A
aprovação do
presente.t_raba|ho'zdëmico não
significará o _endossodo
Professor Orientador,da
Banca
E>:ami--nadora
edo CPGD/UFSCiàÍideo|czgia
que
ofundamenta ou que
neleíé e›<pos~AGRADECIMENTOS
. _Ao Prof. Dr. Sílvio Dobrowolski, Iúcido
e
generoso
orientador desta dissertação.À
minha esposa
MárciaHaydée,
pelo apoioem
todos osmomentos.
Aos
Professoresdo
Curso
de
Pós-Graduação
em
Direitoda
Univer-sidade Federal
de
Santa
Catarina, pelassuas
lições. ' `Às
funcionáriasdo
Curso
de
Pós-Graduação
em
Direitoda
Univer-'sidade Federal
de
Santa
Catarina, peladedicação aos
alunosdo
cursode
Mes-
V
Àqueles
que
sempre
cobraram
aconclusão
do
presente trabalho,Marlene e José
Ramos,
meus
pais.Toda
pesquisa
implicaem
uma
'seleçãoarbitrária
e
fragmentada
de
informações.O
que
equivale a dizerque
nenhum
tema
pode
ser esgotado.
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS JURÍDICAS
~CURSO
DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM
DIREITO
gA DISSERTAÇÃO
O CONTROLE
CONCENTRADO
DE
coNsT|TucioNALioAoE oAs
Leis
NA
oRDEM
JURÍDICA BRAs|LEiRA
PÓS-88:
parauma
análisede
sua
fi-losofia e
de
suas
dimensões
jurídico-políticas.
Elaborada
porPaulo Roberto
Barbosa
Ramos
eaprovada
por todosos
membros
da Banca
Examinadora,
foi julgadaadequada
para aObtenção
do
Iítulode
MESTRE
EM
DIREITO.
Florianópolis, 11
de
novembro
de 1997
BAN
CA
EXAMINADORA
_ (.
/
~
Prof. or.síiv¡‹› oobrowoiâki
É<-'/<~=/
Qf
Prof._Dr. Índio Jorge ZavariziA '
A
Á
Prof. Dr. Sergio U. Cademartori
Í/
Prof. Dr.
Ubaldo
Cesar
Balthazay- A-4
=!
Professor Orientador:
Prof. Dr. Sílvio Dobrowolski
Coordenador do
C~
Prof. Dr.Ubaldo
Cí]
aÚ
Ai
O CONTROLE
CONCENTRADO
DE
CONSTITUCIONALIDADE
DAS
LEIS
NA
ORDEM
JURÍDICA BRASILEIRA
PÓS-88:
parauma
análisede sua
filosofia ede
suas
dimensões
jurídico-políticas.PAULO
ROBERTO BARBOSA
RAMOS
Dissertação
apresentada
ao Curso de
Pós-Graduação
em
Direitoda
Universi-dade
Federalde Santa
Catarinacomo
requisito à
obtenção do
Titulode
Mes-
tre
em
Direito. _Orientador: Prof. Dr. Sílvio Dobrowolski E
Florianópolis
1997
-RESUMO
\‹
A
filosofiae
asdimensões
jurídico-politicasdo
controleconcentrado de
constitucionalidadedas
leisna ordem
jurídica brasileira pós-88.Partindo-se
da
idéiade que
o
controlede
constitucionalidadedas
leis sÓganhou
sentido_quandoo
serhumano
passou
a ser titularde
direitos dentrodo
universo sócio-politico,chegou-se
àconclusão de
que
esse
tipode
controle éuma
técnicaque
tem
por finalidade garantiros
direitosfundamentais do
homem.
V 'Ao
ser eleito titulardos
direitos dentroda
relação politica, aque
seda
en- tregovernantes e
governados, ohomem
procurou encontrar osmelhores
meca-
nismos
para defesade
seus
direitos.Em
algumas
sociedades,os
homens
vèem
no
controle difuso omecanis-
mo
mais
adequado
para preservarseus
direitos;em
outras,no
controleconcen-
trado,sem
desconsideraraquelas
que,como
a brasileira, regida pela Constitui-ção de
1988,adotam
os
dois tiposde
controle.`
O
controle difuso caracteriza-se pela possibilidadede
todo, e qualquer juizou
tribunalpoder
apreciara
constitucionalidadedas
leis e o concentrado, pelapossibilidade
de
apenas
um
tribunalpoder
efetuar o referido controle, por pre-dominar
neste último a- idéiade
presunção
de
validadedas
leis, tradutorade
se-gurança
jurídica emeio de
assegurar aseparação dos
poderes, maior garantiade
respeitoaos
direitos fundamentais. 'Essas duas
principais técnicasde
controle, a difusa e a concentrada, sófazem
sentido dentrode
ambientes
democráticosou que
aspirem
a ser efetiva-mente
democráticos,porquanto
sónesses
as verdadeiras constituições,aquelas
asseguradoras dos
direitos fundamentais,têm
condições.de
emergir e se impor,servindo
de
realparadigma
para asnormas
infraconstitucionais , impossibilitan-do,
com
isso,que
qualquer destas tenhacapacidade
de
atentar contra os direitosconstitucionalmente assegurados. _
A
partirdessas
idéias, fez-seuma
análise acercada evolução do
controlede
constitucionalidadedas
leisno
Brasil, concluindo-seque
a razãoda
preferên- cia pelo controleconcentrado na
Constituição Federalde
1988,sem
repúdiocompleto
ao
controle difuso, intensamenteentranhado no
imaginário juridico na- cional,deveu-se
ao
fatodo
legislador constituinte considerá-Io muito mais favo- rávelao
cidadão
brasileiro, pelasegurança e
agilidadedemonstrada na
proteçãoe
garantiados
direitos fundamentais, especialmenteporque
as decisõesda Su-
prema
Corte,em
apreciando leiem
tese,têm
eficácia ergaomnes
erepercussão
política imediata,
o
que
evita os tropeços, as inseguranças, o autoritarismo e adesconsideração
política.das decisões,geralmente
presentesno
controle difuso,o qual possui
o
defeitode
orareconhecer
oradesconhecer
direitos, tudoporque
as
instânciasde
apreciaçãosão
várias,assim
como
os entendimentos,sem
dei- xarde
destacarque
não
existeno
Brasilo
sistemaamericano do
stare deoisis, atravésdo
qualo
sistema difuso possuiria característicasde
concentrado, pelomenos
nos
efeitos.'
