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Responsabilidade Penal da pessoa jurídica no código de defesa do consumidor

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO E CIÊNCIA POLÍTICA

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

JEANINE GODOY ILHA Bacharelanda

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DA PESSOA JURÍDICA

NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Acadêmica: Jeanine Godoy Ilha

Orientador: Prof. Msc. Welber Oliveira BarraI Co-orientador: Msc. Paulo de Tarso Brandão

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A Monografia "A POSSIBILIDADE DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR", elaborada por JEANINE GODOY ILHA e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Florianópolis, dezembro de 1996. Banca Examinadora:

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--Prof. Msc. Welber de Oliveüa BarraI Coordenador de Monografia - DPC

Prof. Msc. Welber Oliveira BarraI Presidente

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aulo de Tir·so Brandão Membro

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/ Pro f. lo/el Machado Correa '-_- / Membro

Prof Getúlio Correa Membro-Suplente

(4)

Reflete sobre ti mesmo e examina tua alma. Se nela não encontrares a beleza, imita o artista que aprimora a estátua até orná-la com todos os encantos da beleza, tira da tua alma o que há de supérfluo, reergue o que decaiu, purifica e ilumina o que ainda é tenebroso; não deixes de aperfeiçoá-la até que aos teus olhos refuja eaperfeiçoá-la de sua divina caperfeiçoá-laridade, até veres a temperança sentada no teu seio com a pureza de sua integridade.

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iii

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador e amigo, Prof. Welber Oliveira BarraI, pelos seus ensinamentos e pela sua paciência.

Ao meu grande incentivador Promotor Paulo de Tarso Brandão, por me ensinar a importância de saber pesquisar.

A minha irmã Janice Campos Godoy Ilha, pelo carinho e apoio a mim dedicados nos momentos mais dificeis.

Aos meus amigos, aqui representados por Valéria Gutjahr, Rafael Meyer, Sabrina Morais e Ilva Ruas de Abreu, pelo apoio e principalmente, pelas suas amizades.

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INTRODUÇÃO ... .

CAPÍTULO I - CONCEITO E DELIMITAÇÃO DO DIREITO PENAL

ECONÔMICO... ... ... ... ... ... ... ... 5

1. Fonnação de um Direito Econômico... 5

2. Definição Legal de Crime Econômico... 14

3. Autonomia Legislativa... 18

CAPÍTULO 11 -EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO... ... ... 21

1. Histórico... 21

2. Das Infrações Penais no Código de Defesa do Consumidor... 28

CAPÍTULO 111 - DIREITO COMPARADO... 39

1. Introdução... 39 2. Países em que a responsabilidade criminal das pessoas jurídicas foi

(7)

\.

consagrada em termos gerais... 39

3. Países que parecem vir a consagrá-la a curto prazo... 41

4. Países que parecem resistir à idéia da sua consagração... 44

CAPÍTULO IV - CONCEITOS FUNDAMENTAIS... ... ... ... ... ... 47

1. Conceito de Responsabilidade PenaL... 47

2. Conceito de Pessoa Jurídica... 48

3. Conceito de Consumidor... 5 1 4. Teoria da Desconsideração da Pessoa Jurídica... 54

CAPÍTULO V - ANÁLISE DA URGENTE NECESSIDADE DE APLICAÇÃO DE PENAS À PESSOA JURÍDICA... 59

1. Problema no Direito Brasileiro... 59

2. Argumentos contra a Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica... 61

3. Argumentos a favor da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica... 62

4. Penas a serem aplicadas... 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS... ... 69

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A presente monografia trata da problemática que envolve a responsabilidade penal da pessoa jurídica. É um tema específico e autônomo do Direito Penal Econômico, mais precisamente do Direito Penal do Consumidor.

Tem-se como objetivo demonstrar a disparidade existente entre a lei e a realidade, pois a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 173, ~ 5°1, veio introduzir em nosso sistema jurídico a possibilidade de atribuição de responsabilidade penal da pessoa jurídica, tema que gera ainda, controvérsias na doutrina, mas que tende a tomar-se realidade em breve.

Diante do texto inserido na Carta Magna e no Código de Defesa do Consumidor, pretende-se estabelecer o bem jurídico protegido e como o direito comparado tem tratado a matéria em tela.

I "Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica

pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

~ 5° A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica. estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. "

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2

o

trabalho está estruturado de uma maneIra simples, acessível e lógica. Primeiramente, é feito um estudo acerca do conceito e delimitação do Direito Penal Econômico.

Não existe uniformidade entre os escritores a propósito da denominação da disciplina. Direito Penal Econômico é uma designação usual na doutrina brasileira e internacional.

Segundo Manoel Pedro Pimentel, o Direito Penal Econômico é o "conjunto de normas que tem por objeto sancionar, com as penas que lhes são próprias, as condutas que, no âmbito das relações econômicas, ofendam ou ponham em perigo, bens ou interesses juridicamente relevantes". 2

A definição contém os elementos adequados à sua inteligência. Mas surgem dificuldades quando se pretende identificar a objetividade jurídica, distinguindo-se as múltiplas conformações de bens ou interesses em relação. Dentro do gênero Direito Penal Econômico, encontram-se as mais variadas espécies segundo as preferências semânticas dos escritores. Em conseqüência, uma proliferação de direitos penais.

A questão do conceito para o Direito Penal Econômico é indissoluvelmente ligada ao problema de sua delimitação relativamente às demais espécies do fenômeno geral. Os contornos entre os vários tipos de ilicitude (tributária, fiscal, financeira, etc.) revelam pontos de confluência e interpenetração.

Há quem limite a natureza e o âmbito do chamado Direito Penal Econômico por uma definição formal ligada a aspectos substantivos e de tática criminalística.

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omitido na aplicação das medidas administrativas que visam à preservação ou mesmo à penalização adequada dos danos sociais que o delinqüente econômico pode produzir. Manifesto é o reconhecimento da insuficiência das sanções não-penais neste campo.

O presente trabalho constitui-se numa panorâmica dos aspectos mais iniciais e mais prementes do Direito Penal Econômico, com notas sobre a construção teórica do assunto, seguido de alguns debates sobre a manifestação da responsabilização penal na prática judiciária, completando-se com o debate encabeçado por autores que priorizam um projeto sobre tal disciplina.

O objetivo é tão somente introduzir o debate, dada a grande importância do tema frente a uma criminalização apenas recentemente como tal encarada.

Após, demonstra-se a evolução da legislação brasileira do Direito Penal Econômico e a legislação de proteção do consumidor.

Parte-se então para uma análise da temática no direito comparado.

É realizada uma apreciação sucinta dos conceitos da pessoa jurídica, da responsabilidade penal, dos tipos penaiS constantes no Código de Defesa do Consumidor e da Teoria da Desconsideração da Pessoa Jurídica.

Por último, é feita uma apreciação critica da problemática no direito brasileiro com penas passíveis de aplicação à pessoa jurídica.

(11)

o

método utilizado é preponderantemente indutivo, eventualmente dedutivo. com o uso da técnica da pesquisa bibliográfica.

Eventualmente será utilizada no decorrer do trabalho a sigla CDC, a qual deverá ser lida como Código de Defesa do Consumidor.

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CONCEITO E DELIMITAÇÃO DO DIREITO PENAL ECONÔMICO

1. Formação de um Direito Econômico

Não conseguiu ainda a doutrina do Direito Penal estabelecer com nitidez o conceito de Direito Penal Econômico, fixando sua objetividade jurídica.

