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O avanço do capital sobre a floresta: uma análise dos processos de desterritorialização e favelização na Amazônia

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Academic year: 2021

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O avanço do capital sobre a floresta: uma análise dos processos de

desterritorialização e favelização na Amazônia

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Davilson Marques Cunha2

Pablo Marques da Silva3

Davi Marques Cunha4

Renísea Figueiredo da Silva Cunha5

Palavras-chave: Amazônia, Capital, Desterritorialização, Favelização e Governança

Ambiental

Resumo

A realidade atual da região amazônica é fruto das intervenções realizadas pelo Estado Brasileiro desde os anos 60 do século XX e mais recentemente pelo grande capital. Ambas tiveram grandes impactos ambientais, não só porque estabeleceram novas e devastadoras formas de exploração dos recursos naturais, especialmente porque alteraram de modo substancial a dinâmica territorial da Amazônia provocando dois processos distintos, mas, ambos negativos: A desterritorialização e a favelização. Este pequeno ensaio tem por objetivo debater esses processos tomando com base de atuação o capital representando por grandes grupos e corporações internacionais. Tal proposta justifica-se não só pela necessidade de focalizar as singularidades regionais do território amazônico, mas especialmente, para evidenciar como a sua dinâmica tem sido vilipendiada por atividades econômicas descompromissadas com a qualidade de vida das populações nativas da Amazônia. Nesse sentido, orientaremos nossa reflexão a partir de três capítulos. Inicialmente, discutimos as primeiras intervenções do Estado brasileiro na Amazônia, mostrando como estas ações eram articuladas. No segundo, dialogamos sobre como o capital de forma voraz estabelece uma relação parasitária com as riquezas amazônicas, revelando de fato a quem interessa o “desenvolvimento”. E por fim, debateremos no terceiro capitulo como ocorrem os processos de desterritorialização e favelização e como estes interferem de forma negativa sobre a capacidade de governança ambiental na Amazônia, bem como mostrar os resultados sociais desastrosos resultantes de tais processos.

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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu – MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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Sociólogo e Cientista Político, Especialista em Filosofia Política e Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Acre – UFAC.

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Economista e Mestrando de Desenvolvimento Regional – Universidade Federal do Acre. 4

Graduado em Administração e Comércio Exterior pela União Educacional do Norte – UNINORTE. 5

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O avanço do capital sobre a floresta: uma análise dos processos de

desterritorialização e favelização na Amazônia

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Davilson Marques Cunha Pablo Marques da Silva Davi Marques Cunha Renísea Figueiredo da Silva Cunha 1.0 – a presença do estado brasileiro na Amazônia: como tudo começou?

A primeira experiência de gestão da Amazônia por parte do Governo brasileiro ocorreu com a criação da Superintendência da Defesa da Borracha (1912), durante o governo do presidente Hermes da Fonseca. Este período foi conhecido como o primeiro ciclo da borracha6, e foi marcado pela migração de milhares de famílias do nordeste brasileiro que ao fugirem da seca e da falta de oportunidades do sertão, desencadearam um intenso processo ocupação das florestas amazônica na esperança de uma vida melhor.

Essa primeira fase de migração para a Amazônia, foi de certa forma apoiada pelo governo brasileiro em detrimento das dificuldades encontradas para inclusão de fato da Amazônia como território brasileiro, a fim de programar algumas ações de governo. Prova disse é que com o fim deste período, ocorreu a criação do Banco de Crédito da Borracha (1942), com grande participação de recursos americanos com o intuito de envolvê-la nos esforços de guerra dos aliados, na tentativa de ampliação da oferta da borracha, matéria prima para os pneumáticos que eram considerados determinantes para estratégia bélica dos americanos7. Como este montante de investimento objetivava exclusivamente assegurar a matéria prima da borracha e não se constituía numa proposta de fomentar o processo de desenvolvimento da região, com o final da guerra, retorna a situação histórica de “isolamento político e administrativo” praticado pelo poder central. Já no inicio do século passado a Amazônia sobrevivia com surtos repentinos e muito curtos de prosperidade.