-Iv-Assim, a técnica
do
controleconcentrado
das
leis, valorizadana
ordem
ju~ridica brasileira pós-88,
demonstra
uma
preocupação
do
legislador constituintede
apontarmecanismos
mais
hábeisde
garantiados
direitos fundamentais,'fatoque
traduzuma
filosofiade
controle voltada paraavnecessidade de
se construirimediatamente
uma
democracia
atravésdo
respeito intransigenteaos
direitosconstitucionalmente assegurados, dai a possibilidade
de além do
Presidenteda
República,Mesa
do
Senado
Federal,Mesa
da
Câmara
dos
Deputados,Mesa
de
Assembléia
Legislativa,Governador de
Estado, Procurador-Geralda
Republica,representantes
do
poder
instituído,também
representantesda sociedade
civil,como
o Conselho
Federalda
Ordem
dos
Advogados
do
Brasil, partido políticocom
representaçãono Congresso
Nacionale confederação
sindicalou
entidadede
classede
âmbito nacionalpoderem
provocar oSupremo
Tribunal Federalquando,
em
tese,uma
leiou
ato normativo federalou
estadual afrontarem aConstituição, lesionando direitos
fundamentais
e outros constitucionalmente pre-vistos.
Em
valorizandocomo
valorizouo
controleconcentrado
de
constitucionali~dade
,o
constituintede 1988
possibilitouo
fortalecimentoda
idéiade que
oPo»
der Judiciário
não
é neutro,além
de
terdespertado
em
algunssegmentos
da
so-ciedade
civil a idéiade
que
a
constituiçãoé
uma
norma
enão
apenas
,uma decla~ ração,que
traduz valorese
não apenas
esperanças.ABSTRACT
'This study is
an
incursion into the controliing of the constitutionality of theIaws in the brazilian juridic order after 1988, directed basically to analyse the
philosophy
and
the juridic-politicals repercusion of this controliing.V
Based
on
idea ,that the controliing of the constitutionality of the Iaws only gotmeaning
when
thehuman became
owner
of rights inside the social-politicaluniverse, it arrived at the conclusion this controliing is
a
technique directedtoward to safeguard the individual
human
rights._ _So
when
thehumans became
owners
of rights inside political relation, thatwhich
ithappens between
ruledsand governments,
theyworked
to find the bestmechanism
to protect other rights. '_
-
ln
sone
societies,people
suppose
the diffuse controliing is the instrumentmore
suitable to protect their rights; in others, the concentrated controliing, whithout talkingabout
some
which, like a brazilian, ruledby 1988
Constitution,adopt
thosetwo
kinds of controliing.1
_The diffuse controliing consists of the possibility of
any
judge or Court deciding about the constitucionality of the Iawsand
the concentrated controliing consist of the fact of onlya
Court havingpower
tomake
this controliing,becouse
in this last the supposition of the Iaws validad is
an
important idea, thatmeans
juridic safety
and
way
to assure the separation of power, biggerguarantee
of respecting the individualhuman
rights.Those
two principal controlling of the constitutionality of the laws techniques onlymade
some
meaning
inside democratic behaviours or, at least,inside behaviours
which
it desires tobe
actuallity democratics,becouse
only inthose, the true constitution,
assurance
of the individualhuman
rights,has
conditions of being
obeyed and
taking as aparadigm
for the inferior norms.Based
on
this ideas, the rersearchdoes
an
analyse about the controlling ofthe constitutionality of the laws evolution in Brasil, arriving at conclusion that the
motive the concentrated controlling being elected in the
1988
Constitution, without itmeans
a full aversionby
the difuse controlling,happened
because
theconstituent rulerfind it
more
satisfatory to brazilian citizen, by the securityand
quickly
showed
to protectand
assure the individualhuman
rights, speciallybecause
theSupreme
Court's decisionsabout
constitutionality of law in thesishave
efficacy against alland
immediate
political repercution, lettingdowns,
insecurities, autoritarism
and
absensed
of political consideration about the decisions, effects usually presents in the diffuse controlling,which
ithas
the faultof in
a
moment
recognizingand
in other ignoring rights, everything for thereason
that the apreciatio's instances
and
the thoughts arenumerous and
besides thereisn't in Brazil the
american
sistem of stare decisis, through whith the diffusedcontrolling
had
elementsof
the concentrated controlling, at least, in effects. -So
the controlling of the constittutionality of the laws tecniques, elected important in brazilian juridic order after 1988,shows
a worry of the constituint ru-ler of pointing out
mechanism
abler toassurance
the individualhuman
rights, factit
means
a philosophy of the controlling to theimmediate
of building ademocracy
though
the respect to rightsassured
in the_Constitution. lt's thereason
many
people, institutedpower
representativasand
civil societyrepresentativas,
can provoke
Supreme
Courtwhen,
in thesis,_a law or a federal orstate-members
normative act attacked 'the Constitution, offending individualhuman
rightsand
other kind of rights assure in the Constitution.Giving 'great importance to the concentrated controlling' of the constitutionality of the Iaws, the constituent ruler corroborated the idea «that the Judiciary
Power
insn't neutraland
besides itwoke
up
insome
parts of civilsociety the
view
about the constitution is anorm and
only isn't a statement,which
it
means
valuesand
only isn't hopes.suMÁR|o
|N'rRoouçÃo
... ..001
I
A
EVOLUÇÃO DO CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE
DAS
LEIS
1.1A
idéiado
controlede
constitucionalidade dasleis ... ..004
1.2 controle
de
constitucionalidadedas
leisno
Ocidente ... ._010
1.2.1O
controlede
constitucionalidade inglês ... ..025
1.2.2
O
controlede
constitucionalidade francês ... ..030
1.2.3
O
controlede
constitucionalidadeamericano
... ..036
1.3
O
controle deconstitucionalidadedas
leisno
Brasil ... ._042
1.3.1O
controlede
constitucionalidadena
Constituiçãode
1824
... ..050
1.3.2
O
controlede
constitucionalidadena
Constituiçãode
1891 ... ..055
A 1.3.3
O
controlede
constitucionalidadena
Constituiçãode
1934
... ..059
1.3.4
O
controlede
constitucionalidadena
Constituiçãode 1937
... ..064
1.3.5
O
controlede
constitucionalidadena
Constituiçãode
1946
... ..066
1.3.6
O
controlede
constitucionalidadee a
Emenda
n° 16/65 ... ._069
1.3.7O
controlede
constitucionalidadee
a Constituiçãode
1967/69
... .. 071II
ORDEM
JURÍDICA
E
CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE
DAS
LElS
NO
BRAsi|.