Há hoje consciência universal de que existe uma criminalidade grave contra o patrimônio e a ordem econômica social, praticada por pessoas de classe média ou alta com status social, que causa extenso dano. São mais precisamente os crimes do colarinho branco (white-collar crime), comuns no cotidiano da sociedade.

Para estabelecer o conceito de Direito Penal Econômico, poder-se-ia partir das idéias de economia e riquezas, identificando o objeto da tutela jurídica em interesses econômicos de toda ordem.

O conceito de Direito Penal Econômico não é novo, mas seu estudo aprofundado é recente, e mais ainda o movimento pela sua autonomização.

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6

Não é fácil identificar, com nitidez, o Direito Penal Econômico, variando sua definição e conteúdo de acordo com o sistema jurídico de cada país e da corrente a que se filie o jurista. Por isto, seus conceitos não são nem claros nem unívocos.

Nascido de um prolongamento do Direito Administrativo, atualmente o Direito Penal Econômico inclui, em sua disciplina, matérias próprias do Direito Civil e do Direito Comerciae.

Pode-se, então, definir Direito Penal Econômico como Direito Penal da Ordem Econômica, regrando as diversas relações com impactos supraindividuais e que se processam em seu interior, sejam elas de agentes econômicos entre si, sejam entre agentes econômicos (fornecedores) e consumidores, sejam, ainda, entre todos esses e a Administração Pública.

A definição contém os elementos adequados à sua inteligência. Mas surgem dificuldades quando se pretende identificar a objetividade jurídica, distinguindo-se as múltiplas conformações de bens ou interesses em relação.

Não existe uniformidade entre os escritores a propósito da denominação da disciplina. Direito Penal Econômico é uma designação de trânsito correntio na doutrina brasileira e internacional. Mas também são utilizadas expressões como-l : a) Direito Penal da Economia no Brasil; b) Wirtschaftsstrafrecht (Direito Penal Econômico) e Volkswirtschaft (crimes contra economia popular) na Alemanha; c)

Droit Pénal Économique ou então Droit Pénal des Affaires, na França; d)

White-3 BENJAMIN, Antôno Herman V.

o

Direito Penal do Consumidor: Capítulo do Direito Penal t:conômico.

Revista do Consumidor. Vol 1. p. 105.

4 DOITI, René ArieI. O Direito Penal Econômico e a Proteção do Consumidor. Revista de Direito Penal e

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col/ar criminality, Occupation crime e Corporate crime, nos Estados Unidos da

América.

No Brasil, o bem jurídico genericamente tutelado pelo Direito Econômico é a ordem econômica, é um bem jurídico supraindividual, que, sem dúvida, destaca-se dos bens jurídicos individuais. Assim, percebe-se que Direito Penal Econômico é a supraindividualidade das relações por ele tuteladas. E não se confunde, portanto, com a economia popular. Esta é conceituada como o patrimônio de um indefinido número de pessoas. Já o Direito Penal Econômico trata de algo mais específico, abrangendo então bens e interesses relacionados com a política econômica do Estado.

A curva ascendente na repressão dos abusos do poder econômico alcançou o seu ponto alto através da Constituição de 1937, quando se declarou que a riqueza e a propriedade nacional se fundavam na iniciativa individual, nos poderes de criação, de organização e invenção dos indivíduos, exercido nos limites do bem público. A intervenção estatal no domínio econômico se legitimaria para suprir as deficiências da iniciativa individual e coordenar os fatores da produção e maneira a evitar ou resolver os seus conflitos e introduzir no jogo das competições individuais o pensamento dos interesses da nação, representados pelo Estado. O fomento à economia popular assegurando-lhe garantias especiais era proclamado pelo art. 141 que considerava os delitos contra a economia popular equiparados aos delitos contra o Estado "devendo a lei cominar-lhes penas graves e prescrever-lhes processo e julgamento adequados à

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o

abuso do poder econômico, caracterizado pelo domínio dos mercados, a eliminação da concorrência e o aumento arbitrário dos lucros, é um fenômeno de agressão aos princípios que devem reger as práticas econômicas empenhadas na realização do bem comum e na satisfação das aspirações individuais.

Nos países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, os monopólios, oligopólios, trusts e cartéis e o processo do dumping são realidades que contrastam

com as proclamações otimistas colocadas pela Constituição.

Essas modalidades de aparecimento, de expressão e de conteúdo do abuso do poder econômico têm se manifestado com tal intensidade que a ONU, pela sua Divisão de Defesa Social e através de pesquisa durante 20 anos em estatísticas de mais de 40 países, reconhece o aumento progressivo e incessante da criminalidade em três setores5 :

1

° -

a delinqüência contra a propriedade; 2° - a delinqüência financeira e econômica; e 3° - a delinqüência juvenil.

A função do Direito Penal Econômico é assegurar um mercado transparente, honesto e seguro, orientado para o desenvolvimento social. A sanção penal tem um papel relevante a cumprir.

O que se pode chamar de Direito Penal Econômico brasileiro se concentra em leis especiais e algumas disposições do Código Penal6, os crimes:

5 DOITI, René Ariel. Op. cito p.139.

(16)

B) falimentares; C) societários;

D) contra a propriedade imaterial; E) sonegação fiscal.

Inicialmente, na esfera da economia popular, os valores protegidos são: a) o patrimônio do consumidor;

b) os sistema de livre concorrência da economia capitalista; c) a liberdade do consumidor.

O patrimônio do consumidor é protegido pela incriminação de práticas anti-sociais nas áreas das relações comerciais, (I) das relações econômicas (11) e das relações financeiras (IH). Como exemplos, tem-se respectivamente:

I - as fraudes em relação aos preços, pesos e medidas, mercadorias e contratos comercIaIS.

H - a manutenção ou elevação aos preços, as fraudes no mercado imobiliário, na gestão temerária de empresas frnanceiras, seguradoras, caixas e cooperativas, etc.

HI -práticas usuárias.

A economia capitalista é protegida pela incriminação de práticas anti-sociais impeditivas da livre concorrência, mediante convênios, sub-preço, controle de várias empresas do mesmo ramo, etc.

(17)

10

Por sua vez, na esfera das relações internas das empresas, o principal valor objeto de proteção é o patrimônio dos interessados, contra fraudes na constituição daquelas, ou de seus diretores, gerentes, etc.

No tocante à esfera das relações entre as empresas, o valor protegido é a propriedade imaterial, contra a concorrência desleal, fraudes na propaganda e violações de privilégios de invenção, de patentes, modelos, marcas, sinais, etc.

Por seu turno, na esfera das relações entre as empresas e seus credores, o objeto principal de proteção é o patrimônio destes, contra a imprudência/incompetência e a fraude no controle/gestão da atividade econômico-negociaI, antes (devedor) e durante (devedor, credores, síndico e protagonistas judiciais do processo falimentar) a falência.

Finalmente, na esfera das relações tributárias, o único objeto de proteção é o patrimônio do Estado, contra fraudes em declarações, informações, registros contábeis, dedução de tributos, etc.

O espectro de valores protegidos pelas formas legais do Direito Penal Econômico pode ser assim delimitado:

a) o patrimônio: 1 - do consumidor;

2 - desinteressados/sócios de sociedades por ações; 3 - da coletividade investidora;

4 - imaterial das empresas; 5 - dos credores destas.

