UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
IGOR RIBEIRO CARVALHO
PROJETO DE PESQUISA
A CARTA AUSTRÍACA DE 1920 E SEUS PRINCÍPIOS NUCLEARES: DAS
CONSEQUÊNCIAS DO INGRESSO NA UE E DA PROBLEMÁTICA DA
SOBERANIA
ALUNO DE ENSINO MÉDIO NÃO PRO
FISSIONALIZANTE E A PSSIBILIDADE DE ESTÁGIO
EM ÓRGÃO
IGOR RIBEIRO CARVALHO
A CARTA AUSTRÍACA DE 1920 E SEUS PRINCÍPIOS NUCLEARES: DAS
CONSEQUÊNCIAS DO INGRESSO NA UE E DA PROBLEMÁTICA DA SOBERANIA
Monografia apresentada ao Curso de Direito da
Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para obtencao do
Título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Profa. Dra. Theresa Rachel Couto
Correia.
FORTALEZA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito
C331c Carvalho, Igor Ribeiro.
A carta austríaca de 1920 e seus princípios nucleares: das consequências do ingresso na UE e da problemática da soberania / Igor Ribeiro Carvalho. – 2013.
64 f. : enc. ; 30 cm.
Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2013.
Área de Concentração: Direito Internacional e Direito Constitucional Comparado. Orientação: Profa.Dra. Theresa Rachel Couto Correia.
1. Soberania. 2. Direitos fundamentais - Áustria. 3. União Européia. I. Correia, Theresa Rachel Couto (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.
IGOR RIBEIRO CARVALHO
A CARTA AUSTRÍACA DE 1920 E SEUS PRINCÍPIOS NUCLEARES: DAS
CONSEQUÊNCIAS DO INGRESSO NA UE E DA PROBLEMÁTICA DA SOBERANIA
Monografia apresentada ao Curso de Direito da
Faculdade de Direito da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para obtencao do
Título de Bacharel em Direito.
Orientadora: Profa. Dra. Theresa Rachel Couto
Correia.
Aprovada em ____/____/_______ .
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profa. Dra. Theresa Rachel Couto Correia (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_______________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Régis Frota Araújo
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_______________________________________________________
AGRADECIMENTOS
A Deus, sempre e por tudo.
À minha família
–
especialmente representada na pessoa de minha mãe, Rosa Magalli
Cunha Ribeiro Carvalho, fonte inesgotável de força e determinação inigualáveis
–
à minha
irmã, Vívian Ribeiro Carvalho, com quem tantas vezes pude desabafar, e ao meu irmão, Vitor
Ribeiro Carvalho, por saber me distrair nas horas certas.
A meus grandes amigos que estiveram ao meu lado durante esta caminhada
acadêmica: Airton Jorge, Alexandre Torres Vasconcelos, Emanoel Carvalho, Erick
Esmeraldo, e George Freitas; mas também ao Diogo Portela, ao Patrick Bezerra e ao Thiago
Brito, pela ajuda oferecida.
À minha professora orientadora, Theresa Rachel Couto Correia, pelo precioso auxílio
no desenvolvimento deste trabalho, imprescindível para sua conclusão e aprimoramento,
incentivando-me a progredir em meus momentos de incerteza e dúvida, meu muito obrigado.
Aos professores Francisco Régis Frota Araújo e Raul Carneiro Nepomuceno, por,
prontamente, e com muita cordialidade, aceitarem compor minha banca, pelo que lhes sou
bastante grato.
À professora Tarin Cristino Frota Mont’Alverne
pelo incentivo proporcionado ao
longo de meu curso e por recomendar-me à professora Theresa Rachel.
Aos meus amigos de longa data, jamais esquecidos: Adrianno Santos, Galeno Rocha e
Gabriel Sobreira Lopes
A uma família especial, causa direta da eleição deste tema monográfico: An die
Behams meinen herzlichen Dank, denn Ihr habt mich vollkommen inspiriert, ein bisschen
über dieses fantastisches Land schreiben zu wollen. Österreich wäre nicht mal halb so gut
ohne Euch, und doch immernoch gut genug!
RESUMO
Trata o presente trabalho do Estudo do Direito Constitucional Austríaco, com o enfoque em
seus princípios fundamentais (Baugesetze). Para tanto, a obra se concentra em três pontos: 1)
na construção histórica do Direito Constitucional Austríaco; 2) na apresentação dos princípios
nucleares da Carta de Viena: trazendo discussões doutrinarias e constitucionais a este
respeito; 3) na relação Áustria-União Europeia, a partir do ingresso austríaco nesta
organização: donde se discute a questão da restrição da soberania austríaca, da agressão ao
núcleo constitucional e dos efeitos jurídicos resultantes. Objetiva-se a melhor compreensão do
funcionamento do Direito naquele País e da grande influência exercida pela União Europeia
nos ordenamentos jurídicos nacionais.
ABSTRACT
The present work is about the Austrian constitutional law, focusing on its fundamental
principles (Baugesetze). Thus, three points are considered: 1) the historical construction of the
Austrian constitutional law; 2) the introduction of the nuclear principles of the constitution of
Vienna: providing updated doctrinal and constitutional discussions regarded to this subject; 3)
the relation Austria
–
European Union, after the Austrian membership in the organization:
specially considering the limitation of the Austrian sovereignty, the aggression on its
constitutional core and the resulting juridical effects. Therefore, this work intends to provide a
better comprehension of the Austrian Law and the immense influence that the European
Union exercises in national juridical orders.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Abs
Absatz
–
parágrafoAEUV
Vertrag über die Arbeitsweise der Europäische Union
–
TFUEArt
Artikel
–
artigoBPräs
Bundespräsident
–
chefe de EstadoBR
Bundesrat
–
espécie de senadoBReg
Bundesregierung
–
executivo, gabineteBVG
Bundesverfassungsgesetz
–
Constituição - ÁustriaB-VG
Bundes-Verfassungsgesetz
–
Constituição - ÁustriaB-VGN
Bundes-Verfassungsgesetz-Novelle
–
revisão constitucionalbzw
beziehungsweise
–
respectivamente; ou sejaCF
Constituicao Federal
dh
das heißt
–
significadies
dieselbe
–
o mesmoetc
et cetera
EU
Europäische Union
–
União EuropeiaEU
União Europeia
EuGH
Europäischer Gerichtshof
–
Tribunal de Justiça EuropeuEUV
Vertrag über die Europäische Union
–
Tratado da União Europeia
G
Gesetz
–
leiGG
Grundgesetz
–
Constituiçã o - Alemanhainsb
insbesondere
–
em especialiS
im Sinn
–
no sentido (de algo); conforme (algo)iSd
im Sinne des (der)
KPÖ
Kommunistische Partei Österreichs
–
Partido Comunista AustríacoNR
Nationalrat
–
Parlamento NacionalÖVP
Österreichische Volkspartei
–
Partido Popular AustríacoSlg
Sammlung
–
reunião, coleçãoSTF
Supremo Tribunal Federal
StGG
Staatsgrundgesetz über die allgemeinen Rechte der Staatsbürger
StV
Staatsvertrag
–
Tratado InternacionalStV St. Germain
Staatsvertrag von St. Germain vom 10. 9. 1919
StV Wien
Staatsvertrag von Wien vom 15. 5. 1955
TFUE
Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia
VfGH
Verfassungsgerichtshof
–
Supremo Tribunal FederalVwGH
Verwaltungsgerichtshof
–
Supremo Tribunal AdministrativozB
zum Beispiel
–
por exemplo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 13
2. DA FORMAÇÃO GRADUAL DA CONSTITUIÇÃO AUSTRÍACA... 15
2.1 Da monarquia constitucional... 15
2.2 Do período republicano... 16
2.2.1 Da instabilidade política e reformas constitucionais... 18
2.2.2 Da escalada do autoritarismo: dissolução do Congresso e Supremo... 20
2.3 Da Constituição autoritária de 1934... 21
2.4 Do desenvolvimento da Segunda República... 22
2.4.1 1945-1955: Do período de relativa soberania... 23
2.4.1.1 Da Grande Coalizão e da fragmentação do Direito Constitucional... 24
2.4.2 Do Tratado de 1955 e do retorno à soberania... 26
3 DO NÚCLEO CONSTITUCIONAL... 28
3.1 Do significado e problemática... 28
3.1.1 Breve paralelo com a Carta Brasileira de 1988... 31
3.2 Dos princípios fundamentais austríacos... 32
3.2.1 Do princípio democrático... 32
3.2.2 Do princípio republicano... 34
3.2.3 Do princípio federativo... 36
3.2.4 Do princípio do Estado de Direito... 38
3.2.5 Do princípio da separação dos poderes... 41
4 O ESTADO CONSTITUCIONAL AUSTRÍACO NO ÂMBITO DA UNIÃO
EUROPEIA... 45
4.1 Da União Europeia e da supranacionalidade... 46
4.2 Características do sistema jurídico europeu... 48
4.2.1 Validade autônoma... 49
4.2.2 Aplicabilidade direta... 51
4.2.3 Prioridade em relação ao direito nacional... 51
4.2.4 Da atipicidade do Direito Comunitário em relação ao Direito Internacional
e a problemática do procedimento de transformação... 52
4.3 Das fontes do Direito Comunitário... 55
4.3.1 Direito originário... 55
4.4 Da adesão austríaca à União Europeia e a agressão ao núcleo
constitucional... 56
4.4.1 Da agressão ao princípio democrático... 56
4.4.2 Da agressão ao princípio do Estado de Direito... 57
4.4.3 Da agressão ao princípio da separação dos poderes... 59
4.4.4 Da agressão ao princípio federativo... 60
5. CONSIDERACOES FINAIS... 62
1. INTRODUÇÃO
[...] Der Beitritt Österreichs zur EU hat die Position des staatlichen (österreichischen) Verfassungsrechts als rechtliche Grundordnung tiefgreifend verändert.