Pós-se
2.1A
idéiapredominante
de
ordem
juridicana
contemporaneidade
... ..075
2.2
A
ordem
jurídica brasileira pós-88... ... ..079
2.3
O
controlede
constitucionalidadedas
leisna
Constituiçãode 1988
... ..083
2.3.1
A
fiscalização incidentalde
constitucionalidade ... ..090
2.3.2
A
ação
diretade
inconstitucionalidade ... ... ..092
- 2.3.3
A
ação
diretade
inconstitucionalidadepor omissão
... ..095
2.3.4
Aaçäointerventiva
... _; ... ... ..096
2.3.5
A
ação
para
argüiçãode descumprimento de
preceito decorrenteda
Constituição Federal ... ... ..099
2.3.6
O
mandado
de
injunção ... __ A1002.3.7
A
ação
declaratóriade
constitucionalidade ... __ 1012.4
A
valorizaçãodo
'icontroleconcentrado de
constitucionalidadedas
leis na .const¡wiçâode19ee._§
... ... __; ... ._ __ -102Ill
A
FILOSOFIA
DO CONTROLE CONCENTRADO
DE
CONSTITUCICIN/\l..lIVWE
DAS
LEIS
NA
ORDEM
JURÍDICA
BRASILEIRA
PÓS-88
3.1
A
função
do
constitucionalismo ... __ 1053.2
A
função
do
controlede
constitucionalidadedas
leis ... _ _ __ '1
O8
3.3
A
democracia,o
Poder
Judiciárioe o
controlede
constitucionalidadedas
leis110
3.4
A
filosofiado
controleconcentrado
de
constitucionalidadedas
leis ... ... _. 1 153.5
A
filosofiado
controleconcentrado
de
constitucionalidadedas
leis'na
or-A
dem
jurídica brasileirapós-88
... __ ... ._`
117
iv
As
D|MENsõEs
JuRiD|co-Po|_lT|cAs
oo
coNTRoLE_
coNcENTRAoo
DE
CONSTITUCIONALIDADE
DAS
LEIS
NA
ORDEM
JURÍDICA
_BR/«\Sl~LEIR/¢\Pos-as
_ç
_
4.1
A
necessidade
do
controleconcentrado
de
constitucionalidadedas
leisna
ordem
juridica brasileirapós-88
... ... _.120
4.2
As
dimensões
juridico-políticasdo
controleconcentrado
de
constitucionali«dade
das
leisna
ordem
juridica brasileirapós-88
... __122
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... .. 'l2~f-1REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... ._ “l29
|I~iTRooucÃo'
-Analisar
a
filosofiae as
dimensões
jurídico-politicasdo
controle concentra-do de
constitucionalidadedas
leisna
ordem
juridica brasileirapós-88
é o objetivodeste trabalho. ,
Para
tornar possivelessa
tarefa, foi necessário percorrerum
longo cami-nho,
desde
as
primeiras formulações acercada
idéiade
controlede
constitucio- nalidade,-passando-se
pelassuas
diversas manifestaçõesno
Ocidente, atésuas
expressões no
Brasil, tudo para mostrar oporquê de
o constituinte brasileirode
1988
terdado
maior importânciaao
controleconcentrado
que
aodifuso,de
longatradição- constitucional
no
pais. _. ›
Feito todo
esse
percurso,desenvolveu-se a
idéiade
que
a funçãodo
cons-titucionalismo é resguardar
os
direitos fundamentais,competindo ao
controlede
constitucionalidade dar-lhesum
reforço ainda maior,na medida
em
que
traduzuma
técnica inviabilizadorada desconsideração dos
valores essenciais sobre os quaiso
constitucionalismose
assenta.Em
termos
teóricos,o
percursoassim
pode
ser sintetizado: _Quando
da formulação da Declaração de
Direitos,na França
revolucioná-ria, os
homens
aindanão
possuíam
aconcepção
jurídicado problema das
garan-tias
dos
direitos,porquanto
tinhamuma
fé absolutana
sabedoriada vontade
ge-ral, acreditando
que
toda manifestaçãoda
soberania popular serianão
somente
-Assim,
confiando
que apenas
atravésda
idéiada separação dos
poderes,dos
princípiosda
legalidade e.da soberania popular garantiriam a simesmos
osdireitos
fundamentais
contra a arbitrariedadedo
poder,deixaram
o Legislativo,expressão
da vontade
popular, livre para agir inclusive .contra os principios infor-madores
do novo
estágio histórico. 'Com
isso,resguardando-se os
homens
contraa
arbitrariedadedo
Executi- vo, ficaram sujeitos a arbitrariedadedo
Legislativo.Um
simplesesquecimento do
caráter
demoniaco do
poder. .'
Para
resgatar a idéiade
limitedo
poder, a partirda
qual amodernidade
seconstituiu, tendo
como
referência aideclaraçäode
direitoshumanos. nasceu
ocontrole
de
constitucionalidade,uma
garantiacomplementar aos
direitos funda-mentais.
O
controlede
constitucionalidade,dependendodas
especificidadesde
cada
sociedade,tem
uma
forma de
manifestação.Em
algumas sociedades
seexterioriza através
da forma
difusa, pelo qual qualquer juizou
tribunalpode
efetu- aro
referido controle.Em
outras, se manifesta pela forma concentrada,em
que
somente
um
tribunal está capacitado para fazê-lo; outras aindaadotam
asduas
sistemáticas, oradando
primazia auma,
oradando
preferência a outra. _A
Constituição brasileirade
1988
adotou
asduas
sistemáticas,dando
mai-or ënfase
ao
controle concentrado.E deu
maior ênfaseao
controle concentrado,porque
a filosofiaque
o cercaaponta
para as idéiasde separação dos
poderes,segurança
jurídica, celeridade,apego
a necessidade'de
se construir imediata-mente
uma
sociedade
garantidorados
direitoshumanos
fundamentais.Diante
dessa
intenção, asrepercussões
juridico-políticasdo mencionado
controle sópodem
repousarna necessidade do
imediatoengajamento do
Poder
Judiciário
no processo
de
construçãode
uma
sociedade
democrática ede
bem-
estar social,uma
vez
que
as decisõesda mais
alta Corte,que
exerce a funçaode
Tribunal Constitucional,devem
estar voltadas para a realizaçãoimediatado
pro- jeto primeirodo
constitucionalismo, qual seja, assegurar imediatamente Q decla-rado, os direitos fundamentais.