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Em 1902, Manaus torna-se líder mundial na exportação de borracha. Em 1904, são oitenta mil toneladas as exportações do produto ao ano, já dois anos depois, em 1906, cai a exportação violentamente, gerando miséria, fome e morte novamente, agora por doenças como a malária, a diarréia pelo consumo de água infecta, entre outras enfermidades tropicais; começa o êxodo rural naquela região. No Norte, a extração

do látex ficou quase que completamente abandonada, Manaus se transforma em cidade fantasma. 6

Estimasse que 300 milhões de dólares foram investidos no Banco de Crédito da borracha naquele período

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Em 1946 o Estado brasileiro por meio do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, esboçou a primeira tentativa concreta de inserir o território amazônico no processo de desenvolvimento capitalista das regiões mais desenvolvidas do país, oportunidade em que se fixou que 3% das receitas da União, dos Estados e dos Municípios, seriam destinados para projetos na região. Entre outras ações, buscava-se assegurar a presença do poder central na região possibilitando uma ação mais concreta de inserção da Amazônia ao projeto nacional.

Todavia foi com a criação da SPVEA - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, no início da década de 1950, que se percebeu um plano mais eficaz para gestão da Amazônia. Que possibilitou a extensão para a Amazônia as ações do Sistema de Incentivos que visavam estimular o deslocamento do capital privado para a Amazônia, ou seja, adoção de incentivos fiscais da União às grandes empresas que estivessem interessadas em instalarem-se suas atividades na região Amazônica8.

Nos anos governados pelo Regime Militar, a partir dos anos 40 foi deflagrada uma verdadeira “Operação Amazônia” centrada no fortalecimento da política de incentivos fiscais e financeiros que, juntamente com a política de terras e a de infra-estrutura básica, passaram a constituir o tripé político-institucional do Estado, norteador do pretendido processo de desenvolvimento capitalista na Amazônia. Com a constatação do seu notável potencial de recursos naturais, a região passou a ser tida como lócus privilegiado para a expansão do processo de acumulação capitalista em desenvolvimento no país.

Percebemos a partir deste breve histórico, que o desenvolvimento da Amazônia brasileira envolve dois períodos distintos podendo ser o ano de 1990 considerado um verdadeiro divisor de águas. O Período entre os meados dos anos 40 e inicio dos 90, não foi somente marcado pelo fim da ditadura militar 1964 e, consequentemente, pela retomada da democracia, mas principalmente pela exaustão do modelo de desenvolvimento adotado pelos governos militares. Já o período seguinte, a partir dos anos 90, tem como acentuada característica da adoção de políticas neoliberais neolibera e, fundamentalmente, a mudança de atitudes em relação às práticas desenvolvimentistas adotadas até então.

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Percebemos que este incentivo em nada contribuiu o desenvolvimento do território Amazônico, pelo contrário. Atualmente grandes empresas multinacionais (Telefônicas, automobilísticas, têxteis e siderúrgicas) possuem verdadeiros latifúndios sem desenvolveram nenhuma atividade econômica. O Estado brasileiro loteou da Amazônia em favor do capital privado.

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Durante os anos que marcaram os governos do Regime Militar9, a Amazônia foi alvo de vários planos que buscavam seu desenvolvimento sob o binômio desenvolvimento e segurança nacional. Estes apesar de se intitularem “Planos de Desenvolvimento” eram nitidamente desconexos e descontextualizados, e que em nada contribuíram de fato para a melhoria das condições de vida na região. (Becker 1990).

2.0 – C capital voraz versus riquezas amazônicas: A quem interesse este “desenvolvimento”?

Com o breve histórico realizado no capitulo anterior, buscamos construir as bases teóricas, para mostrar como os atuais processos de desterritorialização e favelização na Amazônia, têm uma intima relação com a voracidade do grande capital nos recursos naturais. Neste sentido, a presença de grandes grupos investidores na Amazônia que há muito tempo vem sendo sentida e denunciada por ativistas e grupos organizados de defesa do meio ambiente reforçam essa tese. Estas grandes corporações constroem seus mega-empreendimentos dentro do território amazônico e estabelecem uma relação parasitária e destrutiva das riquezas amazônicas.

Com a falácia de beneficiar e agregar valor à matérias primas nativas da floresta, tornando produtos regionais mais competitivos no mercado global e por fim desenvolvendo a região, estes acabam por se legitimarem como atores dotados da capacidade técnico-científica e financeira-estrutral para se inserirem dentro da dinâmica territorial da Amazônia subtraindo os valores e conhecimentos nativos. Destacamos a seguir algumas atividades que contribuem decisivamente nos processos de desterritorialização e favelização na Amazônia.

