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O significado da moral para Mill

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

LILIANE DE SOUSA MONTEIRO

O SIGNIFICADO DA MORAL PARA MILL

Natal/RN 2015

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LILIANE DE SOUSA MONTEIRO

O SIGNIFICADO DA MORAL PARA MILL

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Filosofia.

ORIENTADORA:Profª Dra: Maria Cristina Longo Cardoso Dias.

Natal/RN 2015

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LILIANE DE SOUSA MONTEIRO

O SIGNIFICADO DA MORAL PARA MILL

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte dos requisitos para obtenção do grau de bacharel em Filosofia.

Aprovado em:____/____/_____ Filosofia Moderna.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Dra. Maria Cristina Longo Cardoso Dias

Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

___________________________________________ Prof. Dra. Cinara Maria Leite Nahra.

Avaliadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

___________________________________________ Prof. Dr. Markus Figueira da Silva.

Avaliador

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus familiares por sempre estarem presentes ao meu lado, e em especial ao meu avô João Batista de Sousa; aos professores do Departamento de Filosofia por sempre incentivarem seus alunos no decorrer do curso, em especial, à minha orientadora Maria Cristina; e também aos meus amigos e colegas de curso.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por ter me dado força e sabedoria para prosseguir no curso, à minha querida família por ter me apoiado sempre que precisei,agradeço também à minha orientadora Maria Cristina Longo Cardoso Dias pela paciência, pelo apoio e por ter aceitado orientar-me neste trabalho; e aos meus queridos amigos: Alex Rodrigues, Aniele Morais, Eritia Costa, Giuliane Pereira, Ida Carmen, Josemara Dias, Lindiédina Alves, amigos que conheci no curso de filosofia e que levarei comigo para o resto de minha vida.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo explicitar o conceito de moral para Mill. Para que essa noção seja compreendida torna-se necessário que se entenda a natureza humana descrita pelo autor, pois é essa natureza que fundamenta sua definição ética. A natureza humana do indivíduo, para Mill, compreende um elemento central que é a busca dos prazeres e fuga das dores, noção também denominada de tese hedonista. Essa tese é verificada empiricamente, assim como outros componentes dos indivíduos como a capacidade que os mesmos têm de experimentar prazeres de qualidade superior, a capacidade que possuem de agir por hábito e de se desenvolverem qualitativamente ao longo do tempo. Será possível observar que a natureza dos indivíduos para além da tese hedonista, para Mill, possuem mais elementos que propiciam a elaboração de princípios secundários da moral.

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ABSTRACT

The aim of this work is to explain Mill’s concept of morality. In order to comprehend this notion it is necessary to elucidate human nature described by the author, oncethisnature grounds his ethical definition.Individualhuman nature, for Mill,comprisesa central element which is the search for pleasure and scape of pain; this notion is al so namedhedonisticthesis. This thesis is verified empirically, as well as other components of individuals such as capacity of experiencehigher quality pleasures,ability of acting by habit and capability of qualitative development over time. It will be possible to observe that individual's nature goes beyond hedonistic thesis because it possesses more elements which propitiate elaboration of secondary principles of morality.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 SOBRE A NATUREZA HUMANA PARA MILL ... 11

3 SOBRE A UTILIDADE E A DEFINIÇÃO DE MORAL PARA MILL. ... 16

4 A CONSTITUIÇÃO DA MORAL PARA O AUTOR. ... 20

5 CONCLUSÃO ... 24

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo explicar a noção de moral para John Stuart Mill. Para que seja compreendido esse conceito é necessário que a noção de natureza humana seja explicitada, dado que tal noção fundamenta seu conceito ético. Será visto, no primeiro capítulo, que os homens buscam o prazer e fogem da dor (tese hedonista). Esse é o componente central de suas naturezas. Contudo, os humanos, para o autor, possuem mais elementos em suas naturezas como as leis da mente e subteses da tese hedonista que, por sua vez, são três, a saber: as faculdades elevadas que geram a possibilidade de experiência de prazeres de qualidade superior, a capacidade que os agentes possuem de agir pelo hábito, e a possibilidade de se desenvolver ao longo do tempo qualitativamente.

A natureza humana tem uma forte ligação com a moral na filosofia utilitarista, pois constitui seu fundamento. Contudo, será possível perceber no capítulo II do presente trabalho que a moralidade, para Mill, não é uma ciência mesmo sendo deduzida da ciência da natureza humana. Segundo o autor, a moralidade é uma arte em um sentido antigo do termo, pois é composta de preceitos práticos, que para o autor, dependem de enunciados científicos da natureza humana. Restará explicado, também, que a moral, para Mill, possui mais princípios do que apenas o princípio de utilidade, precisamente porque a humanidade possui, em sua natureza, elementos adicionais à tese hedonista. Não obstante, os princípios adicionais ao princípio de utilidade dependem dele, exatamente porque são derivados de elementos da natureza humana que estão submetidos à tese hedonista.

Os princípios adicionais são denominados princípios secundários da moral ou regras do costume. Tais princípios são divididos em regras de conduta da vida humana no que não diz respeito aos outros e regras de conduta da vida no que concerne aos outros indivíduos gerando prazer ou dor. Esses princípios secundários, conforme mencionado, são ancorados no princípio de utilidade, porque são derivações das subteses da tese hedonista que devem maximizar prazer. Tal tema será analisado mais adiante, no Capítulo II.

No terceiro e último capítulo deste trabalho, o estudo tem por base a moral, que por sua vez, é baseada em uma natureza humana, cujo componente principal é a tese hedonista. Tal natureza humana apresenta elementos adicionais que fundamentam a noção de moral para o autor.