(18)

b) os fundamentos econômicos do sistema de livre empresa.

o

Direito Penal Econômico tem por objeto 7 as práticas fraudulentas,

imprudentes e monopolísticas lesivas ao patrimônio da coletividade, nas dimensões do consumo, dos investimentos, da participação no sistema de livre empresa, da credibilidade/operacionalidade/funcionalidade desse sistema e dos recursos para sua garantia/reprodução pelo Estado. Trata-se de uma deftnição legal abrangente, erigida com base nos interesses protegidos pelas formas legais vigentes.

Não se confunde com o Direito Penal Financeiro nem com o Direito Penal Tributário, é o que analisa Manoel Pedro Pimentel8, por serem estes ramos distintos e não estão necessariamente ligados ao Direito Penal Administrativo. A distinção, pois, ocorre pela delimitação dos respectivos objetos jurídicos.

o

Direito Penal Financeiro tem como objeto jurídico a proteção da política ftnanceira do Estado, no que tange às receitas e às despesas públicas e ao orçamento.

o

Direito Penal Tributário protege os interesses do Estado quando da arrecadação dos tributos.

Quanto ao Direito Penal Administrativo o objeto jurídico é o interesse determinado da administração pública relativamente ao cumprimento do dever dos particulares em relação a esta.

o

Direito Penal Econômico apresenta algumas características principais9 :

7 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal Econômico. Revista de Direito Penal e Criminal n° 33. p.198.

8 PIMENTEL, Manoel Pedro. Op. cito p.17.

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12

a) DISPERSÃO: não se encontra ele em um capítulo particular do Código Penal, nem em um código autônomo ou em uma única lei especial. Ao contrário, sua sede é múltipla, espraiando-se pelo Código Penal e por diversas leis especiais.

b ) MUTABILIDADE: as normas penais econômicas se relacionam, diretamente, com a situação econômica do país. São, pois, por natureza, conjunturais e pontuais. Ex.: a proibição de cobrança de preço superior ao tabelado. Por ser norma penal em branco, o delito depende sempre da existência ou não de tabelamento. E este, como regra, aparece e desaparece no rastro da política econômica.

c) TECNICIDADE: na medida em que se propõe a regrar o mercado, o Direito Penal Econômico traz para seu conteúdo todas as noções técnicas e complexas da teoria econômica e de outras disciplinas não-jurídicas.

d) RIGOR: cuidando de relações de grande repercussão social e econômica, o Direito Penal Econômico, na mesma proporção, amplia e diversifica o arsenal punitivo do sistema tradicional. É compreensível que assim seja, de vez que a danosidade de uma conduta é tanto mais traumática quanto maior for o número de pessoas por ela afetadas.

O Direito Econômico é o direito da economia dirigida. Como diz Fábio Konder ComparatolO "o novo direito econômico surge como o conjunto das técnicas jurídicas de que lança mão o Estado contemporâneo na realização de sua política econômica. Ele constitui assim a disciplina normativa da ação estatal sobre as estruturas do

10 Apud FRAGOSO, Heleno Cláudio. Direito Penal Econômico e Direito Penal dos Negócios. Revista de

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sistema econômico". Um direito penal econômico é, portanto, o que se refere a fatos que lesam ou expõem a perigo uma determinada ordem econômica.

O Direito Penal Econômico é regido pelo princípio da legalidade, está subordinado ao critério da tipicidade, como a descrição legal do comportamento criminoso. Ao Direito Econômico corresponde, como bem jurídico genérico, a proteção e preservação de uma ordem pública econômica. Este mesmo bem jurídico constituirá o objeto da proteção geral de todos os tipos penais destinados a prevenir fatos que signifiquem formas concreta de lesão ou de perigo, segundo a livre escolha do legislador respectivo. Isto é, o direito penal sancionador haverá de ficar marcado pelo mesmo critério teleológico usado para o direito constitutivo, ainda quando a superposição entre ambos nunca seja completa, em razão de que o delito econômico se apresentará sempre como um sistema descontínuo de fatos escolhidos pelo legislador, a seu critério, com o fun de cominar-lhes pena.

O Direito Econômico é um ramo jurídico que se ongma e adquire desenvolvimento dentro de Estados que se atribuam, em maior ou menor grau, uma direção da economia nacional, e que a tomam efetiva por meio de leis que lhes reconhecem faculdades para regular as atividades econômicas que se acham em mãos de particulares ou, eventualmente, para assumi-las de forma parcial. É precisamente o conjunto de leis e preceitos de toda ordem relativo a este aspecto o que forma a matéria positiva de tal Direito Econômico. É o poder soberano do Estado, manifestado na correspondente norma jurídica, que se sobrepõe à vontade dos

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particulares que levam a efeito atividades econômicas, impondo-lhes preceitos obrigatórios no que concerne à forma e condições de prosseguir com elas.

O Direito Econômico não se esgota no âmbito das relações de economIa popular. Ele vai mais longe para abranger a disciplina das expressões do patrimônio material ou imaterial sem a qual a ordem econômica se tornaria opressiva e injusta.

2. Definição Legal de Crime Econômico

Alguns autores propõem como delitos econômicos somente aquelas figuras jurídico-penais que sancionam certos fatos atentatórios às disposições legais que impõem um determinado ordenamento da economia nacional, objetivando o bem-estar ou melhoramento coletivo no que se refere ao aproveitamento, distribuição e consumo da riqueza e dos serviços.

Outros colocam que o delito econômico se vincula a uma ampla gama de fatos cUJos resultados afetam relações individuais ou sociais de cunho econômico, excluindo-se unicamente os que atentam apenas contra direitos patrimoniais individuais, reunidos estes últimos nos costumeiros títulos de "delitos contra a propriedade", dentro dos códigos penais tradicionais.

Os juristas que sustentam um conceito extensivo de Direito Econômico mostram-se inclinados a nele incluir aspectos muito variados, gerando confusão sobre o objeto próprio do Direito Econômico. Para alguns, a noção de delito econômico corresponde à realização de fatos que se tornam possíveis em virtude de fenômenos

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econômico-sociais recentes e que estão dotados, por isso, de apreciável especificidade e originalidade. Não se pode afirmar que exista uma concepção única a seu respeito. "E se considerarmos o delito econômico como a figura penal prevista pelo legislador para proteger os bens jurídicos mais relevantes e merecedores de amparo penal que propõe o Direito Econômico, poderemos facilmente compreender a origem, grau e profundidade das discrepâncias que se mantém acerca do conceito de delito econômico" 11 .

A doutrina, tanto nacional quanto estrangeira, entende que nas relações econômicas existem dois bens jurídicos fundamentais, conseqüentes das normas insculpidas nas Constituições: o patrimônio individual e a ordem econômica, esta um valor supra-individual. O Direito Penal Econômico é um direito interdisciplinar de grande atualidade.

O conceito de bem jurídico não constitui tão-só o fundamento primordial da reação penal, senão que integra o núcleo mesmo da noção de injusto, como caráter de todo delito, em qualquer explicação jurídica que não se satisfaça com elaborações puramente formais e que aspire encontrar a substância mesma da negação jurídica em que consiste o delito.

Por conseguinte, todo delito econômico terá como bem jurídico protegido próprio algum aspecto da ordem pública econômica concreta estabelecida em algum país determinado. Este bem jurídico apresentará um conteúdo diferente, segundo seja

11 MONREAL, Eduardo Novoa. Reflexões para a Determinação e Delimitação do Delito Econômico. Revista

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16

o modo concreto de organização político-econômica adotado em cada país e, por isso, não é possível precisar este conteúdo de maneira geral.