2.1 – A mineração e as monoculturas em solo amazônico.

Apesar dos movimentos sociais resistirem às investidas do grande capital nas riquezas amazônicas, esta disputa está em parte sendo vencida pelo interesse do lucro máximo. Hoje existe uma forte tendência pelo desflorestamento e conversão da floresta

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Nos anos 50, durante o regime militar, houve um grande movimento de massa populacional devido à propaganda institucional, que propalava o crescimento do Brasil. A partir dos grandes centros, com urbanização acelerada e a construção civil, oferecendo oportunidades de emprego cada vez maiores à mão de obra não especializada e analfabeta, os migrantes tiveram melhoras salariais e de condições de vida. Isto ocasionou uma aceleração do êxodo rural, causando ainda mais inchaço nos grandes centros, aumentando ainda mais os problemas ocasionados pela miséria na periferia das cidades amazônicas.

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em áreas de exploração e minério e degradadas para a monocultura da soja e da cana-de-açúcar.

A exploração industrial de minérios na região remonta à década de 40, quando da descoberta jazidas no então território do Amapá e no Estado do Pará. A mineração na Amazônia foi o mais perverso de todos os processos de conflitos sociais pela terra.

No Brasil a soja era cultivada especialmente na região centro-oeste, em virtude da boa infra-estrutura e condições ambientais. Todavia, esta atividade vem avançando consideravelmente sobre a Amazônia, desencadeando um violento processo de expulsão dos moradores nativos de suas terras. Novas frentes do plantio da soja chegaram ao coração da Amazônia, e os sojeiros pressionam o Estado brasileiro para o asfaltamento das estradas e a implantação de infra-estrutura necessária para incentivar à produção.

Na Amazônia o interesse pela cultura da soja surgiu há cinco anos, por parte de produtores rurais com tradição na agricultura em larga escala. Além disso, médios produtores rurais foram atraídos pelo baixo custo da terra e pela potencialidade do solo para a plantação de grãos. Todavia os pequenos produtores, rurais e as populações tradicionais da floresta ficam desanimados pela ausência de infra-estrutura e incentivos para pequena produção familiar e forçados a vender por preços irrisórios suas terras decidem pela migração do campo para a cidade.

No que se referem às atividades agrícolas, s políticas de desenvolvimento para Amazônia adotaram um modelo explicitamente voltado para o latifúndio. Este modelo beneficiou com generosos subsídios, os grandes proprietários rurais em detrimento da vasta maioria dos pequenos. Neste sentido, estas políticas tiveram uma série de impactos problemáticos como à concentração fundiária, os conflitos agrários, a violência rural e a insegurança alimentar.

Cabe aqui ressaltar que a violência rural está intrinsecamente associada à concentração fundiária à especulação, que são frutos destas políticas de desenvolvimento, as quais, em ultima instancia, foram responsáveis pela exclusão do acesso à terra de grande parte da população rural, inclusive de diversas etnias indígenas.

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Os processos de desmatamento e exploração indiscriminada de madeira10 ocupam papel de destaque nos conflitos territoriais na Amazônia. É importante salientar que estes impasses envolvem uma realidade especificas dos atores e das motivações individuais e de grupos, que subjazem às principais causas do avanço de atividades econômicas e do desflorestamento, a partir da análise das estratégias socioespaciais dos principais atores sociais e agentes econômicos presentes nas novas áreas de fronteira. Revela os mecanismos presentes na relação entre os interesses dos agentes econômicos e os processos políticos. Examina ainda como se constroem as redes que integram o local e o global, definindo as tendências da ação do mercado globalizado na região. (Castro, 2005).

A alteração espacial que presenciamos hoje na Amazônia resulta de importantes mudanças que ocorreram na sociedade e na economia nas últimas décadas, entre elas a diferenciação interna do uso do solo e da estrutura da propriedade. Entender essa alteração requer a análise da interação entre os processos locais e globais, em busca de conexões lógicas que permitam compreender como a globalização, cuja dinâmica principal se dá em um complexo mercado transnacional, pode definir as ações de atores locais e a pressão sobre os recursos naturais (CASTRO, 1994, 2001).

