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FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES DAS NARRATIVAS DE CRIANÇAS E DE PROFESSORES

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: CONTRIBUIÇÕES DAS NARRATIVAS DE CRIANÇAS E DE PROFESSORES

Vanessa Lidiane Domiciano BEZERRA; Marineide de Oliveira GOMES Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EFLCH) – campus Guarulhos Eixo Temático: 04 – Formação de Professor da Educação Infantil (vanessa_lidiane@yahoo.com.br)

Introdução

As redes sociais têm tomado o lugar das interações, das trocas de experiências e da partilha das vivências humanas e em meio a este cenário constituído de complexidade e tensões observamos o dia a dia das escolas que, mesmo após todas as mudanças percebidas na sociedade pós-moderna, as práticas docentes parecem continuar as mesmas, uma tradição que pode impor marcas e subjugar os sujeitos que nela estão inseridos.

Considerar o olhar do sujeito aprendente nos auxilia na reflexão nas indagações que permeiam o debate em torno de que tipo de trabalho se deva realizar na formação de docentes e de crianças. Acreditamos nos processos formativos mediados pelas interações humanas, em que o sujeito apreende aquilo que lhe é significativo na experiência da constituição do conhecimento.

A pesquisa apresentada, de abordagem qualitativa, em fase de revisão bibliográfica, tem como objetivo promover reflexões com professores de educação infantil sobre suas concepções e práticas acerca de infâncias e escola, com base em narrativas de crianças de pré-escola (de 4 e 5 anos de idade) sobre as funções da escola e as formas que vivenciam suas infâncias nos ambientes educacionais, considerando que nas narrativas encontram-se experiências interpretativas da realidade e que, por meio da fala é possível se imprimir as marcas no discurso, como ferramenta de comunicação e, sobretudo como processos de reinvenção de si e promoção de ressignificações.

Este trabalho está dividido em três partes: a formação de professores de

educação infantil, a prática reflexiva, seguido das narrativas e suas contribuições para a formação docente e por fim, e o que as crianças narram? no sentido de indicar

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crítico-reflexivo, de modo que os sujeitos apreendam a significação de suas experiências. Pretende-se com a pesquisa contribuir para processos reflexivos de formação de professores de educação infantil a partir das narrativas do que as crianças pensam e sentem sobre as escolas de educação infantil, contrariando um olhar adultocêntrico presente, de maneira geral, no fazer pedagógico dos professores.

A formação de professores de educação infantil e a prática reflexiva

A trajetória profissional docente é composta por várias nuances, se mostra diversa e não linear, com avanços e recuos. Considerando o ensino como trabalho social, por se tratar de um saber partilhado, as experiências de infância projetam-se na relação com as crianças e por isso a formação docente deve necessariamente ser considerada como processo permanente de reflexão.

O saber docente está relacionado com a constituição dos profissionais como pessoas, a partir de suas experiências, vivências, percursos de historias profissionais e de relações estabelecidas com os seus educandos e com os outros atores. A prática pedagógica se caracteriza como o desdobramento da materialidade histórica docente, ou seja, nas ações do professor emergem atitudes embasadas em suas mais profundas convicções, eis aqui o argumento central para se pensar na docência como prática reflexiva.

Iniciamos este debate considerando que a insuficiência das políticas públicas dirigidas à formação dos professores polivalentes que atuam na educação infantil pela falta de problematização de temas como a valorização da infância e das crianças nos contextos formativos. A perversa consequência deste cenário da formação de professores tem sido não somente a ausência de sentido para a educação como ato político, como também a falta de sentido e o dissociamento do que os professores propõem às crianças nas suas experiências pelas vivências de suas infâncias.

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nos projetos de formação para a ressignificação das práticas docentes, que ocorrem na contribuição sócio-histórica do sujeito, tendo em vista seu processo formativo. Consideramos que a individualidade, as subjetividades e a capacidade humana de se refazer, se reinventar, como possibilidade para a reinvenção de si, podem se configurar como mais uma alternativa para as mudanças de práticas docentes na educação infantil.

As narrativas e suas contribuições para a formação docente

Neste trabalho utilizaremos a escuta de crianças e de professores por meio de narrativas (auto) biográficas, entendendo-as como expressão dos olhares dos sujeitos, sem necessariamente considerar a cronologia e os fatos mas, sobretudo, focamo-nos nas impressões forjadas na autoria do ato de narrar.

A valorização e o uso de competências pessoais, a apropriação da história do outro por meio das narrativas que organizam a memória em uma cronologia própria enumera a importância das experiências vivenciadas. O narrador assume o duplo papel de autor e ator, agregam-se conhecimentos relativos à experiência, tanto para quem narra, quanto para o ouvinte, no que se configura em verdadeiro artesanato intelectual - a narrativa organiza e esquematiza a experiência (BRUNER, 1997) revelando-se assim a individualidade do docente.

Consideramos relevante que os professores de educação infantil levem em conta que as crianças estão também inseridas nas tensões e na complexidade do mundo atual, e considerando o que narram as crianças, os professores podem ter novos elementos incorporados às suas práticas que evidenciem uma nova concepção de infância, que crie possibilidades para a reinvenção de práticas, a fim de proporcionar-lhes vivências significativas nos espaços educacionais/escolares, com espaços para a emergência do protagonismo infantil.

