• Nenhum resultado encontrado

Danos morais nas relações de trabalho

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Danos morais nas relações de trabalho"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

Danos morais nas relações de trabalho Danos morais nas relações de trabalho

(2)

Danos morais nas relações de trabalho

Belmiro Gonçalves de Castro1

Resumo: A moral é o bem supremo do homem, estando ao lado do próprio direito à vida e à liberdade. A sociedade vem se evoluindo através dos tempos e isto nos obriga a refletir sobre todos os temas que de certo modo afligem e podem trazer certo desconforto ao trabalhador. Assim decidimos por tratar neste artigo do tema Danos Morais nas relações de trabalho. Buscamos na elaboração deste artigo compreender como o assunto é tratado em nossa doutrina, legislação e jurisprudências de nossos Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho, analisando as jurisprudências já pacificadas sobre o assunto.

Palavras-chave: Dano Moral, Reparabilidade, Justiça Trabalhista.

Damages in labor relations

Abstract: Morality is the supreme man’s good, standing next to the right to life and freedom. The society has been evolving over time and that forces us to reflect on all the topics in a certain way afflicting and may bring some discomfort to the worker. So we decided to treat at this article the theme Moral Damages in labor relations. We seek with this article to understand how the issue is handled in our doctrine, legislation and jurisprudence of our Regional Labour Courts and the Superior Labor Court, analyzing the case laws already pacified on the subject.

Keywords: Moral Damage, Reparability, Labor Justice. INTRODUÇÃO

Conforme podemos observar nas exposições desse trabalho a moral é uma conquista antiga, mas que no Brasil a sua reparabilidade só concretizou firmemente após a Constituição Federal de 1988, a partir daí a moral ganhou espaço próprio em nosso sistema jurídico.

Ao longo do tempo, no entanto, foram restando poucas objeções ao reconhecimento do dano moral puro, a polêmica foi sepultada com a edição do novo Código Civil de 2002, em

¹Advogado, Bacharel em Direito pelo UNIVAG Centro Universitário Várzea Grande MT, Pós-Graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela FAP Faculdade de Pimenta Bueno RO, Pós-Graduado em Direito pela Escola da Magistratura de Rondônia, Doutorando em Direito e Ciências Sociais pela UNC – Universidade Nacional de Córdoba - Argentina

(3)

seu artigo 186, e a moderna jurisprudência veio jogar uma pá de cal nessas objeções, e isto será abordado no corpo do presente trabalho.

O ato praticado pelo empregador contra o empregado ou pessoa de sua família, lesivo da honra ou boa fama, que ofenda sua moral, já está discriminado na letra e, do art. 483 da CLT como passível de rescisão indireta do contrato, podendo o empregado requerer a devida indenização material.

Sabemos que o direito do trabalho é o campo propício e fértil por excelência. É válido destacar, que o direito do trabalho confere especial dimensão à tutela da personalidade do trabalhador empregado, em virtude do caráter pessoal, subordinado e duradouro da prestação de serviço.

Uma das finalidades fundamentais do Direito do Trabalho é a de assegurar o respeito à dignidade do trabalhador, pelo que a lesão que em tal sentido se lhe inflija é de se exigir uma reparação.

Inegável, no entanto, que a proteção ao direito personalíssimo do trabalhador é um dos deveres do empregador, e em conseqüência disso, cabe a reparação do dano moral trabalhista.

Não há, pois, como deixar de reconhecer que as disposições constitucionais sobre reparação do dano moral têm aplicação no Direito do Trabalho.

O objetivo desse artigo será demonstrar que qualquer dano à moral do trabalhador deverá ser ressarcido.

Para concluirmos este trabalho dividimos em 08 capítulos; no capitulo I faremos um breve histórico sobre a origem e história do dano moral, no capitulo II falaremos sobre o dano moral em nossa legislação constitucional e legal, no capítulo III trataremos da doutrina e o dano moral trabalhista, no capitulo IV trataremos do valor da moral, no capitulo V versaremos sobre a indenização do dano moral trabalhista vista pela jurisprudência de nossos tribunais, no capitulo VI trataremos do período em que poderão ocorrer danos morais ao trabalhador, no capitulo VII trataremos da competência da justiça do trabalho para julgar a questão, e por ultimo no capitulo VIII nossa conclusão.

I – Origem e História do Dano moral

A palavra dano deriva do latim dannum, que, de modo genérico, significa, todo mal ou ofensa que tenha uma pessoa causado a outrem, da qual possa resultar uma deterioração ou destruição à coisa dele ou um prejuízo a seu patrimônio, possuindo desta forma um sentido

(4)

econômico de diminuição ocorrida ao patrimônio de alguém, por ato ou fato estranho a sua vontade. Ou seja, O dano pode conceituar-se como a diminuição ocorrida ao patrimônio jurídico, considerado este como o acervo de bens materiais, liberdade, honra, afeição e o próprio corpo do homem.

Neste momento será tecido um pequeno comentário sobre o termo “moral”. Moral deriva do latim moralidade (relativo aos costumes), na forma substantiva, designa a parte da filosofia que estuda os costumes, para assinalar o que é honesto e virtuoso, segundo os ditames da consciência e os princípios da humanidade, desta forma podemos observar e afirmar que a moral possui um âmbito mais amplo que o Direito, escapando à ação deste muitas de suas regras, impostas aos homens como deveres. Como ensina (Régis Jolivet, 1979, p. 4/5):

Para obter uma boa definição de Moral, é necessário incluir na definição o objeto formal desta ciência, como também seu caráter normativo. Diremos, pois, que a Moral é a ciência que define as leis da atividade livre do homem. Poder-se-ia ainda dizer, de uma maneira mais explícita, que a Moral é a ciência que trata do uso que o homem deve fazer de sua liberdade para atingir seu fim último. Pode-se formular de uma maneira, é verdade, - precisa, mas ainda exata, a mesma noção, dizendo que a Moral é a ciência do bem e do mal, - a ciência dos deveres e das virtudes, - a ciência da felicidade (ou do fim da atividade humana), - a ciência do destino humano.