Nessa perspectiva, cabe examinar os efeitos do movimento do capital no fomento à algumas atividades como a pecuária, da madeira, do agronegócio, da mineração e das hidrelétricas são responsáveis em grande parte pelo desmatamento verificado. Todavia, não podemos excluir do bojo das atividades predatórias da o comércio do extrativismo vegetal e os grandes empreendimentos de infra-estrutura que se articulam como parte de cadeias nacionais e transnacionais de atuação na Amazônia.

A exploração da madeira ainda é uma das bases da economia da região amazônica. Organiza-se em um sistema bastante complexo, que alia processos tradicionais aos modos mais agressivos de extração, como o uso da motosserra, e a processos industriais de beneficiamento. A exploração da madeira, desde a extração na mata até suas formas mais elaboradas de produtos finais – tábuas, lambris, compensados etc. – alimenta uma extensa e complexa teia de segmentos sociais. A atividade foi responsável pelo desaparecimento, no estuário próximo da embocadura do Amazonas, de espécies nobres de madeira, como o mogno, o acapu, a virola, que eram abundantes nessa área. (CASTRO: 2005, 34).

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Estima-se que 82% de toda a madeira extraída da Amazônia e comercializada no mundo são ilegais. O prejuízo que isto causa à floresta e ao povo amazônico é incomensurável, ocorre de forma gradativa e cada vez mais destrutiva.

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2.4 – Os grandes complexos hidrelétricos

Os grandes complexos hidrelétricos ocupam papel de destaque nos processos de desterritorialização na Amazônia, uma vez que ocasiona a transferência das famílias atingidas pelas gigantescas barragens. Não é difícil imaginar que a chegada ao um outro local, representa, sempre, a chegada a um local novo e ainda desconhecido e todas as relações sociais, econômicas e afetivas e precisam serem reconstruídas. Em todos os casos conhecidos de famílias atingidas por barragens processo de desterritorialização constitui-se num processo de expulsão de suas casa e por fim de exclusão social. Concernentes às relações estabelecidas com a construção das barragens, verificam-se dois processos. O primeiro, de um fluxo de fora para dentro de trabalhadores11 necessários à construção e, depois, de um movimento de dentro para fora daqueles que são expulsos de suas casas que serão submersas pelo reservatório.

Verificamos na historiografia da humanidade inúmeros episódios onde com a promessa de um progresso econômico e desenvolvimento de oportunidades, estabeleceu-se uma verdadeira relação de exploração social, apropriação indiscriminada e criminosa do capital neoliberal de recursos naturais e subjugação de uma comunidade, povo e até mesmo nação. Considerando que a construção de uma hidrelétrica traz consigo uma serie de impactos decorrentes das barragens, deve sempre ser lembrado que ao longo destas existem estabelecidas a centenas de anos populações tradicionais, e que no caso das hidrelétricas são colonos, seringueiros e diversas etnias indígenas que de alguma forma sofrerão conseqüências de todas as ordens. De imediato as questões da desocupação territorial e dos impactos ambientais merecem especial atenção e buscaremos trazer algumas reflexões

Na atualidade a Amazônia está em fragmentos. Observa-se que alguns sítios amazônicos estão diretamente ligados a globalização, geralmente como provedores de recursos naturais, enquanto outros manten-se a margem destes processos e limitam-se a relações locais ou regionais. O modelo de desenvolvimento implementado na Amazônia baseia-se na apropriação indiscriminada e predatória dos recursos naturais voltada para exportação e para atender a interesses comerciais internacionais que afetam negativamente sobre as relações no território amazônico.

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Também conhecidos como “barrageiros” que são trabalhadores de várias especialidades na construção de barragens que vivem em um circuito migratório dos grandes projetos transferindo-se de uma obra para outra sucessivamente.

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3.0 - Desterritorialização e favelização: o debate da governança ambiental no contexto amazônico.

O objetivo central deste trabalho é contribuir com o debate sobre os processos de ocupação territorial que marcaram a Amazônia nos últimos 50 anos, especialmente analisar como estes interferiram e impactaram substancialmente a dinâmica social das populações amazônicas. Igualmente, constitui-se num grande desafio reunir expressões tão densas e eivadas de significados e significâncias como Governança Ambiental, Desterritorialização e Favelização e articula-las numa construção teórica que busque contextualizá-las no contexto amazônico, requer especial atenção para não incorrer em lacunas.