Staatliche Souveränitätsrechte sind in großem Umfang auf die EU übergegangen. [...]
Die in Österreich maßgebende rechtliche Grundordnung wird seit dem Beitritt zur EU nicht allein durch österreichisches Verfassungsrecht, sondern überdies und in starkem Maße durch Recht der EU bestimmt. (ADAMOVICH et al., 2011, p. 19)1
Atualmente, tem-se apostado de forma crescente em uma nova tendência redefinidora
dos limites do espaço jurídico nacional. Surge a consciência e a prática da internacionalização
do Direito como fato fundamental e necessário à manutenção de uma sociedade internacional
cada vez mais complexa, em que o individual dá vez ao coletivo, ao sistêmico. Como sustenta
Varella (2013, p. 84):
Temas antes regulados pelo direito doméstico ou que não eram objeto de tratamento jurídico passam a ser tutelados pelo direito internacional, pelos sistemas regionais de integração, por organizações internacionais ou mesmo pelo direito de outros países, a partir de normas com caráter extraterritorial. Trata-se de um novo cenário, marcado pela maior importância do internacional ou do estrangeiro em temas que antes eram tipicamente nacionais.
Com efeito, ocorre frequentemente o fenômeno da interdependência crescente dos
Estados em seus mais diversos campos, como alternativa para solução de questões e dilemas
comuns à presente gama de ordenamentos jurídicos, assim Bulos (2011, p. 98) “
[...] as
constituições propiciarão um sentido integracionista entre o plano interno e o externo. Nesse
passo, refletirá a integração moral, ética, e institucional dos povos, visando o
desenvolvimento dos Estados [...]
”. Busca
-se, dentro da individualidade e da soberania
relativizada
2de cada Nação, representada por exemplo, por meio de suas ideologias próprias,
um ponto de equilíbrio a todos e para todos. Já não mais se pode ignorar a interpenetração de
normas positivas nos mais diversos sistemas jurídicos. Afinal, também o Direito deve ser
compreendido como produto de um mundo globalizado que se perfaz e completa. Não é senão
1[...] A adesão da Áustria na União Europeia modificou profundamente a posição da Constituição do Estado
austríaco de fundamento da ordem jurídica [...] Direitos soberanos estatais foram, em grande medida, transferidos à União Europeia [...] Questões essencias/decisivas da ordem jurídica austríaca serão, a partir do ingresso da Áustria na União Europeia, não mais determinadas com base no Direito Constitucional Austríaco, mas, além dele, e em potencial, pelo Direito Europeu.
2
a consequência direta (conquanto, por vezes, tardia) deste universo de relações globais em
que se insere.
Mesmo entre nações separadas por fortes divergências ideológicas, a universalidade da ciência, de um lado, e, de outro, o processo sócio-econômico condicionado pela aplicação das mesmas estruturas tecnológicas, tudo conduz a um intercâmbio de soluções jurídicas. Não há dúvida, todavia, que as distinções ideológico-políticas importam, como já salientamos [...], o que mostra a complexidade do assunto ora abordado. (REALE, 2006, p. 308)
Finalmente, diante desta nova realidade globalizada, firma-se na Europa uma nova
ordem jurídica: supranacional, autônoma, integrada e uniforme que servirá de base e
fundamento jurídico válido a todos seus Estados-membros, com o poder de condicionar-lhes e
dobrar-lhes as soberanias (MACHADO, 2008, p. 716). Neste sentido deve-se compreender a
menção destacada pela doutrina austríaca à importância assumida pela princípio da
interpretação conforme o Direito Europeu, válido até mesmo para as normas e princípios do
Direito Constitucional daquele País (FUNK, 2011, p. 36)
3.
3
2 DA FORMAÇÃO GRADUAL DA CONSTITUIÇÃO AUSTRÍACA
Estudar a Constituição Austríaca, de modo a esclarecer muitos de seus dispositivos,
auxiliar-nos-á, num primeiro momento, a entendê-la e a enquadrá-la dentro de um rico e
conturbado contexto histórico por que vivenciou o País.
Num segundo momento, o Estudo da evolução do processo de formação da Carta
facilitará a compreensão de sua inserção numa ordem jurídica mais abrangente, a da União
Europeia, que, como procuraremos demonstrar, passa a ser de fundamental importância no
Direito de todos os seus países-membros, impondo-lhes um conjunto de regras e deveres de
importância supraconstitucional, restringindo-lhes parte considerável da autonomia em prol
de um bem-comum.
É neste sentido que se deve analisar o importantíssimo papel da Corte de Justiça
Europeia e a simbiose existente entre o Direito Europeu e o Direito nacional, interligados e
em constante sintonia.
Assim, a estruturação da Constituição austríaca e a consequente interpretação que se
lhe atribui é consequência direta de seu processo formativo, bem como da entrada da Áustria
em 1995 na União Europeia.
2.1 Da monarquia constitucional
[...] Keine Verfassung entsteht voraussetzungslos und so sind auch in das im Jahr 1920 erlassene Bundes-Verfassungsgesetzt (B-VG) viele Institutionen und Regelungen der vorangegangenen Verfassung aufgenommen worden. Dabei hat es sich um die Verfassung der österreichischen [...] Monarchie gehandelt (BERKA, 2008, p. 7)1
Deste modo, o supracitado Berka dá início em seu livro de Direito Constitucional à
temática hora abordada. Afinal, é a partir da monárquica Constituição de Dezembro de 1867
(Dezemberverfassung
) que se é possível falar pela primeira vez da terminologia “continuidade
histórica” (
historischer Kontinuität) em Direito Austríaco, por encontrarem ali dispostas uma
série de instituições ainda recepcionadas pelo Direito Austríaco hodierno (FUNK, 2011,
p.54)
2. Afinal, sobre a citada Constituição, afirma Funk (2012, p.54)
3: “Ela é composta de
1
Constituição alguma surge sem qualquer pré-requisito. Foi assim que, no ano de 1920, desponta a Carta Austríaca (B-VG), incorporando muitas das regras e instituições havidas em constituições anteriores, como a do período monárquico.
2
muitas leis [...]
dentre as quais uma, a StGG sobre os direitos fundamentais do cidadão, ainda
possui, em sua grande parte, aplicação válida (Art 149 B-
VG)” .
