-Mucosa
intestinal ulcerada,inflamada,
com
criptas distorcidas~
DISCUSSÃO
~
\_
A
Síndrome
da
Úlcera Solitáriado
Reto,uma
entidade clínico-patológica
poucas
vezes vistana
prática diária, já éconhecida desde a
primeirametade do
séculoXIX, quando
foi descritapor
Cruveilhier,que
lhedenominou
Úlcera Crônica
do
Reto.6Desde
então várias descriçõestêm
sido feitas 6' 7,ficando
clássica
a
importante revisãode
68
casos feita porMadigan
eMorson
em
1969.10Esses
autoresdemonstraram que o
nome
da
síndrome, apesarde
arraigadonos
meios
clínico e, principahnente, anatomopatológico,não
éde
todo correto, pois muitas vezesmais de
uma
úlcerapode
ser encontrada,bem
como
há
um
estágioda
doença quando
aindanão
ocorreu ulceração.Outros
autoresmostraram,
ainda,que
muitas vezes
não
é necessária a presençamacroscópica da
úlcera para definir a síndrome, estandoa
mesma
ausente durante todoo
transcurso clínicoda
enfemúâaâe
1 9› “› 13»”
A
SUSR
é classicarnente descritacomo
uma
doença de
adultosjovens, caracterizada pela presença
de sangramento
vivocom
ou
entre as18
apresentados
correspondem
à descrição anterior,sendo
um
pacientede
24
eo
outrode
16anos
no
momento
do
diagnóstico.Ambos
apresentavam
como
manifestaçõesíndice
o sangramento
retal,acompanhado
de
dor e/ou desconforto anal, descargamucosa
peloânus
e alteraçãodo
hábito intestirral (o primeiro pacientecom
constipação eo segundo
com
diarréia);Ford
e col.5,em
tuna sériede
40
casos estudados,mostraram
um
intervalo
médio
entreo
iníciodos
sintomas eo
diagnóstico de,aproximadamente,
5anos.
O
mesmo
tempo
foi relatadopor
Niv
eBat
U
em
urna sériede 19
pacientes.Em
um
de
nossos casos essetempo
foide
oitomeses, enquanto
que,no
outro,de
quatro anos.Além
desses sintomas cardinais, outrospodem
estar presentes,variando
em
freqüênciade
série para série.Dentre
eles ador
abdominal, principalmenteem
fossa ilíaca esquerda, é descritaem
até70%
dos
casos.5Ambos
os pacientes por
nós
descritosapresentavam
dorem
fossa ilíaca esquerda.O
tenesmo
é outra manifestação clínicacomumente
encontrada,sendo
relatadaem
até50%
de
algumas
séries.“`*16Um
de nossos
pacientes apresentava tenesmo.A
presençade
prolapso retal,que
éum
dos
importantes fatoresfisiopatológicos discutidos
em
toda a literatura, esteve presenteem
mn
de nossos
casos, apresentando caráter
de redução espontânea
no
mesmo.
Em
várias séries revisadas 5' 7” 1°” H” 13é descrito esforço evacuatório
19
do
ânus
para a conclusãodo
atoda
defecação.Esse
processotem
implicaçõesfisiopatológicas
que
serão discutidasmais
adiante.Nenhmn
dos nossos
doispacientes referia esforço
demasiado ao
evacuar,nem
digitação anal, apesardo
primeiro deles ter apresentado constipação durante a
evolução
da
doença.Na
sériede 68
casos estudadospor
Madigan
eMorson
1°,24
pacientes
(35%)
apresentavam
um
toque
retalsem
alterações.Os
restantesapresentavam
áreade endurecimento
da
parede
na
região afetada,sem,
contudo,haver
enrijecimentoou fixação do
reto à estnlturas adjacentes.Achados
semelhantes são descritos
por
outros autores.1*9= 13Algumas
vezes as lesõespodem
se apresentar
como
massas
polipóides, únicas 9' 17ou
múltiplas."O
exame
digitaldos nossos
dois pacientesmostrou endurecimento
na
parede retal anterior,o que
écompatível
com
amaior
parteda
literatura consultadal” 5° 9° 1°' 17O
exame
retossigmoidoscópicopode
demonstraruma
grande
variedadede
achados.O
mais
característico é a presençade
ulceraçãomacroscópica
da
mucosa
retal 5' 1°” U,podendo
amesma
ser solitáriaou composta
por
várias úlceras.Madigan
eMorson
encontraram
úlcera únicaem
70%
dos
seus68
casos,enquanto
que
os outros30%
tinham
duas, três,ou
mais
úlceras,respectivamente, oito, três e
nove
pacientesw
Na
sériede Ford
e col.5,dos
40
casos estudados,27 apresentavam
uma
ou
mais
ulceraçõesda
mucosa
retal,enquanto
13pacientes
não
as apresentavam,sendo que
destes, 7mostravam
apenas
áreade
20
A
presençade
lesão polipóide séssil foi descritatambém
por
Yarnagiwa
17,sendo que
este tipode
lesão constituía atotalidade
dos
casosestudados
por
esse autor.Niv
eBat estudaram
19 casosde
SUSR,
dentre os quais6
(32%) não
apresentavam
qualquer ulceraçãomacroscópica."
