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UMA PROVÍNCIA ARTESÃ O universo social, econômico e demográfico dos artífices da Minas do oitocentos

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UMA PROVÍNCIA ARTESÃ

O universo social, econômico e demográfico dos artífices da Minas do oitocentos.

Marcelo Magalhães Godoy1

Vimos, em casa do coronel Antônio Tomás, vasos de prata admiravelmente trabalhada, e, entre outras peças, gomis de forma muito elegante. Essa prataria atraiu sobretudo nossa atenção, quando soubemos que fora lavrada, já há muitos anos, na povoação de Catas Altas. Ter-se-á ocasião de ver que tive ainda muitas outras oportunidades de admirar a habilidade dos artezãos da Província de Minas. (...) O engenho de açúcar funciona movido a água; não pude deixar de admirar as engrenagens, que, embora enormes, são ao mesmo tempo de uma extrema leveza, e foram feitas primorosamente. Não foi essa, aliás, a única vez que tive as provas da habilidade dos operários mineiros; se são lentos na execução de seu trabalho, pelo menos capricham muito, e creio mesmo que dão melhor acabamento que os artezãos europeus. (...) Esses marceneiros eram, no entanto, dignos de melhor sorte; pois que seu trabalho merecia os maiores elogios. O madeiramento da igreja, o altar e o tabernáculo não teriam sido mais bem lavrados em uma cidade da França de dez a doze mil almas, o que confirma o que já disse, por várias vezes, a respeito da habilidade dos artezãos mineiros. SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo

Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975. pp.98, 168 e 360.

Palavras-chave: Minas Gerais, século XIX, artes & ofícios, demografia histórica.

Neste estudo realiza-se uma primeira exploração de vasto e inédito universo de dados

demográficos e econômicos referentes a Província de Minas Gerais2. Vasto porque compreende a

população de toda a documentação remanescente deste que é, muito provavelmente, o maior conjunto de informações nominais de natureza censitária para o período imperial brasileiro. Inédito em função de muitos dos aspectos investigados estarem ausentes dos trabalhos que anteriormente se estruturaram na utilização dos dados provinciais agregados3.

1

Pesquisador do Núcleo de História Econômica e Demográfica do CEDEPLAR, coordenação geral da Prof. Clotilde Andrade Paiva. Endereço para correspondência: Rua Curitiba 832, sala 812, Belo Horizonte/MG, CEP. 30.170-120, Tel. (31) 279-9094, e-mail: mmgodoy@cedeplar.ufmg.br. O longo e acerbo trabalho de processamento mecânico dos dados esteve sob a responsabilidade dos colaboradores Wander Pires Lott, Gustavo Café e Elber Santiago Flores.

2

As tabelas aqui analisadas fazem parte de universo de dados muito mais amplo e atinentes a pesquisa que resultará, em futuro que esperamos próximo, em enciclopédia dos ofícios manuais e mecânicos da Província de Minas Gerais. Provavelmente o Censo de 1831/32 estruturará a parte mais importante dos verbetes. As listas nominativas possibilitarão não só o conhecimento refinado das características demográficas e econômicas de grande número de ofícios, mas também, fornecerão os parâmetros gerais que permitirão a construção da identidade do setor atividades manuais e mecânicas, de seus grupos ocupacionais e dos próprios ofícios. Para mais informações sobre esta pesquisa sugerimos a consulta a dois artigos: GODOY, Marcelo Magalhães. Dicionário das ocupações em Minas Gerais no século XIX. Varia Historia, n.º 15, pp.161-192. Belo Horizonte: Departamento de História – FAFICH/UFMG, 1996. GODOY, Marcelo M. & SILVA, Leonardo V. da. As artes manuais e mecânicas na Província de Minas Gerais: um perfil demográfico de artífices e oficiais. Anais do X Encontro Nacional de Estudos Populacionais, vol. 3, pp.1795-1804. Belo Horizonte: ABEP, 1996.

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A primeira investigação a analisar as listas nominativas de 1831/32 e que tinha por recorte a totalidade do espaço provincial foi realizada por Douglas C. Libby (Transformação e trabalho em uma economia escravista, Minas Gerais no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988). O autor não trabalhou com toda a documentação do censo, optando por amostragens variáveis

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2

Para todos os aspectos examinados estabeleceram-se dois níveis de cotejamento. Confrontou-se os resultados provinciais com os do setor ocupacional atividades manuais e mecânicas. Colocou-se em paralelo os resultados deste setor com os grupos ocupacionais que lhe compunham4.

No quadro abaixo foram ordenadas as variáveis segundo as etapas do processo de análise. Partiu-se dos resultados gerais, com as populações totais, para depois examinar-Partiu-se os Partiu-segmentados em urbano/rural e, por último, os resultados regionais5.

RESULTADOS GERAIS RESULTADOS URBANO/RURAL RESULTADOS REGIONAIS

condição condição condição livres – sexo

escravos – sexo sexo sexo

homens livres – faixas etárias mulheres livres – faixas etárias homens escravos – faixas etárias mulheres escravas – faixas etárias

faixas etárias faixas etárias

estado conjugal --- ---

livres – qualidades6

escravos – qualidades qualidades qualidades

médias livres/escravos/total médias livres/escravos/total médias livres/escravos/total

posição no fogo posição no fogo posição no fogo

chefes – sexo --- --- não-chefes – condição --- --- fogos com/sem escravos fogos com/sem escravos fogos com/sem escravos estrutura da posse de escravos estrutura da posse de escravos estrutura da posse de escravos

estrutura ocupacional estrutura ocupacional estrutura ocupacional

distribuição urbano/rural --- ---

segundo os aspectos examinados. Somente mais de 10 anos depois é que surgiria estudo que abarcaria todos os dados provinciais. Clotilde A. Paiva inaugurava a utilização integral das informações remanescentes do Censo de 1831/32 (População e economia nas Minas Gerais do século XIX. São Paulo: FFLCH/USP, Tese de doutoramento, 1996). Além de Libby e Paiva, uma miríade de outros pesquisadores recorreram às listas nominativas na década de 1990, mas sempre estudos regionais ou locais. Esta singela pesquisa pretende ser uma primeira exploração de algumas perspectivas de tratamento dos dados agregados de 1831/32 até então realizadas apenas em estudos de caso. A segmentação da população segundo sua posição nos domicílios ou nos espaços urbano e rural, a contraposição de setor ocupacional específico à totalidade da população e o aprofundamento no estudo das características dos grupos ocupacionais internos a este setor parecem ser iniciativas inéditas. Acurada e completa apresentação crítica do Censo de 1831/32 pode ser encontrada na referida tese de doutoramento.

4

A população remanescente do Censo de 1831/32 é de 413.286 indivíduos, o que representa 57.5% da população total estimada para a Província (718.191) em meados da década de 1830. O setor ocupacional atividades manuais e mecânicas agregava as artes e ofícios em geral. São 68.540 artífices, 17% da população remanescente ou 42% da população com informação de ocupação. Inspirando-se no quadro das ocupações do Censo de 1872, segmentou-se o setor em grupos segundo a matéria-prima utilizada pelos artífices. São onze grupos: madeira, metais, couros & peles, cerâmica (barro), fibras, tecidos, fiação e tecelagem, edificações, outros artífices, associações inter-artífices e associações dos artífices com ocupações de outros setores. A fiação e tecelagem respondiam por quase dois terços dos artífices, o que dava a este grupo papel proeminente na determinação das características gerais do setor. Madeira, metais e couro agregavam, cada um, em torno de 4 a 5% dos oficiais, tecidos quase 20%, cerâmica, fibras e edificações juntos não totalizavam 2%. As ocupações com maiores freqüências nos grupos focalizados eram: madeira = carpinteiro/carapina; metais = ferreiro, ourives e latoeiro; couro = sapateiro e seleiro; cerâmica = paneleira, telheiro e oleiro; fibras = peneireiro e esteireiro; tecidos = costureira, alfaiate e rendeira; fiação e tecelagem = fiadeira e tecedeira; edificações = pedreiro e pintor. Dentre os outros artífices destacavam-se: chapeleiro, torneiro, barbeiro e saboeiro.

