UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
PABLO MATIAS BANDEIRA
MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO NO BRASIL:
contribuição do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia a partir da implementação do Sistema
Eletrônico de Editoração de Revistas
PABLO MATIAS BANDEIRA
MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO NO BRASIL:
contribuição do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia a partir da implementação do Sistema
Eletrônico de Editoração de Revistas
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciência da Informação do Centro de
Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba
como requisito final para obtenção de título de mestre em
Ciência da Informação.
Orientadora: Profa. Dra. Isa Maria Freire
Linha de Pesquisa: Ética, Gestão e Políticas de
Informação.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central - Campus I - Universidade Federal da Paraíba
B221a Bandeira, Pablo Matias
Movimento de Acesso Aberto no Brasil: contribuição do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
a partir da implementação do Sistema Eletrônico de
Editoração de Revistas
/
Pablo Matias Bandeira.
–
João
Pessoa, 2017. 106 p.: il.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciência
da Informação)
–
Centro de Ciências Sociais Aplicadas.
Universidade Federal da Paraíba, 2017.
Orientador: Profa. Dra. Isa Maria Freire
1. Comunicação Científica. 2. Periódicos Científicos. 3.
Editoração Científica. I. Título.
PABLO MATIAS BANDEIRA
MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO NO BRASIL:
contribuição do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia a partir da implementação do Sistema
Eletrônico de Editoração de Revistas
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciência da Informação do Centro de
Ciências Sociais da Universidade Federal da Paraíba
como requisito final para obtenção de título de mestre em
Ciência da Informação.
Orientadora: Profa. Dra. Isa Maria Freire
Linha de Pesquisa: Ética, Gestão e Políticas de
Informação.
FOLHA DE APROVAÇÃO
AGRADECIMENTOS
Inicialmente a DEUS, pela bênção da vida e por ter me conduzido nesta jornada.
Aos meus pais Pedro e Marilucia, pela educação, amor e confiança dedicada a mim
desde a infância.
A Lidiana, minha companheira de vida, luz de todas as manhãs, inspiração, pelo
incentivo nos momentos de desânimo e por tantos momentos de aprendizado e
crescimento.
Ao meu irmão Petrucci pelo companheirismo de sempre.
Ao meu pequeno sobrinho Miguel, que tão cedo chegou neste mundo, mas que já
me inspira a construir um mundo cada vez melhor.
Aos meus quatro anjos da guarda: Liliana, Lalinho, Pepe e Maria Paçoca pela
inocência e amor incondicional.
A todos os demais familiares pelo carinho e incentivo.
A minha orientadora e segunda mãe que me acompanha desde os primeiros passos
na graduação, Profa. Isa Maria Freire, por ter me acolhido e acreditado em mim
mesmo nos momentos em que eu não correspondia como deveria.
A Professora Elza Régis de Oliveira, pelas orientações acadêmicas e pela
inestimável amizade, sempre me aconselhando aos cuidados do caminho que trilho.
Aos Professores Gustavo Henrique de Araújo Freire, Alzira Karla Araújo da Silva e
Fábio Mascarenhas e Silva, pela sua disponibilidade e valiosas contribuições para
realização desta pesquisa.
RESUMO
Analisa os resultados da implementação do Sistema Eletrônico de Editoração de
Revistas (SEER), customização do
Open Journal System
pelo Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), enquanto dispositivo de uma política
de acesso livre à informação científica, no Brasil entre 2003 (ano de sua criação) e
2016. Propõe-
seΝtecerΝumΝcontextoΝaΝpartirΝdoΝconceitoΝdeΝ“acessoΝaberto”,ΝreunindoΝ
os fios conceituais da "comunicação científica", entrelaçado ao da "editoração
científica", que por sua vez está entremeado à "disseminação da informação
científica e tecnológica", para a qual se propõe uma política de acesso mediante
adoção de tecnologia colaborativa e livre. O estudo permitiu levantar características
importantes dos periódicos científicos brasileiros. Hoje no Brasil existem grandes
desafios no Movimento de Acesso Aberto: a convergência de interesses e
necessidades dos editores dos periódicos do SEER/OJS por redes de cooperação; a
ampliação no compartilhamento e sistematização das experiências de sucesso de
periódicos com altos índices de impacto e, talvez o mais importante desafio atual é a
integração dos portais de periódicos eletrônicos com os repositórios institucionais. O
Brasil junto a rede de preservação Cariniana tem tido significativos avanços nessa
integração.
