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REUNIÕES DE ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO E GRUPOS REFLEXIVOS DE GÊNERO

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Academic year: 2021

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REUNIÕES DE ACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO E GRUPOS REFLEXIVOS DE GÊNERO

(Projeto n° 1/2017)

Setores Técnicos da Vara Oeste de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

Alexandre Tetsuo Shimura Cláudio de Carvalho Rossi

Daiane da Silva Ferreira Eiko Iha Hashizume

Katia Ackermann

Viviane Costa Carvalho Marques

Dezembro / 2017

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1. Introdução

Desde o nascimento somos ensinados a compreender e a agir de acordo com os papéis femininos e masculinos que nos são atribuídos e estabelecem padrões de comportamentos e relacionamentos. Nesta construção social, características biológicas masculinas e femininas são transformadas em desigualdades relativas à personalidade, à hierarquia de poder e ao acesso e usufruto de direitos. Naturalizadas por nossa cultura, tais desigualdades são perpetuadas individual e coletivamente, reproduzidas tanto por homens como por mulheres nas práticas cotidianas.

Nas últimas décadas muitos movimentos sociais questionaram a desigualdade entre homens e mulheres produzindo avanços e transformações nos valores e papéis atribuídos aos gêneros masculino e feminino. No entanto, o processo é gradual e ainda percebemos a prevalência de valores machistas, aqueles que negam às mulheres direitos e prerrogativas concebidas socialmente como masculinas.

Chama a atenção a persistência e o elevado número de casos de violência contra a mulher em todo o mundo. No Brasil, os dados configuram panorama preocupante: de acordo com os dados do Mapa da Violência 2015 (Cebela/Flacso) “com uma taxa de 4,8 assassinatos em 100 mil mulheres, o Brasil está entre os países com maior índice de homicídios femininos: ocupa a quinta posição em um ranking de 83 nações”1. Outra pesquisa, desenvolvida em parceria pelo Instituto Avon e o Datapopular2 (2011), afirma que 3 em cada 5 mulheres jovens já sofreram violência em relacionamentos, sendo que 27%

das entrevistadas declararam já ter sofrido violência grave.

1http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf, acessado em 07/04/2016

2 Fonte: Pesquisa “Violência contra a mulher: o jovem está ligado?” Data Popular/Instituto Avon.

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Tal quadro clama por iniciativas que enfrentem o problema e ações que rompam com a lógica vítima / agressor, abordando o fenômeno da violência doméstica contra a mulher a partir da complexidade que a constitui, considerando os aspectos históricos da construção de gênero e a densidade das relações afetivas nas situações concretas. Este é o ponto de partida para a elaboração deste projeto.

2. Justificativa

O projeto Cá entre Nós nasceu da percepção dos setores técnicos das Varas de Violência Doméstica do Butantã e de Santo Amaro de que a abordagem deste fenômeno a partir do judiciário não pode ser insensível ao enfrentamento das múltiplas e complexas dimensões da violência doméstica e familiar contra as mulheres. Nos anos de 2016 e 2017 o projeto foi voltado para o atendimento dos homens envolvidos em situação de violência, na modalidade de grupo reflexivo. Para 2018 planejamos novas ações, atuando de forma mais abrangente a partir da demanda recebida pelo judiciário.

A primeira é a ampliação da atividade de caráter reflexivo, de modo que serão oferecidos dois grupos, um para os homens e outro para as mulheres. A escolha pelo atendimento em grupo deve-se ao fato deste ser um dispositivo privilegiado onde os participantes poderão dialogar entre si, falar, escutar e se colocar na posição do outro, percebendo que uma mesma história pode ter pontos de vistas distintos. Serão abordados temas ligados ao impacto e à expectativa social dos papeis de gênero, aí incluído o machismo presente na sociedade, bem como as formas de violência, sutis e manifestas, que decorrem desta situação. E, embora de mesma metodologia, tais grupos não terão os mesmos objetivos.