Por
outro lado,o
controleconcentrado adotado na
ordem
juridica brasileirapós-88 apontou
para anecessidade
de
engajamento da sociedade
civilem
tornoda
idéiade
que
a constituição éuma
norma
e
não
uma
promessa.
fa 5
I
A
EVOLUÇÃO
DO CONTROLE
DE
CONSTITUCIONALIDADE
DAS
LEIS
1. 1
A
Idéiado
Controle
de
Constitucionalidade
das
LeisA
vidanão
se deixasubsumir
nem
em
conceitosnem
em
normas
de
car_zátergeral e validez universal, isto
porque
não
existe urna razão idêntica e válida para todos oshomens.
Tudo
está relativizadoem
virtudedo
tempo,da
estrutura sociale
da
situação vital'.Tendo
em
vista a inexistênciade
uma
formade
convivência social tiletsrmi-nada, absoluta e imutável, presente
em
todas as organizaçõeshumanas,
capaz
de
ser absorvida porum
conjuntode
normas
de
caráter.geral .e validez universal,nao
sepode
falarem um
modo
comum
e unitáriode
convivência social e. muitomenos, na
possibilidadede
controle absolutoda
vida.Os
próprios fatoscompro-
vam
essa
tese,fazendo
com
que desapareçam
alguns pressupostosfundamen~
tais necessários à construção
do
conceitode
lei2.A
idéiade
leina sociedade
humana
não
é algo natural,mas
construído.Os
homens,
como
jádestacou
CAPPELLETTI,
possuem,
em
todos ostempos
e luga- res, a ânsiade
criar e descobriruma
'hierarquiade
leis”, e_de
garanti-Ia.com
a'
3
intenção
de
sairdo
contigente,de
querer fazer parar otempo
.GARCIA-PELAYO
também
fezobservação
semelhante,quando
acentuou
que
sempre
existiuno
es-' GARCIA-PELAYO,
Manuel. Derecho constitucional comparado. 3“ed. Madri: Mnnuziles dc la Revista de
Occidente, 1953. p. 72. .
2
Id. Ibid.
_
3
CAPPELLETTI, Mauro.
O
controle judicial de constitucionalidade das leis no direito cortiig;i_rrid_g. Tm-dução de Aroldo Plinio Gonçalves. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor. 1.984. p. l I.
pírito
do
homem
uma
tendência para a estabilização.Essa
idéiade
estabilida-de
esteve presente,segundo
GARCIA-PELAYO,
inclusivenaqueles pensadores
que
se caracterizaram poruma
concepção
dinâmicado
homem
e da sociedade.PLATAO,
por exemplo, depoisde
uma
aguda
análise__zdos fatoresdo
curso histÓ~rico, quis detè-Io
num
arquétipode
polis;HEGEL
imaginouque
o processo dialeti-co
histórico estariaacabado
na monarquia
prussiana;MARX
pensou na
socieda-de
sem
classescomo
última etapada
HistÓria'*. ›_
Todos
esses pensadores imaginaram
que,em
sealcançando
aquiloque
elesconsideravam
a perfeiçãoda
organizaçãohumana,
asociedade
deveria pa~ralisar-se,
sob
pena
de
degenerar-senuma
forma
de
organização inferior.Apesar dessa
ânsia pela estabilização, pela segurança, pela imutabilidade,a vida
parece
sempre
apontar para outro destino, oda
insegurança, mu.tabilidadee instabilidade, enfim
o
da
transformação, istoporque
a vida éum
processo dina- mico,que
impõe aos homens,
a partirda
próprianecessidade desses de
superarlimitações
e
carências,novas formas de
convivência social.Essa
constataçãoleva a crer
que
ohomem
não
possuiuma
natureza,mas
historicidade e socializa- ção, poisseu
horizonte,suas reações
ante omundo
exterior,sua
faculdadede
compreensão
e osseus
valoressão
diferentessegundo
aépoca
ou
a situação sociale
vitais.Sendo
assim,cada
sociedade,em
determinado
momento
historico, elege aqueles valores sociaisque
consideramais
importantes para apreservação
da comunidade
e para amanutenção
das
relaçõesde poder
dominantes.Esses
valores
alimentam
erevestem
o
poder, dando-lhe legitimidade.Esses
valoressão
“ GARCIA-PELAYO.
op. cn., p. 129.
5
1‹1.Ibid., p. 72.
as forças centrípetas
que
garantem
a própriacoesão
social,que não
é absoluta.pois
caso
contrário, associedades
seriam imutáveisõ.H
Já
que
não
sepode
falarna
existênciade
leis absolutasque
governam
to-das
associedades
humanas,
pode-se
falarem
regrasque predominam
e-são
obedecidas
em
comunidades
específicas.Quando
essas
normas
são legítimas.isto é,
obedecidas
sem
tergiversação porgovernantes
e governados, constrói-seuma
sociedade
sólida e promissora,porque
como
ensinouLLOYD,
a
lei éuma
das grandes
forças civilizadoras na sociedadehumana,
pois odesenvolvimento da
civilização esteve geral-mente
vinculadoao
gradualdesenvolvimento de
um
sistema-
de normas
legais,.em
conjuntocom
mecanismos
parasua
obsen/ância regular
e
efetiva Í ~Em
razãode os
homens
sempre
perseguirem
asegurança
e a estabilidade,todas as
sociedades
humanas
apresentaram
eapresentam
discussõesem
tornoda
idéiade
leie
de
quaismecanismos
devem
ser utilizados parasua manutençao.
As
leishumanas,
diferentementedas
leis naturais, precisamde
garantias, pois,como
disseMONTESQUIEU,
mesmo
ohomem
tendo' sido feito para viverem
so-ciedade,
pode
esquecer
que
também
existemos
outrosg. E,como
se sabe,um
esquecimento dessa
natureza éextremamente
prejudicial para amanutençao do
equilíbrio social.
`
É
importante atentar-se para o fatode
que
no
decorrerda
história ocidental6
LYRA
FILHO, Roberto.
O
gue é direito. 11° ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 95.7 LLOYD,
Dennis.
A
idéia de lei. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes. l9S5. p. l.\'..8
MONTESQUIEU,
Charles Louis de Secondat.O
espírito das leis. Tradução de .Fernando Henrique C iirdo-so e Leôncio Mafljns Rodrigues. 2” ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1995. p. 4.
as
sociedades
seorganizaram de
diferentes formas.Na
Grécia antiga,na Atenas
de
ARISTÓTELES
especialmente, prevaleceuuma
noção
muito peculiarde
orga-nização social.