Para a realização desse estudo serão utilizados os textos: Utilitarismo, A Liberdade, Sistema de Lógica de Jonh Stuart Mill e textos de outros autores complementares,

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comentadores de Mill para que os levantamentos feitos no presente trabalho sejam bem explicitados aos leitores.

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2 SOBRE A NATUREZA HUMANA PARA MILL

A definição de natureza humana para Mill, em nossa concepção, afirma que os homens buscam os prazeres e evitam as dores, ou seja, maximizam prazer e minimizam dores. A noção de natureza humana, para o autor, é obtida através da experiência e constitui uma ciência.

Para Mill, o primeiro elemento central na noção de natureza humana refere-se às leis da mente, que são generalizações obtidas por indução. Esses enunciados são considerados praticamente universais e revelam como a mente humana funciona.

Além desse componente da natureza humana, tem-se presente na natureza dos indivíduos o que se denominou como tese hedonista que afirma que os mesmos buscam o prazer e fogem da dor. Ademais, para Mill, os indivíduos possuem subteses da tese hedonista em suas naturezas. Essas subteses representam elementos conectados à tese hedonista, pois estão relacionados a ela de alguma forma. As subteses da tese hedonista são três, a saber: faculdades elevadas que possibilitam a experiência de prazeres de qualidade superior, a capacidade que os indivíduos possuem de agir por hábito, e a possibilidade que os mesmos têm de se desenvolver ao longo do tempo qualitativamente.

As faculdades elevadas não são elementos a priori que os indivíduos possuem, pois elas são ativadas pela experiência de prazeres de qualidade superior, prazeres verdadeiramente humanos. A possibilidade que os homens e as mulheres possuem de se desenvolver ao longo do tempo, também é uma subtese da tese hedonista, pois é a partir da experiência de prazeres de qualidade superior que nos desenvolvemos temporalmente, de forma qualitativa. A capacidade de agir por hábito é uma subtese da tese hedonista porque traz benefícios aos indivíduos, uma vez que eles não precisam calcular a todo instante suas ações. Em outras palavras, a capacidade de agir por hábito permite que os agentes tenham mais tempo para se dedicar a outras tarefas, maximizando utilidade.

Mill afirma a possibilidade de uma ciência da natureza humana, embora seja passível de nem sempre poder apresentar a exatidão de uma ciência como a Astronomia, como podemos acompanhar no trecho a seguir:

Ela está muito longe do modelo de exatidão realizado atualmente na Astronomia, mas não há razão para que não seja uma ciência, como a Tipologia o é, ou como a Astronomia o era quando seus cálculos dominavam apenas os fenômenos principais, mas não as perturbações (Mill, Sistema de Lógica, 1999, pág.44).

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A natureza humana é uma fonte de conhecimento e por isso pode ser considerada uma ciência. A ética, ao contrário, é uma arte, pois diz respeito à prática que, contudo, depende dos enunciados científicos.

A ética, para Mill, propõe a felicidade como bem supremo, podendo ser obtida pela maximização de prazeres, especialmente de prazeres de qualidade superior, como a amizade, a sabedoria, o amor, entre outros.

A partir das leis empíricas, do método indutivo, e do método dedutivo inverso se pode deduzir a etologia que é uma ciência de formação do caráter. Mill considerava a psicologia como uma ciência que tinha por objetivo compreender os fatos psíquicos que são estados mentais elementares, produtos das impressões que a experiência proporciona. Tais fatos psíquicos são submetidos às leis da mente que permitem as suas relações. Esses fatos psíquicos consistem em elementos relacionados à busca da felicidade individual, ou seja, liga-se com a preliga-sença do prazer e a ausência de dor.

Para Mill, o primeiro elemento da noção de natureza humana refere-se às leis da mente, que são generalizações obtidas por indução, praticamente universais,que dizem respeito a como a mente humana funciona.

A primeira lei da mente ressalta que toda impressão mental tem sua ideia, ou seja, toda impressão produz ideais que podem ou não ter o objeto presente para serem provocadas.

A segunda lei refere-se às leis de associação. Essas leis dizem respeito às relações de ideias. A primeira lei de associação expressa que ideias similares têm a tendência a se provocarem umas às outras. A segunda lei de associação afirma que quando as impressões forem repetidamente experimentadas, pensadas simultaneamente ou em sucessão imediata, sempre retornará a ideia da relação de umas com as outras. A terceira lei: enuncia que a maior intensidade em uma ou nas duas impressões é equivalente, para torná-las a se provocar umas às outras, a uma maior freqüência de conjunção (Dias, 2011, pág. 137).

Mill afirmou no Capítulo VI do Sistema de Lógica que essas leis tiveram uma determinação pelos métodos da investigação experimental (indução) e que não poderiam ser estabelecidas de outra forma, segundo o autor.

Por indução Mill define que um evento que ocorreu sucessivas vezes provavelmente acontecerá novamente, caso as circunstâncias forem idênticas. Para o autor é através da indução que temos o conhecimento para podermos generalizar enunciados científicos. Portanto, a indução constitui um dos fundamentos das ciências humanas.

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Pode-se dizer que a indução é um princípio lógico pelo qual devemos partir dos casos particulares para os gerais. Ou seja, podemos coletar casos particulares e depois de certo número de casos torna-se possível realizar uma generalização. Em outros termos, pode-se dizer que porque uma situação sempre se repetiu o resultado será provavelmente o mesmo, como por exemplo: a partir da formulação de uma pesquisa em muitos países, com uma grande amostra, conclui-se que os indivíduos buscam prazeres e fogem das dores. Portanto, o resultado obtido por essa pesquisa poderá ser generalizado, por indução.

