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RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS ÓNUS DA PROVA PARTILHA

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 4777/06.1TVLSB.L1-1 Relator: AFONSO HENRIQUE

Sessão: 09 Março 2010 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

EXTINÇÃO DE SOCIEDADE SUBSTITUIÇÃO

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS ÓNUS DA PROVA PARTILHA

Sumário

T: Sociedades Comerciais

ST: - Substituição da sociedade em caso de extinção.

- Ónus da prova relativamente à não existência de partilha.

I - A extinção da sociedade não produz nem a suspensão nem a extinção da instância nas acções em que a sociedade seja parte; a sociedade considera-se substituída pela generalidade dos sócios, sem necessidade de habilitação e a responsabilidade dos antigos sócios é limitada ao montante que receberam na partilha;

II - Os sócios só respondem pelo passivo da sociedade liquidada e extinta se houver partilha dos bens desta e na medida dessa mesma partilha;

III - Trata-se pois dum facto impeditivo do exercício do direito da A., matéria de excepção cujo ónus recai sobre os sócios da primeira R. e agora

recorrentes.

IV - Ora, como se demonstrou, os RR. não conseguiram fazer essa prova, mas apenas que os próprios declararam não terem partilhado quaisquer bens da primeira R. na sequência da sua dissolução.

V - Face ao referido non liquet há que decidir contra quem tem o respectivo ónus.

(Sumário do Relator)

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Texto Integral

ACORDAM NESTE TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

Sociedade Central de Cerveja/SCC, pessoa colectiva nº ..., matriculada na Conservatória do Registo Comercial de ... sob o nº ..., com sede na E..., V..., V..., intentou a presente acção declarativa de condenação, com processo ordinário, contra:

“A”, casado, residente no ..., Apartado ..., R..., P... e “B” solteiro, maior, residente no Bloco …, ..., S..., C..., P....

Pede a autora (nos termos constantes da petição inicial e de acordo com o exposto no requerimento de fls. 65 e 66 dos autos) que: Sejam os réus

condenados, enquanto liquidatários da dissolvida primitiva ré, a pagar-lhe a quantia de €17 835,12 devida pelo incumprimento do contrato dos autos, acrescida de juros de mora, à taxa legal, contados desde a data do

incumprimento (2002.07.11) e até integral pagamento, vencidos no valor de

€7.747,97 e vincendos (fls. 9).

Alegou a autora, em suma, que:

- A então Centralcer (entretanto incorporada pela autora) celebrou um contrato com a sociedade R...& S..., Lda., em 11/07/97, por força do qual se obrigou a fornecer produtos à referida sociedade, que se comprometeu a comprar, com as obrigações que discriminou, ficando estabelecido que o contrato vigoraria até que a ré adquirisse 60.000 litros dos produtos

constantes no anexo 1 a esse contrato ou pelo prazo de 5 anos, a contar da data da assinatura, consoante o que primeiro se verificasse;

- A sociedade R...& S..., Lda., na data estabelecida como sendo a do fim do contrato (11/07/2002) apenas adquiriu 40.614 litros, ficando por consumir 19.386 litros dos 60.000 litros, a que se havia obrigado, pelo que,

considerando o preço médio por litro dos produtos da autora à data - €0,92 - o valor da venda de litragem que ficou por consumir é de €17.835,12, quantia que a ré deverá pagar, acrescida de juros, nos termos que calculou;

- A referida sociedade R...& S..., Lda. foi dissolvida e liquidada pelos ora réus, os quais não acautelaram o direito de crédito da autora, estando cientes de que existia a dívida dessa sociedade e que decorria do incumprimento do contrato referido, pelo que, os mesmos são responsáveis, nos termos do artigo

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158º nº2 do CSC, pela dívida da referida sociedade dissolvida.

Regularmente citados, os réus contestaram dizendo, em suma, que:

- Em 11/02/2005, a R...& S..., Lda. encontrava-se completamente desactivada e sem património;

- Com a dissolução da R...& S..., Lda. nada receberam, porque nada se partilhou;

- Por isso, nada têm a ver com a presente acção, sendo partes ilegítimas.

