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Vilas e cidades do Brasil colonial (ensaio de geografia urbana retrospectiva)

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Academic year: 2021

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VILAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL

(Ensaio de geografia urbana retrospectiva) (*)

Aroldo de Azevedo

EXPLICAÇÃO

O estudo geográfico das cidades brasileiras levou-nos, dentro de compre-ensível desejo de fazer comparações, a indagar qual o panorama urbano do Brasil de outros tempos. Infelizmente, as fontes consultadas não conseguiram satisfazer, nem de longe, a nossa curiosidade como geógrafo. Tentamos, então, num esforço ingente, realizar a tarefa, que melhor e com maiores razões deveria caber a um historiador. Evidentemente, não procuramos fazer um estudo de caráter histórico. Embora diga respeito ao passado—não ao passado em si mesmo, mas estreitamente ligado ao presente, como base para indispensáveis comparações e como elemento fundamental da evolução de fatos geográficos -, estamos convencidos de que realizamos um trabalho que, pelo assunto e sobretudo pelo método seguido, é de Geografia. Trata-se, porém, como esclarece seu subtítulo, apenas de um modesto ensaio de Geografia urbana retrospectiva.

Os mapas que ilustram o presente trabalho são de autoria de J. Soukup, A. Monte, J. Nieuhof e J.R. Felizardo e Costa. Os desenhos, de Seth, Rugendas, L. Jardim, J.W. Rodrigues e Belmonte. Quanto às fotografias, são todas do autor.

SUMÁRIO

I. Um estudo de geografia urbana retrospectiva. II. Os aglomerados urbanos no século XVI. III. Os centros urbanos no Seiscentismo. IV. Vilas e cidades no século XVIII.

V. No crepúsculo do período colonial.

VI. Algumas características dos aglomerados coloniais. VII. O anti-urbanismo do Brasil Colonial.

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I

Cidades Até 5.000 hab 1453 De 5.001 a 10.000 230 De 10.001 a 20.000 108 De 20.001 a 50.000 64 De 50.001 a 100.000 21 De 100.001 a 200.000 3

Com mais de 200.000 hab 8

Evidentemente, seria um erro afirmar que esses 1890 centros urbanos devem ser considerados verdadeiras cidades, de acordo com o conceito geográfico desta palavra, pois a grande maioria não apresenta as características culturais e sociais, a estrutura, as características demográficas e as funções geralmente apontadas pelos geógrafos para que possam ser como tais classificados1.

Acreditamos estar mais próximos da realidade se tomarmos como limite mínimo para a conceituação das cidades (na falta de outro critério) a população urbana de 10.000 hab. Nesta hipótese, existiriam, em 1950, apenas 204 aglomerados urbanos que mereceriam aquela designação, no ponto de vista da Geografia.

Ora, se procurarmos verificar como se realizava a repartição geográfica dessas duas centenas de cidades, chegaremos às seguintes conclusões:

a) nada menos de 95% daquele total achavam-se concentrados em apenas três regiões brasileiras — o Sul, o Leste e o Nordeste;

1Consultem-se, a propósito, principalmente: L A V E D A N (Pierre), Géographie des Villes, Lib. Gallinard, Paris,

1936; MOMBEIG (Pierre), O estudo geográfico das cidades, em "Revista do Arquivo Municipal", nº LXXIII, São Paulo, 1941; CHABOT(Georges),Z,M Villes, Liv. Armand Colin, Paris, 1948; TAYLOR (Griffith), Urban

Geography — A study of site, evolution, pattern and classification in Villages, Towns and Cities, ed. Methuen,

Londres, 1949, de que existe uma versão espanhola, sob o título de Geografia Urbana, ed. Omega, Barcelona, 1954; GEORGE (Pierre), La Ville — Le fait urbain a travers le Monde, ed. Presses Universitaires de France, P a r i s , 1952; e SORRE (Max.), Les Fondements de la Géographie Humaine, tomoIII — L'habitat, Liv. Armand Colin, Paris, 1952.

UM ESTUDO DE GEOGRAFIA URBANA RETROSPECTIVA

Repartição geográfica das cidades brasileiras

De acordo com o censo de 1950, existiam em nosso país 1.890 municípios, o que significa que, no ponto de vista político-administrativo, o Brasil possuía, naquela ano, nada menos de 1890 cidades, uma vez que "a sede do município tem a categoria de cidade e lhe dá o nome", conforme o estatuído pelo Decreto-Lei n2

311, de 2 demarco de 1938, em seu artigo 3º.

Dentro desse total e levando em conta apenas a população urbana, assim se repartiam tais aglomerados:

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b) 79% daquele total encontravam-se nas duas primeiras das regiões citadas: o Sul, com 92 cidades (45%) e o Leste com 70 cidades (34%);

c) apenas cinco Estados brasileiros congregavam 69% daquelas cidades, a saber: São Paulo com56 (27%), Minas Gerais com35 (17%), Rio Grande do Sul com 23 (11%), Pernambuco e Rio de Janeiro com 15 cada um (7%);

d) o Sul e o Leste podem ser considerados as regiões mais urbanizadas do nosso país, o que está de acordo com a excepcional posição ocupada por essas regiões quanto à população e ao poderio econômico.

Se examinarmos o assunto sob o prisma da concentração urbana, será possível fazer as seguintes constatações:

a) em 1950,11.840.195 habitantes (22% do total brasileiro) viviam naquelas 204 cidades;

b) desse total, porém, 74% viviam em apenas 32 cidades, isto é, as que possuíam mais de 50.000 hab. em sua população urbana, correspondendo a 8.434.220 hab. (16% do total brasileiro);

c) não é só: 58% da população urbana do país (6.873.253 hab.) estavam concentrados em apenas 11 cidades, isto é, as de mais de 100.000 hab. Em face dos últimos dados citados, verifica-se que constitui tuna realidade a irresistível atração exercida pelas médias e grandes cidades, a exemplo do que também se registra noutros países de formação recente e de fraca densidade demográfica, como o Canadá, a Austrália e os Estados Unidos.

Uma Tarefa Árdua, mas Necessária

Uma vez constatados tais fatos, cumpre verificar desde quando começaram eles a ser registrados. Impõe-se, no caso, um estudo retrospectivo, através de sucessivos recuos no tempo, tarefa que poderia caber tanto ao historiador como ao geógrafo. Infelizmente, os que se dedicam à nossa História não se tem preocupado com o assunto; continuamos à espera que apareçam os êmulos brasileiros de um Fustel de Coulanges ou de um Henri Pirenne, que nos viessem brindar com estudos descritivos e interpretativos da vida urbana em nosso tão curto passado, informan-do-nos a respeito da fisionomia, da estrutura, das funções e da importância dos centros urbanos do Brasil colonial. Praticamente nada foi feito num setor tão palpitante2 e o geógrafo sente-se no vácuo e inteiramente às cegas quando pretende,

no desejo de fazer comparações, remontar ao passado.

Perante tal dificuldade, não tivemos dúvidas em tentar realizar não propria-mente um estudo histórico (para o qual não temos vocação e nos falece

competên-2 JOAQUIM RIBEIRO reconheceu tal fato, ao escrever estas palavras: "Infelizmente ainda não se escreveu a história geral das origem das cidades do nosso interior e poucas são as que têm merecido a atenção dos nossos historiadores" (em Folklore dos Bandeirantes, pág. 146, Liv. José Olímpio, Rio, 1946).

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cia), mas o que poderemos chamar de geografia urbana retrospectiva, da mesma maneira que ROGER DION não tem dúvidas em realizar a Geografia Humana Retrospectiva, quando procura reconstituir a paisagem natural e a paisagem huma-nizada correspondentes ao passado, interpretando-as à luz dos ensinamentos da Geografia moderna3.

