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BIBLIOTECA~ BRASILEIRAS VISTASPOR BIBLIOTECÁRIOS E USUÁRIOS*ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A b i b l i o t e c a n a s o c i e d a d e b r a s i l e i r a , d e fo r m a p a r a d o x a l e d r a m á t i c a , d e s d e q u e a i n t e l i g ê n c i a m a i s o s t e n s i v a m e n t e p e r m e o u
o
n o s s o s u b d e s e n v o l v i m e n t o , p e r m a n e c e u à p a r t e , d i s fa r ç a d a m e n t e m a r g i n a l . N a s h i s t o -r i a s q u e s e p u b l i c a m n e s t e pais, i n c l u s i v e h i s t ó r i a d a i n t e l i g ê n c i a , n a s d i s s e r t a ç õ e s s o -b r e a c u l t u r a , s o b r eo
e r u d i t o , a s b i b l i o t e -c a s a p a r e -c e m c o m o t r a ç o s c o n s t a t á v e i s . O u n e m a p a r e c e m . E s s a i n c ô m o d a e v i d ê n c i a l e v a àp e r g u n t a : Em que medida as bibliote-cas foram significativas para o desenvolvi-mento da cultura brasileira? Que marca dei-xou ela na formação de intelectuais - pro-fessores, artistas, pesquisadores? E hoje, elatem cumprido a sua função? A o l a d o d e s s a s
i n d a g a ç õ e s - r e s p o n d i d a s p e l a h i s t ó r i a d e c a d a u m - o u t r a s s ã o l e v a n t a d a s e , a g o r a , p a r a b i b l i o t e c á r i o s : Quais são os fatores
que dificultam um desenvolvimento maior
das bibliotecas? Quais elementos impedem
um acesso mais amplo do público?
USUÃRIOS
Em que medida as bibliotecas foram
significativas para o desenvolvimento da
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
* Respostas a questões formuladas pelo prof. Luís Augusto Milanesi, do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP, que iniciou uma enquete entre bibliotecários e usuários de todo Brasil pa' ra futura pesquisa.
D e p o im e n t o s
10, é autor de OP a r a i s o V i a E m b r a t e l , obra
interessantíssima, reveladora de como uma
sociedade do interior paulista se integra (ou
se desintegra culturalmente) na sociedade
de consumo, através da televisão. Pelo
co-nhecimento e divulgação da boa música
brasileira, faz o possível e o impossível, que é um possível ao alcance da vontade. Além de compor a comissão de especialistas que
vem organizando e publicando pelo
Itama-raty a notável coleção de catálogos de
obras dos nossos compositores (os últimos
volumes à minha frente referem-se a
Cláu-dio Santoro, Ernst Malhe, José Penalva,
Morozowicz, Widmer, Kilza Setti, Gilberto
Menses, Carlos Almeida, Adelaide Pereira
da Silva, Mignon.e), bolou um sistema
práti-co e original de práti-comunicação entre autor e
executante de música, pela distribuição de
partituras inéditas, por via universitária,
resguardados os direitos autorais; o
proces-so deixa de funcionar quando a obra é
edi-tada comercialmente, valendo o trabalho,
assim, como a v a n t - p r e m i ê r e do seu
lança-mento, ou como documento de sua
exis-tência se, como tantas outras, não chega a ser publicada. Idéia feliz, que a USP encarn-pou e satisfaz a todos: autores, executantes e público'.
Agora, Luís Milanesi, bibliotecário,
promove um inquérito sobre a
.ínfluência
da biblioteca na formação e
desenvolvimen-to do trabalho criativo dos brasileiros.
"Nós bibliotecários - diz ele - somos
mar-ginais da cultura, mas queremos mostrar
que o nosso serviço tem utilidade". À
pri-meira vista, ele parece querer demonstrar o óbvio. Mas o óbvio muitas vezes precisa ser
demonstrado. Fica tão perto, tão dentro
dos olhos dagente, que não o vemos ... Via
de regra, o administrador brasileiro (e não
estou ofendendo ninguém, cito igualmente
o óbvio) tem pelas bibliotecas um interesse
de superfície e uma indiferença de fundo.
Ora, as bibliotecas! São paragens mortas,
que em vez de clientela política têm pilhas de objetos silenciosos, inertes, até incômo-dos - ocupam um espaço que seria muito
228
R . b r a s . B ib lio t e e o n . e D o e . 1 3 ( 3 / 4 ) : 2 2 8 - 4 2 , ju l. / d e z . 1 960
lll.b r a s . B ib lio t e c o n . e D o e . 1 3 ( 3 / 4 ) : 2 2 8 - 4 2 , ju l. / d e z . 1 9 8 0
229
IJlturabrasileira? Que marca deixou ela na
a formação intelectual? E hoje, ela tem
JIlprido a sua função?
RUNO KIEFER, Compositor e Professor
a
Universidade Federal do Rio Grande doI.
Na qualidade de compositor,
musícó-g o e professor de História da Música e
.úsica Brasileira na UFRGS, devo dizer
ue
sem bibliotecas, tanto a minhaforma-lçãocomo professor quanto a prática do
magistério, tanto o exercício da
musicolo-giaquanto a difusão dos resultados obtidos
teriam sido impossíveis. Por outro lado,
também a minha formação como
composi-tor de música erudita foi feita em grande
parte nas salas de bibliotecas, consultando
desde compêndios de teoria até extensos
tratados de orquestração, história da
músi-caou estética.
Considero como óbvio que o valor de
uma biblioteca é função não só de seus
li-vrose revistas, mas também de seus biblio-tecários. Por esta razão, creio não ser
neces-sário estender-me na enumeração dos
as-pectos que, a meu ver, tornam os
bibliote-cários importantes. De minha experiência
pessoal poderia registrar, em acréscimo,
auxílios 'díretos de muito valor devidos a
bibliotecários.
CARLOS DRUMMOND DE AND RAD E,
eSCritor.
.Esta crônica foi publicada na Folha de
São Paulo em 1 2 de julho de 1 9 7 9
Você e a biblioteca
, Luís Augusto Milanesi, d a E s c o la
Pau-Depoimentos
mais útil se nele plantássemos um big edifí-cio de renda, ou mesmo um estaedifí-cionamen-
estacionamen-to de carros. Nenhum administrador diz
is-so - porém muitos pensam.
Basta lembrar o duro esforço que se faz necessário, pelo regime de licitação
pú-blica, para uma biblioteca especializada
manter-se em dia com as novidades
biblio-gráficas. Encomendar ao estrangeiro? Nem
pensar. Esperar que a obra chegue
à
praçae disputá-Ia a tiro com particulares que têm
dinheiro no bolso, enquanto as· bibliotecas
só o tem no orçamento, e este é
dificilmen-te manipulável a dificilmen-tempo útil?
