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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO CURSO DE NUTRIÇÃO

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DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

CURSO DE NUTRIÇÃO

SE SOMOS O QUE COMEMOS, O QUE SERÁ DE NÓS? O CONSUMO DE

AGROTÓXICOS NO BRASIL E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE HUMANA

REBECA DE CERQUEIRA MATEUS

NATAL/RN

2021

(2)

SE SOMOS O QUE COMEMOS, O QUE SERÁ DE NÓS? O CONSUMO DE

AGROTÓXICOS NO BRASIL E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE HUMANA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Nutrição da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como requisito final para obtenção do grau de

Nutricionista.

Orientadora: Profª Dra.

Larissa Mont’Alverne

Jucá Seabra

Co-orientadora: Profª Dra. Priscilla Moura

Rolim

NATAL/RN

2021

(3)

SE SOMOS O QUE COMEMOS, O QUE SERÁ DE NÓS? O CONSUMO DE

AGROTÓXICOS NO BRASIL E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE HUMANA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Nutrição da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

como requisito final para obtenção do grau de

Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

Profª Drª Larissa Mont’Alverne Jucá Seabra (Orientadora)

Profª Drª Priscilla Moura Rolim

(Co-orientadora)

Profª Drª Sônia Soares

(3º membro)

(4)

Mateus, Rebeca de Cerqueira.

Se somos o que comemos, o que será de nós? O consumo de agrotóxicos no Brasil e suas repercussões na saúde humana / Rebeca de Cerqueira Mateus. - 2021.

33f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Nutrição) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de

Ciências da Saúde, Departamento de Nutrição. Natal, RN, 2021. Orientadora: Larissa Mont'Alverne Jucá Seabra.

Coorientadora: Priscilla Moura Rolim.

1. Agroquímicos - TCC. 2. Veneno - TCC. 3. Alimentação - TCC. 4. Saúde Pública - TCC. 5. Sustentabilidade - TCC. I. Seabra, Larissa Mont'Alverne Jucá. II. Rolim, Priscilla Moura. III. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 632.95

(5)

Primeiramente quero agradecer a minha família por me apoiar na decisão de

fazer uma segunda graduação e por me falarem que a nutrição sempre foi meu

destino. Agradeço também à Professora Dra. Larissa Seabra por me acolher no

Grupo de Pesquisa em Alimentação Coletiva e por acreditar no meu potencial, mais

do que eu mesma acreditei. À professora Dra. Priscilla Rolim, por co-orientar esse

trabalho de forma tão leve junto da professora Larissa. Por fim, agradecer aos meus

amigos que me aguentam sendo a nerd nutri certinha palhaça que sou.

(6)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.

RESUMO

Os agrotóxicos são substâncias químicas sintetizadas artificialmente para inibir o

crescimento ou eliminar seres vivos que ocasionam doenças e efeitos indesejáveis

em plantas. A presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos, solo, água e ar

caracteriza-se como um grave problema de saúde pública. Apesar das evidências,

poucos estudos retratam de forma estruturada os malefícios destes produtos para a

saúde humana. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma visão global

sobre os impactos dos agrotóxicos para saúde humana. Foi realizada uma revisão

integrativa da literatura científica com evidências sobre os efeitos dos agrotóxicos à

saúde humana. Os trabalhos consultados evidenciaram que os agrotóxicos têm uso

amplo no Brasil e chegam a nossa mesa diariamente. A exposição em pequenas

quantidades de resíduos de agrotóxicos em alimentos e água pode ocasionar:

neurotoxicidade, câncer, toxicidade no sistema endócrino, desequilíbrio intestinal,

alterações do sistema imunológico. O controle de agrotóxicos no Brasil é realizado

pela ANVISA por meio do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico, cujos

dados mostram elevada quantidade de alimentos contaminados por agrotóxicos.O

pimentão foi o alimento que mais apresentou contaminação em nível superior ao

máximo permitido e por substâncias proibidas, com 82% das amostras com

contaminação acima do permitido, seguido por goiaba (42%) e cenoura (40%). O

incentivo governamental para o uso de agrotóxicos acontece em diversas frentes,

como na isenção de impostos, menor fiscalização e liberação de novas substâncias -

474 apenas em 2019 - inclusive proibidas em outros países. Esses achados indicam

que a população deve ficar atenta aos alimentos que consome e cobrar do poder

público ações que melhor fiscalizem, analisem e limitem o uso de agrotóxicos no país.

O trabalho contribui para uma síntese de evidências e análise crítica sobre os

impactos dos agrotóxicos na saúde humana.

(7)

APRESENTAÇÃO ... 2

1. INTRODUÇÃO ... 2

2. METODOLOGIA ... 2

3. RESULTADOS ... 2

3.1 MERCADO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL ... 2

3.2 AGROTÓXICOS E SAÚDE ... 2

3.3 ESTIMATIVA DA INGESTÃO DE AGROTÓXICOS ... 2

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 2

REFERÊNCIAS ... 2

(8)

APRESENTAÇÃO

Desde a adolescência, sempre fui muito interessada em alimentação saudável,

dietas, composição nutricional e sustentabilidade. Tentativas de ser vegetariana e

vegana não faltaram, pelos animais, pelo meio ambiente, pela saúde, sempre fez

sentido pra mim. Não estamos sozinhos no planeta e precisamos de uma convivência

harmoniosa com os outros seres para que as gerações futuras possam ter uma

chance no mundo.

Me graduei em comunicação social, habilitação em radialismo, pela UFRN, já

sabendo que o que queria mesmo era ser nutricionista. Fiz o Enem. Passei. No

primeiro mês de aulas, pandemia. Em meio às ansiedades do isolamento, medo por

fazer parte do grupo de risco, entrei de cabeça nos estudos, procurei grupos de

pesquisa, iniciação científica, monitoria, empresa júnior, todas as oportunidades que

a UFRN me ofereceu, eu tentei. Ao mesmo tempo, via em jornais, podcasts e livros o

que estava acontecendo na política brasileira, liberação de agrotóxicos,

desmatamento da Amazônia, queimadas, desemprego aumentando, aumento da

insegurança alimentar no país, entre outros problemas sociais e ambientais.

Quando entrei no GPAC, a professora Larissa me apresentou a ideia de

escrever um artigo de revisão sobre agrotóxicos. Ela já conhecia meu background e

achou interessante que eu o escrevesse, então aceitei. Fomos selecionando artigos

científicos, documentos oficiais, pesquisando leis, regulamentações e relatórios

relacionados aos efeitos do uso de agrotóxicos no Brasil, e construindo o que se

tornou meu trabalho de conclusão de curso. E desde então venho estudando cada

vez mais o assunto, para no futuro próximo ter o conhecimento para mudar a realidade

da alimentação das pessoas ao meu redor e lutar por uma agricultura sustentável, que

mate a fome, seja saudável e dê emprego aos brasileiros.