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As diferenças entre os valores absolutos totais das tabelas são resultantes de casos de não-informação das variáveis. Estes casos, quase sempre sem nenhum significado estatístico, não serão indicados nas tabelas. No Censo de 1831/32 a não-informação só alcança percentuais estatisticamente relevantes na variáveis estado conjugal (29%) e ocupação (60%). Todos os resultados baseados na posição dos indivíduos no arrolamento (posição no fogo, médias livres/escravos/total, fogos com/sem escravos, estrutura da posse de escravos e estrutura ocupacional) foram ligeiramente afetados pela existência de alguns distritos de paz onde a população não foi arrolada em fogos. A população destas localidades totalizava 2.674 indivíduos ou 0.6% da população do Censo de 1831/32.

6

A variável qualidade definia mais do que a suposta raça dos arrolados. Discriminava também a origem dos escravos (nascidos no Brasil, criolos, ou nascidos na África, pretos) e as múltiplas formas mestiças.

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distribuição regional --- ---

RESULTADOS GERAIS

A distribuição por condição social aponta para a primeira característica distintiva das atividades manuais e mecânicas. A participação dos escravos neste setor era quase 50% menor do que na população total da Província. Os ofícios no seu conjunto eram ocupação típica de indivíduos livres. Enquanto os artífices perfaziam 20% da população livre de Minas Gerais, entre os escravos não chegavam a 9%.

Diferenciada era a presença de cativos nos grupos ocupacionais. Os mancípios praticamente estavam apartados dos trabalhos em fibras e representavam parcela reduzida daqueles que laboravam com tecidos, couros e cerâmica. Por outro lado, a participação dos escravos nos demais grupos ou estava próxima da posição do setor no seu conjunto ou, como nos casos da fiação e tecelagem e, principalmente, dos trabalhadores em edificações, alcançavam relativo destaque entre os grupos de ofícios. Demarca-se, desde já, pronunciada diferenciação interna às atividades manuais e mecânicas. Ainda que pareça faltar elementos que permitam falar em uma divisão social do trabalho interna ao setor, não restam dúvidas de que o recurso ao trabalho escravo não processava-se de forma análoga entre os ofícios7.

Tabela 1 – Distribuição da população total por condição social – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES CONDIÇÃO Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % LIVRES 276290 67 56645 83 2874 85 2530 82 2611 88 727 90 110 98 11691 89 34788 80 561 72 ESCRAVOS 136996 33 11895 17 506 15 559 18 350 12 81 10 2 2 1445 11 8553 20 217 28 TOTAL 413286 100 68540 100 3380 100 3089 100 2961 100 808 100 112 100 13136 100 43341 100 778 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Também era marcante a distinção da distribuição por sexo dos indivíduos ocupados nas atividades manuais e mecânicas em relação a população total da Província. No caso dos livres a participação feminina no setor superava em mais de 50% sua posição no conjunto da população. Para os escravos a diferença era ainda maior, sendo mais do que o dobro. Depreende-se que os ofícios, ao menos quando agregados, eram ocupação tipicamente feminina. As mulheres artífices somavam 28% da população feminina de Minas Gerais, os homens não chegavam a 7% da masculina.

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Múltiplos fatores isolados ou articulados determinavam o engajamento de escravos no exercício das atividades artesanais. Na grande unidade agrícola era imperativa a necessidade de cativos habilitados nos ofícios essenciais ao funcionamento da quase sempre autárquica fazenda mineira. Adquiriam-se escravos especializados ou cuidava-se da formação profissional dentro da propriedade rural. Nestes casos os artífices eram dependentes e o seu trabalho estava subordinado às determinações das atividades nucleares, sobretudo a agricultura, pecuária e a indústria de transformação rural. Situação distinta era a dos mancípios que eram aprendizes ou oficiais em unidades especializadas independentes. A rentabilidade de determinados misteres permitia que os artífices adquirissem escravos com o propósito de vinculá-los aos trabalhos artesanais. Variações em torno destas duas situações básicas é que explicam a maior ou menor presença de cativos exercendo as atividades manuais e mecânicas.

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4

Entretanto, a distribuição por sexo dos grupos revela grande diferenciação interna ao setor. Os trabalhos em madeira, metais, couro e em edificações eram quase que exclusivamente ocupação masculina. Por outro lado, a fiação e tecelagem eram atividades tipicamente exercidas por mulheres e os labores em tecidos apresentavam participação masculina francamente minoritária. Comportamento variável foi encontrado para os trabalhos em cerâmica e fibras. Em ambos os casos observa-se que a participação feminina era importante entre os livres e inexpressiva ou ausente entre os escravos8.

Tabela 2 – Distribuição da população total por sexo, livres – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES LIVRES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % HOMENS 134909 49 11858 21 2868 100 2498 99 2603 100 443 61 77 70 1979 17 285 1 559 100 MULHERES 141079 51 44780 79 6 0 31 1 7 0 284 39 33 30 9711 83 34499 99 2 0 TOTAL 275988 100 56638 100 2874 100 2529 100 2610 100 727 100 110 100 11690 100 34784 100 561 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 3 – Distribuição da população total por sexo, escravos – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES ESCRAVOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % HOMENS 84153 61 2199 18 506 100 555 99 347 99 77 95 2 100 311 21 125 1 215 99 MULHERES 52836 39 9696 82 0 0 4 1 3 1 4 5 0 0 1134 79 8428 99 2 1 TOTAL 136989 100 11895 100 506 100 559 100 350 100 81 100 2 100 1445 100 8553 100 217 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

A articulação das variáveis sexo e idade9 adiciona nova característica a compor a identidade das atividades manuais e mecânicas. Reduzida era a participação das crianças, os adultos representavam mais de 80% dos artífices e os idosos, apesar de percentualmente pouco expressivos, ocupavam posição relativamente mais importante do que na população total da Província, notadamente entre os homens livres. Apenas 5% das crianças de Minas Gerais encontravam-se exercendo os ofícios manuais e mecânicos, ao passo que os artífices adultos perfaziam 24% e os idosos 21% das respectivas populações totais da Província. O aprendizado na infância era prática especialmente comum entre ofícios femininos. Por outro lado, nos ofícios masculinos o prolongamento da existência profissional até a terceira idade alcançava números relativos bem mais significativos.

A análise dos grupos ocupacionais segundo a matéria-prima evidencia novos traços distintivos. Embora os oficiais adultos sempre fossem majoritários, os seus percentuais e a participação das crianças

8

No futuro, o estudo mais refinado da composição dos artífices segundo o sexo deverá consolidar segmentação interna ao setor. Provavelmente será possível demonstrar que os ofícios tipicamente femininos guardavam alguns traços que os diferenciavam claramente dos masculinos. O exercício doméstico ou privado em contraposição ao trabalho em tendas e oficinas abertas a pública prestação de serviços; a semi-especialização decorrente da mescla de atividades rotineiras da casa com os trabalhos da agulha, do bastidor, da roca e do tear em contraste com a plena especialização que as permanentes solicitações da rua impunham aos mestres das ferrarias, sapatarias, carpintarias e alfaiatarias; a subordinação e dependência social e econômica das artífices ante a independência e posição de domínio que a sociedade patriarcal conferia aos artífices. Enfim, parece-nos plausível acalentar a expectativa de demonstrar a pertinência de uma divisão sexual do trabalho interna ao setor.

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As idades foram agrupadas em três grandes faixas: crianças, até 14 anos; adultos, de 15 a 59 anos; idosos, de 60 em diante.

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e idosos eram muito variáveis. Destaca-se, por exemplo, a relativamente elevada freqüência de homens livres idosos entre os trabalhadores em edificações, madeira, cerâmica e, sobretudo, fibras. Ou a também forte participação infantil entre as mulheres livres envolvidas com os trabalhos em tecidos, em fibras e com a fiação e tecelagem. Dentre os homens escravos o aprendizado na infância parecia ser particularmente importante nos trabalhos em couro, tecidos ou nos relativamente raros casos onde se envolviam com a fiação e tecelagem. Corroborando constatação anterior, as meninas escravas ocupavam posição de relativo destaque nos trabalhos em tecidos e na fiação e tecelagem10.