Palavras-chave:
Comunicação Científica. Periódicos científicos. Movimento de
ABSTRACT
To analyze the results of the implementation of the Electronic Journaling System
(SEER), the Open Journal System customization by the Brazilian Institute of Science
and Technology Information (IBICT), as part of a policy of free access to scientific
information in Brazil between 2003 (Year of its creation) and 2016. It is proposed to
create a context based on the concept of "open access", combining the conceptual
threads of "scientific communication", intertwined with "scientific publishing", which in
turn is interwoven with " Dissemination of scientific and technological information ",
for a qualification of an access policy through the adoption of collaborative and free
technology. The study allowed to raise important characteristics of Brazilian scientific
journals. Today there are no major challenges in the Open Access Movement: a
convergence of interests and needs of the editors of the SEER / OJS journals by
cooperation networks; An enlargement without sharing and systematizing the
successful experiences of journals with high impact indexes, perhaps the biggest
challenge today is the integration of data from electronic journals with institutional
repositories. Brazil along with the Cariniana preservation network has made
significant progress in this integration.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
–
Rede conceitual: abordagem do movimento de acesso aberto no Brasil 23
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
–
Periódicos criados no SEER/OJS por ano (2004-2016) ... 55
Gráfico 2
–
Periódicos criados no SEER/OJS por região (2004-2016) ... 56
Gráfico 3
–
Periódicos criados no SEER/OJS por área do conhecimento
(2004-2016) ... 57
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
C&T - Ciência e Tecnologia
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
DOAJ - Directory of Open Access Journals
Fapesp
–
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FGV - Fundação Getúlio Vargas
GNU - General Public Licence
IBBD - Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IES
–
Instituições de Ensino Superior
Latindex - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de
América Latina, el Caribe, España y Portugal
MySQL- Sistema de gerenciamento de banco de dados que utiliza Linguagem de
Consulta Estruturada (SQL)
OAI-PMH -Open Archives Initiative - Protocol for Metadata Harvesting
OHS - Open Haverset Systems
OJS - Open Journal Systems
PHP - Personal Home Page/ Hypertext Preprocessor
PKP - Public Knowledge Project
Redalyc
–
Sistema de Información Científica Redalyc Red de Revistas Científicas de
América Latina y el Caribe, España y Portugal
SciELO - Scientific Electronic Library Online
SCOPUS - bibliographic database containing abstracts and citations for academic
journal article
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
... 12
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ... 15
1.2 JUSTIFICATIVA ... 15
2 QUADRO TEÓRICO
... 19
2.1 O CAMPO CIENTÍFICO ... 19
2.2 A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA ... 23
2.3 O PROTOCOLO DO ACESSO ABERTO ... 29
2.3.1 Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas (SEER)
... 33
2.3.2 Relevância do periódico científico moderno
... 37
2.4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO ... 39
3 METODOLOGIA
... 42
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ... 42
3.2
CORPUS
DA PESQUISA ... 42
3.3 UNIVERSO E AMOSTRA ... 43
3.4 CATEGORIAS DE ANÁLISE ... 45
3.5 PROCEDIMENTOS DE COLETA, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ... 45
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
... 47
4.1
AÇÕES DO IBICT PARA O MOVIMENTO DE ACESSO ABERTO NO BRASIL 47
4.2 A REDE CARINIANA E A PRESERVAÇÃO DOS PERIÓDICOS DE ACESSO
LIVRE USUÁRIOS DO SEER/OJS ... 50
4.3 OS PERIÓDICOS NO SEER/OJS: RESULTADOS DA IMPLANTAÇÃO ... 53
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
... 60
REFERÊNCIAS
... 63
BIBLIOGRAFIA ... 63
FONTES ... 66
1 INTRODUÇÃO
As tecnologias de informação contribuem para que a comunicação científica
se efetive de maneira dinâmica, promovendo a melhor interação entre editores,
leitores, autores e seus pares. A editoração científica, que anteriormente dependia
do método manual que demandava maior tempo, recursos financeiros e muitas
vezes limitava-se a espaços, como região ou país, ganham novos espaços (virtuais)
na contemporaneidade com a editoração eletrônica somada a iniciativa do acesso
aberto.