Milanesi, porém, pretende é
demons-trar, através de depoimentos, o que, apesar
dos pesares, a malsinada biblioteca
brasilei-ra tem feito em benefício de seus usuários
e da obra geral da cultura do País.
Convidado a depor, só tenho a
la-mentar que na minha cidade natal não hou-vesse, como não a havia na quase totalidade das cidades do interior brasileiro, nem
som-bra. de biblioteca. Servi-me, e com que
ape-tite, dos livros e revistas que umas poucas pessoas se davam ao luxo de possuir e à
magnanimidade de emprestar-me. A
peque-na biblioteca do dr. João de Deus Sampaio, as boas coleções de revistas de três moças
encantadoras - Ninita Castilho, Zoraide e
Lalá Diniz - foram a minha biblioteca de
garoto ávido de leitura. Lia e relia o que me
emprestavam, tornava a pedir emprestado e
a reler. .. Muitas páginas guardei de cor pa-ra o resto da vida, com sua composição grá-fica, suas ilustrações.
Então, a biblioteca que não tínhamos na cidade formou-a meu pai, para mim e
meu irmão, adquirindo os 24 grossos
volu-mes da
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
B i b l i o t e c a I n t e r n a c i o n a l d e O b r a s C é l e b r e s , que era miscelânia de tudo que seescrevera de notável, no mundo, desde os
primórdios da literatura. Quanto devo a
esta obra, não posso avaliar. Foi a minha
"biblioteca nacional e universal", um meu
mundo de onde surgiam outros mundos
imaginários.
Mais tarde, Luís Camilo, homem de
idéias, sobretudo homem de iniciativas c
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I ·. d
u-turaís, convocou-me para oarmos à mu .
nl-cipalidade uma biblioteca pública, natur
1-mente modesta, antes núcleo básico doq ~
organização completa. Associei-me ao pr ~
jeto, que foi principalmente obra del~
Com as sucessivas remessas de volumes d~
que dispúnhamos, Luís mandou livros de
escrituração, fichas, e x - l i b r i s desenhado
es-pecialmente. O conjunto ocupou por
al-guns anos um cômodo da Prefeitura, e foi mais tarde doado. _. a um colégio particu_
lar. A hoje rica Prefeitura do município s ó
agora cogita de instalar, no complexo de
" u m centro de cultura, uma' biblioteca
pú-blica para valer, por obra e graça de M y .
riam Brandão, assessora de um prefeito
rea-lizador. Os jovens de hoje terão assim a
chance que nos faltou.
Citei um caso municipal. Poderia
ci-tar muitos. Bibliotecas se multiplicam por
aí, mas quem lhes dá continuidade, apoio e
recursos? Vegetam, normalmente, à falta
de pessoal especializado que as movimente,
ou pelo abandono dos bons bibliotecários,
à sua própria sorte. Muitas são depósitos de
livros mortos-vivos, à espera de leitor, que
não tem hábito de consultá-los, ou não é
motivado para isso por uma divulgação
cor-reta. Tenho a impressão de que nossas
bi-bliotecas rendem infinitamente menos do
que são capazes de render - e a causa está,
certamente, na mentalidade dominante de
que é preciso promover a todo transe o
de-senvolvimento econômico de base çapitalis·
ta, com esquecimento de que o próprio
ca-pitalismo não se desenvolveu senão sobre
bases culturais fornecidas pelas bibliotecas. Dá gosto ver uma ou outra biblioteca brasl'
leira enxameada, ora de estudantes, ora,d~
pesquisadores de alto nível, com senslve
influência na produção de idéias, projetoS e
realizações intelectuais ~ práticas. Para isto
trabalha a classe injustiçada a que perte~c~
Milanesi. Já é tempo de dar a nosSOS~lbI~e
tecários a dignidade pública e os meios.
ação que lhes permitam influir deciSiva'
mente no processe cultural do País.
Você, menino ou adolescente, já pen-u no papel fabpen-uloso qpen-ue a biblioteca
po-exercer no seu destino?
MINGOS PELLEGRINI JUNIOR,
escri-n r .
Me lembro de passar horas, tardes
in-iras, fuçando em bibliotecas quando
ti-a meus 12, 14, ti-até 18 ti-anos. Foi provti-avel-
provavel-ente meu período de mais intensa
aquisi-ão de informações e inquietações
filosófi-s,
intelectuais. As dúvidas brotavam nacabeça como as espinhas na cara, como vul-rles - e não acho Que seria possível sair saudável daquela fase sem a ajuda de
ami-gos,
livros e esporte.Na B i b l i o t e c a P ú b l i c a M u n i c i p a l de
Man1ia, São Paulo, cheguei a irritar o
bi-bliotecário, pois ia sistematicamente pedir
quatro ou cinco livros de poesias, que me punha a ler na mesa da maneira mais ataba-lhoada, aos pulos e pedaços, numa ânsia de
devorar tudo e encontrar não sabia o quê.
U m dia, quando esgotei todos os livros de
poesiana biblioteca, o bibliotecário, um
se-nhor.de meia idade, me disse: "- Muito
bem, você passou em revista toda a seção depoesia. Agora vamos para o quê? Prosa, biologiaou física?"
Para mim era .reconfortante o
am-biente das bibliotecas, como é, por
exem-plo, para tanta gente, o ambiente das
igre-ja s . ..
Não sei, francamente não sei, o que
mefazia (e faz) reverente e fascinado dian-te de livros reunidos - seja numa bibliodian-te- bibliote-ca,seja numa livraria. Kio sei se é possível veicularessa mesma postura - e os
estímu-Io,s
e enriquecimentos resultantes dela - anlVel de massa, em termos de educação
:ro~ramada ou de promoções publicitárias
t
hvro ou da biblioteca. Mas sei quegran-n
e ~arte do que posso e sei, cultural epro-1S~lonalmente, veio daqueles momentos
SOhtáriosde procura e aventura dentro du-ma biblioteca. Não sei se é possível exigir
1
Depoimentos
educacionalmente ou sonhar simplesmente
que todos passem por isso, mas gostaria de que passassem. A solidão entre os livros me
preparou, inclusive, para u m adensamento
das relações conviviais. Aprendi em
biblio-tecas, acredito, mais do que aprendi nos
bancos escolares.
, Nunca li um livro por obrigação, só
por prazer e necessidade (não exatamente profissional, mas necessidade existencial de ler). Vejo tantos escolares lendo por obri-gação e em seguida detestando livros para o resto da vida. Me dói ver isso. Acredito que é missão de todos nós""':'educadores,
edito-res! bibliotecários, escritores, pais -
estrei-tar e tomar proveitosas e agradáveis as
rela-çõesentre os livros e osjovens. Esta é uma
das mais complexas e importantes
campa-nhas em que se podem empenhar esforços e ciência.