Tabela 4 – Distribuição da população total por faixas etárias, homens livres – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES HOMENS LIVRES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % CRIANÇAS 57192 42 597 5 65 2 128 5 119 5 14 3 4 5 130 7 102 36 20 4 ADULTOS 68846 51 9843 83 2385 83 2161 87 2204 85 350 79 42 55 1623 82 167 59 461 82 IDOSOS 8732 6 1410 12 415 14 208 8 279 11 79 18 31 40 225 11 16 6 78 14 TOTAL 134770 100 11850 100 2865 100 2497 100 2602 100 443 100 77 100 1978 100 285 100 559 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 5 – Distribuição da população total por faixas etárias, mulheres livres – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES MULHERES LIVRES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % CRIANÇAS 53679 38 5357 12 0 0 8 28 0 0 10 4 5 15 1330 14 3978 12 0 0 ADULTOS 78559 56 36410 81 6 100 16 55 7 100 203 71 21 64 8045 83 27909 81 2 100 IDOSOS 8700 6 2999 7 0 0 5 17 0 0 71 25 7 21 333 3 2603 8 0 0 TOTAL 140938 100 44766 100 6 100 29 100 7 100 284 100 33 100 9708 100 34490 100 2 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 6 – Distribuição da população total por faixas etárias, homens escravos – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES HOMENS ESCRAVOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % CRIANÇAS 20188 25 178 8 5 1 19 3 40 12 0 0 0 0 56 18 49 39 3 1 ADULTOS 55672 70 1958 89 482 95 520 94 302 87 75 97 2 100 250 80 74 59 207 96 IDOSOS 3345 4 61 3 19 4 14 3 5 1 2 3 0 0 5 2 2 2 5 2 TOTAL 79205 100 2197 100 506 100 553 100 347 100 77 100 2 100 311 100 125 100 215 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 7 – Distribuição da população total por faixas etárias, mulheres escravas – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES MULHERES ESCRAVAS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % CRIANÇAS 17754 35 1723 18 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 301 27 1408 17 0 0 ADULTOS 32127 63 7737 80 0 0 4 100 3 100 3 75 0 0 822 73 6800 81 2 100 IDOSOS 1184 2 234 2 0 0 0 0 0 0 1 25 0 0 10 1 219 3 0 0 TOTAL 51065 100 9694 100 0 0 4 100 3 100 4 100 0 0 1133 100 8427 100 2 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

10

Reservamos para o futuro um tratamento mais sofisticado da informação de idade. A estrutura etária tende a ser boa medida da duração da existência profissional dos artífices, além de viabilizar a localização, com alguma precisão, do momento da iniciação, do período da maturidade e a tendência ou não do prolongamento do exercício do ofício na terceira idade. Para tanto, é preciso trabalhar com as faixas etárias desagregadas e focalizar preferencialmente os misteres com maior incidência de casos. O procedimento básico será o acompanhamento comparativo da concentração de artífices em cada faixa. Guarda-se a expectativa de um cenário bastante diferenciado entre os grupos ocupacionais Guarda-segundo as matérias-primas e, principalmente, entre as ocupações desagregadas. Fatores de diversas ordens impeliam as crianças a um aprendizado precoce ou retardavam a iniciação para a fase posterior, possibilitavam alcançar a maturidade profissional no início da fase adulta ou interditavam a condição de mestre de ofício aos jovens, viabilizavam a continuidade do trabalho oficinal na terceira idade ou excluíam os artífices idosos do mercado de trabalho. Talvez, serão demarcados alguns rudimentos de uma divisão etária do trabalho interna ao setor.

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6

A população de Minas Gerais era constituída, fundamentalmente, de livres brancos e mestiços11 e escravos africanos e criolos12. Dois terços dos artífices livres eram mestiços e criolos e a participação dos brancos era quase 20% menor em relação a população total de livres da Província13. No caso dos escravos a freqüência de africanos era 25% inferior em relação a Província14. Somados livres e escravos, os artífices brancos correspondiam a 17% da população total de brancos de Minas Gerais, os mestiços 23%, criolos 15% e os artífices africanos perfaziam apenas 7% de todos os africanos da Província.

Nos grupos ocupacionais observam-se múltiplas composições segundo as qualidades. Os oficiais livres da madeira, dos metais, do couro, da cerâmica e das fibras eram destacadamente mestiços. Entre os trabalhadores livres em tecidos e na fiação e tecelagem, apesar de também preponderarem os mestiços, o percentual de brancos era relativamente bem mais alto15. Nas edificações o destaque ficava por conta dos

criolos, 130% mais incidentes que no cômputo geral do setor. No caso dos escravos ganhavam relevo a

participação majoritária de africanos entre os trabalhadores em metais, cerâmica e edificações16; o largo predomínio dos criolos na fiação e tecelagem; e a projeção dos mestiços nos ofícios da madeira, do couro e dos tecidos.

Tabela 8 – Distribuição da população total pelas qualidades, livres – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES LIVRES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % BRANCOS 110274 41 18338 33 784 27 608 24 577 22 180 25 21 20 4922 42 10652 31 81 15 AFRICANOS 4035 1 619 1 21 1 27 1 18 1 11 2 7 7 32 0 459 1 34 6 11

Fatores históricos, que remontam ao século XVIII, determinaram o crescimento acelerado da população de mestiços em Minas Gerais. O cruzamento inter-racial de brancos com pretos ou criolos respondia pela grande maioria dos casos, fazendo das qualidades pardo e, menos comum, mulato as mais representativas dentre os mestiços. Também não era desprezível a proporção de cabras, resultantes do processo de miscigenação de pretos ou criolos com pardos.

12

O quase que equilíbrio entre escravos africanos e criolos é evidência incontrastável da combinação do tráfico com a reprodução natural na explicação da origem da população mancípia de Minas Gerais. Ver a respeito PAIVA/1996.

13

Depreende-se que as atividades artesanais estavam muito mais associadas às populações de cor do que aos brancos, ainda que a participação destes não fosse sem importância. Futuramente, quando sofisticarmos o tratamento dos dados do Censo de 1831/32, viabilizaremos o aprofundamento no estudo da estratificação social de Minas Gerais no século XIX, estando assim mais municiados para demonstrar que artífices e oficiais eram indivíduos oriundos preponderantemente das camadas médias da população.

14

A menor participação relativa de africanos e maior de criolos e mestiços, em relação a população total de escravos da Província, parece ser forte indício de que a especialização profissional dependia, em alguma medida, do processo de adaptação dos escravizados ao novo regime de trabalho e à cultura do Novo Mundo. As exceções seriam, como veremos, os ofícios para os quais os africanos já estavam habilitados, eram exercidos em seu continente de origem, ou aqueles, por menos complexos e mais baseados na força física, cuja iniciação profissional era rápida e simples.

15

Como ressaltado anteriormente, nestes dois grupos, especialmente a fiação e tecelagem, concentravam-se quase todas as mulheres artífices. A posição no domicílio e o estado conjugal, variáveis que analisaremos mais a frente, somadas àquelas características já delineadas para os ofícios femininos, explicam esta maior participação relativa de indivíduos brancos. Parcela considerável destas brancas eram, muito provavelmente, cônjuges de chefes engajados nas mais diversas atividades econômicas ou viúvas que, apesar de ocupadas com os misteres tipicamente femininos, chefiavam unidades cujas atividades nucleares eram de outra natureza, notadamente a agropecuária. Quando do estudo da estrutura ocupacional reuniremos elementos que corroborarão esta tendência.

16

Tudo indica que nestes grupos estavam aqueles ofícios que os africanos já eram habilitados ou que detinham conhecimentos ponderáveis, bem como os de aprendizagem mais rápida. Talvez nenhum caso seja mais exemplar do que o da siderurgia, atividade onde o domínio de técnicas primitivas de fundição colocava os africanos em posição estratégica. Ver LIBBY/1988.

(7)

CRIOLOS 25466 9 7072 13 351 12 351 14 287 11 97 13 7 7 823 7 5010 14 166 30

MESTIÇOS 129428 48 30304 54 1699 60 1530 61 1703 66 431 60 72 67 5850 50 18532 53 274 49

TOTAL 269203 100 56333 100 2855 100 2516 100 2585 100 719 100 107 100 11627 100 34653 100 555 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 9 – Distribuição da população total pelas qualidades, escravos – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES ESCRAVOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % AFRICANOS 57051 43 3766 32 132 26 274 49 107 31 43 53 2 100 293 20 2735 32 111 51 CRIOLOS 59237 45 5931 50 223 44 182 33 136 39 31 38 0 0 575 40 4630 54 71 33 MESTIÇOS 15207 12 2181 18 150 30 103 18 105 30 7 9 0 0 575 40 1176 14 35 16 TOTAL 131495 100 11878 100 505 100 559 100 348 100 81 100 2 100 1443 100 8541 100 217 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Apesar de representarem menos de um quinto da população de Minas Gerais os artífices

chefiavam um quarto de seus domicílios17. Nos misteres do couro, da cerâmica, das fibras e, especialmente, da madeira, encontravam-se majoritariamente na posição de chefes de fogo18. Nos metais e nas edificações a situação era de equilíbrio, com ligeiro predomínio dos não-chefes. Nos trabalhos em tecidos e na fiação e tecelagem a freqüência de chefes era relativamente muito baixa, decorrência da larga preponderância feminina. A chefia de sua unidade estava franqueada a mulher em situações quase sempre muito específicas: viuvez, ausência do marido, mães solteiras e casos de grande indigência combinada com o arrimo de parentes idosos ou inválidos. Também nos trabalhos em fibras e na cerâmica as mulheres ocupavam parcela algo expressiva dos fogos chefiados por artífices, ainda que aos homens coubesse posição de inquestionável domínio relativo. Nos demais grupos a chefia era exclusivamente masculina. Quando analisada a condição social dos não-chefes verifica-se que apenas no grupo edificações a participação dos escravos rivalizava com a dos livres, inclusive superando-a19.