Já a dedução é a inferência de consequências de determinada definição. Um exemplo de dedução ressalta que se pode considerar que um raciocínio é dedutivo quando uma ou mais conclusões são extraídas de suas premissas. A matemática é um exemplo de tema dedutivo. O método dedutivo é considerado como parte de um método aplicável para a formação do caráter, como podemos acompanhar neste seguinte trecho:

Sendo, então, as leis da formação do caráter o principal objetivo do estudo científico da natureza humana, resta determinar o método de investigação mais adequado para estabelecê-las. Os princípios lógicos de acordo com os quais essa questão deve ser decidida são aqueles que presidem qualquer outra tentativa de investigar as leis de fenômenos muito complexos. É evidente que tanto o caráter de um ser humano como o conjunto das circunstancias que formam seu caráter são fatos da mais alta complexidade. Ora, para tais casos, vimos que o método dedutivo, partindo de leis gerais e verificando suas consequências pela experiência específica, é o único aplicável. Os fundamentos desta importante doutrina lógica foram formulados anteriormente e sua verdade receberá suporte adicional com um breve exame das particularidades do caso presente (Mill, Sistema de Lógica, 1999, pág. 63).

Para Mill o método indutivo fornece leis empíricas e seu principal problema, no que concerne às ciências humanas, é conectá-las às leis da natureza humana ou às leis da mente. As leis empíricas uma vez ligadas às leis da mente e deduzidas formam leis gerais do comportamento humano, leis etológicas ou axiomas do meio que podem ser comparados a novas amostras da experiência.

O método dedutivo inverso consiste justamente no acima exposto, pois parte de leis empíricas extraídas por indução, as combina às leis da mente ou às generalizações mais altas da natureza humana e após efetua dedução para extrair leis do caráter humano ou leis etológicas que podem ser comparadas novamente com a experiência. As leis do caráter humano são resultantes das leis gerais como podemos verificar no seguinte trecho:

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As leis de formação do caráter são, em suma, leis derivadas resultantes das leis gerais da mente e, para obtê-las, devemos deduzi-las dessas leis gerais, supondo um conjunto qualquer de circunstâncias e considerando então qual será de acordo com as Leis da Mente, a influência dessas circunstâncias na formação do caráter (Mill, Sistema de lógica, 1999, página. 67).

A combinação das leis da mente com a tese hedonista (inicialmente uma lei empírica) apresenta um bom exemplo disso, porque é possível aplicar o método dedutivo inverso para a descoberta de uma lei da natureza humana ou do caráter humano. A aplicação do método dedutivo inverso, para esse exemplo, parte da lei empírica observável de que os homens buscam os prazeres e evitam as dores. À tal lei empírica são aplicadas as leis da mente, como as leis de associação, então se associa às ações dos indivíduos às maximizações de prazeres.Uma vez efetuada essa associação parte-se para a dedução de uma lei da natureza humana que ressalta que os indivíduos buscam os prazeres e evitam as dores.

Segundo o autor, é da natureza humana que os indivíduos tenham a possibilidade de se transformar, mudar ao longo do tempo, mas essas mudanças não operam em cada ação,pois é um tipo de mudança gradual com vistas ao aprimoramento dos caracteres, com a tentativa de escolher as circunstâncias que os afetarão em determinadas possibilidades ou quando forem afetados por circunstâncias sociais que derivam dos arranjos institucionais vigentes. Esse desenvolvimento individual pode ser qualitativo, na medida em que os humanos podem passar a experimentar prazeres de qualidade superior.

Adicionalmente, na natureza do indivíduo de Mill está inscrita a possibilidade que os mesmos possuem de agir por hábito. Essa possibilidade da natureza faz com que o agente possa agir de acordo com decisões anteriores, não necessitando calcular a cada ação.

Tanto o hábito quanto a capacidade que o indivíduo possui de se transformar ao longo do tempo são características da natureza humana que estão submetidas à tese hedonista, pois o primeiro elemento faz com que o indivíduo poupe tempo, economize energia e possa agir conforme decisões passadas. Pelo fato do hábito ser benéfico ou útil ao indivíduo, pode-se dizer que é uma subtepode-se da tepode-se hedonista. O pode-segundo elemento, a saber: a capacidade que o indivíduo possui de se transformar ao longo do tempo, também está submetida à tese hedonista, pois está relacionada à experiência de prazeres, inclusive de prazeres de qualidade superior.

Conforme restará claro no próximo capítulo, a natureza humana tem uma forte ligação com a questão da moral, porque o fundamento da moral do indivíduo de Mill é relacionado às leis da natureza humana, às leis empíricas ou às leis da história gerando a

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explicação e o fundamento científico ao princípio da maior felicidade. A tese hedonista é o fundamento científico da moralidade para Mill, pois as leis da moral, segundo o autor, são ancoradas em leis científicas.

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3 SOBRE A UTILIDADE E A DEFINIÇÃO DE MORAL PARA MILL.

A moralidade, de acordo com Mill, não é uma ciência, embora seja deduzida da ciência da natureza humana. Segundo o autor, a moralidade é uma arte no sentido antigo do termo, pois ela é composta de preceitos práticos. Os preceitos morais, para o autor, dependem dos enunciados científicos da natureza humana.