Nesse ponto, faz-se importante destacar, a partir da Carta referida, a descentralização
do poder central (outrora concentrado nas mãos do monarca absolutista), com a distribuição
de atribuições ao corpo legiferante e à administração do reino e dos estados-partes, em que se
definia a composição e a divisão dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, embora
restassem reservados ao monarca certos privilégios, como o da nomeação de juízes ou do
direito de legislar em situações de urgência, sem a interferência do Parlamento
–
Notverordnungsrecht (FUNK, 2011, p. 54 e 55).
Por fim, Funk (2011, p.55)
4: “o controle jurídico da Administração cabia ao
Supremo
Tribunal Administrativo (
VwGH). Como corte constitucional, instituiu-se a Corte do
Reino, precursora do Supremo Tribunal Austríaco,
VfGH
”
. Estavam lançadas, já no ano de
1867; portanto, as bases do constitucionalismo contemporâneo austríaco, recepcionada
sobremaneira pelas Constituições republicanas austríacas como veremos.
2.2 Do período republicano
Die Dezemberverfassung 1867 stand bis zum Ende der Monarchie in Kraft. Nach deren Zerfall und der vorübergehenden Geltung einer provisorischen Verfassung wurde mit dem Bundes-Verfassungsgesetz (B-VG) vom 1. Oktober 1920 die erste demokratische Verfassung Österreichs beschlossen, die bis heute in Geltung steht (BERKA, 2008, p.8)5
Na passagem supra, o autor faz uma rápida alusão à Constituição Provisória de 1918,
originada a partir da formação em Viena da
–
assim denominada por seus políticos-membros
–
Assembleia Nacional Provisória, a qual, dentre outras medidas, requer para si o governo
revolucionário do intitulado Reino Alemão do Leste (Deutschösterreich). Dever-se-ia
bestehen. Man spricht in diesem Zusammenhang von historischer Kontinuität in der verfassungsrechtlichen Entwicklung.
3
Do original: Sie bestand aus mehreren Gesetzen [...] von denen eines, das StGG über die allgemeinen Rechte der Staatsbürger, heute noch zum großen Teil in Geltung steht (Art 149 B-VG).
4Do original: „Die gerichtliche Kontrolle der Verwaltung oblag dem
Verwaltungsgerichtshof (VwGH). Als Verfassungsgericht war das Reichsgericht eingerichtet. Es kann als Vorläufer des VfGH gelten.“
5
estabelecer a república democrática do Reino Alemão do Leste e sua concomitante inclusão
como parte da República da Alemanha (ÖHLINGER; EBERHARD, 2012, p.44)
6.
Após eleição
–
marcada pela possibilidade de participação feminina
–
instituiu-se a
Assembleia Nacional Constituinte, encarregada de uma nova Constituição, a primeira
republicana. Não obstante, seria obstaculizada em seus trabalhos e apresentou divergências e
pendências na regulação de alguns pontos-chave para a organização do Estado que se
procurava estruturar, segundo nos relata Berka (2008, p. 8):
[...] Os trabalhos para a criação da nova Constituição foram, num primeiro momento, obstaculizados devido as negociações de tratados de paz com as potências vencedoras da Primeira Guerra, ensejando a ratificação do Tratado de St. Germain de 1919, o qual, dentre outras medidas, previa a proibição da então pretendida anexação ao
Estado alemão. Assim, “Deutschösterreich” passa a denominar-se Österreich7. Desentendimentos políticos contribuíram ainda para o atraso na formulação da nova Carta. Especialmente controversos foram a definição por Estado centralizado ou descentralizado e a distribuição de competências. 8
Abordando a mesma problemática, os constitucionalistas Öhlinger e Eberhard
associam algumas das principais características do Direito Constitucional Austríaco como
corolário da constituição de 1920, identificada, em tom pessimista e seco, como projeto
inacabado, de duração duvidosa, fadada a uma provisoriedade, em decorrência da falta de
consenso, motivado em grande medida pelas gritantes diferenças ideológicas havidas na
Constituinte. Não haveria margem para tratar das questões fundamentais do Estado,
determinando a incorporação e aplicação de muitos dispositivos e regras da constituição
monárquica
–
em especial quando da utilização do rol de Direitos Fundamentais
–
alternativa
à falta de regra semelhante na Carta.
6 Do original: Am 21.10.1918 versammelten sich die deutschprachigen Abgeordneten des Reichsrates in Wien und konstituierten sich als „Provisorische Nationalversammlung“. [...] Die Provisorische Nationalversammlung nahm [...] die oberste Gewalt des Staates „Deutschösterreich“ in Anspruch. Damit wurde der neue Staat [...] in diesem Sinn revolutionär konstituiert. Das Gesetz von 12.11.1918 über die Staats- und Regierungsform legte die demokratische Republik fest [...] und erklärte Deutschösterreich zugleich als Bestandteil der Deutschen Republik.
7 Österreich significa Áustria em alemão . Não obstante, é interessante notar que a palavra alemã pode ser traduzida como „Reino do Leste“. Assim o pretendido Reino do Leste Alemão (Deutschösterreich – donde Deutsch significa alemão) passa a ser denominado de Reino do Leste (ou Áustria em bom português).
8
Do original: [...] Die Arbeiten an einer neuen Verfassung wurden zunächst durch die laufenden Friedensverhandlungen mit den Siegermächten des 1. Weltkriegs verzögert, die mit dem Staatsvertrag von St. Germanin 1919 abgeschlossen wurden, der unter anderem ein Verbot des ursprünglich beabsichtigen
Anschlusses an Deutschland brachte. Deshalb wurde der neue Staat von „Deutschösterreich“ in „Österreich“
Algumas das características do Direito Constitucional Austríaco são esclarecidas pela conjuntura do deste período. De um lado, as partes não chegam a um acordo em muitas questões, em especial no tocante aos Direitos Fundamentais, por serem aí enormes as diferenças ideológicas envolvidas. A solução para o impasse encontrado foi a manutenção do rol dos Direitos Fundamentais da Constituição Monárquica. [...] também não houve acordo para a distribuição de competências no setor financeiro. [...]
a Constituição de 1920 é na compreensão de seus autores algo provisório em seu sentido mais profundo: Constituição de um Estado, cuja autonomia e duração era posta em dúvida pela maior parte dos membros da Constituinte [...] estava longe de representar um símbolo e garante de um consenso basilar e amplo das partes interessadas, simplesmente por não havê-lo (ÖHLINGER, EBERHARD, 2012, p. 45)9.
Não obstante, contrariando as más expectativas, a Carta de 1920 se perpetua na
história política austríaca, a ponto de assumir posição central no estudo do direito
constitucional austríaco (FUNK, 2011, p. 3)
10, embora de um modo peculiar: sem o
entusiasmo tão típico das Cartas Magnas. Austera, dispensa o preâmbulo
–
em parte devido à
falta de um consenso
–
ou qualquer regra que tratasse dos símbolos do Estado (bandeira,
armas, brasão), tendo por núcleo a instituição da democracia parlamentar, dispensando em seu
texto praticamente
11todas as declarações meramente enunciativas ou normas e diretrizes
programáticas (ÖHLINGER; EBERHARD, 2012, p.46)
12.
2.2.1 Da instabilidade política e reformas constitucionais
Das politische Geschehen in der 1. Republik stand im Zeichen einer Reihe von schwerwiegenden wirtschaftlichen, außenpolitischen und sozialen Schwierigkeiten, deren Bewältigung dem Parlamentarischen System (Wahl der BReg durch den NR) weder zugetraut noch auch von ihm geleistet wurde. In weiten Kreisen der
9
Do original: Einige Eigenheiten des österreichischen Verfassungsrechts sind aus der Situation dieser Zeit erklärbar. Zum einen gelang es den Parteien nicht, über alle Fragen eine Einigung herzustellen. Das betrifft insbes die Grundrechte, bei denen die Ideologischen Differenzen zwischen den Parteien besonders eklatant zu Tage traten. Der in dieser Frage gefundene Kompromiss bestand darin, dass der Grundrechtkatalog der Verfassung der Monarchie aufrechterhalten [...] wurde. [...] Keine Einigung konnte auch über die Kompetenzverteilung auf dem Sektor der Finanzen erreicht werden. [...] die Verfassung von 1920 im Verständnis ihrer Autoren ein Provisorium in einem tieferen Sinn war: die Verfassung eines Staates, an dessen Selbständigkeit und Lebensfähigkeit die Mehrzahl der Mitglieder der Konstituierenden Nationalversammlung nicht glaubte [...] Die Verfassung von 1920 war weit davon entfernt, Symbol und Garant eines die Parteien übergreifenden Basiskonsenses zu sein, weil es diesen Grundkonsens einfach nicht gab.