Tabela 10 – Distribuição da população total pela posição no fogo – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES POSIÇÃO NO FOGO Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % NÃO-CHEFE 346518 84 51959 77 704 29 1594 52 1386 47 324 41 49 45 10357 79 35925 84 395 51 CHEFE 64094 16 15944 23 1734 71 1476 48 1557 53 474 59 61 55 2725 21 6919 16 382 49 TOTAL 410612 100 67903 100 2438 100 3070 100 2943 100 798 100 110 100 13082 100 42844 100 777 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 11 – Sexo dos chefes de fogo, população total – Minas Gerais 1831/32

17

Nas listas nominativas de 1831/32 a ocupação do chefe propendia a indicar a atividade central do fogo, aquela da qual provinha, ao menos, a parte mais expressiva da renda. Em assim sendo, devemos considerar que as atividades manuais e mecânicas eram a base da sobrevivência dos indivíduos de um quarto das unidades da Província.

18

A posição do artífice no fogo tende a ser uma boa evidência parcial da condição do exercício do ofício, dependente e subsidiário ou independente e central. A maior freqüência de chefes atesta, portanto, que nestes grupos era relativamente maior o número de profissionais que trabalhavam em unidades onde as atividades artesanais ocupavam posição nuclear e independente.

19

A condição social dos não-chefes será, futuramente, combinada com outras variáveis para que venhamos a obter a devida compreensão do seu significado. Por enquanto podemos afirmar que o predomínio dos livres em quase todos os grupos pode ser explicado a partir de duas situações básicas: quando a ocupação do chefe coincidia com as destes não-chefes livres tratavam-se de parentes, sobretudo filhos, ou agregados a ele subordinados como aprendizes ou oficiais; quando estes não-chefes livres encontravam-se em unidades chefiadas por indivíduos engajados em atividades distintas, provavelmente tratavam-se de parentes ou agregados que trabalhavam como assalariados em oficinas que funcionavam em outras unidades ou encontravam-se exercendo o ofício naquela condição dependente e subsidiária.

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8 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES CHEFES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % HOMENS 46512 73 7367 46 1733 100 1463 99 1555 100 332 70 52 85 1142 42 81 1 381 100 MULHERES 17471 27 8575 54 1 0 12 1 2 0 142 30 9 15 1583 58 6837 99 1 0 TOTAL 63983 100 15942 100 1734 100 1475 100 1557 100 474 100 61 100 2725 100 6918 100 382 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Tabela 12 – Condição social dos não-chefes de fogo, população total – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES NÃO-CHEFES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % LIVRES 210583 61 40217 77 491 70 1042 65 1039 75 248 77 48 98 8918 86 27490 77 179 45 ESCRAVOS 135951 39 11742 23 213 30 552 35 347 25 76 23 1 2 1439 14 8435 23 216 55 TOTAL 346534 100 51959 100 704 100 1594 100 1386 100 324 100 49 100 10357 100 35925 100 395 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

A análise do estado conjugal dos chefes confirma aquelas assertivas concernentes a posição das mulheres artífices em seus domicílios. Nos ofícios que trabalhavam as fibras, a cerâmica, os tecidos e na fiação e tecelagem, casos onde a presença feminina era importante ou dominante, o número de chefes viúvos era alto. Além disso, no caso dos tecidos e da fiação e tecelagem a freqüência de chefes solteiros era elevadíssima, superando inclusive a de casados20. Nos demais grupos, quase que exclusivamente composto de oficiais do sexo masculino, os chefes eram preponderantemente casados, ultrapassando em muito o percentual válido para o conjunto de chefes da Província21.

Tabela 13 – Estado conjugal dos chefes de fogo, população total – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES ESTADO CONJUGAL CHEFES Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % SOLTEIRO 14894 23 6001 38 229 13 237 16 291 19 84 18 11 18 1148 42 3889 57 65 17 CASADO 39415 62 6487 41 1413 82 1153 78 1162 75 295 63 35 57 1041 38 614 9 292 77 VIÚVO 9290 15 3372 21 88 5 79 5 100 6 92 20 15 25 520 19 2371 34 24 6 TOTAL 63599 100 15860 100 1730 100 1469 100 1553 100 471 100 61 100 2709 100 6874 100 381 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Nos fogos dos artífices encontrava-se 56% de toda a população de Minas Gerais. O setor

atividades manuais e mecânicas apresentava médias de número de indivíduos no domicílio praticamente iguais as da Província22. Entretanto, o mesmo não pode se dizer com relação aos grupos segundo a

20

Se isolarmos o grupo fiação e tecelagem, onde a chefia dos domicílios era quase que exclusivamente feminina, verificaremos que as solteiras representavam 65% de todos os indivíduos chefes do setor atividades manuais e mecânicas com este estado conjugal. As viúvas chegavam a 70%. Considerando que as mulheres eram a maior parte dos chefes do grupo dos artífices dos tecidos e também ocupavam posição nada desprezível na cerâmica e fibras, teremos percentuais ainda mais elevados. Conclui-se que a tendência era dos artífices chefes quando casados serem homens e quando solteiros e viúvos mulheres. Os percentuais de solteiros e viúvos do setor atividades manuais e mecânicas eram bem mais elevados do que o do conjunto da população da Província, bem como menores para os casados, decorrência da larga supremacia numérica das mulheres no setor, inclusive, como visto anteriormente, superando os homens na posição de chefia.

21

Constata-se que provavelmente duas eram as trajetórias dos artífices. Os homens quando atingiam a posição de chefia de suas unidades o faziam, em geral, já com alguma maturidade profissional a lhes possibilitar assumir a responsabilidade do matrimônio e garantir a sobrevivência de sua família. As mulheres, por sua vez, eram impelidas a chefia de suas unidades, como comentamos anteriormente, por razões de outra ordem.

22

No futuro, será necessário o devido aprofundamento no estudo das médias de indivíduos nos fogos do setor atividades manuais e mecânicas e de seus grupos segundo a matéria-prima. Esta simetria entre as médias do setor e as da Província

(9)

matéria-prima. Se no caso dos artífices que trabalhavam com cerâmica e na fiação e tecelagem as médias assemelhavam-se às do setor, nos demais grupos apresentavam-se distintas. Os oficiais que lidavam com os metais, com os tecidos e, sobretudo, nas edificações encontravam-se em unidades com médias maiores. Este profissionais habitavam fogos onde a média de escravos era uma a duas vezes maior do que as do setor e da Província. As médias dos grupos da madeira e do couro também eram superiores as do setor, porém em patamares muito menos destacados. Os artífices das fibras encontravam-se em unidades com médias de escravos relativamente muito baixas.