O sujeito passivo do delito será o sistema econômico nacional, enquanto forma privilegiada de organização da nação.

Em uma economia de mercado há dois aspectos que devem estar assegurados legalmente: um, a livre concorrência dos empresários no mercado, e outro, a proteção do interesse dos consumidores. A proteção dos consumidores adquire grande desenvolvimento, como é natural, dentro dos sistemas político-econômicos reformistas.

A tutela dos interesses dos consumidores se confunde na legislação moderna com a dos interesses coletivos, porque todo membro da comunidade é em definitivo um consumidor. Não se deve, portanto, fazer uma distinção entre os delitos que protegem os interesses econômicos de todos os consumidores e os que protegem os interesses econômicos coletivos. Coisa diferente é que, ordinariamente, um delito destinado a velar pelo interesse dos consumidores não será um delito econômico puro, pois também poderá causar um dano quantificável e direto a algum consumidor concreto ao qual afete.

A face mais visível do seu conteúdo de um delito econômico, sem dúvida, são as infrações relativas a preços de produtos e serviços, inclusive de matérias-primas. Mas outras áreas, numa perspectiva ampla, podem integrar também sua esfera de atuação: os delitos financeiros e tributários, os de concorrência desleal, os relativos às sociedades comerciais, os ambientais e os crimes de consumo.

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Assim, são delitos econômicos não apenas os fatos puníveis dirigidos contra a planificação estatal da economia, como todo o conjunto de delitos relacionados com a atividade econômica e dirigidos contra as normas estatais que organizam e protegem a vida econômica.

Razões de sobra há para que se busque uma punição eficaz nos cnmes econômicos, tendência que se observa maIS facilmente nos delitos financeiros, ambientais e de consumo. Basta que se pense na quantidade de infrações cometidas nesses setores, com a agravante de que o número daquelas realmente processadas (sem falar das que são objeto de efetiva condenação) é assustadoramente inferior ao das praticadas.

Deve se adotar para o delito econômico um conceito restrito, cuja objetividade jurídica reside na ordem econômica, ou seja, em bem-interesse supra-individual, que se expressa no funcionamento regular do processo econômico de produção, circulação e consumo de riqueza.

Para pretender-se utilizar da sanção criminal para obter o acatamento a mandamentos de conteúdo econômico, são princípios fundamentais de grande valial2 :

"a) a natureza particular dos delitos econômicos, principalmente no que respeita os destinatários da norma, autoriza se dê prevalência absoluta às medidas preventivas, aprimorando-se o sistema, concentrando-se neste nível os investimentos oficiais; b) No que respeita o uso efetivo de sanções criminais, não parece haver dúvida se deva conceder preferência absoluta às penas pecuniárias, bem como às restrições patrimoniais e de privilégios, além das prestações de serviços à comunidade. A pena de prisão deve ser reservada somente para violações que por sua natureza ou gravidade se apresentem praticamente despidas das características do delito econômico.

c) O uso exclusivo de sanções negativas no sistema de direito sempre foi um fator de desequilíbrio; o Direito Econômico parece permitir com mais facilidade o recurso às

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18

sanções positivas. Com sua adoção consegue-se um tipo de prevenção que, ao lado do maior desenvolvimento do poder estatal de detectar e perseguir os delitos econômicos, determinará presumivelmente substancial aumento do índice de acatamento das normas legais de conteúdo econômico."

Os procedimentos por delitos econômicos chocam freqüentemente com obstáculos que se acumulam e levam consigo diretamente a paralisação da administração de justiça. Podem ser considerados obstáculos: a grande complexidade; dificuldades jurídicas da matéria e econômicas; ausência de especialistas; e insuficiência de assistência judicial.

Os crimes econômicos em geral, e do consumidor em particular, não são perseguidos ou são perseguidos tardiamente. Por isso, assevera Nilo Batistal3 que tais

crimes são de natureza difusa, cuja cifra oculta atingem níveis, onde os tribunais brasileiros só por exceção conhecem e decidem esta classe de ilícitos.

Os crimes contra o consumidor, antes da violação à relação de consumo, ferem uma ordem: a ordem econômica. A ordem econômica, por seu turno, também é um bem jurídico, que tem caráter igual ao da relação de consumo: é um bem supra-individual. Os crimes contra as relações de consumo, então, são crimes que ferem a ordem de proteção e defesa do consumidor.

Deste modo, num sentido lato, o crime contra o consumidor é um cnme econômico, entendido este como crime que fere a ordem econômica.

3. Autonomia Legislativa

13 BATISTA, Nilo. Concepção e Princípios do Direito Penal Econômico, inclusive a Proteção dos

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o

Código Penal Brasileiro colocou à margem de sua enumeração de ilicitudes, a criminalidade contra a economia popular (art. 360).

Diplomas elaborados nos anos 60 e 70 relativamente a ordem econômica: Lei n° 4.137, de 10.09.1962 ( regula a repressão ao abuso do poder econômico); Lei delegada n° 4, de 26.09.1962 (dispõe sobre a intervenção no domínio econômico para assegurar a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo); Lei n° 4.511, de 01.12.1964 (dispõe sobre o meio circulante); Lei nO 4.591, de 16.12.1964 (sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias); Lei n° 4.595, de 31.12.1964 (dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias); Decreto-lei nO 15, de 29.06.1966 (estabelece normas e critérios para a uniformização dos reajustes salariais); Decreto-lei nO 73, de 21.11.1966 (sobre o sistema nacional de seguros privados); Decreto-lei n° 157, de 10.02.1967 (concede estímulos fiscais à capitalização das empresas, etc.); Decreto-lei n° 326, de 08.05.1967 ( dispõe sobre o recolhimento do IPI); Decreto-lei n° 422, de 20.01.1969 (altera dispositivos da Lei delegada n° 4); Decreto-lei n° 1.060, de 21.10.1969 (sobre a declaração de bens, dinheiro ou valores existentes no estrangeiro, a prisão administrativa e o seqüestro de bens por infrações fiscais); Lei nO 5.772, de 21.12.1971 (Código de Propriedade Industrial); Lei nO 6.404, de 15.12.1976 (sociedade por ações); Lei n° 6.435 (dispõe sobre as entidades de previdência privada); Lei n° 6. 437, de 20.08.1977 (infrações à legislação sanitária federal); Lei n° 6.649, de 16.05.1979 (regula a locação predial urbana); Lei n° 6.766, de 19.12.1979 (sobre o parcelamento do solo urbano).

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20

A questão referente à autonomização do Direito Penal Econômico em relação aos demais ramos de direito especial é uma das grandes preocupações dos legisladores.

O Direito Penal do Consumidor deve ser vislumbrado como um ramo do Direito Penal Econômico que tem por fmalidade o estudo de toda a forma de proteção penal à relação de consumo, com bem jurídico imaterial, supra-individual ou difuso. Visa a fazer valer a proteção assegurada pela própria legislação consumerista. Circula em tomo dos crimes contra o consumidor, os quais são forma de abuso do poder econômico que atentam contra a ordem econômica geral e devem ser coibidos, em face da determinação constitucional (art. 173, §§ 4° e 5°, Constituição Federal de

1988).

Após a análise do que se pode considerar o Direito Penal Econômico e o delito econômico, partir-se-á, no capítulo seguinte, para a apreciação da evolução da legislação, a fim de que se possa evidenciar, a importância de uma legislação específica sobre as relações de consumo.