Diante dessa mudança no processo de produção, acesso e uso da
informação, que se deram de maneira coletiva no âmbito das comunidades virtuais,
redes sociais e aplicativos da web, permitem aos usuários serem cada vez mais
consumidores e produtores de informação. Destacam-se nesse contexto, os
movimentos de democratização do acesso a informação, tendo em vista sua alta
relevância para o desenvolvimento social e econômico.
Desde os últimos anos do século XX, pesquisadores tem discutido questões
acerca do acesso aberto (
open access
) à literatura científica, como por exemplo, o
que o governo brasileiro tem feito ou discutido em favor desse movimento. Nesse
mesmo processo, outra preocupação se fez presente: a institucionalização do
acesso aberto ao conhecimento científico por meio da criação de repositórios e
periódicos científicos em universidades, que fossem de acesso aberto. Mas, no que
isso exatamente consiste?
De acordo com Costa (2008, p. 219-220), que toma por base as declarações
de Berlim (2003), Bethesda (2003) e Budapeste (2002):
[...] o termo acesso aberto à literatura científica foi consensualmente
definidoΝ comoΝ acessoΝ àΝ ‘literaturaΝ queΝ éΝ digital,Ν online,Ν livreΝ deΝ
custos, e livre de restrições desnecessárias de copyright e licenças
deΝuso’.ΝAcessoΝaberto,ΝnesseΝsentido,ΝdeveΝremoverΝtant
o barreiras
de preço quanto de permissão (de uso).
estará visível para seus pares, podendo ser avaliado e citado por outros
pesquisadores da área.
Diante do conceito de acesso aberto, uma importante questão foi ressaltada
por Castells (2003) acerca da denominada sociedade da informação, ou sociedade
em rede:
“
de que modo as pessoas podem ter amplo e livre acesso aos benefícios
das tecnologias de informação e comunicação (TIC), apoiadas no uso da Internet?
”
Suaiden (2006, p. 7) sugere
queΝ“
Governos e instituições nacionais e internacionais
devem não somente proporcionar a infraestrutura tecnológica, de comunicação e de
informação, mas também formular e concretizar políti
casΝcomΝestaΝfinalidadeΝ[...]”.
No início da década de 1950, a UNESCO escolheu a Fundação Getúlio
Vargas (FGV) para a criação de um Centro Nacional de Bibliografia, devido o fato da
FVG, a época, estar realizando importantes atividades na área de bibliografia e
documentação. Nessa época foi criado o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq).
Em 27 de fevereiro de 1954, pelo Decreto do presidente da República n° 35.124, o
Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), passou a integrar a
estrutura organizacional do CNPq. (IBICT, 2014).
Na década de 1970 o Brasil passou por uma reorganização das atividades de
ciência e tecnologia transformando o Conselho Nacional de Pesquisa em Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, transformando-se em uma
fundação ligada à Secretaria de Planejamento da Presidência da República.
O IBBD passa a ser chamado de Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia (IBICT). Segundo a Resolução Executiva do CNPq nº 20/76 o IBICT
passa a coordenar as atividades de informação em C&T no país (IBICT, 2014). Hoje
o Instituto destaca-se pelo desenvolvimento das atividades referenciadas ao
movimento de acesso livre ao conhecimento científico.
Em julho de 2003 foi formado um grupo no Instituto Brasileiro de Informação
em Ciência e Tecnologia, configurando os primeiros passos no uso de uma
tecnologia chamada
Open Journal Systems
(OJS), cuja criação datava de um ano
antes.