Tabela 14 – Médias de livres, escravos e geral por fogo, população total – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES MÉDIAS Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. Nº M. LIVRES 274634 4.3 154128 4.5 11764 4.8 11852 5.2 12487 4.8 2935 4.5 392 4.4 44377 5.0 112663 4.7 3395 5.2 ESCRAVOS 135916 2.1 75685 2.2 8399 3.4 12781 5.6 9497 3.7 1691 2.6 64 0.7 37037 4.2 51864 2.6 4891 7.5 TOTAL 410550 6.4 229813 6.8 20163 8.3 24633 10.7 21984 8.5 4626 7.2 456 5.1 81414 9.2 164527 6.8 8286 12.6 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Os artífices encontravam-se presentes em 53% do total de fogos de Minas Gerais e participavam de igual parcela dos domicílios com escravos. Eram escravistas praticamente um terço dos fogos da

Província e do setor atividades manuais e mecânicas23. Por conseguinte, em ambos os casos

predominavam largamente as unidades baseadas exclusivamente no trabalho livre. No entanto, nos grupos segundo a matéria-prima a variação era relativamente grande. Madeira, couro e a fiação e tecelagem apresentavam percentuais iguais ou bem próximos dos do setor e da Província. Já a presença

reflete apenas a superfície de problema muito mais complexo. Se as unidades com artífices apresentavam-se, em geral, semelhantes as do conjunto da Província, é imperativo verificar se o mesmo acontecia quando separados os fogos onde as atividades artesanais eram centrais, ou seja, os fogos chefiados por artífices, das unidades onde provavelmente ocupavam posição subordinada e subsidiária. No quadro abaixo estão os percentuais que traduzem a participação dos artífices no conjunto de suas unidades. Medida também precária, ainda assim demonstra que o tratamento agregado, sem a separação acima referida, pode inclusive conduzir a conclusões precipitadas. Como por exemplo, afirmar que a fiação e tecelagem era o grupo onde as atividades artesanais ocupavam posição de maior destaque em suas unidades, decorrência das maiores freqüências de artífices (livres, escravos e total). Tal constatação está na contramão das evidências até aqui analisadas.

MÉDIAS

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES

LIVRES 36.8% 24.4% 21.3% 20.9% 24.8% 28.1% 26.3% 30.9% 16.5%

ESCRAVOS 15.7% 6.0% 4.4% 3.7% 4.8% 3.1% 3.9% 16.5% 4.4%

TOTAL 29.8% 16.8% 12.5% 13.5% 17.5% 24.6% 16.1% 26.3% 9.4%

Procedimento também indispensável a uma segura abordagem do problema é o de avaliar as médias controlando a não-infomação de ocupação. Além disso, parece ser inevitável o expurgo de crianças e idosos, focalizando apenas os indivíduos em idade produtiva.

23

A análise da proporção de fogos escravistas requer o mesmo cuidado salientado para as médias. Há que separar os fogos onde os chefes eram artífices daqueles onde os oficiais manuais e mecânicos ocupavam apenas a posição de não-chefes. Neste caso, como também no estudo seguinte da estrutura da posse de escravos, planejávamos trabalhar com os resultados segmentados (1. chefes artífices, 2. chefes não-artífices e 3. total). Lamentavelmente, no momento do processamento, não definimos corretamente a condição de chefia, não distinguindo os chefes artífices de cada grupo, o que resultou na exclusiva possibilidade do uso dos dados agregados (3. total).

(10)

10

de fogos escravistas entre os oficiais dos metais, dos tecidos e em edificações era consideravelmente mais alta. Para os artífices da cerâmica e, principalmente, das fibras era acentuadamente menor24.

Tabela 15 – Presença de escravos no fogo, população total – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES FOGOS COM/SEM ESCRAVOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % SEM ESCRAVO 43387 68 23035 68 1633 67 1386 60 1737 67 528 82 81 91 4909 55 16473 68 410 63 COM ESCRAVO 20691 32 10945 32 805 33 910 40 840 33 118 18 8 9 3939 45 7577 32 246 38 TOTAL 64078 100 33980 100 2438 100 2296 100 2577 100 646 100 89 100 8848 100 24050 100 656 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Examinando-se a estrutura da posse de escravos25 é possível verificar a existência de três realidades. No conjunto da Província, nas atividades manuais e mecânicas agregadas e na fiação e tecelagem os grandes e muito grandes plantéis respondiam por aproximadamente um sexto das posses de escravos. Nos trabalhos em madeira, metais, couro, cerâmica e em tecidos estes plantéis maiores eram por volta de um quarto das posses. Nas unidades escravistas dos oficiais em edificações os grandes e muito grandes plantéis eram mais de um terço das posses. Depreende-se que, apesar das posses pequenas e médias serem majoritárias em todos os grupos, a participação dos grandes e muito grandes plantéis era variável26.

Tabela 16 – Estrutura da posse de escravos, população total – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES ESTRUTURA DA POSSE ESCRAVOS Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % PEQUENO 10664 52 5647 52 390 48 438 48 403 48 54 46 5 63 1756 45 3764 50 87 35 MÉDIO 6758 33 3470 32 204 25 233 26 242 29 34 29 2 25 1224 31 2494 33 65 26 GRANDE 2847 14 1566 14 160 20 146 16 127 15 20 17 0 0 785 20 1163 15 62 25 M. GRANDE 422 2 262 2 51 6 93 10 68 8 10 8 1 13 174 4 156 2 32 13 TOTAL 20691 100 10945 100 805 100 910 100 840 100 118 100 8 100 3939 100 7577 100 246 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Distinta era a estrutura ocupacional dos domicílios dos artífices em geral em relação aos da população total da Província. A agropecuária, a mineração, o comércio e as funções públicas apresentavam percentuais notadamente inferiores nos primeiros (de 20 a 40%) e, naturalmente, as

24

Ainda que limitados aos resultados agregados, podemos especular sobre o sentido destas variações. O provável é que nos grupos onde a proporção de fogos escravistas era maior os ofícios estavam direta ou indiretamente mais associados com o trabalho compulsório. Diretamente se considerarmos os escravos que eram artífices, indiretamente se atentarmos para as articulações entre as atividades realizadas pelos cativos não-artífices e o trabalho dos artífices livres do fogo.

25

Os proprietários de escravos foram distribuídos por quatro grandes faixas da posse: plantéis pequenos, 1 a 3 escravos; plantéis médios, 4 a 10 escravos; plantéis grandes, 11 a 35 escravos, plantéis muito grandes, de 36 escravos em diante. No futuro, quando do aprofundamento no estudo da estrutura da posse de escravos estas faixas serão desdobradas em sub-faixas: pequenos – 1 e 2 a 3; médios – 4 a 6 e 7 a 10; grandes – 11 a 20 e 21 a 35; muito grandes – 36 a 50 e 51 em diante. A proposição destas faixas e sub-faixas resultou da observação da freqüência simples das posses de toda a Província.

26

Mais uma vez, por razões já esclarecidas, estamos analisando apenas os resultados agregados. Além disso, dispomos apenas da distribuição dos escravistas pelas faixas, faltando-nos a possibilidade de articulá-la com a distribuição dos escravos, índice habitualmente mais sensível na medição dos níveis de concentração da posse. Mesmo assim, detectamos diferenças pronunciadas entre os grupos. Estas variações podem estar a refletir patamares distintos de participação dos

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atividades manuais e mecânicas eram menos expressivas nos segundos (quase 40%). Constata-se que os artífices no seu conjunto não apresentavam associação especial com nenhum outro setor.

Todavia, o tratamento agregado, em grandes setores, da complexa estrutura ocupacional da década de 183027 aponta para algumas importantes tendências no que concerne aos grupos segundo a matéria-prima. Verifica-se que a agropecuária alcançava maior relevo nas atividades tipicamente femininas ou com forte presença de mulheres (fiação e tecelagem e tecidos), provavelmente explicável pela posição em geral secundária, dependente e subsidiária destas atividades. A mineração destacava-se nos grupos dos trabalhadores em metais e em edificações, compreensível se atentarmos para a importância das ferramentas de ferro, dos processos de fundição em geral e dos trabalhos de desmonte e construção de galerias que a mineração de superfície e de minas exigiam. O peso relativo das atividades manuais e mecânicas era exatamente maior naqueles grupos onde o percentual de chefes superava o de

não-chefes (madeira, couro, cerâmica e fibras), o que deve ser considerado como indício significativo de

que nestes casos o exercício independente dos ofícios ocorria em patamares mais elevados do que nos outros grupos.