Concomitante a estes desafios, buscaremos desmistificar a proposta do capital agrobusines12 que defende a ocupação “produtiva” do território amazônico como se esse fosse somente uma extensa área de terra dotada de relativa beleza natural, mas que tem seu verdadeiro valor no potencial de exploração de suas riquezas. Todavia, sabemos que o valor do território amazônico e incomensurável e não se trata de uma defesa “ecoxiita” e romântica dos ecossistemas intocados, é na verdade, uma reflexão orientada no uso sustentável das potencialidades nele encontrado. Ainda que saibamos que a voracidade do capital não considera nada além da exploração e acumulação.

A Amazônia possui aproximadamente 7,01 milhões de km2, distribuídos em nove países: Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, sendo que aproximadamente 4,5 milhões de km2 em território brasileiro. Ou seja, devemos conceber a Amazônia como território primeiramente sul-americano e somente depois patrimônio da humanidade. Neste ínterim, a governabilidade13 do território ganha um papel singular na geopolítica econômica implementada atualmente pelas grandes nações e blocos econômicos, que buscam apropriar de modo criminoso do território amazônico.

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Esta argumentação consiste em reconhecer que o desenvolvimento das áreas interioranas na América Latina, isto é o território amazônico, com a finalidade de reduzir a pobreza e a exclusão social e que estes avanços não depende exclusivamente do crescimento do setor agropecuário e que, portanto, exige uma

abordagem que não seja setorial e sim territorial considerando a sua múltipla diversidade. 12

Sobre a questão da governabilidade do território amazônico, especialmente frente às já insofismáveis ações visando sua internacionalização o TCA – Tratado de Cooperação Amazônica, ocupa papel estratégico nesta manutenção. Sua iniciativa constitui-se fundamentalmente em reconhecer a soberania de cada um dos países signatários sobre a parte que lhe corresponde da Amazônia. A isto podemos denominar soberania regional, como conceito contraditório e oposto ao de internacionalização. O Tratado

de Cooperação Amazônica é na verdade uma importante política de integração sul-americana. 12 Citamos como maior símbolo destas lutas a vida e morte do Líder Ambiental Chico Mendes.

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3.1 – Os processos de Desterritorialização na Amazônia.

O território Amazônico tem sido nas ultimas décadas local de intensas e violentas disputas pela posse da terra14, e preservação do meio ambiente. Tão grande como sua imensidão de florestas, são as atividades que atualmente são desenvolvidas em seu território. Como estas atividades relacionan-se com o processo de favelização?

Partindo de uma abordagem geoantropológica o território pode ser definido como um conjunto de laços estabelecidos pela interação social num determinado espaço (Haesbaert, 2002), o que conduz à questão decisiva de saber quem são e o que fazem seus protagonistas fundamentais. Ou seja, é importante ampliarmos o debate sobre quem de fato são os reais beneficiários dos projetos e grandes atividades desenvolvidas na Amazônia, para que seja possível avançar na concepção de propostas que busquem garantir a incorporação de valores sociais, culturais e indentitários dos povos tradicionais, especialmente mensurando os impactos ambientais, o nível de beneficio e reservas para as gerações vindouras de todas as atividades atualmente desenvolvidas na Amazônia.

Em sua obra intitulada “Território, Cultura e des-territorialização”, o renomado Geógrafo Rogério Haesbaert (2001) apresenta uma detalhada reflexão do conceito de des-territorialização. Onde para ele:

“desmaterialização das relações sociais (ou como a perda de referenciais concretos)”, onde a “ênfase é dada a um fato fundamental de nossos dias: a mobilidade crescente que rompe com a fixidez que tradicionalmente era uma das marcas da territorialidade.” (Haesbaert, 2001, p.125).

Durante o regime militar, a Amazônia testemunhou uma profunda transformação na medida em que esta região, com seu imenso estoque de recursos naturais e seus “espaços vazios” foi considerada pelos governos militares um meio para se resolver rapidamente problemas de toda a ordem, ou seja, econômicos, sociais e geopolíticos. Neste contexto, políticas de desenvolvimento foram formuladas e implementadas com o objetivo precípuo de maximizar as imediatas vantagens econômicas. Estas estratégias de desenvolvimento geraram impactos sociais e ambientais adversos nas áreas rurais e urbanas da Amazônia.