EURICLYDES DE JESUS ZERBINI,
Pro-fessor Titular de Clínica Cirúrgica do
Hos-pital das Clínicas da Universidade de São
Paulo.
A importância da biblioteca na
infor-mação e formação do médico, qualquer
que seja a área de sua atividade, é
funda-mental, quer seja na atividade assistencial,
didática, de pesquisa ou na administração.
Portanto, a biblioteca deve ser
enca-.rada como setor necessário às necessidades
específicas da cultura médico-científica' e
ao docente cabe a responsabilidade de
des-pertar aos estudantes, residentes e médicos
jovens, o interesse para a freqüência
cons-tante às bibliotecas, o que reverterá em
aprimoramento de sua cultura médica.
Nesse sentido é que sempre
encara-mos o assunto da pesquisa bibliográfica e
orientamos a nossa formação
médico-cien-tífica.
LAURO DE OLIVEIRA LIMA, educador.
Sempre senti, agudamente, o
prejuí-zo que a falta de bibliotecas causava a meu
trabalho e quando, por acaso, existia
bi-blioteca, a falta de habilidade dos
bibliote-cários de pô-Ia
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
( a g r e s s i v a m e n t e ) àdisposi-ção do público (basta saber que as bibliote-cas funcionam nas horas em que todos
tra-balham, creio que originalidade bem
brasi-leira). O intelectual brasileiro, para
manter--se razoavelmente informado do que se
pu-blica, tem que dispender 50% de sua renda mensal na aquisição de livros (meu caso). O
intelectual americano dispõe de cerca de
20.000 bibliotecas públicas, sem contar as
de seu departamento e as da universidade.
A capacidade ociosa de minha biblioteca
(5.000 volumes) é d o l o r o s a (já pensei em
fazer uma associação de intelectuais para
pormos em comum nossos livros, mediante um fichário central). Como eu, deve haver
centenas de possuidores de bibliotecas m o r
-t a s , apesar do pesado investimento (um
li-vro é uma máquina que deve estar sempre
funcionando e máquina não funciona sem
chofér). Tivesse poder de decisão, investiria
metade do orçamento c u l t u r a - e d u c a ç ã o em
bibliotecas, espalhadas por todo o país. O
governo deveria comprar de cada edição de livro cerca de dez ou vin te mil exemplares
para distribuir com todas as bibliotecas
mu-cipais e escolares (assim, montaríamos uma
indústria livreira, característica dos países
civilizados). Um livro é um investimento
para 100, 200 ... 1000 anos! !!.Quando fui
Depoimentos
do Ministério da Educação tentei criar U rede de bibliotecas públicas federais (n~a
se pode esperar dos deficitários mUni .a
pios), mas fracassei. Tentei também,
p~r
CADES, criar bibliotecas volantes: fraca~
so ... O atual ministro diz que vai cuidar dS
cultura: se ele deixar o país com milhar/
de bibliotecas, ficará na história... Na~
grandes capitais do país (pelo menos) de. veria haver uma biblioteca de livros estran. geiros: com o atual câmbio já não se Pode
acompanhar a produção científica do exte.
rior. Toda biblioteca deveria assinar as
re-vistas estrangeiras mais importantes (de
ca-ráter cieritífico). Etc., etc., etc. Este
pro-blema de bibliotecas é um dos mais graves do país: não temos onde ler. A edição de
um livro é de 3.000
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a -5.000 exemplaresnum país de 120 milhões de habitantes!!!
Todas as edições de todos os livros deJ o r
-ge Amado (autor popular) somam um mio
lhão de exemplares ( I ! " ) . No orçamento da
Repú blica deveria haver uma consignação,
especialmente destinada a B I B L IO
-T E C A S. A meu ver, a formação dos
bi-bliotecários deveria ser de alto nível: é ele
que vai orientar o consulente, num país co-mo o nosso sem hábito de leitura. Acho
que só no Brasil é possível existir escola
sem sua respectiva biblioteca ... Bem, o
te-ma é de ute-ma gravidade que não pode ser a-bordado, assim, levianamente.
BIBLIOTECÁRIOS
Quais são os fatores que dificultam
um desenvolvimento maior das
bibliote-cas? Quais elementos impedem um
aces-so mais amplo do público?
ANTONIO ACENaR BRIQUET DE
LE-MOS, Departamento de Biblioteconomia,
Universidade deBrasílía, D.F.
Creio que esses .obstáuclos são de
dois tipos. O primeiro deles é intrínsecO
às formas de que se revestem as bibliote-cas neste país e de como essas instituições
se inserem no contexto social ou, de
mo-do mais imediato, na ambiência das entida-des a que estão ligadas. O segundo tipo de
obstáculo está nos próprios usuários, que,
na maioria das vezes, são mais usuários em potencial do que usuários efetivos.
Se analisarmos profundamente cada
um desses dois tipos de obstáculos,
certa-mente encontraremos diferentes níveis de
'. pIe·
tropeços, uns mais outros menos com I
xos, e também verificaremos que há re a·
es muito estreitas entre os problemas de
nho institucional e os de tipo indidual.
A pergunta é excessivamente ampla,
lortanto. Procurando ater-me ao nível
es-culativo, pois me é pedida uma opinião,
lu e não está muito longe do que os
ingle-5 chamam de i n t e l l i g e n t g u e s s w o r k ,
'ecendo, assim, do fundamento
numero-,gico que tanto seduz os pesquisadores
IOntemporâneos, direi que:
_ Na sociedade dependente e
subde-senvolvida, no campo da. informação
especializada, não bastá ao
indiví-duo somente ter acesso à informação.
Ele também quer possuir
fisicamen-te os suportes da informação. E,
quanto menos indivíduos de seu
CÍr-culo de atuação tiverem acesso
à
mes-ma informes-mação, melhor ainda. A
pos-se exclusiva de um conhecimento, de
uma informação de que não se dá a
origem, é um elemento de prestígio
social. Ainda se mede a cultura e a
erudição pela extensão das
bibliote-cas particulares.
O advento das copiadoras
xerográfi-cas certamente melhorou a
utiliza-ção das bibliotecas, pois essas
máqui-nas facilitam ao usuário a posse do
documento em reprodução
fac-simi-lar.
2 -
A complexidade da informação que asociedade como um todo exige de
seus membros está ainda num nível
básico, podendo ser razoavelmente
atendida pelos materiais de estudo
mais comuns, como os livros de
tex-to universitários. Quando aumenta a
complexidade, a informação é
forne-cída sob a forma de pacotes
tecnoló-gicos, que basta deglutir. V.g.:
in-dústria automobilística, indústria
far-3 macêutica, energia nuclear, etc.
- De um modo geral, as bibliotecas
ain-da são corpos estranhos ao
organis-mo social coorganis-mo um todo.