Conforme apresentado no capítulo anterior, o principal enunciado científico da natureza humana é a tese hedonista da qual dependem os outros enunciados científicos, como o fato de que os homens agem, muitas vezes, por hábito, o fato de que experimentam prazeres de qualidade superior e o fato de que eles possuem a capacidade de se desenvolver qualitativamente ao longo do tempo.

Da tese hedonista e dos outros elementos da natureza humana deduz-se o princípio de utilidade que é o princípio fundador de toda noção de moralidade e justiça para Mill. Esse princípio avalia ações na medida em que recomenda que os indivíduos devam maximizar prazer. A seguir apresenta-se a formulação do princípio de utilidade presente no Utilitarismo:

O credo que aceita a utilidade ou o princípio da maior felicidade como a fundação da moral sustenta que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas conforme tendam a produzir o contrário da felicidade. Por felicidade se entende prazer e a ausência de dor: por infelicidade, dor e a privação do prazer. Para dar uma idéia clara do padrão moral estabelecido pela teoria, é preciso dizer muito mais; trata-se de saber, em particular, o que está incluído nas idéias de dor e prazer e em que medida esse debate é uma questão aberta. Mas essas explicações suplementares não afetam a teoria da vida sobre a qual se funda a teoria da moralidade, a saber, que o prazer e a imunidade à dor são as únicas coisas desejáveis como fins, e que todas as coisas desejáveis (as quais são tão numerosas no esquema utilitarista como em qualquer outro) são desejáveis quer pelo prazer inerente a elas mesmas, quer como meios para alcançar o prazer e evitar a dor. (Mill,Utilitarismo, 2000, pág.187).

A formulação do princípio de utilidade, para Mill, apresenta elementos adicionais à derivação da tese hedonista, conforme atesta a própria definição do princípio acima citada, pois ressalta que há mais informações que precisam ser expostas para que se compreenda a busca do prazer ou a maximização da felicidade.

Essas informações adicionais também são derivadas de leis da natureza humana que, contudo, são submetidas à tese hedonista. Conforme mencionado, no capítulo anterior, essas leis são, por exemplo, a capacidade que o indivíduo tem de agir por hábito e a possibilidade que ele tem de se desenvolver ao longo do tempo.

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Esses componentes adicionais da natureza humana são responsáveis por alargar a definição de princípio de utilidade, bem como por permitir que princípios secundários sejam formulados para que o agente se guie no mundo prático.

O elemento da natureza humana denominado hábito significa a capacidade de agir baseado em ações passadas, experiências anteriores. O hábito permite que princípios secundários da moral sejam formulados, porque consente que os agentes observem regras de conduta sem precisarem calcular a todo o momento. A subtese da tese hedonista denominada faculdade superior em relação aos animais permite a experiência de prazeres de qualidade superior, levando os indivíduos a se desenvolver qualitativamente ao longo do tempo. Em outras palavras, a preferência pela experiência de prazeres superiores dos humanos gera regras secundárias da moral como ser benevolente, fazer caridade, ajudar o próximo, estudar, apreciar a arte, etc.

Os princípios secundários podem ser divididos em regras de conduta da vida, interações negativas (em que os indivíduos abstêm-se de fazer o mal) e interações positivas (em que os agentes fazem o bem). As primeiras referem-se a estudar, aprimorar o intelecto e apreciar a arte, as segundas dizem respeito a não matar, não roubar, não quebrar expectativas ou compromissos e as terceiras concernem a fazer o bem aos outros como ser benevolente, fazer caridade, ajudar o próximo, etc.

Tais princípios secundários são ancorados no princípio de utilidade, pois mostram ser regras eficientes maximizadoras de prazer para o convívio social. Eles são regras costumeiras, como podemos observar neste seguinte trecho:

“Embora possa ser um critério de difícil aplicação, ainda assim é melhor do que não ter critério nenhum; em outros sistemas, como todas as leis morais reivindicam autoridade independente não há árbitro comum qualificado para interferir entre elas; suas reivindicações por precedência de uma sobre as outras assentam em pouco menos do que sofismas, e salvo se forem determinadas, como geralmente ocorre, pela influência não reconhecida de considerações utilitaristas, deixam o campo livre à ação de desejos pessoais e parcialidades. Devemos nos lembrar de que apenas nesses casos de conflito entre princípios secundários é necessário apelar para os primeiros princípios. Não há nenhum caso de obrigação moral em que não estejam envolvidos alguns princípios secundários; e, se somente um está envolvido, raramente é possível que haja, no espírito de uma pessoa que admite o princípio em questão, dúvidas a respeito de qual seja” (Mill, Utilitarismo, 2000, pág.215).

No momento da ação o indivíduo age de acordo com as regras morais que pertencem a uma moralidade definida a partir da natureza do indivíduo. Pode-se afirmar que este indivíduo com uma natureza complexa (composta de diversas leis) age em conexão com um

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princípio de utilidade também complexo que permite mais elementos1 além da tese hedonista para sua formulação.

Conforme ressaltado, Mill está de acordo com o fato de que o fundamento da moral é a utilidade ou o princípio da maior felicidade e que as ações são corretas quando promovem a felicidade e errôneas quando promovem o reverso da felicidade. Contudo, segundo o autor, a ética possui princípios secundários também derivados dessa noção de natureza humana composta dos elementos asseverados no capítulo anterior.

