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Projeto de adequação às normas que tratam do uso de substâncias químicas restritas no setor de aviamento têxtil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

PROJETO DE ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS QUE TRATAM DO USO DE

SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS RESTRITAS NO SETOR DE AVIAMENTO

TÊXTIL

CAROLINY NAIRA LOPES SILVA

NATAL – RN

2020

(2)

CAROLINY NAIRA LOPES SILVA

PROJETO DE ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS QUE TRATAM DO USO DE

SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS RESTRITAS NO SETOR DE AVIAMENTO

TÊXTIL

Trabalho de conclusão de curso de graduação

apresentado à Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito para a obtenção

do título de Engenheira Química.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Katherine Carrilho de

Oliveira

Coorientador: Eng. Quím. Francisco Fernandes

da Costa Filho

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CAROLINY NAIRA LOPES SILVA

PROJETO DE ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS QUE TRATAM DO USO DE

SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS RESTRITAS NO SETOR DE AVIAMENTO

TÊXTIL

Trabalho de conclusão de curso de graduação

apresentado à Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito para a obtenção

do título de Engenheira Química.

Natal, 21 de Julho de 2020.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Katherine Carrilho de Oliveira

Orientadora - UFRN

__________________________________________________

Eng. Quím. Francisco Fernandes da Costa Filho

Coorientador

__________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Magna Angélica dos Santos Bezerra Sousa

(4)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus e à Nossa Senhora por todas as graças alcançadas em minha vida!

Aos meus pais, Vanderley e Tereza, que são o meu alicerce e a minha grande motivação para enfrentar todas as adversidades. Muito obrigada por tudo que fizeram e fazem por mim!

À toda a minha família, em especial ao meu irmão, Rafael, que me apoiou nas decisões que tomei e compartilhou comigo os seus conhecimentos de engenharia.

Ao meu namorado, João Neto, que esteve ao meu lado durante toda a graduação, sempre me motivando, principalmente nos momentos difíceis que pensei em desistir de tudo. Sou muito grata por tê-lo como meu companheiro de vida!

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Katherine Carrilho, que foi muito solícita, sugerindo as melhores ideias para a elaboração deste trabalho, além de fazer uma correção minuciosa para que tudo fosse feito da melhor forma possível. Foi uma honra tê-la como professora e orientadora!

Ao meu coorientador, Eng. Quím. Fernandes Costa, que além de sugerir melhorias ao meu trabalho, foi também o meu supervisor de estágio. Obrigada pela confiança, conselhos e aprendizados!

À empresa de aviamentos têxteis que me proporcionou conhecimentos técnicos na área de galvanoplastia e conhecimentos que não se encontram em livros e sim na vivência prática do chão de fábrica, que são o trabalho em equipe e a resolução rápida de problemas.

Aos docentes do curso de Engenharia Química da UFRN, por tanto aprendizado compartilhado, em especial à Prof.ª Dr.ª Magna Angélica, pelo carinho e disponibilidade para avaliar este trabalho.

Aos meus verdadeiros amigos que torceram por mim e foram a minha válvula de escape ao longo de toda a graduação!

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Em tudo amar e servir!

(6)

RESUMO

A indústria têxtil utiliza inúmeros produtos químicos, sendo uma parcela considerada nociva aos seres humanos e ao meio ambiente. Preocupados com isso, diversos países criaram normatizações a fim de reduzir e controlar o uso dessas substâncias. No Brasil, a NBR 16787 criada em 2019, estabelece os requisitos para utilização de substâncias químicas em têxteis de vestuário e para o lar, assim como os métodos de ensaio para a detecção e qualificação destas. Acredita-se que em breve as empresas brasileiras serão obrigadas a atender tais medidas. Logo, este trabalho visa apresentar um projeto de adequação a essas normas. O projeto Eco Botões foi implementado em uma empresa de aviamentos, mas a sua metodologia pode ser ampliada para toda a cadeia de suprimentos têxteis, de modo a auxiliar as indústrias do setor a se ajustar às novas tendências de padrão de consumo. Para o planejamento deste projeto utilizou-se a ferramenta de gestão visual Compact Canvas. As suas etapas constituíram de um mapeamento dos produtos químicos utilizados na empresa em estudo, cruzamento de informações, identificação e listagem das substâncias restritas presentes no processo, busca por soluções alternativas, análise econômica e ambiental e por fim, uma pesquisa de mercado com o objetivo de traçar o perfil dos consumidores de artigos têxteis. O resultado obtido foi a execução de um projeto capaz de criar uma nova linha de produção que atenda às demandas de mercado, e com isso espera-se aumentar a competitividade da empresa, ampliar o seu portfólio, conquistar novos clientes, obter certificados internacionais, possibilitar a exportação de seus produtos e o mais importante que é busca pela sustentabilidade e integridade da saúde dos clientes e colaboradores.

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ABSTRACT

The textile industry uses countless chemicals product, a portion considered harmful to humans and the environment. Concerned about this, a lot of countries have created standards to reduce and control the use of these substances. In Brazil, NBR 16787 created in 2019, establishes the requirements for the use of chemical substances in clothing textiles and home, as well as the test methods for their detection and qualification. It believed which Brazilian companies will soon be required to comply with such measures. Therefore, this work aims to present a project to adapt to these standards. The Eco Botões Project was implemented in a sewing company, but its methodology can be extended to the entire textile supply chain, in order to help the industries in the sector to adjust to the new trends in consumption patterns. The Compact Canvas visual management tool was used for planning this project. Its steps consisted of mapping the chemical products used in the company under study, crossing information, identifying and listing the restricted substances present in the process, searching for alternative solutions, economic and environmental analysis and, finally, market research with the objective to profile consumers of textile articles. The result obtained was the execution of a project capable of creating a new production line which attends the market demands, and with that it is expected to increase the company's competitiveness, expand its portfolio, win new customers, obtain international certificates, enable the export of its products and the most important is the search for sustainability and integrity of the health of customers and employees.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Esquema de eletrólise...16

Figura 2 – Fluxograma genérico do processo galvânico...17

Figura 3 – Dermatite alérgica de contato causada por anel contendo níquel...19

Figura 4 – Reação alérgica ao níquel...19

Figura 5 – Modelo do Certificado OEKO-TEX® Standard 100...29

Figura 6 – Rótulo ecológico Blue Angel...30

Figura 7 – Modelo da marca TOXPROOF...30

Figura 8 – Rótulo ecológico da UE...31

Figura 9 – Tela inicial do Compact Canvas...35

Figura 10 – Macro etapa no Compact Canvas...36

Figura 11 – Fluxograma de bloco do projeto...39

Figura 12 – Etapa 1 no Compact Canvas...40

Figura 13 – Etapa 2 no Compact Canvas...44

Figura 14 – Etapa 3 no Compact Canvas...45

Figura 15 – Etapa 4 no Compact Canvas...46

Figura 16 – Etapa 5 no Compact Canvas...47

Figura 17 – Esquema de um tanque de lavagem com condutivímetro...50

Figura 18 – Lavagem com spray...51

Figura 19 – Etapa 6 no Compact Canvas...51

Figura 20 – Etapa 7 no Compact Canvas...52

Figura 21 – Faixa etária...52

Figura 22 – Grau de escolaridade...52

Figura 23 – Renda familiar mensal...53

Figura 24 – Gasto mensal com artigos têxteis...53

Figura 25 – Aspectos relevantes no ato da compra...53

Figura 26 – Intenção de compra de produtos ecologicamente correto...54

Figura 27 – Motivação para comprar produtos certificados...54

Figura 28 – Responsabilidade ambiental das indústrias têxteis brasileiras...55

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Metais pesados e sua toxicidade...20

Quadro 2 – Categorização de produtos químicos com base em funções...33

Quadro 3 – Subsetores que possuem substâncias restritas...41

Quadro 4 – Relação de substâncias restritas presentes no processo...44

Quadro 5 – Adaptado da RSL 2020...63

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Parâmetros de controle do efluente...49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção AAFA American Apparel & Footwear Association

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AFIRM Apparel and Footwear International RSL Management APEOs Alquil Fenol Etoxilados