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Aos homens busca-se uma reflexão e a flexibilização da narrativa que propicie maior responsabilização da pessoa pelas suas ações e consequências, possibilitando outras formas de se relacionar, se colocar no mundo e exercer o papel masculino, legitimando formas não violentas de solução de conflitos. Assim, nossa aposta é a oferta de um espaço de fala e escuta que visa abrir espaço para esses homens colocarem palavras onde elas faltaram, de forma a possibilitar a ressignificação pelo sujeito da sua própria história e, a partir daí, um maior leque de escolhas para além da violência e para o exercício de sua masculinidade.

As mulheres busca-se uma reflexão e a flexibilização da narrativa que vise a não culpabilização da pessoa pela situação de violência vivida. Um espaço de acolhimento e escuta que proporcione apoio e fortalecimento emocional, viabilizando a ampliação das redes sociais primárias e secundárias.

A nossa aposta é, aqui, contribuir para empoderamento desta mulher e auxiliar a criação de condições que possibilitem a ela a superação da situação de violência.

Além dos grupos reflexivos, o presente projeto propõe a realização de reuniões de acolhimento e orientação para os envolvidos nos inquéritos policiais e medidas protetivas. Tais reuniões já ocorrem, em moldes semelhantes, voltadas para as mulheres e nossa proposta é, a partir de agora, ampliar esta atividade também para os homens, em reuniões separadas. Para as mulheres, o objetivo é oferecer orientações jurídicas e processuais, apresentar o ciclo da violência e os aspectos de gênero envolvidos, bem como a rede municipal e estadual de atendimento. Os homens também receberão orientações jurídicas, com ênfase na defesa, e serão apresentados ao ciclo da violência destacando-se as atitudes e expectativas machistas que frequentemente permeiam as relações afetivas.

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3. Objetivos

3.1. Geral

• Implantar e executar reuniões de acolhimento e orientação para homens e mulheres envolvidos nos inquéritos policiais e medidas protetivas.

• Implantar e executar os grupos reflexivos de gênero para homens e mulheres envolvidas em situação de violência doméstica contra a mulher.

3.2. Específicos

• Acolher e orientar as mulheres envolvidas em situação de violência, promovendo o seu fortalecimento a partir da contextualização social e da possibilidade de ampliação de significados para as experiências vividas.

• Promover, por meio de ações reflexivas, a desconstrução dos papéis masculino e feminino, apontando as determinações sociais e históricas envolvidas e permitindo a ressignificação de práticas e a construção de formas não violentas de relacionamento e solução de conflitos.

• Divulgar e sensibilizar outros órgãos sobre a importância do atendimento aos homens envolvidos em situação de violência doméstica, com vistas à implantação desta modalidade de intervenção na cidade de São Paulo.

• Contribuir para o fortalecimento da rede de atendimento no Enfrentamento da Violência Doméstica e Familiar e para a produção de conhecimento nas questões relacionadas a gênero e violência doméstica.

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4. Público alvo

Mulheres e Homens envolvidos em inquérito policiais, ações penais e medidas protetivas que tramitam na Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Fórum Regional do Butantã.

O grupo reflexivo voltado aos homens será restrito aos denunciados por ameaça e/ou lesão corporal leve, sem comprometimento mental ou dependência química e que não tenham cumprido pena de reclusão (excetuando-se os casos de prisão temporária em flagrante referente ao processo em pauta, ou em outros processos de violência doméstica).

Para as mulheres, os critérios de exclusão para participação no Grupo Reflexivo, são: questões psiquiátricas e dependência química grave.

Tais critérios levam em conta a possibilidade de aproveitamento do grupo pelo(a) participante, o que poderia ser prejudicado se houvesse a necessidade de atenção a outras demandas prioritárias.

5. Metodologia – Acolhimento 5.1. Triagem

No início de cada mês serão selecionados os inquéritos distribuídas no mês anterior, identificando-se os envolvidos na situação de violência. Estes serão convidados a comparecerem no fórum para as reuniões previamente agendadas, em datas distintas para homens e mulheres.