O
Open Journal System
(OJS) é um sistema desenvolvido pelo
Public Knowledge Project
da
University of British Columbia
no
editorial, a publicação e o acesso por parte do editor; ele define as
etapas do processo editorial, de acordo com a política definida pela
revista, mas dispondo de assistência e registro on-line em todas as
fases do sistema de gerenciamento. Na etapa de submissão, o
sistema disponibiliza um espaço para comunicação com o editor e
permite também o acompanhamento da avaliação e editoração do
trabalho. (MÁRDERO ARELLANO et al., 2005, p. 76).
No âmbito do IBICT, mais especificamente dentro do projeto Biblioteca Digital
Brasileira, o OJS foi customizado e traduzido para o português, sendo distribuído
com o titulo de Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) desde 2004
(MÁRDERO ARELLANO, 2005). Com a distribuição do SEER, foi possível a
digitalização e a gestão de todo processo de editoração de publicação periódica
científica.
O propósito, com o presente estudo, surge da necessidade de analisar os
resultados da implementação do Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas/
Open
Journal System,
pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), enquanto dispositivo de uma política de acesso livre à informação científica,
no Brasil entre 2003 (ano de sua criação) e 2016. (Deixar para citar quando
apresentar os objetivos)
Os objetivos, a seguir, descrevem, especificamente, a temática que se
destaca neste estudo, no contexto do Movimento de Acesso Aberto, revelando a
trama da rede conceitual que constitui a abordagem do campo da pesquisa:
Descrever, teoricamente, a política pública de acesso livre à informação
científica, no Brasil, e o Movimento Acesso Aberto do IBICT;
Percorrer o processo histórico da comunicação entre pares e editores em
periódicos científicos, acerca do movimento de acesso aberto no contexto
mundial e no Brasil;
Mapear as ações de acesso à informação científica, implantadas pelo IBICT,
no período de sua criação até os dias atuais (2003-2016);
Caracterizar os periódicos brasileiros usuários do SEER/OJS quanto ao ano,
região, área, instituição e título.
Aqui, propõe-
seΝ tecerΝ umΝ contextoΝ aΝ partirΝ doΝ conceitoΝ deΝ “acessoΝ aberto”,Ν
informação científica e tecnológica", para a qual se propõe uma política de acesso
livre mediante adoção de tecnologia colaborativa e livre.
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
A partir das discussões acerca do Acesso Aberto, contextualizadas na
sociedade em rede e objeto de políticas públicas de informação em nível
internacional, surgem questões-chave para o estudo:
De que maneira o Movimento de Acesso Aberto chegou ao Brasil?
Qual foi a contribuição do IBICT no processo de apropriação e
implementação dessa tecnologia de acesso aberto e sua transferência aos
editores científicos brasileiros?
E quais são os resultados dessa contribuição?
Nesse sentido, propõe-se analisar os resultados da implementação do
Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas/
Open Journal System
enquanto
dispositivo de uma política de acesso livre à informação científica, no Brasil.
Essas ações de informação, nesse contexto, representam as políticas
institucionais do IBICT, peça fundamental no cenário de políticas nacionais de
acesso aberto, o qual tem incentivado, instrumentado e capacitado instituições na
criação de portais de periódicos eletrônicos, com a adoção do SEER/OJS.
1.2 JUSTIFICATIVA
A motivação da pesquisa se deve, antes de tudo, pela importância do
periódico científico para a ciência, sendo ele uma ferramenta indispensável e um
canal imprescindível para a comunicação da ciência, uma vez que confere ao
pesquisador prestígio, status, visibilidade, legitima e garante credibilidade a pesquisa
(MEADOWS, 1999; MÜELLER, 1999). Em segundo lugar, porque o SEER/OJS
contempla os requisitos de acessibilidade e usabilidade de acesso pleno a todas as
ferramentas do gerenciador digital de conteúdo.
O interesse por essa pesquisa tem sua origem nas atividades como bolsista
de Iniciação Científica do CNPq. Fomos iniciados no ofício de arquivista por meio do
projeto:
Publicação da Revista Pesquisa Brasileiro em Ciência da Informação e
do Laboratório de Tecnologias Intelectuais (LT
i
)
da Universidade Federal da
Paraíba.