Notificada da contestação, a autora replicou, dizendo que:

- Os réus são parte legítima na presente acção, sendo que, liquidaram a sociedade que era originalmente ré nos presentes autos, indicando que essa sociedade não tinha, nessa data, qualquer passivo, quando não podiam ignorar a existência do contrato que a sociedade mantinha com a A. e o

incumprimento desse contrato, em que essa sociedade incorrera, de onde advinha a dívida que foi peticionada nesta acção, pelo que, os réus deveriam ter, de acordo com o artº154º nº2 do CSC liquidado a dívida da sociedade, ou caso esta não detivesse o activo necessário para tal, apresentá-la à

insolvência, o que não fizeram, tornando-se pessoalmente responsáveis perante a autora.

Teve então lugar a realização de Audiência Preliminar, onde foi proferido despacho saneador, no âmbito da qual se julgou improcedente a excepção de ilegitimidade dos réus com elaboração de peça processual contendo os factos provados e a base instrutória.

Realizada Audiência de Discussão e Julgamento, com observância do formalismo legal, respondeu o tribunal às questões formuladas na base instrutória nos termos que constam dos autos.

E, de seguida, foi proferida a seguinte sentença – parte decisória -:

“ -…- Decisão:

De acordo com o exposto e com os preceitos legais supra citados, julgo parcialmente procedente a presente acção e, em consequência, condeno os réus “A” e “B”, a pagar à autora a Sociedade Central de Cervejas SA, a quantia

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de dezassete mil, oitocentos e trinta e cinco euros e doze cêntimos -

€17.835,12 - acrescida de juros de mora, à taxa legal em vigor para os juros moratórios relativos aos créditos de que sejam titulares empresas comerciais, singulares ou colectivas, vencidos desde 22/08/2005 e, vincendos, até integral e efectivo pagamento.

Custas pelos réus.

-…-”

Desta sentença, vieram os RR recorrer, recurso esse que foi admitido como sendo de apelação a subir nos próprios autos e com efeito meramente devolutivo.

E, fundamentou o respectivo recurso formulando, as seguintes, CONCLUSÕES:

Primeira: Os recorrentes, salvo o devido respeito, não pode concordar, desde logo, com a decisão da matéria de facto, cuja modificação se requer ao abrigo do art. 712° do Código de Processo Civil.

Segunda: Assim, com efeito, foi levado à base instrutória a seguinte

factualidade, sob o quesito 3° - Por isso que os réus nada receberam, porque nada se partilhou, da dissolução da sociedade R...& S..., Lda."?

Terceira: Por isso que, salvo o devido respeito, a referida factualidade deve constituir matéria assente, porque provado por documento idóneo, a escritura pública celebrada no Cartório Notarial de P..., em 11 de Fevereiro de 2005, conforme documento junto aos autos pela autora.

Quarta: E, com efeito, a fls. 1 e 2 do referido documento, consta

expressamente: “ Que, pela presente escritura, de comum acordo, deliberaram dissolver e efectivamente dissolvem a dita sociedade, a qual já se encontra liquidada, com encerramento e aprovação das contas nesta data e não tem qualquer activo nem passivo, pelo que não há lugar a partilha.”

Quinta: Concluindo, o que vale por dizer nos termos do art. 163° do Código das Sociedades Comerciais, que os sócios, ora réus, só responderão pelo

passivo social não satisfeito ou acautelado “até ao montante que receberam na partilha.”

Sexta: Ora, como é bom de ver, os sócios aqui apelantes, nada receberam na partilha, como expressamente vem referido na dita escritura - não tem

qualquer activo ou passivo não há lugar a partilha.

Sétima: Por isso, que competiria à autora infirmar a referida factualidade que nem sequer logrou muito menos provou.

Oitava: Ou seja, a autora, contrariando o teor da referida escritura, teria de

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provar que os sócios, aqui apelantes, partilharam o activo, que ratearam entre si.

Concluindo: O Tribunal a quo violou o disposto nº1 do art. 163° do Código das Sociedades Comerciais, e ainda o disposto do nº3 do art. 659° do Código de Processo Civil, pelo que deve ser revogada a sentença em apreço, absolvendo- se os réus “A” e “B”.

Contra - alegou a A. formulando, as seguintes, CONCLUSÕES:

1º - Por força da escritura pública celebrada em 11 de Fevereiro de 2005, os Apelantes foram os liquidatários da sociedade, por serem os seus únicos sócios e por determinação expressa do artigo 151° do C.S.C.

2º - Nessa escritura pública, e na qualidade em que a outorgaram, os referidos liquidatários, deliberaram dissolver a sociedade e declararam que a mesma

“não tem qualquer activo nem passivo.”