Tabela 17 – Estrutura ocupacional, população total – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES ESTRUTURA OCUPACIONAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % AGROPECUÁRIA 57420 35,2 34546 27,6 2198 23,1 2439 20,2 1939 16,8 331 15,5 33 11,8 12398 26,6 29548 29,9 960 21,1 MINERAÇÃO 5535 3,4 2636 2,1 220 2,3 462 3,8 393 3,4 11 0,5 0 0,0 1593 3,4 1913 1,9 180 4,0 ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS 68020 41,7 67525 53,9 5877 61,7 6985 57,7 7123 61,7 1507 70,7 192 68,8 23897 51,2 52958 53,6 2350 51,6 COMÉRCIO 6907 4,2 3595 2,9 197 2,1 317 2,6 338 2,9 40 1,9 4 1,4 1649 3,5 2404 2,4 137 3,0 SERVIÇO DOMÉSTICO 5889 3,6 4447 3,6 316 3,3 561 4,6 537 4,7 60 2,8 8 2,9 2394 5,1 2942 3,0 250 5,5 FUNÇÕES PÚBLICAS 1085 0,7 480 0,4 42 0,4 58 0,5 98 0,8 9 0,4 1 0,4 266 0,6 222 0,2 36 0,8 OUTRAS ATIVIDADES 14166 8,7 9527 7,6 550 5,8 1131 9,3 984 8,5 158 7,4 32 11,5 3581 7,7 7351 7,4 595 13,1 DESOCUPADOS 2916 1,8 1672 1,3 92 1,0 104 0,9 103 0,9 13 0,6 7 2,5 723 1,5 1132 1,1 36 0,8 ASSOCIAÇÕES OCUPACIONAIS 1115 0,7 752 0,6 31 0,3 43 0,4 33 0,3 4 0,2 2 0,7 183 0,4 320 0,3 9 0,2 TOTAL 163053 100 125180 100 9523 100 12100 100 11548 100 2133 100 279 100 46684 100 98790 100 4553 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

ofícios naquelas grandes unidades agrícolas. Freqüências mais elevadas de grandes e muito grandes plantéis devem indicar maior associação dos ofícios do grupo com as típicas fazendas mineiras.

27

Nas listas nominativas de 1831/32 foram relacionadas quase oitocentas ocupações distintas, dentre simples e associadas. A complexidade e diversidade que caracterizam este universo tornaram imperiosa a proposição de agregação por grandes setores e grupos ocupacionais. Neste estudo, com exceção das atividades manuais e mecânicas, os demais setores sempre serão tratados de forma agregada. Debaixo da designação outras atividades reunimos grupos ocupacionais diversos e com baixos percentuais, além de ocupações indefinidas, ainda que com freqüências às vezes nada desprezíveis: extrativismo, assalariados, controle do trabalho escravo, educação, saúde, transportes e uma série de outras ocupações não agrupáveis.

(12)

12

Um terço da população total de Minas Gerais vivia no espaço urbano28. A concentração de artífices nas cidades era ainda maior, estando próxima do equilíbrio em relação ao espaço rural. Da população total das cidades 25% era composta de artífices, no campo este percentual era de 16%.

A fiação e tecelagem apresentavam pronunciada localização rural, provável decorrência daquelas características que colocavam a agropecuária em destaque na estrutura ocupacional das unidades das profissionais do tear e da roca. Os oficiais da madeira, da cerâmica e das fibras distribuíam-se de forma quase que equilibrada pelos dois espaços, com ligeira predominância dos dois primeiros no campo. O provimento de matéria-prima pode ser a principal explicação para a forte localização rural destes grupos. Os artífices dos metais, do couro, dos tecidos e das edificações exerciam seus ofícios sobretudo nas cidades. Múltiplas seriam as razões a explicar a concentração preferencial destes grupos no espaço urbano. Aos que trabalhavam em metais a localização urbana deveria ser resultante, sobretudo, da perspectiva de acesso facilitado as matérias-primas, muitas vezes importadas de outras regiões ou do exterior da Província, e da existência de demanda regular por serviços especializados. Para os que laboravam em couro e tecidos, ao menos dos que o faziam de forma independente, era imperativo se estabelecer nos espaços onde o mercado consumidor fosse mais concentrado e, consequentemente, maior a procura pelos artigos que produziam. Aos profissionais da edificação as oportunidades da construção civil urbana representavam grande atrativo para sua fixação nas cidades29.

Tabela 18 – População segmentada nos espaços urbano e rural – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES URBANO RURAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % URBANO 55860 34 13697 45 670 48 725 59 812 67 129 46 10 50 3550 60 7626 38 204 70 RURAL 109454 66 16994 55 727 52 497 41 396 33 152 54 10 50 2360 40 12475 62 86 30 TOTAL 165314 100 30691 100 1397 100 1222 100 1208 100 281 100 20 100 5910 100 20101 100 290 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

As atividades manuais e mecânicas estavam disseminadas por todas as regiões ocupadas da Província30. Os profissionais que trabalhavam com as mais variadas matérias-primas encontravam-se,

28

Ainda que nos faltem parâmetros estatísticos para outras províncias, parece-nos que o vigor da vida urbana de Minas Gerais, herança do século XVIII, ainda era traço distintivo. O processo de ruralização decorrente da progressiva retração da mineração não logrou desestruturar a imensa e complexa rede urbana mineira.

29

Estas variações na distribuição dos grupos pelos espaços urbano e rural denunciam a existência de incipiente divisão campo/cidade do trabalho interna ao setor. Naturalmente que na medida que os dados forem perquiridos de forma mais aguda, que a sofisticação no cruzamento das variáveis permitir a melhor demarcação das diferenças entre os grupos, os contornos desta divisão do trabalho serão melhor definidos.

30

A proposta de regionalização adotada encontra-se em: GODOY, Marcelo M. Intrépidos viajantes e a construção do espaço: uma proposta de regionalização para as Minas Gerais do século XIX. Texto para discussão n.º 109. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 1996. A representação cartográfica das regiões pode ser encontrada também em PAIVA/1996.

(13)

salvo raras exceções, estabelecidos em todo o território de Minas Gerais31. Todavia, a distribuição dos artífices estava longe de ser proporcional ao tamanho da população das regiões. Na maior parte das vezes ficava aquém da participação da população da região na população total da Província. Uma série de fatores agiam articuladamente e de forma variada segundo cada região a determinar esta distribuição desproporcional. Constatada a impossibilidade de um exame geral da distribuição regional a partir da avaliação isolada destes múltiplos fatores, optou-se pela agregação segundo o nível de desenvolvimento econômico32.

O principal resultado deste procedimento analítico foi o estabelecimento de relação direta do estágio relativo de desenvolvimento das regiões com a presença de artífices. No conjunto das regiões com nível alto de desenvolvimento a participação das atividades manuais e mecânicas era 13% maior do que a da população total nelas estabelecidas. Para as regiões de nível médio de desenvolvimento ocorria inversão, sendo que o setor encontrava-se 13% abaixo da correspondente população total. Por último, no caso das regiões com nível baixo a população de artífices era 39% menor do que a população total correspondente. Examinando os grupos ocupacionais segundo a matéria-prima os resultados não foram muito diferentes. Com exceção de um único grupo, nas regiões de nível alto de desenvolvimento sempre foram encontrados percentuais superiores aos referentes ao total da população. Ao contrário, nas regiões de níveis médio e baixo de desenvolvimento observou-se que apenas em casos isolados os números relativos dos grupos ocupacionais não ficaram aquém dos correspondentes da população total.

31

A disseminação do setor atividades manuais e mecânicas e de seus grupos por todas as regiões da Província parece descartar qualquer possibilidade de se pensar em uma divisão regional do trabalho. Entretanto, estes resultados regionalizados são os mais gerais e agregados possíveis. Assim como em muitos casos anteriormente ressaltados, somente o aprofundamento na exploração dos dados conduzirá a consolidação desta tendência.

32

PAIVA/1996 propõe a classificação das regiões mineiras segundo o seu nível de desenvolvimento econômico. O Censo de 1831/32 e os depoimentos dos viajantes estrangeiros constituíram-se na base para a definição de suas posições. No quadro abaixo estão os percentuais referentes a distribuição da população total, do setor atividades manuais e mecânicas e de seus grupos pelas regiões agregadas segundo o nível de desenvolvimento. Na tabela 19, distribuição regional, foram indicados os níveis das regiões.

