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O desenvolvimento da fala e o bilingüismo

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Academic year: 2019

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Carolina Massoni de Almeida Bueno

O desenvolvimento da fala e o bilingüismo

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Educação

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1

Carolina Massoni de Almeida Bueno

O desenvolvimento da fala e o bilingüismo

 Turma da manhã: Trabalho apresentado como requisito para conclusão da Habilitação Educação Infantil à Comissão de professores responsáveis pelo Curso: Profas. Maria Angela Barbato Carneiro, Maria José P. M. França, Marisa Del Cioppo Elias e Neide Barbosa Saisi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ângela Barbato Carneiro”

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Faculdade de Educação

(3)

2

Agradecimentos

Para aquelas pessoas que fazem meu coração sorrir...

Para todos que sempre estiveram junto

até mesmo quando eu não estava disposta...

Para as pessoas que fizeram a

diferença em minha vida...

Para as pessoas que quando

olho para trás, sinto muitas saudades...

Para as pessoas que me aconselharam

quando me senti sozinha, e me ajudaram

a entender que não importa em quantos

pedaços meu coração tenha se partido, pois

o mundo não irá parar para que eu o conserte...

Para as pessoas que me deram um força quando

eu não estava muito animada.

Para as pessoas que amei...

Para as pessoas que abracei...

Para as pessoas que encontro

apenas em meus sonhos...

Para as pessoas que encontro

todos os dias e não tenho a chance de

dizer tudo o que sinto olhando nos olhos...

Quero agradecer meus amigos, minha família e principalmente meus pais que

(4)

3

Resumo

Este trabalho teve como objetivo principal o estudo de Jerome Seymour Bruner

e Lev Semenovich vygotsky sobre o desenvolvimento da fala e sua relações

com o bilingüismo na educação infantil.

Foi feita uma comparação entre o pensamento dos dois autores e explicitadas

as contribuições destes em relação ao uso do ensino bilíngüe e de sua

importância.

Verificamos que o professor deve levar em conta fatores sociais, culturais e a

história educativa de seus alunos. Precisa ficar atento as necessidades

individuais dos educandos para poder analisar suas possibilidades de

aprendizagem e avaliar a eficácia das medidas adotadas.

(5)

4

Sumário

Introdução e Justificativa...06

1 Desenvolvimento da Linguagem...09

2 Bilingüismo X desenvolvimento lingüístico e cognitivo... 19

Considerações finais...24

(6)

Justificativa e Introdução

Quando era pequena fui matriculada diversas vezes em escolas de inglês, a

verdade é que nunca consegui me interessar de fato pelas aulas e concluir ao

menos um semestre. Foi somente quando iniciei a faculdade e comecei a

procurar estágio que realmente percebi a importância do conhecimento de

línguas estrangeiras.

Atualmente, a língua inglesa é a mais falada no mundo inteiro, o que a torna

importante no nosso dia – a – dia. Saber se comunicar em inglês vem ficando

indispensável, seja para viajar e conhecer outros países, pessoas e culturas,

como para fechar um contrato importante com uma empresa estrangeira.

Assim, o mercado de trabalho valoriza as pessoas que possuem a habilidade

de falar duas ou mais línguas.

Pensando na concorrência enorme entre os profissionais na busca por um

emprego e diante do processo de globalização, decidi me matricular em uma

escola de inglês e fazer intercâmbio.

Viajei para o Canadá durante as férias da faculdade entre 2006 e 2007 e

despertei finalmente o meu interesse por línguas. Na casa em que vivi durante

três meses convivi com uma família canadense que têm duas crianças e um

bebê, e com uma estudante de intercâmbio da Venezuela. Lá o que mais me

chamava a atenção era o bebê de um ano e meio que estava aprendendo a

falar em um ambiente com quatro línguas diferentes (o inglês e o francês do

Canadá, o meu português e o espanhol da estudante da Venezuela). Fiquei

impressionada com o fato de ele conseguir se comunicar com todos na casa de

alguma maneira.