3º - Como resulta e bem da sentença recorrida, as declarações prestadas pelos apelantes são da mera responsabilidade dos mesmos, não representando a escritura prova plena quanto esses factos porque não coberta pela força probatória material que, no artigo 371º do Código Civil, é reconhecida aos documentos autênticos.

4º - A este respeito refira-se o Acórdão da Relação de Lisboa de 11/07/2008 no qual se pode ler que "os credores sociais insatisfeitos podem provar a

existência de passivo, mas não estão obrigados a demonstrar que os sócios receberam certos e determinados bens pela partilha, uma vez que, nenhuma presunção decorre daquela declaração.

5º - Quer isto significar que, tendo a apelada impugnado os factos referidos na escritura, e não fazendo este documento prova plena dos mesmos, a prova de que a sociedade não tinha bens a partilhar incumbiria aos apelantes, os quais não lograram fazer prova desses factos.

6º - Mas mesmo que se considerasse que a prova de tais factos competia à apelada, não tendo os apelantes junto aos autos os documentos requeridos por aquela e destinados a fazer contraprova dos factos constantes dos quesitos 2º e 3º da Base 1nstrutório, sempre teria que se considerar que, não o tendo feito, nos termos do disposto no artigo 344 nº2 do Código Civil, o ónus da prova se teria invertido.

7º - Nessa medida, a factualidade constante no quesito 3º da Base Instrutória não poderia, como os apelantes pretendem, ser considerada como assente, pelo que, salvo o devido respeito por melhor opinião, não há lugar à

modificação da matéria de facto assente nos presentes autos.

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8º Os Apelantes estão a confundir duas situações distintas às quais se aplicarão regimes diversos e que correspondem, por um lado, à

responsabilidade dos sócios de sociedade liquidada para com os credores sociais e, por outro, à responsabilidade das liquidatários para com os credores sociais.

9º - Com efeito, o regime previsto no artigo 163° do C.S.C. disciplina a

responsabilidade dos sócios de uma sociedade dissolvida e liquidada para com os credores sociais pelo passivo superveniente, mas até ao limite do valor recebido em partilha.

10º - Por outro lado, o artigo 158° do CSC disciplina a responsabilidade dos liquidatários da sociedade para com os credores sociais, quando indicarem falsamente que todos os credores da sociedade estão satisfeitos e acautelados.

11º - E nos termos desta disposição, qualquer credor que não tenha tido o seu crédito assegurado, poderá exigir directamente ao liquidatário a satisfação do seu crédito, não estando o valor exigível limitado.

12º - Assim, nas palavras de Raul Ventura, “A responsabilidade do liquidatário consiste no pagamento a esses credores insatisfeitos dos créditos que estes não puderam satisfazer contra a sociedade, antes dela ser extinta ou até mesmo antes de o activo restante ter sido entregue aos sócios. Acresce assim à responsabilidade da sociedade a responsabilidade directa e pessoal do liquidatário” (“Dissolução e Liquidação de Sociedades”, 3ª reimpressão da 1ª edição, 2003, Almedina, pág. 420).

13° - Os pressupostos de tal responsabilidade estão demonstrados nos autos, uma vez que os Apelantes indicaram falsamente na escritura em causa que não havia passivo e fizeram-no culposamente conforme resulta dos factos dados como provados (cfr. ponto 20 da sentença).

14° - Era aos Apelantes que incumbia a prova de que não foram partilhados bens da sociedade pelo que, não o tendo feito, também este requisito se encontra preenchido.

15º - Deste modo, os Apelantes terão que responder pela dívida exigida, nos termos do disposto no artigo 158º do Código das Sociedades Comerciais.

Termos em que, deve a douta sentença que é objecto de recurso ser mantida, por ser julgado improcedente o recurso interposto pelos Apelantes.

Foram colhidos os necessários vistos APRECIANDO E DECIDIDNDO

Thema decidendum:

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- Em função das conclusões do recurso, temos que:

Os RR e apelante recorrem, quer da matéria de facto quer de direito.

a) Quanto à matéria de facto pretendem os apelantes que, ao contrário do decidido, se julgue provado o quesito 3º da BI do seguinte teor: - Por isso que os réus nada receberam, porque nada se partilhou, da dissolução da sociedade R...& S..., Lda."?

b) Quanto ao direito e feita a pretendida modificação da factualidade apurada, entendem que não podem se responsabilizados pela dívida em causa.