Identifi-cam-se particularmente com as
aspi-rações e os mitos das chamadas
"eli-Depoimentos
tes intelectuais" e, mais amplamente,
com as classes dominantes e suas con-cepções de cultura.
4 - Ao nível interno da biblioteca,
po-de-se dizer que, na. maioria dos
ca-sos, o seu esquema organizacional,
suas técnicas e tecnicismos, os
'nos-sos cacoetes profissionais e a
atitu-de atitu-de atitu-defesa da integridaatitu-de
patrimo-nial são elementos que compõem
es-se amplo leque de obstáculos à
pres-tação de serviços aos usuários.
5 - Como disse, a pergunta é ampla.
Pa-ro por aqui, pois, caso contrário,
pa-ra ser mais preciso, teria de escrever várias páginas.
CEcíLIA ANDREOTTI ATIENZA,
Direto-ra do Centro de Documentação e
Informá-tica da Câmara Mun'cinal de São Paulo.
Existem muitos obstáculos, encontra-dos pelas bibliotecas e centros de
documen-tação, para servir adequadamente aos
usuá-rios dentre os quais podemos citar:
1 -
os
e s p e c i a l i s t a s , n o s d i a s d e h o j e , p r o -d u z e m g r a n d e q u a n t i d a d e d e i n fo r -m a ç ã o , p o r é m n ã o a p u b l i c a m n o s m e i o s c o n v e n c i o n a i s . Como se nosdepara, a informação produzida para
a investigação não é difundida pelos
meios convencionais de publicação.
Os centros de documentação e
biblio-tecas têm que ir em busca da inmação, onde ela é gerada em sua
for-ma original e desenvolver sistemas
conformes para a sua disseminação
imediata aos usuários.
2 - p r e o c u p a ç ã o i n s u fi c i e n t e p o r p a r t e d a s b i b l i o t e c a s e c e n t r o s d e d o c u -m e n t a ç ã o e m c a r a c t e r i z a r o s e u u s u á -r i o , s u a s performances e o s c o m p o r -t a m e n -t o s q u a n t o a o u s o e o b t e n ç ã o d a i n fo r m a ç ã o , b e m c o m o o s s e u s h á -b i t o s d e fr e q ü ê n c i a à s B i b l i o t e c a s .
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1 9 8 03 -
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
a s b i b l i o t e c a s e c e n t r o s d e . d o c u m e n -t a ç ã o a p r e s e n t a m , d e " u m a fo r m a g e -r a l , m u i t a s p r o p o s t a s d e r e a l i z a ç ã o d e a t i v i d a d e s e m v e z d e e n c o n t r a r s o -l u ç õ e s i m e d i a t a s d e n t r o d e u m m a r -c o d e a ç ã o , a i n d a q u e l i m i t a d o , i m -p o s t o p e l a s i t u a ç ã o p r e s e n t e .Senti-mos que as bibliotecas e centros de
documentação precisam de uma
maior conscientização quanto à sua
obrigação de desenvolver métodos
inovadores, eficazes e rápidos, para
colocar nas mãos dos especialistas a
informação de que necessitam, tendo
em mente que a informação não
po-de esperar e precisa ser manipulada
de imediato.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
4 - fa l t a d e i n i c i a t i v a p e s s o a l d o p r o fi s -s i o n a l e m o b t e r i n fo r m a ç õ e s , e s t e j a e l a o n d e e s t i v e r . O bibliotecário
mo-derno tem o dever funcional de
di-zer ao usuário: "Isto é de seu
interes-se". Para tanto, ele necessita de um
esquema rápido e ágil, que
proporcio-ne a possibilidade de recuperação
imediata, não só do acervo bibliográ-fico, como, também, da
documenta-ção específica. O especialista precisa
saber o que se tem publicado na área
de seu interesse e também ter base
suficiente para decidir se gasta ou
não seu tempo em ler o documento na íntegra.
S - o s e s t u d o s s o b r e u s u á r i o s e s t ã o s e n d o e l a b o r a d o s d e u m a fo r m a q u e n ã o c o n t r i b u e m p a r a m e l h o r a r a t r a n s fe -r ê n c i a d e i n fo r m a ç ã o . Existe uma:
grande porcentagem de estudos de
usuários onde aparecem perguntas
óbvias demais como, por exemplo:
"Você estaria interessado em fazer
uso de um serviço de perguntas e
res-postas?"; ou então: "Você estaria
in-teressado em receber um serviço de .
resumos sobre sua área de trabalho?". Muito mais útil seria estabelecer ser-: viços e logo. medir sua eficácia por
meio do comportamento dos 'que
re-cebem O serviço. Os estudos até e
tão realizados são mais quantita~:
vos, simples contagem de uso do rna, terial e freqüência às Bibliotecas, nâ'o
refletindo os hábitos e atitudes dos
usuários.
6 - imagem e r r ô n e a d o p r o fi s s i o n a l b i -b l i o t e c á r i o . Existe uma visão distor_
cida sobre o profissional bibliotecá_
rio por parte dos empregadores, por
culpa (talvez?) do próprio bibliote.
cário, quando se pensa que o traba_
lho desse profissional resume-se em
fazer fichas e ordenar o acervo
bi-bliográfico.
Poderíamos ir além, mas acredita_
mos como pontos Básicos os acima
men-cionados.
DIV A CARRARO DE ANDRADE,
Bi-bliotecária da Faculdade de Filosofia,
le-tras e Ciências Humanas da USP.
O obstáculo fundamental que as
bi-bliotecas e centros de documentação
en-contram para servir a seus usuários éa fal-ta de pessoal especializado. Diríamos mes-mo, a falta de pessoal. A maioria de nossas
bibliotecas sofre da falta de pessoal
espe-cializado ou não. Encontram-se em
mui-tas bibliotecas pessoas com gabarito pa·
ra realizar bom serviço de referência e que são desviadas de sua função para suprir os serviços técnicos, o grande elefante branco
das bibliotecas brasileiras. Na medida em
que os serviços técnicos poderiam ser alivia-dos através de redes de bibliotecas, serviçoS
centralizados, automação, etc., seria
possí-vel prover, corri elementos especialmente
treinados, um serviço mais personalizadO
no atendimento ao usuário. Este, sim, é um
jrabalho que não envolve tecnicisrno ou
au-tomação somente, que necessita de um co'
nhecimento profundo do acervo com que
se está envolvido, para realizar um
atendi-19)
retor de bibliotecas (duas
universitá-rias e uma pública), ora usuário
de-las, como professor e pesquisador.