À medida que a revisão foi ganhando forma e fui pesquisando mais artigos,

decidimos de fato escolher uma revista que pudesse nos dar a chance de publicar a

revisão em português para possibilitar a leitura por parte de maior número de pessoas,

principalmente nutricionistas, que são os profisionais responsáveis por promover uma

alimentação saudável e sustentável. Os alimentos convencionais fazem parte da

mesa do brasileiro e também estão presentes nas compras institucionais de vários

órgãos do setor público, sendo assim fator de risco à saúde da população que se

alimenta em restautantes institucionais e comercais.

(9)

A revisão será submetida a publicação na Revista de Gestão Ambiental e

Sustentabilidade (Anexo 1).

(10)

SE SOMOS O QUE COMEMOS, O QUE SERÁ DE NÓS?

O CONSUMO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL E SUAS REPERCUSSÕES NA SAÚDE HUMANA

Rebeca de Cerqueira Mateus1, Priscilla Moura Rolim2, Larissa Mont’Alverne Jucá Seabra3

Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Av. Senador

Salgado Filho, s/n, Lagoa Nova, 59078-970 Natal, RN, Brazil4

RESUMO

Objetivo: Apresentar uma visão global sobre os impactos dos agrotóxicos para saúde

humana.

Metodologia: Foi realizada revisão integrativa da literatura científica com evidências sobre os

efeitos dos agrotóxicos à saúde e meio ambiente.

Relevância: Os agrotóxicos são substâncias químicas sintetizadas artificialmente para inibir

o crescimento ou matar seres vivos que ocasionam doenças e efeitos indesejáveis em plantas. A presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos in natura, processados, solo, água e ar caracteriza-se como um grave problema de saúde pública. Apesar das evidências, poucos estudos retratam de forma estruturada os impactos destes produtos para a saúde humana.

Resultados: Os agrotóxicos têm uso amplo no Brasil e chegam a nossa mesa diariamente. A

exposição em pequenas quantidades de resíduos de agrotóxicos em alimentos e água pode ocasionar: neurotoxicidade, câncer, toxicidade no sistema endócrino, desequilíbrio intestinal, alterações do sistema imunológico. Além disso, o uso massivo desses químicos faz parte de um sistema de produção agrícola não sustentável, com poluição e destruição ambiental. Estamos nas mãos da ganância de grandes corporações, onde o lucro é prioridade e a saúde pública paga o ônus. Evidências científicas apontam que a toxicidade para saúde humana e planeta avança a cada geração, sendo urgente a adoção de políticas públicas que limitem o uso de agrotóxicos.

Contribuição: O trabalho contribui para uma síntese de evidências sobre os impactos dos

agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente, realizando uma análise crítica e direcionada dos efeitos dos agrotóxicos à saúde humana.

Palavras-chave: veneno; alimentação; saúde pública; sustentabilidade.

ABSTRACT

Objective: To present a global view of the effects of pesticides on human health.

Methodology: It was made an integrative review of the scientific literature that presented

evidence on effects of pesticides on health and the environment.

Relevance: Pesticides are chemical substances artificially synthesized to inhibit growth or kill

living beings that cause diseases and undesirable effects on plants. The presence of pesticide residues in in natura, processed food, soil, water and air is characterized as a serious public health problem. Despite the evidence, few studies portray in a structured way the impact of

1 2 3 4

(11)

these products to human health.

Results: Pesticides are widely used in Brazil and arrive at our table daily. Exposure to small

amounts of pesticide residues in food and water can cause: neurotoxicity, cancer, endocrine system toxicity, intestinal imbalance, immune system changes. Furthermore, the massive use of these chemicals is part of an unsustainable agricultural production system, with pollution and environmental destruction. We are in the hands of the greed of large corporations, where profit is a priority and public health pays the burden. Scientific evidence indicates that toxicity to human and planet health advances with each generation, and it is urgent to adopt public policies that limit the use of pesticides.

Contribution: The review contributes to a synthesis of evidence on the impacts of pesticides

on human health and the environment, carrying out a critical and targeted analysis of the effects of pesticides on human health.

Keywords: poison; feeding; public health; sustainability.

RESUMEN

Objetivo: Presentar una visión global de los efectos de lob plaguicidas en la salud humana.

Metodología: Se realizó una revisión integradora de la literatura científica que presenta

evidencia sobre los efectos de los plaguicidas sobre la salud y el medio ambiente.

Relevancia: Los pesticidas son sustancias químicas sintetizadas artificialmente para inhibir

el crecimiento o matar seres vivos que causan enfermedades y efectos indeseables en las plantas. La presencia de residuos de plaguicidas en alimentos in natura, procesados, suelos, agua y aire se caracteriza como un grave problema de salud pública. A pesar de la evidencia, pocos estudios describen de manera estructurada el impacto de estos productos a la salud humana.

Resultados: Los plaguicidas son ampliamente utilizados en Brasil y llegan a nuestra mesa a

diario. La exposición a pequeñas cantidades de residuos de plaguicidas en los alimentos y el agua puede provocar: neurotoxicidad, cáncer, toxicidad del sistema endocrino, desequilibrio intestinal, alteraciones del sistema inmunológico. Además, el uso masivo de estos químicos es parte de un sistema de producción agrícola insostenible, con contaminación y destrucción ambiental. Estamos en manos de la codicia de las grandes corporaciones, donde las ganancias son una prioridad y la salud pública paga la carga. La evidencia científica indica que la toxicidad para la salud humana y del planeta avanza con cada generación, y es urgente adoptar políticas públicas que limiten el uso de plaguicidas.

Contribución: El trabajo contribuye a una síntesis de evidencia sobre los impactos de los

plaguicidas en la salud humana y el medio ambiente, llevando a cabo una análisis crítico y específico de los efectos de los plaguicidas en la salud humana.

Palabras clave: veneno; alimentación; salud pública; sustentabilidad.

1. INTRODUÇÃO

Há mais de 10 anos o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos do mundo e os impactos na saúde pública são amplos, atingindo vastos territórios e envolvendo diferentes grupos populacionais. Tais impactos estão associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação (Carneiro et al., 2015). O sistema alimentar brasileiro é baseado em monoculturas, cultivadas

(12)

com uso excessivo de insumos químicos, voltadas para a produção de commodities, encaminhadas para a fabricação de biocombustíveis e alimentação animal de outros países (Frota & Siqueira, 2021).

Quando utilizados além da capacidade máxima sustentável pelo meio ambiente, os agrotóxicos são absorvidos pelas plantas, solo, água e ar, causando danos ao ecossistema e consequentemente à saúde humana. Nessa prática, a contaminação é feita de forma intencional, provocada pelos próprios fazendeiros (Pignati et al., 2007; Ismael et al., 2015).

A tendência crescente da comercialização dos agrotóxicos no país chama atenção para as intoxicações geradas pela exposição da população a esses venenos. No período de 2007 a 2015 houve 84.206 notificações de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, a maior parte por uso de raticidas (42,1%) e químicos de uso agrícola (36,5%). Em relação a ocupação das pessoas intoxicadas, as mais recorrentes foram trabalhadores agrícolas (28,8%), estudantes (15,8%) e donas de casa (14,5%) (Ministério da Saúde, 2018), indicando que o uso de agrotóxicos não acontece apenas no campo, mas também leva possibilidade de intoxicação pelo uso de produtos de jardinagem e inseticidas domésticos. O crescente número de casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil indica um significativo problema relacionado ao uso disseminado desses produtos (Queiroz et al., 2019).