1
A fonte e o objeto principais da investigação eram as etapas de editoração
da revista (PBCIB) Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia
por meio da tecnologia SEER
–
Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas,
baseado no (OJS)
Open Journal System
, bem como a estratégia de busca para
uma maior aproximação com os usuários que representam o campo da Ciência da
Informação.
Posteriormente, como atividade final da bolsa de Iniciação Científica, tivemos
a oportunidade de aprofundar a reflexão inicialmente esboçada, na prática com a
editoração da revista PBCIB, sobre a proposta dessa pesquisa que tão logo
evidenciou a necessidade de um investimento mais detido em uma série de
aspectos do problema que não foi possível explorar nos limites do espaço-tempo
daquele projeto.
Ao final do projeto de Iniciação Científica já era tempo de conclusão do curso,
o que resultou numa monografia sobre a comunicação científica
intitulada:Ν“OΝCasoΝ
daΝEditoraçãoΝdaΝPBCIB:ΝumΝolharΝdoΝarquivistaΝsobreΝaΝeditoraçãoΝcientífica”
; Para
o desenvolvimento da pesquisa de conclusão de curso realizamos um levantamento
bibliográfico que abordou periódicos científicos usuários do SEER e que, por sua
vez, estivessem relacionados com as áreas de Ciência da Informação e
Biblioteconomia, tendo em vista o campo de observação do referido periódico
estudado. O primeiro passo na pesquisa foi conhecer a tecnologia editorial da revista
PBCIB, visto tratar-se de instrumento que foi abordado ao longo do trabalho com
certa ênfase. Compreendido o processo de edição, precisávamos atualizar os
links
indexados publicados na revista. Feito isto, tivemos uma melhor compreensão do
funcionamento da tecnologia de edição do sistema. (BANDEIRA, 2013).
Esta monografia foi fruto, portanto, da elaboração teórica fundamentada no
contato direto entre a editoração científica, prática comum ao universo
teórico-prático da Biblioteconomia, bem como o
metier
do arquivista, visto que somos,
também, responsáveis pelas práticas de organização de informação em ambientes
tecnológicos. Nesse sentido, por que não na editoração? Como principal objetivo,
promovemos a transferência da Revista PBCIB para o Portal de Periódicos da
UFPB. Nesse sentido propomos e alcançamos inovações editoriais e gerenciais para
1
a revista nos seguintes objetivos: gerar fluxogramas detalhados dos processos de
edição de uma revista de publicação secundária; desenvolver relatórios editoriais
detalhados de gerência como inovação ao sistema OJS/SEER; atualização
tecnológica e de links, pela atribuição de novos recursos e da atualização dos links
existentes na página na ocorrência de algum problema técnico; avaliar e reformular
o layout da revista, tendo em vista os padrões de arquitetura da informação.
(BANDEIRA, 2013).
Tendo sido realizadas estas ações, os resultados foram: publicação de novos
números; melhoria na qualidade dos descritores de assuntos, tornando a
recuperação da informação mais fácil e relevante; facilitando a disseminação da
informação através das redes sociais; alcançando classificação da revista como B1
no Qualis da Capes; promovendo a inovação tecnológica; e mantendo o formato da
revista de acordo com as atualizações do Portal de Periódicos da UFPB. A partir
destes procedimentos construímos esta monografia, o qual apresentou a história da
revista PBCIB e descreveu sua estrutura, produção e estratégia de comunicação
com o público-alvo, na perspectiva do profissional arquivista.
Por meio da experiência com a PBCIB, usuária do SEER/OJS, houve uma
extensa aproximação, em formas de capacitação, do autor no ofício editorial,
especialmente do produto aqui descrito.
2 QUADRO TEÓRICO
O quadro mais recente dos avanços obtidos em relação ao tema ou objeto de
estudo inicia-se, por pesquisas relacionadas, produzidas no Brasil e fora dele e que
tenham dirigido seu foco para o processo histórico que evidencia a Comunicação
Científica. O quadro teórico do estudo está estruturado conforme as subseções a
seguir.