Não há como se falar em danos morais sem antes sabermos a origem e história da reparação deste dano, e voltando ao passado é que encontramos certas referências aos preceitos adotados pelas leis antigas para resolver a questão, tanto é que por volta de 1792 a 1750 a.C. já havia um código que levava o nome da HAMURABI em homenagem ao rei da Babilônia que já lecionava “O forte não prejudicará o mais fraco” e ainda preceituava o já conhecido “olho por olho, dente por dente”, mas estes preceitos, sem dúvida geraram muita violência, mas no mesmo código havia ainda uma imposição de pena pecuniária, que consistia em diminuir o sofrimento da vítima através da compensação monetária.

Segundo (Reis, 1995, p. 10) o código de Hamurabi preceituava:

Os parágrafos 209, 211 e 212 do Código de Hamurabi ordenavam uma indenização a favor vítima consistente em valor pecuniário da época:

§ 209. Se um homem livre (awilun) ferir o filho de um outro homem livre (awilun) e, em conseqüência disso, lhe sobrevier um aborto, pagar-lhe-á 10 ciclos de prata pelo aborto.

A mesma reparação ocorre, na hipótese de pessoas de classes diferentes. No entanto, o preço dessa reparação é inferior:

(5)

§ 211. Se pela agressão fez a filha de um (muskenun) expelir o fruto de seu seio: pesará cinco ciclos de prata (cinco ciclos de prata correspondiam a mais ou menos 40 gramas de prata)

§ 212. Se essa mulher morrer, ele pesará meia mina de prata (o que equivalia a 250 gramas de prata).

Verificamos acima que a reparação pecuniária dos danos ou a sua compensação econômica já vem sendo praticada há muito tempo, e sua principal função na época era coibir os abusos de violências e reprimir os sentimentos de vingança; vale ressaltar que no código de UR-Nammu, que é semelhante à velha Lei da XII tábuas, foram encontradas noções acerca de reparação de danos, os quais também visavam reprimir a violência e o instituto da vingança.

Os antecedentes históricos da reparação remontam a varias gerações e gostaríamos de citar as principais, mas sem alongar em detalhes.

O Código de Manu na mitologia hinduísta também previa uma espécie de reparação de dano principalmente quando ocorriam lesões cujo objetivo era facultar à vítima uma oportunidade de ressarcir-se à custa de uma soma em dinheiro. Assim sendo o Código de Manu trouxe-nos uma conceituação primária da indenização por dano moral.

A Grécia, com sua civilização marcante, foi sem dúvida uma das que mais evoluiu o sistema jurídico, pois chegou-se a primeira vez falar em democracia e também a falar-se em reparação dos danos morais, nas palavras de (Reis 1995 p.13) onde cita as palavras de (Chaves, 1985 apud Reis 1995, p. 13) em nota de rodapé, ensina que...

Ao referir-se à civilização grega, séculos após a Assíria e a Suméria, cita fatos notórios da história que bem demonstram a constante preocupação do homem com o aprimoramento espiritual: “Na Grécia, o Odisséia de Homero pinta os gritos retumbantes de Hefesto, o marido enganado, que surpreendera no próprio leito a infiel Afrodite e o formoso Ares, a provocar uma assembléia de Deuses, que, atendendo aos reclamos do coxo ferreiro (Hefesto), decretaram a seu favor, o pagamento por Ares, de pesada multa. Manifesta assim claramente um caso de reparação de danos morais resultantes do adultério.

Outro povo que merece ser citado é o Romano, esses sim já possuíam uma exata noção de reparação pecuniária do dano, pois havia a prescrição pormenorizada dos delitos privados e públicos. Nos ensinamentos de (Silva apud Reis 1995, p. 17) captados na obra de Clayton Reis, nos ensina que:

Os cidadãos romanos, para forrarem injúria, em sentido estrito, contra si levada a efeito, dispunha a vitima da ação pretoriana a que se denominava injuriarum aestimatoria e pela qual podiam reclamar uma reparação consistente sempre em uma soma em dinheiro, prudentemente arbitrada pelo juiz.

(6)

Como podemos observar pelas citações acima, os romanos já reparavam o dano através de pena pecuniária, ou seja, em dinheiro, e aceitavam ainda que de forma sutil a reparação pelo dano moral.

Há que se notar também que os romanos não questionavam a que titulo o dano havia sido perpetrado, ou seja, não se argumentavam as conseqüências dos danos; bastava somente a sua ocorrência para evidenciar a obrigatoriedade de se reparar; ainda hoje existe uma polêmica muito grande em torno do assunto.

O dano moral tem sua reparação regulamentada até mesmo na Bíblia Sagrada, um exemplo é o que se tem no livro Deuteronômio Capítulo XXII versículos 13 a 20, e ainda do mesmo livro no capítulo XXII versículos 28 a 30, e no livro do Êxodo capitulo XXI versículos 23 e seguintes. Como se vê a reparação por dano moral é encontrada em quase todos os escritos que se tem noticia e que verse sobre legislação.

O Direito Romano influenciou a legislação de vários países quanto à indenização por danos morais, alguns principais tais como Alemanha, Itália e França. Esses países adotaram com base no Direito Romano a reparação do dano pela pecúnia como forma de pena.