Em
nenhum
dos
setecasos estudados
por
Royes
e col. 13 foi encontrada ulceração macroscópica.Desta forma
vemos
que,conforme enunciado
anterionnente, ionome
da Síndrome
da
Úlcera Solitáriado
Reto
permanece
mais
pelo seu caráterclássico
do
que por
representarum
denominador
comum
de
uma
sériede
lesões, .
macroscoprcas.
Apesar
disso,na
maioriados
trabalhoshá
consenso quanto
àlocalização das lesões,
sejam
elas polipóides, nodularesou
ulceradas, únicasou
múltiplas.
É
caracteristica sua localizaçãona
parede anteriorou
antero-lateraldo
reto, situadas habitualmente entre três e treze centímetros
da
margem
anal,numa
média
de
7 a 8 centímetros.1*5'7” 1°'U
Na
série
de
Royes
e col.” todas as lesõesestavam
localizadasnas
paredes posteriorou
póstero-lateraldo
reto.Knoepp
eDavies
9 relataramum
casoem
que a
lesão polipóideocupava
66%
da
circunferência retal,
sendo
confundidacom
mn
adenoma
viloso.É
também
grandemente
variávelo
tamanho
das lesões ulceradas encontradasnas
diferentes sériesda
literatura.Foram
descritas ulceraçõesque
variam
em
diâmetrodesde o
tamanho
de
uma
“cabeça de
fósforo” 1° até 521
O
fomato
das úlceraspode
ser linear, arredondado, oval e,em
menor
número,
serpiginosoou
estrelado.”Seus bordos
podem
serbem
definidos
11°
ou não
1”7,
separando
a ulceraçãode
uma
mucosa
adjacentenonnal
no
ou
granulars
Dos
casospor nós
estudados,ambos
apresentavam
lesão solitáriaulcerada
da
parede anteriordo
reto, a primeiramedindo
cercade
8 milímetros,localizada a 3 centímetros
da
linha pectínea; e a segunda,que
media,aproximadamente, 2
centímetrosno
seumaior
diâmetro, localizava-se a 6centímetros
da
margem
anal.A
associaçãodo
exame
digitalao
retossigmoidoscópicoforma
apedra
angularno
estabelecimentode
um
raciocínio diagnósticoadequado
para. \
todas as patologias
que
acometem
asporções
distaisdo
intestino grosso. Issonão
éexceção
no
casoda
SUSR.