À luz do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, caracteriza-se necessário determinar os riscos dietéticos agudos e crônicos derivados do consumo de alimentos com agrotóxicos e da exposição a esses. Essas definições são determinadas e calculadas de acordo com a Resolução ANVISA 295/19, a qual estabelece parâmetros de Ingestão Diária Aceitável (IDA) e Limite Máximo de Resíduo (LMR) no alimento, além de outros critérios de

exposição e como caracterizar o risco (Brasil, 2019). Por outro lado, o incentivo governamental

para o uso de agrotóxicos acontece em diversas frentes, como na isenção de impostos, menor fiscalização e liberação de novas substâncias - 474 apenas em 2019 - inclusive proibidas em outros países, permitindo a ampliação do uso desses venenos no Brasil (Frota & Siqueira, 2021).

No contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que é o acesso a alimentos de qualidade para todos, o sistema alimentar que prioriza o uso de agrotóxicos e contamina o alimento, se caracteriza como risco para a saúde humana e ambiental (Jacob & Araújo, 2020). A alimentação coletiva, área da nutrição relacionada à gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição, como ambientes escolares e hospitalares, deve promover ambientes sustentáveis, que garantam a SAN, tendo em vista sua extensão econômica, social e ambiental na sociedade (Brasil, 2018). Alimentos provenientes da agricultura convencional estão presentes nos restaurantes institucionais, e podem promover hábitos de consumo não saudáveis e desfavoráveis à sustentabilidade, advindos da prática da monocultura com agrotóxicos (de Souza et al., 2020).

De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, referência mundial que aponta para mudanças nos modos de produção e consumo de alimentos: “A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada

em práticas produtivas adequadas e sustentáveis” (Ministério da Saúde, 2014).

A Organização das Nações Unidas (ONU) também alerta para a responsabilidade de combater o uso de agrotóxicos. A Agenda 2030, ação da ONU que compõe um plano para o desenvolvimento sustentável econômico e social do planeta até o ano de 2030, conta com dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que podem ser destacados nesse combate,

são os ODS 2 e 12: “fome zero e agricultura sustentável” e “consumo e produção

responsável”. O primeiro promove a segurança alimentar, melhoria na nutrição e promoção da agricultura sustentável, já o segundo, tem como uma das metas reduzir a liberação de produtos químicos para o meio ambiente, diminuindo o impacto desses na saúde humana (ONU, 2016).

(13)

Na contramão das recomendações do Guia Alimentar, do conceito de SAN e dos ODS 2 e 12 da ONU, os resultados do Relatório de Amostras Analisadas no período 2017-2018, do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), desenvolvido pela Agência de Vigilância Sanitária, mostram grande quantidade de alimentos contaminados por agrotóxicos, dentre elas, o pimentão foi o alimento que mais apresentou contaminação por agrotóxicos em nível superior ao máximo permitido e por substâncias proibidas, somando 82% das amostras obtidas dessa hortaliça, seguido por goiaba (42%), cenoura (40%) e tomate (35%) (ANVISA, 2019).

Os resíduos de agrotóxicos podem estar presentes nos alimentos in natura e processados, água, solo e ar. Uma publicação recente, mostra como o sistema agroalimentar dominante e o agronegócio andam junto com os alimentos ultraprocessados e formam uma trindade indissolúvel que causa desequilíbrio ambiental, insegurança alimentar, fome, doenças, desigualdades sociais e desesperança (Azevedo, 2021).

Frente aos avanços do agronegócio convencional e das confirmações científicas acerca dos prejuízos diversos trazidos pelo uso de agrotóxicos, este artigo tem como objetivo reiterar os impactos dos agrotóxicos na saúde humana e preencher lacunas nos estudos sobre agrotóxicos, relacionando-os com o mercado e a regulamentação e controle desses químicos no Brasil.

2. METODOLOGIA

De acordo com Souza (2010) a revisão integrativa é vista como uma ferramenta ímpar no campo da saúde, por sintetizar pesquisas disponíveis sobre determinada temática e direcionar a prática fundamentando-se em conhecimento científico. A revisão integrativa é composta pelas seguintes fases: 1) elaboração da pergunta norteadora; 2) busca ou amostragem na literatura; 3) coleta de dados; 4) análise crítica dos estudos incluídos; 5) discussão dos resultados; 6) apresentação da revisão integrativa.

Assim, foi realizada uma revisão integrativa de literatura, por meio da busca de artigos científicos publicados nas bases do portal Periódicos Capes, utilizando os termos e operadores “agrotóxicos AND estimativa” (146 resultados) “agrotóxicos AND alimentos” (659 resultados), “agrotóxicos AND Brasil”(1621 resultados), “agrotóxicos AND ingestão” (40 resultados); PubMed “agrotóxicos” (75 resultados), “Maternal pesticide exposure” com intervalo de publicação de 2010 a 2021 (1180 resultados), “Organophosphate poisoning” com intervalo de publicação de 2010 a 2021(1091 resultados), “acute exposure insecticides” com intervalo de publicação de 2006 a 2021 (1504 resultados); Scielo “Agrotóxicos” (719 resultados), “Agrotóxicos AND exposição” (198 resultados), “substâncias tóxicas dieta” (6 resultados), “sistemas alimentares” (135 resultados). Dos resultados encontrados, alguns artigos foram selecionados, e dos selecionados, foram descartados os que não puderam ser aproveitados devido a dados desatualizados, por serem muito antigos, ou por apresentarem informações já abordadas nos outros artigos selecionados (Figura 1). Além disso, a pesquisa se estendeu a artigos jornalísticos, documentos oficiais e relatórios.

(14)

Fonte: Elaboração própria.

3. RESULTADOS

3.1 MERCADO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL

Segundo a Food and Agriculture Organization (FAO), Programa da Organização das Nações Unidas (ONU), os agrotóxicos são definidos como: qualquer substância, ou mistura de substâncias, usadas para prevenir, destruir ou controlar qualquer praga – incluindo vetores de doenças humanas e animais, espécies indesejadas de plantas ou animais, causadoras de danos durante (ou interferindo na) a produção, processamento, estocagem, transporte ou distribuição de alimentos, produtos agrícolas, madeira e derivados, ou que – ou que deva ser administrada para o controle de insetos, aracnídeos e outras pestes que acometem os corpos de animais de criação (Peres & Moreira, 2003)

No Brasil, a definição de agrotóxicos inserida no Artigo 2, Inciso I da Lei Federal n° 7.802/1989 é diferente:

[...] produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso no setor de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes urbano, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento. (Brasil, 1989).

No contexto histórico brasileiro, Vaz de Moura et al. (2020) expõem que ao longo dos vários governos, foram tomadas diferentes medidas relacionadas a utilização de agrotóxicos no agronegócio. Desde a intenção de modernizar a agricultura brasileira nos anos 70, com o incentivo do governo militar ao uso de agroquímicos, até os dias atuais, com as declarações e projetos de leis da chamada “bancada ruralista”, a segurança e soberania alimentar e o meio ambiente são ameaçados em favor da manutenção de uma elite poderosa, com o falso argumento de crescimento econômico (Moraes, 2019; Vaz de Moura et al., 2020). Além disso,

(15)

o largo uso de agrotóxicos, muitas vezes não autorizados e fora dos limites permitidos, aumenta também seu consumo pela população, o que resulta em problemas de saúde, e consequentemente, piora na qualidade de vida (Gerência Geral de Toxicologia, 2008).