II – O Dano moral na Legislação Brasileira

A constituição Federal traz em seu bojo a previsão da indenização por danos morais estampada no artigo 5º, no capítulo dos direitos e garantias fundamentais que rezam:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ...

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Em nossa legislação, encontramos em nosso Código Civil a previsão de reparação dos danos morais, estes agora com exclusividade, pois o antigo Código Civil de 1916, previa a reparação do dano moral, mas em conjunto com danos materiais, agora o artigo 186 do novel Código, prevê a indenização mesmo que seja exclusivamente moral, vejamos: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

(7)

Podemos verificar no texto da Lei a palavra Exclusivamente, o que vem reforçar a tese da existência da reparação do dano moral puro já consagrado em nossa jurisprudência.

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em seu artigo 483 dispõe que:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando:

...

e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama;

A legislação trabalhista não abrange de forma explicita a reparação pelos danos morais, porém a moral dos trabalhadores não pode ser relegada unicamente à autonomia individual dos contratos de trabalho, os direitos de personalidade dos trabalhadores são de ordem pública e social tão significativo para as relações trabalhistas, como são os direitos fundamentais para o direito constitucional.

Assim a aplicação do Direito Constitucional e Civilista no Direito do Trabalho é amplamente aceita tanto pela doutrina como pela pacificada jurisprudência, sendo desnecessária qualquer alusão na CLT.

III – Dano Moral e a Doutrina

Nossa doutrina acolhe de forma satisfatória a reparação por dano moral nas relações de trabalho, o Professor Amaury Mascaro Nascimento ( Nascimento, 2004, p. 183) um dos grandes nomes do Direito do Trabalho moderno brasileiro, diz que:

Dano moral, que é o efeito da agressão moral, do assédio moral e do assédio sexual, é um só e mesmo conceito, no direito civil e no direito do trabalho, não existindo um conceito de dano moral trabalhista, que, assim, vai buscar no direito civil os elementos de sua caracterização. A relação de emprego é uma situação em que o dano moral pode ter, efetivamente, não apenas repercussões na vida profissional do empregado como também, e não é de se afastar, no conceito da empresa, sendo grave a infundada acusação que denigre a dignidade do empregado e a difamação do empregador pelo empregado, chegando a criar dificuldades para sua atividade econômica.

De acordo com o pensamento acima poderá haver dano moral tanto ao empregado como ao empregador, porém não conseguimos achar sequer um caso em que o empregador houvesse intentado ação de danos morais contra o empregado.

(8)

Ainda segundo Nascimento, são inúmeras as situações em que podem surgir o dever de reparar os danos morais causados pelos empregadores, mas para que haja a reparação alguns requisitos tem que estarem presentes, por exemplo: o ato ilícito, o dano moral, o dolo, a culpa ou omissão do causador do dano e o nexo de causalidade entre o ato ilícito/omissivo e os danos, a conjugação desses requisitos ensejará a indenização pelo danos.

Exemplificamos algumas situações que, apesar de existirem controvérsias podem causar dano moral: a revista pessoal em operárias, se não for feita de forma correta e causar vexame à empregada expondo-a em situação humilhante perante aos demais empregados, pode gerar dano moral; a informação em jornais de que o empregado abandonou o emprego, quando não ocorreu esse fato, pode gerar o dever de reparar, outro exemplo é o acidente de trabalho em que houver culpa do empregador, ou seja, negligência, imprudência ou imperícia, concorrendo com essa situação e combinando os elementos ensejadores de culpa haverá o dever de indenizar, esse tipo de dano é o mais comum e que já encontramos farta jurisprudência pacificada nos tribunais a respeito desse tema, e o que acontece geralmente é que o empregador põe o empregado para trabalhar sem o devido treinamento e sem os equipamentos de proteção, colocando o empregado a risco desnecessário.

Outra situação capaz de gerar Dano Moral é a demissão por justa causa, essa situação por muitas vezes tem sido caracterizada nos tribunais, pois o empregado ao ser demitido por justa causa é colocado de certa forma em uma situação vexatória perante os demais empregados e também perante a sociedade, mas se após sua demissão ficar constatado em uma apuração mais rígida, como por exemplo, no inquérito policial ou mesmo no processo judicial que o empregado era inocente, como ficará sua situação junto à sociedade, pois já houve um julgamento precipitado é verdade, mas o ato ilícito já foi cometido, nesse caso somente a indenização pecuniária é que poderá amenizar a dor do ofendido.

A reparação por danos morais no Direito do Trabalho é um tanto recente, tanto é que os doutrinadores reservaram pouco ou nenhum espaço para este assunto, mas nos tribunais o assunto já está pacificado, e é amplamente aceito tanto nos Tribunais Regionais como no Tribunal Superior do Trabalho.

Mas nosso trabalho não se baseou somente nos doutrinadores trabalhistas, buscamos entendimento em outros doutrinadores e somente para ilustrar colacionamos abaixo alguns entendimentos a respeito do assunto, A maioria dos apanhados, encontramos em obras de Responsabilidade Civil e outras, é o caso por exemplo do professor (Caio Mário, 2001, p. 215) que em sua obra leciona:

(9)

Dano moral. Um dos pontos mais controvertidos na moderna sistemática civil é o que diz respeito ao dano moral e seu ressarcimento, talvez pelo fato de não haver o direito romano solucionado e sistematizado a matéria, de relevância muito mais acanhada na singeleza daquela civilização do que na sociedade hodierna.

