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TRIBUNAL DE EXECUÇÃO DAS PENAS COMPETÊNCIA MATERIAL

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 119/01.0TAVLC-A.P1 Relator: NETO DE MOURA

Sessão: 07 Maio 2014

Número: RP201405-07119/01.0tavlc-A.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: REC PENAL Decisão: PROVIDO

TRIBUNAL DE EXECUÇÃO DAS PENAS COMPETÊNCIA MATERIAL

EXTINÇÃO DA PENA

Sumário

I – Transitada em julgado a decisão que aplica pena privativa da liberdade, compete ao tribunal da condenação ordenar a detenção do condenado (se estiver em liberdade) e homologar o cômputo da pena que o Ministério Público apresentar.

II – A partir do momento em que o condenado entra no estabelecimento

prisional para cumprir a pena, cessa a intervenção do tribunal da condenação e tudo o mais, incluindo a declaração de extinção da pena, é da competência do tribunal de execução das penas.

Texto Integral

Processo n.º 119/01.0 TAVLC-A.P1 Recurso penal

Relator: Neto de Moura

Acordam, em conferência, na 1.ª Secção (Criminal) do Tribunal da Relação do Porto

I – Relatório

Nos autos de processo comum que, sob o n.º 119/01.0 TAVLC, correm termos pelo 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Vale de Cambra foi proferido o seguinte despacho (transcrição integral):

“Concordando na íntegra com o entendimento sufragado pela Digna

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Magistrada do Ministério Público no âmbito da promoção antecedente, e, assim, em bom rigor, competir ao TEP a declaração de extinção da pena em apreço, em ordem a evitar delongas processuais, declaro-a extinta pelo respectivo cumprimento”.

Porém, o Ministério Público não se conformou com tal despacho e reagiu interpondo o presente recurso para este Tribunal da Relação, com os

fundamentos explanados na respectiva motivação que condensounas seguintes conclusões (em transcrição integral):

1. “Nos presentes autos o arguido B... foi condenado na pena de prisão efectiva de 1 ano e 6 meses de prisão, tendo-lhe sido concedida liberdade condicional, entretanto revogada e, após cumprido integralmente em meio prisional aquela pena, cuja execução que foi acompanhada pelo respectivo Tribunal de Execução de Penas no âmbito do processo n.º 16/11.1 TXCBR-C (fls. 846).

2. Na sequência do cumprimento integral da pena foi solicitado ao Tribunal de Execução de Penas, nos termos do disposto nos artigos 475.º do Código de Processo Penal e 138.°, n.º 4, alínea s) do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade, a declaração de extinção da pena de prisão efectiva, tendo sido obtida resposta de fls. 8472, de acordo com a qual, o Tribunal de Execução de Penas conclui que “tratando-se de cumprimento integral de pena, perfilhamos o entendimento de que tal competência cabe apenas e só ao Tribunal da condenação".

3. Após a sua libertação, foi proferida nestes autos pelo Tribunal da

condenação a decisão de fls. 1244, que conclui que é da competência do TEP a declaração de extinção da pena de prisão efectiva, mas, para evitar delongas processuais com eventuais conflitos de competência, declara a extinção da pena.

4. O artigo 470.º do Código de Processo Penal estabelece que a execução das penas corre nos próprios autos perante o presidente do Tribunal de 1.ª

instância em que o processo tiver corrido, sem prejuízo do disposto no artigo 138.º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade.

5. Ou seja, com a redacção introduzida pela Lei n.º 115/2009 de 12.10, ao acrescentar aquela parte final, pretendeu o legislador, no nosso entender, reafirmar a competência material do Tribunal de Execução de Penas para os actos indicados no artigo 138.º, mantendo-se a competência do Tribunal de 1.ª instância para os demais.

6. Tal conclusão é suportada pela exposição de motivos da proposta de lei n.º 252/X (4.°) que esteve na sua génese e onde se pode ler: “e no que se refere à delimitação de competências entre o tribunal que aplicou a medida de efectiva privação da liberdade e o Tribunal de Execução das Penas, a presente

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proposta de lei atribui exclusivamente ao Tribunal de Execução das Penas a competência para acompanhar e fiscalizar a execução de medidas privativas da liberdade, após o trânsito em julgado da sentença que as aplicou.