10
Im Mittelpunkt des Bundesverfassungsrechts steht das Bundes-Verfassungsgesetz (B-VG) vom 1.10.1920.
11
Os autores referem-se, como artigos de exceção, aos primeiros e segundo da Carta (B-VG):
Artikel 1. Österreich ist eine demokratische Republik. Ihr Recht geht vom Volk aus. (Áustria é uma república. Seu Direito emana do povo).
Artikel 2. (1) Österreich ist ein Bundesstaat. (Áustria é uma federação).
12
Bevölkerung mangelt es an der inneren Identifikation mit diesem Staat und Seiner
Verfassung („Republik ohne Republikaner“). (ADAMOVICH et al., 2011, p.80)13
A profunda crise política presente no então recém criado governo republicano
austríaco, oriunda da já mencionada falta de consenso político entre os líderes dos principais
partidos da época, resultou na falta de identificação do povo com o governo surgido e,
consequentemente, no desi
nteresse pela sorte do Estado: “
[...] Grande parte da população não
se identificava com este Estado medíocre e o consideravam, doravante, política e
economicamente inviável“ (FUNK, 201
1, p.60)
14.
Assim, foram intentadas grandes reformas constitucionais, como a exemplo da 1929, a
qual, dentre outras coisas, objetivou centralizar o poder executivo dentro do sistema
parlamentarista, fortalecendo a posição do Chefe de Estado
–
podendo, por exemplo,
dissolver o Congresso
–
e do governo federal em relação ao Parlamento
–
aquele passava a ser
eleito diretamente pelo povo; e este, por aquele. Retirava-se a competência originária do
Parlamento de eleição do governo federal (gabinete ministerial). (FUNK, 2011, p.60)
15. Neste
ponto, define-se como efeitos principais do direito das mudanças constitucionais de 1929 a
construção das competências do Chefe do Estado e o incremento do poder de polícia
vinculado à união, embora não bastassem para conter as guerras civis, resultado das
coligações de forças antiparlamentares da época (BERKA, 2008, p. 9).
16Finalmente, acerca das reformas geradas no período, culminando com a de 1929, Funk
intitula
o novo sistema de governo por “
sistema presidencial
mitigado“ (
abgeschwächtes
Präsidentschafssystem), vez que, o governo federal ficava condicionado ao apoio da maioria
dos membros do Parlamento: caso houvesse uma moção de desconfiança, caberia ao Chefe de
13 Os acontecimentos políticos na Primeira República eram reflexo de uma série de dificuldades económicas,
de política externa e sociais, para cuja solução ia além da capacidade do sistema parlamentar (Governo Federal eleito pelo Conselho Nacional). Nos mais diversos estratos sociais faltava identificação da massa populacional
com o Estado e com a Constituição („República sem republicanos“).
14 Do original: [...] Große teile der Bevölkerung identifizierten sich nicht mit diesem Kleinstaat und hielten ihn
von vornherein für wirtschaftlich und politisch nicht lebensfähig [...].
15 Do original: [...] Mit dieser Verfassungsnovelle wurde der Versuch einer Stärkung der Integrationsfunktion
des Staates unternommen. Zu diesem Zweck wurde das System der Parlamentsherrschaft auf Bundesebene abgebaut und die Regierungsgewalt gestärkt. Die Stellung des BPräs und der BReg wurde gegenüber dem NR aufgewertet: der BPräs war [...] direkt vom Bundesvolk zu wählen. Die BReg sollte nicht mehr vom NR gewählt, sondern vom BPräs ernannt und entlassen werden. Dem BPräs kam unter anderem das Recht der Auflösung des NR zu.
16 Do original: Dem entsprach auch ein Ausbau der Kompetenzen des Bundespräsidenten durch die Novelle
Estado destituir o Primeiro Ministro, ou alguns membros de seu gabinete (FUNK, 2011, p.
61)
17.
2.2.2 Da escalada do autoritarismo: dissolução do Congresso e Supremo.
Der mit der B-VGN 1929 angestrebte Versuch einer Stabilisierung der Demokratie blieb ohne dauernden Erfolg. Bundeskanzler Dollfuß benützte den Rücktritt der drei Präsidenten des NR am 4.3.1939 zur Ausschaltung des Parlaments (Fiktion einer
“Selbstausschaltung”). Ein neuerliches Zusammentreten des NR am 15.3.1933 wurde
von der BReg unter Androhung von Gewalt verhindert (ÖHLINGER; EBERHARD, 2012, p. 47)18.
Com o fechamento do Congresso
–
embora se pretendesse mascarar o caráter
autoritário do ato ao reforçar a versão oficial do “autofechamento” –
, Dollfuss passa a
governar por meio de decretos com força de lei, amparado, para tanto, da legislação de 1917,
válida para regular situações econômicas emergenciais em tempo de guerra, prevendo o
exercício do governo mediante a promulgação de decretos-lei. Este dispositivo legal, no
entanto, foi utilizado pelo governo para legislar sobre as mais variadas situações (FUNK,
2011, p. 62)
19.
A partir deste procedimento, sem sombra de dúvida inconstitucional, procurou-se
provocar o Supremo Tribunal Federal Austríaco, para obter deste órgão seu veredicto acerca
da constitucionalidade dos decretos-leis expedidos. Não obstante, pouco antes de ser relatada
a decisão definitiva do Tribunal, um decreto-lei determina seu fechamento (FUNK, 2011,
p.62)
20.
Devido a importância representada por este ato histórico, não só para o Direito
Austríaco, como também para a filosofia positivista pura de um modo geral (donde destaca-se
17 Do original: [...] Es handelt sich dabei allerdings um ein abgeschwächtes Präsidentsschaftssystem, da die
Bundesregierung wie bisher auf das Vertrauen der Mehrheit im NR abgewiesen blieb: Im Falle einer Misstrauensvotums war der BPräs zur Entlassung der BReg bzw einzelner ihrer Mitglieder verpflichtet.
18 A tentativa estabilizar a democracia com a Reforma de 1929 permaneceu sem resultado. O Primeiro Ministro
Dollfuß utilizou-se do afastamento dos três presidentes do Parlamento Nacional em 4.3.1939 para promover o fechamento do Congresso (ficção do autofechamento). Utilizou-se de coerção e ameaças para impedir uma nova sessão parlamentar em 15.3.1933.
19
Do original: In der Folge regierte die BReg ohne NR, indem sie Verordnungen mit Gesetzkraft erließ (Regierungsgesetzgebung). Sie berief sich dabei auf das Kriegswirtschaftliche Ermächtigungsgesetz aus dem Jahre 1917. Dieses Gesetz ermächtigte die Regierung zur Erlassung von Verordnungen mit Gesetzeskraft, um damit kriegsbedingte wirtschaftliche Notlagen abzuwenden. Nur wurde das Gesetze von der BReg als Grundlage für eine allgemeine Regierungsgesetzgebung herangezogen.