Para Mill são as consequências de uma ação que determinam se ela é correta ou incorreta. A teoria hedonista, desse autor, tem como finalidade a promoção do bem-estar geral ou da felicidade. Os indivíduos procuram em suas atividades viver experiências prazerosas e evitar às desagradáveis e dolorosas. Essa perspectiva identifica a felicidade como um bem-estar ou prazer que é mais conhecido por nome de hedonismo, tratando-se da felicidade geral. Segundo o autor o que torna uma ação moralmente valiosa é a maximização de prazer dela derivada. O princípio da utilidade é o critério da moralidade, é o teste da moralidade para a avaliação das ações. Uma ação deverá ser realizada se dela resultar a máxima felicidade possível para as pessoas ou partes que por ela serão afetadas. Por esse motivo o princípio da utilidade também é conhecido como o princípio da maior felicidade. Contudo, caso não seja possível produzir a felicidade ou prazer, os indivíduos devem tentar, pelo menos, minimizar a infelicidade.

Para o autor, uma ação com boas consequências é aquela ação cujos resultados irão contribuir para o aumento da felicidade, do bem-estar, ou por outro lado, gerarão a diminuição da infelicidade do maior número possível de pessoas que por ela possam ser afetadas. Já a causa mais grave causa a infelicidade, e o egoísmo nem sempre causa más conseqüências, como, por exemplo, uma ação que cause prejuízo individual.

Não se pode considerar a própria felicidade mais importante do que a felicidade dos outros. Porém o utilitarismo de Mill não defende que se tenha que renunciar à própria felicidade em nome da felicidade do número maior de pessoas.

Para Mill, o princípio da utilidade exige de cada indivíduo que ele se habitue e não separe sua própria felicidade da felicidade geral, não deixando de lado os seus projetos, sua vida pessoal e seus interesses.

A moralidade utilitarista tem o reconhecimento de que os seres humanos podem sacrificar seus bens pelo bem de outro, mas não pode admitir o sacrifício em si mesmo.

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É sempre importante lembrar que os elementos adicionais à tese hedonista que compõem a natureza humana estão submetidos a essa tese.

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Aquele sacrifício que não aumenta a soma total de felicidade é um desperdício. A única auto-renúncia aplaudida pela moralidade é a devoção à felicidade dos outros, como podemos acompanhar neste seguinte trecho:

Útil não pode ser tomado no sentido egoísta, não pode ser percebido como o que seja benéfico e útil apenas para atender aos interesses individuais. Se levamos em consideração única e exclusivamente o bem individual, pessoal, somos levados a uma posição egoísta. Porém se praticarmos ações que levem, sempre, em consideração o bem dos outros, sem abrirmos mão do nosso próprio bem, estaremos agindo moralmente do ponto de vista do utilitarismo. (Trindade, 2004/2005, pág.98).

As nossas decisões morais devem ser guiadas pelo princípio da utilidade e por princípios secundários ancorados no primeiro princípio. Conforme mencionado, tais princípios secundários são regras do costume que ao longo do tempo mostraram-se eficientes para as interações sociais. Entretanto, esses princípios têm como seu fundamento o princípio da utilidade e caso entrem em conflito, podem ser quebrados à luz de um cálculo de maximização de utilidade apontado pelo primeiro princípio.

Não faltar com a verdade, ou seja, não mentir, é um princípio secundário e, em geral, deve ser seguido. Porém, há casos em que dizer a verdade pode acarretar piores consequências do que mentir e, portanto, não maximizar prazer. Um exemplo ilustrativo poderia ser supor que em caso de guerra um indivíduo pede abrigo para fugir dos soldados, quando esses soldados forem à procura do fugitivo e o dono da casa não entregar esse indivíduo, a partir de uma mentira, ele estará fazendo um bem, estará livrando uma pessoa dos maus tratos e da morte. Nesse caso mentir seria o mais recomendável, pois maximizaria prazer.

Portanto, a moralidade, para Mill, é constituída do princípio da utilidade derivado da tese hedonista e de subteses da tese hedonista que compõem a natureza humana. Como a natureza humana, para Mill, é composta de mais elementos para além da tese hedonista, como o agir por hábito, faculdades elevadas que possibilitam a experiência de prazeres superiores e a capacidade que os indivíduos possuem de se desenvolver qualitativamente, outros princípios adicionais ao princípio da utilidade puderam ser verificados, como os princípios secundários, que, contudo, são apenas válidos porque são ancorados no princípio primeiro.

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4 A CONSTITUIÇÃO DA MORAL PARA O AUTOR.

Para Mill a moral é baseada em uma natureza humana cujo principal componente é a tese hedonista. Contudo, tal natureza apresenta elementos adicionais como a capacidade de agir por hábito, faculdades elevadas que experimentam prazeres de qualidade superior, fazendo com que os humanos possam se desenvolver qualitativamente ao longo do tempo, conforme mostrado nos capítulos anteriores. Segundo demonstrado, essa natureza permite a elaboração do princípio de utilidade e de princípios secundários da moral.

O princípio de utilidade possui todas as sanções pertencentes aos outros sistemas da moral que são as sanções externas e internas. A sanção interna é constituída por um sentimento de dor pelo fato do agente ter violado o princípio de utilidade, ou em outros termos, por não ter maximizado felicidade. Um exemplo ilustrativo dessa sanção, já mencionado no capítulo I, é aquele em que um cidadão, quando há guerra, dá abrigo a um fugitivo para que este se salve da morte e inclusive mente aos soldados para salvar a vida do indivíduo. Ao mentir para salvar uma vida, o indivíduo maximizou felicidade e, portanto, não sentiu culpa ou remorso com a sua ação. Ao contrário, o agente experimentou um sentimento de prazer derivado da maximização de felicidade.

A sanção externa ocorre quando a comunidade ou parte dela entende que certa pessoa age de acordo com o princípio da utilidade. Tal sanção constitui a aprovação de membros da sociedade em relação a ações praticadas por alguém.