AGOSTINHO
RAMALHO,
nas suas
concorridas aulasde
Filosofiado
Direito,no Curso
de Graduação
em
Direitoda
Universidade Federaldo Mara-
_
' _
nhão., 'referindo-se a Política
de
ARISTOTELES,
costumava
acentuarque
estepensador
extraordinárioda
antigüidade formulou asbases
para acompreensão
da
cidade antiga a partirda
seguinte colocação:a
polis (cidade) foi o primeiro serque
a
natureza concebeu,-mas
o
últimoque
ela criou.Dessa
passagem,
extrai-seque
em
Atenas
e,em
geral,em
toda antigüidade, o todo era mais importanteque
as
partes, asociedade
eramais
importanteque
os indivíduos.Se
a po/is foi o pri-meiro ser
que
a naturezaconcebeu
(anterioridade lógica) e o últimoque
ela criou,é
sinalde
que
tudoo
que
foi criado anteriormente, foi criado para a perfeiçãoda
po/is.
Dessa
forma,o
homem
não
eranada
mais além do
que
um
ser, que, pornatureza, existia para
que
a polis fosse oque
era,um
ser perfeitog.Nesse mundo,
ohomem
não
tinha acapacidade de
transformar,nem
de
criar, só ade apreender
o
que
existiano
universo. DaíFUSTEL
DE
COULANGES
ter ditoque
o antigodireito
não é
obrado
legislador;o
direito, pelo contrário,impôs-se ao
legislador”.CAPPELLETTI
também
fezuma
observação
importantequanto
aessa
impotênciado
homem
antigode
mudar
asua
realidade,quando,
contradizendoGRANT'
', uti-lizando-se para tanto
do
pensamento
de
ENRICO
PAOLI,
afirmouque
anoção
de
controlede
constitucionalidadedas
leistambém
esteve presente na antiguidade,9
MARQUES
NETO, AgostinhoRamalho. Anotações das aulas de Filosofia do Direito proferidas no Curso de Graduação em Direito na
UFMA, em
1991. _1°
COULANGES,
Fustel.
A
cidade antiga: estudo sobre 0 culto, o direito, as instituições de Grécia e deRoma. Tradução de Jonas Camargo Leite e Eduardo Fonseca. 12'" ed. São Paulo: Hcmus. 1995. p. 68.
" Para
GRANT,
o controle de constitucionalidade das leis foi uma contribuição da América para a C iênciziPolítica
(GRANT
apud CAPPELLETTI, Mauro. Op. cit., p.46).`
na
medida
em
que, parao
gregos, osnómoi
(leis)eram
qualquer coisade
fixo.E
as
decisõesdos
homens
não
poderiam, atravésde sua
ec/esía (assembléia), alte-rar as disposições
dos
nómoi,que eram
as leisdadas
pela natureza, portanto fi-xas
e imutáveis.Os
gregos
inclusivepuniam
quem
tentasse.mudar
o curso naturaldas
coisas”. .É
tão certoque
a sociedade grega
antiga erauma
sociedade
organicista.que
paraBOBBIO
éaquela
onde
o todo émais
importanteque
as partes”, .queLOEWENSTEIN
observou
que
o constitucionalismoda
antiguidade funcionousem
aseparação de funções
e, freqüentemente,em
conflitocom
o dito princípio.O
mesmo
sepassou na
Roma
antiga”.O
só aspectode sociedade
organicista ex- plica o totaldesprezo
pela parte, pelo indivíduo,que
nelanao
possuia direitosem
relação
ao
todo, jáque
tudo oque
possuíanesse
tiposociedade
erauma
dádivada
natureza parao
bem
do
todo enão
das
partes.Essas sociedades
eram com-
pletamente indiferentes,
como
bem
anotou
LOEWENSTElN'5,
à idéiade
liberdadeindividual.
Nem
a po/isgrega
nem
a Repúblicaromana
reconheceram
direitosdos
indivíduoscomo
invioláveis pelopoder
estatal. DaíBENJAMIN
CONSTANT
ter concluídoque
ocidadão
da
antigüidade clássica» podia ser privado desua
posi- ção,despojado
de
suas
honrarias, banido,condenado,
pelavontade
arbitráriado
todoao
qual pertencia”.Acentuou
ainda estemesmo
autorque
a desconsidera-ção ao
indivíduona
antigüidade subsistiaporque
a liberdadedos
antigos consis-'~2cAPPELLET'r1,Mzum. op. cn., p. 48-si. . .
'3
BOBBIO, Noberto.
A
era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Cam-pus,1992. p. 59. -
'14
LOEWENSTEIN,
Karl. Teoria de la constitución. Traducción espanhola de Alfredo Gallego Anabitarte.
2“ ed e 4” reimpresión. Barcelona: Ariel, 1986. p. 56.
'5
ra. Ibiá.
16 . . . . -
. . ¬
CONSTANT,
Benjarmn. Da liberdade dos antigos comparada à dos modemos. ln: Revista de Filosolin Política, n° 02. Porto Alegre,L&PM,
1985. p. ll. _tia
em
participarda
vida públicada
po/is”. Participarda
vida públicana
antigui-dade
constituía-senuma
verdadeira obrigaçãodo
homem
livre,ou
seja,daquele
que não
necessitava trabalhar para sobreviver.Nessa
situaçao, por natureza.estava impelido para a vida pública.
Não
se dispor à' atividade política, tendo to-das as condições
para exercè-la, era atentar contrasua
própria natureza. Por- tanto, oque
estavaem
jogona
participaçãodo
homem
-livrena
vida políticada
polis
não
era,em
hipótese alguma,o
exercíciode
uma
liberdade individual.mas
a própria perfeiçãoda
po/is,que
se dava
atravésda ação dos
homens
livresna
ágora
(praça pública).A
construçãode
uma
nova
realidade social dentroda
qual a idéiade
con- trolede
constitucionalidadedas
leisassumisse
asua
feiçãomoderna demorou
aemergir e consolidar-se, até
mesmo
porque
a idéiade
controlede
constitucionali-dade
das
leis, tal qual seentende
hoje, está ligada a existênciade
uma
constitui-ção
escrita, cujo objetivoé
a cristalizaçãode
certos direitosfundamentais da
pes-soa
humana.
Acontece
que
a idéiade
homem
enquanto
serde
direitos tardou aaparecer na
história,sendo
necessário o percursode
um
longocaminho
até a construçãoda
idéiasegundo
a qual ohomem
éum
serde
direitos. ''
Com
asuperação
do modelo
de sociedade
organicista, construiu-seum
outro,onde não
mais
o todo,mas
sim -a partespassaram
a sermais
importantes.Os
indivíduos (partes)passaram
a ser os entes privilegiadosda
relação politica,vez
que passaram
a possuir direitosem
relaçãoao
todo (sociedade, Estado, so- berano).“ id.1bid.,p.t1.