#

- Apuraram-se os seguintes FACTOS:

1 - A sociedade Centralcer/Central de Cervejas, SA tinha por actividade a indústria de refrigerantes e cervejas e a comercialização, quer dos produtos que fabricava, quer dos fabricados por outras empresas (cfr. alínea A) da matéria de facto assente);

2 - Em 14/12/2001, a Centralcer - Central de Cervejas, SA foi incorporada, através de uma fusão, na autora, antes denominada Centracontrol - SGPS, SA, que já detinha, de forma directa ou indirecta, a totalidade do seu capital social (cfr. alínea B) da matéria de facto assente);

3 - No acto pelo qual foi efectivada a aludida fusão, a mencionada Centracontrol, ora autora, alterou, também, a sua denominação para

Sociedade Central de Cervejas/SCC, SA, bem como o seu objecto (cfr. alínea C) da matéria de facto assente);

4 - É agora a autora quem prossegue a actividade que antes era desenvolvida pela sociedade incorporada, Centralcer, SA (cfr. alínea D) da matéria de facto assente);

5 - No exercício da sua actividade, a mencionada Centralcer celebrou, em 11/07/1997, com a sociedade R...& S..., Lda., um contrato que teve nessa data o seu início de vigência (cfr. alínea E) da matéria de facto assente);

6 - O contrato respeitava ao estabelecimento denominado “... Bar” situado em P..., P..., de que a sociedade “R...& S..., Lda.” era, nessa data, titular, e onde se dedicava, designadamente, à venda de bebidas ao público (cfr. alínea F) da matéria de facto assente);

7 - Por força desse contrato, esta, obrigou-se “a comprar-lhe (à Centralcer), para revenda ao público e consumo no estabelecimento produtos constantes

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do Anexo 1, nas quantidades e prazos previstos na cláusula 3.” (cfr. documento inserto a fls. 30 a 35, cláusula 1.1. e alínea G) da matéria de facto assente);

8 - Por força do mesmo contrato, obrigou-se, ainda a, nomeadamente, “não vender e não publicitar no estabelecimento produtos similares aos constantes do Anexo 1, nem permitir que terceiros o façam” (cfr. documento inserto a fls.

30 a 35, cláusula 1.4.);

9 - E “em caso de transmissão do estabelecimento, ou da sua exploração, por qualquer forma, transmitir para o adquirente os direitos e obrigações

decorrentes do contrato sob pena de ficar solidariamente responsável pelo cumprimento” (cfr. documento inserto a fls. 30 a 35, cláusula 1. 6 e cfr. alínea H) da matéria de facto assente);

10 - Por seu turno, a Centralcer, SA obrigou-se a “fornecer; directamente ou através dos seus distribuidores, os produtos objecto do contrato e constantes do Anexo l do contrato” (cfr. documento inserto a fls. 30 a 35 ;

11 - Pelo contrato a que se vem fazendo referência, a Centralcer, SA acordou, ainda, com a sociedade “R...S..., Lda.”, em “entregar-lhe, a título de

contrapartida pela celebração deste e apoio à comercialização dos produtos acordados, a quantia de 900.000$00 (€ 4.489,18), acrescida de IVA à taxa legal ” (cfr. documento inserto a fls. 30 a 35, cláusula 2. e alínea J) da matéria de facto assente);

12 - A Centralcer, SA, efectivamente, entregou à sociedade “R...S..., Lda.”, a importância acordada, de 1.053.000$00 (€ 5.252,34), que esta recebeu e da qual deu a respectiva quitação (cfr. documento inserto a fls. 36 e alínea K) da matéria de facto assente);

13 - Ficou estabelecido no contrato, que se vem mencionando, que este

vigoraria até que fossem adquiridos 60.000 litros dos produtos constantes do Anexo 1, ou pelo prazo de cinco anos, contados desde a data da sua assinatura consoante o que primeiro se verificasse (cfr. documento inserto a fls. 30 a 35, cláusula 3. e cfr. alínea L) da matéria de facto assente);

14 - Ficou estabelecido na cláusula 4.6 do contrato que “se no termo do prazo temporal do contrato o Revendedor não tiver efectuado o volume de compras aqui estabelecido a Central de Cervejas poderá exigir uma indemnização, pelo incumprimento, que por acordo, se estipula ser igual a valor das bebidas não adquiridas, considerando-se para o efeito, o preço praticado pela Central de Cervejas na data do incumprimento” (cfr. alínea M) da matéria de facto assente);