Nossa tarefa seria bem mais fácil se nos limitássemos aos últimos 80 anos, a respeito dos quais existem dados censitários. Preferimos, porém, tentar uma tarefa mais ousada e complexa, abordando o tema em relação aos 322 anos do período colonial, no desejo de trazer não apenas uma contribuição, modesta embora, para a melhor compreensão dos fatos da Geografia Urbana brasileira, como também despertar o interesse dos mais capazes, dos especialistas em nossa História, para um assunto tão sedutor e até hoje condenado ao esquecimento. Nossa curiosidade maior se tornou quando viemos a constatar que o Brasil, no momento em que passou a ser um país independente, só possuía 12 cidades, oficialmente assim designados, para tão vasto território e para uma população que não deveria estar muito longe do total de 5 milhões.

Nosso objetivo

No presente ensaio, em face da lamentável escassez bibliográfica e na impossibilidade de realizar pesquisas aprofundadas de caráter exclusivamente histórico, limitar-nos-emos a focalizar principalmente a repartição geográfica dos aglomerados urbanos brasileiros, do século XVI ao primeiro quartel do século XIX, como também as suas características essenciais, naquilo que possam interessar ao geógrafo. Deixaremos de lado os aspectos referentes às origens (tocados apenas de leve e de passagem), por dois motivos principais: 1) porque tal assunto já tem merecido a atenção dos historiadores, dos sociólogos e mesmo dos geógrafos4; 2)

porque daria oportunidade a um estudo tão ou mais extenso que o presente, tendo em vista a importância que apresenta para a Geografia urbana brasileira.

3 Cf. D I O N (Roger), La Gèographie Ilumaine Rétrospective, em "Cahiers Internationaux de Sociologie", vol.VI, Paris, 1949.

4 Veja, principalmente: MORAES (Rubens Borba de), Contribuição para a história do povoamento em São Paulo

até fins do século XVIII, em "Geografia ", I, n" 1, São Paulo, 1935; DEFFONTAINES (Pierre), The origin and growth of the Brazilian network of towns, em "Geographical Review", XXVIII, N e w York, 1938, de que há uma

versão brasileira, sob o título Como se constituiu no Brasil a rede de cidades, em "Boletim Geográfico", nºs 14 e 15, Rio, 1944; AZEVEDO (Fernando de), A Cultura Brasileira, ed. do IBGE, Rio, 1943; 2º edição, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1944.

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II

5 V I A N A (Hélio), História do Brasil Colonial, pág. 43, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1945.

6 FLEIUSS (Max), História Administrativa do Brasil, pág. 4 , 2a adição, Comp. Melhoramentos de São Paulo.

7 FLEIUSS (Max), obra cit., pág. 4.

8 Entre os núcleos de origem européia existentes no período anterior a 1530, os historiadores citam os seguintes:

Igaraçú e. Conceição de Itamaracá, em Pernambuco; Santa Cruz, na Bahia; Cabo Frio, no Estado do Rio de

Janeiro, fundado em 1503; e o do Rio de Janeiro, cujos vestígios teriam sido encontrados por Fernão de Magalhães, quando passou pela baía de Guanabara, em 1519.

OS AGLOMERADOS URBANOS NO SÉCULO XVI

Feitorias, "cabeças de ponte" do Brasil quinhentista

Os mais remotos embriões de nossa cidades podem ser considerados as modestas feitorias surgidas no litoral brasileiro, nos 30 primeiros anos do século XVI. Simples pontos de escala das expedições exploradoras enviadas pelo governo de Portugal, verdadeiras "cabeças de ponte" aqui plantadas naqueles anos incertos que imediatamente se seguiram à descoberta, tais feitorias significavam um sinal de posse, serviam de base para o policiamento da costa infestada de contrabandistas franceses, ao mesmo tempo que representavam o papel de entrepostos para o incipiente tráfico do pau-brasil e de local de aguada para as naus que demandavam as índias ou policiavam nossas águas. "Simples galpões, cercados de estacadas, para prevenir eventuais ataques, aí se depositava a habitual mercadoria de escambo: espelhos, avelórios (vidrilhos), cascavéis (guisos), pentes, tesouras e as ferramentas, como o machado e a foice" — ensina HÉLIO VIANA5.

Todavia, cumpre não exagerar a importância desses modestíssimos núcleos de povoamento, em que pese a afirmação de MAX FLEIUSS, quando os considera "um esboço dos nossos primeiros núcleos de organização político-administrativa" e quando afirma que, "pouco a pouco, com a arribada de novas naus e novos colonos e a hospitaleira acolhida dos naturais, a feitoria se ia convertendo em aldeiamento ou povoado, florescia em vila ou cidade, com a construção de casas coloniais, de taipa e pau-a-pique, edifícios públicos" 6.

Em primeiro lugar, torna-se necessário acentuar que tais feitorias caracteri-zavam-se pelo seu caráter principalmente militar, bem definido pela presença de "uma casa-forte defendida por uma caiçara ou paliçada", sob o comando de um capitão de vigia, de acordo com os ensinamentos do próprio MAX FLEIUSS7.

Além disso, apresentavam extrema precariedade, tinham insignificante função econômica como simples entrepostos de trocas em espécie e não se enraizavam no lugar em que eram fundadas. Por outro lado, cumpre lembrar que seu número foi muito reduzido, não chegando talvez a meia dúzia, embora seja este um dos pontos mais obscuros e controversos da nossa história quinhentista8.

Embora reduzidas em número, tais sementes poderiam ter germinado, transformando-se em vilas e cidades. Eis aqui, porém, um fato que necessita de

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comprovação. Conhecemos apenas dois exemplos, se bem que não muito convin-centes, em que parece se ter registrado uma tal evolução, sem solução de continui-dade: Cabo Frio, que as circunstâncias históricas transformaram em cidade no primeiro quartel do século XVII; e Igaraçú, pequeno aglomerado urbano de pernambuco, que conseguiu arrastar-se obscuramente através dos séculos e ainda hoje existe como simples relíquia histórica.

Não fora tudo isso uma verdade e certamente o governo de Portugal teria prosseguido, por muito mais tempo, a semear feitorias nas costas brasileiras.

As Vilas e Cidades do Século XVI

A urbanização do nosso país só teve início, realmente, depois que se iniciou a colonização e foi instituído o regime das Capitanias. De fato, conforme rezavam as cartas-régias, os donatários tinham o direito de "fazer todas e quaisquer po-voações que se chamarão Vilas", as quais possuiriam "termo, jurisdição, liberdades e insígnias de Vilas, segundo a forma e costume de meus Reinos" 9.

A mais antiga, a primeira vila oficialmente instalada no Brasil — é bem sabido — foi a de São Vicente, no ano de 1532, no litoral paulista. Coube a Martim Afonso de Sousa demarcar-lhe o terreno, arruá-lo, loteá-lo, distribuindo os lotes aos sesmeiros; fez levantar um forte, a casa da Câmara, a cadeia, a igreja, a alfândega; e, dando-lhe uma organização político-administrativa, nomeou os administrativos da justiça e convocou os "homens bons" para procederem à eleição dos primeiros Vereadores1 0.

Outras muitas vilas vieram, sem demora, alinhar-se ao lado dessa venerável São Vicente, que, sob certos aspectos, pode ser considerada a primeira Capital que teve o Brasil, desde que seu fundador tinha o título de "Capitão-mor e governador das Terras do Brasil". O assunto apresenta uma certa dificuldade, pois algumas delas tiveram duração efêmera (como é o caso de Santo André da Borda do Campo), os cronistas da época não distinguem perfeitamente as vilas dos simples povoados1 1

e, finalmente, existem exemplos de aglomerados que tomaram o título de Vilas sem que se conheça com exatidão o correspondente ato da metrópole.

Tudo parece indicar que, ao findar-se o século XVI, existiam no Brasil pelo menos 14 vilas, a saber:

9 Cf. M A I A (João de Azevedo Carneiro), O Município, pag. 28, Tip. Leuzinger, Rio, 1883. 10 Cf. FLEIUSS (Max), obra cit., pág. 6.