1.2
O
Controle
de
Constitucionalidade
das
Leisno
Ocidente
Os
antigos jápossuíam
anoção de
constituiçãocomo
leifundamental do
Estado. Muito
embora
possuíssem essa
noção,não
conseguiram
desenvolveruma
teoria juridica acercada
lei fundamental'8.`Enão
conseguiram
desenvolveruma
teoria juridica,porque
viviamnum mundo
onde
o todo era mais importanteque
as
partes,onde
a sociedade ou
osoberano ou
oEstado
era mais importanteque
os
indivíduos.Em
razão disso,uma
teoria jurídicaem
tornoda
leifundamen-
tal
do
Estado só
se tornou possivel a partirdo
momento
em
que
ocorreuuma
rnu~dança
radicalno
que
concerne
ao
titulardo poder
político, oque
sóaconteceu de
fato
com
aRevolução
francesa.A
Revolução
francesacolocouo
homem
no
centrode
todas asatenções
e,para protege-Io, necessitou valorar certos principios que, a partir
daquele
mo-
mento,foram considerados
inafastáveis.Que
principios inafastáveis afinaleram
estes?Os
que
estavam
voltados para garantir o respeito àpessoa
humana,
ou
seja, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade. Portanto,
uma
teoria juridicaem
tornoda
leifundamental
estáassociada
anecessidade
de
limitar opoder
para garantiro
respeito àpessoa
humana. E
ébom
que
fique registrado,desde
já,que
os antigos, até o renascimento, limitavam o poder,mas
tendoem
vista a
coesão
da sociedade
enão
o respeitoao
homem
enquanto
serde
direitos-
o cidadão
-, vistoque
este aindanão
tinha existência histórica, pelomenos
não
no
sentidomoderno
do
termo.Ademais, o
controlede
constitucionalidadena
'*
ENCICLOPÉDIA
MIRADOR
INTERNACIONAL.sâø Pzu1‹›zEn¢y¢I<›pzz‹zóâz Brâtmzztral ao Brasi: Publi-
cações Ltda, 1980. p. 2780. _
'
antigüidade, se
assim
é
possível chamá-Io,repousava
sobre critérios morais, mís- ticos, religiosos, enão
sobre critérios racionais, exteriorizados atravésde
uma
or-dem
jurídica administrada porum
corpo específicode
funcionários: os burocratas. Aliás,como
muitobem
anotou
HELLER,
uma
constituição juridica unitáriaem um
território só foi possivel
na Europa
a partirdo
momento
em
que
uma
organização
estatal administrada por funcionários adquiriu vida própria, fato
que
permitiu a se-19
gurança
e impérioda ordem
jurídica real e unitáriacomo
estrutura de sentido .Quanto
aesse
mesmo
fenômeno,
MAX
WEBER
registrouque
oque
caracteriza o direitodas sociedades
capitalistas e o distinguedo
direitodas sociedades
anteri-ores é o fato
de
ele se constituirnum
monopólio
estatal administrado por funcio- nários especializadossegundo
critériosdotados de
racionalidade formal, assenteem
normas
gerais e abstratas aplicadas acasos
concretos, por via deprocessos
lógicos controláveis,uma
administraçãoem
tudo integrávelno
tipo ideal 'deburoêcracia por ele elaborada”. T
A '
Apesar de
sustentadoapenas
em
critérios morais, místicos, religiosos, a idéiade
controlede
constitucionalidadedas
leis se fez presentena
antigüidade,porém
com
o objetivode
garantir asociedade
enão
o indivíduo, dai ter razãoLOEWENSTEIN
quando
disseque
o núcleodo
constitucionalismo tanto antigoquanto
moderno
repousa na
limitaçãodo
poder
de seus
detentores, jáque
/imitaro
poder
políticoquer
dizer limitaros
detentoresdo
poder
21, istocom
o objetivo,primeiro,
de
proteger a sociedade, depois, jána modernidade,
o individuo, maior'9 HELLER,
Hermann. Teoria do Estado. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Editora lvlestre
Jou, 1968. p. 310.
2°
WEBER,
Max. Economiae Sociedade: fundamentos da sociologia coinprcensiva. Tradução de Johannes -
Winckelmann. 3” ed. Brasília: Ed. UnB, 1994. p. 21
&
SANTOS, Boaventura de Sousa. 2<_:1a mão de_@iç_e_: o social e o politico na pós-modemidade. 4” ed. Pono: Afrontamento, 1995. p. 143.
2*
LoEvvENsTErN,1<zz1. op. cn., p.29.
objeto
de
preocupação
do
novo
oonstitucionalismo. ,Assim,
como
já se disse, ocaminho
percorrido paraque
sechegasse
a no-ção
do
homem
enquanto
serde
direitos foiextremamente
longo,uma
vez
que, por muitotempo
na
históriada
civilização ocidental, prevaleceu a idéiasegundo
aqual
o
'todo (sociedade,soberano ou
Estado) émais
importanteque
as partes: osindividuos.
Se
na
polísgrega
asociedade
eramais
importanteque
os cidadãos.que deviam sempre
agir parao
bem
da
polís, na- IdadeMédia
a situaçãonão
seinverteu,
apenas
deslocou o
pontode
referênciado
controledas
leis,que
antesse encontrava
na
po/is (entemais
perfeitoda
natureza), para a figura divina.Des-
se
momento
em
diante ohomem
passou
a tercomo
referência para suasações
avontade
de
Deus,que
jamais deveria ser contrariada,sob
pena
de
ohomem
per- vertera sua
natureza divina, postoque nada
mais
erado
que
aimagem
eseme-
lhançade
Deus.Mesmo
os soberanos
deviam
pautarsuas ações de acordo
com. avontade
divina, revelada pelas Escrituras, interpretadas pelos doutoresda
lei(os sacerdotes católicos),
que
em
razãodessa
tarefa, adquiriram notável -hege-monia
dentrodo
contexto social e polítíco medieval. Portanto,na
idade Média, os pressupostosde
limitaçãodo
poder
eram
transcendentes, teológicos, jáque
pre-valecia o direito natural
de
origem divina,o
qualassegurava
direitos naturais eirrenunciáveis,
que
limitavam o legislador,mas
tal fato tinhaem
vista garantir a soberaniada vontade
divina,que
ditava valores _aserem
acatados
para obem
da
sociedade
enão do
indivíduo.Prevalecendo
na
IdadeMédia
o direito naturalde
origem divina, haviauma
perfeita distinção,como
observou_CAPPELLETTl,
entreduas ordens de
normas: ados
jus natura/e,norma
superior e inderrogável, e ado
jus positum, obrigada anão estarem
contrastecom
a primeira”.Dessa
forma, a leihumana
deviasempre
se adaptar a lei divina por ser esta o
seu
paradigma. Assim, tinha razaoSAO
TOMÁS
DE
AQUINO
quando
ensinouque
embora
derivasseda
lei natural,de
ori-gem
divina, portanto imutável, a leihumana,
apesar dessaorigem,
podia sermu-
dada, alterada, trocada.