Lamento dizer que minha
experiên-cia como usuário de bibliotecas e
centros de documentação não foi, no
Brasil, tão feliz quanto o foi na Euro-pa e nos Estados Unidos. Até na Bi-blioteca Nacional de Paris - tão
criti-cada pelas restrições que impõe a
consulentes desconhecidos - fui
mui-to bem sucedido. Vejo, no caminho
que leva o usuário às bibliotecas e
centros de documentação do Brasil,
três obstáculos: mais, portanto, do
que a "pedra no meio do caminho"
do poema de Carlos Drummond de
Andrade.
Acervos insatisfatórios, pela falta de
obras atuais e por numerosas falhas
nas coleções de periódicos.
Exem-plos recentes. de minha experiência
quanto a periódicos: (a) precisei de
consultar determinado número da
re-vista P r é s e n c e Africaine, verificando
ser justamente ele que falta na
cole-ção da Biblioteca Central da Univer-sidade de Brasília; embora seja uma
publicação importante para a nossa
política externa e para nosso relacio-namento com os novos países africa-nos, a referida publicação não se en-contra nas demais bibliotecas
brasilei-ras, segundo informação escrita da
Biblioteca Nacional; (b) procurei o
volume 11, de 1917, da revista ingle-sa S c i e n c e Progress, para consultar
artigo pioneiro de estatística
biblio-gráfica: na Biblioteca Central da UnB
falta exatamente o referido volume!
Não é preciso ser bibliotecário para,
saber que as coleções de periódicos
podem ser facilmente completadas,
graças' à Reprografia. Basta examinar as coleções e anotar as falhas. Quan-to às obras recentes, seria interessan-te que se estudasse um meio de ad-quirí-Ias menos sujeito às peias
buro-nto orientado ao leitor "perdido" em
ío a fichas e textos indecifráveis, sem as
haves" proporcionadas por elementos
n1Petentes.
A falta de pessoal para o bom
aten-ento do usuário não se faz sentir
so-ente na atenção direta do usuário, mas
OSserviços-meio que envolvem um
servi-de referência. No caso específico das
libliotecas de Ciências Sociais, isso se faz
ntir principalmente na falta de
indexa-lão, levantamentos bibliográficos,
tradu-ees. Por não se tratar de área técnica,
pre-onizada por nossa super-estrutura
gover-amental, como área de interesse prioritá-rio,é a mais escassa na disseminação
sele-tiva da informação. Não há o aspecto de
elevância qualitativa das publicações, bem
orno nenhum serviço de comutação
inter-'áreasdesenvolvido, Os esboços de um
en-trosamento maior entre entidades afins é
bastante débil e insuficiente, e isso se
de-ve primordialmente ao baixo estímulo
desenvolvido pelas organizações oficiais.
quese reflete na constante falta de
recur-!OSpara um desenvolvimento
programa-do ao nível de atendimento
usuário/bi-~lioteca.
EDSON NERY DA FONSECA, Professor Titular da Universidade de Brasília, Depar-tamento de Biblioteconomia.
Desde que me graduei em Bibliote-conomia, tenho sido ora chefe ou
di-234
- Id 1 9 80I ~ .b r a s B i b l ic r á t ic a s .
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Encontrei na bibliotecacen-tral da Universidade de Colurnbia
(Butler Library), todas as
segundas-feiras, as obras que haviam sido
obje-to de recensões·no
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
N e w Y o r k T i m e sdos domingos imediatamente
anterio-res. E isso acontecia graças a um
acordo entre a biblioteca, o jornal e
os editores das obras apreciadas. Por que, em vez de seguirmos este
admi-rável exemplo norte-americano,
imi-tamos apenas o que a
biblioteco-nomia dos Estados Unidos tem de
mais obsoleto, como, por exemplo, a
Classificação Decimal de Melvil
De-wey?
29) Horários inconvenientes para a maior
parte dos usuários. Os conceitos de
biblioteca e de centro de documenta-ção se opõem, de modo irrecusável,
ao conceito de repartição
governa-mental, "com livro de ponto,
proto-colo e manifestações de apreço ao
sr. diretor", para citar conhecido
ver-so de Manuel Bandeira. Quando os
usuários mais precisam de serviços bi-bliográficos, eles estão fechados,
co-mo típicas repartições públicas, isto
é: durante a noite, aos sábados,
do-mingos e feriados. Uma biblioteca
digna deste nome deveria estar
sem-pre aberta, como os hospitais de
Pronto Socorro.
39) Os bibliotecários, com raras
exce-ções, não têm interesse pela
pesqui-sa e, portanto, pelos pesquisadores.
O lema "servus servorum scientiae"
foi esquecido. Quando a biblioteca
não possui o documento procurado,
o bibliotecário diz isto ao usuário e
pronto: que ela vá embora e passe
bem. A falta de interesse é, muitas
vezes, fruto da ignorância. Se o
bi-bliotecário não sabe nada além da
Bi-blioteconomia, como pode se
interes-sar pelas angústias bibliográficas dos especialistas? Por isso, sempre consi-derei o bibliotecário generalista como
Depoimentos
uma utopia pretensiosa. Todo bibli).
tecário deveria ser, além de forllla~
em Biblioteconornia. especialista o
(mesmo autodidaticamente) em de.
terminado campo do conhecimento
científico ou humanístico.
MARIA TERESINHA DIAS DE ANDRA.
DE, Bibliotecária-Chefe da Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Pau. 10.
As bibliotecas e centros de documen.
tação contam com vários obstáculos que
se interpõem ao atendimento do seu
usuá-rio, decorrentes, principalmente, do fato de
se encontrarem localizados em País assim
dito em desenvolvimento, onde a
impor-tância das bibliotecas ainda não é
reconhe-cida como processo de desenvolvimento
científico e tecnológico. A partir daí,
po-demos definir alguns pontos principais que
impedem o desenvolvimento do serviço de
referência das Bibliotecas universitárias
es-pecializadas, em particular no campo da
saúde.
1 - O problema começa na formação dos
acervos. Em geral as bibliotecas não têm verba suficiente para o
desenvol-vimento dos acervos. Todavia, nem
sempre esta falta de verba correspon· de à realidade; muitas vezes, tratam-se de questões ligadas à falta de
reco-nhecimento do significado da
biblio-teca por parte dos administradores,
de vários escalões, o que prejudica
a dotação orçamentária das
bibliote-cas. Além da questão dos parcos
or-çamentos, as bibliotecas padecem da
falta de uma política de aquisição,
compatível com as atividades de
do-cência e de pesquisa da universida'
de. Quase não há, inclusive, pianOS
para avaliação das coleções, basea'
da na utilização do acervo, cujos
re-2:36
R. bras. Bibliotecon. e Doe. 13 (3/4): 228.42, jul.ldez. 1 9 8 0sultados servirão de base para se for-mular uma política de aquisição.
II - Um outro problema é a falta de
co-leções organizadas, com catalogação
e classificação- em dia, permitindo a
pronta divulgação e circulação do
material bibliográfico processado.