BBP Ftalato de Butilbenzil

BJD British Journal of Dermatology BRM Mistura de Borracha Preta CAS Chemical Abstract Service

CCPSA Canada Consumer Product Safety Act

CE Comissão de Estudos

CIQ Chinese Inspection and Quarantine

CMR Cancerígenas, Mutagênicas e Tóxicas para a Reprodução CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CONASP Conselho Nacional da Segurança Pública

CPSC United States Consumer Product Safety Commission CPSIA The Consumer Product Safety Improvement Act DAC Dermatite Alérgica de Contato

DB Disperse Blue

DBP Dibutilftalato

DDs Disperse Dyes

DEHP Di (2-etil-hexil) -ftalato DIDP Diisodecilftalato DINP Di-iso-nonilftalato DNOP Di-n-octilftalato

DO Disperse Orange

DQAM Departamento de Qualidade Ambiental na Indústria

DQO Demanda Química de Oxigênio

DR Disperse Red

DY Disperse Yellow

ETE Estação de Tratamento de Efluentes

FISPQ Ficha de Informação de Segurança de Produtos Químicos GCC General Certificate of Compliance

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ISO Organização Internacional de Normalização

LCM Life Cycle Management

MMA Ministério do Meio Ambiente

mPmB Muito Persistentes e Muito Bio-acumuláveis

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development PAH’s Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos

PFCs Químicos Perfluorados

PPD Para-fenilenodiamina

PVD TiN Nitreto de Titânio

REACH Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals RSL Restrict Substance List

SCCP Parafinas Cloradas de Cadeia Curta

SMCQ Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental SVHC Substance of Very High Concern

TBT Tributiltin

TDM Textile Dye Mixture

UE União Europeia

(12)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...13

2. OBJETIVOS...14

2.1 OBJETIVO GERAL. ...14 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...14

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...14

3.1 CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA TÊXTIL...14

3.1.1 Aviamentos e Galvanoplastia...15

3.2 TOXICIDADE NO SETOR TÊXTIL...18

3.2.1 Normas e Regulamentações...23

3.2.2 Certificações...28

3.3 REDUÇÃO DA TOXICIDADE...31

4. METODOLOGIA...35

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...40

5.1 ESTUDO DAS NORMATIZAÇÕES...40

5.2 MAPEAMENTO DOS PRODUTOS QUÍMICOS...40

5.3 RELAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS RESTRITAS...44

5.4 PROPOSTAS DE SOLUÇÃO...45

5.5 ANÁLISE ECONÔMICA...46

5.6 ANÁLISE AMBIENTAL...48

5.7 PESQUISA DE MERCADO E PERFIL DOS CONSUMIDORES...52

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...56

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...58

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13

1. INTRODUÇÃO

O setor têxtil e de confecção brasileiro tem destaque no cenário mundial, não apenas por seu profissionalismo, criatividade e tecnologia, mas também pelas dimensões de seu parque fabril: é a quinta maior indústria têxtil do mundo, o segundo maior produtor de denim (tipo de tecido comumente usado para a fabricação do jeans) e o terceiro na produção de malhas (IMEI, 2016).

Dentro da indústria têxtil existe o setor de aviamentos que compreende botões, zíper, plaquetas, fivelas, ilhós, rebites, argolas, dentre outros. Caso esses aviamentos sejam metálicos, muitos deles precisão passar pelo processo de galvanoplastia, isto é, o acabamento metálico a fim de conferir o brilho exigido para a peça, evitar corrosão e com isso aumentar a sua durabilidade. Os processos galvânicos exigem a presença de uma variedade de substâncias químicas, que os tornam complicados de se manipular já que se faz necessário controlar diversas variáveis, como pH, temperatura, concentração, condutividade, presença de contaminantes e aditivos para brilho e nivelamento.

As substâncias químicas proporcionam vários benefícios à sociedade, tais como a viabilização da agricultura em larga escala, a produção industrial e o controle de doenças. Por outro lado, estas substâncias estão associadas a danos potenciais à saúde e ao meio ambiente, em todo o seu ciclo de vida, desde a sua produção até a sua destinação final.

A maior parcela das nações industrializadas já reconheceu a necessidade de regulamentar o tratamento de substâncias químicas restritas, isso porque apresentam potenciais riscos à segurança, saúde e meio ambiente. Um dos entraves para a comercialização dos produtos no mercado global é a variação entre os regulamentos e restrições em cada região, logo a padronização das normas é uma alternativa para a transparência na informação e competitividade nos mercados.

Este projeto surgiu da necessidade em esquematizar um passo a passo para implementação de uma nova linha de produção na área de acabamentos metálicos da indústria têxtil, que atenda às exigências internacionais relacionadas ao uso de substâncias químicas nocivas, visto que existe um déficit de material bibliográfico de origem brasileira e projetos de empresas nacionais relacionadas à área de substâncias restritas em têxteis. O projeto pode vir a contribuir com a indústria têxtil e a comunidade acadêmica de Engenharia Química, tendo em vista que os conhecimentos adquiridos ao longo do curso podem ser aplicados nessa temática.

Com isso, os benefícios esperados por meio deste projeto são: adequação das substâncias químicas consideradas nocivas ao processo de galvanoplastia; conquista e manutenção de clientes que exijam produtos dentro das normatizações internacionais; diferenciação no mercado, através de certificações; transparência e qualidade na informação dos produtos químicos; garantia do uso seguro das substâncias químicas; otimização do desempenho de sustentabilidade de produtos e empresas; minimização dos impactos ambientais; marketing verde; construção de uma imagem confiante e positiva no mercado; preservação da integridade/saúde do colaborador, entre outros.

(14)

14

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Elaborar um projeto de implementação para controle e/ou eliminação de substâncias químicas nocivas que se encaixe no setor de galvanoplastia de aviamentos têxteis.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Descrever as principais normatizações já estabelecidas no mundo;

b) Apresentar um modelo de projeto para adequação às normas do uso de substâncias nocivas da indústria têxtil;

c) Descrever as etapas do projeto baseado na ferramenta Compact Canvas; d) Realizar a análise econômica e ambiental;

e) Traçar o perfil dos consumidores;

f) Apresentar soluções sustentáveis para o setor de galvanoplastia.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA TÊXTIL

Sabe-se que o setor da indústria têxtil é um dos mais fortes no Brasil, isso porque foi um dos pioneiros no processo de industrialização do nosso país. Este setor é o segundo maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para alimentos e bebidas (juntos), gerando em torno de 1,5 milhão de empregos diretos e 8 milhões se adicionarmos os indiretos, dos quais 75% são de mão de obra feminina (ABIT, 2019).

Segundo os dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) o faturamento da cadeia têxtil e de confecção em 2018 foi US$ 48,3 bilhões, contra US$ 52,2 bilhões em 2017, embora o investimento no setor e a produção média têxtil tenham caído em 2017 para U$ 894,4 milhões, contra U$ 985 milhões e 1,2 milhão de toneladas, contra 1,3 milhão de toneladas, respectivamente. Mesmo com essa redução ainda é um setor de elevada relevância para a economia brasileira. Além das mais de 100 escolas e faculdades de moda, o Brasil deixará de ser importador para se tornar potencial exportador para a cadeia sintética têxtil mundial com o advento do pré-sal, visto que as fibras sintéticas são originárias de polímeros petroquímicos como o acrílico, nylon, poliéster, polipropileno, elastano, dentre outras.

(15)

15 O Brasil é a maior cadeia têxtil completa do ocidente. O país contempla desde a produção das fibras, como plantação de algodão, até os desfiles de moda, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e forte varejo, sendo referência mundial em design de moda praia,

jeanswear e homewear, tendo crescido também nos segmentos de fitness e lingerie (ABIT, 2018).

3.1.1 Aviamentos e Galvanoplastia

Há relatos que os aviamentos como, alfinetes, presilhas e fivelas surgiram na idade média e eram objetos luxuosos e tinham uma função ornamental. No século XII iniciou-se a fabricação de botões tornando-se um objeto de desejo, pois além de ter metais preciosos, a sua fabricação era feita manualmente, o que dava um caráter de peça exclusiva.