E
isso para se aproximarcada vez mais
da
lei divina.Mas
a possibilidade
de
modificaçãoda
leihumana
não
equivalia a perverter a lei divi-na,
que
era asua
referência. Estegrande pensador
religioso medieval disse tam-bém,
com
acerto,que
seriam dois.os
motivoscapazes de
levar aessa
troca:um
seria
o aperfeiçoamento
da
razãoque avança
gradualmente do
imperfeitoao
perfeito, pelo qual se
pode
descobrir preceitosnovos
que
sejam mais
adequados
a vidado
homem em
sociedade; 0 outro motivoque
levava ànecessidade de
tro-ca
da
leihumana
era acondição dos homens,
jáque
os atos destes constituemmatéria objeto
de
regulação etêm
lugarem
uma
dada
situação; variando esta, seria necessário modificar a regulaçãodos
atoshumanos”.
E, aindasegundo
estemesmo
pensador, seria justa a trocadas
leishumanas
quando,
modificando-as,
se
contribuísse parao
bem
comum.
Porém
amera
trocade
uma
lei seriaem
simesma
um
prejuizo para obem
comum,
pois ocostume
ajuda, e muito,no
cum-
primento
das
leis, até o pontoem
que
se considere graves todas as coisas esta-belecidas contra os
costumes”.
Com
isso, observa-seque
asociedade
medievaltambém
possuíaum
critériode
controledo
poder
politico,mas sem
as caracterís-ticas da-
concepção
moderna,
que
estão voltadas para garantir direitos individuais,”cAP1›ELLETT1, Mauro. op. cu., p.s2. -
23
ToMAs
DE
AQUINO, santo apud REPETTO, Raúl Benetâzn. control de ¢‹›nsmu¢i<›nziiózló de izz ley.
Santiago de Chile: Editorial Juridica de Chile, 1969. p.45
24
la. rbiâ., p.41 _
direitos
dos
cidadãos,que
inclusivedispõem
de
instrumentos públicoscapazes,
dentrode
certos limites,de
garantiro
respeito aesses
direitos.Apesar da
existênciadessas
duas ordens de
normas
dentrodo
contextomedieval,
pode-se
afirmar facilmenteque
asnormas
justas,aquelas
atinentes àvontade
de
Deus,nem
sempre eram
respeitadas, istoporque
não
existianenhum
instrumentocapaz
de
torná-las eficazes frente àvontade
do
poder
efetivo, rei"-nante, exercitado. Havia,
na
realidade,uma
aspiração moralde
veressas
normas
respeitadas,
mas
não
instrumentos jurídicosdo
direito positivadonessa sociedade
capazes
de
fazerdessas
normas
as regras efetivasde
convivência social. DaiCAPPELLETTI
ter ditoque
a distinção entreum
direito natural eum
direito positi-vo
se destinava a atuarnum
planopuramente
filosófico e teológico, abstraidosdos
concretosacontecimentos
quotidianosda
vida, antesque
num
planode
con-creção
juridica”.Não
obstantea
tradição ocidentalde
critériosde
limitaçãodo
poder, aindaque
esses
critériosfossem
insuficientes para garantir,na
prática, asua
limitação, atémesmo
porque, antesda
construçãodo moderno
constitucionalismo,não
existiam instrumentosadequados
e positivadosde
limitaçãodo
poder, o certo éque,
com
asuperação
do
periodo medievale
aconsequente
construçãodos
Es- tados nacionais,desenvolveu-se
uma
teoriade
ilimitaçãodo
poder”. Aliás, o pró-prio
processo de
construçãodos Estados
nacionais necessitavade
um
poder
ili-mitado para
que
essa nova
realidade social e política se impusesse.Para
a des-truição
do
mundo
medieval, todo fragmentado, foi necessárioque
se concentras-se
nas
mãos
de
um
únicosenhor
uma
extraordináriasoma
de poderes
paraque
25 CAPPELLETTI,
Mauro. op. zii., p.53.
26 Essa
é a doutrina hobbesiana.
ele realizasse a
missão
de
construiruma
unidade
governativa a fimde
evitar aasfixia
do
comércio, então insurgente.Em
outros termos, ossenhores dos
Esta-dos
nacionais tiveram legitimadoseu poder
ilimitado,porque
ogrande
objetivoda
mentalidadehegemõnica
naquele
contexto histórico. era construirum
ambiente
unifi.cado para todoum
povo, oque
facilitaria odesenvolvimento
das
novas' rela-ções
econômicas que
se colocavam. Daí o surgimentodos
reis absolutos.Com
os
reis absolutos, a lei,que
paraSÃO
TOMÁS
DE
AQUINO
não
eraqualquer
ordem do
governo,passou
a seruma
decisãodo
soberano, oque
esteprescrevesse
deveria serobedecido
e tido por justo.Com
isso, se eliminouda
leihumana
toda exigênciade
subordinação e
adequação
à lei divina.Mais
ainda: osgovernantes
em
suas
decisõesnão estavam mais
obrigados a respeitar os costu-mes
imperantesna
sociedade.As
suas
decisões (leis) tornaram-se superioresaos
costumes,podendo,
inclusive, ab-rogá-los e modificá-los”. .Assim
é que,em
virtudeda
construçãode
uma
nova
realidade política,econômica,
social e cultural, atravésda
consolidaçãodos Estados
nacionaise
conseqüente superação
do
sistema feudal,foram
caindouma
auma
as limitaçõesque
continham
a atividade legislativa.Com
o absolutismo, aordem
jurídica positi-va
passou
a tercomo
referência avontade
arbitráriado
soberano,ou
seja, a pró-pria fonte
da
ordem
(desordem)
jurídica positiva.Vontade
arbitrária,porque
não
devia satisfação aninguém,
nem
a valores.Destaca-se
aindaque
esse ambiente
foi construído
não somente
pela consolidaçãodos Estados
nacionais,mas
tam-bém
peloRenascimento,
que
desprestigiou os costumes, fortalecendo,com
isso, a irreligiosidade; pelacompreensão
do
direitoapenas
como
vontade
do
soberano,21
ToMAs
DE
AQUtNo, santo apud REPETTO, Raúl Beneiâen. op. cn., p.49.
o
que
fezcom
que
as leis divinas, naturais efundamentais do Estado não
servis-sem
mais
como
barreirasao
poder
legislativodo
rei.Perdeu assim
a leihumana
ocaráter
de
invenção social voltada para obem
comum.