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EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO

1. Histórico

No tempo das capitanias hereditárias (1534-1549) as instituiçõesjuridicas eram reguladas pelas Ordenações e por diplomas do Direito Romano, do Direito Canônico e do direito costumeiro. Relativamente à propriedade e às suas manifestações como a servidão, a enfiteuse, o usufruto, etc., eram as disposições romanistas acrescidas ou alteradas em alguns pontos pelas regras estabelecidas nos forais. Em face daquele regime jurídico e das condições políticas e institucionais, não se poderia cogitar da aplicação de um direito em bases de justiça econômica e social.

Como característica central das relações internas entre os habitantes do Brasil e entre estes e a Europa, destacava-se uma política liberal na exportação de qualquer produto, ressalvados os monopólios reservados à Coroa, alguns direitos dos donatários e o pagamento dos tributos.

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Antes mesmo de ser decretada pelo Príncipe Regente a abertura dos portos (1808), o Brasil era um terminal de interesses econômicos de outros países. O último quartel do século XVIII assistiria a decadência da mineração do ouro em nosso País. A Inglaterra, que já havia entrado em plena revolução industrial, assumiu já no começo do aludido século XVIII a posição de principal nação capitalista, possuindo um dos melhores sistemas bancários de toda a Europa.

A doutrina do liberalismo econômicol4 presidiu as relações do Brasil com os

novos dominadores, em prejuízos acentuados para o nosso País. O Tratado de Comércio e Navegação fIrmado em 1810, entre Portugal e Inglaterra (herdado pelo Brasil independente) e que na aparência instituía um "Systema Liberal de Commercio fundado sobre as Bases da Reciprocidade,,15, foi um pacto que deu origem a uma série de privilégios para os ingleses, e que constituía um instrumento de opressão e privilégios: os ingleses não cuidaram de abrir mercado aos produtos brasileiros, entre outros atos de pirataria comercial. Aplicada de modo unilateral, a ideologia do liberalismo passou a criar sérias difIculdades à economia brasileira, exatamente na etapa em que a classe dos grandes agricultores começava a governar o país. A abertura dos portos não trouxe os beneficios que somados a outros fatores políticos, econômicos e sociais poderiam levar o Brasil, depois do 7 de setembro de 1822, ao estágio de uma nação moderna e forte, assim como sucedeu com os Estados Unidos.

Corolário lógico da fIlosofIa política do liberalismo econômico, foi o princípio da não intervenção do Estado nas relações comerciais que contivessem cláusulas

14 DOTII, René ArieI. Op. Cito p. 133.

(30)

abusivas. A Constituição Imperial (1824) não tinha qualquer disposição a propósito, mesmo porque havia graves tensões oriundas do tratado comercial com os ingleses e que perduraram até a metade do século XIX, gerando um conflito com a classe dominante brasileira. Como conseqüência, o Código Criminal do Império (1830) não previa normas penais para o abuso do poder econômico ou que, de outra forma, tutelassem o consumidor, mas admitia pacificamente a responsabilidade penal coletiva ao punir as corporações pelos crimes de calúnia e injúrial6 . Um Decreto de 23 de outubro de 1875 (n° 2.682) tratou da incriminação da concorrência desleal através da adulteração de marca de manufatura e de comércio de produtos. Também foi omisso o Código da República Velha (1890), não obstante as previsões do Código Napoleônico (1810) punido a especulação de alimentos em conseqüência das proclamações da Convenção Nacional de 1793. Na Itália, o Código Penal para o Grande Ducado de Toscana (1854) continha previsões sobre a usura e a quebra (arts. 408 e ss.)

Segundo a doutrina da econOmIa liberal, o Estado deve ser abster da intervenção nas relações do setor de aquisição, venda, troca e demais contratos, os quais devem ter suas cláusulas regidas pela lei da oferta e da procura e da livre iniciativa dos indivíduos. Interpretando a doutrina, Nelson Hungrial7 "refere que

diante da pureza de seus postulados, os interesses individuais em contraste acabam sempre por acomodar-se, servindo inconscientemente ao bem-estar coletivo. Qualquer

16 FRANCO, Affonso Arinos de Mello. Responsabilidade Criminal das Pessôas Jurídicas. Rio de Janeiro:

Graphica Ypiranga, 1930, p. 103.

(31)

2-t

ingerência do Estado para constranger a ação individual em rumo diverso daquele em que se teria orientado, se deixada a si mesma, resultará contrária ao interesse geral. O Estado só deve intervir quando se tome absolutamente necessária a remoção de algum obstáculo ao livre jogo das atividades individuais. Fora daí, seu papel deve ser o da parte revel, adaptando-se a um retraimento passivo ou acomodatício". É a fónnula do

laissez-faire laissez-passer, de Goumay. É a teoria dos fisiocratas e da Escola de

Manchesterl8 .

Entende-se, no Brasil, que os princípios gerais de Direito Penal se aplicam ao Direito Penal Econômico, e que, portanto, as regras deste último devem ser sempre interpretadas em conexão com aqueles princípios. Neste ponto, a recomendação do V Congresso Internacional de Direito Comparado (Bruxelas, 1958) pennanece atual e inalterável, sob pena de graves riscos para as feições democráticas do sistema penal, para os direitos da pessoa humana no confronto com tal sistema. Como exemplo, os inúmeros dispositivos de Direito Penal Econômico que, na hipótese dos fatos envolverem pessoa jurídica, procuram estender a todos os diretores a responsabilidade (cf. Lei n° 4.729/65, art. 6°; Lei n° 4.728/65, art. 73, ~ 2°; Lei n° 4.595/64, art. 44, ~ 7°; Lei n° 4.591/64, art. 65, ~ 1°, I; Lei n° 6.766/79, art. 51). Tais dispositivos devem ser considerados em conexão com os princípios gerais que regem a autoria e a participação, não se extraindo jamais uma conseqüência penal da simples condição de diretor ou administrador da empresa na qual ou através da qual teria ocorrido o ilícito.

18 HUNGRIA, Nelson apud ZANELLATO, Marco Antonio. O Direito Penal Econômico e o Direito Penal de

Defesa do Consumidor como Instrumentos de Resguardo da Ordem Pública Econômica. Revista Direito do

(32)

Da mesma forma, princípios que regem a tipicidade subjetiva, as causas de justificação, culpabilidade, o erro e outras, têm plena aplicação aos problemas especiais colocados pelo Direito Penal Econômico, que não possui, no Brasil, uma parte geral autônoma, distinta daquela onde se inserem as normas básicas de todo o sistema.

A Constituição Federal do pós-guerra consagrou o princípio da intervenção estatal no domínio econômico e do monopólio de determinada indústria ou atividade. A intervenção teria por base o interesse público e por limite os direitos fundamentais assegurados pela Carta Magna (art. 146). Tal orientação resultava da concepção segundo a qual "a ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano", assegurando a todos o trabalho que possibilite existência digna. E foi sob a inspiração desses ideais que se editaram o Decreto-lei n° 9.125, de 04.04.1946 (dispondo sobre o controle de preços e criando órgãos destinados a impedir o encarecimento da vida), e a Lei n° 1.521, de 26.12.1951, como diploma específico para incriminar as lesões à economia popular, substituindo o Decreto-lei n° 9.840, de

11.09.1946.