Tanto a sanção interna quanto a sanção externa são instrumentos de aprovação ou desaprovação moral que fazem os indivíduos convergirem seus interesses e ações com os interesses da comunidade, podemos observar isto neste trecho a seguir:

Portanto, toda a força da recompensa ou das punições externas, quer físicas ou morais quer procedam de deus ou de nossos semelhantes, somada a tudo o que a natureza humana pode comportar de devoção desinteressada a deus ou aos homens, torna viável o cumprimento da moralidade utilitarista, na medida em que for reconhecida; e tanto maior a força com que isso ocorrer, tanto mais tenderão para esse fim a educação e a cultura geral.

Isso basta quanto às sanções externas. A sanção interna do dever, seja qual for nosso critério de dever, é sempre a mesma: um sentimento em nosso próprio espírito, uma dor, mais ou menos aguda, que se segue a violação do dever, e que as naturezas morais propriamente cultivadas experimentam num grau tal que, nos casos mais graves, as faz recuar diante desta violação como diante de uma impossibilidade. (Mill, Utilitarismo, 2000, pág.219 e 220).

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O progresso da educação e da sociedade pode minimizar grandes calamidades dos indivíduos, como a perda da saúde, a morte prematura de um ente querido e o estado de miséria material. Esses mesmos progressos ou desenvolvimentos sociais devem aprimorar as instituições a um ponto tal que passem a estimular a convergência dos interesses dos indivíduos com os interesses sociais.

Em outras palavras, o progresso social, incluindo a melhoria da educação dos indivíduos, deve levar ao fortalecimento da sanção interna dos agentes no que concerne à maximização de felicidade.

Ou seja, a moral utilitarista, não é uma moral egoísta ou uma moral que não contém o sentimento de dever nos humanos. Ao contrário, é uma moral que possui um tipo de sanção (a interna), que uma vez estimulada passa a unir os sentimentos individuais aos coletivos, conforme demonstra a passagem a seguir:

Esse sentimento, quando desinteressado,quando ligado a idéia pura do dever, e não a uma de suas formas particulares, nem a nenhuma circunstância meramente acessória, constitui a essência da consciência, ainda que nesse fenômeno complexo, tal como realmente existe, o fato simples esteja em geral todo incrustado de associações colaterais derivadas da simpatia, do amor, e ainda mais do medo, de todas as formas de sentimento religioso, das recordações da infância e de toda a nossa vida passada, da auto-estima, do desejo de ser estimado pelos outros, e as vezes até mesmo de humildade. (Mill, Utilitarismo, 2000, pág.219 e 220).

O desenvolvimento da educação e de outros elementos sociais podem reforçar a sanção moral interna do princípio de utilidade nos indivíduos, porque os mesmos possuem em suas naturezas faculdades elevadas capazes de experimentar prazeres de qualidade superior que levam ao desenvolvimento individual ao longo do tempo.

Ora, o utilitarismo, portanto, assim como outros sistemas morais é capaz de gerar o sentimento de dever nos agentes. Embora Mill sempre ressalte que esse sentimento de dever de maximizar a felicidade geral não exclui a felicidade individual.

Assim, a moral utilitarista, segundo se observou é uma moral conforme a noção de natureza humana que inclui a tese hedonista e elementos adicionais como as faculdades elevadas que levam o indivíduo a experimentar prazeres de qualidade superior e a se desenvolverem ao longo do tempo. Além disso, a natureza humana possui a capacidade de agir por hábito.

O princípio da utilidade ou princípio da maior felicidade é o princípio fundador da noção de moral e justiça para Mill. Conforme se verificou ele contém a tese hedonista, mas

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abre espaço para que princípios secundários da moral como não roubar, não matar, apreciar a arte e o estudo sejam formulados.

Os princípios secundários da moral são os mais fáceis de serem assimilados, porque possuímos em nossa natureza a capacidade de agir por hábito que permite que não precisemos efetuar um cálculo a cada ação para decidir se ela é correta. Em outros termos, decisões passadas embasadas no princípio da utilidade podem ser repetidas com ajuda do hábito. Essas regras costumeiras da moral, contudo, podem ser violadas em caso de conflito para maximizar a felicidade, como podemos verificar na seguinte passagem:

Os princípios secundários têm sua origem no primeiro princípio, mas se perpetuarão como tal, devido a outros elementos da natureza humana, ainda que estes elementos estejam subordinados à tese hedonista ou à associação com o benefício ou derivem seu valor da felicidade. O princípio primeiro, conforme mencionado era o princípio de utilidade que apesar de ser o fundamento da moral utilitarista, não deixa de ser um preceito. Os princípios secundários ou outras regras da moral são: não matarás, não roubarás, aprecie a arte, estude, obtenha prazeres humanos de (qualidade superior), etc. Estas regras, (além do princípio de utilidade) fazem parte da moralidade, são os chamados princípios secundários,e constituem uma arte. (Dias, 2011, pág. 129).

A sanção interna e a sanção externa formam uma espécie de coação para que os indivíduos ajam moralmente. Entretanto, é apenas porque possuem naturezas capazes de sentir prazeres e dores qualitativamente superiores que podem ser impelidos a agir conforme essas sanções.

O cultivo da sanção interna (um sentimento de prazer por maximizar a felicidade) ligada às faculdades superiores, aos prazeres superiores e à capacidade que os indivíduos têm de se desenvolver ao longo do tempo garante que os humanos possam agir por dever de aperfeiçoar a felicidade geral, afastando o utilitarismo do egoísmo.