Ainda do mesmo autor, esta é a conclusão:

Em face das modernas tendências da nossa doutrina, força é convir que o pensamento hoje predominante é no sentido de se admitir a reparabilidade do dano moral, muito embora a repercussão jurisprudencial não se possa dizer, na atualidade, muito ampla, senão prenunciadora de maior receptividade futura, tal como ocorreu em pura teoria, plano no qual a tendência crescente foi e tem sido no rumo amplificador.

A julgar pelas palavras acima, chegamos a conclusão que o autor tem razão, eis que a jurisprudência, caminha ainda a passos lentos, enquanto que a doutrina já há algum tempo vem admitindo a reparação desse tipo de dano.

(Silvio Rodrigues, 2001, p. 190) afirma que:

Muitas são as objeções levantadas conta a reparação do dano moral, a partir daquela que reputa imoral, se não escandaloso, discutir-se em juízo os sentimentos mais íntimos, bem como a dor experimentada por uma pessoa e derivada de ato ilícito praticado por outra. Dentre essas objeções é mister destacar as mais importantes, a saber:

a) a falta de efeito durável do dano meramente moral; b) a dificuldade em descobrir-se a existência do dano; c) a indeterminação do número de pessoas lesadas;

d) a impossibilidade de uma rigorosa avalização em dinheiro da extensão do dano moral;

e) o ilimitado poder que se tem de conceder ao juiz para avaliar o montante compensador do dano meramente moral.

As objeções acima tem sido reiteradamente respondidas no campo doutrinário. Analisando a obra do autor (Clayton Reis 1995, p.1), Extraímos a importante lição:

Dessa forma, nenhum dano perpetrado poderá ficar sem a consequente e necessária reparação. Afinal, o equilíbrio da ordem social é preponderante para o Estado, visto que suas atividades são realizadas com o concurso dos agentes que compõem o ambiente societário.

Dentre os danos que são susceptíveis de reparação, destacamos o de natureza puramente moral, representado pelas atribulações, mágoas e sofrimentos íntimos, em decorrência de atos ofensivos à honra, dignidade ou sensibilidade que ocasionem intensa dor pessoal na vítima..

(10)

Apesar das objeções de alguns doutrinadores como já afirmamos, a maioria é pela reparação do dano moral, e o assunto apesar de recente em nossa legislação que data da constituição de 1988, vem tomando corpo ora com decisões arrojadas, ora acanhadas, mas é importante frisar que as vítimas, de uma maneira mais constante, devem procurar o Judiciário para apreciação de seus danos.

IV – O VALOR DA MORAL

O atual contexto social, os clamores sociais se sobrepõem aos interesses individuais, e isto de certa forma faz com que os governantes e a própria sociedade direcionem suas atividades para os interesses da coletividade; esse direcionamento faz com que o indivíduo sinta-se isolado e desprotegido. Esses fatores fazem com que a personalidade própria do indivíduo seja de certa forma sacrificada, e essa personalidade que é uma particularidade humana, fica comprometida. Essa sem dúvida é uma das questões mais controvertidas da atualidade que é o direito do ser humano de realizar-se como pessoa individual em uma sociedade de massa, e no sistema capitalista, onde o capital vale mais que o trabalho, sem sombra de dúvidas o empregado sempre é relegado ao segundo plano, e vem sofrendo as conseqüências da minimização da dor moral.

A moral é um dos mais sagrados valores do homem e sua defesa deve ser exercida sempre que for ofendida. Nesse aspecto leciona (Reis, 1995, p. 80):

A defesa do exercício da individualidade ou ainda, o direito à personalidade deve se constituir, sem dúvida, em um dever do Estado. Portanto, toda vez que o indivíduo sofrer um dano em seus valores pessoais e íntimos o Estado deve assegurar-lhe o direito à reparação do dano. Haverá dano maior do que aquele que atinge o homem nos seus mais sagrados valores ?

O valor da moral para o homem é tão importante que se não fosse os valores morais, éticos e ideais o homem jamais conseguiria edificar seu patrimônio material. Em outras palavras a Moral é o maior patrimônio do ser humano.

A questão do valor da moral é sem sombra de dúvida polêmica para os doutrinadores, pois há alguns que afirmam que em alguns casos é imoral a compensação da dor com o dinheiro, e que a reparação pecuniária melindraria o senso moral médio. Este porém é um pensamento de uma pequena minoria cujas lições vem sendo ultrapassadas por

(11)

jurisprudências positivas no sentido de que o dano moral na justiça do trabalho deve ser indenizado.

V - A INDENIZAÇÃO DO DANO MORAL TRABALHISTA VISTA PELA JURISPRUDÊNCIA DE NOSSOS TRIBUNAIS

Até a edição da emenda constitucional 45 o dano moral, era tratado quase que exclusivamente pela justiça comum, porém com a edição da referida emenda que deu nova redação ao artigo 114 da Carta Magna, que em seu inciso VI diz que compete à Justiça do Trabalho “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho” a partir dessa Emenda editada em dezembro de 2004 é que a Justiça do Trabalho começou a pacificar a jurisprudência a respeito dos Danos Morais.

Buscamos algumas jurisprudências no Tribunal Regional do Trabalho da 23ª. Região de Mato Grosso cujo teor transcrevemos abaixo.