O meu principal interesse é o desenvolvimento da fala da criança. A linguagem

oral é fundamental para que os pequenos se desenvolvam com os outros e se

insiram na sociedade em que vivem. No mundo atual a comunicação é

imprescindível e dela dependeu o progresso da humanidade. Ao adquirir a

linguagem o indivíduo dá um grande passo em seu desenvolvimento psíquico,

aumenta a possibilidade de conviver com outros indivíduos, de organizar seu

modo de agir e de pensar, além de mudar a maneira de interagir com o

(7)

7

A linguagem é um sistema simbólico fundamental em todos os grupos

humanos, ela nos permite designar os objetos do mundo exterior (como, por

exemplo, a palavra vaca, que designa um tipo específico de animal mamífero

de quatro patas), ações (como, correr, arremessar, furar, guardar), qualidades

dos objetos (como mole, duro, áspero, macio) e as que se referem às relações

entre os objetos (como perto, longe, do lado, acima, abaixo).

Quando voltei do Canadá, comecei a fazer estágio em uma escola bilíngüe

localizada no bairro de Pinheiros na cidade de São Paulo. Desde então tenho

me impressionado com crianças e com a maneira como aprendem rapidamente

duas línguas e especialmente a forma com que elas se relacionam entre si.

Uma das minhas maiores dúvidas, diante desta experiência profissional que

estou vivendo, é em relação ao contato de crianças pequenas com uma

segunda língua.

Neste trabalho discutirei sobre as questões do desenvolvimento da fala da

criança abordando especialmente o contato com uma segunda língua.

Objetivo

O objetivo do trabalho é estudar o desenvolvimento da linguagem,

especialmente do bilingüismo, na educação infantil.

Para isso tomei como ponto de partida os trabalhos de Bruner (1997) e

Vygostky (1988) uma vez que ambos tratam do desenvolvimento da linguagem,

embora não tenham estudado a questão do bilingüismo.

Metodologia

Trata-se de um estudo teórico com base em dois estudiosos da comunicação,

Jerome Seymour Bruner e Lev Semenovich Vygotsky, visto que ambos se

preocuparam com a linguagem como elemento importante na aprendizagem do

ser humano. Bruner identifica o modo como acredita que a linguagem se

desenvolve nos seres humanos e descreve a importância desta no cotidiano,

destaca o uso da narrativa não somente aquela usada em contos de fada e em

nossa imaginação mas aquela que usamos para expressar o que sentimos,

(8)

8

fundamental para a apropriação da cultura. Sem a comunicação seria

impossível à humanidade o progresso e o avanço do conhecimento.

Vygotsky, por sua vez, dedicou muitos anos de sua vida estudando a relação

entre o pensamento e a linguagem trazendo inúmeras contribuições sobre o

tema.

Partiu-se, portanto, da história de vida de cada autor, buscando,

posteriormente, explicitar um pouco de sua teoria em relação ao

desenvolvimento da linguagem depois procurou-se identificar as semelhanças

e diferenças entre ambos para levantar as contribuições que tiveram em

relação a comunicação e ao bilingüismo.

Referencial Teórico

Muitos estudiosos pesquisaram a fala das crianças. Dentre eles Piaget

Vygotsky, Lúria e Bruner. Todos estes autores trataram sobre este assunto,

mas nenhum se aprofundou na questão do bilingüismo. Devido a escassez de

investigações que tratam da aprendizagem de duas ou mais línguas,

especialmente entre os pequenos, um estudo teórico buscou levantar algumas

bases que pudessem favorecer uma outra investigação do assunto em um

outro momento.

Dentre os autores que tratam do desenvolvimento da linguagem na criança

busquei aprofundar nesta pesquisa os trabalhos de Bruner e de Vygotsky, não

só por serem mais recentes como também por tratarem de questões que se

(9)

1 Desenvolvimento da linguagem

1.1 Considerações sobre os autores

Considerando-se a relevância que o trabalho de Bruner e Vygotsky assumiram

do ponto de vista da linguagem humana, procurou-se iniciar esta investigação

através dos estudo de cada um dos autores, ou seja, de suas biografias de

modo a entender melhor as contribuições feitas por cada um deles.

1.1.1 Jerome Seymour Bruner

Jerome Seymour Bruner nasceu em primeiro de outubro de 1915, em Nova

York, nos Estados Unidos. Seu pai era um fabricante de relógios e garantiu ao

filho uma infância despreocupada. Ingressou na Universidade de Duke com

apenas 16 anos pretendendo estudar direito para administrar os negócios da

família mas sua admiração por William McDougall o fez optar pela psicologia. É

aprovado em Yale e em Havard mas decide-se pela ultima, e finalmente em

(10)

7

A construção de suas teorias tem influencia em Titchner, Piaget, Lévi-Strauss,

Dewey, Woodworth, Wertheimer, Köhler, Koffka, Freud, Mc Dougall, Egon

Brunwik, Edward Tolman, David Krech e Vygotsky, entre outros psicólogos e

sistemas psicológicos vigentes do século XX.