Portanto, tentamos demonstrar que devido à natureza humana descrita por Mill, a moral utilitarista é composta pelo princípio da utilidade, princípios secundários e de sanções, como a interna, que obrigam os indivíduos a agir por dever.

Enfim, pudemos entender segundo o estudo realizado neste trabalho que a moral, segundo Mill, tem como princípio primeiro o princípio de utilidade que é baseado na natureza humana, sendo a tese hedonista o seu principal componente. Essa natureza apresenta elementos adicionais, como as faculdades elevadas que levam à experiência de prazeres superiores, a possibilidade de agir por hábito e a capacidade que os indivíduos possuem de se desenvolver qualitativamente.

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Conforme demonstrado, essas características adicionais da natureza humana possibilitam que mais princípios componentes da moral sejam formulados. Observou-se que tanto a capacidade de agir por hábito, quanto a possibilidade de experimentar prazeres de qualidade superior favorece o desenvolvimento da moral com a composição de regras costumeiras ou princípios secundários da moral, através de suas sanções (interna e externa)

Segundo o autor, notamos que os princípios secundários da moral têm a facilidade de serem mais facilmente assimilados, porém podem ser violados em caso de conflito para a maximização da felicidade.

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5 CONCLUSÃO

No estudo realizado no presente trabalho foi explicitada a definição da natureza humana, para John Stuart Mill, em que o elemento central é a busca de prazeres e fuga das dores, ou seja, a maximização dos prazeres e minimização das dores. Esta noção e os outros componentes da natureza humana são obtidos, para o autor, através da experiência, constituindo uma ciência.

Vimos também que a natureza humana tem uma relação com a ética, pois esta, embora não seja uma ciência, é derivada dela. A natureza humana é uma fonte de conhecimento originada pela experiência, por isso pode ser chamada de ciência. A ética, por sua vez, é uma arte no que diz respeito à prática, contudo, dependendo dos enunciados científicos para sua formação.

Segundo o autor, os indivíduos têm a possibilidade de mudar, de se transformar ao longo do tempo, de experimentar prazeres de qualidade superior e, além disso, detêm a capacidade de agir por hábito. Essas características pertencem à natureza humana, mas estão submetidas à tese hedonista, como foi mostrado no capítulo I. A natureza humana possui uma ligação forte com a moral porque é o fundamento dela. Como no exemplo: a tese hedonista é o fundamento científico da moralidade para o autor, pois as leis da moral são ancoradas em leis científicas.

Além desse elemento central da natureza humana, observou-se a ocorrência de subteses da tese hedonista. Essas subteses da tese hedonista, como foi explicitado no capítulo I, são três, a saber: faculdades elevadas que fazem com que os indivíduos possam experimentar prazeres de qualidade superior, a possibilidade que os mesmos têm de se desenvolver ao longo do tempo qualitativamente e a capacidade que os indivíduos possuem de agir por hábito.

Foi estudado também que as faculdades elevadas não são elementos a priori possuídos pelos indivíduos, porque elas são ativadas pela experiência de prazeres unicamente humanos. Ademais, pudemos perceber que a possibilidade que os homens e mulheres possuem de se desenvolver ao longo do tempo é uma subtese da tese hedonista porque a partir da experiência de prazeres de qualidade superior, esses indivíduos são aprimorados. A capacidade de agir por hábito, uma subtese da tese hedonista, é considerada um benefício para os indivíduos porque não se tem a necessidade de efetuação do cálculo a cada ação, ou seja, essa capacidade permite aos indivíduos pouparem tempo e, portanto, maximizarem prazer.

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Além disso, notamos, que para o autor, a felicidade é um bem supremo obtido pela maximização de prazer, principalmente de prazeres de qualidade superior, como a sabedoria, o amor, a amizade, a moral, entre outros.

As leis empíricas do método indutivo, dedutivo e dedutivo inverso deduzem a etologia, que por sua vez, é uma ciência da formação do caráter. Para Mill, pudemos perceber que a psicologia como uma ciência tem por objetivo compreender fatos psíquicos, os estados mentais elementares, produtos de impressões proporcionadas pela experiência.

Foi definido no capítulo I, que a indução é um método para elaboração de enunciados científicos que ressalta que um evento ocorrido sucessivas vezes provavelmente acontecerá novamente, caso as circunstâncias sejam idênticas. Para o autor, é também pela indução que temos o conhecimento para generalizar enunciados científicos. Este método constitui um dos fundamentos das ciências humanas.

Já a dedução é a inferência de consequências de determinada definição. Pode-se considerar que um raciocínio é dedutivo quando uma ou mais conclusões são extraídas de suas premissas. Podemos considerar a matemática como um exemplo de matéria que se utiliza do método dedutivo.

Tais métodos também são empregados para efetuar ciência da natureza humana. Além dos elementos da natureza humana acima mencionados, foram descritas as leis da mente que são enunciados considerados praticamente universais, obtidos por indução.

No presente trabalho foi visto que, para Mill, existem três leis da mente, quais sejam: a) a primeira ressalta que toda impressão mental produz ideias b) a segunda lei refere-se às leis de associação, dizendo respeito às relações de ideias. Tais leis afirmam que quando as impressões forem repetidamente experimentadas, pensadas simultaneamente ou em sucessão imediata, toda vez que uma dessas ideais retornar à mente as outras retornarão em conjunto e c) a terceira lei: enuncia que a maior intensidade em uma ou nas duas impressões é equivalente, para torná-las a se provocar umas às outras, a uma maior frequência de conjunção(Dias, 2011, pág.

137).

