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Viver em Portugal após a reformaAntónio Fonseca*

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Migrações _ #10 _ Abril 2012 179

Viver em Portugal após a reforma António Fonseca*

A emergência de uma nova realidade associada à presença de um cada vez maior número de imigrantes idosos em Portugal não pode ser desligada de dois fenómenos que têm dominado a cena internacional nas últimas décadas: a globalização dos mo- vimentos migratórios e o envelhecimento da população. Juntos, estes dois processos contribuíram para alterar não apenas a idade e a composição étnica das populações, designadamente dos países europeus, mas também para introduzir novidades nas relações sociais em comunidades onde a presença de imigrantes mais se faz notar.

Chega-se a imigrante idoso por duas vias: ou envelhecendo no país para onde um dia se foi viver sem regresso definitivo ao país de origem, ou pela deslocação para um novo país, geralmente após a reforma, gozando aí a fase do ciclo de vida coinci- dente com a velhice. Centrarei a minha análise nesta segunda realidade, crescente em Portugal e apontada mesmo pelo atual Ministro da Economia como uma área de interesse nacional, defendendo que a atração de reformados, nomeadamente do Norte da Europa e das Ilhas Britânicas, acarretaria consigo um potencial considerá- vel de investimento.

As motivações que levam um número considerável de pessoas a deslocarem-se para um novo espaço de vida, numa idade em que a capacidade de adaptação pode apre- sentar já algumas limitações, são muito variadas, desde a procura de novas expe- riências e relações à busca de um clima mais ameno que possibilite viver mais tempo ao ar livre, aproveitando todas as possibilidades de vida ativa daí decorrentes.

Dentro da Europa, o movimento de pessoas reformadas do Norte para o Sul, parti- cularmente notório desde a década de 1980 do século XX, foi certamente facilitado pela harmonização dos quadros legais e cívicos no espaço da atual União Europeia.

Com efeito, uma decisão como a compra de uma segunda habitação em Portugal ou Espanha tornou-se muito mais atrativa e confortável para um Inglês ou para um Holandês a partir do momento em que as transações económicas ganharam um caráter de maior transparência e segurança. A cada vez maior semelhança entre modos de vida, sobretudo no espaço urbano, as facilidades abertas pela Internet e, mais recentemente, a difusão generalizada de viagens low-cost, terão igualmente contribuído para que um número cada vez maior de europeus “do norte” pondere ou concretize mesmo a vivência da sua reforma nos países do sul da Europa.

Deslocadas para o novo país de acolhimento na sequência de uma opção clara e de- liberada, estas pessoas reúnem todas as condições para usarem o seu tempo livre e

* Universidade Católica Portuguesa.

FONSECA, António (2012), “Viver em Portugal após a reforma”, in MACHADO, Fernando Luís (org.), Revista Migrações - Número Temático Imigração e Envelhecimento Ativo, Abril 2012, n.º 10, Lisboa: ACIDI, pp. 179-180.

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as capacidades físicas e cognitivas ainda disponíveis no sentido do desenvolvimento de vidas produtivas. O contraste com o que habitualmente evocamos como a con- dição de imigrante é flagrante: enquanto os imigrantes idosos que assumem essa condição somente após a reforma estão na vanguarda do que hoje designamos por

“envelhecimento ativo”, assumindo uma postura inovadora e criativa face ao último terço da vida, os imigrantes idosos que o são porque nunca deixaram de ser imi- grantes cultivam, na velhice, modos de vida marcados pelas maiores ou menores dificuldades e desvantagens que marcaram a sua condição de adultos e contam-se, frequentemente, entre os mais pobres e excluídos sob o ponto de vista da inserção social.

É através de ações individuais e da interação com outros que as pessoas influenciam os sistemas onde vivem, criam condições para o seu próprio desenvolvimento e ge- ram uma função circular entre si mesmas e o ambiente. Embora tratando-se de um grupo bastante diferenciado sob o ponto de vista económico (quando comparado com a imagem que habitualmente representa a condição de imigrante), tal não significa, porém, que os reformados idosos a viver em Portugal experimentem uma integração plena no funcionamento social.

Uma compreensão mais apurada da realidade representada por estes novos imi- grantes, não apenas em termos de estilos de vida mas igualmente em termos das respetivas necessidades e dos contributos que poderão trazer às comunidades onde vivem, constitui um desafio para a gerontologia social. De facto, não estamos sim- plesmente perante “turistas de permanência prolongada” ou “investidores”, mas sim na presença de cidadãos dotados de forças, capacidades e talentos individuais que podem ser demonstrados através do desempenho de papéis sociais.

Apresentando habitualmente um padrão de vida marcado pela curiosidade, pela abertura a novas experiências e pelo prazer da descoberta, os imigrantes idosos que nos chegam do Norte da Europa constituem um autêntico “ativo ecológico” que deve ser estimulado através do envolvimento em atividades de cariz desenvolvimental (por exemplo, frequência de atividades culturais, de aprendizagem, de voluntariado) e que, também por isso, poderão funcionar como modelos para os restantes cida- dãos mais velhos de nacionalidade portuguesa.

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