Em meados do século XIX, com o advento da revolução industrial, começou uma produção em larga escala dos botões de pressão, o que barateou o produto, tornando-se um item indispensável nos vestuários modernos.

Nesse período o setor têxtil estava em exponencial crescimento, logo existiu uma demanda na produção dos aviamentos metálicos. Esses componentes além de serem muito úteis no vestuário, dão um toque de sofisticação e destaque para a marca da loja, já que as peças na maioria das vezes são personalizadas.

A maior parte dos aviamentos passa pelo processo galvânico, que pode ser entendido como a deposição de diversas camadas metálicas sobre um objeto através dos princípios fundamentais da eletrólise, como reações de oxidação e redução. Logo, a energia elétrica é convertida em energia química, fazendo passar a corrente elétrica em solução aquosa (banho) contendo íons do metal desejado, por exemplo, se o objetivo for niquelagem, é necessário que o banho contenha sais de níquel. Desta forma, os aviamentos que desejamos revestir precisam ficar no eletrodo negativo (cátodo), enquanto no eletrodo positivo (ânodo) deve ficar o metal que queremos usar para revestir a peça.

A aplicação da galvanoplastia é vasta, ela protege o substrato contra a corrosão; melhora as propriedades físicas e mecânicas do substrato, como, resistência à abrasão e condutividade elétrica; proporciona e mantem o aspecto decorativo; pode alterar dimensões originais de determinadas peças e recuperá-las quando sofrerem desgaste.

Na Figura 1 há um esquema de eletrólise, em que se deseja dourar um anel de alumínio. O anel é colocado no cátodo do sistema e a placa de ouro é colocada no ânodo, ambos estão imersos em uma solução de nitrato de ouro III [Au(NO3)3]. Na passagem da corrente elétrica há a oxidação do

ouro e a placa começa a sofrer dissolução (reação 1). Por outro lado, no cátodo, há a redução do Au+3 e a deposição do ouro metálico formado nessa redução sobre o anel (reação 2).

Au → Au3+

+ 3e- (reação 1) Au3+ + 3e- → Au (reação 2)

(16)

16 Figura 1 – Esquema de eletrólise.

Fonte: Mundo Educação (2020).

No banho galvânico além dos compostos solúveis do metal que devem ser depositados, outras substâncias são adicionadas para aumentar a condutividade elétrica, o poder de cobertura, o pH, o brilho ou qualquer outra propriedade. Outra característica dos banhos eletrolíticos é que os de natureza ácidos são, em geral, mais baratos e de fácil manutenção, enquanto os alcalinos têm maior poder de cobertura e fornecem melhores depósitos.

O tipo de metal protetor ou de sacrifício define a denominação do processo de galvanização: niquelagem, cromação, prateação, douração, zincagem, cobreagem, estanhagem, platinagem, chumbagem, latonagem, cadmiagem, arseniagem, antimoniagem, cobaltagem, aceragem e anodização. Este último é o processo de proteção do alumínio pela oxidação do próprio alumínio, criando uma camada protetora de dióxido de alumínio (BUZZONI,1991).

Em geral, os processos de galvanoplastia são constituídos do pré e o do pós-tratamento. No pré-tratamento a superfície da peça é preparada para receber as camadas metálicas com maior aderência. As principais atividades realizadas nesta fase são tamboreamento, para remover rebarbas, sulcos, tintas, graxas ou ferrugem; desengraxe, para remoção de alguma oleosidade, e ativação que prepara a superfície da peça, sem o objetivo de retirar eventuais sujidades ainda presentes, mas sim de ajustar o pH da superfície ao pH do banho de deposição, favorecendo assim a aderência da camada metálica. Quando acontece um erro no processo e a peça sai não conforme, pode ser feito o retrabalho, para isso é necessário retirar as camadas metálicas, deixando apenas o objeto na sua base, seja zamak, latão, alumínio, dentre outros. Esse processo é chamado de decapagem.

Já no pós- tratamento, a peça sofre um processo de lavagem com água quente ou fria; secagem em centrífuga, estufa ou jatos de ar; além de envernizamento e/ou pintura. Os banhos de diferentes eletrólitos (cobre, níquel, ouro, estanho, zinco, outros) são intercalados por banhos com água de

(17)

17 lavagem, que garantem a limpeza das peças e evitam o arraste de soluções eletrolíticas. As etapas descritas do processo galvânico podem ser entendidas observando-se a Figura 2.

Figura 2 – Fluxograma genérico do processo galvânico.

(18)

18

3.2 TOXICIDADE NO SETOR TÊXTIL

Atualmente, um dos motivos de preocupação para empresas têxteis, governos e organizações em diversos países está no uso de substâncias químicas nocivas. Por isso, muitas normas, regulamentações e certificações estão sendo criadas e constantemente atualizadas, visando à obtenção de produtos modernos, sustentáveis e funcionais, mas que não sejam prejudiciais a saúde dos seres humanos.

Vestir uma peça e ter confiança de que ela não irá causar uma irritação na pele, nem que tenha algum químico potencialmente cancerígeno, ou que possa afetar o sistema nervoso central, ou os hormônios, por exemplo, já é o desejo de alguns consumidores bem informados em países desenvolvidos (ASSIS, 2014).

A dermatite têxtil, ou seja, manifestações cutâneas devido a roupas e outros tecidos podem ser causadas por reações irritantes às fibras têxteis ou por alergia de contato a corantes e produtos químicos de acabamento, porém esse tipo de dermatite é desconhecido em vários países. Os corantes dispersos (DDs), por exemplo, são os sensibilizadores mais comuns entre os corantes têxteis, mas a alergia de contato aos DDs pode não ser diagnosticada, devido o quadro clínico não gerar suspeita de dermatite têxtil (SEIDENARI, 1991).

A alergia de contato aos DDs é comum na Suécia, 1,5% dos 3.325 pacientes testados reagiram positivamente a uma mistura de corante têxtil (TDM) composta por oito DDs: Azul Disperso (DB) 35, 106 e 124; Amarelo Disperso (DY) 3; Laranja Disperso (DO) 1 e 3; e Vermelho Disperso (DR) 1 e 17 (RYBERG et al., 2009).

De acordo com o estudo de Ryberg et al (2009), publicado no Jornal Britânico de Dermatologia (BJD) 18% dos 858 pacientes com dermatite suspeitaram de têxteis como uma possível causa de seus problemas de pele. Observou-se que o sexo feminino e o aumento da idade foram fatores de tendência.

Os resultados obtidos pela pesquisa foram: 58% dos pacientes que relataram intolerância aos tecidos suspeitaram de materiais sintéticos como causa, seguidos por lã (35%), algodão (22%) e seda (6%). Os locais da pele mais frequentemente envolvidos foram as pernas, depois áreas como tronco, braços e pescoço, ao redor da axila e da virilha. Não foi encontrada associação entre problemas de pele relacionados a têxteis em uma área corporal específica e alergia de contato a mistura de corantes (TDM), para-fenilenodiamina (PPD), mistura de borracha preta (BRM) ou formaldeído.

Outro componente que causa bastante dermatite alérgica de contato (DAC) é o níquel. A sensibilização alérgica, que leva à DCA, pode frequentemente ser desencadeada quando a pele está em contato com relógios, anéis, botões, zíperes, bijuterias, piercings, dentre outros, todos banhados a níquel.

A DCA não ocorre no primeiro contato entre a pele e o níquel (o alérgeno). Em vez disso, o corpo fica sensibilizado, mas pode não reagir imediatamente, somente quando a pele é mais exposta, o

(19)

19 corpo agora sensibilizado o trata como um alérgeno e o sistema imunológico reage. A resposta ao níquel faz com que a pele fique vermelha e com coceira. Depois que a peça que contém níquel é removida, os sintomas da DAC começam a se dissipar. Os graus de resposta alérgica diferem muito de pessoa para pessoa (WHITTINGTON et al., 2018). As Figuras 3 e 4 mostram exemplos de DAC causadas por níquel.