Em geral, as políticas públicas desenhadas para a região amazônica especialmente em relação à esfera econômica, não conseguiram promover uma ocupação espacial eficiente e bem organizada. Ao mesmo tempo em que substanciais

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investimentos em infra-estrutura contribuíram para redução do isolamento entre as distantes regiões do Brasil, para o surgimento de novas alternativas de investimentos e, consequentemente, de ganhos financeiros, eles também aceleraram o processo de ocupação espacial resultando numa exploração predatória dos recursos naturais e no agravamento das disparidades sociais. De fato, estas políticas de desenvolvimento, devido ao fato de atrair um imenso fluxo migratório, foram responsáveis por gerarem consideráveis impactos sociais e ambientais adversos nas áreas urbanas e rurais.

3.2 – Dá desterritorialização à favelização: Um debate sobre a migração forçada e violência social urbana na Amazônia.

Verificamos que existe uma relação direta entre a presença de grandes atividades econômicas e os processos de desterritorialização em território amazônico. Num primeiro momento ocorre a disputa na terra, que é facilmente vencida pelo capital que expulsa milhares de família de seu habitat natural, a floresta amazônica.

Uma vez expulsos de suas terras estas famílias, são obrigadas a migrarem para as cidades amazônicas na esperança de sobrevivência. Quase sempre analfabeto e sem nenhuma formação tecnico-profissional o que lhes permitiriam exercer alguma atividade nos centros urbanos, estas pessoas não atendem às exigências do mercado de trabalho e empurram para baixo os já desanimadores indicadores sociais no Brasil.

Em conseqüência destes intensos fluxos migratórios, as cidades amazônicas apresentaram, de um modo geral, problemas nos setores de educação e de saúde, além de uma inadequada infra-estrutura urbana, posto que os sistemas de tratamento de água, esgoto e coleta de lixo atendiam apenas a uma pequena parcela da população. Os impactos deste processo na saúde pública estão diretamente relacionados à falta de infra-estrutura urbana básica. Estes problemas estão refletidos na piora dos indicadores sociais, como, por exemplo, mortalidade infantil. Segundo dados do Datasus, 94% dos municípios amazônicos apresentam índices alarmantes de doenças oriundas da falta de saneamento básico como malária, tuberculose, hepatite, meningite, tétano, sarampo e coqueluche.

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É importante ter em mente que a dinâmica territorial na Amazônia permaneceu praticamente intocada até os governos do regime militar. Após este período vários fatores ocorreram para as mudanças profundas e desastrosas hoje em desenvolvimento. A construção das grandes rodovias; a criação de gado; o plantio de monoculturas, a exploração de madeira; a mineração e os projetos de infra-estrutura associados como as hidrelétricas, determinam os atuais processos de desterritorialização e favelização. O território amazônico não é só rico em biodiversidade, mas, também em cultura humana, cujas populações locais estabelecem uma relação direta de sobrevivência com a floresta. Qualquer atividade econômica ação por mais lucrativa que seja se não considerar a cultura local, resulta numa ação nociva e devastadora para a dinâmica territorial da Amazônia.

Os processos de desterritorialização e favelização estão intimamente ligados com a presença e atuação do capital. Seus resultados perpassam as questões ambientais rurais e urbanas, especialmente as questões sociais mínimas da dignidade humana. As famílias desterritorializadas na floresta, migram para a cidades, sem casa, sem estudos com poucas ou nenhuma condição de sobrevivência estas perdem a dignidade humana e transformam-se num problema social que o estado brasileiro gerou mas não quer criar.

5.0 – BIBLIOGRAFIA

BECKER, Bertha. 1990. Geopolítica da Amazônia. Rio de Janeiro: Zahar..

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CAMARGO, Aspásia. CAPOBIANCO, João Paulo R.; OLIVEIRA, José Antônio P.

2002. Os desafios da sustentabilidade no período pós-Rio-92: uma avaliação da situação brasileira. Brasília: ISA/MMA.

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HAESBAERT, Rogério. 2002. Territórios Alternativos. São Paulo: Contexto. LEFF, Henrique. 2001. Saber Ambiental. 2 ed. São Paulo: Vozes.

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SACHS, Ignacy.2004. Desenvolvimento includente, sustentável, sustentado. Rio de

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