As produções acadêmicas deste autor têm duas fases: a primeira limita-se ao

laboratório e a segunda inclui estudos em situações de observação natural.

Nas duas fases nota-se grande coerência e interação e o uso de

conhecimentos que vão além da área da psicologia, como ciência

computacional, matemática, economia, lingüística, filosofia, literatura, arte e

antropologia. Nas suas produções Bruner expressa o profundo interesse pelo

processo de aprendizagem e pela educação da criança, especialmente os

bebês.

(11)

8

Lev Semenovich Vygotsky nasceu no dia 5 de Novembro de 1896, em Orsha,

Bielorussia, e morreu em Moscou, de tuberculose, com 38 anos, em 11 de

Junho de 1934.

Vygotsky teve uma infância muito rica culturalmente, de família judia, aprendeu

a ler muito cedo e na adolescência já mostrava grande interesse por arte,

história, filosofia, lingüística e literatura. Logo se interessa também pela área da

Psicologia, entusiasmado com a literatura internacional de W.James e S.

Freud. Opta pelo curso de Direito, porém termina a graduação e não ingressa

na carreira. O ano de 1917 marca suas primeiras experiências como educador,

daí em diante se envolve com inúmeras atividades ligadas a área da educação

e da arte.

Em uma das várias escolas em que trabalhou monta um laboratório, onde

passa a desenvolver pesquisas em reatoligia1. Em 1924 faz uma apresentação

no II Congresso Panrusso de Psiconeurologia, destaca-se por defender o

estudo da consciência e criticar os trabalhos reflexológicos2 de Pavlov, e é

convidado para trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou, dirigido por

Kornilov, onde contaria com as colaborações de Luria e Lentiev. É nessa época

que começa a construir os princípios da corrente histórico cultural,

desenvolvendo uma abordagem do desenvolvimento humano que é

sociocultural, histórica, integrativa e semiótica.

É importante destacar que Vygotsky viveu na época da revolução comunista de

1917, que deu origem a União Soviética, período importantíssimo da história do

século XX e que vai marcar suas obras.

Este pensador russo mostra-se um marxista e para ele, “(...) a consciência não

é simples reflexo da história – pois a própria materialidade histórica é

constantemente plasmada pela ação de consciências envolvidas em processos

sociais.” ( Nova Escola, pág 4), ou seja, estamos usando a nossa consciência

quando agimos, por isso ela não pode ser somente fruto da história que

construímos com nossas ações.

Para este autor a aprendizagem é mais do que um sujeito desenvolvendo

ferramentas cognitivas. Toda ferramenta cognitiva, como a linguagem consiste

1Área da psicologia relacionada à pesquisa experimental sobre o comportamento humano

2Os trabalhos reflexológicos de Pavlov referem-se às suas experiências de investigar os

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9

na capacidade de simbolização. Simbolizar necessita observar, perceber,

discriminar, classificar, analisar, sintetizar e significar, portanto, demanda de

processos comunicativos.

Além disso, para Vygotsky as funções psíquicas são de natureza e origem

sociais, ou seja, não são fatos naturais, mas resultam das relações entre o ser

humano e a cultura, daí a importância do desenvolvimento da linguagem como

forma de comunicação e apreensão da cultura.

1.2 Bruner e o desenvolvimento da linguagem

No livro Atos de Significação, Bruner (id) chama a atenção para a importância

da narrativa. Segundo o autor a habilidade de narrar não se limita apenas à

uma conquista mental mas uma conquista da prática social que empresta

estabilidade à vida social da criança, pois uma das formas mais poderosas de

estabilidade social está no ato de contar e partilhar histórias, fazendo com que

suas interpretações estejam de acordo com as obrigações institucionais e os

compromissos morais divergentes que prevalecem em cada cultura.

Mas como nós, seres humanos, ingressamos neste mundo de significados?

Como aprendemos a produzir significados (particularmente significados

narrativos) no mundo que nos rodeia?