Consequentemente, a intervenção do tribunal da condenação cessa com o trânsito em julgado da sentença que decretou o ingresso do agente do crime num estabelecimento prisional, a fim de cumprir medida privativa da

liberdade. Este um critério simples, inequívoco e operativo de delimitação de competências, que põe termo ao panorama, actualmente existente, de

incerteza quando a repartição de funções entre os dois tribunais e, até, de sobreposição prática dos mesmos. Incerteza e sobreposição que em nada favorecem a eficácia do sistema” (DAR, II Série-A, n.º 79, p.18. acessível in http:/app.parlamento.pt/).

7. Ora, o artigo 138.º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade estabelece expressamente no seu n.º 2 e n.º 4, alínea s) que

“compete aos tribunais de execução de penas, em razão da matéria: s) declarar extinta a pena de prisão efectiva.

8. Significa que, nos termos do artigo 475.º do Código de Processo Penal, o Tribunal competente para a extinção da execução a que ali se alude é, por força daquelas disposições e no caso de pena de prisão efectiva, o Tribunal de Execução de Penas.

9. Não distingue a lei a competência desse Tribunal consoante tenha sido ou não concedida liberdade condicional, dado que, mesmo que não tenha sido concedida, é ao Tribunal de Execução de Penas que compete o

acompanhamento da execução da pena no respectivo processo individual (artigo 144.º e 145.º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade), independentemente da decisão que venha a ser proferida em qualquer dos seus apensos.

10. O artigo 10.° do Código de Processo Penal prevê que "a competência material e funcional dos tribunais em matéria penal é regulada pelas disposições deste Código e, subsidiariamente, pelas leis de organização judiciária".

11. Assim, além das normas supra referidas, deve ainda ser ponderado o preceituado no artigo 91.º da Lei nº 3/99 de 13-01, que, em consonância, prevê que a competência para aquela decisão pertence ao Tribunal de Execução de Penas.

12. Assim, o Tribunal da condenação ao declarar extinta a pena de prisão efectiva cumprida pelo arguido violou as normas legais acima referidas

relativas à competência do Tribunal, tratando-se por isso de decisão ferida de nulidade insanável nos termos do disposto na alínea e) do artigo 119.º do Código de Processo Penal”.

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Entende, assim, o recorrente que a decisão recorrida viola, por errada interpretação, as normas dos artigos 10.°, 470.° e 475.° do Código de

Processo Penal, 138.°, n.º 1 e 4, alínea s) do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade e 91.° do Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, pelo que pretende a sua revogação e a sua substituição por outra que determine que o tribunal da condenação é materialmente incompetente para a decisão de extinção da pena.

Admitido o recurso (despacho reproduzido a fls. 46 destes autos) e notificado o condenado B… na pessoa do seu ilustre defensor (fls. 47), não foi por este apresentada resposta.

*

Nesta instância, na intervenção a que alude o n.º 1 do art.º 416.º do Cód. Proc.

Penal, a Ex.ma Procuradora-Geral Adjunta apôs o seu visto.

*

Efectuada exame preliminar e colhidos os vistos, vieram os autos à conferência, cumprindo apreciar e decidir.

II - Fundamentação

Como se sabe, é pelas conclusões que o recorrente extrai da motivação, onde sintetiza as razões do pedido, que se delimita o objecto do recurso e se fixam os limites do horizonte cognitivo do tribunal de recurso (cfr. artigos 412.º, n.º 1, e 417.º, n.º 3, do Cód. Proc. Penal e, entre outros, o acórdão do STJ de 27.05.2010, acessível em [1]www.dgsi.pt/jstj), sem prejuízo da apreciação das questões que são de conhecimento oficioso.

Pela motivação do recurso, de que ficaram transcritas as respectivas

conclusões, percebe-se que é uma questão de competência material que aqui se discute, mas importa precisar os termos da controvérsia e, para tanto, há que ter em consideração as seguintes ocorrências processuais, que decorrem da certidão com que foram instruídos os autos de recurso:

1. Nos referidos autos de processo comum com o n.º 119/01.0 TAVLC, B… foi condenado na pena de 18 meses de prisão;

2. No decurso do cumprimento da pena, fiscalizado pelo Tribunal de Execução de Penas do Porto (2.º Juízo) no âmbito do processo n.º 16/11.1 TXCBR-C, o condenado beneficiou de liberdade condicional, que, no entanto, veio a ser revogada;

3. O condenado terminou em 22.09.2013 o cumprimento sucessivo, não só das penas de prisão que lhe foram aplicadas no âmbito dos processos n.ºs

460/06.6 GAVLC, 205/09.0 GAVLC e 361/10.3 GAVLC, mas também o

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remanescente da pena decorrente da revogação da medida de liberdade condicional.