A Constituição de 1967 estabeleceu que a ordem econômica "'tem por fim realizar a justiça social", com base nos princípios da liberdade de iniciativa, valorização do trabalho como condição da dignidade humana, função social da propriedade, harmonia e solidariedade entre os fatores de produção, desenvolvimento econômico e da repressão ao abuso do poder econômico (art. 157). A Emenda

(33)

26

Constitucional nO 1, de 1969, através do art. 160, manteve a redação da carta reformada, acrescendo que a ordem econômica visa também ao desenvolvimento nacional.

A Lei nO 1.521, de 26.12.51, nos arts. 2°, 3° e 4° tipifica condutas delituosas, ainda vigente enumera abusos do poder econômico muito aquém da realidade. É que tal lei não fez mais do que repetir o Decreto-lei nO 869/38, projeto de Nelson Hungria.

Dando um maior amparo ao coibir e reprimir o abuso do poder econômico e a concorrência desleal, embasam as Leis n° 4.13 7/62, 5.772/71 e o Decreto-lei nO 7.903/45.

A Lei n° 8.137/90, ao definir crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, preencheu junto ao Código de Defesa do Consumidor, a grande lacuna que existia no campo da repressão da criminalidade econômica.

A Lei n° 8.002, de 14.03.90, prevê a punição de multa para atos atentatórios às relações de consumo e, a Lei n° 8.158, de 08.01.91, a qual teve seu regulamento aprovado pelo Decreto n° 36, de 14.02.91, trata da defesa do consumidor.

Os crimes contra as relações de consumo, independentemente de estarem previstos no Código de Defesa do Consumidor, estão na Lei n° 8.137/90 ou em outras leis esparsas. Na sua maioria, são enquadráveis na categoria de infrações penais econômicas, por constituírem violação da organização econômica do Estado, por disporem sobre a defesa dos interesses vitais dos consumidores. O direito penal do consumidor encontra-se no âmbito do direito penal econômico, enquadramento este que, por si só, justifica a criminalização de certas condutas que se traduzem em

(34)

abusos de consumo, para19 "garantir o respeito aos direitos e deveres decorrentes do

regramento civil administrativo que orienta as relações entre fornecedores e consumidores" .

o

objetivo último da sanção penal para condutas que ferem as relações de consumo é levar os seus agentes (fornecedores) ao cumprimento de um dever genérico de abstenção de qualquer prática suscetível de pôr em perigo a incolumidade fisico-psíquica ou o patrimônio do consumidor difusamente considerado, de sorte a lhe assegurar o seu bem-estar. A fmalidade é, assim, corretiva e preventiva, o que confere à sanção penal maior eficácia.

Busca-se, com a tipificação penal dos crimes de consumo, a prevenção do dano aos interesses primordiais do consumidor. Os crimes de consumo assumem importante papel na ação preventiva do Estado moderno sobre os diversos estágios da produção, e concordantemente com o tipo de economia e planos econômicos. Afiguram-se instrumentos capazes de colaborarem decisivamente para evitar desvios aos princípios fundamentais da organização econômica e desenvolvimento econômico do Estado, constantes de sua Constituição Política.

Recomendação do XII Congresso Internacional de Direito Penal (Hamburgo, 1979) no sentido de que a legislação penal especial não deve se limitar às disposições tradicionais para enfrentar os novos atentados contra o ambiente. Reconhecendo a necessidade do recurso às medidas de caráter penal tanto para as violações de normas administrativas ou civis, como para qualquer fato capaz de pôr em perigo o equilíbrio

19 BlHL, Luc apud ZANELLATO, Marco Antonio. O Direito Penal Econômico e o Direito Penal de DeJesa

(35)

28

pelas pessoas coletivas (tanto privadas como públicas), o Congresso recomendou a admissão da responsabilidade penal para o efeito de se impor sanções variadas como as interdições e o fechamento da empresa, além de multa.

2. Das Infrações Penais no Código de Defesa do Consumidor

Diante da insuficiência das normas penais comuns para proteção das relações de consumo, tem-se a necessidade de regras penais supra-individuais. Denota-se entretanto, que são sanções ineficazes, pois só serão efetivamente aplicadas quando estiverem verificados os requisitos do direito penal. A pena de multa é a mais usual. Importante salientar que são crimes de perigo, sendo dispensável que ocorra o dano para que o crime se considere consumado.

Além de ser repressivo, o direito penal do consumidor tem precipuamente a função preventiva.

Antônio Herman V. Benjamin20 distingue as infrações de consumo em dois

grupos:

"( ... ) os crimes de consumo propnos e os crimes de impróprios. Os crimes de consumo impróprios se subdividem em duas categorias: os crimes acidentalmente de consumo e os crimes reflexamente de consumo .

... Os crimes de consumo impróprios ... nos deparamos com uma tipologia flexível, podendo o agente do delito ser alguém que não se identifique com a qualidade de fornecedor, nos tennos da legislação de consumo base. Por outro lado, igual

Consumidor Vol. 5, 1993, p. 154.

20 BENJAMIN, Antônio Hennan. O Direito Penal do Consumidor: Capítulo do Direito Penal E:conômico. Revista do Consumidor VoU. p.113-115.

(36)

tlexibilidade tipo lógica também se dá quanto ao sujeito passivo da infração, não se exigindo o título de consumidor para preenchimento do tipo .

... São crimes acidentalmente de consumo, tipos amplos que não podem, a privri, ser

considerados de consumo. Somente no caso concreto - por acidente, então - ao

ampararem uma relação de consumo, quase sempre individual, é que ganham a qualidade de crime de consumo .

. .. O consumidor pode ser amparado de modo indireto através de crimes que, embora sua esfera protetória reverbere na relação jurídica de consumo em sua feição

moderna (o consumidor como destinatário final), tutelam, prioritária e

preponderantemente, outros sujeitos e objetos. São os crimes retlexamente de

consumo.

C .. )

Protegem o consumidor no âmbito de outro objeto que lhe é principal

(o regramento do sistema bancário, do mercado financeiro e imobiliário, da concorrência desleal) .

... São os crimes de consumo próprios. Ampararam exclusiva e diretamente o consumidor, atuando sempre sobre a relação juridica de consumo e nunca sobre a relação jurídica profissional. São sensíveis à qualidade de 'fornecedor' do sujeito ativo, de 'consumidor' do sujeito passivo e de 'produto' e 'serviço' do objeto material.

... Os crimes de consumo próprios são aqueles que, na sua estrutura, espelham a configuração peculiar da relação jurídica de consumo: os consumidores-destinatários finais como sujeito passivo, o fornecedor profissional como sujeito ativo e produtos e serviços de consumo como objeto sobre o qual - ou pelo qual (os bancos de dados, por exemplo) - a relação se desenvolve. Sua criação e razão de ser se justificam e buscam apoio no espírito consumerista, isto é, no reequilíbrio da relação de consumo."

Os crimes contra as relações de consumo estão previstos nos arts. 63 a 74 no Título 11 da Lei n° 8.078, de 11.09.90 (Código de Defesa do Consumidor) e no art. 7° da Lei n° 8.137/90, que define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo.

A primeira conduta punível constitui na omissão de dizeres ou smals ostensivos e de alerta no artigo 63:

"Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade.

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

§ 10 - Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

(37)

:w

Pena - Detenção de um a seis meses ou multa."