A primeira coisa importante que deve ser dita é que o significado não depende

apenas de um sinal e de um referente mas também de um interpretante.

Seguindo esta linha de raciocínio é possível pensar que os símbolos dependem

então da existência de uma linguagem que contenha um sistema de sinais

ordenados ou governados por regras, e este sistema vai depender da

capacidade humana de interiorizar e interpretar tal linguagem.

O bebê não é capaz de captar significados, mas aprende muito rapidamente

como fazê-lo e é isso que vai marcar o começo do uso da linguagem. A

aquisição da linguagem requer assistência e interação com as pessoas que

(13)

10

mas através do uso” (Id. p.67), ou seja, o contexto e as situações as quais a

criança é exposta são de estrema importância. Por isso Bruner diz que ser

exposto a um fluxo de linguagem aprendendo apenas o que dizer não é tão

importante quanto usá-la em meio ao fazer, aprendendo como, onde, para

quem e sob que circunstâncias.

Determinadas funções ou intenções comunicativas podem ser facilmente

notadas antes que a criança tenha dominado a linguagem formal para

expressá-las linguisticamente. Elas incluem, no mínimo, indicar, rotular, solicitar

e enganar. Um exemplo disto é quando o bebê inicia um choro forçado apenas

porque sabe que assim a mãe o pegará no colo.

Para Bruner o argumento sobre como nós ingressamos na linguagem deve

basear-se em um conjunto aptidões pré-lingüísticas para o significado.

Segundo o autor, possuímos um dom inato para a linguagem, nascemos

“equipados” com um conjunto de predisposições para interpretar o mundo

social de uma forma particular e para agir sobre nossas interpretações.

Justifica seu pensamento dizendo que sem esta “teoria da mente”

protólingüísticas não poderíamos interagir com os outros “humanamente”,

como quando o bebê acompanha o ato de apontar o dedo de um adulto e, não

encontrando nada lá volta para verificar a direção daquilo que o adulto apontou.

É depois de dominar, através da interação, as formas pré-linguísticas

apropriadas ao manejo ostensivo de referências, que a criança pode

ultrapassá-las para operar dentro dos limites da linguagem adequada.

A gramática “formal” não é uma prioridade das necessidades comunicativas. As

unidades “naturais” da comunicação são as unidades de discurso que

preenchem uma função discursiva “pragmática” (fazer com que os outros ajam

em nosso interesse) e “matética” ( esclarecer qual o nosso ponto de vista,

nosso pensamento, sobre o mundo); ambas usam sentenças mas nenhuma se

limita ás fronteiras de uma sentença.

Nosso cenário cultural nos força a sermos narradores e, por mais que as

crianças pequenas ainda não saibam sobre a cultura, são perfeitamente

capazes de produzir narrativas, reconhecendo o que elas fizeram, planejam

fazer e interpretando o que é aceitável ou não por essa cultura. Bruner chama

(14)

11

para a satisfação de necessidades culturais, todos estilizam o narrador como

uma forma de si mesmo todos definem tipos de relações entre narrador e

interlocutor.

A criança assume e desempenha um papel, ou seja, tornar-se

protagonista/agente na família/ sociedade/ cultura em que está inserida antes

que lhe seja exigida qualquer narração, justificação ou desculpa. Portanto,

aquilo que é aceitável ou não, e como chegamos a certos resultados é

aprendido primeiro na ação.

Algumas situações do dia-a-dia fazem com que a criança perceba que o que

ela faz é afetado pela forma como relata o que está fazendo, fez, ou fará.

Como por exemplo, dois irmãos que tentam contar sobre uma briga entre eles

para a mãe, nesse caso o relato narrativo não será mais neutro, além de dizer

o que aconteceu os narradores procurarão oferecer também uma justificativa

para a ação, colocando seu ponto de vista e interesse. “Narrar torna-se não

apenas um ato expositivo, mas retórico” (Id, p. 78). Narrar passa a exigir da

criança um conhecimento daquilo que é canônico, já que ela pretende fazer

com que suas ações pareçam uma extensão do canônico3; e é adquirindo

essas habilidades que ela aprende a usar ferramentas como o ato de enganar,

por exemplo, e entra na esfera da cultura humana.