5.2. Reunião de Acolhimento e Orientação

Serão reuniões mensais, com duração aproximada de duas horas.

A primeira parte será reservada a abordagem das questões jurídicas e processuais, para a qual serão convidados operadores

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do direito. A segunda parte, voltada para as questões ligadas a gênero e violência, será organizada pelo setor técnico.

5.3. Pós Grupo

Os profissionais do Setor Técnico estarão disponíveis para quem desejar orientação individual.

6. Metodologia – Grupo Reflexivo

6.1. Triagem

A possibilidade de participação no grupo reflexivo será oferecida a todos os que participarem das reuniões de acolhimento. Os interessados serão convidados para uma entrevista individual com a finalidade de expor mais detalhadamente os objetivos do programa, verificar interesse/disponibilidade em participar e identificar se estão presentes os critérios para participação.

6.2. Grupo Reflexivo

Será um grupo fechado, com um ciclo de 14 encontros temáticos semanais, com duas horas de duração. Cada encontro poderá ter uma dinâmica relacionada a um tema específico, levantando pontos pertinentes a serem discutidos, enriquecidos com a experiência pessoal de cada participante. Considerando o melhor aproveitamento do grupo, limitamos o número de participantes a um máximo de dezesseis. O grupo contará com, no mínimo, dois facilitadores.

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7. Materiais e Recursos Humanos

8.1. Infraestrutura e materiais: sala com capacidade para 60 pessoas, 60 cadeiras, 1 mesa, notebook, datashow, canetas hidrográficas, folhas sulfite, flip chart.

8.2. Recursos Humanos: facilitadores e técnicos para realização dos grupos e das entrevistas inicial e final (assistente social ou psicólogo);

segurança.

9. Referências

ALVARENGA, Augusta Thereza de; PRATES, Paula Licursi. Grupos Reflexivos para Autores de Violência contra a Mulher. In: Feminismos e Masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher/

coordenação Eva Alterman Blay. - 1 ed. - São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.

ALVES, Sandra. L.B; DINIZ, N. M. Eu digo não, ela diz sim: a violência conjugal no discurso masculino. In: Revista Brasileira de Enfermagem. 2005 jul-ago; 58(4):387-92.

ANDRADE, Leandro Feitosa. Grupos de Homens e Homens em Grupo:

novas dimensões e condições para as masculinidades. In: Feminismos e Masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher/

coordenação Eva Alterman Blay. - 1 ed. - São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.

BARBOSA, Sérgio. Movimento Social, Militância e trabalho com homens.

In: Feminismos e Masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher/ coordenação Eva Alterman Blay. - 1 ed. - São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014.

BRASIL. LEI MARIA DA PENHA. Lei N.°11.340, de 7 de Agosto de 2006.

BRASIL. Secretaria de Políticas para Mulheres. Diretrizes para implementação dos Serviços de Responsabilização e Educação dos Agressores, 2011. Disponibilizado em: http://www.spm.gov.br/sobre/a-

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secretaria/subsecretaria-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-

mulheres/pacto/servico-de-responsabilizacao-do-agressor-pos-workshop.pdf.

GROSSI, Patrícia.K; TAVARES, André T.; OLIVEIRA, Simone. B. A rede de proteção à mulher em situação de violência doméstica: avanços e desafios. In: Athenea Digital – núm. 14:267-280 (outono, 2008) – CARPETA.

PESQUISA INSTITUTO AVON/IPSOS 2 º estudo Percepções sobre a violência doméstica contra a mulher no brasil, 2011.

ROSA, Antonio. G; BOING, Antonio F.; BÜCHELE, Fátima; OLIVEIRA, Walter F.; COELHO, Elza B.S. A violência conjugal contra a mulher a partir da ótica do homem autor da violência. In: Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.3, p.152-160, 2008.

SAFFIOTI, Heleieth I. Já se mete a Colher em Briga de Marido e Mulher. In:

São Paulo em Perspectiva. vol.13 no.4 São Paulo Oct./Dec. 1999.

Referências

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