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o aumento do uso de agrotóxicos nos estados do Brasil não significou um aumento proporcional do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA), mas sim, um crescimento em menor taxa:

Em 2001, era necessário aplicar 1,2 kg de agrotóxicos para se obter R$ 1 mil de produção agrícola no Mato Grosso, enquanto o mesmo VBPA era obtido com 1,3 kg em Goiás. Em 2016, contudo, foi necessário aplicar 2,4 kg de agrotóxicos para se obter R$ 1 mil de produção agrícola no Mato Grosso, enquanto o mesmo foi obtido com 1,9 kg em Goiás. (Moraes, 2019, p.27)

Mesmo com todas as evidências científicas a respeito das desvantagens do uso de agrotóxicos, a “bancada ruralista” tenta aprovar o Projeto de Lei 6299/02 – aprovada na comissão especial da câmara em julho de 2018, agora segue para o plenário da câmara dos deputados – o qual pretende alterar a Lei n° 7.802, de 1989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a

fiscalização de agrotóxicos - possibilitando a intensificação da aplicação dos agroquímicos,

flexibilizando a legislação vigente, considerando-a prejudicial ao crescimento econômico do país (Vaz de Moura et al., 2020). Os apoiadores do “PL do Veneno” e, consequentemente, do largo uso de agrotóxicos no agronegócio, utilizam de estratégias variadas para promover seus ideais, desde publicidade em TV, rádio, revistas e internet, com a campanha “Sou Agro”, que enaltece a tecnologia do agronegócio, até o descrédito das instituições e estudos que questionam sua atuação (Vaz de Moura et al., 2020).

Presos ao discurso do crescimento econômico, o grupo a favor da ampla liberação dos agrotóxicos não apenas tenta confundir o consumidor quanto à necessidade dessa prática agrícola para a economia – os custos sociais são altos enquanto o lucro vem de auxílio estatal (Vaz de Moura et al., 2020) –, como também ignora os efeitos negativos diretos sobre a saúde coletiva causados pelo consumo dessas substâncias.

3.2 AGROTÓXICOS E SAÚDE

A prática do uso de agrotóxicos não se justifica pelo discurso do crescimento econômico, porém apresenta um menor risco econômico (e político) para o produtor que já utiliza químicos em larga escala ao invés de mudar a dinâmica de suas lavouras para uma produção sem pesticidas (Moraes, 2019). Em contrapartida, a persistência dos agrotóxicos no ambiente, principalmente dos organoclorados, contaminam a água, o solo, o alimento, e o ar, podendo se acumular no corpo, levando a alterações hormonais que causam hipotireoidismo, por exemplo (Rathore et al., 2002). Além desses, os organofosforados, que possuem ação inibidora da enzima acetilcolinesterase também são preocupantes, pois podem causar sintomas como sudorese, miose, visão turva, diarreias, vômitos, hipotensão, paralisia, taquicardia, convulsões, cefaleias, depressão respiratória e circulatória, entre outros (King & Aaron, 2015).

A exposição a agrotóxicos pode acontecer de forma crônica ou aguda, sendo a crônica caracterizada pela estimativa de ingestão diária da substância ao lingo da vida, e a aguda, pela estimativa de exposição máxima de um indivíduo a resíduos de agrotóxicos em até 24 horas após a ingestão (Jardim & Caldas, 2009; Brasil, 2019).

Possíveis alterações hematológicas decorrentes da exposição a agrotóxicos tanto de forma crônica quanto aguda, foram encontradas em moradores rurais no Sul do Brasil. O estudo observou níveis elevados de eritrócitos e hemoglobina em trabalhadores rurais em época de alto uso de agrotóxicos. Já a longo prazo, a exposição crônica a agrotóxicos foi observada ser responsável por uma queda nos níveis de linfócitos (Piccoli et al., 2019).

(16)

Oliveira et al. (2014), encontraram, no estado do Mato Grosso, em municípios com maior exposição a agrotóxicos, entre os anos de 2000 e 2009, uma ocorrência de 100% a mais de malformações congênitas entre recém-nascidos de mães expostas a agrotóxicos durante o período periconcepcional comparado às demais. Algumas explicações para a grande ocorrência de malformação são: residências das mães próximas às áreas de agricultura e ao trabalho dessas mães nas áreas de cultivo (Brender et al., 2010). Alguns agrotóxicos possuem elevada toxicidade neurológica, e podem causar danos permanentes à criança quando expostas a esses químicos durante o período pré-natal e na infância, quando o desenvolvimento neurológico é acentuado (Ferreira et al., 2018).

Além dos casos de malformação congênita, a Região Centro-Oeste, apresentou aumento na ocorrência de intoxicações por agrotóxicos, passando de 3,14 em 2007, para 10,23 casos por 100 mil habitantes em 2013, mostrando que a população está ainda mais exposta às substâncias tóxicas (Ministério da Saúde, 2016).

Em adição aos efeitos tóxico-sistêmicos, existe uma preocupação com os efeitos de

longa duração com potencial carcinogênico. O Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT),

organoclorado, por exemplo, persiste no ambiente e por bioacumulação se encontra nos tecidos em níveis elevados, tem sido associado ao desenvolvimento de câncer de fígado, no trato respiratório e linfomas (Peres & Moreira, 2003).

O uso abusivo e intenso de agrotóxico também aumentam a vulnerabilidade à Covid-19, pois afetam o sistema imunológico, o tornando mais susceptivel a doenças infecciosas (ABRASCO, 2021).

Os efeitos agudos e crônicos pós exposição aos agrotóxicos mostraram variadas manifestações clínicas e doenças que vão de distúrbios endócrinos até cânceres (Carneiro et al., 2015). Essas intoxicações dependem de fatores relativos às características químicas e toxicológicas do produto, à exposição do indivíduo e suas individualidades (OPAS, 1996). O quadro 1 apresenta os agrotóxicos, separados por grupo químico, detectados com maior frequência no relatório do PARA 2017-2018, suas possíveis consequências após intoxicação e os alimentos nos quais são mais utilizados.

(17)

Tabela 1. Principais agrotóxicos encontrados em alimentos no Brasil, seus sintomas de intoxicação aguda e crônica, e os alimentos em que são mais utilizados.

Agrotóxico Grupo

químico Classe Sintomas de intoxicação aguda

Sintomas de

intoxicação crônica

Principais alimentos em que é utilizado

Imidacloprido Neonicotinóide Inseticida

Tontura, sonolência, tremores e movimentos incoordenados, diarréia e perda de peso. Efeitos anticolinérgicos em humanos e alterações na tireóide em animais de laboratório.

Cana-de-açúcar, feijão, tomate, citros e batata.

Tebuconazol Triazol Fungicida

Irritação dérmica e ocular, distúrbios no comportamento, respiração e

movimentos não coordenados.