Es-te problema decorre não só da falta
de pessoal profíssíonal e auxiliares,
como também por falta de maior
conscientização, por parte do
biblio-tecário, da importância de se
colo-car o acervo adquirido acessível aos
usuários, simplificando técnicas de
processamento.
3 - Um outro aspecto, bastante
impor-tante, é a falta de bons serviços de
referência, que procurem não só
pro-porcionar ao usuário amplos meios
para utilização dos recursos
bibliográ-ficos, como também transformar as
informações em novas formas de
dis-seminação.
4 - Outro fator importante que
obstacu-Ia o atendimento do usuário é a
fal-ta de serviços cooperativos entre as
bibliotecas, em todos os níveis. Por
exemplo, aquisição planificada,
em-préstimo-entre-bibliotecas,
comuta-ção hemerográfica, etc. É bem
ver-dade que na área da saúde algumas tentativas já foram e estão sendo
fei-tas para 'intensificação dos serviços
cooperativos. Todavia, ainda não há
uma infra-estrutura que garanta o
bom funcionamento dessa
coopera-ção.
Outro fator importante é a falta de
obras de referência especializadas ,de
obras nacionais,. atualizadas e
com-pletas. Pois, apesar da área da saúde
possuir uma respeitável coleção de
índices e abstracts internacionais, a
questã<,>da língua se constitui,
mui-tas vezes, em barreira para o usuário.
Além do mais, há problemas
tipica-mente locais, que só podem ser resol-vidos com soluções locais.
bras. Bibliotecon. e Doe.
13
(3/4): 228·42, jul./dez. 1980 Depoimentos6 - Outro fator que obstacula o
atendi-mento do usuário é o próprio
usuá-rio. Em geral, mesmo na área des a ú
-de, os usuários ainda são inexperien-tes .no uso da biblioteca e no uso da
bibliografia especializada. Portanto,
são de muita importância os cursos
de orientação ao usuário,já ministra.
dos por alguns bibliotecários da área
da saúde.
7 - Outro fator importante é a
forma-ção do bibliotecário, pois não
have-rá. boas bibliotecas e bons serviços-se
o bibliotecário não for bem
treina-do. Por exemplo, os bibliotecários do
campo da saúde deveriam ter cursos
de especialização biomédica e se
familiarizarem com os problemas da
área, conhecendo melhor os recursos
bibliográficos e a melhor maneira de
u tilízá-los.
Em resumo, podemos defmir os
se-guintes problemas:
1 - Falta de reconhecimento do valor das
bibliotecas e centros de
documenta-ção e do papel do bibliotecário.
2 - Falta de uma política de seleção e
aquisição para formação dos acervos.
3 - Falta de coleções organizadas e de
serviços de disseminação da informa-ção.
4 -
Falta de serviços cooperativos entreas bibliotecas e centros de documen-tação.
5 -. Falta de treinamento do usuário e do
bibliotecário.
P. S. Gostaríamos ainda de acrescentar
al-go sobre nossa experiência na Biblio-teca da FSP.
I. I
Dos problemas levantados acima
po-demos afirmar que muitos deles foram
di-rimidos, a partir de luta constante de
sen-sibilização dos administradores e do
cor-po docente desta Faculdade. Conseguimos, por exemplo:
1 - Manter um acervo atualizado no que
se refere principalmente à coleção de
periódicos e de bibliografias. corren-tes.
Manter o processamento técnico em
dia.
Manter um serviço -de referência com bibliotecário treinado.
Fazer disseminação da informação
não só através da circulação do
acer-vo, de boletins bibliográficos, como
também da produção de bibliografias e de serviços de alerta.
6 - Treinar'o usuário através de cursos
formais.
7 - Contar com dois bibliotecários com
curso de especialização em saúde pú-blica.
8 - Possuir número razoável de
funcioná-rios, comparado com a média das bi-bliotecas.
9 - Manter serviço de atendimento
'espe-cial a alunos de pós-graduação,
atra-vés de convênios.
Todavia, com todas estas conquistas,
o atendimento do usuário ainda sofre
obs-.táculos, decorrente, principalmente, da
fal-ta de uma infra-estrutura que garanta o
for-necimento das informações desejadas, em
curto espaço de tempo. Todas as fases de
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
b u s c a d e i n fo r m a ç õ e s , principalmente no
que se refere a localização e obtenção, são
bastante morosas e dependentes de uma
equipe de funcionários (Bibliotecários,
au-xiliares e serventes) que possam atender à
demanda do serviço. Atualmente contamos
com 1 bibliotecário, 1 auxiliar e
esporadi-camente com 1 servente para dar
cober-tura ao fornecimento das informações
so-licitadas.
Além disso, a falta de um
atendimen-to mais rápido por parte das bibliotecas
Com as quais fazemos intercâmbio,
cons-titui-se em outro fator de atraso no aten-dimento.
Tudo isto traz frustações ao bibliote-cário e ao usuário.
Estas questões talvez pudessem ser
racionalmente resolvidas se se pudesse
con-tar com grandes bibliotecas centrais por
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
R . b r a s . B ib lio t e c o n . e D o e . 1 3 ( 3 / 4 ) : 2 2 8 - 4 2 , ju l. / d e z . 1 9 80 2
3
4
238
D e p o im e n t o s
áreas do conhecimento, a exemplo da" N
tional Library of Medicine". É muito rn
a-fácil e rápido obter informações dessa Ba~s
1
-blioteca nos EUA do que recorrer a biblio_ tecas locais.
A própria BIREME, que se proPõe a fazer um tipo de centralização para o aten.
dimento das bibliotecas biomédicas, ainda
não conseguiu uma infra-estrutura capaz
de atender à demanda da área num nível ideal.
MAY BROOKING NEGRÃO, Diretora do
Departamento de Bibliotecas Públicas da
Prefeitura Municipal de São Paulo.
A questão proposta nos parece ser
muito genérica, o que pode levar a respos.
tas do mesmo tipo e, portanto, sem real
significação ou valor científico.
A questão, a nosso ver, poderia
ter sido formulada mais objetivamente, nos seguintes termos:
Os autores (citar) indicam os
seguin-tes obstáculos na relação usuário/bibliote .
ca (citar). Visando a comparar os
resulta-dos obtiresulta-dos com a situação atual,
solici-tamos sua opinião quanto à ocorrência dos mesmos no país, ou de outro que não te-nham sido enumerados.
Genericamente, como a pergunta
ori-ginal, daremos nossa opinião, baseando-nos
em conhecimento empírico, sem valor de
observação científica:
- Falta
de
preparo destes - dois ele·mentos do processo de comunicação;
o bibliotecário e o leitor que não
têm, a princípio, a necessária lingua·
gem comum, por falta de instruçãO
sobre o uso de bibliotecas e de seuS
instrumentos, da parte do usuário,
e falta de treinamento para manter
diálogo com- seu usuário, da parte
do bibliotecário.