Figura 3 – Dermatite alérgica de contato causada por anel contendo níquel.

Fonte: Research Outreach (2020).

Figura 4 – Reação alérgica ao níquel.

Fonte: Research Outreach (2020).

De acordo com os estudos de Whittington et al. (2018), revestimentos com cromo hexavalente regular, cromo microporoso trivalente, revestimentos eletroforéticos de poliuretano curados por ultravioleta (UV) e uma barreira de paládio eletrodepositada, impediram a liberação de níquel para a pele. Além disso, o aço inoxidável contendo níquel com ou sem um revestimento de

(20)

20 Deposição de Vapor Físico com Nitreto de Titânio (PVD TiN) passou rapidamente nos testes de liberação de níquel do Comitê Europeu de Normatização. Os resultados deste trabalho indicam que esses revestimentos e ligas podem ser usados para artigos decorativos vendidos no mercado sem se preocupar que a liberação de níquel exceda os limites recomendados.

No processo de galvanoplastia os metais pesados são os grandes responsáveis pela toxicidade do setor. O Quadro 1 descreve os principais metais pesados utilizados na galvânica e o seu potencial tóxico.

Quadro 1 – Metais pesados e sua toxicidade.

(continua)

METAIS

PESADOS DESCRIÇÃO TOXICIDADE

ALUMÍNIO

É largamente observado na confecção de utensílios e no acabamento de materiais que precisam ser resistentes à

corrosão.

Em concentrações elevadas são observados: constipação intestinal, cólicas abdominais, perda de memória,

hiperatividade infantil, osteoporose, raquitismo e convulsões. Estão intimamente relacionadas às doenças de

Parkinson e Alzheimer.

CIANETO

Gerado principalmente na galvanização e nos banhos para

clarificação dos metais.

Em concentrações mais elevadas, por inalação ou ingestão, afeta a atividade

da hemoglobina, levando progressivamente à morte. O cianeto possui características químicas muito estáveis e é extremamente ávido por oxigênio, operando de forma diferente no corpo humano e no meio ambiente. Ao ser despejado em um corpo d’água, por exemplo, sua avidez por oxigênio

faz com que ele se oxide a cianato (CNO-) e a outras formas que são cem

vezes mais nocivas que o cianeto. Assim, todo traço de vida é eliminado

por asfixia.

CROMO

Encontrado em resíduos ácidos ou alcalinos contendo cromo hexavalente

(Cr+6), podendo ser águas de lavagem dos banhos de cromo em geral,

abrilhantadores, passivadores, desplacantes e eletropolimento. Quando o banho é quente há liberação de vapores com características tóxicas e corrosivas, devendo ser evitada sua emissão para a atmosfera. O cromo é encontrado na sua forma oxidada como

cromato (CrO4 -2

) ou dicromato (Cr2O7 -2

). Para sua remoção é necessário que o cromo seja reduzido à sua forma

trivalente (Cr+3).

O cromo se distribui quase que igualmente por todos os tecidos do corpo, com exceção do pulmão, que

contém de duas a três vezes a concentração dos outros tecidos. Os

sintomas característicos do envenenamento pela exposição aguda ao

cromo são: diarreia; vômitos e perda de sangue no trato intestinal, causando choque vascular. Efeitos da intoxicação por exposição crônica ao cromo incluem

mudanças na pele e membrana mucosa, dermatites alérgicas e efeitos

(21)

21 Quadro 1 – Metais pesados e sua toxicidade.

(continuação)

METAIS

PESADOS DESCRIÇÃO TOXICIDADE

CÁDMIO

Em condições naturais, sua concentração é avaliada como traços mínimos, mas pode ser introduzido por

contato com recipientes ou canalizações em que esteja presente o

zinco empregado na galvanização, e também por despejos da indústria de

galvanoplastia.

O cádmio apresenta alto potencial tóxico a plantas e animais. Nos seres humanos

a ingestão de cádmio na dieta também determina o acúmulo nos rins, podendo

causar doença crônica com incremento de proteínas na urina. Trabalhadores

expostos durante longos períodos a atmosferas contendo cádmio (0,1 mg/m3) sofrem desde bronquite crônica

a enfisema pulmonar. O metal é mal absorvido pelo trato intestinal dos seres

humanos (cerca de 5%).

CHUMBO

O chumbo está presente de maneira ampla em nosso cotidiano. Sua presença na água, além dos efluentes da indústria galvanotécnica, se deve a atividades de mineração e do resultado

da ação corrosiva sobre as canalizações que utilizam este metal.

O metal é cumulativo e a intoxicação crônica por ele causada é denominada saturnismo, que pode levar à morte. O chumbo pode ser prejudicial à saúde, mesmo que em pequenas concentrações

no corpo humano. Os dois principais modos de absorção do chumbo são através do trato gastrintestinal e do sistema respiratório. A intoxicação por chumbo é caracterizada por deficiências neurológicas, disfunção renal e anemias. Substitui o cálcio, afetando desta forma, toda formação óssea, provocando queda

dos dentes, osteoporose etc.

COBRE

O cobre é utilizado para revestimentos através da eletrodeposição, e também é encontrado no controle de algas em sistemas de tratamento de água. Na forma de cloreto, sulfato e nitrato são

muito solúveis em água, diferentemente de quando se apresentam na forma de carbonatos, hidróxidos, óxidos e sulfetos. Os íons

de cobre que se encontram a um pH igual ou maior que 7 precipitam na forma de carbonatos e hidróxidos e são

removíveis por adsorção ou sedimentação.

O cobre pode ser altamente tóxico para as plantas e animais aquáticos quando se

apresenta em sua forma iônica, porém é muito menos tóxico quando limitado à sua forma orgânica. Os peixes são muito sensíveis mesmo a baixas concentrações (0,02 a 0,08 ppm) na água. A variação

da concentração pode ser letal dependendo da espécie de peixe afetada.

No homem e nos animais superiores a contaminação é particularmente difícil,

dada a grande diversificação na tolerância a este metal, e pela profunda

interação metabólica do cobre com outros metais ou nutrientes que afetam

sua absorção, excreção e retenção nos tecidos.

(22)

22 Quadro 1 – Metais pesados e sua toxicidade.

(conclusão)

METAIS

PESADOS DESCRIÇÃO TOXICIDADE

NÍQUEL

Utilizado em diversos materiais, inclusive aço inoxidável, revestimentos de torneiras cromadas e

acessórios para torneiras. O cianeto (CN-), quando combinado com o níquel, forma o níquel-cianeto. A concentração de 1 mg/L de cianeto combinado com níquel é mais tóxico a

um pH baixo do que 100 mg/L a um pH igual a 8, condição em que sua

toxidez passa a ser desprezível.

Deposita-se no cérebro e no sistema nervoso central, provocando uma série

de doenças de caráter irreversível. Os efeitos da intoxicação ocorrem em dois estágios, de acordo com a concentração e o período de exposição: inicialmente aparecem náuseas, dores de cabeça,

vertigens, vômitos, insônia e irritabilidade. Depois aparecem sintomas

pulmonares, como dores no peito, fraqueza, dispneia, taquicardia, distúrbios visuais e transpiração. Em

casos letais foram observados hemorragia pulmonar e edema. Em

outros casos, observou-se edema cerebral.

ZINCO

Utilizado principalmente em revestimentos para proteção de materiais ferrosos, em misturas para fundição e em latão, chapas e lâminas de revestimento. Alguns sais de zinco,

como cloreto de zinco e sulfato de zinco, são muito solúveis em água. Outros sais de zinco, como carbonato de zinco, hidróxido de zinco, óxido de zinco e sulfeto de zinco, são insolúveis na água, podendo ser removidos por decantação. Estando a solubilidade do zinco está intimamente ligada ao pH e

à alcalinidade encontrada.

São conhecidos efeitos tóxicos letais em peixes e algas. O zinco em reduzidas concentrações é essencial ao organismo

do homem, dos animais e das plantas. Os efeitos característicos por ingestão oral (altas concentrações) são: vômito diarreia, dores de cabeça, náuseas, letargia e efeitos gastrintestinais. A inalação de emissões gasosas contendo

zinco produz uma síndrome que se caracteriza pela dormência nos membros

inferiores e na cabeça, febre, transpiração, tremor e respiração

acelerada.