Diminuição da motilidade do trato respiratório. alteração na síntese de hormônios, na função reprodutiva de ratos, causando a feminilização dos machos expostos durante a gestação e lactação e durante o desenvolvimento neuronal.

Feijão, trigo, soja, café, tomate, batata, banana, milho, arroz, cevada, cebola, melão, aveia, amendoim, manga, beterraba, goiaba, uva, alho, cacau, cenoura, figo, mamão, melancia, abacaxi, maracujá, morango.

Carbendazim Benzimidazol Fungicida

Alterações respiratórias, náusea,

vômito, diarreia, irritações

moderadas nos olhos e pele

(dermatite, coceira, vermelhidão, inchaço e ressecamento). Aberrações cromossômicas e desregulação endócrina do sistema reprodutivo masculino de ratos. Toxicidade hepática

Soja, feijão, citros e maçã.

Piraclostrobina Estrobilurina Fungicida

Irritação dérmica, prurido, eritema, queimadura, dor ocular, conjuntivite,

irritação do trato respiratório

superior, dor torácica, fraqueza, cefaléia, tonturas. Pode ser fatal.

Não há dados

suficientes para avaliar

o potencial

carcinogênico em

humanos. Em animais

Café, feijão, amendoim, batata, cana-de-açúcar, citros, melão,

tomate, abacaxi, abóbora,

abobrinha, alho, cebola, melancia, pepino, pimentão, aveia, cevada,

(18)

de laboratório, observou-se redução no peso corporal, necrose celular hepática e alterações hematológicas.

milho, soja, trigo, banana, maçã,

beterraba, cenoura manga,

maracujá, mamão, cará, chuchu, cupuaçu, grão de bico, guaraná, inhame, kiwi, lentilha, mandioca, maxixe, nabo, rabanete romã, seriguela.

Ditiocarbamato Ditiocarbamato Fungicida Tonteiras, vômitos, tremores

musculares, dor de cabeça.

Alergias respiratórias, dermatites, Doença de Parkinson, cânceres.

Alface, maçã e tomate.

Difenoconazol Triazol Fungicida Irritabilidade ocular, sensibilidade da

pele e das membranas mucosas. Irritação na pele.

Feijão, batata, soja, uva, banana, maçã, pepino, amendoim, arroz,

manga, morango, mamão,

pêssego, café, coco, ervilha, pimentão, melancia, berinjela, alface.

Acefato Organofosfora

do

Acaricida/ inseticida

Suor abundante, pupilas contraídas-miose, Salivação intensa, Vômitos,

Lacrimejamento, Dificuldade

respiratória, Fraqueza, Colapso,

Tontura, Tremores musculares,

Dores e cólicas abdominais,

Convulsões, Visão turva ou

embaçada.

Neurotóxico, possível

carcinogênico para

humanos. Toxicidade

reprodutiva.

Soja, feijão, tomate, batata,

amendoim, citros, milho.

Procimidona Dicarboximida fungicida

Irritação de olhos e pele. Irritação do trato gastrointestinal com náuseas, dor abdominal, vômito e diarreia. Irritação do trato respiratório.

Desreguladores do

sistema endócrino em

mamíferos. Tóxicos

para testículos em

animais experimentais e seres humanos. São

cancerígenos em

animais experimentais.

Feijão, soja, batata, tomate, alface, uva.

(19)

Induzem malformações do trato reprodutivo de fetos machos.

Cipermetrina Piretróide Formicida/

Inseticida

Formigamento nas pálpebras,

Coceira intensa e nos lábios, Mancha na pele, Irritação das conjuntivas e mucosas, Secreção e obstrução,

Espirros, Reação aguda de

hipersensibilidade, Excitação, Convulsões. mortes neonatais e más-formações congênitas, potencial mutagênico e genotóxico, aberrações cromossômicas e trocas de cromátides irmãs em linfócitos e distúrbios neurocomportamentais.

Milho, soja, tomate, café, arroz.

Azoxistrobina Estrobilurina Fungicida Irritação ocular e dérmica. Não é genotóxico nem

carcinogênico.

Trigo, banana, soja, arroz,

cevada, aveia, feijão, tomate.

Lambda-cialotrina Piretróide Inseticida

Formigamento nas pálpebras,

Coceira intensa e nos lábios, Mancha na pele, Irritação das conjuntivas e mucosas, Secreção e obstrução,

Espirros, Reação aguda de

hipersensibilidade, Excitação,

Convulsões.

Distúrbios neuromotores.

Milho, soja, trigo, tomate, feijão, batata, café, citros, melão, arroz.

Tiametoxam Neonicotinóide Inseticida Rash cutâneo, prurido, eritema e

irritação dérmica.

Não mutagênico,

teratogênico ou

carcinogênico para

seres humanos.

Cana-de-açúcar, trigo, milho,

arroz, feijão, soja, amendoim, cevada, girassol. Clorpirifós Organofosfora do Acaricida/ Formicida/ Inseticida

Suor abundante, pupilas contraídas-miose, Salivação intensa, Vômitos,

Lacrimejamento, Dificuldade

respiratória, Fraqueza, Colapso,

Tontura, Tremores musculares,

Dores e cólicas abdominais,

Neurotóxico. Alterações cromossomiais e dermatites de contato. Desregula o eixo hormonal da tireóide em camundongos quando

Milho, café, soja, citros, batata,

tomate, feijão, trigo, maçã,

(20)

Convulsões, Visão turva ou embaçada.

a exposição ocorre na vida intrauterina, induz alterações histopatológicas de testículos e diminui a contagem de espermatozóides e da fertilidade animal. Etefon Precursor de etileno Regulador de crescimen to

Hiperemia, quemose e secreção ocular em animais de laboratório.

Sem efeito

carcinogênico,

genotóxico e

teratogênico.

Cana-de-açúcar, abacaxi, café, arroz, soja, uva, maçã, figo, manga, seriguela.

Clorfenapir Análogo de

pirazol

Acaricida/ Inseticida

Diaforese, tontura, fraqueza, febre e paralisia.

Aumento do peso do fígado associado com hipertrofia hepatocelular e vacuolização no cérebro e medula espinhal em animais de laboratório.

Batata, citros, melão, tomate,

feijão, alho, cebola, couve,

melancia, pimentão, repolho,

milho, maracujá, mamão,

morango, soja.

Boscalida anilida fungicida Edema ocular reversível em animais

de laboratório.

Alterações no fígado e tireóide em animais de laboratório.

Batata, café, melão, tomate, feijão, alface, alho, almeirão, berinjela, cebola, chicória, couve,

melancia, jiló, pimentão,

beterraba, cenoura, manga,

maracujá, morango, cará, inhame, kiwi, mandioca, nabo, rabanete,

seriguela, acelga, agrião,

espinafre, estévia, mostarda,

rúcula, canola, gergelim, linhaça, pimenta, quiabo, acerola, amora,

azeitona, chalota, framboesa,

(21)

Fenpropatrina piretróide Acaricida/I nseticida

Formigamento nas pálpebras,

Coceira intensa e nos lábios, Mancha na pele, Irritação das conjuntivas e mucosas, Secreção e obstrução,

Espirros, Reação aguda de

hipersensibilidade, Excitação, Convulsões. Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hipersensibilidade.