REGIÕES PROVÍNCIA SETOR 300 GRUPO 301 GRUPO 302 GRUPO 303 GRUPO 304 GRUPO 305 GRUPO 306 GRUPO 307 GRUPO 308

NÍVEL I 57.5% 65.1% 63.0% 73.6% 64.8% 54.1% 69.7% 63.5% 64.3% 75.0%

NÍVEL II 33.9% 29.6% 31.2% 21.1% 25.3% 39.9% 25.1% 29.8% 30.0% 21.5%

(14)

14

Tabela 19 – Distribuição regional da população total – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES NÍVEL DISTRIBUIÇÃO REGIONAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % II ARAXÁ 14798 3,6 2256 3,3 121 3,6 72 2,3 105 3,5 29 3,6 1 0,9 226 1,7 1633 3,8 18 2,3 I DIAMANTINA 24028 5,8 2025 3,0 117 3,5 122 3,9 201 6,8 19 2,4 0 0,0 719 5,5 666 1,5 34 4,4 I INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÁ 55148 13,3 11272 16,4 473 14,0 382 12,4 405 13,7 103 12,7 7 6,3 1155 8,8 8215 19,0 129 16,6 II MATA 16957 4,1 2092 3,1 161 4,8 101 3,3 52 1,8 28 3,5 0 0,0 508 3,9 1205 2,8 19 2,4 II MÉDIO-BAIXO RIO DAS VELHAS 19206 4,6 4582 6,7 175 5,2 107 3,5 149 5,0 23 2,8 5 4,5 619 4,7 3439 7,9 19 2,4 III MINAS NOVAS 13132 3,2 982 1,4 52 1,5 70 2,3 102 3,4 6 0,7 2 1,8 382 2,9 876 2,0 3 0,4

II MINERADORA CENTRAL LESTE 17794 4,3 1259 1,8 106 3,1 76 2,5 50 1,7 41 5,1 0 0,0 253 1,9 718 1,7 6 0,8 I MINERADORA CENTRAL OESTE 119905 29,0 27566 40,2 1281 37,9 1538 49,8 1027 34,7 259 32,1 66 58,9 5371 40,9 17305 39,9 309 39,7 III PARACATU 2991 0,7 288 0,4 9 0,3 7 0,2 61 2,1 4 0,5 0 0,0 108 0,8 98 0,2 1 0,1 III SERTÃO 8844 2,1 771 1,1 49 1,4 50 1,6 84 2,8 10 1,2 0 0,0 167 1,3 386 0,9 4 0,5

III SERTÃO DO ALTO SÃO

FRANCISCO 5567 1,3 782 1,1 40 1,2 14 0,5 21 0,7 6 0,7 4 3,6 66 0,5 600 1,4 6 0,8 --- SERTÃO DO RIO DOCE 268 0,1 91 0,1 1 0,0 3 0,1 2 0,1 1 0,1 0 0,0 23 0,2 61 0,1 0 0,0

I SUDESTE 38925 9,4 3750 5,5 257 7,6 232 7,5 284 9,6 56 6,9 5 4,5 1091 8,3 1677 3,9 111 14,3 II SUDOESTE 20728 5,0 2801 4,1 153 4,5 79 2,6 90 3,0 64 7,9 6 5,4 448 3,4 1841 4,2 12 1,5 II SUL CENTRAL 48068 11,6 6610 9,6 323 9,6 195 6,3 284 9,6 128 15,8 16 14,3 1596 12,1 3928 9,1 87 11,2 III TRIÂNGULO 3992 1,0 751 1,1 47 1,4 21 0,7 24 0,8 21 2,6 0 0,0 132 1,0 490 1,1 13 1,7 II VALE DO ALTO-MÉDIO SÃO FRANCISCO 2935 0,7 662 1,0 15 0,4 20 0,6 20 0,7 10 1,2 0 0,0 272 2,1 203 0,5 7 0,9 --- TOTAL 413286 100 68540 100 3380 100 3089 100 2961 100 808 100 112 100 13136 100 43341 100 778 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

RESULTADOS URBANO/RURAL33

Tanto no espaço urbano como no rural as atividades manuais e mecânicas apresentavam percentuais de indivíduos escravos inferiores em mais de 40% aos correspondentes para o conjunto da população da Província. Todavia, os escravos urbanos eram em torno de 25% menos freqüentes do que os rurais na população total e na de artífices. Comportamento semelhante foi observado no grupo dos trabalhadores em metais, em edificações e na fiação e tecelagem, apesar de que a presença de escravos entre os oficiais em edificações era acentuadamente maior do que nos demais grupos. Entre os artífices da madeira, do couro e dos tecidos os percentuais de escravos nos dois espaços eram equilibrados ou ligeiramente maiores em um dos casos. Apenas entre os profissionais da cerâmica e das fibras as freqüências de escravos urbanos eram destacadamente superiores as dos rurais, conquanto fosse reduzido o número relativo de mancípios nas cidades. Conclui-se que a escravidão urbana era, em geral, menos

33

Documentos avulsos e informações contidas nas próprias listas nominativas possibilitaram a segmentação de expressiva parcela da população do Censo de 1831/32 pelos espaços urbano e rural. Dos 242 distritos de paz que compõem o universo de listas remanescentes segmentou-se a população de 87, ou 36%. Os 165.314 indivíduos segmentados correspondem a 40% da população remanescente (413.286); os 30.691 artífices segmentados representam 45% do total de artífices (68.540). Como já foi salientado, este singelo estudo é a primeira exploração da totalidade dos dados segmentados pelos espaços urbano e rural. Duas monografias de Bacharelado em História realizaram, através do estudo de casos, as primeiras incursões por esta vertente de investigação: SILVA, Leonardo Viana da. Redescobrindo o espaço urbano mineiro oitocentista: Santa Luzia, Tapera, Mêrces do Pomba e Oliveira em 1831. Belo Horizonte: Departamento de História – FAFICH/UFMG, 1995. MARQUES, Cláudia Eliane Parreiras. O estilo de vida das famílias urbanas e rurais na Província de Minas Gerais (década de 1830). Belo Horizonte: Departamento de História – FAFICH/UFMG, 1995.

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vigorosa do que a rural; as atividades manuais e mecânicas quando exercidas nas cidades contavam, na maior parte das vezes, com participação mancípia relativamente bem menor34.

Tabela 20 – Distribuição da população segmentada urbano/rural por condição social – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES CONDIÇÃO URBANO RURAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % URBANO LIVRES 41280 74 11605 85 590 88 626 86 687 85 118 91 9 90 3076 87 6399 84 145 71 ESCRAVOS 14580 26 2092 15 80 12 99 14 125 15 11 9 1 10 474 13 1227 16 59 29 TOTAL 55860 100 13697 100 670 100 725 100 812 100 129 100 10 100 3550 100 7626 100 204 100 RURAL LIVRES 70304 64 13623 80 624 86 394 79 338 85 148 97 10 100 2094 89 9737 78 53 62 ESCRAVOS 39150 36 3371 20 103 14 103 21 58 15 5 3 0 0 266 11 2738 22 33 38 TOTAL 109454 100 16994 100 727 100 497 100 396 100 153 100 10 100 2360 100 12475 100 86 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

A composição por sexo da Província tendia ao equilíbrio na cidade e caracterizava-se pelo predomínio dos homens no campo. A elevada presença de escravos no espaço rural e o indissociável desequilíbrio de sexos resultante do tráfico seletivo justificavam esta preponderância de indivíduos do sexo masculino. Já nos caso das atividades manuais e mecânicas as mulheres apresentavam freqüências pronunciadamente mais altas em ambos os espaços, embora a participação masculina dentre os artífices

urbanos fosse quase 80% maior do que os rurais35. Nas cidades os oficiais manuais e mecânicos

perfaziam 13% da população masculina, no campo representavam apenas 4%. No caso das mulheres a diferença não era tão acentuada, 36% nas cidades e 29% no campo.

Focalizando os grupos segundo a matéria-prima confirmou-se resultados já analisados, sem nenhuma alteração substantiva. Artífices da madeira, metais, do couro, fibras e em edificações eram quase exclusivamente do sexo masculino em ambos os espaços. Situação diametralmente oposta era da fiação e tecelagem. Nos trabalhos em tecidos prevalecia participação masculina minoritária, conquanto muito mais destacada na cidade. Para os trabalhos em cerâmica a participação feminina era menor, ainda que próxima do equilíbrio no campo.

Tabela 21 – Distribuição da população segmentada urbano/rural por sexo – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES SEXO URBANO RURAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % URBANO HOMENS 27619 49 3450 25 666 99 720 99 807 99 83 64 10 100 758 21 79 1 202 99 MULHERES 28203 51 10245 75 4 1 5 1 5 1 46 36 0 0 2791 79 7546 99 2 1 TOTAL 55822 100 13695 100 670 100 725 100 812 100 129 100 10 100 3549 100 7625 100 204 100 RURAL HOMENS 58542 54 2338 14 727 100 491 99 394 99 81 53 10 100 323 14 94 1 86 100 MULHERES 50865 46 14656 86 0 0 6 1 2 1 71 47 0 0 2037 86 12381 99 0 0 TOTAL 109407 100 16994 100 727 100 497 100 396 100 152 100 10 100 2360 100 12475 100 86 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

34

Porém, enquanto os artífices escravos perfaziam 14% de toda a população mancípia das cidades, no campo não chegavam a 9%. No caso dos livres os artífices urbanos representavam 28% e os rurais 19%.