20
o pensamento e obras do austríaco Kelsen, responsável inclusive pela edição da Constituição
de 1920), destaque-se, abaixo, a opinião dos constitucionalistas: Adamovich, Funk, Holzinger
e Prank, para quem, analisado sob um ângulo estritamente lógico-legal, agiu-se dentro da
margem de possibilidades da estrutura jurídica, estruturada sob uma lógica positivista. Senão
vejamos:
[...] O VfGH é, por atribuição constitucional, o responsável pelo reconhecimento de inconstitucionalidades em decretos, bem como por suspender-lhes a eficácia, caso lhes julgue inconstitucionais. Enquanto não ocorra o julgamento da inconstitucionalidade de um decreto, tal decreto inconstitucional (bem como leis inconstitucionais) serão válidas e de cumprimento obrigatório para o Direito – bem como para o próprio VfGH!. No ano de 1933 aconteceu justamente o que ninguém imaginara: através de um decreto obviamente ilegal, eliminou-se o órgão constitucionalmente responsável pelo controle de legalidades (ADAMOVICH et al., 2011, p. 85)21.
2.3 Da Constituição autoritária de 1934
Ebenfalls durch eine Verordnung auf der Basis des Kriegswirtschaftlichen Ermächtigungsgesetzes wurde die Verfassung vom 24.4.1934 erlassen. Die gesetzgebenden Körperschaften (Bundeshaus, Landtage) waren aus Vertretern der Berufsstände und kulturellen Gemeinschaften zusammengesetzt. Das Schwergewicht auch der Gesetzgebung lag aber bei der Exekutive: Die BReg konnte Gesetze und sogar Verfassungsgesetze ohne Mitwirkung der gesetzgebenden Körperschaften erlassen [...] (ÖHLINGER; EBERHARD , 2012, p. 47)22.
Convém notar ter sido recepcionado, na Carta outorgada de 1934, o rol dos direitos
fundamentais da Carta Monárquica de 1867, legitimando em seu Texto, a competência do
Executivo para legislar independentemente do Parlamento
–
através de seus decretos-leis
–
,
além disso, institui-se o
Bundesgerichtshof, corte de justiça cuja competência reunia as
atribuições dos antigos VwGH e do VfGH: aquele responsável pela controle de legalidade dos
atos administrativos; este, pelo controle de constitucionalidade das normas (ADAMOVICH et
al., 2011, p. 86)
23.
21
Do original: [...] Der VfGH ist von Verfassungs wegen dazu berufen, über die Frage der Gesetzwidrigkeit von Verordnungen zu erkennen und solche Normen aufzuheben, wenn er sie für gesetzwidrig erachtet. Solange dies nicht geschehen ist, sind auch gesetzwidrige Verordnungen (und verfassungswidrige Gesetze) als geltendes Recht anzusehen und daher – auch für den VfGH! – verbindlich. Im Jahre 1933 ist genau das eingetreten, woran niemand gedacht hatte: durch eine offenbar fehlerhafte Verordnung wurde die verfassungsrechtliche Normenkontrolle selbst beseitigt.
22
Também por meio de um decreto com base na legislação para situações econômicas emergenciais em situações de guerra foi decretada a Constituição de 24.4 de 1934. As corporações legiferantes (Bundeshaus, Landtage) eram as representantes dos interesses de classes profissionais e das comunidades culturais. No entanto, o Executivo detinha o maior peso na produção de normas. O governo federal podia expedir leis, até mesmo constitucionais, sem a participação das corporações legislativas.
23
A constituição de 1934 será substituída pelo Direito Alemão, quando da ocupação das
tropas de Hitler em março de 1938, fato de cuja duração perduraria até abril de 1945, com a
declaração de independência austríaca (BERKA, 2008 p. 9)
24. A ocupação foi acompanhada
de uma consulta popular, obtendo aprovação por 99,7% dos votantes, não obstante,
adverte-nos Funk (2011, p. 63):
25“
[...] Deste resultado, é preciso destacar não terem sido respeitados,
durante a votação, nem a liberdade, nem o sigilo do voto.“
.
2.4 Do desenvolvimento da Segunda República
Wieder, wie schon 1918, waren es die politischen Parteien, die den Staat –neu – begründeten. Mit dem Verfassungsgesetz vom 1.5.1945 [...] wurden das B-VG und alle übrigen Bundesverfassungsgesetze und Verfassungsbestimmungen nach dem Stand vom 5. März 1933 wieder in Kraft gesetzt. [...] Damit wurde eine Verfassungsdiskussion, die die Einheit des Staates hätte gefährden können, abgeblockt, aber auch die Chance einer intellektuellen Aufarbeitung des Scheiterns der Demokratie in der Ersten Republik versäumt. (ÖHLINGER , EBERHARD, p.48)
26
A Segunda República austríaca será marcada por um processo de continuísmo jurídico
em relação a 1920
–
após a ruptura havida em 1934 (com a escalada do autoritarismo) e da
ocupação alemã de 1938
–
, quando intentou-se reorganizar juridicamente o Estado.
Novamente, os partidos
27políticos procurarão „retomar as rédeas da situação“ através,
desta vez, de uma grande coligação
–
analisada mais detalhadamente a seguir
28, quando
passaremos a tratar do sistema de governo da Segunda República
–
, evitando-se grandes
debates jurídicos, de modo a não causar ameaças, uma vez mais (como ocorrera na Primeira
Kontrolle der Gesetzmäßigkeit der Verwaltung und der Verfassungsmäßigkeit der Gesetzgebung wurde der Bundesgerichthof berufen, der die Kompetenzen des früheren VwGH und VfGH in sich vereinigte.
24
Do original: Nach der Besetzung Österreichs durch das Deutsche Reich im Jahr 1938 wurde in Österreich das Deutsche Recht eingeführt. Es stand bis zum Zusammenbruch des nationalsozialistischen Deutschland in Geltung.
25
Do original: [...] Zu diesem Ergebnis ist anzumerken, dass bei der Abstimmung weder die Geheimhaltung noch die Freiheit der Stimmabgabe gewährleistet waren.
26
Novamente, como em 1918, foram os partidos políticos que refundariam o Estado. Com o texto constitucional de 1.5.1945, [...] a Constituição e todas as demais normas constitucionais e determinações constitucionais vigentes até 5 de marco de 1933 voltaram a ter força jurídica. [...] Com isso, foi bloqueada possibilidade de se realizar um debate constitucional, já que poderia representar ameaça à unidade do Estado; mas, ao mesmo tempo, negligenciava-se, com esta medida, a chance de se promover uma análise intelectual que possibilitasse ao estudo dos motivos que resultaram no fracasso da Primeira República.
27
Neste ponto, confirma-se as lições de Kelsen, como oportunamente destacado por Bonavides em sua obra, vejamos: “Pertencendo à camada de escritores modernos que mais cedo compreenderam a importância dos
partidos políticos, com respeito à democracia, Kelsen escreve: „os partidos políticos são organizações que
congregam homens e da mesma opinião para afiançar-lhes verdadeira influencia na realização dos negócios
públicos“. (BONAVIDES, 2006 p. 371) 28
República) à ordem política almejada. Forma-se a aliança partidária entre os partidos mais
expressivos da época: SPÖ, ÖVP.
2.4.1 1945-1955: Do período de relativa soberania
Am 27.4.1945 proklamierten die drei neu formierten politischen Parteien (ÖVP, SPÖ,
KPÖ) eine Unabhängigkeitserklärung, die als „historisch erste Verfassung“ der Zweiten Republik gilt und deren Art I lautet:
Die demokratische Republik ist widerhergestellt und im Geist der Verfassung von
1920 einzurichten. (ÖHLINGER; EBERHARD, 2012, p. 47 e 48)29
Desde 1943 (em meio à Guerra, portanto), já se negociava a libertação austríaca do
julgo alemão e as condições que deveriam ser, doravante, respeitadas pelo novo governo
austríaco: Declaração de Moscou (FUNK, 2011, p. 64)
30.
Não obstante, somente com o término da Segunda Guerra houve condições reais de se
promover uma reestruturação da república austríaca, a qual, desde logo, procuraria se
autogerir, Fato não ocorrido, a princípio, plenamente, mas de um modo longo, paulatino e
negociado; no decorrer de um período, através do qual o Estado austríaco, embora já
independente, encontrava-se soberanamente limitado, interna e externamente, pelas decisões e
caprichos do então criado Conselho dos Aliados, órgão subordinado às potências aliadas,
vencedoras da Segunda Guerra.