Fonte: Adaptado do Instituto Estadual do Ambiente - INEA (2014).

A partir desta temática, os tópicos a seguir abordarão as principais regulamentações nacionais e internacionais do setor têxtil. Em seguida, trataremos algumas certificações que as empresas podem adquirir para garantir o uso controlado de substâncias químicas nocivas. No Brasil, as certificações internacionais ainda são pouco usadas, todavia existem algumas empresas certificadas, especialmente com o selo OEKO-TEX®, que é o mais reconhecido mundialmente.

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23

3.2.1 Normas e Regulamentações

Desde 2012, o Brasil começou a discutir normas e legislações que atendem às novas demandas do setor têxtil, neste mesmo ano foi criado o projeto de lei n° 3.222 que proíbe os fabricantes de produtos destinados ao público infantil utilizar a substância ftalato nos seus produtos, incluindo roupas.

Inspirados nas normas internacionais, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental (SMCQ), o Departamento de Qualidade Ambiental na Indústria (DQAM) e a Gerência de Segurança Química publicaram o anteprojeto de lei que dispõe sobre o cadastro, a avaliação e controle de substâncias químicas industriais.

O anteprojeto trata do inventário, da avaliação de risco e do controle de substâncias químicas e tem o objetivo de minimizar os impactos à saúde e ao meio ambiente, resultantes da produção, importação e uso de produtos industrializados que contenham esse tipo de material (Ministério do Meio Ambiente, 2018).

O texto aborda mais especificamente sobre o “Controle e Regulação de Substâncias Químicas” e as ações tomadas após a Primeira Conferência Internacional sobre Gerenciamento de Substâncias Químicas (ICCM-1) que ocorreu em 2012. O Brasil, no âmbito desta ação, realizou em abril de 2013 uma missão técnica a instituições europeias, responsáveis pela gestão de substâncias químicas, com o objetivo de se aprofundar no modelo europeu (Regulamentos REACH e CLP) e nos modelos do Canadá e da China (COSTA, 2018).

De acordo com Muniz (2018) o anteprojeto de lei além de instituir o Cadastro Nacional de Substâncias Químicas, ele prevê a criação de dois comitês técnicos para avaliar e gerenciar os riscos dos produtos. O primeiro, o Comitê Técnico de Avaliação de Substâncias Químicas, formado pelos órgãos federais responsáveis pelo meio ambiente, saúde, trabalho e indústria, terá caráter consultivo, para avaliar o risco das substâncias químicas e sugerir medidas de gerenciamento e o segundo, o Comitê Deliberativo de Substâncias Químicas, terá cunho deliberativo, normativo, consultivo e recursal. Será formado por representantes dos mesmos órgãos do conselho de avaliação e terá a finalidade de determinar as medidas de gerenciamento de risco para as substâncias químicas avaliadas.

O anteprojeto prevê ainda medidas que garantam a divulgação para o público das substâncias contidas nos produtos, excetuando-se os casos em que é preciso respeitar o sigilo industrial. Estabelece, ainda, fiscalização e punição para os casos em que as normas de gerenciamento de risco forem desrespeitadas.

Por meio das experiências externas realizadas em 2013, o Brasil criou no ano seguinte um grupo de trabalho no CONASP (Conselho Nacional da Segurança Pública), com o objetivo de discutir e propor estratégias para estabelecer o controle sobre o universo de substâncias químicas e seus riscos ao meio ambiente e a saúde humana. Após dois anos de estudos, o CONASP aprovou a proposta de

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24 lei, para criação do Cadastro Nacional de Substâncias Químicas Industriais. As onze substâncias químicas, inicialmente estudadas pela Comissão de Estudos (CE) de Segurança Química em Têxteis – ABNT/CB-17:100.05 – Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário fazem parte desta lista (Ministério do Meio Ambiente, 2016).

Em 2019, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a NBR 16787 que trata da segurança química em têxteis, os requisitos e métodos de ensaio. Acredita-se que em breve existirá uma lei ou regulamento brasileiro que de fato vai impor limites ao uso de substâncias nocivas. A seguir abordaremos as principais regulamentações existentes no mundo.

a) ABNT NBR 16787:2019

A norma brasileira estabelece os requisitos para utilização de substâncias químicas em têxteis de vestuário e para o lar, assim como os métodos de ensaio para a detecção e qualificação destas.

Os produtos têxteis são classificados como: classe A (roupas para bebês de 0 a 36 meses), classe B (roupas com prolongado contato com a pele) e classe C (tecidos sem contato com a pele e tecidos para material de decoração e forrações), em que para cada substância listada nesta norma existe um método de ensaio adequado que se encontra em outra norma da ABNT.

De acordo com a NBR 16787 é fundamental a colaboração e parceria dentro da cadeia produtiva do setor têxtil, por isso a responsabilidade compartilhada é proposta, sendo apresentada da seguinte forma:

 Cabe aos fornecedores de insumos químicos fornecerem a lista de produtos opcionais aos citados nesta norma, oferecer e divulgar a prática do uso de “Declaração do Fornecedor” para que os limites estabelecidos nesta NBR sejam assegurados.

 Às indústrias e empresas consumidoras diretas de insumos químicos cabe escolher fornecedores de insumos químicos que apresentem produtos, desenvolvimento e adequação de processos, visando ao atendimento desta norma, solicitar de seus fornecedores a “Declaração do Fornecedor”, fornecê-la a seus clientes e adotar práticas que permitam a rastreabilidade de seus produtos quanto aos insumos utilizados.

 Às indústrias consumidoras indiretas de insumos químicos cabe adquirir matérias-primas têxteis que atendam aos limites estabelecidos nesta norma, e semelhante ao tópico anterior deve solicitar a seus fornecedores a “Declaração do Fornecedor”, fornecê-la a seus clientes e adotar práticas que permitam a rastreabilidade de seus produtos quanto aos insumos utilizados.

 Ao comércio de confeccionados e tecidos (atacado e varejista) cabe adquirir e oferecer a seus clientes artigos têxteis que atendam aos limites estabelecidos nesta norma, solicitar aos seus fornecedores a declaração e adotar práticas de rastreabilidade.

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 Às associações industriais e de apoio a empresas envolvidas cabe promover a divulgação e treinamento a respeito da norma a seus associados e demais empresas do setor pelas quais são responsáveis, oferecer suporte para a integração e entendimento entre os diversos elos da cadeia têxtil, dentro de seu nicho de atuação, informar critérios estabelecidos nesta NBR aos seus clientes, oferecer suporte a clientes na redefinição e implementação de processos e compartilhar os critérios estabelecidos nesta norma junto a seus fornecedores de matérias-primas.

Por fim, recomenda-se que a data de elaboração dos relatórios de ensaio ou validação da declaração de fornecedor não seja superior a um ano. No anexo da norma existe um modelo de “Declaração do Fornecedor” e a lista de substâncias químicas classificadas como restritas.

b) REACH

O REACH (Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals) é um regulamento europeu relativo ao registro, à avaliação, à autorização e à restrição das substâncias e misturas químicas. Esse regulamento supõe uma reforma total do marco regulatório sobre substâncias e misturas químicas dentro da União Europeia e o seu objetivo principal é garantir uma elevação do nível de proteção da saúde humana e do ambiente, atribuindo à indústria a responsabilidade de controlar os riscos associados às substâncias químicas ou misturas. O REACH é baseado no princípio de que cabe aos fabricantes, importadores e aos usuários intermediários garantir que fabricam, comercializam ou utilizam somente substâncias que não afetam negativamente a saúde humana ou o meio ambiente.

Dentre os objetivos do REACH está a tarefa de estabelecer um sistema de registro coerente, concebido para fornecer informações de risco e de perigo a respeito de substâncias químicas produzidas ou importadas para a união europeia. Dentre as substâncias as CMR (cancerígenas, mutagênicas e tóxicas para a reprodução); as substâncias PBT (persistentes, bioacumuláveis e tóxicas); as substâncias mPmB (muito persistentes e muito bio acumuláveis) e certas substâncias preocupantes com efeitos graves e irreversíveis no ser humano (sistema endócrino) e no meio ambiente.