Nossa capacidade para transmitir uma experiência em termos de narrativa é

importante e faz toda a diferença em nossas vidas, já que está presente desde

a hora de contar histórias para fazer uma criança dormir à hora de prestar um

testemunho em nosso sistema legal. O dom da narrativa é uma das principais

formas de manutenção da paz, é a nossa capacidade de interpretar, justificar e

dramatizar que muitas vezes evitam conflitos na habitualidade da vida.

Para que a criança aprenda e desenvolva a linguagem, segundo Bruner ela

deve agir, desenhar e simbolizar. Portanto tanto a linguagem oral quanto a

escrita advêm da função simbólica que deve ter passado pelas atividades

concretas, entre elas o jogo infantil.

3

(15)

12

1.3 Vygotsky e o desenvolvimento da linguagem

Os estudos de Vygotsky se baseiam no fato de que o homem se forma e se

transforma na medida em que se relaciona com a sociedade, ou seja, se não

houver o outro, o homem não se constrói (a inteligência humana se desenvolve

a partir das interações). O Psicólogo discordava das teorias inatistas (quando

o ser humano nasce já possui as características que desenvolverá durante a

vida) e empiristas e comportamentais (o ser humano é um produto dos

estímulos externos), para ele o homem modifica o meio e o meio modifica o

Homem, ou seja, o Homem se constrói através de uma relação dialética entre

ele e a sociedade. Contudo o mais importante é a experiência pessoalmente

significativa, aquela que cada pessoa estabelece individualmente com certo

ambiente.

Para este autor (In REGO,1994) os reflexos são apenas as funções

psicológicas elementares, aquilo que nos diferencia dos animais só se forma e

se desenvolve pelo aprendizado. As condições orgânicas são necessárias mas

não são suficientes, desta maneira, o desenvolvimento pleno de um individuo

só acontecerá através do aprendizado que este irá adquirir em contato com

uma determinada sociedade, ou seja, a criança só falará se estiver inserida em

um ambiente de falantes.

O pensamento e a fala embora tenham origens diferentes e se desenvolvam

independentemente devido a inserção do individuo num grupo cultural se

encontrarão e darão origem ao funcionamento psicológico tipicamente humano.

Uma das principais funções da palavra é ser usada como meio de contato com

outras pessoas, e por isso a conquista da linguagem representa uma marca

enorme no desenvolvimento do homem. A linguagem possibilita que as

crianças planejem suas ações, superem ações impulsivas e controlem seu

próprio comportamento, portanto expressa e age como organizadora dos

pensamentos da criança.

O desenvolvimento da linguagem é impulsionado pela necessidade da

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13

inserida desde os primeiros meses de vida quando balbucia, ri, chora ou

expressa de alguma maneira o que está sentindo. Apesar de conseguir se

comunicar, as manifestações do bebê ainda não indicam significados

específicos (o choro pode ter sido causado por uma dor de barriga ou pode ser

apenas fome), por exemplo. Vygotsky (Id) nomeou esta fase de estagio pré

intelectual do desenvolvimento da fala.

A criança interage no ambiente mesmo antes de aprender a falar; coloca

objetos na boca, arremessa brinquedos, sobe em móveis e explora ambientes;

para o autor, esta fase em que a criança demonstra possuir inteligência pratica

é chamada estágio pré-linguistico do desenvolvimento do pensamento.

Os adultos em todo momento atribuem significados as ações da criança, e é

nesta interação que ela vai aprender a usar a linguagem como meio de

comunicação e instrumento do pensamento, transmitindo aquilo que pensa por

meio das palavras e fazendo com que estas sejam racionais.

O processo de conquista da utilização da linguagem como instrumento do

pensamento apesar de ser dinâmico obedece a uma trajetória: fala exterior ou

discurso socializado, fala egocêntrica e fala interior. No primeiro estagio da fala,

que Vygotsky chamou de fala exterior ou discurso socializado, a criança utiliza

as palavras como forma de contato com outras pessoas, para fazer apelos ao

adulto para conseguir alguma coisa que quer. Aqui a fala ainda não é

considerada instrumento do pensamento porque não é utilizada para planejar

ações que serão executadas.

Aos poucos a criança começa a apelar para si mesma para resolver um

problema e internaliza a fala socializada, somando à fala a função de

planejadora além de comunicativa e emocional. A fala passa a preceder a ação

e permite que a criança possa ir além das experiências imediatas, conseguindo

realizar operações psicológicas mais complexas como prever, comparar e

deduzir.