A decisão abaixo refere-se a um Empregado que cortou o dedo polegar direito e teve a decisão do TRT assim emendada:

DANO MORAL. CULPA DO EMPREGADOR. Para a caracterização do dano moral e conseqüente responsabilização, faz-se mister a conjugação de três requisitos: a ocorrênciado dano; a culpa ou o dolo do agente e o nexo de causalidade entre o dano e o ato lesivo praticado pelo ofensor. In casu, não há controvérsia acerca do dano experimentado pelo Autor que sofreu o acidente de trabalho causador da ruptura do flexor longo do polegar direito e lesão do corpo muscular do músculo flexor do polegar direito (conforme CAT de f. 103). A Reclamada concorreu com culpa, na medida em que não cumpriu seus deveres decorrentes do contrato de trabalho ao deixar de fornecer ao Autor o treinamento prévio para o desempenho da função, pois compete a todo empregador adotar as medidas apropriadas para que as condições gerais de trabalho assegurem proteção suficiente à saúde e integridade física dos trabalhadores. Tem-se, portanto, que diante da incúria do empregador, o Reclamante sofreu o dano passível de reparação (DJ/MT 7390/2006. Data da Publicação: 01/06/2006. Data da Circulação: 02/06/2006. processo: RO 01316200503623006).

No caso acima o empregado foi indenizado na importância de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por ter sido constatado na instrução do processo a omissão do Empregador.

Na decisão que colacionamos abaixo um exemplo de fixação do valor da indenização, onde o empregado teve vários dedos decepados em uma máquina de moer carne:

DANO MORAL - Fixação do valor da indenização. A reclamante teve decepados vários dedos de sua mão por colocá-la dentro da máquina de moer carne. O empregador tem culpa “in vigilando”, em relação aos seus funcionários, sendo que

(12)

a reclamada não demonstrou fiscalizá-los sobre as suas atividades, além do que não deu instruções aos trabalhadores sobre o funcionamento da máquina de moer carne. Houve, portanto, negligência da reclamada, sendo aplicável o artigo 1.523 do C.C. o artigo 84 do Código Brasileiro de Telecomunicações não pode ser aplicado ao caso dos autos, pois não se está discutindo a matéria a ele inerente. A indenização por dano moral dever ser fixada com base no artigo 1.553, que determina que o será por arbitramento. O valor estabelecido na sentença é excessivo para a fixação da importância a ser paga de indenização por dano moral (R$ 151.000,00). o dano moral é difícil de ser aferido, pois depende de questão subjetiva da pessoa. Entretanto, deve ser sopesada a necessidade da pessoa, mas a também a possibilidade financeira da empresa, aplicando-se por analogia, o artigo 400 do C.C. Assim, fixa-se a indenização em R$ 10.000,00, que é razoável para a reclamante receber e para a empresa pagá-la. (Acórdão: 20000416368 -data de publicação: 22/08/2000 juiz relator: Sérgio Pinto Martins) TRTSP.

A fixação do dano moral é complexa e difícil. De qualquer maneira, a Carta Magna impõe uma indenização e é assim que se procede, oferecendo ao lesado uma compensação econômica.

No julgado acima, a indenização de primeiro grau foi considerada exagerada em grau de recurso, e nosso pensamento é de que deve haver sim um controle das indenizações, até mesmo porque não adiantaria nada, condenar uma empresa em valores que esta não pode honrar, em suma não se pode inviabilizar o funcionamento da empresa sob pena de prejudicar outros empregados com a perda do emprego.

A indenização por dano moral vem sendo muito aplicado contra as casas bancárias, eis que os banqueiros gananciosos por ganhos e mais ganhos, tem imposto aos empregados tarefas das mais diversas, causando-lhes constrangimentos, expondo-os a riscos desnecessários, tudo para evitar despesas e aumentar as receitas, vejamos abaixo uma decisão do TRT de Mato Grosso:

INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ESTABELECIMENTO BANCÁRIO. EMPREGADO NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE CAIXA. TRANSPORTE DE DOCUMENTOS COM EXPRESSÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DA TEORIA PUNITIVE DAMAGES OU EXEMPLARY DAMAGE. INOBSERVÂNCIA DAS DISPOSIÇÕES DA LEI 7.102/83.INTELIGÊNCIA DO ART. 5º, V e X, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DOS ART. 159 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916 E DO ART. 186 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. O transporte de valores e documentos com expressão econômica exige a observância de critérios objetivos traçados pela legislação infraconstitucional, de forma que o exercício de tais atividades por empregado não habilitado revela a ocorrência da figura jurídica conhecida por mobbing, expondo-o a risco potencial e constante, devendo a fixação do quantum observar, além do dano em si considerado e a capacidade econômica da instituição financeira, a teoria do punitive damages ou exemplary damage, de forma a servir a sua imposição em exemplo para a não reincidência pelo causador do dano e também para prevenir a ocorrência de futuros casos.” (Relator Dr. Paulo Brescovici, TRT23 MT. 14.08.2007).

(13)

No exemplo acima o Julgador aplicou a teoria Punitive Damages, que ao pé da letra quer dizer punição por decorrência dos danos, essa teoria é muito utilizada nos Estados Unidos, e aqui no Brasil, alguns doutrinadores não a levam em consideração, posto que em nosso Pais não pode haver pena sem cominação na lei.