Cuida-se de crime omissivo próprio, tendo correlação com outros artigos do código (art. 6, 8, 9 e 31), a consumação ocorre com a inobservância da lei, independente da produção de resultado, mas com a presença de uma conduta livre e consciente. Não se admite a tentativa. Como objeto jurídico compreende os direitos do consumidor de proteção da vida, saúde e segurança e uma informação clara e adequada sobre a periculosidade e nocividade dos produtos ou serviços. O sujeito ativo é qualquer fornecedor que tenha o dever de informar nas embalagens, nos invólucros, nos recipientes e por meio de publicidade sobre a nocividade ou periculosidade de produtos ou acerca da periculosidade do serviço prestado.

Tutela-se a relação de consumo com objetivo de preservação de dano à integridade fisico-psíquica do consumidor, daí se falar na proteção da relação de consumo sanitária.

O sujeito passivo imediato é o consumidor difusamente considerado, e mediatamente, o Estado.

O tipo subjetivo é o dolo de perigo, que consiste na vontade livre e consciente ao praticar a omissão. A modalidade culposa (~ 2°) decorrerá da negligência.

O tipo objetivo é deixar de informar, por meio de dizeres ou sinais ostensivos por aquele que tem o dever legal de informar sobre a nocividade ou periculosidade de produtos ou do serviço.

(38)

"Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único - Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo."

Observa-se duas condutas omissivas possiveis, não cabendo aqui, a tentativa. A consumação ocorrerá: 1) com o conhecimento da nocividade ou periculosidade supervenientes e a ausência de comunicação do fato à autoridade e aos consumidores

(caput); e 2) com a negativa de retirada do mercado de produto nocivo ou perigoso,

quando determinado pela autoridade competente (parágrafo único). Não havendo necessidade de o produto ter sido vendido, pois basta a omissão do fornecedor. E, se o fato for comunicado à autoridade e não aos consumidores, o fornecedor estará sujeito às sanções administrativas do art. 56.

O tipo objetivo é a omissão de comunicação à autoridade e aos consumidores sobre a periculosidade e nocividade e a omissão na retirada do produto do mercado.

O tipo subjetivo é o dolo, não havendo a modalidade culposa. O sujeito ativo será o fornecedor e o sujeito passivo o consumidor difusamente considerado.

A próxima conduta é descrita no art. 65:

"Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte."

Cuida-se de um crime formal, pois com o início da execução do sefV1ço perigoso, independe de resultado lesivo ao consumidor. Admite-se a tentativa.

(39)

32

Sujeito ativo é o fornecedor que contrarie determinação da autoridade. Sujeito passivo a coletividade de consumidores.

Como tipo subjetivo, tem-se o dolo, não sendo possível a punição a título culposo. O tipo objetivo é executar serviço perigosos e contrariar determinação da autoridade. É norma penal em branco, que deve ser complementada por regulamentação. A pena poderá cumular-se em casos de lesão corporal ou morte.

Outra conduta punível consta no art. 66:

"Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:

Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.

~ 10 - Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.

~ 20 - Se o crime é culposo:

Pena - Detenção de um a seis meses ou multa."

Por tratar-se de um crime de ação múltipla, poderá ser comissivo ou omissivo (nesta hipótese não se admite a tentativa). A consumação ocorre quando é divulgada ao público consumidor a oferta nas condições mencionadas no caput, independente de

resultado. Se o consumidor for induzido ao erro, e à afirmação falsa sobre a natureza ou qualidade do bem ou serviço, o crime será o estabelecido no art. 7, VII, da lei nO 8.137/90, onde a pena é mais rigorosa, isto em virtude do princípio da especialidade.

O sujeito ativo é o patrocinador, e o sujeito passivo a coletividade de consumidores.

O tipo objetivo compreende: 1) fazer afirmação falsa ou enganosa em qualquer modalidade de oferta; 2) omitir informação relevante envolvendo natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou

(40)

o

tipo subjetivo é o dolo, nos casos do caput e parágrafo primeiro. O objeto jurídico diz respeito aos direitos do consumidor de livre escolha e de informação

adequada.

O art. 67 tipifica conduta delituosa quanto a publicidade:

"Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:

Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. Parágrafo único. (Vetado.)."

Consuma-se quando é feita elaboração ou promoção de publicidade enganosa, independendo de resultado lesivo. Trata-se de crime formal, admitindo a tentativa. Se houver indução ao erro, o crime será o do art. 7°, VII, da Lei n° 8.137/90.

O sujeito ativo serão os profissionais que elaborem e produzam a publicidade e os responsáveis pela veiculação nos meios de comunicação. O sujeito passivo a coletividade de consumidores e, mediatamente, o Estado.

O tipo objetivo será fazer ou promover publicidade enganosa ou abusiva. E o tipo subjetivo é o dolo, admitindo-se a tentativa.

Como objeto jurídico, os direitos do consumidor de livre escolha, proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva e efetiva prevenção de danos patrimoniais e moraIS.

Prevê também o Código de Defesa do Consumidor a conduta do art. 68:

"Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança.

(41)

Parágrafo único. (Vetado.)."

Trata-se de crime formal, admitindo a tentativa. A consumação ocorre com a veiculação da publicidade que seja capaz de induzir o consumidor, não precisando, no entanto que o consumidor seja efetivamente induzido.

o

sujeito ativo será o profissional que faça ou promova publicidade que saiba ou deva saber ser capaz de induzir o consumidor a se portar de forma prejudicial à sua saúde ou segurança. O sujeito passivo, a coletividade, e mediatamente, o Estado.

O tipo objetivo é fazer ou promover a publicidade. O tipo subjetivo é o dolo, direto ou eventual. Ainda sob o aspecto da publicidade, o art. 69:

"Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos e científicos que dão base à publicidade: Pena - Detenção de um a seis meses ou multa."

É um crime omissivo próprio, não cabendo a forma tentada. O sujeito ativo é o fornecedor, que deixe de organizar os referidos dados, em função da publicidade. O sujeito passivo é a coletividade de consumidores, e mediatamente, o Estado.

O tipo objetivo é o descumprimento ao estabelecido no parágrafo único do art.36 do Código de Defesa do Consumidor, instituidora do dever de o fornecedor manter em seu domínio os dados fáticos, técnicos e científicos.

O tipo subjetivo é o dolo genérico, não admitindo a modalidade culposa. Consuma-se no momento em que deveriam ter sido organizados os dados e não o foram.

(42)

Consuma-se com a conclusão da reparação do produto em que foram empregadas peças ou componentes usados. Cuida-se de cnme formal, de conduta comissiva, admitindo-se a tentativa.

Em havendo consentimento do consumidor, estar-se-á diante de conduta atípica.

o

sujeito ativo é o fornecedor, que aufere vantagem indevida em detrimento do consumidor. O sujeito passivo é o consumidor ludibriado, ou potencialmente ludibriado e, mediatamente, o Estado.

O tipo objetivo é a conduta do agente (violação à regra do art. 21) de empregar produtos, peças ou componentes usados, sem autorização do consumidor.

O tipo subjetivo é o dolo, não se admitindo a modalidade culposa. A pena de detenção e multa pode ser cumulada. Busca-se a proteção do patrimônio do consumidor.

O art. 71 consiste em:

"Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento fisico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena - Detenção de três meses a um ano e multa."

Consuma-se com a efetiva utilização dos meIOs ultrajantes na cobrança de dívidas, independente do resultado. A tentativa é admissível. A sanção correlaciona-se

(43)

36

ao estatuído no art. 42 do Código de Defesa do Consumidor. É cnme de ação múltipla, inexistindo a tipificação para a conduta por culpa.

o

sujeito ativo será qualquer pessoa que venha a efetuar ou detenninar a cobrança de dívidas através dos meios previstos no caput deste artigo. O sujeito

passivo é o consumidor devedor que tenha sido cobrado pelos meios referidos.