O
exame
proctológicoadequado,
complementado
por
biópsias dirigidas
da
lesão e/ou áreas suspeitas, são capazes de estabelecercom
certeza a natureza
da
patologiaem
estudona
maioriados
casos.Dentre
osexames
complementares que
podem
auxiliarnos
casosmenos
característicos, destaca-seo
enema
opaco. Este, contudo,não
demonstrou
grande utilidadenas
séries estudadas 1°* “,já
que
poucos
foram
os casosem
que
algmna
lesão foi demonstrávelao exame,
e, desses,menos
aindapodiam
ser22
submetido
aenema
opaco,que demonstrou
tãosomente
lesão baixade
reto,muito
mais
compatívelcom
um
processo piahgno.Exames
mais
sofisticadostêm
sido propostos.Alguns
autoresrelataram
o
uso
da
eletromiografiacomo
modo
de
avaliaçãoda
atividadedos
músculos
pélvicos,em
especialo
pubo-retalU2
Foi sugeridauma
associação entrea Síndrome
da
Úlcera Solitáriade
Reto
eo
Prolapso Retal (Rutter citadopor
Pescatori e col. lz). Isso seria explicado
por
uma
faltade
relaxamentodo
pubo-retaldurante
a
evacuação,o
que
levaria aum
prolapsoda
parede anteriordo
retopor
sobreo músculo anomalamente
contraído,gerando
um
ponto
de isquemia
e,conseqüente
fiaqueza da
mucosa,
com
posterior ulceração."*12Esse
mecanismo
também
poderia explicar a predileção das lesões pela parede anteriordo
reto, jáque
é nesse
ponto
que o
músculo
pubo-retal exercemaior
pressão.A
alteraçãodo músculo
pubo-retal foi descritatambém
na Síndrome
do
Períneo Descendente,onde
ocorre urna protrusão excessivada
parede
retalanterior, durante
a
defecação (Parks citadopor
Ihre 8). lhre 8 sugeriuque
ambas
asdesordens seriam,
na
verdade, urnamesma
entidade, ocorrendonos
pacientescomo
um
ciclo: faltade
ralaxamentodo
pubo-retal ,aumento do
esforçona
evacuação,
prolapso retal intemo,
maior
esforço para evacuar,aumento do
prolapso.A
lesãocrônica seria
causada
pelo polo inferiorda
mucosa
prolapsada por sobreo
músculo
O
23
O
avanço
trazido pela eletromiografia veioconfirmar
a hipótesehá
muito
propostapor
vários autores 1' 7' 1°da
relação entre
o
prolapso retal ea
SUSR.
A
Proctografia Evacuatória e aManometria
Anorretal 1” 8são 'outros dois
exames
que, junto
com
a Eletromiografia,têm
grande valor para avaliaçãoda
fisiopatologiadessa entidade,
embora
careçam,na
prática,de
qualquer utilidade diagnóstica.A
presença
do
prolapso visívelnão
é indispensável, poispode
ser subclínico.l4Muitas
vezeso
mesmo
só é detectadoà Proctografia
Evacuatória 12,não
sendo
notado
pelo pacientenem
mostrado
pelosexames
complementares
convencionais.Um
de nossos
pacientes apresentava prolapso retal ocasional durante aievacuaçãozTodas
essas evidênciastomam
o
prolapso retal e suaconseqüência
isquêmica
sobre aparede
retalo
fator etiológicomais
provávelda
SUSR.
Foram
propostos outros fatores etiológicoscomo
o trauma
localpor
digitação analem
pacientes constipadosl* 5° 9” 14
Este,
provavehnente
não
é causada
lesão,mas
conseqüência
da
alteração evacuatória existente nesses pacientes. Práticashomossexuais
também
foram
aventadascomo
causa de trauma
local,mas
devem
fazer parte
do
mesmo
espectrode
alterações.Causas
menos
comuns,
porém
interessantes,foram
descritasna
literatura.
Uma
delas foi relatadapor Eckardt
e col. 4,que mostraram
urna casuísticade
seis pacientes portadoresde
úlcera retalcausada por uso
crônicode
supositórios24
caso
de
.úlcera solitária induzidapor
radioterapia para tratamentode carcinoma
adenoescamoso
de
endométrio.Foram
descritostambém
casosem
que
a etiologia poderia seruma
malfonnação hamartomatosa
congênitada
mucosa
retal 1° 5ou
haver relaçãocom
doença
inflamatória intestinal. 5°U
Esses fatores etiológicos descritos anteriorrnente irrcluem-se
no
quadro de
causas específicasde
ulceração retal,não
sendo
portanto analisados aquiem
profundidade.O
diagnósticoda
SUSR
seráfimrado
a partirda
biópsia das lesõesencontradas
no
exame
retossigrnoidoscópico e sua posterior análise histopatológica.Em
excelente trabalho,Bogomoletzl
revisou os aspectoshistopatológicos caracteristicos
da
SUSR,
dividindo as alterações microscópicasda
mucosa
retalem
uma
Fase Precoce
euma
Fase de
Alterações Secundárias.A
Fase Precoce
da
SUSR
seriadefinida
como
uma
fasenão-
ulcerada, apresentando alterações caracteristicas descritas
por
vários autores, dentreeles,
Madigan
eMorson
1°:- Hipertrofia
da
muscularismucosae, gerando
espessarnento e desorganização dessacamada, que dá
sustentação àmucosa.
