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Identidade: importância e significados. Quem sou eu? O que eu quero? Qual meu lugar no mundo?

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Academic year: 2021

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CURSO EDUCAÇÃO, RELAÇÕES RACIAIS E DIREITOS HUMANOS

NAYARA DE SOUZA ARAUJO

Identidade: importância e significados

Quem sou eu? O que eu quero? Qual meu lugar no mundo?

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O que define um povo não é a demarcação territorial, a cor de sua pele ou sua língua, mas sim um conjunto de características (políticas, sociais, etc.) que faz dele um grupo identidário, diferenciando-o de outros grupos. É a identidade que faz com que um grupo se diferencie do outro (HALL & WOODWARD, 2000), pois propicia a sensação de pertencimento, fazendo com que cada indivíduo divida a sociedade em dois grupos: nós e eles. Os que são como eu e os que não são. Desse modo, sabemos quem somos por sabermos que não somos o outro. A identidade, portanto, é definida pela diferença, estabelecida por uma marcação simbólica relativa a outras identidades.

Os costumes ou tradições são marcas do conceito de identidade e não apenas um produto da ação humana (DURHAM, 1984); são da própria natureza da ação: algo padronizado e organizado por regras carregadas de significação, que na maior parte das vezes não são percebidas por aqueles que a vivem. Os costumes (formas de pensar, de sentir e de agir) estão fora das consciências individuais (DURKHEIM, 2007) e as regras sociais são sutilmente impostas, só sendo possível de percebê-las se o indivíduo tenta ir ao seu sentido contrário. A identidade, então está internalizada a um ponto que suas características são despercebidas por aqueles que fazem parte do mesmo grupo e apenas é possível tomar consciência que fazem parte de um grupo quando são confrontados por um grupo identitário diferente (HALL & WOODWARD, 2000).

Para a antropologia, todas as identidades são construídas (Kabenguele). A motivação e autoria de tal fenômeno são situadas em um contexto caracterizado pelas relações de força, fazendo com que as identidades surjam por dois principais caminhos: a dominação e a resistência. A primeira visa legitimar sua posição social através da expansão de seus valores, racionalizando sua dominação. Já a segunda, busca resistir e sobreviver, apesar de sua desvalorização e depreciação pela lógica dominante.

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discurso, os direitos foram garantidos primeiro àqueles que tinham o poder. A questão racial, uma das últimas a entrar em pauta, começou a avançar apenas 2001, em Durban, na Conferência Mundial Contra o Racismo, a Xenofobia, a Discriminação e Intolerâncias Correlatas.

No Brasil temos um difícil cenário engessado pelo mito da democracia racial, onde se prega a farsa de que não existe racismo o que gera barreiras a ações afirmativas e demais políticas públicas que visem a diminuição da desigualdade.

A negação da identidade negra é negada desde sua chegada as terras brasileiras, onde ao sair de seu país de origem é forçado a construir uma nova identidade: a brasileira. Porém, por não serem bem quistos pela população dominante da época, os negros passam a viver um fenômeno definido por Darcy Ribeiro como ninguendade, por serem um protobrasileiro por carência, ou seja, um ser sem identidade, apesar de fazer parte de uma nação.

No período da escravidão e também da imigração, diferentes povos tiveram que co-existir no mesmo espaço. Entretanto, para os imigrantes brancos a adaptação era mais simples, já que apesar deles saírem de seus países e, desse modo, perderem parte de suas culturas, eles tiveram espaço para manter parte dela ou de construir uma nova aqui no Brasil. O mesmo, porém, não aconteceu com o negro, que mesmo depois de liberto continuou marginalizado. Como podemos verificar no trecho do livro O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro:

“Temos aqui duas instâncias. A do ser formado dentro de uma etnia, sempre irredutível por sua própria natureza, que amarga o destino do exilado, do desterrado, forçado a sobreviver no que sabia ser uma comunidade de estranhos, estrangeiro ele a ela, sozinho ele mesmo. A outra, do ser igualmente desgarrado, como cria da terra, que não cabia, porém, nas entidades étnicas aqui constituídas, repelido por elas como um estranho, vivendo à procura de sua identidade.” (RIBEIRO, 1995, p.133)

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instituições modernas, mas também do aprimoramento racial de seu povo, o que contribuiu efetivamente para o aprofundamento das desigualdades no país, sobretudo, ao restringirem as possibilidades de integração da população de ascendência africana (SOARES, OSÓRIO & JACOB, 2008).