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O que as crianças narram?

A forma como a realidade influencia as infâncias e os olhares das crianças sobre

o mundo, somente serão desveladas a partir da escuta sensível ao que estas dizem. Para Carvalho e Müller (2010) as crianças ao narrarem as experiências vividas buscam ressignificá-las ao seu modo, por isso as autoras destacam a necessidade de se flexionar e alargar as formas de abordagem. Kramer (2011) considera que as crianças desde bem pequenas, criam, imaginam, expressam desejos e emoções e que na mesma faixa etária sofrem ações da estrutura social em que estão inseridas, sendo que em interações com seus pares e com os adultos, elas recriam as culturas em que estão imersas.

A educação infantil constitui-se como um campo de estudos a ser explorado, não somente sob o viés observador, mas, sobretudo, com enfoque na escuta sensível ao que nos dizem as próprias crianças. Assim, para a escuta de crianças em pesquisas é necessário o desenvolvimento de metodologias próprias considerando as características das crianças pequenas na abordagem, respeitando a espontaneidade, o direito de voz, a ética como alguns dos aspectos que devem ser observados.

Nas pesquisas com crianças, há a preocupação em se falar sobre a criança, o que nos faz avançar efetivamente no campo do estudo das escolas das infâncias, ligado mais precisamente ao que ela nos diz, é o que atestam trabalhos como os de Passeggi (2014a), Müller (2009) e Cruz (2008).

Há estudos que caminham ao encontro do uso de narrativas infantis em diversos campos de pesquisas (PASSEGI, 2014a), (CRUZ, 2008) (LEE, 2010), como metodologia que propicia ao sujeito processos reflexivos e consequentemente, em sua formação, uma vez que no ato de narrar se opera o mecanismo da metalinguagemi, mobilizando a reflexão sobre aquilo que se narra. Tomamos como referência os estudos do Grupo de Pesquisa intitulado Narrativas infantis. O que contam as crianças sobre as escolas da infância?, que traz ao campo acadêmico e das políticas públicas educacionais a reinvindicação da escuta de crianças em ambientes educacionais/escolares. ii

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Na dinâmica de escuta apresentada acima, ao falar sobre a escola, as crianças anunciam e denunciam questões sobre o silenciamento, a cessão de direitos e os significados das vivências nesses ambientes educativos. Considerar a palavra da criança como sujeito de direitos, dando-lhe a devida relevância, assevera que sua voz é fonte digna de interesse pelo significado de suas percepções.

Os estudos de Passegi (et al, 2014b) – entre outros - trazem argumentos para a relevância das pesquisas com crianças, a necessidade da escuta para a ressignificação ou o entendimento de circunstâncias ou acontecimentos. Para Larrosa (2002) a verdade não está no que dizemos da infância, mas no próprio acontecimento dela como o novo entre nós. O autor salienta a capacidade das crianças em desestabilizar as convicções dos adultos. Convicções que no campo da educação, de maneira geral, conduzem as práticas docentes e que encontram-se cristalizadas, reproduzindo modelos e práticas que, em muitos casos, não fazem sentido para as crianças pequenas.

A pesquisa com crianças não se caracteriza pela mera escuta, na realidade criam-se possibilidades para a criação autoral da criança, propiciando respostas às indagações sobre o quê elas pensam. Na pesquisa que ora realizamos, a escuta se fará por meio de rodas de conversa da pesquisadora com as crianças, seguindo a metodologia utilizada nos estudos de Passegi (ibidem).

Intencionamos promover a reflexão dos professores polivalentes que atuam na educação infantil com base nas narrativas de crianças sobre escola e infância, podendo conduzir a mudanças em suas práticas e promover processos de reinvenção de si. Nossa pergunta norteadora neste debate busca explicitar a intenção da pesquisa, destacando a aposta em espaços formativos que promovem a ressignificação das práticas e assim, buscar respostas para as contribuições e os desdobramentos que as narrativas (auto) biográficas infantis podem propiciar à formação docente.

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com as crianças e os professores.

Apesar de não se caracterizar como foco de nossa pesquisa a pesquisa-ação, poderá ocorrer uma aproximação desta, considerando que os professores terão acesso às produções das crianças e se propiciará um olhar sobre as práticas docentes pelas lentes das crianças.

A análise dos dados ocorrerá pela triangulação dos dados colhidos de crianças e de seus professores. Serão realizadas as transcrições das rodas de conversas e dos grupos dialogais, analisando-se as narrativas a partir do quadro teórico exposto ao longo do trabalho, destacando-se o olhar sobre como as crianças vivem suas infâncias nesses contextos educacionais e como os professores percebem estas infâncias no que tange as suas práticas.