Foi omomento,
então,em
que
se fez presentea necessidade
deum
controle.,çle constitucionalidadedas
leis”. ~t
Estando nesse
momento
o poder
político forade
controle, perdidona sua
própria naturezade
ilimitação, insurgirammovimentos
voltados parasua
limita-ção,
porquanto
asconseqüèncias do
seu
uso desenfreado
começavam
a se evi-denciar
mais
abertamente, prejudicandonão
só as classesdesde sempre
oprimi- das,mas
também
uma
nova
classe, que,com
odesenvolvimento
do
capitalismocomercial dentro
dos Estados
nacionais, se tornou amais
ricada
Europa: a bur-guesia.
Estando agora
prejudicada poruma
ordem que
ela própria haviaajudado
a construir, à burguesia só restou aliar-seaos
outros prejudicados pelaordem do
poder
ilimitado para colocar abaixoessa
ordem
política, substituindo-a poruma
outra,
não
mais
gerida porum
segmento
estranhoao
seu
corpo,mas
sim por ela própria.Nasceu
então a idéiade
uma
constituição escritacomo
instrumento ade-quado
para reger a sociedade.`
A
constituição escritacomo
documento
único surgiuassim
como
o instru-mento
jurídico-políticoadequado
para garantir os princípios e direitosque
deveri-am
reger anova
sociedade,que
foisendo
construidasob
a direçaode
uma
nova
classe social: a burguesia.
Dessa
forma, a constituição escrita revelou-seno
úni-co
instrumento jurídico-políticocapaz de
garantir acondução
da sociedade
a par-tir
dos
princípios enormas
reivindicados, devido asua capacidade de
torna-los2* REPETTo,Rzú1Beneisen.
op. cn., p.5o.
perenes na
memória do
povo,que
os deveriam obedecer
a fimde
que se pudes-
se construirum
mundo
novo,fundado na
liberdade enaigualdade.
No
entanto,essa nova
sociedade,que
se deveria fundarna
liberdade ena
igualdade,não
surgiudo
nada, surgiu isto simcomo
resposta aum
passado
já esgotado,mas
não
só
isso.Segundo
AYALA,
o `
-_
Estado
liberal-burguêsaparece
na
históriaassumindo
o
duplopapel
de
herdeiroe
adversárioda
monarquia
ab-soluta.
É
adversário,porquanto
que
comporta, frente a ela, eventualmente,o
princípio político oposto: ademo-
cracia;
porém,
ao
mesmo
tempo, herdeiro,porque se
.
propõe
estabelecer ademocracia
dentrodo
âmbitodo
Estado
nacional,que
amonarquia
absoluta havia for-mado.
Neste' sentidotem-se
podidoaflrmar
com
plena razãoque
o Estado
constitucionaldesenvolve as
dire-ções
marcadas no
período absolutista”.E
desenvolveu
as direçõesmarcadas
no
periodo absolutista,como
sepôde
notar,porque
odesenvolvimento
do
constitucionalismo sedeu
dentroda
maior reali-zação do
período absolutista: a construção e consolidaçãodos Estados
nacio- nais.E
foi dentrodos Estados
nacionaisque
floresceu a idéiade que
todosos
habitantesdaquele
territóriopossuíam
direitos, e direitosque
deveriam poder
ser exercitados por todos,sem
distinção.E
o
constitucionalismo foi justamenteo mo-
vimento
voltado para tornarde
todosconhecido
que
doravante todospossuem
os
direitos inscritosno
documento
chamado
constituíção,que
é odocumento de
gê-nese
de
uma
nova
sociedade, pois nele está fixado aseparação dos poderes e
2°
AYALA,
Francisco. Presentación. ln: SCHMITT, Carl. Teoria de la constitución. Versión española de
Francisco Ayala. Madrid: Alianza Editorial, 1983. p. 14. ‹
_
`
reconhecidos os direitos individuais.
i H
Sabe-se,
no
entanto,que
o constitucionalismo se tratava muitomais de
um
discurso estratégicode
ascendência
ao poder do
que
uma
intençao realde
.transformar a sociedade.Como
bem
alertouDUVERGER,
bastava a burguesiamudar
'as leis, modificar os estatutos jurídicos, parachegar
à igualdade e à liber- dade.Tudo
mais
era desnecessário para alcançarseus
intentos, pois era urna classe oprimidaapenas
politicamente. Foi por isso, disseDUVERGER,
que
esse
novo
establishment definiu a liberdade e- igualdadecomo
uma
liberdade euma
igualdade
em
direitos”. Foitambém
por issoque
T.H.MARSHALL
colocoucom
extraordinária lucidez
que
um
direitode
propriedadenão
éum
direitode
possuir propriedade,mas
um
direitode
adquiri.-la,caso
possivel, ede
protege-la, se. sepuder
obtê-la”. Assim, a constituição escrita revelou-seno melhor
e maisseguro
mecanismo
para legitimar osgovernantes
no
poder,no caso
os burgueses,ao
mesmo
tempo
em
que
evitouo
retornoao
passado
-ao
períododo
absolutismo -,pois
estabeleceu
uma
nova forma
de
exercíciodo
poder
para evitar oabuso
no
desempenho
da
autoridade, isto atravésde
regras anteriormente postas, portantoconhecidas, públicas e controláveis,
bem
como
inviabilizou aascendência
efetivados demais
segmentos
inconformados
com
oAncíén Regime,
vistoque
anova
ordem_só assegurava
materialmente direitosàqueles
que,de
fato, já ospossuíam,
acrescentando-lhesapenas
ode
participação política,do
qual os espoliados fica-ram
mais
uma
vez
alijados.3°
DUVERGER,
Maurice. Os grandes sistemaspolíticos. Tradução revista por Fernando Ruivo, e Fernando Augusto Ferreira Pinto. Coimbra: Almedina, 1985. pp. 20l-2._
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_ 31
MARSHALL,
'I`.H.Cidadania. classe social e status. Tradução de Meton Porto Gadelha. Rio 'dc Janeiro:
Zahar, 1967. p.80. '
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