O exercício do controle por parte dos aliados foi regulamentado pelo governo das quatro potências aliadas através de dois Acordos de Controle. Assim estabelecia-se que leis constitucionais só poderiam ser publicadas e válidas caso obtivessem o aval escrito do Conselho dos Aliados; a eficácia de leis e tratados internacionais poderiam ser obstaculizadas caso recebessem um veto do Conselho [...] A aplicação dos Acordos de Controle limitava a soberania austríaca. Sua soberania plena foi somente reestabelecida em 15.5.1955, a partir de um Tratado Internacional entre Áustria e as potências aliadas. (ADAMOVICH et al., 2011, p. 92)31
29
Em 27.4.1945 os três recém-formados partidos políticos (ÖVP, SPÖ, KPÖ) proclamavam a Declaração de Independência, que ficou conhecida como „primeira Constituição histórica“ da Segunda República, cujo art. I reza:
A república democrática é restaurada e deve ser conduzida à luz do espírito da Constituição de 1920.
30
Do original: Bereits in der Moskauer Deklaration vom 30.10.1943 war [...] die Befreiung Österreichs von deutscher Herrschaft in Aussicht genommen und damit eine grundsätzliche Entscheidung für die Wiederherstellung Österreichs getroffen worden.
31
Juridicamente, debatia-se (como vimos, com as devidas limitações impostas pelas
potências aliadas) acerca do modo pelo qual se executaria a recepção de normas jurídicas
expressas e expedidas nas legislações pretéritas no Direito. A nível constitucional,
estabelecia-se a constituição de 1920 como parâmetro, bem como toda e total desvinculação
das normas constitucionais expedidas após 33 e durante o período da ocupação alemã.
Infra-constitucionalmente, no entanto, ficou assentado o princípio de buscar aproveitar e incorporar
ao Direito toda norma expedida (inclusive durante o período autoritário austríaco, e no de
ocu
pação) que se coadunasse com o “espírito“ da constituição
(FUNK, 2011, p.65)
32.
2.4.1.1 Da Grande Coalizão e da fragmentação do Direito Constitucional
Das Regierungssystem war in den Jahren nach 1945 durch Koalitionen der beiden großen Parteien (ÖVP und SPÖ) gekennzeichnet. Der Druck der Besetzung Österreichs durch die Alliierten, die Gefahr einer kommunistischen Machtergreifung und nicht zuletzt die politischen Erfahrungen aus dem Schicksal der 1. Republik bereiteten den Weg für eine politische Zusammenarbeit jener Kräfte, die vorher dazu nicht fähig waren und zu keiner Verständigung finden konnten. (FUNK , p. 66) 33
Marca
preponderante do período e de “
grande influência na vida política da Segunda
República“ (FUNK, 2011, p.11)
34, a Grande Coalizão não foi isenta de críticas pela Doutrina.
Afinal, só seria possível realizar uma grande coligação entre partidos ideologicamente
desiguais caso ignorada fosse uma análise mais crítica do Estado e da Sociedade, a cuja
estruturação se visava. Logo; evitava-se (como já ressaltávamos) grandes discussões jurídicas
–
optando-se mesmo pela eleição da Carta de 1920 como modelo-padrão da Nova República
–
, em prol da coligação partidária pretendida e da preservação da Unidade Federal. Assim, a
Handlungsfähigkeit wurde erst durch den Abschluss des Staatsvertrages vom 15.5.1955 zwischen den alliierten Mächten und Österreich wiederhergestellt.
32
Do original: Auf der Ebene des Verfassungsrechts ist von den Rechtsnormen des Ständestaates und des Deutschen Reiches nach der Wiederherstellung Österreichs im Jahre 1945 nichts übrig geblieben. Die verfassungsrechtliche Entwicklung in der 2. Republik knüpfte inhaltlich an das Verfassungssytem der 1. Republik an. Auf der Ebene unterhalb des Verfassungsrechts [...] Zum Unterschied vom Verfassungsrecht erschien es nicht nötig, auch diese Bestimmungen in ihrer Gesamtheit aufzuheben [...] Von der Übernahme ausgenommen waren allerdings jene Regelungen, die mit dem Verfassungssystem des B-VG nicht vereinbar oder sonst politisch untragbar waren.
33
O sistema de governo foi marcado no pós-1945 pela coalisão dos dois maiores partidos políticos (ÖVP e SPÖ). A pressão, resultado da ocupação da Áustria pelos aliados, o perigo de uma tomada de poder comunista e, finalmente, a experiência política resultante do fracasso da Primeira República prepararam terreno para uma força-tarefa política, entre partidos que, antes, não conseguiriam chegar a um entendimento comum.
34
nova República, sacrifica uma oportunidade de refletir criticamente os erros regressos e
promover as adequações jurídicas necessárias (ÖHLINGER; EBERHARD, p. 48).
Além disso, possuindo os citados partidos quantidade superior ao constitucionalmente
exigido no parlamento para a elaboração de normas constitucionais (maioria qualificada de
2/3 de seus membros); houve grande produção de normas constitucionais, significando na
prática, conforme sustentado por Öhlinger e Eberhard (2011, p. 30):
35“
redução da diferença
entre legislador constitucional e ordinário (pois mesmo as leis ordinárias eram constantemente
determinadas por ambos partidos, obtendo no Parlamento Nacional; assim, número de votos
bem superiores aos
2/3)“, ao que denominavam por “
instrumentalização do Direito
Constitucional“.
Esta produção exacerbada e continuada de normas com quórum qualificado e sob a
designação de constitucionais, foi uma das causas resultantes à fragmentação do Direito
Constitucional
austríaco
atribuída
(Zersplitterung
des
österreichischen
Bundesverfassungsrechts), assim Adamovich et al. (2011, p. 43)
36: “O direito Constitucional
austríaco foi, desde o início, bastante fragmentado [...] Tal estado de coisas foi extremamente
agravado pelas modificações constitucionais frequentes, bem como pela produção de
inúmeras normas constitucionais em leis diversas.
“ –
DESTACAMOS.
Como segunda causa para a enorme fragmentação do Direito Constitucional
Austríaco, destaca-se a ausência de um mandamento (ordem ou mecanismo) de incorporação
das normas constitucionais (Inkorporationsgebot), característica praticamente única ao
Direito Austríaco, devendo-se entender: leis esparsas contendo disposições constitucionais,
emendas produzidas para complementar uma norma da Carta ou, ainda, aptas a alterar-lhe
completa ou parcialmente o sentido, permanecerão escritas em seu documento original, não
modificando textualmente os dispositivos da Constituição Federal, embora eventualmente
lhes altere o sentido. Ou seja, não serão diretamente incorporadas e reunidas na Constituição
Austríaca, a qual conservará inalterado o seu texto originário de toda e qualquer disposição
constitucional emanadas pelo constituinte derivado (BERKA, 2008, p. 18)
37.
35
Do original: Während einer Großen Koalition reduzierte sich die Differenz zwischen Verfassungsgesetzgebung und einfacher Gesetzgebung (weil auch einfache Gesetze stets von beiden Parteien und daher mit deutlich mehr als zwei Drittel der Stimmen im NR beschlossen wurden) auf das Erfordernis einer ausdrücklichen Bezeichnung des Verfassungsrechts. Viele Verfassungsregelungen [...] erklären sich aus dieser politischen Instrumentalisierung des Verfassungsrechts. (ÖHLINGER; EBERHARD, p.30 )
36
Do original: Das Verfassungsrecht des Bundes war von Anfang an stark zersplittert [...] Dieser Zustand hat sich durch häufige Novellierungen des B-VG und durch die Schaffung zahlreicher verfassungsrechtlicher Normen außerhalb des B-VG [...] erheblich verstärkt.