- Obliteração
fibromuscular
da lâmina
própria: essa alteração é inicialrnente vistacomo
invasãoda
lâmina própriapor
fibrasmusculares
lisas isoladas provenientesda
muscularismucosae
subjacente. Posteriormente ocorreconfluência
dessas25
fibras,
bem
como
proliferaçãode
fibroblastos,com
conseqüente produção de
colágeno.
- Hiperplasia das criptas,
que
podem
ramificar-setomando
uma
configuração
pseudovilosa.
Gradativamente
asporções mais
profimdas
das criptasgeram
dilatações císticas
com
superprodução de
muco,
conformação
essatambém
característica
da
Colite CísticaProfimda
(muitos autoresconsideram
asduas
condiçõescomo
sinônimo
1” 14)._
Essas
alteraçõespodem
serpenneadas
porum
infiltradoinflamatório misto e
por
vasos dilatados e congestos. 1A
Fase de
Alterações Secundárias seriauma
combinação
dasmodificações
citadas anteriormente,gerando complicações
como:
-
Erosão-
caracteriza-sepor
necrosedo
epitélio eda
lâmina
própria,
deposição de
fibrina, infiltrado
de
neutrófilos ehemorragia
capilar.- Ulceração- progressão
da
lesão erosiva,acometendo camadas
mais profundas
da
mucosa
eesboçando o
iníciodo
processode
reparação.- Fibrose- ocorre
após
ulceração extensada
mucosa
esubmucosa.
'
-
Hemorragia-
decorrenteda
lesão vascularocasionada
pela erosão eulceração
da
mucosa.
Não
ocorrem
diferenças rnicoscópicas entre os casosem
que há
ulceração
macroscópica
e aquelesem
que
estanão
se faz presente. 1° 5° 1°*U
26
da
SUSR
como
uma
Fase Não-Ulcerada,
atribuindoum
carátermutável
àmesma,
ou
seja,a
possibilidadede
ulceraçãocom
posterior cicatrização e,novamente,
ulceração.
H
Essa
mesma
Fase Precoce
foi designadapor
Thomson
e Hill(citados
por
Niv
e Bat)como
Fase
Pré-Ulcerosa.Niv
eBat
U demonstraram
em
sua
casuísticaque
nenhum
dos
seis pacientessem
ulceraçãomacroscópica
desenvolveu
úlcera,mas,
em
contrapartida, três pacientesque apresentavam
úlcerapassaram a
mn
estadosem
ulceração.A
issochamaram
Estado
Pós-Ulceroso.`
Ford
e col. 5demonstraram
que,no
grupo de
pacientesque
seapresentavam
iniciahnentecom
ulceração macroscópica, haviagrande
variabilidadeno
aspecto dessas úlceras durantea
evoluçãodo
processo,embora sempre
pennanecessem na
mesma
posiçãoem
relação àparede
retal.Por
outro lado,nas
lesões
do
grupo
sem
ulceração macroscópica,pouca
ou
nenhuma
alteraçãoanatômica
foinotada
duranteo seguimento
da
doença.Dessa
forma, esses autorestambém
contestaram, aexemplo
de
outros U, a teoriado
Estado Pós-Ulceroso de
Thomson
e Hill. .Métodos
mais
modemos
têm
sido utilizadosna
análisedos
caracteres histopatológicos
da
SUSR.