Mamão, morango, maçã, soja,

milho, repolho, pimentão,

pimenta, quiabo, jiló, melancia, cebola, berinjela, feijão, tomate, melão, citros, café.

Acetamiprido neonicotinóide inseticida

náuseas, vômitos, debilidade

muscular, hipotermia, convulsões, taquicardia, hipotensão, alterações eletrocardiográficas e hipóxia.

perda de peso em animais de laboratório.

Tomate, feijão, trigo, batata, melão, melancia, mamão, maçã, soja, pinhão manso, milho.

Etofenproxi éter difenílico inseticida

Irritação dérmica, letargia,

diminuição da atividade motora,

bradipnéia/taquipnéia, taquicardia,

aumento da pressão arterial, glicose e transaminases em animais. Aumento na mortalidade, alterações no fígado e tireóide, alterações hematológicas e do sistema linforreticular em ratos.

Citros, tomate, feijão, milho, soja, trigo, maçã.

Trifloxistrobina estrobilurina fungicida

Diarréia, eritema dérmico, opacidade de córnea, vermelhidão e quemose ocular em animais de laboratório.

Alterações no fígado e rins em animais de laboratório. Citros, maçã. Metomil metilcarbamat o de oxima Acaricida/I nseticida

Náuseas, fadiga, mal-estar, miose,

sialorréia discreta, deambulação

normal, fraqueza muscular mínima, cólicas abdominais sem diarreia.

Moderada Salivação,

lacrimejamento, miose, broncorreia,

broncoespasmo; bradicardia,

vômitos, sudorese, cólicas

abdominais, incontinência urinária e

fecal, tremores, fraqueza, não

deambula, fasciculações, confusão,

letargia, ansiedade. Insuficiência

tremores e incoordenação motora, diminuição no peso corporal, diminuição da atividade da colinesterase cerebral em animais de laboratório.

Milho, soja, batata, tomate,

(22)

respiratória, pupilas puntiformes,

arritmias, paralisias, coma,

convulsões.

Bifentrina piretróide

Acaricida/ Formicida/ Inseticida

Formigamento nas pálpebras,

Coceira intensa e nos lábios, Mancha na pele, Irritação das conjuntivas e mucosas, Secreção e obstrução,

Espirros, Reação aguda de

hipersensibilidade, Excitação, Convulsões. Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hipersensibilidade.

Soja, cana-de-açúcar, uva, melão, citros, feijão, manga, mamão, milho, tomate.

Propargito sulfito de

alquila acaricida

Irritação ocular e cutânea. Fadiga,

sonolência, diarréia, depressão,

salivação excessiva e manchas sanguinolentas na pele em animais de laboratório.

Alterações nos

pulmões, timo e medula óssea em cães.

Citros, maçã, morango, tomate, café, soja.

Diflubenzurom benzoiluréia Acaricida/I

nseticida

Dificuldade respiratória,

metahemoglobinemia, náuseas e vômitos em animais de laboratório.

perda de peso e

redução no nível de

hemoglobina em

animais de laboratório.

Soja, milho, trigo, citro, tomate, arroz, feijão, ervilha, girassol, canola, gergelim, linhaça, lentilha, grão de bico.

Captana dicarboximida fungicida

vômitos e diarreia, irritação das vias aéreas, dermatite, irritação ocular, sensação de queimação, prurido, lacrimejamento e conjuntivite. Desreguladores do sistema endócrino em mamíferos. Tóxicos para testículos em animais experimentais e seres humanos. São

cancerígenos em

animais experimentais. Induzem malformações do trato reprodutivo de fetos machos.

Citros, melão, cebola, maçã, tomate, batata, melancia, uva, pêssego, pepino, alho.

Imazalil imidazol fungicida

Irritação ocular, conjuntivite,

hipervascularização e opacidade da córnea, inflamação da íris. Eritema,

carcinogênico em

animais de laboratório.

Banana, melão, citros, melancia, maçã, manga, mamão.

(23)

reação alérgica, náusea, vômito, aumento de salivação, diarreia, dificuldade respiratória, perda dos

reflexos, inflamação das vias

respiratórias, descoloração pulmonar e congestão intestinal, letargia, ataxia e morte.

Clorotalonil isoftalonitrila fungicida

Irritação nos olhos, dermatite de contato, reação alérgica e de fotossensibilidade, irritação no trato respiratório, êmese espontânea e reações anafiláticas. carcinógeno não genotóxico em humanos e embriotóxico em camundongos. Possui efeitos sobre o desenvolvimento de ratos.

Tomate, batata, feijão, amendoim, cenoura, pepino, uva, melancia, banana, soja, berinjela, melão, mamão, pimentão, cebola.

Flutriafol triazol fungicida

salivação, convulsão, letargia,

redução na atividade, tremor, diarreia e ataxia em animais de laboratório.

perda de peso e

aumento do tamanho do fígado, mudanças estruturais nos níveis enzimáticos do fígado e alterações

hematológicas em

animais de laboratório.

Melão, café, soja, feijão, aveia, mamão, tomate, banana, batata, trigo.

Dimetoato organofosforad

o

Acaricida/I nseticida

Suor abundante, pupilas contraídas-miose, Salivação intensa, Vômitos,

Lacrimejamento, Dificuldade

respiratória, Fraqueza, Colapso,

Tontura, Tremores musculares,

Dores e cólicas abdominais,

Convulsões, Visão turva ou

embaçada. Efeitos mutagênicos: Entrecruzamento de cromátides irmãs em fibroblastos de pulmões embrionários humanos. Efeitos teratogênicos em ratos. Efeitos carcinogênicos: Linfoma não Hodgkin.

Citros, tomate, trigo, maçã.

(24)

respiratório, irritação com ardência e vermelhidão ocular, Irritação do trato gastrointestinal, vômito, náuseas, dor abdominal e diarreia.

sistema endócrino em

mamíferos. Tóxicos

para testículos em

animais experimentais e seres humanos. São

cancerígenos em

animais experimentais. Induzem malformações do trato reprodutivo de fetos machos.

cevada, cebola, alface, café, batata, feijão.

Linuron uréia herbicida

Irritação ocular, irritação da mucosa respiratória, depressão do SNC,

hipoxemia, metemoglobinemia,

náusea, vômito, diarréia, irritação no trato urinário. Em animais de laboratório causou aumento no número de abortos. aumento da depressão, infecções respiratórias e retardamento no crescimento em animais de laboratório.

Batata, alho, cebola, cenoura, inhame, mandioca, batata doce, gengibre, batata yacon, batata salsa, camomila, coentro, salsa.

Profenofós organofosforad

o

Acaricida/I nseticida

Suor abundante, pupilas contraídas-miose, Salivação intensa, Vômitos,

Lacrimejamento, Dificuldade

respiratória, Fraqueza, Colapso,

Tontura, Tremores musculares,

Dores e cólicas abdominais,

Convulsões, Visão turva ou

embaçada. Dano genético em linfócitos em humanos, aberrações cromossômicas em camundongos e alterações histopatológicas e na síntese de hormônios do sistema reprodutor masculino de ratos.