35

Dos quatro grupos de ofícios que eram quase que exclusivamente masculinos, três eram majoritariamente urbanos e um distribuía-se de forma relativamente equilibrada pelos dois espaços. Ver tabela 18: População segmentada nos espaços urbano e rural – resultados gerais.

(16)

16

Também não apresentou novidades a distribuição pelas grandes faixas etárias segundo os espaços rural e urbano36. Permaneceram as mesmas tendências já observadas quando da análise agregada para a população total da Província, para o setor atividades manuais e mecânicas e seus grupos segundo a matéria-prima. A participação das crianças no exercício dos ofícios era reduzida em ambos os espaços, alcançando a aprendizagem infantil algum destaque apenas nos trabalhos em tecidos e na fiação e tecelagem. Os adultos eram larga maioria no conjunto do setor e em seus grupos, exceção aos trabalhadores em fibras no espaço rural. Os trabalhadores idosos sempre se mostraram, excetuados os grupos eminentemente femininos acima mencionados, percentualmente mais importantes do que os infantis. Confirmou-se uma tendência, aparentemente universal, ao menos para os ofícios exclusivamente masculinos ou onde a participação feminina era minoritária, da aprendizagem realizar-se já na fase adulta.

Tabela 22 – Distribuição da população segmentada urbano/rural por faixas etárias – Minas Gerais 1831/32 PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES IDADE URBANO RURAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % URBANO CRIANÇAS 19442 35 1650 12 28 4 34 5 59 7 2 2 0 0 599 17 918 12 7 3 ADULTOS 32792 59 11028 81 561 84 638 88 685 84 95 74 7 70 2799 79 6075 80 178 87 IDOSOS 3506 6 1015 7 81 12 53 7 67 8 32 25 3 30 151 4 631 8 19 9 TOTAL 55740 100 13693 100 670 100 725 100 811 100 129 100 10 100 3549 100 7624 100 204 100 RURAL CRIANÇAS 41160 38 1876 11 4 1 18 4 12 3 7 5 0 0 330 14 1477 12 0 0 ADULTOS 62498 57 13999 82 621 86 435 88 333 84 117 77 3 30 1942 82 10222 82 79 92 IDOSOS 5644 5 1117 7 101 14 44 9 51 13 28 18 7 70 88 4 775 6 7 8 TOTAL 109302 100 16992 100 726 100 497 100 396 100 152 100 10 100 2360 100 12474 100 86 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

Enquanto na população provincial total a distinção na composição segundo as qualidades residia na maior participação relativa dos mestiços no espaço urbano e dos criolos e africanos no rural; no caso das atividades manuais e mecânicas, ainda que os mestiços também fossem mais incidentes na cidade, era na acentuada proporção de brancos no campo onde se encontrava o principal traço distintivo do setor37. Esta elevada presença relativa de artífices brancos caracterizava igualmente na cidade os

36

Ainda assim, pronunciada era a diferença da participação dos artífices nos dois espaços. Nas cidades as crianças artesãs representavam parcela 84% maior da população infantil do que no campo (9 e 5). Entre os adultos (34 e 22) e os idosos (29 e 20) os percentuais eram menos divergentes, com os artífices urbanos perfazendo parcela da população total por volta de 50% superior a dos rurais.

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Na Província, a presença relativamente bem maior de escravos no espaço rural explica as freqüências mais elevadas de criolos e africanos. No setor, o percentual destacado de brancos no campo provavelmente era decorrência do grande número

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trabalhos em cerâmica, em ambos os espaços os oficiais em tecidos e a fiação e tecelagem no campo. Os mestiços eram numericamente majoritários em todos os grupos, tanto na cidade como no campo. Africanos e criolos destacavam-se, sobretudo, no grupo dos trabalhadores em edificações.

Tabela 23 – Distribuição da população segmentada urbano/rural pelas qualidades – Minas Gerais 1831/32

PROVÍNCIA

ATIVIDADES MANUAIS E MECÂNICAS

MADEIRA METAIS COURO CERÂMICA FIBRAS TECIDOS FIAÇÃO E

TECELAGEM EDIFICAÇÕES QUALIDADES URBANO RURAL Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % URBANO BRANCOS 15739 28 3049 22 100 15 135 19 144 18 39 30 3 30 1220 34 1348 18 20 10 AFRICANOS 7464 13 857 6 41 6 49 7 41 5 13 10 3 30 134 4 533 7 37 18 CRIOLOS 11194 20 2826 21 132 20 152 21 123 15 21 16 0 0 426 12 1935 25 59 29 MESTIÇOS 21135 38 6939 51 392 59 388 54 503 62 56 43 4 40 1759 50 3802 50 88 43 TOTAL 55532 100 13671 100 665 100 724 100 811 100 129 100 10 100 3539 100 7618 100 204 100 RURAL BRANCOS 30199 28 5048 30 184 25 104 21 78 20 30 20 0 0 994 42 3409 27 5 6 AFRICANOS 17400 16 1150 7 22 3 54 11 26 7 2 1 0 0 56 2 946 8 23 27 CRIOLOS 24041 22 3338 20 129 18 81 16 43 11 18 12 0 0 231 10 2815 23 26 30 MESTIÇOS 36637 34 7369 44 389 54 258 52 249 63 102 67 10 100 1075 46 5247 42 32 37 TOTAL 108277 100 16905 100 724 100 497 100 396 100 152 100 10 100 2356 100 12417 100 86 100 Fontes: Censo de 1831/32 – Arquivo Público Mineiro, SPPP1/10 e MP, diversas caixas.

O número de chefes artífices era significativamente maior em relação ao conjunto da população,

especialmente no espaço urbano38. Tanto para a Província como para as atividades manuais e mecânicas o número de chefes na cidade era acentuadamente mais expressivo do que no campo. Entre os grupos observam-se realidades múltiplas. Os profissionais da madeira, da cerâmica e das fibras ocupavam destacadamente a posição de chefia de suas unidades em ambos os espaços, embora no primeiro caso a freqüência mais proeminente fosse no campo e nos outros dois na cidade. Já entre os artífices dos metais, couro e em edificações tendia a prevalecer equilíbrio na presença de chefes e não-chefes, com exceção do espaço rural para os oficiais do couro, onde os chefes eram francamente majoritários. Para os grupos exclusivamente compostos de mulheres ou eminentemente femininos os não-chefes eram muito mais freqüentes em ambos os espaços, apesar dos chefes ocuparem posição de maior destaque na cidade39.

Tabela 24 – Distribuição da população segmentada urbano/rural pela posição no fogo – Minas Gerais 1831/32

de mulheres artífices, grupos tecidos e fiação e tecelagem, que eram cônjuges de chefes envolvidos com outras atividades, notadamente a agropecuária. Diversa era a participação dos artífices segundo a qualidade na população total dos dois espaços. Nas cidades sempre perfaziam parcela maior da população do que no campo, ainda que as diferenças fossem muito mais pronunciadas entre mestiços, criolos e africanos, do que no caso dos brancos. Para os primeiros variava de 63 a 81% superiores no espaço urbano em relação ao rural, para os brancos era de 16%.

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Quando da análise dos resultados gerais foi observado que apesar de representarem um quinto da população de Minas Gerais os artífices chefiavam um quarto de seus domicílios. Agora, com os dados segmentados, constata-se que a maior parcela destes domicílios eram urbanos (56%). Mais ainda, verifica-se que os artífices chefiavam por volta de um quinto dos fogos rurais da Província e mais de um terço dos urbanos. Conclui-se que as atividades manuais e mecânicas eram características das cidades mineiras oitocentistas, estavam intrinsecamente relacionadas com as funções por elas cumpridas.

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Em termos absolutos as mulheres (fiação e tecelagem e tecidos) respondiam, em ambos os espaços, por mais da metade dos fogos chefiados por artífices. Futuramente, quando aprofundarmos o estudo das características destas chefes, deveremos reunir evidências de que no campo eram em grande medida brancas, viúvas, escravistas e de elevada posição sócio-econômica, por outro lado, na cidade eram majoritariamente solteiras, mestiças ou criolas, não-escravistas e pobres. Mesmo que praticamente restritos à superfície dos dados, estamos convencidos de que o estudo da condição feminina, em Minas Gerais, no século XIX, não pode prescindir das listas nominativas de 1831/32.

Referências

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