No Tribunal Superior do Trabalho é esse o entendimento sobre os danos morais: AGRAVO DE INSTRUMENTO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONSTRANGIMENTO - EXPRESSÕES PEJORATIVAS E DE BAIXO CALÃODIRIGIDAS AO RECLAMANTE POR COLEGAS - DEVER PATRONAL DE ZELAR PELA URBANIDADE NO LOCAL DE TRABALHO - OMISSÃO DA RECLAMADA - INTERPRETAÇÃO RAZOÁVEL DOS DISPOSITIVOS LEGAIS PERTINENTES - SÚMULA 221, II, DO TST - DIREITO DE REGRESSO POSTERIOR. 1. A controvérsia dos autos, dentre outros temas, diz respeito a pedido de indenização por danos morais decorrentes de constrangimento no ambiente de trabalho, em razão de tratamento com expressões pejorativas e palavras de baixo calão entre os empregados. 2. O Regional concluiu que ficou configurado o dano moral alegado pelo Reclamante, em virtude de comumente ser chamado de -corno- ou de -soberano-, sendo esta última expressão usada como sinônimo de corno, além de ser tratado por outras palavras de baixo calão. Consignou que cabia à Empregadora zelar pela urbanidade no local de trabalho, devendo reprimir comportamentos inadequados, e que nem todas as pessoas são tolerantes a brincadeiras de mau gosto. Assentou ainda que a culpa ficou demonstrada pela omissão da Reclamada em coibir tal conduta. 3. Sustenta a Reclamada que as provas produzidas não foram corretamente apreciadas, de forma que se pudesse atribuir-lhe alguma culpa, e que o Reclamante não se desincumbiu do ônus de demonstrar o suposto dano sofrido. Alega que foi correto o entendimento vertido na sentença, que concluiu não haver responsabilidade da Reclamada pelos fatos narrados, porquanto se tratava de uma brincadeira entre amigos para descontrair, a qual todos aceitavam e da qual participavam, inclusive o Recorrido. 4. Diante da situação delineada nos autos, tendo o Regional consignado que as palavras ofensivas e as de baixo calão que eram dirigidas ao Reclamante configuravam dano moral por submetê-lo a constrangimento e que estavam presentes a culpa e o nexo causal entre a conduta e o dano, conferiu entendimento razoável às normas legais pertinentes, o que atrai o óbice da Súmula 221, II, do TST. Por esse mesmo motivo, não aproveita à Recorrente a tese de violação dos arts. 186 e 927 do CC e 131 do CPC. 5. Por fim, deve ser ressalvado o direito de regresso da Reclamada para cobrar a indenização por danos morais em que foi condenada, frente aos ofensores imediatos, nos termos do art. 934 do CC. Agravo de instrumento desprovido.” Processo: AIRR - 2844/2003-122-15-40.4 Data de Julgamento: 11/06/2008, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho, 7ª Turma, Data de Publicação: DJ 13/06/2008.

No caso acima ficou comprovado que embora a empresa ou o proprietário, não falaram nada ao funcionário, mas o simples motivo de se ter omitido e permitido que no ambiente de trabalho outros empregados pudessem fazer brincadeiras de mau gosto, fez com

(14)

que o Juiz lhes atribuísse a culpa por omissão, pois era dever da empresa coibir tais brincadeiras.

VI - DO PERÍODO EM QUE PODERÃO OCORRER DANOS MORAIS AO TRABALHADOR

Com relação ao contrato de trabalho, que passa necessariamente por uma relação de trabalho firmada entre o empregador e o empregado, a qual não prescinde de um contrato que, como qualquer outro, devem ser executado de boa-fé, e que o princípio da execução contratual de boa- fé tem, principalmente, um alto sentido moral.

É certo afirmar que o dano moral sofrido pelo empregado pode-se dar em quaisquer das fases contratuais.

Durante a vigência do contrato de trabalho não se encontra maiores dificuldades em se caracterizar o dano moral sofrido pelo empregado.

No que concerne ao dano moral nas fases pré- contratual e pós contratual, em que pese a alguns juristas excluir a primeira fase sob o argumento de que ainda não se efetivou nenhuma relação jurídica entre as partes e que, portanto, é de competência da Justiça Comum conhecer da ação, bem como julgá-la, a jurisprudência trabalhista tem pacificado o direito à indenização em ambas as fases.

Fases:

1ª) Fase Pré- Contratual - o Min. João Oreste Dalazen cita dois exemplos bastantes elucidativos, como, por exemplo, situações em que as empresas, “ainda no curso das tratativas para a admissão, lesam a honra do pretendente ao emprego, divulgando, por exemplo, que a contratação não se deu porque o(a) candidato(a) é cleptomaníaco, homossexual, prostituta, aidético, etc.”. Ou ainda quando há promessa de contratação do empregado. Essa hipótese ocorre quando um empregador pré-ajusta a contratação de um empregado, um executivo, que avençou salário, fez exames médicos, enviou a sua CTPS para anotação, etc. O empregado executivo, com prazo ajustado para iniciar as suas atividades na nova empresa, pede demissão do seu trabalho atual, aluga imóvel na cidade da empresa contratante, transfere seus filhos de colégio, etc. e, de repente, é surpreendido quando do cancelamento do contrato. É irrefragável que o executivo, porque também é empregado desde que não se afigure como o capitalista proprietário, tem direitos à indenização por danos materiais e morais.

(15)

2ª) Fase Contratual - pode ocorrer quando o empregador deixa de cumprir certas obrigações derivadas do contrato, como as de higiene e segurança do trabalho, de respeito à personalidade e dignidade do trabalhador e principalmente a de boa-fé, que é a base da disciplina contratual.

3ª) Fase Pós- Contratual - são inúmeras as situações que asseguram o direito à indenização por dano moral. Pode-se aludir a seguinte hipótese: “se o empregado é despedido sob a pecha de embriaguez, subtração de valores da empresa, causando-lhe lesão, e se essas condutas restam judicialmente improvadas, o empregado tem direito à reparação por danos morais, sem prejuízo da reparação patrimonial”. In casu, pergunta-se: qual seria a oportunidade para o empregado pleitear a reparação por danos morais? No ajuizamento da ação principal, ou quando transitada em julgado a sentença que reconheceu a sua conduta ilibada? A questão é relevante porque há juizes que, ao aplicarem a prescrição bienal nas ações relativas à indenização por dano moral, porquanto entendem-na como crédito trabalhista, sustentam que o pedido deve ser feito na ação principal. Assim, se o empregado esperar para ajuizar a ação de reparação por danos morais após o trânsito em julgado da sentença que o isentou da conduta, terá, se decorridos mais de 2 anos da extinção do contrato de trabalho, o seu direito atingido pela prescrição.