Soja, café, tomate, feijão,

melancia, pepino, repolho,

amendoim, cebola, batata,

mandioca, ervilha, girassol.

Carbofurano carbofurano

inseticida, cupinicida, acaricida e pesticida

dor de cabeça, fraqueza, náuseas, tonturas e posteriormente constrição das pupilas, tremores, salivação e

transpiração excessivas, cólicas

abdominais, diarréia e vômitos.

Possível desregulação

endócrina. Goiaba, laranja, uva, alface,

(25)

Deltametrina piretróide formicida/i nseticida

Formigamento nas pálpebras,

Coceira intensa e nos lábios, Mancha na pele, Irritação das conjuntivas e mucosas, Secreção e obstrução,

Espirros, Reação aguda de

hipersensibilidade, Excitação, Convulsões. Alergias, asma brônquica, irritações nas mucosas, hipersensibilidade.

Feijão, milho, trigo, soja, arroz, amendoim, batata, café, citros, tomate, repolho, maçã, cacau.

Indoxacarbe oxadiazina inseticida

Irritação na pele, eritemas,

descamação e erupções cutâneas, irritação do trato respiratório, irritação

ocular, irritação gastrointestinal,

vômito, náuseas, dor abdominal e diarréia.

Anemia hemolítica

regenerativa em

animais de laboratório.

Milho, batata, brócolis, melão,

tomate, abóbora, abobrinha,

alface, almeirão, berinjela,

chicória, couve, melancia, jiló, pepino, pimentão, repolho, soja, uva, manga, chuchu, maxixe,

couve-flor, acelga, agrião,

espinafre, mostarda, rúcula,

pimenta.

Fonte: OPAS (1996); MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (n.d.); ANVISA (2019); Carneiro et al. (2015); Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (n.d.); Secretaria de Estado da Saúde do Paraná - Superintendência de Vigilância em Saúde Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (2013).

(26)

Inúmeras evidências relacionam diretamente o consumo de agrotóxicos com riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Nesse contexto, a estimativa de ingestão de agrotóxicos no Brasil, realizada pela Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), analisa resíduos de agrotóxicos em alimentos de origem vegetal em diferentes pontos: amostras fora dos limites aceitáveis; amostras com substâncias proibidas; limites máximos de resíduos de agrotóxicos; limites de ingestão diária; avaliação de risco dietético; exposição dietética aguda e crônica, entre outros parâmetros (ANVISA, 2019).

O PARA não analisa carnes nem águas, além de ser composto por uma pequena variedade de alimentos vegetais, o que impede uma avaliação real do consumo total de agrotóxicos pela população, impedindo também avaliar os riscos reais do acúmulo e das interações entre as substâncias no organismo humano, sendo então insuficiente para garantir a segurança alimentar e proteger a saúde humana. Ademais, existe uma incerteza entre os cientistas em estabelecer valores mínimos de ingestão que sejam minimamente prejudiciais à saúde (ABRASCO, 2015).

Meira e Silva (2019), estimaram na dieta de escolares do município de Guariba, SP, resíduos de agrotóxicos que superam o limite máximo estabelecido pela Anvisa. Das 272 substâncias analisadas, 58 mostraram resultados acima do permitido. Além disso, dois químicos que superaram - mais que o dobro - a Ingestão Diária Aceitável, acefato e diazinona, pertencem à família dos organofosforados, de ação neurotóxica, apontando riscos à saúde dos escolares.

Outro estudo revela que a exposição de crianças brasileiras a agrotóxicos neurotóxicos inibidores da enzima acetilcolinesterase é aproximadamente 2,4 vezes maior do que para o restante da população do país (Caldas et al., 2006). Ressalta-se também nesta pesquisa, que o tomate é o alimento da dieta brasileira que mais contribui na ingestão total de agrotóxicos inibidores de acetilcolinesterase, devido ao seu alto consumo. Por outro lado, mesmo com o alto nível de químicos sendo consumidos, a população brasileira atinge aproximadamente um quarto das calorias totais necessárias de frutas, legumes e verduras recomendadas (IBGE, 2010). Devido a alta permeabilidade intestinal e outros aspectos fisiológicos, as crianças são mais sensíveis aos agrotóxicos, portanto sua exposição difere da exposição de adultos, fatores que devem ser levados em consideração na avaliação de risco das substâncias (Carneiro et al., 2015).

Considerando as possíveis alterações bioquímicas e fisiológicas sofridas pelo indivíduo causadas pelo acúmulo de agrotóxicos provenientes da ingestão diária de água e alimentos contaminados (Arias et al., 2007), Ismael e Rocha (2019) estimaram a contaminação de águas subterrâneas e superficiais por agrotóxicos em área sucroalcooleira localizada no estado da Paraíba, e encontraram um total de 25 princípios ativos de diferentes agrotóxicos, 13 (52%) foram classificados como contaminantes potenciais de águas subterrâneas. Já na contaminação de águas superficiais, foram utilizadas duas análises: contaminação das águas superficiais por meio do transporte das moléculas associado ao sedimento (PTAS), e contaminação das águas superficiais por meio do transporte dos princípios ativos dissolvidos em água (PTDA), as quais revelaram, respectivamente, que 9% e 52% dos princípios ativos analisados estavam na faixa de alto potencial de contaminação. Evidencia-se que na estimativa por PTAS, 61% dos compostos ficaram na faixa de médio potencial de contaminação.

Soares et al. (2012) estimaram em plantações de café na cidade de Manhuaçu, Minas Gerais, a contaminação por agrotóxicos de águas subterrâneas e superficiais da área. 280 produtos de diferentes grupos químicos são utilizados no cultivo do café em Manhuaçu, dentre eles, aproximadamente 15% apresentou alto risco para contaminação de águas superficiais, enquanto 40,61% dos produtos foram classificados com médio risco. Além disso, os fungicidas, utilizados em maior escala, apresentaram alto potencial de contaminação de águas superficiais e médio potencial para contaminação de águas subterrâneas.

(27)

estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) revelou a presença de resíduos de agrotóxicos em diversos produtos classificados como ultraprocessados. Foram detectados resíduos de glifosato, glufosinato e outros agrotóxicos em 6 categorias de produtos alimentícios analisados, incluindo alguns destinados ao público infantil, como salgadinhos e biscoitos recheados (IDEC, 2021).

3.4 REGULAMENTAÇÃO E CONTROLE DOS AGROTÓXICOS NO BRASIL

Uma reflexão acerca dos aspectos sociais e ambientais do uso de agrotóxicos no Brasil, incluindo os interesses econômicos e políticos, parece ser fundamental para elucidar a gênese dos problemas de regulação destas substâncias nos alimentos (Lopes & Albuquerque, 2021). A evolução da indústria de agrotóxicos está diretamente ligada ao processo de modernização da agricultura nos pós II Guerra Mundial, baseado no uso intensivo de insumos químicos, biológicos e mecânicos (Pelaez et al., 2010). A Figura 2 representa os principais marcos legais sobre a regulação de agrotóxicos e orgânicos no Brasil desde a lei dos agrotóxicos até os dias atuais, ressaltando a relação totalmente desproporcional entre as duas agendas.