A fala egocêntrica é uma espécie de transação entre a fala exterior e a interior.

Aqui, a criança fala ao mesmo tempo em que age, sem se dirigir a nenhum

interlocutor, dialoga consigo mesma, planeja em voz alta aquilo que fará ou

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14

cima na prateleira? Ah... tive uma idéia! Vou subir na prateleira mais baixa e

escalar as outras ate a alcançar!

A linguagem permite a comunicação entre indivíduos porque é um sistema de

signos, ou seja, porque representa uma realidade compartilhada por

determinado grupo de pessoas e dessa forma garante precisamente a

transmissão e assimilação de informações e experiências, descobertas e

vividas pela humanidade anteriormente.

A linguagem também permite generalizar. Por meio dela podemos analisar,

abstrair e atribuir características à objetos e situações. Podemos designar

elementos presentes na realidade e também conceituar e ordenar o real em

categorias, por exemplo, a palavra/signo “cachorro” designa qualquer cachorro

(independentemente de ser grande, pequeno, ter pelo comprido, pelo curto,

etc.), a palavra generaliza esse tipo de animal e o inclui em uma determinada

categoria: cachorros.

Além de estar associada a função de comunicação e a função de

generalização, a linguagem ainda permite lidar com os objetos do mundo

exterior mesmo quando eles estão ausentes. Por exemplo, a mãe vai levar o

filho à escola, este se distrai e não percebendo quando ela vai embora começa

a chorar quando não a vê, então a professora conforta o aluno: “A mamãe foi

embora agora mas mais tarde ela volta para te apanhar”. A criança se acalma e

para de chorar pois é capaz de compreender o evento mesmo sem tê-lo

presenciado porque opera esta informação internamente.

1.4. Semelhanças e diferenças entre os autores

Bruner

Vygotsky

1. Narrar, se comunicar por meio da

linguagem, possibilita estabilidade a

vida social da criança.

Uma das principais funções da

palavra é ser usada como meio de

contato com outras pessoas, nos

inserindo em determinada cultura e

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15

Bruner

Vygotsky

2. Nosso cenário cultural nos força a

sermos narradores

O desenvolvimento da linguagem é

impulsionado pela necessidade da

comunicação.

3. O Homem possui um dom inato

para a linguagem, nasce “equipado”

com um conjunto de predisposições

para interpretar e agir sobre o mundo

de forma particular.

O homem se constrói através de uma

relação dialética entre ele e a

sociedade. O que nos diferencia dos

animais só se forma e se desenvolve

pelo aprendizado.

4. Intenções comunicativas podem ser

notadas antes que a criança tenha

dominado a linguagem.

A criança interage no ambiente

mesmo antes de aprender a falar.

5. A aquisição da linguagem requer

assistência e interação com as

pessoas que cuidam das crianças.

É por meio da interação que a criança

vai aprender a usar a linguagem como

forma de se comunicar e instrumento

do pensamento.

6. O bebê não á capaz de captar

significados mas aprende

rapidamente.

Apesar de conseguir se comunicar

(como quando chora para indicar

alguma coisa que a esta

incomodando por exemplo) as

manifestações do bebe ainda não

indicam significados específicos.

Bruner e Vygotsky concordam sobre o fato de que a comunicação verbal é de

extrema importância pois possibilita a criança inserir-se no nosso mundo,

participando deste como ser ativo. A sociedade “exige” que possamos nos

comunicar, e é a necessidade de se adequar a determinado meio que nos

(19)

16

Os autores também acreditam que a criança consegue se comunicar antes

mesmo de desenvolver a fala. Apesar disso as manifestações do bebê ainda

não têm significado, para que ele internalize nossos signos e seus respectivos

significados ele terá que interagir com outros falantes.

Os dois autores divergem em relação ao fato de a linguagem ser ou não inata.

Para Bruner a linguagem é um dom que trazemos conosco desde o momento

em que nascemos, o meio e as pessoas ajudam a criança a desenvolver esta

habilidade. Vygotsky discorda, defende a idéia de que esta habilidade é

construída em uma relação dialética entre o bebê e a sociedade.