Chanvitan
eNopanitaya
2fizeram
um
estudode
microscopia eletrônicaem
dois casosde
SUSR,
demonstrando
a nível27
da lâmina
própria, proliferaçãode
fibroblastosem
arranjosde
cinco a seis células e deposiçãode
colágenoao
seu redor. ~O
mais
importanteem
toda a análisepor nós
realizada até aqui,repousano
fatode
que
a biópsia retalcom
o
estudo histopatológicoda
lesão, sejaela ulcerada
ou
não, éo
ponto fimdamental
no
diagnósticoda Síndrome
da
Úlcera
Solitária
do
Reto.As
alterações microscópicas anteriormente descritas são altamente sugestivas.Contudo,
algtunasvezes
podem
não
estar presentesna
sua
forma
mais
caracteristica.É
de fundamental
importância diferenciar aSUSR
de
outras patologias
mais
freqüentescomo
a
doença
de Crohn,
a retocolite ulcerativainespecífica, amebíase, linfogranuloma
venéreo
e, principalmente,o
carcinoma
retal. 5* 12” 15
Essa
diferenciaçãonem
sempre
é fácil.Thomson
e col. 15,em
uma
amostra de
seis casos, relataramque
três deles tiveram diagnósticoretossigrnoidoscópico
de
lesão maligna,sendo
posteriormente diferenciadosno
exame
histopatológico.No
nosso
primeiro casoo
diagnóstico histopatológico inicialde carcinoma
retal gerou dúvida,sendo
o
paciente, então,submetido a
ressecçãotransanal
da
lesão,com
posteriorconfirmação do
caráterbenigno
da
doença.A
análise histológica
da peça
cirúrgicamostrou
tratar-sede
SUSR.
O
segundo
caso,cujo estudo histopatológico inicial diagnosticou
SUSR,
foi tratado28
O
tratamentoda
SUSR
émuito
controverso.Embora
váriastentativas cirúrgicas já
tenham
sido propostas, a tendência atualrepousa
em
uma
abordagem
inicial conservadora 5” 13' 15” 16' 17, assegurando,em
primeirolugar,
ao
paciente,
o
caráterbenigno
da
patologia.Conforme
exposto anteriormente, a implicação fisiopatológicamais
importante dessa
doença
consisteem uma
faltade
relaxamentoda
musculatura
perineal
que
levaria,na
maioria das vezes, aum
prolapso retal iritemo,com
posterior alteração
isquêmica
da
parede. Foitambém
demonstrado
que
o
prolapsogera
uma
maior
dificuldade para a defecação,levando a
um
aumento do
esforçoevacuatório,
medida
que
perpetuaria, dessa forma, aanormalidade dos músculos
pélvicos.
Disto concluiu-se 5” 9* H' 16° 17
que
uma
dieta rica
em
fibras
eo
uso
criterioso
de
laxativos orais «seriammedidas
universaisa
serem
tomadas
no
manuseio
prirnárioda
SUSR.
Dessa
forma
estar-se-ia eliminandoo
fatorperpetuador
do
processoque
seriao
aumento
da
pressão intra-retal.Nem
todos osautores
conseguem,
contudo,bons
resultadoscom
essas medidas.Ford
e col. 5não
alcançaram
remissão sintomáticapermanente
ou
cura das lesões.Outros
autoresrelatam resultados semelhantes.
U
V
van
der Brandt-Grädel e col. 16 realizaram trabalho bastanteimportante para avaliação
da
eficácia dessasmedidas
terapêuticas.Em
um
grupo de
29
uma
dietacom
30
a40
gramas de
fibraspor
dia,sendo
amesma
obtidacom
o
uso
de
cincoou
seis fatiasde
pão
integral,duas porções de
vegetaiscms
e quantidadelivre
de
vegetais cozidos, pelomenos
duas fiutas
e seis colheres dasde sopa de
farelo.
Além
disso os pacientesforam
instruídos a evitar esforço durante a evacuação.Na
maioriados
casos, a diminuiçãodos
sintomas e anormalização
do
ritmo intestinal ocorreu antesdo
desaparecimento
das lesões macroscópicas.Em
15
dos
21 pacientes os sintomasdesapareceram
totalmente ehouve
curada
ulceração,
em
um
tempo
que
varioude
dois emeio
a vinte eum
meses,
numa
média
de dez
meses
e meio.Os
autoresafirmam
que o
controle eo
seguimento
da
terapia
devem
.ser rigorosos,sendo
necessários váriosmeses
para avaliar osresultados.