O método dedutivo inverso deve ser aplicado para a descoberta de leis da natureza humana ou do caráter humano.Utilizando esse método para reconstruir a formulação da tese hedonista parte-se da lei empírica observável de que os homens buscam os prazeres e evitam as dores, tal lei empírica é aplicada às leis da mente, como às leis de associação, pois associam-se as ações dos indivíduos à maximização de prazeres.

Depois de efetuada tal associação (das ações humanas com a maximização de prazeres) parte-se para a dedução de uma lei da natureza humana que ressalta que os

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indivíduos buscam os prazeres e evitam as dores. Essa lei é testada novamente, pois é comparada a uma amostra de indivíduos. Como esses indivíduos agem buscando os prazeres e evitando as dores, a tese hedonista é mantida.

A tese hedonista constitui um componente da natureza humana que afirma que os indivíduos buscam o prazer e fogem da dor. Em outros termos, é porque se observa que as ações humanas estão associadas à busca do prazer e fuga da dor que se pode afirmar a tese hedonista.

No segundo capítulo foi explicada a questão da moralidade que para Mill não é uma ciência, mas é deduzida da ciência da natureza humana. Em outras palavras, a ética é uma arte sendo composta de preceitos práticos e tais preceitos dependem de enunciados científicos da natureza humana.

Foi demonstrada,no segundo capítulo, a formulação do princípio de utilidade que tem como elemento central a tese hedonista, mas que segundo o autor apresenta elementos adicionais à derivação desta tese, ressaltando que há mais informações que necessitam ser expostas para que se tenha uma compreensão clara acerca da busca do prazer ou da maximização de felicidade. As informações adicionais são derivadas também das leis da natureza humana sendo submetidas à tese hedonista, conforme mencionado no capítulo I. O agir por hábito, a experiência de prazeres de qualidade superior e a possibilidade dos indivíduos se desenvolverem ao longo do tempo qualitativamente são componentes da natureza humana que alargam a definição de princípio de utilidade, possibilitando a formulação dos princípios secundários da moral. Tais princípios são ancorados no princípio de utilidade, porque são regras que ao longo do tempo mostraram-se eficientes, pois, em geral, maximizam o prazer para o convívio social.

As regras do costume são divididas em regras de conduta da vida, regras de relacionamento entre indivíduos gerando prazer e regras de relacionamento entre agentes evitando a geração de dor. As primeiras regras dizem respeito a estudar, tomar cuidado consigo, apreciar a arte, entre outras. As segundas referem-se a ser benevolente, cultivar a simpatia, o amor à amizade, etc. As terceiras dizem respeito a não quebrar expectativas, não causar danos a outrem.

Segundo o autor o princípio de utilidade é o fundamento da moral e a ética possui princípios secundários que também são derivados da noção de natureza humana. Dentro dessa perspectiva pode-se afirmar que as consequências são o que determinam se uma ação é correta ou incorreta e a maximização de prazer é o que torna uma ação moralmente valiosa.

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Adicionalmente, foi estudado que não se deve, ao considerar a própria felicidade, causar danos a outros, mas não é necessário que se renuncie à felicidade individual, para que se aja conforme o princípio da utilidade. As decisões morais dos indivíduos devem ser guiadas pelo princípio de utilidade e pelos princípios secundários ancorados no primeiro princípio.

No terceiro e último capítulo foi tratada a questão da moral que tem por base uma natureza humana cujo principal componente é a tese hedonista. Foi ressaltado que o princípio de utilidade possui todas as sanções que pertencem aos outros sistemas da moral como as sanções externas e internas. Afirmamos que a melhoria das instituições possui uma grande importância, pois pode reforçar a sanção moral interna que é um sentimento de prazer por gerar maximização de prazer para os envolvidos. A sanção externa é a aprovação de membros da comunidade pelo fato dos indivíduos agirem conforme o princípio da utilidade.

Por fim, compreendemos que a moral é convertida de uma natureza humana que para além da tese hedonista apresenta elementos como as faculdades elevadas, o agir por hábito e a capacidade que os indivíduos têm de se transformar ao longo do tempo. Dessa natureza humana, extrai-se o princípio de utilidade que é o princípio que funda a noção da moral e justiça para Mill. Foi notado, segundo o autor, que os princípios secundários da moral são baseados no princípio primeiro e são mais fáceis de serem assimilados pelos sentimentos humanos. Contudo, em caso de conflito, podem ser violados em proveito da maximização da felicidade ou dos prazeres.

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REFERÊNCIAS

BRITO; José de Sousa e. A Questão dos Fundamentos da Ética em Bentham e em Mill. Revista Iberoamericana de Estudos Utilitaristas-2003, XXII/2:00-00

DIAS; Maria Cristina Longo Cardoso. A ampliação do espaço da moral no utilitarismo de Jonh Stuart Mill: uma comparação com a moral do utilitarismo de Bentham. São Paulo, 2011. MILL; Jonh Stuart. A lógica das ciências morais. São Paulo: Iluminuras, 1999.

MILL; Jonh Stuart. Utilitarismo (1861) Tradução Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Utilitarism.Edited by Roger Crisp. New York: Oxford University Press, 1998. Liberdade. Tradução Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

OLIVEIRA; Wilton. Aspectos da Filosofia Moral de Jonh Stuart Mill. Itech- Campinas.

TRINDADE; Sérgio Luiz Bezerra.Mestre em Ciências Sociais, Professor da Farn. E-mail:sltrindade@yahoo.com.br. Ética Utilitarista de Jonh Stuart Mill, 2004/2005.

Referências

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