4. O Ministério Público, no âmbito deste processo (119/01.0 TAVLC),

promoveu “que os autos aguardem a declaração de extinção da pena pelo TEP, nos termos do disposto na alínea s) do n.º 4 do artigo 138.º do Código de

Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade”.

5. No âmbito do processo n.º 16/11.1 TXCBR-C do 2.º Juízo do TEP do Porto, em 10.09.2013, o Sr. Juiz proferiu o seguinte despacho:

“O termo de pena está liquidado e homologado pelo tribunal da condenação, à ordem de quem o recluso cumpre pena, para 22set2013.

Até essa data não opera qualquer uma das legais admissões de apreciação de liberdade condicional.

Como tal, a pena de prisão (somatório de penas, se for caso) será de execução até ao termo.

Assim sendo – com nota de urgência máxima – solicite ao tribunal da

condenação, que é o Tribunal para tanto competente em razão da matéria, que informe se já emitiu e remeteu ao EP os competentes mandados de libertação por termo da pena”.

6. Em 10.10.2013, o mesmo Sr. Juiz do TEP proferiu o seguinte despacho:

“Visto.

Declaração de extinção de pena.

Tratando-se de cumprimento integral de pena, perfilhamos o entendimento de que tal competência cabe apenas e só ao Tribunal da condenação.

Arquive”.

7. Perante tal despacho, a magistrada do Ministério Público no 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Vale de Cambra reafirmou o seu entendimento de que

“nos termos do artigo 475.º do Código de Processo Penal, o tribunal competente para a extinção da execução a que aí se alude é, por força

daquelas disposições legais e no caso de pena de prisão efectiva, o Tribunal de Execução de Penas”.

8. A Sra. Juiz proferiu, então, o despacho recorrido, supra transcrito.

Nenhum dos tribunais (nem o 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Vale de Cambra, nem o 2.º Juízo do Tribunal de Execução de Penas do Porto) se declarou

expressamente incompetente (e por isso, como bem refere o recorrente, não estamos perante um conflito negativo de competência), mas fica bem claro que existe um dissídio e a questão controvertida que se impõe apreciar e decidir consiste em determinar a quem compete a declaração de extinção de pena de prisão efectiva: o tribunal da condenação ou o tribunal de execução de penas?

Em termos simples, pode dizer-se que a competência de um tribunal é a

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parcela do poder de julgar, a parcela de jurisdição que, nos termos da lei, lhe cabe.

A distribuição desse poder de julgar pelos diferentes órgãos judiciários faz-se em função de determinadas regras: em matéria penal, o fraccionamento do poder jurisdicional pelos diferentes tribunais portugueses faz-se em razão da matéria, da hierarquia, do território e da estrutura (singular ou colectiva) do tribunal.

Nos artigos 11.º a 18.º do Código de Processo Penal está definida a

competência material e funcional dos tribunais em matéria penal, mas aí nada se diz sobre a competência para a execução das penas.

Mesmo o artigo 18.º, que se refere ao Tribunal de Execução das Penas, limita- se a remeter para lei especial a definição da respectiva competência.

No entanto, o artigo 470.º, n.º 1, do Cód. Proc. Penal estabelece que a execução (das penas e medidas de segurança) “corre nos próprios autos perante o presidente do tribunal de 1.ª instância em que o processo tiver corrido”[2].

Acontece que, em 2009, com a Lei n.º 115/2009, de 12 de Outubro, que aprovou o Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade (CEPMPL), foram introduzidas importantes alterações nesta matéria e, nas palavras da exposição de motivos da Proposta de Lei n.º 252/x, que esteve na génese daquela Lei, à “incerteza quanto à repartição de funções entre os dois tribunais” e, até, “sobreposição prática das mesmas”, sucedeu um “critério simples, inequívoco e operativo de delimitação de competências”.

Com efeito, ali se pode ler que “no plano processual e no que se refere à

delimitação de competências entre o tribunal que aplicou a medida de efectiva privação de liberdade e o Tribunal de Execução das Penas, a presente

proposta de lei atribui exclusivamente ao Tribunal de Execução das Penas a competência para acompanhar e fiscalizar a execução de medidas privativas da liberdade, após o trânsito em julgado da sentença que as aplicou.