2. Bilingüismo X desenvolvimento lingüístico e cognitivo.

Na realidade a aprendizagem do bilingüismo depende do desenvolvimento de

processos mentais superiores, que surgem a partir das interações sociais. É

através do desenvolvimento de papéis e principalmente durante o brincar que

as crianças se comunicam e conseguem ampliar seu vocabulário.

2.1 O que é bilingüismo?

Vivemos em um mundo globalizado e por isso torna-se de extrema importância

o domínio de mais de uma língua. A língua inglesa, mais usada no mundo

inteiro, tornou-se um padrão internacional de comunicação e por isso seu

domínio tem sido exigido.

Pais e educadores entendem a importância de falar Inglês e cada vez mais

cedo estão introduzindo o aprendizado desta segunda língua na vida de seus

filhos e alunos.

Como conseqüência algumas escolas estão se capacitando para oferecer um

ensino bilíngüe.

Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa (1996), bilíngüe é aquele “que

(20)

17

“situação lingüística em que os falantes utilizam alternadamente duas ou mais

línguas”

O bilingüismo esta se tornando cada vez mais comum ao redor do mundo e

pode ser visto de várias maneiras: segunda língua aprendida no colégio;

imigrantes que falam a língua do país hospedeiro; cidadãos de países como o

Canadá e a Ilha de Malta, que têm mais de uma língua oficial e por isso falam

mais de uma língua; crianças que convivem com pessoas de diferentes

nacionalidades; pesquisadores, que estudam e escrevem em outras línguas; e

ainda os surdos.

Todas as pessoas destes grupos são diferentes, portanto, tem necessidades e

capacidades diferentes. O bilingüismo trará contribuições e avanços

dependendo do contexto e da maneira como esta sendo abordado.

2.2 O desenvolvimento lingüístico e cognitivo e sua relação

com o bilingüismo.

No inicio do século muitos trabalhos sugeriam que o bilingüismo não era

favorável para o desenvolvimento. Era visto como atributo negativo, que

sobrecarregava as crianças mentalmente, prejudicando o funcionamento

intelectual e lingüístico e sendo responsável, portanto, por um baixo

aproveitamento acadêmico.

Porém, estes trabalhos não levavam em consideração o fato de que as

crianças que foram usadas para fazer estes testes “psicoeducacionais” eram

lingüística e culturalmente diferentes, estrangeiros obrigados a tornar-se

bilíngües para conseguir se inserir em uma nova sociedade.

Nas últimas décadas, investigações mais sofisticadas (usando medidas

distintas e habilidosas que levavam em consideração cada língua diferente e a

par da utilização de medidas psicométricas da inteligência e da cognição mais

confiáveis e consistentes) concluíram que o bilingüismo não é nenhuma

desvantagem lingüística, pelo contrário, está associado a níveis mais elevados

(21)

18

investigação realizada com crianças onde a segunda língua é adicionada para

enriquecer e complementar a língua nativa, não eliminar esta.

Torna-se importante aqui destacar que a aquisição de uma segunda língua não

interfere à língua nativa, as duas “caminham” juntas e não disputam um espaço

no sistema cognitivo humano. Quando a criança utiliza duas línguas para se

expressar em determinados momentos (por exemplo, uma garotinha convida

outra para brincar dizendo “Você quer play de boneca comigo?”) não está

misturando as duas línguas e sim “emprestando” uma palavra de uma delas

para significar o que deseja. A menina não conhece outro signo que represente

o ato de brincar, então usa o que conhece (no exemplo dado acima, a palavra

play) mesmo que seja em outra língua.

Os primeiros anos de vida da criança são de extrema importância, são a base

daquilo que ela vai construir e desenvolver mais tarde, por isso um ambiente

rico é essencial para incentivar as crianças lingüística e comunicativamente.

É fundamental que se preserve a língua materna e a herança cultural da cada

criança pois é o que da sentido a vida e a família, contribuindo fortemente na

formação da identidade. A criança deve estar exposta a situações onde

educadores e/ou familiares utilizam sua língua materna, aumentando o

vocabulário e aperfeiçoando a gramática. É a aprendizagem sólida da primeira

língua que da o suporte para aprender mais facilmente uma segunda língua.

Sons, expressões corporais e faciais são as primeiras formas que o bebê

encontra para se comunicar. O educador precisa estar atento a todos os sinais

de comunicação (apontar, chorar, espernear, fazer caretas, etc.), reagindo

naturalmente e indicando uma vontade de se comunicar também. Se o adulto

se recusa a interagir e ignora as tentativas da criança de se comunicar, esta

deixará de fazê-lo.