2.1 O CAMPO CIENTÍFICO
Em relação ao campo científico no Brasil, esse estudo busca promover e
evidenciar uma política de informação criada no país pelo IBICT, a partir da
customização e distribuição do OJS/SEER. É importante destacar que, dentro da
área da Ciência da Informação, o campo e objeto da pesquisa estão na
comunicação científica, na qual se contextualiza a questão dos periódicos na
contradição entre o mercado capitalista e o direito à informação como insumo ao
desenvolvimento científico, tecnológico e, como corolário, econômico.Os periódicos,
nesse sentido, são relevantes no campo da comunicação científica.
Selecionaram-se também documentos e artigos relacionados às origens e
fundamentos da Comunicação Científica no Brasil e no Mundo para que fosse
possível entender como se processou a aludida sucessão teórica e conceitual.
A década de 1970 marca a reorganização das atividades de ciência e
tecnologia Brasil, com o CNPq, a criação do IBBD, atualmente IBICT. Não é por
acaso que nesse período essas ações se efetivaram. As últimas décadas do século
XX representam uma profunda remodelação na organização da sociedade e da
economia, em nível mundial, com o desenvolvimento e disseminação das
tecnologias digitais de informação e comunicação, em especial do computador e da
Internet. Para Castells (1999, p.49), desde então,
[...] estamos vivendo um desses raros intervalos na história. Um
intervaloΝ cujaΝ característicaΝ éΝ aΝ transformaçãoΝ deΝ nossaΝ ‘culturaΝ
material’ΝpelosΝmecanismosΝdeΝumΝ
novo paradigma tecnológico que
se organiza em torno da tecnologia da informação.
[Atualmente] As tecnologias se desenvolvem para permitir o homem
atuar sobre a informação propriamente dita, ao contrário do passado
quando o objetivo dominante era utilizar informação para agir sobre
as tecnologias, criando implementos novos ou adaptando-os a novos
usos.
A segunda característica apontada diz respeito aos efeitos das tecnologias,
que possuem
alta penetrabilidade social
, pois a informação é parte integrante de
todas as atividades humanas, individuais e coletivas e, todas essas atividades
tendem a ser afetadas diretamente pelas tecnologias. Como aponta González de
GómezΝ(2002,Νp.30),Ν“fenômenos,Νprocessos,ΝatividadesΝdeΝinformaçãoΝpassaramΝaΝ
ser reconhecidos como um plano constitutivo de todas as atividades e
manifestações econômicas, sociais e culturais, de um modo como nunca antes o
tinhamΝsido”.Ν
A
flexibilidade
é a terceira característica desta forma de organização social,
pois a tecnologia favorece processos reversíveis, permite modificação por
reorganização de componentes e tem alta capacidade de reconfiguração. (GÓMEZ,
2002). Aqui, um processo que se destaca diz respeito à crescente
convergência de
tecnologias de comunicação e informação
.Ν ParaΝ WertheinΝ (2000,Ν p.72),Ν “oΝ pontoΝ
central aqui é que trajetórias de desenvolvimento tecnológico em diversas áreas do
saber tornam-se interligadas e transformam-se em categorias segundo as quais
pensamosΝtodosΝosΝprocessos”.
O
predomínio da lógica de redes
, isto é, sua estrutura básica em redes, é
também característica fundamental da sociedade informacional. A Internet é a
infraestrutura tecnológica e o meio organizativo que permite o desenvolvimento de
uma série de novas formas de relação social, que não têm sua origem na Internet,
mas que não poderiam desenvolver-se sem ela, como ressalta Castells (1999).