15 - Em 09.0.2005 a Autora remeteu a carta junta a fls. 37 à sociedade

“R...S..., Lda.”, na qual concluía que “deverão proceder ao pagamento, no prazo de dez dias, da quantia de €17.835, 12” (cfr. alínea N) da matéria de facto assente);

(9)

16 - A referida carta foi enviada para o local onde funcionava a referida sociedade R...S..., Lda.”, tendo sido devolvida com a menção “encerrado”

lavrada pelos CTT (cfr. alínea O) da matéria de facto assente);

17 - O valor de preço médio por litro dos produtos da Autora era, à data de 11.07.2002, de € 0,92 (cfr. alínea P) da matéria de facto assente);

18 - A sociedade “R...S..., Lda.” foi dissolvida e liquidada por escritura pública celebrada no Cartório Notarial de P..., em 11.02.2005 (cfr. alínea Q) da matéria de facto assente);

19 - Nessa escritura foram outorgantes “A” e “B”, que, enquanto únicos sócios da sociedade “R...S..., Lda.” declararam que a referida sociedade “não tem qualquer activo nem passivo” (cfr. alínea R) da matéria de facto assente);

20 - A sociedade “R...S..., Lda.”, até data de 11.07.2002, apenas adquiriu, dos 60.000 litros (vide ponto 12), 40.614 litros (cfr. resposta dada ao artigo 19 da base instrutória);

21 - Os ora Réus, ao efectuarem a declaração referida em 18), estavam cientes de que existia a dívida dessa sociedade reclamada pela Autora nestes autos (cfr. resposta dada ao artigo 42 da base instrutória).

Nada mais se provou.

#

- Da questão de facto

Segundo os apelantes/RR a factualidade dada como assente deve ser alterada, concretamente, deve dar-se como provado o teor do quesito 3º da BI onde se pergunta: Por isso que os réus nada receberam, porque nada se partilhou, da dissolução da sociedade “R...& S..., Lda.” ?

Para tal, argumentam estarem tais factos alicerçados em “documento idóneo (a escritura pública celebrada no Cartório Notarial de P..., em 11 de Fevereiro de 2005) do qual consta: Que, pela presente escritura, de comum acordo, deliberaram dissolver e efectivamente dissolvem a dita sociedade, a qual já se encontra liquidada, com encerramento e aprovação das contas nesta data e não tem qualquer activo nem passivo, pelo que não há lugar a partilha” – documento exarado no Cartório Notarial de P... junto a fls.69 e 70 -.

Que dizer?

Como se explica nas respostas à factualidade controvertida, dadas pelo Tribunal a quo, o documento em apreço apenas comprova que tal foi

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declarado pelos sócios da “R...& S... Lda.” e agora RR. perante autoridade revestida de poderes públicos para atestar essa mesma declaração, mais precisamente, o Cartório Notarial de P....

Significa isto que, só em relação aquela percepção feita directamente pelo respectivo oficial público do Cartório Notarial de P..., tem tal documento força probatória plena – artº371º CC -.

Destarte, nenhuma censura há a fazer à resposta dada pelo Tribunal recorrido quanto ao quesito 3º da BI – cfr. fls.211 -.

Tudo visto, deve improceder o recurso nesta parte e considera-se, definitivamente, fixada a factualidade apurada.

- Da questão de direito

Neste recurso não está em causa a qualificação do contrato firmado entre as partes nem o incumprimento do mesmo por parte dos RR..

Discute-se, unicamente, se a responsabilidade pelo pagamento apurado crédito a favor da A. é ou não imputável aos RR., na qualidade de sócios da primeira R..