No anexo XVII do REACH estão listadas 63 substâncias restritas organizadas por grupos da seguinte maneira: retardantes de chama, organoestanhados, cádmio, níquel, aminas derivadas de corantes azo, corante azul, PAH’s, Ftalatos (BBP, DBP, DEHP, DNOP, DINP, DIDP) e Dimetilfumarato. Outra lista do REACH chamada SVHC (Substance of Very High Concern - Substância de Grande Preocupação) menciona as substâncias com elevado grau de preocupação, que contém 151 substâncias listadas (ASSIS, 2014).

As substâncias altamente preocupantes serão incluídas paulatinamente no anexo XIV (lista de autorização) do Regulamento REACH. Uma vez incluídas nesse anexo, não poderão ser comercializadas nem utilizadas, a não ser que a empresa tenha autorização para isso.

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26 c) RSL

A RSL (Restrict Substance List - Lista de Substâncias Restritas) da AAFA (American Apparel

& Footwear Association - Associação Americana de Vestuário e Calçados) abrange 12 categorias

com mais de 250 produtos químicos e destina-se a fornecer às empresas de vestuário e calçados informações relacionadas a regulamentos e leis que restringem ou proíbem certos produtos químicos e substâncias em produtos acabados de têxteis, vestuário e calçados em todo o mundo.

A RSL serve como uma ferramenta prática para ajudar as empresas têxteis, de vestuário e calçados e seus fornecedores, responsáveis pela conformidade ambiental em toda a cadeia de suprimentos a se conscientizarem de vários regulamentos nacionais e internacionais que regem a quantidade de substâncias permitidas em produtos acabados, produtos têxteis para o lar, vestuário e calçados.

As substâncias químicas possuem o código CAS, isto é, o número de registro presente no banco de dados do Chemical Abstract Service (CAS), que são designados às substâncias, de maneira sequencial, à medida que estas são colocadas na base de dados do CAS. Desta forma, cada número de registro é um identificador numérico único e que não possui significado químico algum.

O Anexo II deste trabalho contém a lista completa da RSL do ano de 2020.

d) CPSIA

A CPSIA (The Consumer Product Safety Improvement Act - Lei de Melhoria da Segurança de Produtos de Consumo) é uma lei que aborda o uso de chumbo, ftalatos, a segurança dos brinquedos, certificação, etiquetas de rastreamento, importações, entre outros. Sancionada em 2008 pelo presidente George W. Bush, a lei fiscaliza a aparência após a lavagem, solidez à fricção, pH e flamabilidade. O projeto de lei ficou conhecido como HR 4040, definindo níveis aceitáveis de várias substâncias, impondo exigências de testes e documentação dos fabricantes de vestuário, estabelecendo sanções pelo não cumprimento.

Segundo a CPSC (United States Consumer Product Safety Commission - Comissão do Consumidor dos Produtos de Segurança dos EUA), o CPSIA geralmente exige que os produtos infantis devam: cumprir todas as regras de segurança de produtos para crianças aplicáveis; ser testado quanto à conformidade por um laboratório credenciado pela CPSC, a menos que esteja sujeito a uma exceção; tenha um certificado de produto infantil escrito que forneça evidência de conformidade do produto e tenha informações de rastreamento permanentes afixadas ao produto e sua embalagem, sempre que possível.

A CPSIA também exige que fabricantes ou importadores domésticos de produtos não infantis emitam um GCC (General Certificate of Compliance - Certificado Geral de Conformidade). Esses GCCs aplicam-se a produtos sujeitos a uma regra de segurança de produtos de consumo ou qualquer regra, proibição, norma ou regulamento CPSC similar imposto pela Comissão.

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27 e) CCPSA

A CCPSA (Canada Consumer Product Safety Act - Lei de Segurança de Produtos de Consumo do Canadá) entrou em vigor em 2011, sendo administrada pela Health Canada. A lei adota ferramentas e técnicas modernas que fortalecem a proteção e alinham o sistema de segurança de produtos entre os canadenses e os seus principais parceiros comerciais.

De acordo com o Governo do Canadá, a CCPSA se aplica a uma ampla variedade de produtos de consumo, incluindo brinquedos para crianças, produtos domésticos e artigos esportivos, mas exclui produtos como veículos automotores e suas partes integrais, alimentos, medicamentos (incluindo produtos naturais para a saúde) e animais, pois estes são regulamentados por outros fabricantes canadenses.

As principais disposições desta lei são: notificação de incidentes que possam gerar danos aos consumidores, preparação e manutenção de documentos, embalagem e rotulagem corretas, e informações sobre segurança do produto, proibições relacionadas à fabricação, importação, venda ou publicidade de produtos de consumo que possam representar um perigo irracional para a saúde ou a segurança dos canadenses.

f) GB 18401-2010

A GB 18401-2010 é uma norma chinesa que padroniza os requisitos gerais de segurança e os métodos de teste para todos os produtos têxteis fabricados ou exportados para a China. Essa norma segue os padrões têxteis e de vestuário da Organização Internacional de Normalização (ISO).

Para que os produtos têxteis entrem no mercado chinês é preciso realizar testes e análises em laboratório creditado que sigam os padrões da GB 18401. Para isso, a norma estabelece três classes para produtos têxteis, nas quais os aviamentos, na sua grande maioria, podem se encaixar na classe 2.

 Classe 1: produtos para bebês (até 3 anos de idade), que inclui produtos como fraldas de pano, roupas íntimas, luvas, meias, babadores, agasalhos, chapéus e itens de cama.

 Classe 2: Produtos com contato direto com a pele - incluindo blusas, saias, shorts, pijamas, meias, sutiãs, lençóis, toalhas e chapéus.

 Classe 3: Produtos sem contato direto com a pele - incluindo alguns suéteres e sobretudos, capas de cama, cortinas, material de enchimento, papel de parede têxtil e tecido para estofamento.

O órgão oficial de importação para a China é o CIQ (Chinese Inspection and Quarantine - Inspeção e Quarentena Chinesa), no qual todos os produtos, incluindo têxteis e vestuário, estão sujeitos à inspeção aleatória nas fronteiras e, para têxteis e vestuário, a conformidade com as etiquetas é geralmente o foco dessas inspeções. Os produtos considerados fora de conformidade podem ser colocados em quarentena, apreendidos, destruídos ou encomendados de volta ao seu país de origem. (QIMA, 2020).

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28

3.2.2- Certificações

As certificações são essenciais neste processo de adequação às normas, pois elas validam se o produto está dentro das conformidades estabelecidas por cada país. Existem certificações mais restritas, utilizadas em eventuais localidades como a Blue Angel, por outro lado existem aquelas que são mais abrangentes como é o caso da OEKO-TEX®. Neste tópico abordaremos as principais certificações já estabelecidas no mercado têxtil.

a) OEKO-TEX®

A OEKO-TEX® Standard 100 é um sistema de certificação internacional, válido por 12 meses que engloba matérias-primas, produtos intermediários e finais do setor têxtil em todas as fases de processamento. Além disso, é uma das etiquetas mais conhecidas do mundo para produtos têxteis testados quanto à presença de substâncias nocivas, significando confiança para o cliente e alta segurança do produto.

De acordo com o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal – CITEVE, se um artigo têxtil possui a etiqueta Standard 100 by OEKO-TEX®, há a certeza de que todos os componentes deste artigo, isto é, todos os fios, botões e outros acessórios, foram testados quanto à presença de substâncias nocivas e que ele é inofensivo em termos ecológicos humanos.

Sem dúvida essa certificação é a mais conhecida no setor têxtil, tendo em vista o valor agregado à certificação e as análises que seguem um extenso e rigoroso catálogo de critérios OEKO-TEX®, sendo revisto e atualizado anualmente. Esses ensaios levam em consideração inúmeras substâncias regulamentadas ou não, que podem ser prejudiciais à saúde humana e em muitos casos, os valores limite dessa certificação vão além dos requisitos nacionais e internacionais.