Consequentemente, a intervenção do tribunal da condenação cessa com o trânsito em julgado da sentença que decretou o ingresso do agente do crime num estabelecimento prisional, a fim de cumprir medida privativa de

liberdade”.

Em concretização desse propósito de clarificação, ao n.º 1 do artigo 470.º do Código de Processo Penal foi aditado o actual segmento final “sem prejuízo do disposto no artigo 138º do Código de Execução das Penas e Medidas

Privativas da Liberdade”.

Por seu turno, o artigo 138.º do CEPMPL dispõe no seu n.º 2 que “após o trânsito em julgado da sentença que determinou a aplicação de pena ou medida privativa da liberdade, compete ao tribunal de execução das penas

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acompanhar e fiscalizar a respectiva execução e decidir da sua modificação, substituição e extinção, sem prejuízo do disposto no artigo 371.º-A do Código de Processo Penal”.

O n.º 4 do mesmo preceito legal especifica que compete aos tribunais de execução das penas, em razão da matéria, além do mais:

s)Declarar extinta a pena de prisão efectiva, a pena relativamente indeterminada e a medida de segurança de internamento;

t)Emitir mandados de detenção, de captura e de libertação;

Daqui decorre que, mantendo-se a regra segundo a qual a execução “corre nos próprios autos perante o presidente do tribunal de 1.ª instância em que o

processo tiver corrido”, já assim não será (ou, pelo menos, tal regra é fortemente restringida) no que se refere à execução de penas privativas de liberdade.

Agora, transitada em julgado uma sentença condenatória que aplica pena de prisão efectiva, compete ao tribunal da condenação ordenar a detenção do condenado (se este estiver em liberdade) para cumprir a pena, sendo também o juiz do tribunal da condenação que homologa o cômputo da pena a que o Ministério Público há-de proceder (n.os2, 3 e 4 do artigo 477.º do Cód. Proc.

Penal).

A partir do momento em que o condenado entra no estabelecimento prisional para cumprir a pena privativa da liberdade, cessa a intervenção do tribunal da condenação e tudo o mais, incluindo a declaração de extinção da pena, é da competência do tribunal de execução das penas.

Apesar da clarificação operada, são relativamente frequentes as decisões em que se raciocina e se fazem interpretações das normas em causa como se não tivesse havido alteração alguma e daí os conflitos (negativos) de competência que vão surgindo.

Os conflitos ocorrem, sobretudo, em matéria relativa ao cômputo ou

liquidação de penas, mas também surgem em matérias como a declaração de contumácia (veja-se o acórdão da Relação de Coimbra de 07.03.2012,

disponível em www.dgsi.pt) e de emissão de mandados de libertação e de declaração de extinção da pena, como é o caso presente.

Para a decisão da questão que aqui se controverte, importa convocar também a norma do artigo 475.º do Código de Processo Penal, nos termos do qual “o tribunal competente para a execução declara extinta a pena ou a medida de segurança”.

Da conjugação (ou confronto) desta norma com o n.º 1 do artigo 470.º do Código de Processo Penal antes da alteração introduzida pela Lei n.º

115/2009, de 12 de Outubro, e ainda o artigo 91.º, n.º 2, al. h), da Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro, que na sua redacção originária dispunha que compete aos

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tribunais de execução das penas “declarar a extinção da execução da pena de prisão”, surgiu (e pode dizer-se que se sedimentou) o entendimento segundo o qual a competência do tribunal de execução das penas se limitaria aos "casos especiais" indicados no n.º 2 do referido artigo 91.º da Lei 3/99, em que o TEP modificaria a execução da pena em virtude da sua actividade, nomeadamente através da concessão da liberdade condicional.

Foi, também, esse o entendimento perfilhado pelo Sr. Juiz do 2.º Juízo do TEP do Porto, pois que nos transcritos despachos de 10.09.2013 e 10.10.2013, argumenta que “até essa data não opera qualquer uma das legais admissões de apreciação de liberdade condicional” e que “tratando-se de cumprimento integral de pena, perfilhamos o entendimento de que tal competência cabe apenas e só ao Tribunal da condenação”.