Com interesse para a boa decisão deste recurso, provou-se que:

“-…-

18 - A sociedade “R...S..., Lda.” foi dissolvida e liquidada por escritura pública celebrada no Cartório Notarial de P..., em 11.02.2005 (cfr. alínea Q) da matéria de facto assente);

19 - Nessa escritura foram outorgantes “A” e “B”, que, enquanto únicos sócios da sociedade “R...S..., Lda.” declararam que a referida sociedade “não tem qualquer activo nem passivo” (cfr. alínea R) da matéria de facto assente);

20 - A sociedade “R...S..., Lda.”, até data de 11.07.2002, apenas adquiriu, dos 60.000 litros (vide ponto 12), 40.614 litros (cfr. resposta dada ao artigo 19 da base instrutória);

21 - Os ora Réus, ao efectuarem a declaração referida em 18), estavam cientes de que existia a dívida dessa sociedade reclamada pela Autora nestes autos (cfr. resposta dada ao artigo 42 da base instrutória);

-…-”

(11)

Impõe-se sindicar os seguintes fundamentos da sentença recorrida:

“-…-

Efectuado o julgamento, demonstrado ficou que, em 11/07/1997, entre a Centralcer (a que sucedeu a ora autora) e a sociedade “R...& S..., Lda.” foi celebrado um contrato, que teve início nessa data, relativo ao estabelecimento denominado “... Bar”, onde a referida sociedade se dedicava, nomeadamente, à venda de bebidas ao público.

Por força desse contrato, a referida sociedade obrigou-se comprar à

“Centralcer, SA”, para revenda ao público e consumo no estabelecimento produtos constantes do Anexo 1 nas quantidades e prazos previstos na cláusula 3.2.

Por seu turno, a “Centralcer, S.A.” obrigou-se a “fornecer, directamente ou através dos seus distribuidores” os produtos objecto do contrato e constantes do Anexo 1 do contrato.

As duas sociedades acordaram ainda que a “Centralcer, SA” entregaria à

“R...& S..., Lda.”, a título de contrapartida pela celebração deste contrato e apoio à comercialização dos produtos acordados, a quantia de 900.000$00 (€4.489,18) acrescida de IVA à taxa legais.

A “Centralcer, SA”, efectivamente, entregou à sociedade “R...& S..., Lda.”, a importância acordada, de 1.053.000$00 (€5.252,34), que esta recebeu e da qual deu a respectiva quitação.

Ficou estabelecido no contrato que este vigoraria até que fossem adquiridos 60.000 litros dos produtos constantes do Anexo 1, ou pelo prazo de cinco anos, contados desde a data da sua assinatura consoante o que primeiro se

verificasse.

Assim, no âmbito do presente contrato, caberia à autora a obrigação de fornecer as mercadorias à sociedade R...& S..., Lda. e, a esta última, a obrigação de entregar o preço correspondente aos bens por si adquiridos (artigo 879.2, b) e c), do Código Civil), entre as demais obrigações

contratualmente assumidas quer pela autora, quer pela referida sociedade (tendo esta, nomeadamente, assumido, igualmente, a obrigação de adquirir determinada qualidade e quantidade de produto da autora, em determinado tempo ou, caso tal não sucedesse, a indemnizar a autora por tal facto).

Com efeito, ficou estabelecido na cláusula 4.6. do contrato que “se no termo do prazo temporal do contrato o Revendedor não tiver efectuado o volume de compras aqui estabelecido a Central de Cervejas poderá exigir uma

indemnização, pelo incumprimento, que por acordo, se estipula ser igual ao valor das bebidas não adquiridas, considerando-se para o efeito, o preço praticado pela Central de Cervejas à data do incumprimento.”

(12)

Contudo, como resulta dos autos, apurou-se que, muito embora a autora tenha cumprido as obrigações contratuais para si inerentes, a sociedade R...& S..., Lda. não procedeu à aquisição a que se tinha obrigado contratualmente, pagando o respectivo preço e consumindo a quantidade acordada, daí resultando o incumprimento da correspectiva obrigação que sobre si impendia, o qual, legitima a autora a formular o pedido que efectuou (…) artigos 406 nº 1, 762 e 798 do Código Civil.

(…) O artigo 798 do Código Civil estipula que “o devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação torna-se responsável pelo

prejuízo que causa ao credor”, ou seja, se o devedor não cumpre, como devia, a prestação a que estava obrigado, por culpa sua, há incumprimento peia sua parte, pelo que fica sujeito a responsabilidade civil contratual (a que são aplicáveis os preceitos que regulam a obrigação de indemnizar – artºs.562 e ss. do CC).

E, dispõe o artigo 799, do Código Civil que “incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua”. Trata-se, pois, de uma presunção de culpa do devedor, que faz incidir sobre ele o ónus da prova de que assim não se trata.