11 Cf. G A N D A V O (Pero de Magalhães), História da Província de Santa Cruz, em ASSIS CINTRA, "Nossa Primeira História", Comp. Melhoramentos, São Paulo, 1922,págs.71-76; e S O U S A (Gabriel Soares de), Tratado descritivo do Brasil em 1587, 3- edição, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1938, págs. 27-107.

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DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL (original e atual)

REGIÃO NORDESTE

1536 1. Igaraçú Pernambuco

1537 2. Olinda Pernambuco

1599 3. Natal Rio Grande do Norte

REGIÃO LESTE

1535 1. Porto Seguro Bahia

1536 2. São Jorge dos Ilhéus, atual Ilhéus . . . Bahia 1536 3. Santa Cruz, atual Santa Cruz Cabrália . Bahia

1551 4. Espírito Santo Espírito Santo

1551 5. Nossa Senhora da Vitória, atual Vitória Espírito Santo

1590 6. São Cristóvão Sergipe

REGIÃO SUL

1532 1. São Vicente São Paulo

1545 2. São Paulo

1558 3. São Paulo de Piratininga,

São Paulo 1561 4. Nossa Senhora da Conceição de

Itanhaém, atual Itanhaém São Paulo

1600 5. São João Batista da Cananéia,

atual Cananéia São Paulo

Muito pelo contrário, raras foram as cidades criadas no quinhentismo. Conhecemos apenas três exemplos, todos eles caracterizados pelo fato de nunca haverem sido Vilas e, muito menos, Povoados:

1. A cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos, fundada por Tome de Sousa 1549 e que se orgulha, com toda razão, de haver sido a primeira cidade surgida em terras brasileiras;

2. a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada em 1565 e definitivamente instalada em 1567;

3. a cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, depois Paraíba, hoje João Pessoa, fundada em 1585.

Essa extrema pobreza em cidades, que tão bem caracteriza o Brasil do século XVI, não só correspondia à modéstia de nossa vida colonial, dando então os seus primeiros passos, como também era um reflexo da tradição portuguesa da época e, mais proximamente, resultava do regime dominante das Capitanias hereditárias. Os Dona-tários não tinham o direito de fundá-las, porque "as cidades, perpetuando em si o antigo Município romano, de natureza independente, só assentavam em terras próprias alo-diais"1 2. Por isso mesmo, para que pudesse ser fundada a cidade do Salvador, necessário

se tomou que, primeiramente, revertessem à coroa portuguesa as terras da capitania da Bahia, então pertencentes aos herdeiros de seu malogrado Donatário.

(8)

Povoamento e urbanização do Brasil, no século XVI No quinhentismo, a área efetivamente povoada limitou-se à orla litorânea, do Rio Grande do Norte a São Paulo, o que explica a pre-sença das poucas cidades e vilas exclusivamente nesse trecho da costa, salvo uma única exceção: a vila de São Paulo de Piratininga, localizada no Planalto.

A Maritimidade dos Aglomerados Quinhentistas

Era esse, por conseguinte, o panorama urbano do Brasil quinhentista. Em primeiro lugar, cumpre-nos ressaltar um traço comum a essas vilas e cidades do século XVI: com apenas uma única exceção, localizavam-se à beira-mar, eram aglomerados urbanos marítimos. Tal característica nada mais constituía do que uma conseqüência das condições reinantes naquele momento histórico.

Antes de tudo, não nos esqueçamos de que os audazes pioneiros, que constituam a população desses núcleos urbanos,precisavam fixar-se no litoral afim 12 FLEIUSS (Max), obra cit., pág. 10.

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de que pudessem manter permanente contato com as raras naus procedentes da metrópole lusa, vale dizer da Europa e do Mundo civilizado de então. Mais do que nunca, o colono quinhentista dependia desses raros e sempre desejados contatos: de Portugal vinham os tecidos para o seu vestuário, os mantimentos com que se havia acostumado, as armas e as munições essenciais à sua defesa, os modestos instrumentos de uso comum ou para a lavoura, as sementes e as cabeças de gado; de lá vinham as notícias dos membros de sua família e os ecos amortecidos dos acontecimentos registrados no país, quando não no próprio continente.

Fixar-se junto às águas do atlântico, dessas mesmas águas que também banham as costas lusitanas, constituía, até certo ponto, um gesto de sobrevivência e manifestação de uma esperança; afastar-se desse litoral e embrenhar-se pelo sertão desconhecido, planalto a dentro, era sujeitar-se a perigos de toda ordem e a contratempos inimagináveis, era expor-se ao ataque da indiada hostil e abdicar ao mínimo de conforto que a civilização podia oferecer. Em última análise, tratava-se de escolher entre a Vida e a Morte. As necessidades materiais exigiam essa permanência na costa, fazendo com que os colonos a ela se agarrassem como os caranguejos — conforme a tão citada e sugestiva imagem de irei VICENTE DO SALVADOR; mas é evidente que o fator psicológico representou um papel de destaque nessa localização de nossos primeiros aglomerados urbanos.

Todavia, outras razões existiam, reforçando a que acabamos de citar. Em primeiro lugar, a presença das escarpas abruptas do Planalto Brasileiro, junto ao mar ou não muito longe dele, em larga extensão do litoral sul-oriental, constituindo só por si uma barreira natural, de acesso difícil e que dava a impressão de esconder, atrás delas, uma região extremamente montanhosa e intransponível. Tornando ainda mais sério esse obstáculo criado pela Natureza, aparecia aos olhos daqueles homens do quinhentismo o manto compacto, impenetrável, grandioso mas amedrontador da Mata Atlântica, a encobrir os vales e as escarpas da serrania marítima. Além disso, as vias de acesso ao Planalto eram muito escassas, deficientíssimas e cheias de perigos; imagine-se o que não aconteceria nas terras de "Serra Acima", onde os caminhos eram inexistentes e não se dispunha nem mesmo dos mais rudimentares meios de transporte.

Havia mais, porém: se o Tupi da costa dava margem a cuidados e pre-ocupações, maior era o temor que se apoderava dos primeiros povoadores em relação ao Jê ou Tapuia, que habitava o Planalto e que se notabilizava por sua belicosidade e selvageria. Finalmente, também conseqüência de tais fatores, mas causa da concentração urbana, era na costa ou em suas proximidades que se situavam os únicos centros econômicos da época, baseados na cultura da cana de açúcar e importantes fatores para a fixação do povoamento.

Tudo contribuiu, pois, para que nossos primeiros aglomerados urbanos fossem marítimos; e as razões do fato prevaleceram em grande parte ainda no século XVII.

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A vila de São Paulo de Piratininga aparecia como verdadeira e única exceção, desde que, embora também surgida no primeiro século de nossa coloni-zação, foi plantada no Planalto, a mais de 700m de altitude sobre o nível do mar e deste separada não apenas por algumas dezenas de quilômetros, mas sobretudo pelas escarpas da Serra do Mar. No decurso de todo o quinhentismo, foi a mais avançada "boca de sertão" estabelecida pelos colonizadores à entrada daquele mundo desconhecido, que era o interior do nosso país.

Tal exemplo, no entanto, não basta para invalidar a regra geral: fundada em 1554 e feita vila em 1558, teve a seu favor o fato de poder dispor de uma das raras e mais antigas vias de acesso ao litoral (utilizada pelos índios antes mesmo da chegada dos portugueses) e de contar com a preciosa colaboração de chefes indígenas, graças ao prestígio de João Ramalho. Não fora isso, tal exceção certamente deixaria de aparecer no quinhentismo; e, para comprovar nossa assertiva, basta recordar que as demais vilas planaltinas, instaladas no decorrer do século XVII, foram em reduzido número, como teremos oportunidade de verificar.

Repartição Geográfica dos Aglomerados dos Quinhentistas

Os aglomerados urbanos, no século XVI, além de tipicamente marítimos, surgiam de maneira isolada e esparsa, constituindo verdadeiros "nódulos" de população no imenso "deserto" humano do Brasil de então.