Concluem
ainda,que
os pacientesque
falharamna
recuperação
sintomática e/ou morfológica
de
suas lesões,o
fizeram
por
inabilidadede
seguir adieta
de maneira
adequada.Indo mais
além, ainda,demonstraram que
nenhum
beneficio
é alcançadoquando
se utilizam laxativos suavesnos
pacientesque
falharam
no
tratamentoapenas
com
a dieta.Dessa
forma,com
a diminuiçãoda
consistência das fezes,diminuição
do
esforço evacuatório e regulaçãodo
hábito intestinalapenas
com
uma
dieta rica
em
fibras,van
der Brandt-Grädel ecol.16propõe que
essedeva
sero
ponto fundamental da
terapêutica,sendo
suficiente para a resoluçãodo problema
30
Muitos
autores,por
não
conseguirem
resultados semelhantes aos expostos acima,lançam
mão
de
outras medidas.Madigan
eMorson
1°enurneraram
Luna sériede
tratamentos empíricos utilizados àépoca
do
seu relato.Dentre
elesdestacava-se
o uso de
supositóribs, cujoscomponentes
incluíam adrenalina, anti-histamínicos, arsênico, bismuto, hidrocortisona e outros esteróides, mercúrio, etc.
Enemas
de
retençãode
corticóides,bem
como
antibióticos e agentes quimioterápicos sistêmicos (oraisou
parenterais)ou
locaistambém
foram
tentados.De
todas as tentativas terapêuticas anteriormenteenumeradas,
o
enema
de
corticóides ea
sulfasalazina oral são osmais
discutidos.Niv
eBat
U,assim
como
Ford
e col. 5não
conseguiram
resultados significativoscom
o
emprego
de
tal terapia. Pescatori e col.” relataram diminuiçãoda
recorrênciados
sintomas acurto prazo,
nos
seus primeiros pacientes.Apesar de
toda a discussãoem
tomo
da
terapia clínica, ébem
definido
na
literaturaque
aSUSR
éuma
entidadede
caráter recorrente,apresentando recidiva
dos
sintomasapós
algum tempo
de
remissão.Nenhuma
modalidade
terapêutica foi capaz, até agora,de
alterar significativamenteo
cursonatural
da
doença.Assim
como
asformas
clínicas,o
manuseio
cirúrgico dessespacientes até hoje
tem
sido insatisfatório. Várias técnicasde
correçãodo
prolapso31
clínico,
dado
o
caráter recorrencial das lesões tantoquando
tratadasconservadoramente, quanto
de
maneira
mais
agressiva.Niv
eBat
U fizeram
uma
interessante revisão das técnicas cirúrgicaspropostas e utilizadas até então, correlacionando-as
com
a sua eficácia.Dentre
elascitaram:
-
Excisão
transanalda
lesão,que demonstrou
índicede
recorrênciade
50
a
70%
na
maioria das sériespor
eles revisadas.Nenhum
dos
procedimentos
locais utilizadosde
fonna
adjuvanteou
independente
como
injeçãode
soluçãoesclerosante, eletrocoagulação, dilatação
ou
hemorroidectomia, foi eficaz.-
Excisão
da
lesãopor
via transesfinctérica posterior,que
falhouem
quase
100%
das tentativas.
-
Retopexia
transabdominal e reparodo
prolapso retalforam eficazes
em
reduzira
sintomatologiaem
pelomenos
50%' dos
pacientesem
algumas
séries revisadas,porém
não
em
prevenir a recorrência das lesões. -iRessecção
com
anastomose
término-terminal,assim
como
colostomia proximal,não
preveniram
a recidiva das lesões eda
sintomatologia.A
revisão realizadapor
aqueles autoresdemonstra que
nenhuma
dastécnicas cirúrgicas propostas até
o
momento
é suficientemente boa.As mesmas
devem
ser reservadas para casos especiais,quando
asmedidas
clínicasnão
conseguem
controlar a sintomatologia.”Não
há, contudo, garantiaque
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