VII - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PARA JULGAMENTO

A questão da competência sobre danos morais na Justiça do Trabalho é um assunto bastante controvertido.

A celeuma acerca da competência ainda persiste, pois, de um lado o STJ nega competência à Justiça do Trabalho, uma vez que firmou entendimento no sentido de que a causa de pedir e o pedido demarcam a natureza da tutela jurisdicional.

De outro, sentenciou o eminente Min. Sepúlveda Pertence, do STF, no julgamento do conflito de jurisdição n.º 6.059-6, a competência da Justiça do Trabalho ao interpretar o art. 114 da Constituição da República. Sua tese sustenta que, mesmo sendo a questão regrada pelo Direito Civil, o que importa é que, se o dano decorre da relação de emprego, é competente a Justiça do Trabalho. Com efeito, a jurisprudência tende a se uniformizar nesse sentido.

Sabe-se, pois, com fundamento no art. 7o , inciso XXIX, da Constituição da República, que a prescrição para ajuizamento da ação prescreve em dois anos contados a partir da rescisão contratual.

(16)

Não é verdade que as leis trabalhistas são omissas no concernente ao dano moral, mormente quando se destaca dentre os requisitos insertos no art. 3o da CLT o de sujeição ou subordinação do empregado ante o seu empregador, requisito por excelência caracterizador do vínculo empregatício.

Já os que entendem ser a Justiça Comum a competente para julgar ação trabalhista por danos morais, afirmam que a obrigação de ressarcimento por danos morais não se inseria no contrato de trabalho, embora envolvendo empregado e empregador, porque estes não deixam de ser pessoas naturais, sujeitos de direitos e obrigações regulados pelo Direito Civil, para o qual está a Justiça Comum habilitada à solução das controvérsias.

De maneira contrária, o Direito do Trabalho oferece proteção aos valores essenciais da pessoa do trabalhador. A Justiça Comum não tem condições de apreciar o dano moral trabalhista, uma vez que é inadequada para compreender a estrutura da relação jurídica trabalhista, bem como um dano moral que é agravado pelo estado de subordinação de uma das partes. A apreciação do dano moral civil pela Justiça Comum estrutura-se na concepção de igualdade das partes da relação jurídica.

Importante é salientar os ensinamentos de Pinho Pedreira, que defende que a Justiça do Trabalho é competente para analisar o pedido de dano moral se a questão decorre de contrato de trabalho.

No entanto, leva-nos a entender que a solução da lide, embora dependa de questão de natureza civil, compete à Justiça do Trabalho quando o pedido derivar do vínculo empregatício.

Para melhor entendemos, ensina o professor Orlando Teixeira da Costa acerca do assunto:

Não conheço nenhuma decisão judicial declarando descaber competência à Justiça do Trabalho para apreciar controvérsias sobre dano moral. O que existe é uma jurisprudência assentindo que certos atos danosos, praticados em determinado contexto, são da competência da jurisdição civil ou da jurisdição trabalhista, conforme a raiz obrigacional de onde se originaram... se o pedido decorrer ou tiver como origem o contrato de trabalho, a competência para julgar o caso será da Justiça do trabalho e não da Justiça Comum.

Assim, estabelece o art. 483 da CLT que:

... o empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: (... e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama.

(17)

Portanto, é perspícua a idéia de moral inserida na expressão retromencionada.

O art. 114 da Carta Política afastou as dúvidas sobre a competência para julgamento das ações indenizatórias por danos morais oriundas na relação de trabalho, somente restando a controvérsias quanto à aplicabilidade da prescrição, se trabalhista ou civil. E, nesse particular, já se demonstrou que deve ser a civil, uma vez que o instituto da prescrição é regulado pelo direito material, e não processual. Até porque a discussão escapa á celeuma, uma vez que o dano moral é garantia constitucional de todo cidadão, e em absoluto pode-se atribuir à indenização decorrente do dano moral com origem na relação de trabalho a acepção de crédito trabalhista ( férias, horas extras, etc. não pagas durante a relação de trabalho).

Em consonância com o art. 483 retromencionado, o art. 652, IV, também da mesma consolidação, atribui competência material à Justiça do Trabalho para conciliar e julgar “os demais dissídios concernentes ao contrato individual de trabalho”, ou seja, basta que a controvérsia respalde-se em um contrato de trabalho para que essa justiça especializada seja competente.

Todavia, se o pedido de reparação por dano moral estiver vinculado à relação empregatícia, a competência será da Justiça do Trabalho. E mais, o Excelentíssimo ministro do TST João Oreste Dalazen assim se manifesta Acerca do assunto em pauta:

“ Ora, se reconhece competência à Justiça do Trabalho para conhecer de pedidos de indenização por dano patrimonial, não se compreende o que ditaria a incompetência para a reparação do dano moral”.

O Direito, sobretudo o do Trabalho, é dinâmico e não se atrela à tipicidade estrita, mas necessita da flexibilização e do auxílio de outros ramos para que possa responder às demandas que lhe são propostas.

Entretanto, mesmo aqueles que ainda necessitam ver expressa a norma na CLT, terão razões para admitir a competência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar demandas que impliquem o dano moral.