Durante a análise das narrativas (auto) biográficas buscaremos identificar quais marcas estão impressas nas narrativas, assim como as peculiaridades que revelam a alteridade e a subjetividade no modo como as crianças vivem suas infâncias, ao mesmo tempo em que buscaremos revelar nas narrativas (auto) biográficas de professores a materialidade das construções histórica e culturais que fizeram em seu percurso de vida rumo à docência. O estudo minucioso destas narrativas é o fio condutor do campo epistemológico de nossa pesquisa, sendo que os resultados das análises poderão indicar um possível desdobramento no que concerne a formação dos professores polivalentes que atuam na educação infantil, levando em conta as possibilidades da mudança de prática.

Conclusões

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contrarie a lógica de exclusão social das infâncias menos favorecidas, com novos pressupostos teóricos e práticos, não centrado somente na figura do professor.

A partir das narrativas de crianças e de seus professores pretendemos promover o imbricamento dos olhares desses sujeitos, com base nas perguntas que tornam relevante este estudo: O que pensam crianças e professores da educação infantil sobre infâncias e escola? O quê as impressões das crianças sobre escola produzirá nos professores? Que tipo de influência produz o olhar estranhado do professor sobre as infâncias em suas práticas? As práticas docentes de professores da educação infantil levam em consideração a criança como sujeito de direitos? Quais contribuições as narrativas infantis propiciam à formação docente?

Salientamos a necessidade de novos olhares para a docência, neste tempo que transitamos por diversas correntes pedagógicas e de mudanças vertiginosas na configuração das relações sociais, de modo que a escola não pode ser excluída deste contexto. Assim, faz sentido verificar de que forma ocorre a dialética entre o conhecimento de si e do outro, entre crianças e seus professores, trilhar este caminho da buscar da reinvenção de si como desdobramento dos processos reflexivos na formação de professores polivalentes.

A pesquisa, em andamento, não apresenta conclusões ainda, mas pretende-se com os resultados da mesma, contribuir para os campos da formação e professores de educação infantil e de pesquisas com crianças (e não sobre crianças), que buscam fazer emergir um outro lugar para as crianças e para a infância no contexto da produção de seus direitos aos tempos de infância e à educação de qualidade.

Referências Bibliográficas

BRUNER, Jerome. Atos de significação. Porto Alegre: Artmed, 1997.

CARVALHO, Alexandre Filordi de; MÜLLER, Fernanda. Ética nas pesquisas com crianças: uma problematização necessária. In MÜLLER, Fernanda (orgs.) Infância em perspectiva: políticas, pesquisas e instituições. São Paulo: Cortez, 2010, p. 65-84.

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DOMINGUES, Isaneide. Grupos dialogais: compreendendo os limites entre pesquisa e formação. In PIMENTA, Selma Garrido, GHEDIN, Evandro, FRANCO, Maria Amelia Santoro (orgs). Pesquisa em educação. São Paulo: Loyola, 2006, p. 165-182.

DOMINGUES, Isaneide. O coordenador pedagógico e a formação contínua do docente na escola. São Paulo: Cortez, 2014.

JOSSO, Marie-Christine. Experiência de vida e formação. São Paulo: Cortez, 2004. KRAMER, Sonia. Infâncias e crianças de 6 anos: desafios das transições na educação infantil e no ensino fundamental. Educação e Pesquisa, vol.37, nº1, pg.69-85, jan/abril 2011.

LARROSA, Jorge B. Pedagogia profana: danças, piruetas e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

LEE, N. Vozes da criança, tomada de decisão e mudança. In: MÜLLER, F. (Org.). Infância em perspectiva. Políticas, Pesquisa e Instituições, São Paulo: Cortez, 2010. MÜLLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria (orgs.) Teoria e Prática na pesquisa com crianças: diálogos com W. Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009.

PASSEGGI, Maria da Conceição. Nada para a criança, sem a criança: o reconhecimento de sua palavra para a pesquisa (auto) biográfica. In MIGNHOT, Ana Chrystina; SAMPAIO, Carmen S.; PASSEGGI, Maria Conceição. Infância, aprendizagem e exercício da escrita. Curitiba: Ed. CRV, 2014a, pg. 133-148.

_______________ (et al). Narrativas de crianças sobre as escolas da infância: cenários e desafios da pesquisa (auto)biográfica. Revista Educação. v. 39, n. 1. p. 85-104 jan./abr. 2014b.

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i Metalinguagem- Em sentido literal se configura na linguagem empregada para descrever ou dar significação à própria linguagem.

ii O Projeto em andamento, é financiado pelo Edital de Ciências Humanas [CNPq/CAPES 07/2011-2, Processo

nº 401519/2011-2],e desenvolvido por pesquisadores de seis universidades: UFRN, UFPE, UNICID, UNIFESP, UFF e UFRR. Aprovado pelo Comitê de Ética [Parecer nº 168.818]. A pesquisa integra um projeto internacional “Raconter l’école em cours de scolarisation”, coordenado por Martine Lani-Bayle (Universitéde Nantes), desenvolvido, em rede, por pesquisadores da França, Polônia, Bélgica, Suíça, Brasil (In: PASSEGGI et al, 2014b, p.102).

iii Domingues constrói tal metodologia para a abordagem de professores em pesquisa acerca do Horário de

Referências

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