Figura 2. Relação entre regulamentações de Agrotóxicos e Orgânicos no Brasil.

Fonte: Elaboração própria.

A necessidade de uma regulação internacional para o uso de agrotóxicos se torna inquestionável quando empresas de um mercado mundial altamente concentrado em países

desenvolvidos – 25% do mercado atual está nas mãos da alemã Bayer (Borges, 2018) –

vendem seus produtos para o Brasil, mesmo quando esses produtos são proibidos no país sede do fabricante. É o exemplo da Beyer, localizada na Alemanha, que fabrica e exporta o agrotóxico carbendazim, atualmente proibido em solo europeu, e importa o produto brasileiro cultivado com esse agrotóxico. Além do carbendazim, mais de 40 diferentes agrotóxicos,

(28)

proibidos na Europa possuem autorização para exportação (Pública, 2020).

De acordo com a Lei 7.802/1989, a regulação dos agrotóxicos no Brasil é atribuída a três ministérios: Ministério da Saúde, responsável pela avaliação toxicológica, hoje desempenhada pela ANVISA através do PARA; Ministério do Meio Ambiente, que através do IBAMA, é responsável pela avaliação de risco ambiental e de potencial de periculosidade; e ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que avalia o desempenho agronômico do químico e disponibiliza na plataforma Agrofit.

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PARA, coordenado pela ANVISA, publicou, em 2019, a análise de 14 alimentos, comparando as quantidades e tipos de químicos encontrados com os índices permitidos pela legislação. Foram coletadas amostras em varejos de diferentes municípios do Brasil para a análise de resíduos (ANVISA, 2019).

O Quadro 2 traz a classificação dos alimentos analisados em amostras satisfatórias e amostras insatisfatórias, sendo as satisfatórias referentes a alimentos nos quais não foram encontradas irregularidades no uso de químicos agrícolas, e as insatisfatórias a respeito da porcentagem de amostras que revelaram a presença de agrotóxicos acima do limite máximo de resíduos ou de substâncias não liberadas para aquele tipo de cultivo.

Tabela 2: Amostras de alimentos analisados pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PARA, analisados em quantitativo de amostras analisadas e

amostras satisfatórias, e percentual de amostras insatisfatórias.

Alimento Amostras analisadas Amostras satisfatórias Amostras insatisfatórias % Pimentão 326 59 82% Goiaba 283 163 42% Cenoura 353 213 40% Tomate 316 206 35% Alface 286 200 30% Uva 319 233 27% Beterraba 357 305 15% Laranja 382 330 14% Abacaxi 347 306 12% Manga 350 318 9% Chuchu 288 262 9% Batata doce 315 287 9% Alho 365 348 5% Arroz 329 314 5% Dados: ANVISA (2019).

(29)

Lopes e Albuquerque (2021), ao analisar todos os relatórios do Programa de Análise publicados entre 2001 e 2015 encontraram que, desde a sua implantação, o PARA avaliou 25 diferentes tipos de alimentos, dos quais apenas alface e tomate foram analisados em todos os relatórios. Além da variação de alimentos, a grande variabilidade de ingredientes ativos, de quantidades de amostras e alimentos, a variação na periodicidade das coletas e os diferentes formatos de relatórios publicados, impossibilitam comparações entre os resultados de cada ano e dificultam um diagnóstico verdadeiro dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos brasileiros.

Esses dados apontam para inexistência de políticas efetivas de fiscalização, controle, acompanhamento e aconselhamento técnico adequados, aliados ao baixo nível de instrução dos produtores e ao desconhecimento de outras técnicas produtivas, sobretudo as relacionadas à agroecologia, são fatores que contribuem para os atuais níveis de contaminação à saúde humana e ao meio ambiente.

Reconhecer as vulnerabilidades sociais, econômicas e culturais dos produtores locais, e agricultores que utilizam agrotóxicos pensando ser esse o único meio viável de se produzir alimentos, também é uma reflexão importante. Estudo realizado por Bedor et al. (2009) com trabalhadores rurais, demonstrou que eles em sua maioria possuem baixo grau de escolaridade, sendo esta uma importante vulnerabilidade para compreensão da rotulagem dos agrotóxicos e sua implicação toxicológica e ambiental. Também observaram condições inseguras de trabalho e falta de assistência técnica que comprometem a saúde dos expostos. Estas vulnerabilidades institucionais corroboram aquelas relacionadas com o modelo tecnológico que objetiva meramente a produtividade e o rendimento financeiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a definição de agrotóxicos é contraditória quando indica que seu uso protege a natureza e o meio ambiente. O uso de agrotóxicos é sustentado pela justificativa do crescimento em produtividade, mas esse crescimento existe em taxas cada vez menores com o passar do tempo. A exposição a esses venenos vai na direção oposta do que é proposto pelo Guia Alimentar Para a População Brasileira, e pela Agenda 2030 da ONU, além de violar o direito humano à alimentação adequada.

Mesmo que a legislação imponha limites para o uso de agrotóxicos, esses limites não são suficientes para garantir que os alimentos da dieta dos brasileiros sejam seguros. Outra preocupação se dá pela falta de certeza entre os cientistas a respeito da definição dos limites de ingestão que podem ser minimamente prejudiciais à saúde, além dos possíveis impactos negativos da interação entre dois ou mais agrotóxicos, que na maioria das avaliações de risco não são mensurados.

A produção de alimentos a partir da monocultura e do uso de agrotóxicos alcança diversos setores da cadeia produtiva de alimentos, como aqueles destinados à alimentação coletiva em escolas, universidades, empresas, rede de supermercados, mercadinhos, feiras e, culminando no consumo desses alimentos por todos os brasileiros, promovendo o decréscimo na qualidade de vida e desenvolvimento de doenças.

REFERÊNCIAS

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ADAPAR. (n.d.). Agência de Defesa Agropecuária do Paraná - Agrotóxicos no Paraná. Recuperado de http://celepar07web.pr.gov.br/agrotoxicos/pesquisar.asp

(30)

ANVISA. (2019). Relatório das análises de amostras monitoradas no período de 2017 a 2018: Primeiro ciclo do Plano Plurianual 2017-2020. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Recuperado de https://bit.ly/383sK4k

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Azevedo, E. (2021, maio 03). Ultraprocessados, ultraesfomeados e o sistema agroalimentar moderno. Le Monde Diplomatique. Recuperado de https://bit.ly/3szLaTU

Bedor, C. N. G., Ramos, L. O., Pereira, P. J., Rêgo, M. A. V., Pavão, A. C., & Augusto, L. G. d. S. (2009). Vulnerabilidades e situações de riscos relacionados ao uso de agrotóxicos na fruticultura irrigada. Revista Brasileira de Epidemiologia, 12(1), 39-49. https://doi.org/10.1590/s1415-790x2009000100005

Borges, H. (2018, setembro 14). Estudo mapeia as dez empresas que dominam o mercado de agrotóxicos no mundo. ACT Promoção da Saúde. Recuperado de https://bit.ly/3D8RpD5

Brasil. (1989). Lei Nº 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União. Brasil. (2003). Lei no 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica

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