Podemos citar, as redes sociais, classificados de emprego, anúncio de eventos,
relações de trabalho entre outros. Sendo um processo de transformação social e
cultural, a sociedade em rede representa a materialização do paradigma que emerge
quando a informação assume papel de fator-chave no desenvolvimento das forças
produtivas,Ν poisΝ “emboraΝ aΝ informaçãoΝ tenhaΝ sempreΝ desempenhadoΝpapel
crucial
para a economia, torna-se, agora, o próprio
produtoΝ doΝ processoΝ produtivo”Ν
Para o campo da informação, as redes transportam mensagens produzidas
por pessoas que, por sua vez, têm intenções ao comunicar e estão inseridas em
uma estrutura socioeconômica. Então, como esclarece Santos (1997, p.
222):Ν “asΝ
redes são técnicas, mas também são
sociais”.ΝNesseΝsentido,ΝLévyΝ(1999,Νp.23
, grifo
nosso) comenta que o milagre do nosso tempo é conjugar a presença, a narrativa
oral, o gesto e o movimento, na troca comunicativa à distância:
As verdadeiras relações, portanto, nãosão c
riadasΝ entreΝ ‘aΝ
tecnologia’Ν(queΝseriaΝdaΝordemΝdaΝcausa)ΝeΝ‘aΝcultura’Ν(queΝsofreriaΝ
os efeitos), mas sim entre um grande número de
atores humanos
que inventam, produzem, utilizam e interpretam de diferentes formas
as técnicas.
Formam-se entre os atores uma rede de comunicação, no sentido de facilitar
o acesso a grande quantidade de informações e a troca de experiências entre os
seus participantes, o que torna o processo de participação mais rico e significativo.
Essa troca de experiências valoriza o capital intelectual dos usuários e tem grande
repercussão na produção e circulação de informação entre os participantes.
As oportunidades criadas pelas redes de comunicação se multiplicaram com a
emergência do ciberespaço, a partir das tecnologias digitais de comunicação e
informação.
Uma rede de comunicação virtual propicia a troca de informações e
experiências em grande escala, oferecendo aos participantes informações
atualizadas de todos os tipos e permitindo aos usuários construir uma visão
multi-referencial sobre um mesmo assunto. Essa dinâmica permite uma visão para
resolução dos problemas a partir de diferentes possibilidades e perspectivas de
solução, oferecendo aos participantes um papel cada vez mais ativo na busca,
produção e disseminação de informação. (FREIRE, 2016).
Nessa ambiência, a possibilidade de interação e compartilhamento de
informação e conhecimento de uma rede de comunicação torna-se potencializada
pelas tecnologias digitais de comunicação da informação, que fazem com que esse
processo aconteça de maneira rápida, com pessoas de qualquer lugar do mundo e a
qualquer momento.
teoria, o contexto possuiria um grau de organização superior ao de um conjunto de
proposições tomadas ao acaso, podendo ser negadas ou combinadas sem que
desse processo resultem proposições estranhas ao próprio contexto.
[...] Um contexto serve, então, de matéria-prima para elaboração de
teorias, uma vez que obteremos cada uma destas selecionando
proposições do contexto e, em particular, guardando tão somente
aquelas que constituam um conjunto coerente (não contraditório).
(BUNGE, 1980, p.160)
O autor esclarece que o contexto em si contém a possibilidade da teoria,
oferecendo tanto uma explicação para eventos e relações observados em um dado
campo de pesquisa quanto uma previsão para a ocorrência de eventos e relações
ainda não observados, com base nos seus próprios princípios explanatórios.
Todavia, toda teoria, e por extensão todo contexto, são relativos a uma
problemática, o que significa que devem se referir efetivamente à realidade que
visam interpretar. Pois, conforme Popper (1972 citado por SARACEVIC, 1996, p.40)
“nãoΝsomosΝestudantesΝdeΝassuntos,ΝmasΝestudantesΝdeΝproblemas.ΝEΝosΝproblemasΝ
constituem os recortes de qualquer assunto ou discipli
na”.
Nosso exercício relaciona os constructos dos
periódicos
, especialmente os
de
acesso livre
, resultados da iniciativa do IBICT na distribuição do customizado
OJS/SEER no contexto Brasil, não deixando de lado, os contextos da
história da
comunicação científica,
e nesse sentido conglomera possíveis narrativas (do país e
de fora dele) resgatadas na bibliografia acerca das primeiras iniciativas da
comunicação da ciência até os tempos atuais, que se configura o
movimento de
Figura 1
–
Rede conceitual: abordagem do movimento de acesso aberto no Brasil
[ambiência]
[contexto]
OJS/SEER
(dispositivo de política pública)
Fonte: Adaptado de Freire (2001) e Wersig (1993).