Tal argumentação deixou de ter qualquer base de sustentação com as alterações introduzidas em 2009, como é explicado, de forma cristalina, na decisão da Relação de Lisboa, de 12.06.2013 (Des. Nuno Gomes da Silva, como presidente da 5.ª Secção) acessível em www.dgsi.pt, de que, com a devida vénia, transcrevemos os seguintes trechos:

“A este propósito convém notar as diferenças de redacção do artigo 91º, n.º 2, al. h), na redacção originária, que se manteve até às alterações introduzidas pela Lei 115/2009, e na redacção da al. s) daquele preceito, que corresponde à anterior al. h), resultante deste diploma (com a alteração da Lei 40/2010 - simples alteração de numeração). Na versão anterior, o TEP tinha

competência para "declarar a extinção da execução da pena de prisão"; na actual, o TEP tem competência para "declarar extinta a pena de prisão", coincidindo com a letra do artigo 475º do CPP, que, como se referiu, se manteve inalterada. O que significa que, em rigor, o TEP não tinha, em caso algum, competência para declarar "extinta a pena", mesmo nos casos em que tivesse concedido a liberdade condicional, mas tão somente para declarar a

"extinção da execução da pena"; ou seja, seria sempre da competência do tribunal da condenação, enquanto tribunal de execução (artigo 470º do CPP), declarar extinta a pena (artigo 475º do CPP) por virtude da sua execução (cumprimento) declarada finda pelo TEP (artigo 91.º, n.º 2, al. h) da Lei 3/99).

Porém,

“a Lei 115/2009 veio conferir coerência a este regime, eliminar as "incertezas e sobreposições" quanto à repartição de competências entre o tribunal da condenação e o TEP, por virtude das alterações introduzidas no artigo 470.º, n.º 1, do CPP e no anterior n.º 2, al. h), (do artigo 91.º) da Lei 3/99. Isto é, se ao TEP competia declarar a "extinção da execução da pena", cabe-lhe agora, inequivocamente, declarar a "extinção da pena" uma vez que esta se mostre executada (cumprida).»

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E remata assim:

“Está evidenciada, em termos que se crêem claros e se subscrevem, a circunstância de os elementos de interpretação da lei, literal, histórico (nomeadamente dos trabalhos preparatórios) e sistemático não deixarem margem para dúvida de que no regime agora em vigor, instituído pela Lei nº 115/2009, a competência para declarar extinta a pena é do tribunal de

execução das penas. E que a intenção do legislador é a de fazer cessar a intervenção do tribunal da condenação após o trânsito em julgado da decisão condenatória”.

*

Apesar de concordar com a posição manifestada pela magistrada do Ministério Público, a Sra. Juiz do 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Vale de Cambra, para

“evitar delongas processuais”, declarou extinta, pelo cumprimento, a pena cominada a B….

A intenção de resolver os problemas, e não criá-los ou eternizá-los, é de enaltecer, mas não podemos deixar de concluir que, assim, foram violadas regras de competência material.

Com efeito, carecendo o tribunal da condenação de competência para declarar a extinção da pena, a decisão em crise configura uma nulidade insanável nos termos do art.º 119.º, al. e), do Cód. Proc. Penal.

Tem, pois, de ser concedido provimento ao recurso interposto.

III – Decisão

Pelo exposto, acordam os juízes desta 1.ª Secção Criminal do Tribunal da Relação do Porto em conceder provimento ao presente recurso e, em consequência, declarar nulo e anular o despacho datado de

17.10.2013, proferido no processo n.º 119/01.0 TAVLC do 1.º Juízo do Tribunal Judicial de Vale de Cambra (de que está uma reprodução a fls.

36 destes autos), o qual deverá ser substituído por outro que declare o tribunal da condenação materialmente incompetente para a declaração de extinção da pena cominada a B….

Sem tributação.

(Processado e revisto pelo primeiro signatário, que rubrica as restantes folhas).

Porto, 07-05-2014 Neto de Moura Vítor Morgado _______________

[1] Cfr., ainda, o acórdão do Plenário das Secções Criminais do STJ n.º 7/95,

(10)

de 19.10.95, DR, I-A, de 28.12.1995.

[2] Porém, como faz notar o Sr. Conselheiro Pires da Graça no seu comentário ao artigo 470.º (“Código de Processo Penal Comentado”, Almedina, 2014, 1675, de que é co-autor), em bom rigor, se é certo que a execução das penas corre no tribunal em que pende o processo, também é perante o juiz titular do processo que a mesma (execução) corre.

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