NANCY WESTPHALEN CORREA,
Coor-denadora do Curso de Biblioteconomia e
cumentação da Universidade Federal do aná e Presidente do CFB.
Em g e r a l os maiores problemas
en-otrados pelos usuários nas bibliotecas
'asileiras são: falta de instrumentos
ade-ados para recuperação da informação,
rvo insuficiente e não atualizado
(difi-Idade de importação, verbas pequenas) e
ta de pessoal treinado nas técnicas de re-Irênciae documentação.
CE FIGUEIREDO, Departamento de
Bi-,uoteconomia, Universidade de Brasília.
Os obstáculos mais destacados, sob o onto de vista administrativo. são o
trinô-úo: verba/pessoal/instalações, Mas estes
bstáculos podem ser superados pelo
bi-,uotecário que souber impor a sua posição
e profissional responsável, for
combati-0, perseverante e, principalmente, provar
ue os serviços que presta são relevantes
sua comunidade, qualquer que ela seja.
é aqui, realmente, que surge o problema
'e "servir aos usuários". Geralmente, os
rviços bibliotecários têm sido criados
instalados sem a preocupação devida com
:elação aos seus possíveis usuários. Foi
Iressuposto, com base em conceitos
anti-s, opiniõeanti-s, idéias, sugestões,
experiên-:~s de outros, etc., etc., que os usuários 'euma biblioteca ou de um centro de
do-lumentação necessitam, usualmente, de
iIlacoleção de livros, de periódicos, e de ais alguma coisa, bem como de serviços 'rganizados, como um canal para a
aquisi-'o de materiais, um catálogo, um
servi-de empréstimos, etc.
Mas, hoje em dia, não se deve mais eitar que caríssimos serviços
bibliotecá-s bibliotecá-sejam ebibliotecá-stabelecidobibliotecá-s com base em
me-S "conceitos". A t-arefa primeira do
bi-I b r a s .B ib lio t e c o n . e D o e . 1 3 ( 3 / 4 ) : 2 2 8 - 4 2 , ju l. ! d e z . 1 9 8 0
bliotecário é a de saber o quê, exatamente,
é de interesse, importante e necessário à
sua comunidade. Partindo deste
levanta-mento, devem ser estabelecidos os
objeti-vos da biblioteca/centro de
documenta-ção, i.e., devem as coleções e os serviços ser criados e estabelecidos devidamente. Desde
que a biblioteca/centro de documentação
sirva de fato aos interesses maiores da sua
comunidade, não lhe faltará verba/pessoal/
instalações, pois que a comunidade atuará
como elemento de apoio para qualquer
reinvidicação que se tornar necessária. E
reinvidicações sempre serão necessáriâs, daí
a combatividade e perseverança acima
ci-tadas, pois é sabido que nunca haverá o su-ficiente e tudo o que houver nunca será o
bastante para atender por completo às
ne-cessidades individuais dos usuários. Daí, a necessidade de uma avaliação constante dos
objetivos, e, por conseguinte, das coleções
. e dos serviços bibliotecários, a fim de
colo-ca-los no nível demandado pelas
necessida-des da clientela.
PAULO DA TERRA
CALDEIRA,Profes-sor, Escola de Biblioteconomia da
Univer-sidade Federal de Minas Gerais.
Em atenção a seu pedido sobre os
obstáculos mais destacados que as
biblio-tecas e centros de documentação
encon-tram para servir seus usuários, tenho a des-tacar os seguintes:
1 - desconhecimento dos recursos das
bi-bliotecas e centros de documentação pelos usuários;
2 - interação usuário/bibliotecário a fim
de se conhecer realmente as suas ne-cessidades (dos usuários).
3 - melhor desempenho dos 'profissionais
de biblioteconomia.
4 - melhor aparelhamento (organização,
etc.) das bibliotecas e centros de
do-cumentação ) j
5 - cooperação (catálogo coletivo, em-préstimo entre bibliotecas, etc.) entre. as bibliotecas e centros de
documen-tação de uma mesma localidade ou
região;
6 - maiores verbas para aquisição de
ma-terial bibliográfico (em alguns casos).
REGINA CÉLIA MONTENEGRO DE
LI-MA, Presidente da Associação Brasileira de
Escolas de Biblioteconomia e
Documenta-ção (ABEBD).
Nossa opinião é de que o serviço da
biblioteca e dos centros de documentação
pode ser otimizado mediante treinamento:
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 - Treinamento de bibliotecários que
atuam no atendimento ao Usuário.
2 - Treinamento do usuário no uso de
serviços e fontes.
Consideramos que os maiores
obstá-culos são de ordem pessoal em questões
de conhecimentos, relacionamento
huma-no, comunicação e habilidades específicas,
tanto do pessoal da instituição quanto do
pessoal que busca serviços.
TANIA R. MENDES, Escola de
Adminis-tração de Empresas de São Paulo, Funda-ção Getúlio Vargas.
É um bocado difícil definir quais são
os obstáculos numa ordem de prioridades,
Prefiro apontar os obstáculos mais
abran-gentes.
Sem querer ser pessimista, a
Biblio-teca
e-
o Centro de Documentação, comosão entendidos' e organizados atualmente
no Brasil são, de certa forma, obstáculos
em si, entre o leitor e a informação, à
me-dida em que se movem
fundamentalmen-te como elementos ideológicos, formais e
D e p o i m e n t o s
. conservadores. São formas de instituCio
1 · - d b
na-" IZaçao o sa er.
Nesse sentido, os obstáculos T U •
b t derí di idid ais
a rangen es po enam ser IVI I os ern
tr-categorias ou regiões problemáticas, pr~~
fundamente. interrelacíonadas, e rnacro_
contextuadas:
a - obstáculos infraestruturais;
b - obstáculos superestruturais;
c - obstáculos estruturais e/ou organiza_
cionais.
I1no plano da lógica formal e são
impró-ias por isolarem o plano do pensamento plano da ação transformadora.
A predominância do formalismo na
ática e na reflexão biblioteconômica.
ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
N o p l a n o m a c r o
A inexistência da demanda de
pes-uísa. (aqui concordo em gênero, número e au, com o que você escreveu no último iÚmeroda revista da FEBAB).
Como pano de fundo de todos estes
a _ obstáculos infraestruturais: bstáculos estaria o pressuposto da
exis-Todas aquelas conhecidas 1 ência de um "Leitor essencial", de um
Ho-amenta_ Consci t lt h H
ções dos bibliotecários sempre pre did em nscien e, cu o, umano - um 0
-ce as . 'fi t ' 1 "
da palavra fa l t a . em sigru ican e uruversa - ja que a
bi-falta de recursos fmanceiros h blioteca não se organiza a partir dos
ho-nos, etc. . . ' uma- men: re~~s ~c?ntraditórios~, ou da
~o~tex-Mesmo que os recursos infraestrun; niaçao istórica da pesquisa. A!