Essa atitude política criou raízes tão profundas na estrutura da sociedade que, devido a séculos de projeção de inferioridade da raça negra diante da elite branca, nasceu o sentimento de autodepreciação entre os próprios negros. E tal sentimento tornou-se um dos instrumentos mais poderosos da sua própria opressão (TAYLOR, 1994).

A falta de respeito pela cultura e pela identidade do outro marca o grupo oprimido de forma cruel, subjugando-o através de um sentimento incapacitante de ódio contra si mesmo (TAYLOR, 1994). O respeito não é uma questão de educação ou gentileza, mas sim uma necessidade humana vital. Tem-se do texto de Taylor o seguinte trecho:

“A exigência do reconhecimento adquire uma certa premência devido à suposta relação entre reconhecimento e identidade, significando este último termo qualquer coisa como a maneira como uma pessoa se define, como é que as suas características fundamentais fazem dela um ser humano. A tese consiste no fato de a nossa identidade ser formada, em parte, pela existência ou inexistência de reconhecimento e, muitas vezes, pelo reconhecimento incorreto dos outros, podendo uma pessoa ou grupo de pessoas serem realmente prejudicadas, serem alvo de verdadeira distorção, se aqueles que os rodeiam refletirem uma imagem limitativa, de inferioridade ou de desprezo por eles mesmos. O não reconhecimento ou o reconhecimento incorreto podem afetar negativamente, podem ser uma forma de agressão, reduzindo a pessoa a uma maneira falsa, distorcida, que a restringe.” (TAYLOR, 1994, p. 45)

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em si mesmo e o impedisse de ser alguém. Se a identidade existe, como visto no início, como a diferença entre nós e o outro, e diversos condicionantes impedem o indivíduo de ser o que é, e também de fazer parte da cultura do outro; isso faz com que ele seja ninguém. E um “ser ninguém” não possui rosto, identidade, direitos ou poder.

É uma tendência do ser humano em se naturalizar a própria cultura – ou aquela que desejamos nos inserir – como o normal. Quando se faz parte do grupo dominante, é mais simples se naturalizar a cultura própria. Porém quando se faz parte do grupo reprimido, a busca para ser identificado como o grupo dominante é constante, mesmo que de forma inconsciente. Isso é perceptível no dia a dia, onde, o padrão de beleza, por exemplo, são os cabelos lisos e olhos claros são sinônimos de olhos bonitos.

Dentro desse contexto, se fazem necessárias ações coletivas e políticas públicas que visem mudar o status quo de exclusão da sociedade. É preciso que as regras sociais presentes no inconsciente comum mudem e a diversidade torne-se o novo padrão. Dentro da ilusão da democracia racial, no Brasil todo mundo é igual, em tom de discurso apaziguador. Mas, na prática, cada um que “ocupe o seu devido lugar”. A cada nova política afirmativa temos um bloqueio reacionário, levantado por aqueles que não aceitam o outro. Eu e o outro. Nós e eles.

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Referências Bibliográficas

DURHAM, Eunice Ribeiro. Produzindo o Passado: estratégias de construção do patrimônio cultural. Antonio Augusto Arantes (org.). Secretaria de Estado da Cultura – Governo Democrático de São Paulo CONDEPHAAT. Editora Brasiliense, 1984.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 3ª edição. Editora Martins Fontes. São Paulo, 2007

HALL, Stuart & WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Editora Vozes. Petrópolis, 2000.

MUNANGA, Kabengele. Diversidade, identidade, etnicidade e cidadania.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Companhia das Letras. São Paulo, 1995.

SOARES, Sergei; OSÓRIO, Rafael Guerreiro & JACCOUD, Luciana. As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Ipea, novembro de 2008.

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