Do exposto somos levados à conclusão de que é descabida a restrição de alguns que são contrários a indenização por danos morais no processo trabalhista, tendo em vista que a CLT não é omissa, porém, incompleta, vindo a Constituição da República a completá-la, onde acreditamos na acolhida da tese com limitações, pois o texto consolidado e o constitucional se referem em linguagem positiva e excluidora de quaisquer dúvidas

(18)

CONCLUSÃO

Ao se concluir esse artigo, em face do ordenamento jurídico em vigor e das inúmeras pesquisas realizadas, foram utilizadas a Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T), Constituição Federal da República, livros e Internet.

Com o intuito de aprimorar nossos conhecimentos sócio – jurídicos, o tema escolhido neste trabalho identifica-se com a crescente evolução da Consolidação das Leis do Trabalho e justifica-se pela atual política- social, e da abrangência das relações de trabalho

O objetivo, é alertar a importância de estabelecer uma forma (pecuniária) para que se crie um impacto social, impedindo a prática de novos atentados, com intuito de compensar a dor, mas, em especial, estabelecer uma forma de respeito ao acervo de bens morais, visto que o Direito do Trabalho confere especial dimensão à tutela da personalidade do trabalhador empregado, em virtude do caráter pessoal, subordinado e duradouro da prestação de trabalho.

Dano Moral é um tema que vem se confirmando na doutrina trabalhista, repercutindo, assim, gradativamente, na jurisprudência, conforme se verifica pelas decisões publicadas em nosso trabalho, que rumam à adoção da reparabilidade desse dano, na relação de trabalho.

O que não se pode permitir é que o trabalhador seja lesado no que ele tem de mais valioso: a honra.

Assim, o direito à indenização nasce quando causado o prejuízo ou simplesmente violado o direito de alguém.

Como foi dissertado, no que tange à reparação por danos morais, nossa Carta Magna nos retrata a parte que concernente aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana.

Desde que o dano moral alegado tenha ocorrido derivado de uma relação de trabalho entre os litigantes, não há como diferente pensar, é a Justiça Trabalhista a que possui competência material para tratar da lide.

Nesse passo, considerando a importância do ser humano, sua honra, dignidade e o fato de que todos somos trabalhadores, sofredores de tal problema, uma vez que, pela inegável relação de inferioridade a que está exposto, portanto, com base nos dispositivos constitucionais, a inferência a que se chega é óbvia: o dano moral será sempre reparável.

De acordo com todo o exposto no trabalho, legitima a Justiça Trabalhista, para conhecer e julgar o dissídio trabalhista, incluindo-se aí a indenização pelo dano moral.

De toda essa discussão pode ser deduzido que, conquanto a indenização de dano moral pertença ao âmbito do Direito Civil, se o pedido decorrer ou tiver como origem um contrato

(19)

de trabalho, a competência para julgar o caso será da Justiça do Trabalho e não da Justiça Comum.

Sabendo-se que caberá ao juiz a difícil tarefa de melhor aproximar essa reparação, e ninguém melhor do que os tribunais trabalhistas, impregnados de sentimento de Justiça social, para saber usar da medida adequada ao ressarcimento devido.

O importante é que se observe um mínimo de procedimento moral, para não converter um instrumento de justiça em um instrumento injusto

REFERENCIAS

BRASIL, Decreto-Lei nro. 5452 de 01 de Maio de 1943, Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, disponível em http://www.presidencia.gov.br

BRASIL, Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, disponível em <http://www.presidencia.gov.br>

BRASIL, Lei Federal 10406 de 10 de Janeiro de 2002, Código Civil Brasileiro, disponível em <http://www.presidencia.gov.br>

JOLIVET, Régis, Curso de Filosofia, 13ª ed., São Paulo, Ed. Agir, 1979.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro, Curso de Direito do Trabalho, 19 Ed. São Paulo, Saraiva 2004.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. V.II. 19ª Ed. Rio de Janeiro, Forense,2001.

REIS, Clayton. Dano moral4ª ed.Rio de Janeiro, Saraiva, 1995. RODRIGUES,Silvio. Direito Civil. V. 4, 18ª ed. Revista, São Paulo, Saraiva, 2001.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª. REGIAO, busca em Jurisprudência. Disponível em www.trt23.jus.br.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª. REGIAO, busca em Jurisprudência. Disponível em www.trtsp.gov.br

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, busca em jurisprudência, disponível em www.tst.jus.br.

(20)

Recebido para publicação em agosto de 2016 Aprovado para publicação em agosto de 2016

Referências

Documentos relacionados

A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de ACIDENTE DE TRABALHO propostas por empregado

Rememore-se, ainda, a forte divergência surgida entre STJ e TST a respeito da competência para julgar ações de indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidentes

[r]

“1- Vem o presente recurso da douta decisão do Meritíssimo Juiz do Tribunal a quo, que indeferiu liminarmente a petição inicial, nos termos do nº 1 do artigo 54º do Código

Nesse sentido é que, partindo-se de um levantamento historiográfico do surgimento e do desenvolvimento da Justiça do Trabalho no Brasil (inclusive dos

“Conflito de competência - Ação declaratória de inexistência de débito cumulada com pedido de indenização por danos materiais e morais - Alegação de inexistência de

Este trabalho versa sobre a importância da definição da competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de indenização por danos materiais e/ou morais decorrentes de

REQUISITOS BRAGA BRAGA BRAGA BRAGA BRAGA VILA VERDE AMARES LOCALIDADE N.º OFERTA OFERTAS DE EMPREGO.. Unidade Emissora: Data de Emissão N.º