Todavia, percebe-se uma relativa concentração das vilas e cidades qui-nhentistas em duas áreas distintas: no que poderemos denominar de região vicen-tina, atual território paulista, onde existia a maior concentração de aglomerados urbanos, embora nenhum gozasse das honras de cidade, num total de 5 vilas, o que eqüivale a 29%; e no que chamaremos de região pernambucana, no litoral oriental do Nordeste, onde apareciam 4 aglomerados urbanos (22%). Os sete núcleos urbanos restantes (41%) distribuíam-se esparsamente: além da cidade do Rio de Janeiro, existiam 3 em terras baianas, 2 no Espírito Santo e 1 no atual Sergipe. Percebe-se que se esboçava, assim, uma terceira área — a que chamaríamos de região baiana, tendo por centro a cidade do Salvador e situada entre as duas outras regiões já mencionadas.

Tal repartição geográfica reflete, de maneira muito nítida, a realidade demográfico-econômica da época, pois é bem sabido que, de todas as Capitanias quinhentistas, duas apenas conseguiram prosperar—exatamente as de São Vicente e de Pernambuco.

Com a competência e o espírito de síntese próprios dos Mestres. CAPIS-TRANO DE ABREU descreveu, de maneira sugestiva, o quadro do povoamento no Brasil ao completar-se um século após a viagem de Cabral: Natal estava nascendo, à sombra do forte dos Três Reis Magos; na cidade da Paraíba, a atual João Pessoa, as casas "se alongavam pelo morro pitoresco, com os engenhos que

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se irradiavam pelas várzeas ubertosas"; ver-se-iam "Igaraçú, a antiga, Olinda, a orgulhosa, e Recife, simples morada de pescadores, que não tardaria a eclipsar todas"; já existiam Porto Calvo e São Cristóvão, em terras hoje alagoano-sergipa-nas; já brilhava "a cidade do Salvador, com o seu Recôncavo, em que prosperavam numerosos engenhos e vicejavam por léguas e léguas os canaviais verdejantes", tendo ainda "os seus campos, em que o gado passeia às manadas, aos milheiros"; seguiam-se Ilhéus, Santa Cruz, Porto Seguro e, um tanto isolada, Espírito Santo; depois, "o Rio de Janeiro, assentado no meio de um anfiteatro imenso", "com as suas ilhas feiticeiras, com sua baía sem par"; mais ao sul, "São Vicente, a obra de Martim Afonso, Santos, obra de Brás Cubas, Itanhaem, mais tarde efêmera cabeça de capitania, Cananéia, semente de João Ramalho, porto franco para os campos de Curitiba, do Viamão e da Vacaria"; e, finalmente, "a dez léguas do oceano", encarapitada no planalto, "a vila de São Paulo, obra dos Jesuítas"1 3.

Os Maiores Centros Urbanos do Século XVI

Tudo parece indicar que, das 3 cidades e 14 vilas existentes ao encerrar-se 0 quinhentismo, quatro ocupariam um lugar de maior destaque: a cidade do Salvador e a cidade do Rio de Janeiro, principalmente por sua função político-adminisüativa, pois ambas serviram como sede do Governo Geral, a segunda por um curto prazo, mas a primeira por meio século, ininterruptamente, o que lhe valeu a incontestável posição de metrópole colonial; e as vilas de Olinda e de São Vicente, em virtude do seu papel de "cabeça" das duas mais importantes e prósperas Capitanias, únicos centros econômicos de destaque, a par com o Recôncavo baiano. Os demais aglomerados urbanos seriam bastante modestos, inclusive a cidade de Filipéia ou Paraíba, que evidentemente não deveria ter recebido semelhante honra-ria, não fossem motivos fortuitos e ocasionais.

A cidade do Salvador, a metrópole desse Brasil quinhentista, teve em GABRIEL SOARES DE SOUSA o seu geógrafo, à maneira da época1 4.

Descre-veu-se o sítio da cidade, em poucas mas sugestivas palavras, como forneceu detalhes a respeito da baía de Todos os Santos e o clima ali reinante, demonstrando conhecer muito bem o papel representado pelos ventos alísios. Deu-nos um relato da maneira pela qual foi fundada a cidade, as razões que justificaram a escolha do local e o abandono da Vila Velha, pormenorizando as providências tomadas por Tomé de Sousa: o armamento "por boa ordem com as casas cobertas de palma ao modo do gentio"; a construção de "muros de taipa grossa", "com dois baluartes ao longo do mar e quatro da banda da terra"; e a fundação de "um colégio dos padres da Companhia, e outras igrejas e grandes casas, para viveremos Governadores, casas

13 Cf. LYRA (A. Tavares de ), Organização Política e Administrativa do Brasil, págs. 24-26, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1941.

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da Câmara, cadeia, alfândega, contos, fazendas, armazéns, e outras oficinas conve-nientes ao serviço de Sua Alteza". Ao tempo em que escreveu (1587), Salvador teria "800 vizinhos, pouco mais ou menos", ao passo que mais de 2.000 viveram na região do Recôncavo, isto sem falar nos 2.500 soldados de sua guarnição. Demonstrando um admirável espírito de observação, deixou-nos detalhada descrição da cidade: sua parte central, onde ficava "uma honesta praça, em que se correm touros quando convém" e onde se erguiam os principais edifícios públicos, as mais importantes mas comerciais, a Sé e o colégio dos Jesuítas; os arrabaldes residenciais, com seus quintais cheios de árvores; os caminhos que conduziam à atual Cidade Baixa, onde se localizavam os desembarcadouros, próximos de três fontes "em as quais os marcantes fazem sua aguada bem à borda do mar"; a zona rural circunjacente, verdadeiro "cinturão verde", pois a terra, "uma e duas léguas à roda, está quase toda ocupada com roças, que são como os casais de Portugal", onde se cultivavam "muitos mantimentos, frutas e hortaliças", destinados ao abastecimento da popula-ção. Não se esqueceu, enfim, de referir-se aos habitantes da cidade, especialmente à gente rica, a respeito de cuja maneira de viver forneceu detalhes preciosos.

Se a este depoimento acrescentarmos as informações de outros cronistas da época e tudo quanto já conseguiram reunir os historiadores1 5, acabaremos por fazer

uma idéia o mais possível fiel da metrópole do Brasil quinhentista: um burgo que teria um milhar de habitantes, fortemente ligado à região agrícola do Recôncavo, tendo na função político-administrativa e na função religiosa as principais razões de ser de sua existência. Podemos bem avaliar, por isso, a reduzida importância e a modéstia da vida urbana dos demais aglomerados brasileiros, ao findar o século XVI.

15 Consultem-se, entre outros, SILVA (Alberto), A Cidade de Tomé de Souza — Aspectos quinhentistas, ed. Irmãos Pongetti, Rio, 1949; AZEVEDO (Thales de), Povoamento da Cidade de Salvador, 2º edição revista, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1955.

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No que se refere às cidades, quatro novas vieram se juntar às três do quinhentismo:

1. São Luís do Maranhão, fundada em 1612 pelos franceses de Daniel de la Touche, por ocasião da fracassada tentativa de estabelecimento da "França Equinocial";

2. Nossa Senhora da Assunção do Cabo Frio, antiga feitoria, elevada à categoria de cidade em 1615, sem razões poderosas que justificassem a medida1 6;

3. Nossa Senhora de Belém, fundada na embocadura do Amazonas em 1616, logo após a expulsão dos franceses do Maranhão, para servir de sinal de posse e como baluarte de defesa da imensidão amazônica; e

4. Olinda, elevada a essa categoria em 1676 como homenagem à sua posição de "célula mater" da zona açucareira do Nordeste, embora estivesse profundamente ferida em conseqüência das lutas contra os invasores holandeses e tendo já como rival o próspero povoado do Recife.

As Vilas Seiscentistas

No que se refere às vilas, nada menos de 37 foram criadas durante o século XVII, particularmente em sua segunda metade (sob os reinados de D. Afonso VI e D. Pedro II), o que fez com que se elevasse para 51 o total das vilas brasileiras.