B:bhote-rais existissem em abundância os ob t' _ case os Centro de Documentaçao sao
pen-, s acu d " d d id "" ' 1
los não seriam eliminados, isto porque o sa os no mun o asI.elas e so evam em
problema da relação biblioteca/usuário não conta aspe~t,os cul~ural~ ab~tra~os, e não os
se resolve apenas ao nível da quantidade, c?n~reto~'.Ja que IS:O implicaria em q~e o
como propõe a maioria dos modelos oro~Ibh~te.cano ta~?em t~masse d:~lsões
ganizacionais adotados. I~~ol?gl~as_e p~htlcas, e Isto a sua
cons-ciencia mgenua não pode admitir, à
medi-b - obstáculos estruturais e/ou organiza- da em que fere a tão decantada
neutralida-cionais: deda ciência.
As bibliotecas e Centro de Documen- Enquanto não se equacionarem estas
tação são organizados com base nos currf- questões de princípio (ou pelo menos
en-culos das escolas de bíblioteconomía, em quanto n ã o se saber que elas existem no
unidades estanques, e não como sistemas ato de atendimento ao leitor), não
adianta-- organismos vivos adianta-- reunindo tarefas de lá arranjar formas milagrosas e/ou "treinar
mesma natureza e que exijam os mesmos usuários", que elas serão apenas mais um
pré-requisitos para serem efetuadas. por" P i r i n d e n g u e " incompreensível para o
exemplo, as tarefas de tombamento e cata· usuário.
logação não passam, na maioria das vezes,TEREZINE ARANTES FERRAZ D'
to-de datilografias padronizadas, , e, no entan' ra da Dívisão. em de Info - D' ire ta
l' rmaçao e ocumen
a-to, na estrutura das bibliotecas, adqu~ ção Científicas Instit to d P ,
d '- ' 't'nOs ,u e esqUlsas
status e serviços autonomos ~ pn~n a : Energéticas e Nucleares da Universidade de
Isto acaba gerando duplicaçao des~e. SãoPaulo,
cessária de tarefas e conseqüente esbanja
mento dos recursos infraestruturais,
dispO-níveis ou mínimos,
obstáculos superestruturais: ~ Com referência à sua enquete sobre
. . Os"obstáculos mais destacados que as
bi-N o p l a n o m i c r õ . j l I ' bliotecas e centros de documentação
en-As linguagens documentárias 'move Ontram para servir seus usuários",
permic
-D e p o i m e n t o s
to-rne abordar o problema de forma
opos-ta, ou seja, falar das medidas adota das por nós para transpor esses obstáculos.
Os comentários que se seguem
re-fletem a nossa ótica do assunto,
adquiri-da e desenvolviadquiri-da por força da
convivên-cia com usuários de bibliotecas universitá-rias e especializadas.
Eu diria que o problema tem raízes
mais antigas, decorrentes das condições
próprias que norte aram (ou não norte
a-ram) a criação das bibliotecas, e não uma
conotação atual, imediata, decorrente de
condições presentes, como sugere o
enun-ciado da questão proposta, se é que
inter-pretei corretamente.
A tradição brasileira de criação de
bi-bliotecas raramente leva em consideração
estudos sobre as características da
comu-nidade à qual os serviços das bibliotecas
são destinadas, daí resultando, muito
pro-vavelmente, a situação atual quando se
as-sume haver "obstáculos" para servir o
lei-tor.
Os supostos obstáculos seriam
redu-zidos à sua devida proporção se os
biblio-tecários tivessem compreensão de que o
es-tudo prévio dos serviços que se pretende
projetar para a biblioteca· têm que
corres-ponder às ansiedades do usuário e não a
uma materialização dos devaneios do
bi-bliotecário,
Esse a l h e a m e n t o , essa desvinculação,
esse intencional desconhecimento da
finali-dade última da biblioteca é que está
trazen-do o bibliotecário a essa situação
lastimá-vel de desconhecer o seu senhor - o
LEI-TOR, a quem diz servir.
E mais, Instituições edificadas sobre
o NADA tendem a ruir. Se a casa foi
erigi-da sem prever as necessierigi-dades de seu dono,
ele a utiliza irrelevantemente,
inconseqüen-temente, e sua ruina não o afeta, antes lhe
passa despercebida. Ao contrário, a casa
planejada para corresponder aos anseios e
perspectivas do seu dono, passa a ter para
ele valor de coisa inestimável, insubstitu
í-vel, imprescindível.
, , . .. I/d z 19SOJ.bras B 'b l ' ,
Assim, se a enquete tem por objeti-vo saber o que penso, diria:
Para mim, esses "obstáculos" têm a
exata proporção, uma vez que nas duas
ocasiões da minha vida profissional em que tive o privilégio de "inst~lar" uma
bibliote-ca, iniciei pelo prévio conhecimento das
ca-racterísticas, condições e perspectivas da
comunidade à qual essas bibliotecas se
des-tinavam.
Dentre as várias maneiras de se iden-tificar esses ítens, optei pela observação do
comportamento dessa comunidade e a
ver-balização de suas perspectivas expressa
me-diante respostas à questões contidas em
questionários a ela distribuídos.
A partir da tabulação e avaliação des-sas respostas é que os serviços foram proje-tados e monproje-tados.
Seria por demais elementar pensar-se
que a simples identificação das
necessida-des do leitor garante a eliminação dos
cha-mados "obstáculos". Não. Eles existirão
sempre, mas confinados à sua devida
pro-porção e, por isso mesmo, controláveis e
sucestíveis de correção mediante a
aplica-ção sistemática de medidas que eu
chama-ria de "normais", em contraposição ao
mo "obstáculo" que rejeito pelo signi
do nele implícito.
Dentre as medidas corretivas "
mais" para superar os "obstáculos"
bem servir aos usuários, eu mencion
1 - racionalização na aplicação de ve
de forma que o programa de aq
ção corresponda aos objetivos/i
tuição, perspectivas/usuário;
2 facilidades empréstimo/circulação
produção;
3 - adequação das condições físicas
biblioteca e das coleções;
4 - provisão de pessoal especializa
qualificado na área de consulta
tudo/referência;
5 - provisão de programas permane
de educação do leitor sobre o uso biblioteca/coleções;
6 - provisão de material elucidativo
o uso da biblioteca/coleções;
7 - serviços de alerta, a grupos, e ind
duais.
Espero que essas considerações o'
respondam a idéia subjetiva que, imagi
está compreendida na sua enquete.