37
2.4.2 Do Tratado de 1955 e do retorno à soberania
Die ersten Bemühungen um einen Vertrag zwischen den Alliierten und Österreich zum Zweck der Beendigung des Besatzungsstatus und zur Wiederherstellung der vollen Souveränität Österreichs setzten bereits im Jahre 1946 ein. Sie blieben jedoch vorerst ohne Erfolg und schienen mit dem Fortschreiten des „Kalten Krieges“ zwischen dem Westen und den Kommunistischen Staaten immer weniger aussichtsreich. (FUNK, 2011, p. 66 e 67)38
Neste momento, estudar-se-á o período da ratificação do Tratado de Viena
–
tendo por
signatários, além da Áustria: os Estados Unidos, Inglaterra, Franca e União Soviética
–
de
15.5.1955: com o qual readquire a Áustria sua supremacia internacional (ÖHLINGER;
EBERHARD, 2012, p. 48)
39. Por meio, dos esforços da diplomacia austríaca, bem como da
pressão política interna (corolário da Grande Coalisão), há reconhecimento da soberania
austríaca, desde 1945, sob limitações impostas pelo controle das potências aliadas
–
já
oportunamente discutido
40.
A conquista não foi absolutamente, contudo, tarefa fácil. Teve de ser cuidadosamente
negociada pelo governo austríaco em pelo menos duas ocasiões, donde, num primeiro
momento, destaca-se o Memorandum de Moscou de 1955 entre União Soviética e Áustria:
ficando acertada a disposição soviética de compactuar com a ratificação do tratado de
independência austríaca enquanto que, do lado austríaco, comprometia-se com a manutenção
permanente de estado neutro, do modo como ocorria na Suíça (FUNK, 2011, p. 67)
41.
Num segundo momento (facilitada pela disposição de Moscou de negociar), houve a
ratificação do Tratado de Viena de 1955, reestabelecendo-se a soberania austríaca, não sem
antes impor uma série de obrigações ao Governo de Viena. Destaca Funk (2011, p. 67):
verfassungsrechtliche Änderungen und Ergänzungen zwingend in den Text der einheitlichen Verfassungsurkunde aufzunehmen sind. Ein solches Gebot zwingt zu einem bedachtsameren Umgang mit dem Verfassungsrecht und verhindert das Ausweichen in Nebenbestimmungen oder einfache Gesetze.
38 Os primeiros esforços de se obter um tratado entre a Áustria e as potências aliadas acerca do fim da ocupação
e do reestabelecimento da completa soberania austríaca tiveram início já em 1946. Não obstante permaneceram, num primeiro momento, sem êxito e parecia não haver perspectivas positivas com o prolongamento da „Guerra
Fria“. 39
Do original In diese Zeit fällt auch der Abschluss des Staatsvertrages von Wien vom 15.5.1955: mit ihm erlangt Österreich seine volle Völkerrechtliche Souveränität wieder (Signatarstaaten waren außer Österreich: die USA, Großbritannien, Frankreich und die Sowjetunion).
40
Rever tópico 2.4.1.
41
[...] Darin wird die Bereitschaft der Sowjetregierung zum Abschluss des Staatsvertrages ausgesprochen und von österreichischer Seite die Selbstverpflichtung zur immerwährenden Neutralität, „wie sie von der Schweiz
Proibição de reunificação econômica ou política com a Alemanha e dever da Áustria de zelar por sua independência em relação à Alemanha (Art. 4); defesa da forma democrática de governo (Art. 8); criação de cláusulas adicionais acerca do Direito das minorias eslovacas e croatas (Art. 7); acerca do impedimento do ressurgimento do nacional-socialismo (Art. 9,10); limitação da soberania militar, especialmente na forma de proibição de determinados tipos de armas (Art. 13)42.
Ainda, acerca da promessa de manutenção do estado de neutralidade, inicialmente
simples promessa austríaca, sem qualquer vínculo escrito/compactuado
–
vez não constar nas
cláusulas do Tratado de Viena de 1955 (FUNK, 2011, p.68)
43, muitas das quais, adquiriam
valor constitucional, a exemplo dos artigos 4, 8 e 7 (BERKA, 2008, p. 11)
44–
chama-se
atenção para a expedição da
NeutralitätsG, lei elevada a um status constitucional para
formularizar o compromisso outrora assumido pela Áustria quando do Memorandum de
Moscou, válido na qualidade de norma de Direito Internacional (BERKA 2008, p. 11, 53)
45.
Finalmente, afirma-se como causa direta do ingresso tardio austríaco na União
Europeia e em negociações que propiciassem, de um modo geral, uma política de integração
na Europa, justamente o receio de, uma vez mais, ter-se cerceada a soberania
–
tão duramente
conquistada e negociada aos altos custos impostos pelo Tratado de Viena
–
por uma
organização supranacional
46(FUNK, 2011, p. 120)
47.
42
Do original: [...] Der Vertrag brachte die Wiederherstellung der österreichischen Unabhängigkeit. Er enthält insbesondere ein Verbot der wirtschaftlichen oder politischen Vereinigung mit Deutschland und die Verpflichtung Österreichs zur Beibehaltung seiner Unabhängigkeit von Deutschland (Art 4) und zur Wahrung der demokratischen Regierungsform (Art 8); weiter Bestimmungen über die Rechte der slowenischen und kroatischen Minderheiten (Art 7), über die Verhinderung des Wiederauflebens des Nationalsozialismus (Art 9, 10) sowie Beschränkungen der Wehrhoheit, insbesondere ein Verbot bestimmter Spezialwaffen (Art 13)
43 Do original: [...] Im Staatvertrag selbst ist von der immerwährenden Neutralität keine Rede [...]
44 do original: Von den im Verfassungsrang stehenden Bestimmungen des StV Wien sind als bedeutsam
hervorzuheben: Die Verpflichtung zur Beibehaltung einer demokratischen Staatsform (Art 8), das Verbot des Anschlusses an Deutschland (Art 4) und der Ausbau der Rechte der slowenischen und kroatischen Minderheiten (Art 7).
45 Dos originais: [...] Der Abschluss des Staatsvertrags war durch die im Moskauer Memorandum vom April
1955 abgegebene Zusicherung Österreichs erleichtert worden, sich als ein dauernd neutraler Staat zu deklarieren. Diese rechtlich freilich nicht bindende Zusage wurde durch das im Verfassungsrang stehende NeutralitätsG vom 26.10.1955 eingelöst. (BERKA, 2008, p.11)
[...] Die Neutralitätsverpflichtung ist auch völkerrechtlich gegenüber der Staatenwelt durch die Notifikation dieses BVG verbindlich geworden. (BERKA, 2008, p.53)
46 Para maiores detalhes, remete-se o leitor para os pontos 4 e seguintes desta obra, onde trataremos, com
maiores detalhes, das características da União Europeia e de sua supranacionalidade.
47 Für Österreich, dass seine Souveränität mit dem Staatsvertrag von Wien um den Preis des Status eines
3 DO NÚCLEO CONSTITUCIONAL
O Presente capítulo dar-nos-á oportunidade de traçar um paralelo entre as
constituições brasileira e austríaca no tocante à sua estrutura central, convencionalmente
chamada de “cláusulas pétreas”
1pelo Direito Brasileiro.
Assim, o tópico abordado terá por escopo adentrar ao estudo nuclear do Direito
Austríaco, analisando seus princípios fundamentais, basilares, regentes da Carta hodierna, sob
o prisma do disposto em normas constitucionais e das interpretações doutrinárias atuais.
Objetiva-se: identificar os princípios-bases da Ordem Jurídica do País; diferenciá-los
das demais normas; apresentar um contraste com o caso brasileiro; para, num momento
posterior, compreender o ingresso da Áustria na União Europeia e a relação entre Direito
Austríaco e Direito Internacional.
3.1 Do significado e problemática
Wegen ihrer besonderen Bedeutung für den Staat geben manche Verfassungen derartigen Grundentscheidungen eine erhöhte Bestandskraft. So will das deutsche Grundgesetz angesichts der historischen Erfahrungen [...] verhindern, dass die Demokratie, die Bundesstaatlichkeit und die Grundsätze der Rechtsstaatlichkeit abgeschafft werden. Bestimmte Grundprinzipien werden daher für unabänderlich
erklärt (Art 79 Abs 3 Bonner GG). Eine solche “Ewigkeitsgarantie” schließt aus, dass der demokratische Verfassungsstaat mit seinen tragenden Prinzipien rechtmäßig durch eine Verfassungsänderung beseitigt wird; dies wäre nur im Wege einer Revolution und damit als Verfassungsbruch möglich. Demgegenüber gibt es im österreichischen Recht keine unabänderlichen Verfassungsbestimmungen, sondern ist es nur das erschwerte Verfahren der Gesamtänderung vorgeschrieben (BERKA, 2008, p. 29)2.