Registrou-se uma verdadeira proliferação de vilas ao longo do litoral, de maneira especial em dois trechos: entre a cidade da Paraíba e a vila de Ilhéus, como também da vila de Vitória ao extremo norte do atual litoral catarinense. Percebe-se, por conseguinte, que os dois importantes centros econômicos do quinhentismo — Olinda e São Vicente — continuavam a exercer sua hegemonia, reforçado o primeiro pela importância crescente da cidade do Salvador e do Recôncavo baiano.

Daí a existência de duas áreas de maior concentração urbana: a) a que poderemos chamar de região baiano-pernambucana, tendo por base a economia açucareira e resultante, em parte, da luta contra os flamengos; b) a região paulista-fluminense, girando em tomo da vila de São Paulo e da cidade do Rio de Janeiro,

tendo por fundamentos de sua prosperidade econômica dos fatores diversos: a criação de gado e os engenhos de açúcar, no trecho fluminense; e o preamento de índios, no trecho paulista1 7. A par de tais áreas, modestamente esboçavam-se duas

outras, onde também se registrava uma certa concentração urbana: a região pa-raense, mais importante, e a região maranhense. De qualquer maneira, o fato é que

16 Referindo-se à inexplicável elevação de Cabo Fro à categoria de cidade, AIRES DE CASAL esclarece que, naquela época, "muitas povoações tomavam de princípio o título de cidade" (Corografia Brasílica, II, pág. 3 1 , ed. Cultura, São Paulo, 1943).

17 A urbanização do território paulista, no século XVII, deve-se também à ação dos Jesuítas (através de numerosos aldeamentos de índios, que se transformaram cm vilas) e, possivelmente, à existência de aglomerados fortemente ligados ã agricultura, do tipo das aldeias portuguesas ou dos "villages" franceses.

(14)

a fachada atlântica, desde a foz do rio Tapajós até a ilha de São Francisco (Santa Catarina), passara a ser balisada por vilas e cidades, numa extensão quase duas vezes maior do que a registrada no século anterior.

Por outro lado, a fase inicial da conquista do Planalto Brasileiro pelos desbravadores refletiu-se na instalação de novas vilas. São Paulo deixou de ser a única vila planaltina; novos aglomerados surgiram na planície do médio Paraíba do Sul, na rota geralmente preferida pelos Bandeirantes que demandavam as "Minas Gerais dos Cataguás", como também atingiram a zona dos campos da Depressão Paleozóica (logo aproveitada pelos que se dirigiam no rumo do sul ou para o Planalto Central) e o planalto de Curitiba.

No seiscentismo, a maior concentração urbana registrava-se em terras atual-mente paulistas: nada menos de 17 vilas para um total de 51, isto é, 33%. Também chama a atenção a concentração urbana verificada nas atuais terras da Bahia (uma cidade e 8 vilas) e no Estado do Rio de Janeiro de hoje (uma cidade e 5 vilas). No mais, constata-se uma grande modéstia: Pará — 4; Maranhão — 2; Ceará -1; — Rio Grande do Norte — 1; Paraíba — 1; Pernambuco — 3; Alagoas — 3; Sergipe — 1; Espírito Santo — 3; Paraná — 2; Santa Catarina — 1.

Foram as seguintes as vilas criadas no século XVII, de acordo com as divisões regionais atualmente admitidas:

DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL

(original e atual)

REGIÃO NORTE 1632 1. Vila Viçosa da Santa Cruz do Cametá,

atual Cametá Pará

1634 2. Vila Sousa de Caeté, atual Bragança . . . Pará

1661 3. Gunipi(?) Pará

REGIÃO NORDESTE

1627 1. Vila formosa, atual Sirinhaém Pernambuco

1636 2. Bom Sucesso do Porto Calvo,

atual Porto Calvo Alagoas

1636 3. Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul,

atual Marechal Deodoro Alagoas

1636 4. Penedo do Rio de São Francisco,

atual Penedo Alagoas

1637 5. Santo Antônio de Alcântara,

atual Alcântara Maranhão

1700 6. São José de Aquirás, atual Aquirás . . . . Ceará REGIÃO LESTE

1608 1. Angra dos Santos Reis da Ilha Grande,

atual Angra dos Reis Rio de Janeiro

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DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL

(original e atual)

1665 3. Santo Antônio da Itabaiana, atual Itabaiana Sergipe 1667 4. Parati Rio de Janeiro 1677 5. São João do Paraíba,

atual São João da Barra Rio de Janeiro 1677 6. São Salvador dos Campos dos Goitacazes,

atual Campos Rio de Janeiro 1689 7. Guarapari Espírito Santo 1693 8. Nossa Senhora do Rosário de Cachoeira,

atual Cachoeira Bahia 1693 9. Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe,

atual Jaguaripe Bahia 1693 10. Camamú Bahia 1693 11. São Francisco da Barra do Sergipe

do Conde, atual São Francisco do Conde Bahia 1697 12. Santo Antônio de Sá de Macacú,

atual Japuiba Rio de Janeiro

1697 13. Santo Amaro das Brotas Sergipe 1699 14. Iguaçu, atual Duque de Caixas Rio de Janeiro

REGIÃO SUL 1611 1. Santana de Mogi das Três Cruzes,

atual Mogi das Cruzes São Paulo 1625 2. Santana de Paraíba São Paulo 1636 3. São Sebastião São Paulo 1637 4. Exaltação da Santa Cruz de Ubatuba,

atual Ubatuba São Paulo 1645 5. São Francisco das Chagas de Taubaté,

atual Taubaté São Paulo 1653 6. Nossa Senhora da Conceição do

Rio Paraíba, atual Jacareí São Paulo 1653 7. Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá,

atual Paranaguá Paraná 1655 8. Nossa Senhora do Desterro do Campo

Alegre de Jundiaí, atual Jundiaí São Paulo 1657 9. Santo Antônio de Guaratinguetá,

atual Guaratinguetá São Paulo 1657 10. Nossa Senhora da Candelária do

Outú Guaçú, atual Itú São Paulo 1660 11. Rio de São Francisco do Sul,

atual São Francisco do Sul Santa Catarina 1661 12. Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba,

atual Sorocaba São Paulo 1665 13. Nossa Senhora das Neves de Iguape,

atual Iguape São Paulo 1693 14. Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de

(16)

Ao terminar o século XVII, as vilas que podemos considerar "bocas de sertão" e que mais se afastavam da orla litorânea, situavam-se na porção meridional do Planalto Atlântico (Curitiba, Sorocaba, Itú, Jundiaí, Guaratinguetá), embora como tal também possamos classificar a vila de Cametá, à entrada do Mundo Amazônico.

Povoamento e urbanização do Brasil, no século XVII

No seiscentismo, teve início a conquista da Amazônia, do Ser-tão nordestino, de Minas Gerais, de Goiás e do Sul do Brasil, ao mesmo tempo que os Jesuítas espanhóis c r i a r a m " r e d u ç õ e s " no sul de Mato Grosso, Noroeste do P a r a n á e no Rio Grande do Sul. Mas a obra u r b a n i z a d o r a foi bem mais m o d e s t a : salvo no Planalto pau-lista-paranaense, limitou-se ainda às vizinhanças do m a r .

(17)

Os Maiores Centros Urbanos do Século XVII

No panorama urbano do Brasil seiscentista, a cidade do Salvador brilhava, sem nenhuma dívida, não encontrando outro centro que lhe fizesse sombra, pelo menos na segunda metade do século X V I I1 8. Teria uma população de uns 8.000

hab. brancos, além de alguns milhares de negros e índios, cerca de 2.000 casas, 12 grandes igrejas; seria grande o número de seus negociantes (portugueses na maioria) e a gente rica da cidade, "sobretudo as damas, faziam garbo de passear em palanquins pelas mas mais importantes e concorridas, ostentando o luxo que ainda refletia o "tempo dourado" dos grandes dias do açúcar e que então era mantido pelos lucros do contrabando do outro recebido das Minas em troca de gado, mantimentos, fazendas e negros que se remetiam clandestinamente"1 9.