No caso, tal demonstração não ocorreu, estando, em consequência, a sociedade R...& S..., Lda. vinculada a pagar à autora o valor do crédito indemnizatório por esta peticionados.

Contudo, apurou-se que a referida sociedade R...& S..., Lda. foi dissolvida e liquidada por escritura pública celebrada no Cartório Notarial de P..., em 11.02.2005.

Nessa escritura foram outorgantes “A” e “B”, que, enquanto únicos sócios da sociedade R...& S..., Lda. declararam que a referida sociedade “não tem qualquer activo nem passivo.”

De harmonia com o decidido a fls. 71 dos autos e em conformidade com o disposto nos artigos 158.2 e 163.2 do Código das Sociedades Comerciais

determinou-se o prosseguimento dos autos relativamente aos mencionados “A”

e “B”, os quais, inclusive, contestaram, concluindo pela sua ilegitimidade.

Ora, cumpre referir que, como resulta de fls. 67 a 70 dos autos, a sociedade R...& S..., Lda. se dissolveu e liquidou, factos que constam registados no registo comercial.

Com o registo do encerramento da liquidação, terminou o processo de liquidação da sociedade, considerando-se extinta a referida sociedade (cfr.

artigo 160 do Código das Sociedades Comerciais).

Contudo, relativamente às acções (declarativas ou executivas) pendentes em que é parte a sociedade extinta, as mesmas continuam após a extinção desta, que se considera substituída pela generalidade dos sócios, representados

(13)

pelos liquidatários, nos termos dos artigos 163. 2, 4 e 5, e 164. 2 e 5 sendo que, a instância não se suspende, nem é necessário promover o incidente de habilitação (assim, o artigo 162. do Código das Sociedades Comerciais).

Para efeitos processuais, a acção deverá, pois - como sucedeu - , após a

extinção da sociedade, prosseguir contra todos os sócios, dado que, todos eles foram liquidatários da sociedade em questão.

E, em termos substantivos, tem plena aplicação ao caso dos autos, o disposto no nº 1, do artigo 154 do Código das Sociedades Comerciais, onde se

prescreve que, “os liquidatários devem pagar todas as dívidas da sociedade para as quais seja suficiente o activo social.”

Sucede que, de acordo com o declarado na escritura de dissolução da

sociedade, foi declarado pelos liquidatários aí subscritores e ora réus, que a sociedade não tem qualquer activo, nem passivo, pelo que não há lugar a partilha.

Contudo, como se apurou, os ora réus, ao efectuarem a declaração referida, estavam cientes de que existia a dívida dessa sociedade reclamada pela ora autora, nos presentes autos.

E como refere Raul Ventura (Dissolução e Liquidação de Sociedades,

Comentário ao Código das Sociedades Comerciais; Almedina, Coimbra, 1987, p. 419), a este propósito:

“O art. 158.2 constitui sanção para uma das possíveis formas de violação do dever atribuído ao liquidatário no art. 157: os liquidatários deverão indicar expressamente, no relatório, que estão satisfeitos ou acautelados, todos os direitos dos credores. Por sua vez, este artigo constitui um instrumento de garantia da regra contida no art. 156.1, que só permite a partilha do activo restante, depois de satisfeitos ou acautelados os direitos dos credores da sociedade.”

Se o disposto no art.157, for frontalmente violado, porque o liquidatário não indica expressamente no relatório que estão satisfeitos ou acautelados todos os direitos dos credores da sociedade, o liquidatário poderá ser responsável, nos termos gerais, mas não nos termos especiais do art. 158. Com efeito, naquele primeiro caso, cabe à assembleia apreciar a falta da menção obrigatória e proceder em conformidade, sendo sua responsabilidade se, apesar disso, aprovar relatório, contas e projectos de partilha.

Por força do art. 158.2, o liquidatário é responsável pessoalmente se: a)

indicar falsamente, nos documentos apresentados à assembleia para os efeitos do art. 157, que os direitos de todos os credores estão satisfeitos ou

acautelados, nos termos da lei; b) se, para tanto, agir dolosa ou culposamente;

c) se a partilha se efectivar.