As roupas confeccionadas podem receber o certificado OEKO-TEX® (Figura 5) desde que todos os componentes da roupa (linhas, aviamentos, etc.) cumpram os critérios exigidos e possuam certificação própria.

Os ensaios a substâncias nocivas segundo a OEKO-TEX® Standard 100 baseiam-se no seguinte princípio: quanto mais intensivo for o contato de um produto têxtil com a pele e quanto mais sensível for a pele, mais exigentes serão os requisitos humanos e ecológicos que o produto têxtil terá de cumprir. Logo, os produtos têxteis aprovados nos ensaios foram divididos em quatros classes de produtos diferentes que são elas:

Classe I – Têxteis e brinquedos para crianças até 3 anos de idade (roupa íntima, roupas de cama, bonecos de pelúcia).

Classe II – Têxteis que tem uma grande área em contato direto com a pele (roupa íntima, roupa de cama, camisas, meias, roupas em geral).

Classe III – Têxteis que não tem contato com a pele ou apenas um pequeno contato (casacos, agasalhos, forros).

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29 Classe IV – Materiais de decoração (toalhas de mesa, cortinas, colchões).

A metodologia de ensaio para a Classe I, feito por institutos autônomos e reconhecidos internacionalmente, se baseia em simulações de absorção de substâncias químicas pelo corpo através da pele, por via oral ou respiratória.

Figura 5 – Modelo do Certificado OEKO-TEX® Standard 100.

Fonte: Textile Industry (2011).

Segundo, Assis (2014) os parâmetros que fazem parte da lista de critérios OEKO-TEX® são: concentração máxima de aminas proibidas de corantes azo, corantes cancerígenos ou provocadores de alergias, formaldeído, pesticidas, fenóis clorados, benzenos e toluenos clorados, metais pesados extratáveis, solidez de cor, valor do pH, ftalatos, compostos organoestanhados, emissões de compostos voláteis, cheiro, produtos biologicamente ativos e os retardantes de chama.

São quinze os institutos membros da OEKO-TEX® na Europa e no Japão. Na Alemanha e França, quem executa essa função é o Centro de Certificação OEKO-TEX®. Os testes a substâncias nocivas são baseados numa extensa lista de critérios sendo atualizada anualmente (COSTA, 2018).

b) BLUE ANGEL

Criado em 1978 o Blue Angel é o rótulo ecológico do governo federal da Alemanha (Figura 6), que estabelece altos padrões para o design de produtos ecologicamente corretos e se tornou um guia confiável para o consumo mais sustentável.

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30 Figura 6 – Rótulo ecológico Blue Angel.

Fonte: Blauer Engel (2020).

Para receber a certificação Blue Angel o produto passa por uma revisão de todo o seu ciclo de vida. Essa análise considera o maior número possível de aspectos da proteção ambiental e da saúde humana para o respectivo produto. Todos os critérios básicos de premiação são válidos por um período especificado, geralmente de 3 a 4 anos, entretanto esse prazo pode ser reduzido para grupos de produtos nos quais se espera um avanço tecnológico mais rápido.

Se um produto não atender aos requisitos especificados no contrato ou se o Blue Angel for mal utilizado de qualquer outra forma, o fabricante perderá o direito de usar o rótulo ecológico.

c) TOXPROOF

O TOXPROOF é uma marca registrada da TÜV Rheinland que é um fornecedor global de serviços técnicos, de segurança e de certificação, com sede na Alemanha. O TOXPROOF certifica produtos de consumo que variam de têxteis a casas pré-fabricadas, a fim de verificar se há a presença de substâncias nocivas acima dos valores limite prescritos.

A TÜV Rheinland definiu um catálogo de testes, que define o limite de tolerância para várias substâncias, dependendo do produto e de seu uso, no qual é baseado em padrões internacionalmente validados. Dependendo do produto, ele inclui diversos testes, como verificações de odor, substâncias REACH de grande preocupação, corantes azo proibidos ou metais pesados.

A marca de teste TOXPROOF, como mostrado na Figura 7, confirma que o produto passou por testes químicos para diversas substâncias nocivas (por exemplo, metais pesados, pesticidas, plastificantes) e que o produto não apresenta riscos à saúde de seres humanos ou animais de acordo com análises laboratoriais.

Figura 7 – Modelo da marca TOXPROOF.

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31 O certificado é válido desde que os princípios de teste sejam atuais e o certificado não seja cancelado pelo cliente ou pela TÜV Rheinland, caso o produto seja modificado o certificado perde a validade.

d) EU ECOLABEL

Fundado em 1992 e reconhecido mundialmente, o rótulo ecológico da União Europeia (UE) denominado EU ECOLABEL (Figura 8) é um rótulo concedido a produtos e serviços que atendem a altos padrões ambientais ao longo de seu ciclo de vida: desde a extração de matérias-primas até a produção, distribuição e descarte.

Figura 8 – Rótulo ecológico da União Europeia.

Fonte: Comissão Europeia (2020).

De acordo com a Comissão Europeia, o rótulo ecológico da UE promove uma economia circular, incentivando os produtores a gerar menos desperdício e dióxido de carbono durante o processo de fabricação, além de incentivar as empresas a desenvolver produtos duráveis, fáceis de reparar e reciclar.

Os critérios do EU ECOLABEL fornecem diretrizes exigentes para empresas que buscam reduzir seu impacto ambiental e garantir a eficiência no seu ciclo produtivo, por meio de orientações sobre as melhores práticas ecológicas existentes no mercado.

Os produtos têxteis foram o grupo que teve o maior registro conforme o relatório divulgado em 2019, no qual mais de 3.282 produtos deste segmento receberam o rótulo ecológico.

3.3 REDUÇÃO DA TOXICIDADE

Com as novas regulamentações e o aumento da exigência dos consumidores, as empresas do segmento têxtil se preocupam cada vez mais com a redução da toxicidade dos seus produtos. Essa nova demanda, causa um impacto em toda a cadeia produtiva e centros de pesquisas, visto que é necessário buscar alternativas que supram essas necessidades.

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32 Um exemplo, que podemos citar é o estudo de Ozturk et al. (2015), que propuseram a substituição de doze produtos químicos por produtos com menor tempo de biodegradabilidade e instalação de sistemas de dosagem automática química em uma indústria têxtil, sendo eles: APEOs / NPEOs (alquil fenol etoxilados); clorobenzenos; clorofenóis; compostos organotin, por exemplo: TBT (tributiltin); corantes azo; ftalatos (orto-ftalatos); metais pesados [cádmio, chumbo, cromo (VI), mercúrio]; parafinas cloradas de cadeia curta (SCCP); químicos perfluorados (PFCs); retardantes à chama baseados em bromados ou clorados e solventes clorados. Segundo o estudo, essas medidas podem reduzir a demanda química de oxigênio (DQO) em 25-50%, além de reduzir o consumo de corantes e auxiliares em 31%.

Nos estudos de Koh e Hong (2014) foi utilizado o extrato de castanha em têxteis, por considerarem um agente antimicrobiano seguro, visto que é de origem natural. Assim, os tecidos de lã e algodão foram tratados com o esse extrato, usando um processo de secagem pay-dry, com o intuito de desenvolver um material de vestuário multifuncional sem efeitos nocivos e sem descartes tóxicos ao meio ambiente. Além disso, os tecidos foram tratados com plasma para melhorar o efeito de acabamento. Este estudo investigou minuciosamente a aparência da superfície, as propriedades mecânicas, a capacidade antimicrobiana e o desempenho antioxidante e com isso verificou-se que o tratamento com extrato de castanha impõe propriedades satisfatórias antimicrobianas e antioxidantes nos tecidos de lã e algodão.

Sem contar nos inúmeros estudos voltados para o tratamento de efluentes têxteis como, por exemplo, no estudo de Antunes et al.(2018) foi utilizado a casca de abacaxi como adsorvente natural para a remoção de corantes e no estudo de Diniz (2015) que utilizou fungos na descoloração e redução da toxicidade de corantes.