A passagem acima evidencia uma ideia de cujo desenvolvimento nos serviremos como
ponto de partida para este capítulo: os princípios-fundamentais
3(Baugesetze)
4da Carta de
1
Para mais detalhes, tópico 3.1.1 Breve Paralelo com a Carta Brasileira de 1988
2
Devido ao seu significado especial para o Estado, muitas constituições conferem às suas diretrizes principais uma posição de maior destaque. Deste modo pretende a Constituição Alemã, em vista de suas experiências históricas, evitar que se atentem à democracia, à federação e aos princípios-base do Estado de Direitos. Determinados princípios nucleares foram, deste modo, declarados imutáveis (Art. 79 Parag. 3 Constituição de Bonn). Tal “garantia de perpetuidade” elimina a possibilidade que um Estado constitucional democrático teria de, legal e licitamente, modificar alguns de seus princípios-base; isto só seria possível por uma revolução e, consequentemente, ruptura constitucional. Em contraste, não há no Direito Austríaco qualquer dispositivo constitucional imutável, dispondo tão somente de um procedimento qualificado das mudanças generalizadas. GRIFAMOS.
3
Viena, embora centrais, são (em sua integralidade, conforme ocorre a qualquer dispositivo da
Carta) passíveis de alterações ou, mesmo, de serem eventualmente excluídos da ordem
jurídica austríaca. Tal, situação, não obstante, deve seguir rito diferenciado daquele reservado
às demais normas constitucionais
5, em decorrência das enormes consequências jurídicas
advindas da alteração substancial de um destes princípios-núcleo (modificação geral da
Constituição). Assim, há dois tipos possíveis de modificação gerados à Carta, a depender dos
dispositivos constitucionais implicados:
[...] Es ist daher zwischen einer Teiländerung der Verfassung und einer Gesamtänderung zu unterscheiden, für die verschiedene Verfahren vorgesehen sind. Teiländerungen [...] bedürfen der entsprechenden parlamentarischen Mehrheit (2/3-Mehrheit) und sie müssen als Verfassungsgesetz (Verfassungsbestimmung) bezeichnet sein. Handelt es sich um eine Gesamtänderung, muss das vom NR beschlossene Verfassungsgesetz zwingend einer Volksabstimmung unterzogen werden (obligatorisches Verfassungsreferendum). Damit entscheidet das Volk als der demokratische Souverän darüber, ob es zu einem grundlegenden Umbau der Verfassung kommen soll. (BERKA, 2008, p. 29)6
Pelo exposto, é, em última instância, como ressaltado por Berka, o povo austríaco a
quem, na forma de um referendum obrigatório, caberá a escolha pela aceitação ou não de
proposta tendente à modificação ou eliminação dos princípios fundamentais da Carta
–
tais
princípios são assim definidos por Funke (2011, p.79): “aqueles que regem o Direito
Constitucional, de cuja alteração ou eliminação implicaria modificação geral da Constituição
da Carta Maior (ADAMOVICH et al., 2011, p. 130). Nesta obra, traduzir-se-á o termo como “princípios
-fundamentais“, “princípios-base“, “princípios-núcleo” ou sinônimos, conservando o sentido semântico do original, em observância à Doutrina majoritária que, por vezes, refere-se a “Baugesetze“ por “leitende Grundsätze der Bundesverfassung“ (princípios regentes da Constituição) ou „Grundprinzipien“ (princípios
fundamentais), como se observa em Funk (2011, p.5): „für die leitenden Grundsätze der Bundesverfassung (Baugesetze), gibt es [...]"; em Öhlinger e Eberhard (2012, p.55): „Jede Verfassung beruht auf bestimmten
Grundprinzipien(„Baugesetze“) [...]; ou, por fim, em Berka (2008, p.29): „[...] auch dem B-VG liegen bestimmte verfassungsrechtliche Grundprinzipien zu Grunde, die auch als Baugesetze des österreichischen Bundesverfassungsrechts bezeichnet werden.“
4
Do original: Der Begriff der Baugesetze ist kein verfassungsrechtlicher Terminus, sondern ein von der Rechtswissenschaft und vom VfGH [...] verwendeter Sammelbegriff für jene Grundsätze und Regeln der Verfassung, deren Bestand durch Art 44 Abs 3 B-VG – wenn auch nicht absolut änderungsfest – geschützt ist. (ADAMOVICH et al., 2011, p. 130)
5
Aqui faz-se distinção do rito reservado às normas capazes de gerar impacto/modificação parcial da Carta, daquelas cujo impacto/modificação gerado é de ordem geral.
6
Federal, no sentido estabelecido no Art. 44 parágrafo terceiro da Carta.
7”
Trata-se de um
mecanismo procedimental apto a proporcionar uma estabilidade adicional a estes princípios
considerados a base da Constituição, para o qual far-se-ia imprescindível o consenso
majoritário da população, além da votação qualificada do Parlamento Nacional (FUNKE,
2011, p.5)
8.
Até aqui, pretendeu-se demonstrar: todo dispositivo constitucional é suscetível a
alteração
–
não há em Direito Austríaco uma “cláusula de perpetuidade”; há dispositivos
constitucionais de importância diferenciada para a Carta austríaca
–
geral ou parcial, cada
qual com seu procedimento específico; a participação popular é obrigatória quando haja
propostas constitucionais tendentes a provocar uma alteração geral na Constituição, pela
modificação ou eliminação de um de seus dispositivos basilares (Baugesetze).
Compreendidos os pontos acima, resta chamar atenção para o fato de não haver, no
texto da Carta, identificação expressa daqueles dispositivos-base de cuja reforma ensejaria
uma modificação geral na Carta
–
teor do Art 44, parágrafo 3
–
e o consequente procedimento
de referendum obrigatório. Assim, coube ao Supremo Tribunal Federal Austríaco e à Doutrina
a identificação dos princípios a serem, doravante, compreendidos como nucleares ao
ordenamento jurídico do País, conforme assente nas lições, abaixo em destaque:
O fato gerador da mudança geral da Carta, como disposto no Art 44, parag. 3, é um conceito legal indeterminado. Logo, segundo pronunciamento da Suprema Corte, são princípios fundamentais regentes da Constituição – cuja alteração ou eliminação implicaria modificação generalizada na Carta, pelo disposto em Art 44, parag. 3: o princípio democrático, o do estado de direito e o federativo.
[...]
Ao lado dos princípios-núcleo elencados pela Suprema Corte Austríaca, também se deve incluir o princípio da República e o da divisão dos poderes neste rol de princípios fundamentais. (ADAMOVICH et al., 2011, p.130, 131)9
7
Do original: Unten den Baugesetzen der Verfassung versteht man jene leitenden Grundsätze des Verfassungsrechts, deren Veränderung oder Beseitigung eine Gesamtänderung der Bundesverfassung im Sinne von Art 44 Abs 3 B-VG herbeiführen würde.
8
Do original: Durch diese zusätzliche Verfahrensbindung werden die leitenden Grundsätze der Bundesverfassung mit erhöhter Stabilität versehen. Für Änderungen in diesem Bereich genügt ein Beschluss mit parlamentarischer Zweidrittelmehrheit nicht. Es ist überdies ein mehrheitlicher Konsens des Bundesvolkes erforderlich.
9
Do original: Der Tatbestand der Gesamtänderung der Bundesverfassung in Art 44 Abs 3 B-VG ist ein unbestimmter Rechtsbegriff. Zu den leitenden Grundsätzen der Verfassung, deren Abschaffung oder Änderung als Gesamtänderung im Sinne von Art 44 Abs 3 B-VG anzusehen wäre, gehören nach der Rechtsprechung des VfGH jedenfalls das demokratische, das rechtsstaatliche und das bundesstaatliche Prinzip.
[...]