O tipo objetivo é a conduta excessiva do fornecedor ao cobrar a dívida do consumidor. O tipo subjetivo é o dolo.

No art. 72, temos outra modalidade de conduta delituosa:

"Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às infonnações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:

Pena - Detenção de seis meses a um ano ou multa".

A consumação ocorre quando o agente nega ou dificulta o acesso às infonnações, após solicitação do consumidor, independe de qualquer prejuízo para este. A tentativa não é admitida. É um crime de mera conduta. Este artigo possui correlação com o art. 43 do Código de Defesa do Consumidor.

O tipo objetivo é impedir ou dificultar o acesso do consumidor às infonnações sobre ele existentes em cadastros, banco de dados, fichas e registros. O tipo subjetivo é o dolo, inexistindo a modalidade culposa.

O sujeito ativo será qualquer pessoa que tenha o dever de fornecer as infonnações ao consumidor. O sujeito passivo é o consumidor e, mediatamente, o Estado.

(44)

"Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:

Pena - Detenção de um a seis meses ou multa."

Este artigo possui correlação com o art. 43, parágrafo terceiro, deste código. Trata-se de crime omissivo próprio, não admitindo, portanto, a tentativa. Consuma-se com o decurso do prazo de cinco dias sem que o arquivista ou responsável tenha feito a correção da informação inexata, a partir do momento em que este saiba ou deva saber que tais dados eram inexatos.

o

tipo objetivo é a omissão em comgu, imediatamente ou no prazo, a informação inexata sobre o consumidor. O tipo subjetivo é o dolo, direto ou indireto e a culpa na previsão: deveria saber.

O sujeito ativo é o responsável pelos cadastros que se omitiu. O sujeito passivo é a coletividade de consumidores, particularmente o prejudicado e, mediatamente, o Estado.

E por fim, o último crime contra o consumidor no art. 74:

"Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo:

Pena - Detenção de um a seis meses ou multa."

Cuida-se de crime omissivo próprio, que se consuma com a venda e entrega ao consumidor de bens de consumo duráveis, sem o acompanhamento do termo de garantia contratual preenchido e especificado. Não se admite a tentativa. Possui correlação com o art. 50 deste código.

O sujeito ativo será o fornecedor contratante, que se omitir na entrega do termo de garantia no ato do fornecimento, podendo ser o próprio comerciante. O sujeito

(45)

passivo é a coletividade, o consumidor lesado particulannente e, mediatamente, o Estado.

O tipo objetivo é a omissão na entrega do tenno de garantia. E o tipo subjetivo é o dolo genérico, não admitindo a fonna culposa.

Ressalte-se que não é obrigatório que o produto ou serviço seja disponível com garantia, mas, se o for, obrigatoriamente, deverá ser fornecido o tenno de garantia. Caso contrário, incide o disposto neste artigo.

A partir desta análise, da evolução legislativa e das condutas tipificadas no Código de Defesa do Consumidor, importante o estudo de como é tratada a responsabilidade penal da pessoa juridica no direito comparado, o que será objeto do próximo capítulo.

(46)

DIREITO COMPARADO

1. Introdução

o

dogma societas delinquere non potesr1 por muito tempo se manteve

absoluto, mas aos poucos vem se modificando com a consagração do princípio da responsabilidade penal da pessoa jurídica em muitos países. Proveniente de uma consciência quase universal que diz respeito à necessidade de outorgar ao consumidor uma tutela adicional. Trata-se de uma evolução jurídica significativa.

2. Países em que a responsabilidade criminal das pessoas jurídicas ou coletivas foi consagrada em termos gerais.

Dentro eles, temos a Holanda, países ~o common law e recentemente a França.

(47)

Na Holanda, a Wet Economische Delikten22 de 22 de junho de 1950 adotou a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no Direito Penal Econômico e o art. 51 n

do Código Penal de 1976 ampliou a aplicação para toda a legislação penal.

A Inglaterra há muito tempo adota o princípio da responsabilidade penal das pessoas jurídicas, e desde 1845, diante de uma jurisprudência que admitiu a responsabilidade em infrações cometidas por negligência ou por omissão. E o

Interpretacion Act de 1889 expressamente dispôs que as pessoas coletivas poderiam

responder perante qualquer jurisdição penal através de um representante.

Na Escandinávia, Noruega e Dinamarca admitem, desde 1992, a hipótese. E o Japão, com sua legislação influenciada pelo modelo consuetudinário, também se insere neste grupo.

A adoção do princípio da responsabilidade penal da pessoa jurídica foi a mais importante modificação inserida no novo Código Penal Francês, em vigor desde primeiro de março de 1994, resultante de uma proposta da Comissão de Revisão do Código Penal, criada em 1974 pelo Ministério da Justiça. Tal disposição já se encontrava no projeto Paul Matter e no anteprojeto de Código Penal de 1978. Tem-se notícia de que uma Ordenação do Colbert (1670), as comunidades de cidades, praças

22 A expressão significa Lei dos Delitos Econômicos. ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello. Dos ('rimes contra a Ordem Econômica. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 1995, p.69.

23 ROCHA, Manuel Antonio Lopes. A Responsabilidade Penal das Pessoas Colectivas - Novas Perspectil'as.

Coimbra: Centro de Estudos Judiciários, 1985, p. 131. O art. 51 dispõe: "Os factos puníveis podem ser cometidos por pessoas físicas e pessoas jurídicas. Se um facto punível for praticado por uma pessoa jurídica. o procedimento penal pode ser instaurado, e as penas e medidas (de segurança) previstas na lei podem ser aplicadas: 1) contra a pessoa jurídica; 2) ou contra as pessoas físicas que ordenaram a prática do acto. ou contra aquelas que concretamente assumiram a direcção do comportamento ilícito; 3) ou contra as pessoas indicadas nas alíneas anteriores conjuntamente."

(48)

fortes, vilarejos, os grupos e companhias que praticassem rebelião, violência ou outro crime poderiam ser processados.

A responsabilização penal da pessoa jurídica no direito francês não exclui a responsabilidade das pessoas físicas autores ou partícipes dos mesmos fatos, e elenca em seus artigos 131 a 13 7 as possíveis sanções, dentre elas: a multa (cujo máximo é o quíntuplo do previsto para a pessoa física); a interdição definitiva ou temporária de exercer uma ou várias atividades profissionais ou sociais; o controle judiciário por cinco anos ou mais; o fechamento definitivo ou temporário do estabelecimento utilizado para a prática do delito; a exclusão definitiva ou temporária dos mercados públicos; a interdição por cinco anos ou mais de emitir cheques; o confisco do objeto do crime; a publicação da decisão judicial; e a dissolução. Interessante ainda foi a criação de um registro nacional de antecedentes criminais para as pessoas jurídicas.

3. Países que parecem vir a consagrá-Ia a curto prazo.

Destacam-se a Bélgica, Portugal e eventualmente a Suécia.

Na Bélgica, salvo em casos excepcionais, vigora ainda o princípio da responsabilidade individual. Todavia, admite-se que a pessoa coletiva pode cometer infrações, embora seja penalmente responsável a pessoa singular por intermédio da qual a primeira atuou. Uma comissão lista razões para a entrada em vigor do princípio, tais como: o fato de não ser a pessoa coletiva atingida pela pena; critica a ficção, pois certas penas destinadas a pessoa singular recaem exatamente na pessoa

Referências

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