Na rede é tecida no espaço sócio-histórico da contemporaneidade, visto que o
pilar deste estudo é a
analisar os resultados da implementação do SEER/OJS pelo
IBICT enquanto dispositivo da política pública de acesso livre a informação científica
por esta instituição, formalizada na “Web”.
Nesse modelo, as redes de comunicação mediadas pela internet, no âmbito
dos periódicos científicos usuários do SEER, permitem o processo de editoração
eletrônica, o desenvolvimento de competências entre editores, autores e leitores
para apropriação, produção e compartilhamento de informações na web.
2.2 A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Na segunda metade do século XVII, mais especificamente em 28 de
novembroΝdeΝ1660,ΝoΝ“
invisible college”
de filósofos naturais e médicos realizaram a
primeiraΝreuniãoΝchamadaΝ“sociedadeΝaprendidas”
2
e em seguida uma palestra na
Gresham College
com Christopher Wren
3
. Também participaram Robert Boyle
4
e
2
Termo original:
learned society.
3Conhecidamente como maior Arquiteto da Inglaterra no século XVII. Também era astrônomo, geômetra e
Movimento de
Acesso Aberto
Periódicos científicos
(ações e
dispositivos/artefatos)
Web
IBICT e demais atores
sociais envolvidos
Comunicação
Científica formal
Regime de informação
Rede conceitual
John Wilkins
5
. O evento conquistou a aprovação (patrocínio) real de Carlos II, então
Rei da Inglaterra. (ROYAL SOCIETY, 2016).
É importante destacar que a Inglaterra mercantilista do século XVII, mais
especificamente até 1640, foi dominada pela dinastia dos Stuarts, e o
intervencionismo era a regra, dando seguimento as políticas elisabetana: privilégios,
monopólios, protecionismo, tudo que pudesse evitar a evasão monetária,
favorecendo a produção e desenvolvimento do comércio. Contudo, os excessos
desse intervencionismo, associados às manipulações de grupos políticos
dominantes gerou grandes protestos que resultou na Revolução Puritana. No auge
da revolução, o Rei Carlos I foi assassinado no Palácio de Whitehall em 30 de
janeiro de 1649. Com efeito, os revolucionários deram início a uma nova fase:
abolição do intervencionismo e abertura para a livre iniciativa dos cidadãos em todos
os setores. (FALCON, 1981).
Carlos II foi proclamado Rei pelo parlamento escocês, mas foi vencido por
Oliver Cromwell que o derrotou na Batalha de Worcester, em 3 de setembro de
1651. Exilou-se e retornou a Inglaterra em 29 de maio de 1660, após a morte de
Oliver Cromwell. A monarquia foi restituída, mas com diversas liberdades para os
indivíduos. Era possível nessa sociedade, mesmo com uma monarquia restituída, a
mudança das iniciativas dos indivíduos que dela pertenciam. A criação da
Royal
Society
foi uma delas, visto que a intervenção econômica da monarquia antes da
revolução atendia diretamente os interesses de um governo que era
caracteristicamente feudal e de pensamentos escolásticos. Mas as mudanças
permitiram avanços significativos para o processo de industrialização que viria no
século XVIII, a qual na Europa se destacou. Nesse sentido a
Royal Society
teve
papel fundamental no desenvolvimento científico e econômico da Inglaterra.
(FALCON, 1981).
Nos primeiros anos da
Royal Society
viram-se os avanços revolucionários da
comunicação científica.
Os membros da sociedade se deslocavam para vários
lugares em busca de informações de interesse para debates. Foi realizada a escolha
de membros que não residissem em Londres e que por sua vez, comunicariam os
progressos da
Royal Society
para outros lugares. O controle era realizado pelo
projetista. (THE REAL SOCIETY, 2016).
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