O educador pode incentivar a criança a interagir colocando músicas, poemas,

brinquedos, fotografias e livros que mostrem a cultura nativa dela e forneçam

coisas familiares para apontar e nomear, o bebê precisa se sentir bem vindo no

contexto em que está inserido.

O educador, infelizmente, tem a tendência de olhar para essas crianças e

famílias como estrangeiras, rotulando-as de diferentes. Este comportamento

(22)

19

talvez ainda autodefesa. O professor não tem que tentar diminuir as diferenças

entre seus alunos mas aprecia-las, respeita-las e usa-las para enriquecer

nossas vidas.

2.3 As contribuições de Bruner e Vygotsky

Bruner (Id) quando escreve sobre a narrativa em nossas vidas deixa claro que

o motivo desta ser tão importante é porque nos possibilita comunicar com

outras pessoas e com o mundo, trazendo estabilidade à vida social.

Ingressar neste mundo de significados não é tão simples. Cada país, estado,

cidade, e as vezes até cada grupo de pessoas, possuem seus próprios signos,

portanto, o significado depende também do ser humano e de sua capacidade

de interiorizar e interpretar tal linguagem. Um brasileiro que visita os EUA, por

exemplo, pode dizer a um americano “Quero uma água por favor” infinitas

vezes mas nunca conseguirá bebê-la se não utilizar os signos que aquele

determinado americano compreende, no exemplo dado acima “I want water

please”.

A aquisição da linguagem requer assistência e principalmente interação. O

ensino bilíngüe possibilita a criança não apenas aprender o que dizer mas à

usá-la em meio ao fazer, interiorizando como, onde, para quem e sob que

circunstâncias.

Segundo Vygotsky (Id), as condições orgânicas são obviamente necessárias,

mas o desenvolvimento pleno de um indivíduo só acontecerá através do

aprendizado que este irá adquirir em contato com uma determinada sociedade.

O desenvolvimento da linguagem é impulsionado pela necessidade da

comunicação. Esta afirmação consagra mais uma vez o bilingüismo como

positivo.

Uma criança que só domina uma língua e que em determinado momento de

sua vida passa a aprender uma segunda, pode compreender a importância

disso mas nunca vai entender de fato a necessidade de se comunicar em duas

línguas como uma criança que o faz todos os dias e depende disso para

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dominar outras línguas significa poder interagir com outros tipos de pessoas,

entender outras culturas, conhecer outros países mais facilmente, etc., porém,

existe a barreira da comunicação. A criança bilíngüe convive com o

multiculturalismo e multlilinguismo diariamente, na vida delas não existe esta

(24)

Considerações finais

De acordo com As Orientações Curriculares (2007) “Defende-se por princípio

democrático que todas as crianças tenham direito aos bens de sua própria

cultura” e um dos bens mais preciosos é a linguagem.

Como a fala é um processo que se revela na interação, torna-se necessário

que o professor se apresente à seus alunos como um ser ativo e interessado.

O educador deve apoiar as crianças que, fazendo um tremendo esforço,

começam a se arriscar a falar por conta própria. Os erros gramaticais

desaparecerão com o tempo, através da interação com adultos e dos exemplos

corretos que estes proporcionam, as crianças aprenderão a maneira correta de

falar ao longo do tempo, com vivência, interação e boas e variadas

oportunidades de expressar-se verbalmente.

Embora a linguagem verbal seja usada diariamente, nem sempre ela é

adequadamente trabalhada pelo professor. Em algumas instituições de

educação infantil os educadores infantilizam e minimizam a complexidade da

língua, o que é extremamente errado. Fazer isso significa privar os bebês da

realidade do mundo e afastá-los de avanços nas tentativas de comunicação.

O professor deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa

de seus alunos. Precisa ficar atento também às necessidades individuais dos

educandos para poder analisar suas possibilidades de aprendizagem e avaliar

a eficácia das medidas adotadas. Segundo os Parâmetros Curriculares

Nacionais (2000) “(...) as diferenças não são obstáculos para o cumprimento de

(25)

Referências Bibliográficas

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Fundação Colouste Gulbenkian, 2002.

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SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal da Educação. Diretoria de orientação

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Referências

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