Afora a capital da colônia, destacavam-se alguns poucos aglomerados urbanos: as cidades do Rio de Janeiro e de Olinda, a vila de São Paulo (já então transformada na "capital" do Bandeirismo), as cidades da Belém e de São Luís (que, em períodos diferentes, foram a sede do governo do "Estado do Maranhão", administrativamente independente do "Estado do Brasil"), além de um povoado que tinha todo o direito de ser elevado à categoria de vila, senão de cidade — o Recife, pois fora o grande beneficiário da ocupação holandesa, a "Cidade Maurícia" dos flamengos.

Com uma população comparável com a da cidade do Salvador, no ponto de vista numérico, o Rio de Janeiro seiscentista desenvolveu-se graças aos engenhos de açúcar "que lhe esboçaram a riqueza e lhe dividiram as terras das primeiras glebas, radicando as famílias originárias que haviam de constituir o núcleo de sua população. É o tempo em que a cidade, na ânsia de crescimento, rompe os limites estreitos do morro onde a localizara Men de Sá, e desce para a Várzea, derrama-se pelos valores apertados entre os montes, firmando as diretrizes materiais do seu desenvolvimento urbano, traçando as mas primitivas que até hoje perduram. Erguem-se os templos e conventos, expressão do espírito religioso da época, antes de serem construídos palácios. Em torno dos engenhos de açúcar, representando a vida econômica, e da igrejas, centros da vida espiritual, desdobra-se a trama da cidade. Ao longo da ribeira do mar, plantam-se os antigos trapiches, portas de comércio. E para a defesa contra os inimigos que viriam do mar, levantaram-se as fortificações primitivas, que foram as bases das que ainda hoje guardam a cidade"2 0.

18 Na primeira metade do século XVII, ao que parece, Olinda rivalizava com a cidade de Salvador. No Diálogo das

Grandezas do Brasil (ed. Dois Mundos, Rio, 1943), Brandônio, depois de dizer que esta cidade era a sede do

governo, afirma que , "de poucos anos a esta parte, se há defraudado este mandato em grande maneira; porque se contentam mais os governadores de assistirem na capitania de Pernambuco, ou seja por tirarem dela mais proveito ou por estarem mais perto do Reino" (pág. 68).

19 AZEVEDO (Thales de), Povoamento da cidade de Salvador, págs. 158 e 183.

20 COARACY (Vivaldo), O Rio de Janeiro no Século 17, pág.9, Liv. J o s é Olímpio, Rio, 1944.

18 Na primeira metade do século XVII, ao que parece, Olinda rivalizava cora a cidade de Salvador. No Diálogo das

Grandezas do Brasil (ed. Dois Mundos, Rio, 1943), Brandônio, depois de dizer que esta cidade era a sede do

governo, afirma que , "de poucos anos a esta parte, se há defraudado este mandato em grande maneira; porque se contentam mais os governadores de assistirem na capitania de Pernambuco, ou seja por tirarem dela mais proveito ou por estarem mais perto do Reino" (pág. 68).

19 AZEVEDO (Thales de), Povoamento da cidade de Salvador, págs. 158 e 183.

(18)

Em relação aos dois centros urbanos rivais — Olinda e Recife temos, para os meados do século XVII, pelo menos os valiosos depoimentos de GASPAR B A R L É U2 1 e JOAN NIEUHOF2 2. A primeira — com o seu sítio acidentado, "por

amor das colinas que ela abrange no seu perímetro" — teria mais de 2.000 hab., sem contar os escravos e os membros do clero, sendo que daqueles "cerca de duzentos passavam por ser muito ricos", notabilizando-se "por belos edifícios e templos". Depois da tomada de Olinda pelos holandeses, muitos de seus habitantes, especialmente comerciantes, estabeleceram-se no Recife, "onde levantaram mag-níficas construções", cujo número chegou a ser de 2.000: na face oriental da ilha de Antônio Vaz fez erguer Maurício de Nassau um outro aglomerado — a Cidade Maurícia, bem defendida por fortificações, que foi ligada por meio de pontes ao núcleo primitivo e ao continente. Dispunha de um vasto parque (repleto de coquei-ros, limoeicoquei-ros, cidreiras, romãzeiras e figueiras), no centro do qual elevava-se o Palácio de Friburgo, "edifício de aspecto nobre que, ao que se diz, custou 600.00 florins". Fronteiro à ilha de Antônio Vaz, no continente, ficava o Palácio da Boa Vista, "agradabilíssima residência de verão" do governador holandês. No ano de 1654, quando se inventariou o material bélico deixado pelos invasores recém-ex-pulsos, registrou-se a presença de 464 prédios, dos quais 242 assobradados2 3, o que

nos leva a supor que o Recife desta época teria, provavelmente, uma população de 3 a 4.000 hab.

Muito longe desse esplendor estariam os demais centros urbanos atrás citados—São Paulo, Belém e São Luís. Basta dizer que a "capital do Bandeirismo", não passava de um lugarejo humilde, um "arraial de sertanistas" — como a definiu ERNANI SILVA B R U N O2 4; "o que se chama hoje centra era, por assim dizer, toda

a cidade de então, com suas tortuosas ruas serpenteando no cabeço da colina, estreitas num ponto, largas noutro, recortadas de casas baixas de enormes beiradas de telhados a protegerem as paredes de taipa, branqueadas, quando o eram, de tabatinga"2 5. São Paulo seiscentista não teria alcançado, em sua população, a cifra

de 2.000 hab.

21 B A R L É U (Gaspar), História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e. noutras partes

sob o governo do ilustríssimo João Maurício,Conde de Nassau, trad. brasileira de Cláudio Brandão, ed. Ministério

da Educação, Rio, 1940.

22 NIEUHOF (Joan), Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil, trad. brasileira Moacir Vasconcelos, Liv. Martins, São Paulo, 1942.

23 Cf. CASTRO (Josué de), A cidade do Recife, pág. 157, Liv. Ed. Casa do Estudante do Brasil, Rio, 1954. 24 B R U N O (Ernani Silva), História e Tradições da Cidade de São Paulo, vol. I, Liv. José Olímpio, Rio, 1953. 25 LUÍS (Washington), Capitania de São Paulo, págs. 25-26, Comp. Editora Nacional, São Paulo, 1938.

(19)

IV

A Obra de Urbanização Alcança o Interior

Ao contrário do que acontecera no século XVII, registraram-se modificações substanciais no panorama urbano do Brasil no decorrer do setecentismo. A obra de urbanização conseguiu libertar-se definitivamente da orla atlântica, em conseqüên-cia da expansão povoadora e da conquista de larga porção do Planalto Brasileiro e da própria Amazônia. A análise do mapa das vilas e cidades do século XVIII demonstra, de maneira evidente, a penetração do Bandeirismo, o povoamento da Chapada Diamantina e do vale médio do rio São Francisco, a expansão pastoril no sertão do Nordeste, a obra dos missionários na Amazônia e, em menor escala, a influência do chamado "ciclo do muar" e da conquista de caráter militar levada a efeito no extremo sul.

No Planalto Brasileiro, as vilas "bocas de sertão" chegaram a fixar-se a 400 e 500 km do oceano, particularmente em terras mineiras e baianas, se bem que "sentinelas" avançadas mas isoladas da onda urbanizadora pudessem ser encontra-das a mais de 1.000 km, em terras de Goiás e de Mato Grosso. Por outro lado, na conquista da Amazônia, esses postos vanguardeiros do povoamento atingiram a margem direita do baixo Javari, na atual fronteira com o Peru, 2.000 km continente

a dentro. Se deixarmos de lado os casos das vilas isoladas do extremo sul (São Pedro do Rio Grande) e dos sertões do Planalto Central, como também o caso especial do povoamento da Amazônia, nitidamente linear porque fluvial, poderemos considerar

como bocas do sertão, verdadeiras balizas do povoamento, as seguintes vilas do

setecentismo: Lajes, Castro, Itapeva, Porto Feliz, Mogi-Mirim, Campanha, Itape-cerica (antigo arraial de São Bento do Tamanduá), Pitangui, Serro, Minas Novas, Jacobina, Senhor do Bonfim, Crato, Viçosa do Ceará e Monção.