Para que a redução da toxicidade aconteça é importante ter um gerenciamento do ciclo de vida dos produtos químicos utilizados na cadeia produtiva, pois desta forma será possível detectar quais substâncias estão inadequadas às normas e, por conseguinte traçar planos de ação eficientes. Todavia, existe um grande entrave nesse processo de gerenciamento que é o controle do conteúdo químico dos produtos por um grupo de especialistas com os quais os varejistas têm pouco ou nenhum contato direto, bem como a existência de barreiras linguísticas e diferenças culturais que dificultam e confundem a troca de conhecimentos. As práticas de gerenciamento de produtos químicos que hoje predominam entre os varejistas têxteis são esquemas de certificação, listas de substâncias restritas (RSL) e ferramentas de gerenciamento de produtos químicos, entretanto nenhuma dessas abordagens emprega uma perspectiva de ciclo de vida.

Portanto, um estudo realizado por Roos et al. (2020) propôs uma abordagem para o LCM (Life Cycle Management – Gerenciamento de Ciclo de Vida) de produtos químicos, tendo como objetivo ajudar os varejistas a identificar e substituir substâncias perigosas em produtos. A pesquisa consiste em três partes: (I) um modelo de conceito de gerenciamento de produtos químicos baseado em funções para diferentes níveis de informações químicas na cadeia de suprimentos, (II) ferramentas

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33 que explicam informações químicas e (III) fornecimento contínuo de conhecimento às partes interessadas, por exemplo, varejistas. Essa abordagem é implementada com sucesso por mais de 100 varejistas nos países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia, e as regiões autônomas das Ilhas Faroé, arquipélago da Åland e Groenlândia), fornecendo à indústria têxtil ferramentas práticas e robustas para gerenciar e substituir produtos químicos nocivos em seus processos.

O primeiro passo para a execução do modelo LCM é a categorização de produtos químicos utilizados em artigos têxteis e de couro, com base em funções e na concentração no produto final, como mostrado no Quadro 2.

Quadro 2 – Categorização de produtos químicos com base em funções.

CATEGORIA DESCRIÇÃO EXEMPLOS

POSSIBILIDADES DE GERENCIAMENTO Produtos químicos da função do produto

Fornece uma propriedade desejada ao produto final (cor, odor reduzido, etc). Os produtos químicos são produzidos por seres humanos ou pela natureza e

adicionados intencionalmente ao produto. Eles são frequentemente detectados em altas concentrações no

produto final Corantes / pigmentos, agentes repelentes de água, amaciadores, plastificantes, retardadores de chama, biocidas Especificar as substâncias químicas para atingir as propriedades técnicas desejadas ao produto final para o fornecedor

Função química do processo

Fornece uma propriedade desejada ao processo (processabilidade, aumento de rendimento, etc), ou seja,

matéria-prima. Os produtos químicos são produzidos por seres humanos ou pela

natureza e adicionados

intencionalmente ao processo. Eles são raramente detectados em altas concentrações no produto final.

Catalisadores, agentes de reticulação, solventes, lubrificantes, liberadores, espumantes, monômeros

Garantir boas práticas operacionais para produtos químicos que

não podem ser separados do produto final. Especificar a substância química desejada para o fornecedor. Produtos químicos de contaminação

Produtos químicos que ocorrem através da produção não intencional de

seres humanos ou da natureza. Eles inserem produtos e processos como

impurezas. Eles raramente são detectados em altas concentrações no

produto final

Metais pesados, poluentes, orgânicos

persistentes

Garantir boas práticas operacionais e uso de insumos químicos de

alta qualidade e recursos não contaminados

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34 O modelo conceitual da abordagem LCM de produtos químicos baseados em funções depende das informações disponíveis em diferentes níveis em uma cadeia de suprimentos têxtil, como varejistas, fornecedores, subfornecedores e fornecedores de matérias-primas.

O primeiro nível envolve varejistas, ou seja, a ponta da cadeia têxtil, sendo os responsáveis pela venda dos produtos. Neste nível também há muitos requisitos legais estabelecidos, visto que é o contato mais próximo do consumidor final. O segundo nível é formado por fornecedores (fábricas de costura e fabricantes de roupas), que na maioria das vezes garantem a qualidade e as propriedades técnicas dos produtos, de maneira econômica. Essas propriedades podem ser especificadas pelos varejistas, ou pelos fornecedores quando a especificação é completa. No terceiro nível do modelo, são encontrados os subfornecedores (fabricante de tecidos, aviamentos e tinturaria) que decidem quais produtos químicos devem ser aplicados para obter a qualidade e as propriedades técnicas desejadas. Essas informações raramente são comunicadas ao restante da cadeia de suprimentos devido a sigilos comerciais. Nesse nível, onde ocorre a aplicação de produtos químicos a um material, os processos geralmente são conduzidos em larga escala, em que um lote de material é produzido para atender vários clientes. O quarto nível representa o fornecedor de matéria-prima (fabricante de produtos químicos e fornecedor de fibras), no qual o gerenciamento da qualidade de produtos químicos e matérias-primas determinará o conteúdo de impurezas posteriormente no produto final.

De acordo com os estudos de Roos et al. (2020), existem três principais ferramentas usadas para a implementação da abordagem LCM de produtos químicos: o banco de dados ChemicAll, a orientação sobre produtos químicos e a lista de verificação.

O ChemicAll é a ferramenta química mais bem classificada da Organisation for Economic

Co-operation and Development – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OECD). Ao contrário de muitos outros bancos de dados de produtos químicos, o usuário não precisa ser um químico, nem saber os nomes exatos das substâncias ou possuir os números CAS registrados. As substâncias químicas são classificadas de acordo com a função que elas trazem para o produto em questão e em quais materiais e processos podem ser usados. Atualmente, apenas membros do Swedish

Chemicals Group, que é a Agência Sueca de Produtos Químicos, têm acesso ao banco de dados, pois

ele é parcialmente construído com informações confidenciais das empresas membros e depende de financiamentos para se tornar atualizado e com valor agregado.

Já a orientação sobre produtos químicos vem do The Chemicals Guidance – Guia de Substâncias Químicas, sendo um documento desenvolvido para facilitar o cumprimento da legislação aos importadores de produtos têxteis e de couro na União Europeia. O Guia de Substâncias Químicas substitui a maneira tradicional de gerenciamento de produtos químicos na cadeia de suprimentos têxtil, que é enviar ao fornecedor uma longa lista de substâncias que não devem conter no produto, uma RSL. Na maioria das vezes essa medida não é tão efetiva, pois os fornecedores não conseguem controlar todas essas substâncias e consequentemente, não tomam nenhuma decisão. Logo, a

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35 orientação sobre produtos químicos apoia a comunicação na cadeia de suprimentos em torno dos produtos químicos indesejados que ocorrem com maior frequência para cada material e, assim, simplifica a tomada de decisões para o fornecedor.

A Lista de Verificação é uma ferramenta que fornece uma visão geral simplificada do produto e é comumente usada dentro das empresas para comunicar a seleção de produtos e amostras que serão enviadas para testes em laboratório. Entretanto, a lista de verificação é limitada a produtos químicos de alto risco e não substitui a orientação sobre produtos químicos.

Nilsson-Lindén et al. (2018) listou como fatores críticos de sucesso para o planejamento de execução do LCM: o suporte de alta gerência, comunicação e interação, integração entre funções, prática cotidiana, alinhamento com a estratégia de negócios, conhecimento de LCM, abordagem ambiental holística, e colaboração de toda a cadeia de produtos.

4. METODOLOGIA

Para o gerenciamento deste projeto utilizou-se um modelo baseado em quadros visuais, de autoria própria, denominado de Compact Canvas e tem por objetivo simplificar e organizar todo o gerenciamento em telas, trazendo consigo elementos essenciais para conceber, planejar, executar, monitorar, controlar e encerrar um projeto. A Figura 9 representa a tela inicial do Compact Canvas, que de forma prática e objetiva mostra as principais informações do projeto.

Figura 9 – Tela inicial do Compact Canvas.

Referências

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