Assim, como se decidiu no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 26 de

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Junho de 2008 (cujo texto integral consta da base de dados do Ministério da Justiça, disponível na internet, no endereço www.dgsi.pt, relatado pelo Conselheiro Santos Bernardino, no processo nº 08B1184):

“São realidades distintas, sujeitas a regimes igualmente distintos, a dissolução e liquidação da sociedade e a sua extinção. Dissolvida a sociedade, esta entra em liquidação, mantendo ainda a sua personalidade jurídica, sendo os seus administradores os liquidatários, salvo disposição estatutária ou deliberação noutro sentido. Com a extinção - que só se verifica com a inscrição, no registo, do encerramento da liquidação - deixa de existir a pessoa colectiva, que perde a sua personalidade jurídica e judiciária, mas as relações jurídicas de que a sociedade era titular não se extinguem. As acções pendentes, em que a sociedade seja parte, continuam após a extinção desta, que se considera

substituída pela generalidade dos sócios, representados pelos liquidatários. Os antigos sócios respondem pelo passivo social não satisfeito ou acautelado, até ao montante que receberam na partilha.”

A declaração, feita na escritura de dissolução e liquidação de uma sociedade por quotas, pelos seus dois únicos sócios, de que a sociedade não tem activo nem passivo e de que não há bens a partilhar, não vincula os credores sociais, porque não coberta pela força probatória material que, no art. 371 do CC, é reconhecida aos documentos autênticos.

De acordo com o exposto, os ora réus, por terem declarado uma situação que não correspondeu à realidade - a inexistência de passivo social - são

pessoalmente responsáveis nos termos do normativo citado, a satisfazer o crédito reclamado nos presentes autos pela autora.

-…-.”

Quid juris?

Concordamos com os argumentos expendidos com, a seguinte, correcção:

É seguro e não contestado pelos RR. e sócios da primeira R., dever a acção prosseguir contra eles, face à dissolução da sociedade em causa – neste sentido, por exemplo, o acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães, de 27-9-2007, in Colectânea de Jurisprudência, Tomo IV, pag.289, onde se conclui que: “A extinção da sociedade não produz nem a suspensão nem a extinção da instância nas acções em que a sociedade seja parte; a sociedade considera-se substituída pela generalidade dos sócios, sem necessidade de habilitação e a responsabilidade dos antigos sócios é limitada ao montante que receberam na partilha.”

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Porém, sustentam que nada tendo partilhado não respondem pela apurada dívida para com a A..

Como vimos, não foi feita essa prova pelas razões já sobejamente explicitadas aquando do conhecimento do recurso referente à matéria de facto provada e não provada.

Estamos pois, perante o problema de saber sobre quem recai o ónus de provar a não existência de partilha.

Dispõe o artº163º nº1 do Código das Sociedades Comerciais/CSC que:

- Encerrada a liquidação e extinta a sociedade, os antigos sócios respondem pelo passivo social não satisfeito ou acautelado, até ao montante da partilha (…).

Quer isto dizer que, os sócios só respondem pelo passivo da sociedade liquidada e extinta se houver partilha dos bens desta e na medida dessa mesma partilha.

Trata-se pois dum facto impeditivo do exercício do direito da A., matéria de excepção cujo ónus recai sobre os sócios da primeira R. e agora recorrentes – artº342º nº2 CC –

Não vemos como, segundo um critério de normalidade, se pode exigir ao credor a prova do que se partilhou ou a inexistência de partilha relativamente às sociedades por quotas.

Ora, como se demonstrou, os RR. não conseguiram fazer essa prova, mas apenas que os próprios declararam não terem partilhado quaisquer bens da primeira R. na sequência da sua dissolução.

Os mesmos sócios também declararam que não havia qualquer passivo e ficou demonstrado que havia uma dívida para com a A..

Face ao referido non liquet há que decidir contra quem tem o respectivo ónus.

Como lembram Antunes Varela e Pires de Lima, “o significado essencial do ónus da prova não está tanto em saber a quem incumbe fazer prova do facto como em determinar o sentido em que deve o Tribunal decidir no caso de não

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se fazer essa prova” – vide anotação ao artº342º in Código Civil anotado por aqueles Ilustres Professores de Direito -.

Pelo que fica dito, improcede também o recurso neste particular.

DECISÃO

- Assim e pelos fundamentos expostos, os Juízes desta Relação acordam em julgar improcedente o presente recurso e consequentemente, mantêm o decidido pelo Tribunal a quo.

- Custas pelos apelantes.

Lisboa, 9 de Março de 2010

Relator: Afonso Henrique Cabral Ferreira 1º Adjunto: Rui Torres Vouga

2º Adjunto: Maria do Rosário Barbosa

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