Dentre as áreas de mais intensa urbanização, duas se destacavam por apresentarem uma relativa continuidade: 1) a que poderemos denominar de região baiano-nordestina, estendendo-se desde a Baixada Maranhense até o baixo Mucuri, com maior penetração no sertão do Nordeste Oriental e no trecho situado ao norte do Recôncavo baiano; 2) a que poderemos chamar de região paulista-mineiro-flu-minense, estendendo-se desde a foz do rio Doce até a ilha de São Francisco, com maior penetração na área áureo-diamantífera de Minas Gerais e no planalto paulis-ta-paranaense. As demais áreas de urbanização apareciam como se fossem "ilhas", sendo numerosos e expressivos os exemplos, tanto na orla marítima, como no Planalto Brasileiro e na Planície Amazônica.

Outro aspecto que impressiona é a extraordinária proliferação das vilas, pois nada menos de 118 foram criadas no século XVIII, de maneira particular no terceiro quartel desta centúria, sob o reinado de D. José I, quando 57 povoações viram-se

(20)

elevadas à categoria de vilas. Por isso mesmo, teve razão FERNANDO DE AZEVEDO quando afirmou:

" . . . se o século XVII, o das Bandeiras, foi o século da expansão territorial, da conquista e do povoamento, o século do ouro, o XVIII foi, com o declínio do patriarcalismo rural, no norte, e do movimento das Bandeiras, ao sul, o século do desenvolvimento das cidades, onde se formara e já ganhava corpo a nova classe burguesa, ansiosa de domínio, e já bastante forte para enfrentar o exclusivismo

das famílias de donos de t e r r a s " .2 6

As cidades do século XVIII

No que se refere às cidades, parcimoniosa continuou a ser a metrópole portuguesa. Apenas três novas foram criadas:

1. São Paulo, em 1711, como reflexo da importância territorial que passara a ter a Capitania em virtude da expansão bandeirante, que lhe assegurara o domínio de quase um terço do atual território brasileiro;

2. Mariana, em 1745, em plena área da mineração, três décadas antes

transformada de simples arraial na "Vila Leal de Nossa Senhora do Carmo", elevada à categoria de cidade menos por sua importância regional (Vila Rica a sobrepujava), do que pelo fato de haver sido escolhida como sede de um Bispado, o que exigia aquela condição;

3. Oeiras, em 1761, a antiga Vila do Mocha, sede do grande latifúndio pastoril que os Jesuítas haviam recebido por herança de Domingos Afonso Mafrense, o "Sertão", mas que a dissolução da Companhia de Jesus havia feito passar para o domínio da Coroa, no momento sob a influência do Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal.

Por conseguinte, a vaidade de um poderoso ministro e as exigências da Igreja foram as responsáveis pela elevação algo imerecida de duas vilas brasileiras à categoria de cidades, em detrimento de outras que maiores razões possuíam para receber tal galardão. Apenas o caso de São Paulo parece-nos perfeitamente jus-tificado, quando se analisa com frieza tais medidas da metrópole; tinha mais de 150 anos de existência e era, no momento, a "cabeça" de um vastíssimo território, que seus filhos haviam desbravado e conquistado à custa de sacrifícios inauditos.

Encerrou-se o século XVIII com a presença de somente 10 cidades em toda a enorme extensão do território brasileiro, cujas fronteiras praticamente coincidiam c o m as que hoje possuímos.

(21)

Repartição Geográfica das Vilas Setecentistas

No que diz respeito às vilas, foi a seguinte a sua repartição tendo em vista as regiões brasileiras hoje admitidas:

DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL

(original e atual) REGIÃO NORTE 1752 1. Amapá 1753 2. Pará 1754 3. Pará 1756 4. Amazonas 1757 5. Amazonas 1758 6. Paraná

1758 7. Vila Nova del Rei, atual Cuniçá Pará

1758 8. Pará

1758 9. Pará

1758 10. São João Batista de Faro, atual Faro . . . Pará

DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL

(original e atual)

1758 11. Pará

1759 12. Amazonas

1759 13. Olivença, atual São Paulo de Olivença . . Amazonas

1759 14. Ega, atual Tefé Amazonas

1759 15. São José do Javari,

atual Benjamim Constant Amazonas

1790 16. Vila da Barra do Rio Negro,

atual Manaus Amazonas

1798 17. Vila Nova da Rainha, atual Maués . . . . Amazonas REGIÃO NORDESTE

1709 1. Santo Antônio do Recife, atual Recife . . Pernambuco

1712 2. Vila do Môcha, atual Oeiras Piauí

1726

3.

Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção do Ceará Grande, atual Fortaleza Ceará

1736 4.

Icó

Ceará

1747 5. São José do Aracatí, atual Aracatí . . . . Ceará

1755 6. Ceará

1757 7. Maranhão

1757 8. Maranhão

1758 9. Vila Viçosa, atual Tutóia Maranhão

1758 10. Ceará

1758 11. Vila Real do Crato, atual Crato Ceará

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DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL (original e atual)

1759 13. Vila Nova de Arronches,

Ceará 1759 14. Vila Viçosa Real d'América,

atual Viçosa do Ceará Ceará

1760 15. Esteemos Rio Grande do Norte

1762 16. São João do Parnaíba, atual Parnaíba . . . Piauí 1762 17. São José do Rio Grande, atual

São José de Mipibú Rio Grande do Norte

1764 18. Monte Mór o Novo da América,

atual Barurité Ceará

1764 19. Vila Real de Bragança, atual Atalaia . . . Alagoas

1766 20. Vila Nova da Princesa, atual Açú . . . . Rio Grande do Norte

1772 21. Paraíba

1773 22. Sobral Ceará

1776 23. Granja Ceará

1789 24. Campo Maior de Santo Antônio de

Quixeramobim, atual Quixeramobim . . Ceará 1790 25. Vila Nova da Rainha,

Paraíba

1799 26. Alagoas

1800 27. Vila Real de São João,

atual São João do Cariri Paraíba

1800 28. Vila Nova de Sousa, atual Sousa Paraíba REGIÃO LESTE

1701 1. Santo Antônio do Rio das Caravelas,

Bahia 1711 2. Vila Leal de Nossa Senhora do Carmo,

atual Mariana Minas Gerais

1711 3. Vila Real de Sabará, atual Sabará . . . . Minas Gerais

1711 4. Vila Rica, atual Ouro Preto Minas Gerais

1712 5. São João Del Rei Minas Gerais

1714 6. Vila do Príncipe, atual Serro Minas Gerais

1714 7. Vila Nova da Rainha do Caeté do

Mato Dentro, atual Caeté Minas Gerais

1715 8. Vila Nova do Infante, atual Pitangui . . . Minas Gerais 1716 9. Vila Nova de Benevente, atual Anchieta . Espírito Santo 1718 10. São José Del Rei, atual Tiradentes . . . . Minas Gerais

1722 11. Jacobina Bahia

1724 12. Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas,

atual Livramento do Brumado Bahia

1725 13. Maragogipe Bahia

1727 14. Santo Amaro da Purificação,

atual Santo Amaro Bahia

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DATAS DENOMINAÇÕES (original e atual)

UNIDADE ATUAL 1728 16. Itapicurú de Cima, atual Itapecurú . . . . Bahia

1728 17. Bahia

1730 18. Nossa Senhora do Bom Sucesso das

. Minas Gerais Minas do Fanado, atual Minas Novas . . Minas Gerais 1732 19. Barra do Rio de Contas, atual Itacaré . . Bahia 1733 20. Vila Nova de Santo Antônio do Rio de

São Francisco, atual Neópolis Sergipe 1745 21. Minas do Rio de Contas,

Bahia

1746 22. Urubu, atual Paratinga Bahia

1748 23. Vila Viçosa, atual Viçosa Bahia

1752 24. São Francisco das Chagas da

Barra do Rio Grande, atual Barra . . . . Baliu 1754 25. Pombal, atual Ribeira do P o m b a l . . . . Bahia

1755 26. Bahia

1755 27. Soure, atual Nova Soure . Bahia

1758 28. Espírito Santo de Nova Abrantes,

. Bahia 1758 29. Vila Nova de Olivença, atual Olivença. . Bahia 1758 30. Vila Nova de Tomar, atual Lagarto . . . Sergipe

1758 31. Santarém, atual Utuberá . Bahia

1759 32. Espírito Santo da Vila Verde,

. Bahia

1759 33. . Bahia

1760 34. Vila Nova de Almeida,

. Espírito Santo

1761 35. Bahia

1764 36. Vila do Prado, atual Prado Bahia

1765 37. . Bahia

1769 38. São José do Porto Alegre, atual Mucuri . Bahia 1772 39. Vila Nova de São José Del Rei,

atual São Barnabé (?) Rio de Janeiro

1789 40. . Rio de Janeiro

1789 41. Minas Gerais

1790 42. Vila Real de Queluz,

atual Conselheiro Lafaiete Minas Gerais

1791 43. Minas Gerais

1797 44. Vila Nova da Rainha,

Bahia 1798 45. Vila da Princesa da Beira,

Minas Gerais 1798 46. Paracatú do Príncipe, atual Paracatú . . . Minas Gerais

1799 47. Bahia

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DATAS DENOMINAÇÕES UNIDADE ATUAL

(original e atual)

REGIÃO SUL

1705 1. N.S.do Bom Sucesso de Pindamonhangaba,

atual Pindamonhangaba São Paulo

1714 2. Laguna Santa Catarina

1726 3. Nossa Senhora do Desterro,

Santa Catarina 1751 4. São Pedro do Rio Grande,

Rio Grande do Sul 1767 5. São José do Paraíba,

São Paulo 1769 6. Itapeva da Faxina, atual Itapeva São Paulo 1769 7. S. João Batista de Atibaia, atual Atibaia . São Paulo 1769 8. S.José de Mogi Mirim, atual Mogi-Mirim . São Paulo 1770 9. Nossa Senhora dos Prazeres de

Itapetininga, atual Itapetininga São Paulo 1770 10. Paraitinga, atual São Luís do Paraitinga . São Paulo 1771 11. Santo Antônio das Minas de Apiaí,

atual Apiaí São Paulo

1771 12. Vila Nova de São Luís de Guaratuba,

atual Guaratuba . . Paraná

1774 13. Santa Catarina

1785 14. Cunha São Paulo

1788 15. Nossa Senhora da Piedade de Lorena,

atual Lorena São Paulo

1797 16. São Paulo

1797 17. Porto Feliz São Paulo

1797 18. Nova Bragança, atual Bragança Paulista . São Paulo

1797 19. Antonina Paraná

1798 20. Castro Paraná

REGIÃO CENTRO-OESTE 1727 1. Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá,

atual Cuiabá Mato Grosso

1736 2. Vila Boa, atual Goiás Goiás

1752 3. Vila bela da Santíssima Trindade do

Mato Grosso, atual Mato Grosso Mato Grosso 1778 4. Vila Maria do Paraguai, atual Cáceres . . Mato Grosso 1780 5. São Pedro del Rei, atual Poconé Mato Grosso

Se confrontarmos esta longa, talvez cansativa mas impressionante relação com a referente ao século XVII, alguns fotos ressaltarão sem demora. Em primeiro lugar, a urbanização do Centro-Oeste, ausente em todo o seiscentismo, e, dentro dessa região, a posição destacada de Mato Grosso, com suas 4 vilas. Além disso, impressiona sem nenhuma dúvida a transformação verificada em relação à Região

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Norte: das 3 vilas criadas no século XVII passou a possuir um total de 20, testemunhando a existência de uma política urbanizadora (um tanto forçada e quase sempre artificial) da metrópole portuguesa em face da vastidão amazônica, certa-mente inspirada por motivos que hoje classificaríamos como geo-políticos: a confirmação do princípio do "uti-possidetis", que o tratado de Madri (1750) consagrara. Todavia, mais fortemente fere nossa atenção a intensa obra de urbani-zação registrada na Região Nordeste (que somente possuía 3 vilas no século XVI, 9 no século XVII e que passou a contar com 37 no século XVIII, além de 4 cidades) e, sobretudo, a que se verificou na Região Leste, que passou de 6 vilas no quinhentismo para 20 no século XVII e nada menos de 68 no setecentismo, ao lado de suas 4 cidades.

O fato que acabamos de assinalar é mais chocante se lembrarmos que o Leste e o Sul se haviam equilibrado no século XVII (quando foram criadas 14 vilas, em cada uma dessas regiões), embora a Região Leste estivesse à frente quanto ao total, com uma diferença mínima (20 no Leste e 19 no Sul). Ora, no século XVIII, a Região Sul assistiu à criação de apenas 20 novas vilas, isto é, bem menos da metade do total registrado no Leste, que foi de 48. Demonstra tal circunstância aquilo que a História já constatou: deslocara-se para o Leste brasileiro o eixo econômico, social e demográfico da então Colônia, graças ao ciclo do ouro e das pedras preciosas, tornando-se a cidade do Rio de Janeiro, em virtude de contingências inevitáveis, o centro da vida colonial, em detrimento da cidade do Salvador. "Nenhuma atividade econômica teve maior influência na criação e no desenvolvimento das cidades do interior e, portanto, na produção do fenômeno urbano — observa, com razão, FERNANDO DE AZEVEDO — do que a indústria mineradora, não só na região das "minas gerais", como, pelas suas repercussões, sobre o centro comercial e político que deslocou para o Rio de Janeiro e contribuiu para desenvolver e diferenciar, no sentido urbano"2 7.

A posição relativamente fraca da Região Sul nessa obra de urbanização (o que, sob certos aspectos, deve ser considerado um índice de decadência) pode ser facilmente explicada: não possuía ela, no setecentismo, nenhuma riqueza econômi-ca que justifieconômi-casse a manutenção do ritmo anterior de seu crescimento demográfico e urbano e, muito menos, que pudesse se ombrear com a pujança da Região Leste; além disso, o povoamento de largo trecho do Leste e do Centro-Oeste foi realizado graças aos elementos humanos partidos de São Paulo, através das sucessivas levas que deixaram o planalto, a partir de fins do século XVII, em busca do ouro e das pedras. São Paulo setecentista enfraqueceu-se em benefício das novas áreas abertas ao povoamento, dando-lhes preciosa parcela de suas energias vitais — os homens moços e maduros do Bandeirismo; sua obra urbanizadora fez-se sentir não apenas dentro das fronteiras de seu atual território, mas no vasto âmbito da então Capitania, isto é, em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina, onde 25

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novas vilas foram criadas no século XVIII.

Do total das vilas criadas no decorrer do setecentismo, somente o atual território da Bahia foi aquinhoado com 27, o que eqüivale a quase 23% do total. Minas Gerais recebeu 14, São Paulo e o Ceará passaram a contar com 13, cada um, e o Pará e o Amazonas com 8, cada um. Em contraposição, choca-nos a fraquíssima urbanização de Pernambuco: uma só vila — a do Recife, no decurso de todo um século, fato realmente impressionante para o qual não conseguimos encontrar explicação satisfatória (mesmo levando em conta o caráter anti-urbano dos enge-nhos de açúcar), mormente se verificarmos o que se registrou no Ceará e, em escala menor, nos demais atuais Estados do Nordeste Oriental.

Povoamento e urbanização do Brasil, no século XVIII

Comparados com o século anterior, o povoamento e a urbaniza-ção a p r e s e n t a r a m notáveis diferenças no setecentismo. Prosseguiu em ritmo acelerado a conquista da Amazônia e do Planalto Brasileiro, multiplicando-se as vilas através de ambas essas grandes regiões. A orla litorânea perdeu o privilégio de ser a principal área de ur-banização do p a i s .

Referências

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